Ivo Gonzales

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Especial

Balneário Camboriú, 10 de abril de 2010

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Fotografia de Esportes, de Ivo Gonzalez, para aprender a técnica Por Caroline Cezar

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Ivo Gonzalez

erá lançado na próxima sexta, 16, no Rio de Janeiro, o livro Fotografia de Esportes, de Ivo Gonzalez. É uma publicação com caráter técnico, com fotos e textos explicativos sobre como elas foram feitas. Ivo é jornalista formado, e se especializou em fotografia em 1982. Carioca, já atuou como câmera e freelancer, mas desde 1989 é exclusivamente fotojornalista, cobrindo todo tipo de pautas, no jornal O Dia, e depois em O Globo, onde está até hoje, quase que exclusivamente na editoria de esportes. No seu currículo, quatro Copas do Mundo, quatro Olimpíadas e diversas outras competições internacionais e nacionais, fotografando toda sorte de modalidades. Uma de suas principais características, segundo Ricardo Mello, gerente da Agência O Globo, que assina a apresentação do livro, é a disciplina. “A escola de Ivo Gonzalez é baseada, acima de tudo, no rigor com que encara o seu trabalho. Da conservação de seu equipamento à concentração com que entra nas coberturas, tudo se soma para o êxito de seu trabalho. Todo planejamento, por mais que isso não fique à mostra, as análises de diferentes possibilidades e soluções para tudo que está por vir, o conhecimento técnico da fotografia rápida, o faz um dos melhores fotógrafos de esportes do Brasil”. Ivo concedeu entrevista ao Página3, em meio às correrias típicas da profissão. Confira.

“Foi a primeira vez que escrevi sobre as fotos que fiz” P3 - Muitos fotógrafos consideram fazer esporte uma ‘bucha’. Você concorda? Tecnicamente é realmente complicado acertar? Ivo - Realmente é preciso muita técnica para fotografar esportes pois as coisas acontecem muito rapidamente e é preciso estar com o enquadramento a exposição e o foco apurados no momento em que o fato principal acontece. Um pouco antes ou depois e pode-se perder a foto mais importante. P3 - Por que você direcionou tua carreira para o esporte? Ou foi natural? Ivo - Eu sempre gostei de fotografar esportes. No início eu tive que cobrir diversos assuntos pois num jornal o fotógrafo normalmente não consegue se especializar em algum tema específico, principalmente no início da carreira. Felizmente consegui desenvolver bem o meu trabalho de fotografia voltado para a cobertura de esportes e hoje em

dia o meu trabalho é 90 por cento voltado para fotos de eventos esportivos.

taria de destacar em todos esses anos de prática? Positivo e/ou negativo?

P3 - Quais os prós e contras dessa ‘especialização?’

Ivo - Acho que participei de vários momentos legais na minha carreira de fotojornalista. Claro que nem todos os momentos são bons. Muitas vezes temos que estar ao lado de coisas ruins nesta profissão. Momentos inesquecíveis foram as conquistas do Tetra e do Penta campeonato de futebol pela seleção brasileira e a chegada da maratona nas olimpíadas de Atenas quando o brasileiro Wanderley Cordeiro chegou em terceiro lugar depois de uma prova em que ele estava em primeiro e que foi atrapalhado por um espectador. Além de ter sido emocionante ver um atleta brasileiro entre os três primeiros numa das provas mais tradicionais do atletismo, foi muito difícil chegar ao estádio para fotografar a chegada da prova pois ninguém acreditava que um brasileiro poderia subir ao pódio

Ivo - Acho que são mais prós do que contras, afinal, eu trabalho num tema que eu gosto muito e que rende boas fotos. Acho que a rotina às vezes é ruim pois não é fácil fotografar quase todos os dias treinos de futebol. A repetição dos assuntos a serem fotografados é meio ruim, no entanto, isto é compensado com a possibilidade de estar presente em vários jogos importantes e em vários eventos esportivos como as olimpíadas. Um lado não muito bom de fotografar esportes é ter que trabalhar quase todos os finais de semana. P3 - O que você mais gosta de fotografar? Ivo - De todos os esportes, o que mais me agrada é a natação. P3 - Algum momento que gos-

nesta prova. Eu estava num local distante e tive que ir para o estádio durante a prova. Peguei um de táxi até a primeira barreira, depois fui andando e correndo e, por fim, peguei carona com um carro de polícia para chegar ao local. P3 - Você teve alguma dificuldade em transcrever tua experiência com as imagens para a linguagem informativa e técnica? Ivo - Um pouco, pois foi a primeira vez que eu escrevi sobre as fotos que fiz, principalmente porque é necessário que o texto técnico aborde alguns aspectos e as fotos editadas têm que coincidir com o que esteja sendo descrito. Mas foi uma grande experiência,

