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Balneário Camboriú, 22 de maio de 2010
Entrevista
Sou DJ com o mesmo profissionalismo que levei minha carreira de piloto (Raul Boesel, ex-piloto e DJ de música eletrônica)
n o s s a
g e n t e
Waldemar Cezar Neto
waldemar@camboriu.com.br
Marlise Schneider Cezar lisi@pagina3.com.br
Sandro Waltrich
Nome – RAUL DE MESQUITA BOESEL. Idade – 52. Natural – Curitiba. Reside em – São Paulo. Formação – Engenharia Civil (até o 3º ano). Profissão – DJ . Estado civil – Casado com Deborah Cesco. Filhos – 5. Comida predileta – Massas em geral. Lazer – Viajar de moto, “música é um prazer e um lazer sempre”, viagens. Um bom livro – Suspense, tudo do autor Sidney Sheldon. Um filme – ‘A Grande Escapada’, super antigo, com Steve McQueen. Música preferida – Eletrônica. Religião – Católica. Planos pessoais e profissionais – Expandir cada vez mais a carreira de DJ, produzir uma música de sucesso.
N
os últimos três anos Raul Boesel vem se destacando no cenário nacional como DJ de festas eletrônicas e a agenda está cada dia mais lotada. Sábado passado ele tocou no Kiwi Bar, das 2h às 5h e agradou. Começou com ‘Loosing My Religion’ do REM e ganhou a noite, misturando épocas e sons e, sobretudo, animando a galera. Foi a segunda vez que tocou em Balneário, a primeira foi no antigo Deseo. Mas ele quer voltar, anunciou com todas as letras na longa entrevista concedida aos jornalistas Marlise Schneider Cezar e Waldemar Cezar Neto, na noite de sábado, no hotel Marambaia, algumas horas antes do seu show.
Por mais de 60 minutos, Raul Boesel falou sobre sua vocação para música, que sempre foi uma paixão em sua vida e como trocou os cavalos e a arte de montar pelo automobilismo, quando tinha apenas 16 anos e experimentou um kart. Naquela época nem passava pela cabeça que algum dia seria piloto de Fórmula 1 ou que fecharia uma curva nas 500 Milhas de Indianópolis a 360km por hora. Muito menos, que depois de três décadas no mundo do automobilismo, a música eletrônica seria seu foco e se transformaria na sua nova profissão, como de fato aconteceu, após um longo aprendizado. Acompanhe.
Entrevista JP3 – Desde que foi anunciada a sua vinda como DJ, as pessoas falavam, ‘ah, o piloto...’, não há uma desassociação da sua imagem com o que faz hoje, isso incomoda? R.Boesel – Não, pelo contrário, acho que nunca vou conseguir desassociar essa imagem porque foi uma coisa que construí. E tenho orgulho disso, foram 30 anos de automobilismo e, às vezes, até hoje, nas minhas mixagens, coloco um som de carro e o pessoal... muitas vezes pergunta, ‘mas é ele mesmo quem está tocando’ ou então ‘ele mudou do automobilismo para DJ?’. No começo, principalmente houve uma curiosidade e um preconceito ao mesmo tempo. Será que ele parou de correr e agora quer fazer alguma coisa para se manter na mídia... JP3 – Você esperava por isso? R.Boesel – Sim, foi tudo junto, por ser conhecido, o status, a fama, talvez por ser uma celebridade e querer fazer uma coisa diferente. Na realidade a música sempre me acompanhou, sempre fui um aficionado por música. Sempre comprando, fazendo ginástica, em casa...
JP3 – Foi um aprendizado na prática, sem falar nos contatos. R.Boesel – Sim, foi um aprendizado mesmo, mas eu não tinha intenção de tocar. Era só para curtir. De 2003 a 2006 eu fui lá só pelo lugar, pela vibe, aí comecei a conhecer DJs internacionais... JP3 – Para tocar o fundamental é ter essa sintonia com a música, assim como pilotar um carro ou andar a cavalo? R.Boesel – Exatamente. No final de 2006 comecei a notar que eu não estava mais tão motivado com carros, depois de 30 anos... eu acordava de manhã ou ia dormir à noite pensando naquela música legal, aquele DJ é muito bom... não pensava mais no motor, no pneu, no amortecedor, na gasolina, pensei que era o sinal de alguma coisa para mim, porque não estava mais tão focado como sempre fui durante 30 anos, talvez seja a hora de parar, porque o automobilismo exige 100% de foco, de empenho. Foi então que pensei vou aprender a tocar pela paixão que tenho pela música, mas não pensei nisso como um hobby, mas sim para fazer isso profissionalmente.
R.Boesel - ...quase pilotando! (risos), mas dentro de aviões, que passei muitas, muitas horas da minha vida dentro de aviões, sempre escutando música e sempre acompanhando a evolução, do rock para disco, o início da música eletrônica, que é uma música que gosto. Mas nunca imaginei que um dia teria esse gosto por tocar. Em 2003, quando voltei para o Brasil, correndo a Stock Car, fiquei muito tempo ocioso, era uma corrida por mês... aí eu e minha esposa, a Deborah que adora música eletrônica também, tínhamos mais tempo e começamos a seguir festivais, isso sete, oito anos
JP3 – Como foi esse aprender a tocar, fazendo cursos? R.Boesel – Praticamente foi
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Alessandro Roney
atrás. Conhecemos vários DJs brasileiros, de repente viam nós num cantinho lá, dançando ou ouvindo DJs internacionais, foi a época em que os internacionais começaram a vir mais pra cá... aí viram que realmente eu tinha paixão por esse tipo de música, então falaram que eu tinha que ir para Ibiza, na Espanha, porque entre junho e setembro é a maior concentração de DJs, de música eletrônica, de todos os lugares... e eu fui.
“No começo houve uma curiosidade e um preconceito ao mesmo tempo”
JP3 - ...pilotando!
Balneário Camboriú, 22 de maio de 2010
O empresário do Entrevero Mohamad Abou Wadi recebe o DJ Raul Boesel e a esposa Deborah.
isso, só que foi um curso particular. Comprei todo o equipamento e instalei na minha casa, um dos DJs conhecidos aqui no Brasil, o Carlos Dallanese me sugeriu um amigo dele que é produtor, DJ, músico, chama Fábio Castro, aí o Fábio ia lá em casa e ficava dando aula, três vezes por semana, quatro, cinco, seis horas... JP3 – A reclamava?
mulher
não
R.Boesel – Primeiro que ela nunca achou que eu seria um profissional disso, ela me conheceu como piloto e não como DJ, mas sabe que sou super focado, quando ponho uma coisa na cabeça sou perseverante e aí coloquei um objetivo de um ano... se em um ano não aprender a tocar bem, vou fazer outra coisa! JP3 – Precisou de um ano para ter certeza? R.Boesel – Não, foram sete meses todos os dias literalmente. Me trancava em casa, cinco, seis, sete, oito horas por dia. Treinando, pesquisando música, comprando... JP3 – Esse é um negócio que depende de você, o automobilismo não depende de você, você é uma peça do esquema.
Você se sente mais seguro na profissão agora? R.Boesel – Quando decidi mudar e reiniciar eu tinha 48 para 49 anos, reiniciar uma carreira totalmente diferente, era uma responsabilidade comigo mesmo, um desafio, porque eu não queria começar a tocar e o pessoal dizer ‘como DJ, ele é um bom piloto’. Ou então, ‘na idade dele que tipo de música vai tocar?’ ‘Para que público será que ele vai tocar’, por isso fiquei estudando, aprendendo, até que meu professor disse que estava na hora de fazer uma apresentação em público, é diferente de você treinar em casa... é diferente! E meu deu a mesma emoção, ansiedade da pista. Até hoje me dá.
por exemplo me ajudou com a música. Você está concentrado em algum barulhinho diferente do carro, ganhou velocidade, ganhou giro, é muito detalhe... que você está concentrado, acho que isso ajudou bastante para fazer minhas mixagens, e é muita criatividade durante a noite, qual é a música que vai mixada com essa, eu não tenho um pré teste, tenho o meu case, mas não sei o que vou tocar hoje... JP3 - ...decide na hora, depende do clima, do astral das pessoas...