pois revi muitas fotos que estavam no arquivo há muito tempo. P3 - Projetos/ planos? Ivo - No momento o meu projeto principal é me preparar para fazer uma boa cobertura na próxima copa do mundo na África. P3 - Dicas para quem está iniciando? Ivo - Acho que uma boa dica para quem está começando a fotografar, e que gosta de fotografar esportes, é aproveitar os eventos esportivos que acontecem na cidade ao ar livre como corridas de rua, provas de ciclismo, volei de praia, futebol em praças ou até na praia e ir praticando para desenvolver as habilidades necessárias.


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Balneário Camboriú, 10 de abril de 2010

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O Editor O jornalista Bola Teixeira, coordena, do escritório sediado em Balneário Camboriú, a busca por títulos “gringos” para serem publicados pela Editora Photos no mercado brasileiro. Faz contato com a editora, negocia preços e contrato, e “põe na rua. Com relação a conteúdo, pouca coisa pode ser feita além da tradução adaptada à nossa realidade e uma leitura técnica feita por algum fotógrafo convidado. No caso de “Fotografia de Esportes” foi diferente. Foi a primeira experiência que Bola teve como editor de um autor nacional, com acompanhamento detalhado desde o início. Depois da primeira versão -escrita pelo próprio Ivo Gonzalez-, começou o duro trabalho de aparar arestas -formatar o texto de acordo com o perfil proposto pela editora -bem técnico-, dividir em capítulos e subtítulos, e a sugestão de incluir um texto direcionado a amadores, “sem o compromisso e a loucura da pressão que um profissional tem na cobertura de um evento esportivo”, disse Bola.

Fotos Ivo Gonzalez

“Ele retomou tudo, nestas alturas eu já estava com cerca de 700 imagens que ele havia enviado bem na boca de minha férias... dediquei parte dos dias de ‘descanso’ a analisar as fotos e suas respectivas legendas (que são importantíssimas)”, contou o editor. Bola explica que a seleção de 400 fotos, das 700 totais, se deu pela importância da informação e a plasticidade. Na segunda revisão ainda sentiu falta de abrir o foco para as Nikons -o autor é usuário de Canon, e automaticamente direcionou as informações para essa máquina. “Mesmo assim ele não se furtou de pesquisar sobre a Nikon e incluiu também... depois de tudo arredondado foi para a diagramação e revisão final”, explicou Bola, que acha que o processo completo de edição durou cerca de um ano. Bola já está em outro projeto, Fotografia de Aventura, com Fábio Elias, “que está quase maluco com as intervenções”. A idéia é fazer uma série, todas as edições voltadas à técnica da fotografia.

Prefácio O Fotógrafo Especial Bola Teixeira

O fotógrafo que domina o ato de congelar um momento numa competição esportiva é especial. E para ser especial, ele detém, obrigatoriamente, um alto nível de especialização na leitura da luz e dos recursos que uma câmera fotográfica oferece. O especial nesta relação toda está no fato do fotógrafo demonstrar seu conhecimento numa decisão que envolve frações de segundos. Não há direção, assistente e tampouco equipe. A imagem final só depende de si, uma característica do fotojornalismo. A velocidade, a abertura e, especialmente, o foco devem ser resolvidos no “momento decisivo”, a partir de uma leitura prévia da luz do ambiente onde acontece a competição. A expressão do atleta, a composição dos elementos, as regras básicas - aquelas mesmas que existem para serem quebradas - o enquadramento perfeito, enfim a plasticidade da imagem final é pura intuição, observação, olhar; individualidades capazes de diferenciar um grande fotógrafo de espor-

tes. E isso o faz especial. Especial porque atuando no fotojornalismo eterniza imagens que fazem história. Por transcender todas as diferenças, o esporte envolve milhões de pessoas pelas Nações ao redor do mundo. Sejam as competições olímpicas que tem nas Olimpíadas seu auge, ou nas competições de caráter mundial das diferentes modalidades esportivas, as imagens que marcam as conquistas, derrotas, emoções, expressões, vibrações, os momentos tornam-se referências históricas, veiculadas em jornais, revistas e internet. Eles são os “quase anônimos” escondidos por minúsculos créditos que eternizam momentos. São especiais. Mais especial ainda é o fato de ser contemporâneo das duas tecnologias: a analógica e a digital. Quanto mais o digital toma conta de tudo, mais me convenço que os verdadeiros fotógrafos são aqueles que trabalhavam com a expectativa de conferir a imagem surgindo num dark room, sem o facilitador preview das câmeras que dominam o cenário do século XXI. Época que o fotógrafo entendia o que estava fazendo sem contar com todos