“Naquela época ser piloto era coisa de playboy”
JP3 – Quando você vai montar um cavalo para saltar, precisa afinar o corpo e a mente; quando vai pilotar um carro, entra numa curva, precisa afinar o corpo, a mente... e na música? R.Boesel – É a mesma coisa. Acho que muita coisa no automobilismo, a sensibilidade
R.Boesel Depende de tudo isso, da vibe como se diz, eu escolho as músicas aleatoriamente, muitas vezes a pessoa diz que a música é legal, já escutou, mas nunca com essa mixagem, eu misturo as músicas na hora e provavelmente se vou tocar amanhã, até eu vou esquecer. Vou fazer com outra. JP3 – Como foi a sua primeira vez como DJ? R.Boesel – Não esqueço mais, foi dia 26 de agosto de 2007, numa boate em Santos, cha-
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Entrevista Alessandro Roney
mada Euro, convidei alguns donos de agência para irem lá, escutar, ver se tinha potencial, desde então estou com a agência chamada 3Plus, talvez a maior do país, claro que desenvolvi muito de lá pra cá. No começo foi difícil, mas hoje estou sentindo que as pessoas realmente vêem que eu gosto, que toco bem, que estou fazendo profissionalmente... JP3 – Você passou isso como piloto também... você pegou equipes complicadas na F-1, o pessoal dizia, será que o cara toca? R.Boesel – É, quando você tem uma equipe que não vai para frente, você fica... como o Senna está com essa equipe aí... prova que o equipamento é crucial principalmente numa equipe de corrida. Na F-1 não atingi meu objetivo, mas foi crucial pra mim o aprendizado, para o resto da minha carreira. Nos EUA, Campeonato Mundial de Marcas... JP3 – Sim, mas você vinha de um questionamento, F-3, você era para ser campeão ou vice, na época foi vice... aí pegou uma das piores equipes... será que o cara toca o carro? R.Boesel – Por exemplo tem o Senna, o Di Grassi agora, faziam teste, agora estão sentados numa equipe que são quatro, cinco segundos mais lentos... naquela época a gente nem era tão mais lento, a diferença do primeiro para nós, às vezes era de um segundo, meio segundo, imagina hoje que eles estão aí três, quatro, cinco segundos atrás... então sempre há um questionamento, porque lá eu dependo do carro, hoje aqui eu dependo da minha habilidade e da minha capacidade... eu sou DJ com o mesmo profissionalismo, o mesmo entusiasmo, mesma dedicação que levei minha carreira de piloto.
R.Boesel – Está dando resultado sim. Acho que foi uma faca de dois gumes, como eu disse, houve a curiosidade e o questionamento, será que ele toca, não toca, e eu não sou tão jovem comparado com os DJs normais, mas acho que ultrapassei essa fase. Hoje convivo com gente jovem, sempre convivi, acho que o automobilismo te deixa com uma cabeça jovem, tenho filhos entre 30 e 19 anos, dois do meu primeiro casamento, o Raulzinho, 26 e a Gabriela, 21 e quando casei com a Deborah ela tinha três filhos, que hoje fazem parte da nossa família, praticamente sou pai deles também, então são cinco filhos, muitas vezes
décimo...
JP3 – Normalmente quantas horas você toca? R.Boesel - Às vezes entro às 4h da manhã e toco até às 9h. Ou entro às 2h e fico tocando três, quatro, cinco horas, depende do resultado. No mínimo, toco duas horas.
R.Boesel – É obrigado a pensar, porque você tem que falar para o engenheiro tudo o que o carro está fazendo ou não está fazendo. Quando você pára no box, vai dizer tudo isso ao engenheiro, vai sugerir que ele faça isso ou aquilo, ele pode até sugerir fazer outra coisa, mas você pensa o tempo todo, sem parar. Como DJ eu também fico o tempo todo pensando, vendo onde estão meus CDs, estudando meu case, tem que pensar o tempo todo.
JP3 – Você se prepara física e psicologicamente para trabalhar nesses horários? R.Boesel – Continuo fazendo ginástica, pelo menos três vezes por semana...
“A música sempre me acompanhou, sempre fui um aficionado...”
todos estão juntos, já aconteceu de eu estar tocando e todos eles estarem lá, mais os amigos deles, quando a gente sai à noite eles querem ficar junto, até criou um lado familiar favorável tudo isso. JP3 – O trânsito está violento, na condição de ex-piloto, você sugeriu um projeto de educação para o trânsito, como está essa questão? R.Boesel – O projeto não é meu, mas pediram para eu fazer essa cartilha, um vídeo explicando sobre essa questão, foi muito legal participar desse projeto. É claro que com o estresse diário de todo mundo, trânsito para ir e voltar do trabalho, chuvas, enchentes, o conselho maior que tenho é ter respeito com o próximo, paciência. Eu moro em São Paulo, onde o trânsito é realmente louco, então cautela é o segredo.
“Onde eu gostaria de tocar? No Green Valley, no Warung...”
JP3 – Está dando resultado? Ajudou ou atrapalhou o fato de você ser uma pessoa conhecida?
eu toco, falo que é música eletrônica, eles dizem, aquele bate-estaca!!!Eu falo que não é bate-estaca, nada disso...
JP3 – Você é um motorista normal, como qualquer outro? R.Boesel – Super normal, até dirijo super devagar. JP3 – Até na estrada? R.Boesel – Sempre dentro da lei, sempre prestando atenção no que está acontecendo, hoje as pessoas dirigem falando ao celular... o negócio é prestar atenção e antecipar, porque as coisas acontecem por distração ou pouco caso. Às vezes eu faço a comparação, porque dirigir qualquer um dirige, mas dirigir bem mesmo são poucos. Assim como DJ. Hoje tá na moda ser DJ, qualquer um pode ter oportunidade de ser DJ e tocar, mas tocar bem é diferente.
JP3 – No automobilismo você tem a classificação, 1º, 2º, 10º enfim você sabe como está, mas como saber quando um DJ é bom, pela alegria da platéia? R.Boesel – A alegria da platéia é um bom ponto, pela sonoridade, às vezes o cara tá tocando três horas e falam, ele já vai parar? Outros não dá para agüentar uma hora, ou mixa errado ou bate lata ou o repertório dele não é bom... A eletrônica ajudou muito, mas tem que saber usar o equipamento. Hoje tem gente que toca com vinil ainda, tem gente que toca com CD que é o meu caso, tem outros que tocam com programa no computador... JP3 – Como você se sente no meio da molecada? R.Boesel – Eu tenho 52 anos e curto a música, interagir com o público é muito legal, independente da idade. A música que eu toco é para um público mais jovem, o Brasil especialmente é um país muito precoce para noite. Quando você vai à Europa, EUA a idade é mais avançada um pouco, 27, 28... aqui é 15, 16 anos, é diferente, mas curtem a mesma música. Acho que na Europa as pessoas aproveitam mais. Muitas vezes aqui no Brasil convido amigos meus, vai lá assistir eu tocar, aí eles perguntam, mas que horas... eu falo que entro às 2 da manhã... eles dizem, ah, mas 2 da manhã já tô dormindo...eu tento, lembro que é sábado, que podem dormir... ou então perguntam que música
JP3 - ...todo piloto é um atleta. R.Boesel – Sim, faz parte, tem que fazer. Por isso eu digo a música sempre me acompanhou, porque diariamente eu acordava, corria de 9 a 10km, fazendo jogging ou bicicleta e à tarde, 1h30 ou 2h de ginástica. Mas é mais aeróbico no caso dos pilotos, não é para aumentar o físico, é mais para agüentar, resistência, porque os carros são pequenininhos. No caso dos pilotos, a preocupação se concentra mais em pescoço e ombro, a tensão dentro do carro, o psicológico, fora do carro, a briga interna dos pilotos, patrocinadores, disputa com teu companheiro de equipe, a pressão de você ter que ter resultado todo o santo dia... porque o piloto é um ser competitivo. Como DJ também existe uma competição. Depois que comecei a tocar, vi que existe um ego do DJ, de ter uma boa performance.
JP3 - ...a essa velocidade, piloto pensa?
JP3 – Você tem uma ligação com a Porsche ainda? R.Boesel – Fui diretor esportivo desde que começou a Porsche Cup no Brasil, esse é o quinto ou sexto ano. No início eu levava os pilotos, todos amadores, para ensinar, dava dicas, hoje eles viraram praticamente profissionais, são bem rápidos. Antes eu não tocava quando tinha as provas da Porsche, hoje pegou um volume tão grande, que estou dando preferência para tocar.