os recursos oferecidos pelas câmeras reflex digitais, verdadeiros convites ao comodismo na busca pelo saber. Por tudo isso, o fotojornalista Ivo Gonzáles é especial. Com quatro Olimpíadas e quatro Copas do Mundo na bagagem arrisco-me a afirmar que Gonzáles é figura obrigatória em qualquer relação dos melhores fotógrafos de esportes que este país já produziu. Toda sua experiência de 20 anos só de O Globo, ele socializa aos leitores interessados na fotografia de esportes. Conhece como poucos os atalhos que resulte na imagem única de um lance de qualquer modalidade esportiva que esteja na sua memória. Ao folhear as páginas desse livro, pode ter certeza que você exercitará lembranças passadas do esporte brasileiro e mundial, além, é claro, de poder compartilhar o conhecimento adquirido pelo fotógrafo Ivo Gonzáles em toda sua trajetória como repórter fotográfico. Depois desse livro, o leitor/ fotógrafo despertará um outro olhar para cada detalhe de todos os movimentos característicos de cada modalidade esportiva. E esse despertar já é algo de muito especial.


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Os Capítulos

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Fotos Ivo Gonzalez

1. O Fotógrafo de Esportes - Mitos e Verdades “Muitas viagens para destinos nacionais e internacionais, ficar perto de ídolos do esporte (...), participar dos maiores eventos esportivos do mundo, e um considerável acúmulo de milhas aéreas. Para muitas pessoas essa é a imagem que se faz de um fotógrafo de esportes (...)

2. O Foco “O foco apurado é um dos elementos fundamentais para uma boa foto de esporte. Manter em foco um objeto que se move rapidamente é um desafio que o fotógrafo enfrenta constantemente (...)

3. O Analógico e o Digital “Antes de se falar detalhadamente de todos os equipamentos usados hoje em dia, é importante fazermos uma viagem no tempo e compararmos os equipamentos que o fotógrafo de esportes usava para a realização de seu trabalho com os que ele usa hoje (...)

4. Cartões de Memória - O filme digital “Na época do filme uma das grandes preocupações do fotógrafo, principalmente em grandes coberturas esportivas, era não fotografar demais para não ter que revelar e secar vários rolos de filme e ainda ter que perder muito tempo editando e escaneando as fotos escolhidas para a transmissão (...)

5. Equipamento “O equipamento usado pelo fotógrafo que cobre esportes é bem pesado, pois são necessárias diversas objetivas. Um equipamento necessário para cobrir um evento esportivo, no que diz respeito a objetivas, deve ser composto por grande-angulares, meias teles e teleobjetiva, às vezes até duas, uma 300 mm e outra 400 mm (...)

6. A Velocidade e o Buffer “Outro fator determinante na escolha o tipo de equipamento que deve ser utilizado para uma cobertura esportiva é a velocidade com que a câmera consegue capturar e processar a imagem (...)

7. Raw ou Jpeg “As câmeras digitais possuem a opção de gravar a imagem em dois formatos: RAW e JPEG, além, do TIFF usado pelas Nikon. Para se conseguir qualidade máxima numa foto aconselha-se (...)

8. Transmissão de imagens “A evolução na transmissão de fotos para jornais foi um pouco mais lenta do que a evolução nos equipamentos de fotografia digital. Das antigas UPIs para os laptops passaram-se alguns anos (...)

9. Agências, Posicionamento nos locais de competição e Credenciamento “Não adianta ter uma boa foto se ela não é enviada rapidamente para o jornal. Muitas vezes o fotógrafo pode até perder uma boa foto, pois no momento em que algo acontece ele está com os olhos e as mãos voltados para o laptop (...)

10. Fotografando sem compromisso “...muitas competições são realizadas em locais públicos, e o fotógrafo, mesmo equipado modestamente, pode fazer boas fotos (...) um outro espaço que certamente renderá excelentes imagens para o fotógrafo que quer se familiarizar com a fotografia de esportes são as atividades esportivas de seus filhos e filhas (...)

Ivo Gonzalez a trabalho na África do Sul. Profissão exige muitos finais de semana e viagens constantes.


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