“Oportunistas duram pouco nesse mercado”
JP3 – Você pensa em produzir suas próprias músicas? R.Boesel – Agora estou nesse processo. Montei um estúdio na minha casa, mas é muito mais complicada a produção. Você tem que aprender o programa, são vários programas por computador, depois de aprender, tem a parte criativa, é um processo mais longo. Mas está nos meus planos.
“Reiniciar uma carreira foi um desafio, eu não queria ouvir o pessoal dizer ‘como DJ ele é um bom piloto...”
JP3 – A gente assiste uma corrida e pensa que é uma barbada, mas como funciona a cabeça quando você entra numa curva de Indianápolis a 360km por hora? R.Boesel – Se o carro é bom realmente parece fácil. Já pilotei carros em Indianápolis fazendo média de 360, 370km/ hora, sem medo, confiante no carro e pensando sempre, onde preciso melhorar, como posso fazer para melhorar um
JP3 – Qual é o carro que você mais gosta? R.Boesel – Sempre gostei dos carros alemães. Mercedes, Audi, Porsche, BMW, os alemães são feras... JP3 – Você fazia hipismo, ganhou títulos e de repente se interessou por carros? R.Boesel – Fui com um amigo ajudar ele a empurrar o kart e na hora ele me deixou andar... e eu pirei. Cheguei em casa, falei é isso que eu quero, não quero mais cavalo, quero kart, quero kart e eles acharam que era uma vontade momentânea, só porque eu havia andado uma vez num kart. Naquela época ser piloto de carro era coisa de playboy, além de ser perigoso e caro. Consegui convencê-los, ganhei um campeonato estadual, depois parei, entrei na faculdade, fiz engenharia civil, eu vivia tirando racha, naquele tempo não tinha tanto movimento em Curitiba (risos).... meu irmão dizia, melhor deixar ele correr, porque senão ainda vai se matar aí na cidade...Fui correr com um amigo, fiz algumas corridas em 77, em 78 fiz o paranaense, começou a Stock Car oficial em 79, fui o piloto revelação e minha equipe toda, que eram dois mecânicos, o Meinha, ele começou comigo lá em Curitiba, um ajudante e eu. Um piloto de São Paulo falou ‘eu compro a tua equipe se o Meinha vier junto’ e com esse dinheiro fui correr a Fórmula-Ford na Inglaterra em 1980. Lá fui ver um show do Pink Floyd... viu como naquela época eu já gostava muito de música?
Entrevista
“Sinto que as pessoas vêem que gosto, toco bem, que não é um passatempo” Alessandro Roney
R.Boesel – Na minha carreira tive altos e baixos, anos bons, anos ruins... é um mercado onde você tem que estar se provando o tempo todo, porque é muito competitivo. Quem vê de fora parece que é fácil... eu, por exemplo, de 86 pra 87 eu ia correr pela Newman/ Hass, na Indy, tinha um contrato firmado verbalmente, saí dos EUA com tudo certo, vim passar o Natal no Brasil, aí me ligam para dizer que não deu certo, um dos pilotos era o
Mário Andretti e era a primeira vez que eles iriam colocar dois carros e o Andretti não queria dois carros, então vetou. JP3 – Tática, depois liberou... R.Boesel – Liberou pro segundo, que era o filho dele. Então, de repente eu fiquei sem equipe. Todas as outras que tinham me convidado eu tinha recusado. Fiquei na mão, sem nada. Aí surgiu uma oportunidade de correr pela Jaguar, o Campeonato de Marcas, que foi a melhor coisa que aconteceu para mim. Aquele ano ganhei o campeonato e foi a primeira vez na história que a Jaguar ganhou um campeonato. Teve grande importância e no meio do ano o pessoal da Indy já começou a me chamar de volta. Continuei com
a Jaguar corridas esporádicas, mas voltei para a Indy. JP3 – Qual é o critério que as equipes usam para pegar determinado piloto? R.Boesel – É o cara rápido, que não bate, é o somatório de habilidade e custo. JP3 – O que é melhor, o cara que chega em 1º e de vez em quando bate ou o cara que sempre chega depois, mas nunca bate? R.Boesel – O cara que chega em 1º, o piloto está ali para ganhar. Você está falando isso por causa do Rubinho? Aqui no Brasil virou meio que chacota, mas eu acho que ninguém fica na F-1 tanto tempo por favor ganhando o que ele ganha. Isso é pela habilidade dele, pela
Falando nisso...
rapidez, pela técnica, ele é um piloto rápido e que não bate, só que às vezes ele estava no lugar certo na hora errada. No caso da Ferrari, a oportunidade de ter ido pra MacLaren e não foi... só que quando ele estava na Ferrari era melhor estar lá do que em qualquer outra equipe, porque era a melhor. JP3 – O Rubinho é uma pessoa e um piloto extraordinário. R.Boesel – Com toda a certeza, ele é. JP3 – Qual é sua opinião sobre o Massa? R.Boesel – Acho que o Massa cresceu muito nesses últimos anos, tanto dentro como fora da pista, bom caráter, habilidade, boa postura, esse ano está começando a sofrer a pressão do Alonso...
“Se eu pudesse tocaria todas as noites, porque é muito cativante, eu adoro, faço porque gosto...”
JP3 – A idéia que se tem é que um cara que arrisca a vida a 350km/hora ele ganha muitos dólares por volta e isso explica algumas carreiras como a do Rubinho, que continua persistindo. Ou seja, o automobilismo dá bastante dinheiro para quem compete não?
Balneário Camboriú, 22 de maio de 2010
JP3 – Tem alguma festa que marcou sua carreira? Ou onde você gostaria de tocar? R.Boesel – Sim, várias, que viraram até meio tradição já. Festa na Pachá, Festa do Branco, Festa à Fantasia no Sirena de Maresias, são várias. Onde eu gostaria de tocar? Já ouvi falar, mas não tive oportunidade de vir ainda, mas inclusive está entre os melhores clubes do mundo, é o Green Valley e o Warung também. São dois clubes que eu sei que quem vai gosta muito de música eletrônica, curte, já vi filmes, fotos, eu gostaria de ter oportunidade, espero que aconteça no futuro. JP3 – Por aqui você já havia tocado antes? R.Boesel – Aqui já toquei onde era a chamada Deseo, hoje é
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Enjoy...e toquei em Jurerê no P12, mas ainda falta abrir esse mercado. Já vou fazer o início aqui hoje... JP3 – Você toca três, quatro noites por semana? R.Boesel – Se eu pudesse tocaria todas as noites, porque é muito cativante, eu adoro, faço porque gosto. Outro dia uma pessoa falou pra mim, você é uma das poucas pessoas que profissionalmente só fez o que gosta, com prazer e com competência... com 50 anos praticamente reiniciou uma carreira, fazendo uma coisa que você também adora, são poucas pessoas que têm a oportunidade de viver fazendo o que gosta. JP3 – Você lida bem com a crítica? R.Boesel – Nunca tive problema, mas já lidei com crítica positiva e negativa, no automobilismo e como DJ, onde alguns diziam que eu estava ‘atacando’ de DJ só pra ficar na mídia. Hoje provei que não é nada disso. Faço profissionalmente e faço bem feito. JP3 – Sua opinião sobre outras personalidades que se declaram DJs quando na verdade não valorizam a profissão, não sabem nada de técnica e acabam reforçando o estigma que já existe sobre DJs? R.Boesel – Muitas vezes isso está acontecendo mesmo, mas vão durar pouco na cena e o público que gosta de música eletrônica não se deixa enganar. Os oportunistas duram pouco nesse mercado, não acredito que tenham uma carreira longa, até porque não tem a paixão pela música.
Marlise S. Cezar
lisi@pagina3.com.br
Escândalo
Falta de respeito
Vitória
Na quinta-feira, o governador do Estado veio a Balneário Camboriú para três assinaturas importantes para a cidade e o prefeito, além de retardar a solenidade, marcada para às 9h, porque o cerimonial continuava esperando por ele até quase 10h, simplesmente não apareceu. Foi extremamente constrangedor quando o locutor anunciou, logo no início da solenidade, que o governador assinaria primeiro os convênios de repasses para construção do Pronto Socorro anexo ao hospital Ruth Cardoso e outro para construção da ponte que ligará Balneário a Camboriú e para isso chamou o secretário da Saúde Spósito, a diretora Rosina da Secretaria de Estado de Saúde e antes que eles se levantassem, o governador tomou a palavra e disse que não haveria assinatura de convênio nenhum sem a outra parte. Aliás, essa outra parte que foi dias antes lá em Florianópolis, no gabinete do governador, pedir os tais convênios...
O clima ficou estranho. Um zum-zum-zum...o Spósito coitado ficou com uma cara de quem não estava entendendo nada...chateado, é lógico... como qualquer um ficaria. Lá fora as pessoas comentavam que o prefeito continua misturando política no seu dever de casa...mais isso e aquilo...E até aqui ainda nem falamos da terceira assinatura, o decreto que transformou a extensão da Udesc em um campus. Nesse, o prefeito não precisava assinar nada, felizmente, mas sua ausência nesse ato foi uma grande falta de respeito por uma conquista que levou mais de uma década. Feio, muito feio o que esse rapaz fez. Os mais achegados trataram justificar depois que o rapaz estava doente ou algo assim... mas ainda assim falta de respeito é pouco, já que Graham Bell nos oportunizou evitar tais constrangimentos com um simples apertar de botões.
Piriquitices à parte, foi bonito de ver a euforia, a festa dos acadêmicos e aqui faço questão de destacar a atuação nesse tempo todo do Leandro ‘Índio’ Rodrigues da Silva, ex-presidente do Centro Acadêmico e atual presidente da Federação Nacional dos cursos de Administração Pública, um sujeito incansável quando o assunto é Udesc, não tem dia nem hora, ele está sempre na correria. Não dá pra esquecer seu antecessor no Centro, Rodrigo Abella e o atual, Victor Burigo Souza, que aprendeu o caminho das pedras rapidinho. O empenho dessa rapaziada faz a gente pensar, como seriam diferentes nossas universidades se o que eles fazem fosse uma regra geral, ou seja, se todos os estudantes se empenhassem dessa forma...Vitoriosos eles.
Vitória 2 Lembro como se fosse ontem, mas já faz uns 10 anos ou mais, quando o dentista Hélvion
Ribeiro procurou a redação do Página 3, lá na Rua 1520, para falar sobre uma campanha que idealizava para trazer uma universidade pública para Balneário Camboriú. Cheio de números, estatísticas, recortes, o homem estava ‘armado’ até os dentes e cheio de razão, convenceu na hora e o jornal apoiou e incentivou a campanha que resultou em muuuuuuuuuuuuitas reuniões, viagens e intermináveis listas de abaixo-assinado, que renderam 12 mil assinaturas. Hélvion é um vitorioso e na condição de presidente do Movimento Universidade Pública (Movup) sei que não vai parar por aí. Foram fundamentais e também são vitoriosos nesta história o Dado Cherem, o próprio Leonel Pavan que era prefeito então, seu sucessor Rubens Spernau, os irmãos Koeddermann, os vereadores Antônio Santa e Sérgio Lorenzato (in memoriam). Pavan muito bem lembrou em seu discurso a participação efetiva da igreja luterana Martin Luther (pastor Valdim Utech é o vice-presidente do Movup),
que ofereceu suas instalações para muitas reuniões e uma forte campanha por assinaturas. “Depois que o curso começou, a igreja luterana fez até uma missa em minha homenagem”, discursou o governador.
Vitória 3 Depois da instalação do curso em duas salas de uma escola municipal, em 2004, teve início uma outra batalha, a de manter abertas as portas, foi um caminho penoso, até papel higiênico faltava...e quando todo mundo pensava em pendurar as chuteiras, lá estava ela, a primeira coordenadora, professora Maria Esther Menegasso arregaçando as mangas e muitas vezes recorrendo ao próprio bolso para continuar essa história. Menegasso é uma vitoriosa.
Vitória 4 Todos os anônimos que participaram dessa campanha são vitoriosos. Mas a vitória maior é, sem dúvida, de Balneário Camboriú.