Revista Pai Eterno Agosto de 2018 ano IV n 08

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Artigo

E o amor se fez redenção!

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ara a morte que finda a vida, há a ressurreição que inicia a eternidade; para o direito que veste, há o avesso que reveste; para o ódio que adoece, há o amor que cura as dores da alma. Se tudo caminha para um fim, existe algo em nossa vida terrena que jamais se esgota: é o amor do Divino Pai Eterno por nós. Se cansados estamos, Ele nos sustenta pelas mãos. Se as feridas nos abatem, Ele nos sara com o bálsamo da fé. Se magoados estamos, pelo caminho, Ele nos acompanha no doloroso, mas necessário, exercício do perdão. “Mesmo que as montanhas oscilassem e as colinas se abalassem, jamais meu amor te abandonará e jamais meu pacto de paz vacilará, afirma o Senhor que se compadeceu de ti” (Is 54,10). No lugar de repreender, o Pai permanece a sustentar a nós. Em vez de amedrontar, chega para dissipar o medo. Ao invés de oprimir, se compadece das nossas fraquezas e, por isso, nos fortalece. Ao contrário de condenar, Deus deseja salvar. Antes de ser juiz, é Pai! Estejamos convencidos de que a Mão que cria e salva, não pode ser a mesma que aniquila, castiga e permite o sofrimento de quem quer que seja. Eis um amor que nos responsabiliza, inclusive pelos nossos pecados. É, de fato, movido por um coração: terminantemente desmedido, absurdamente ilógico e insistentemente fiel. Em Deus tudo se remete ao amor. É no amor também que Ele se eterniza. Nele, coisa alguma fica distante da ternura. É por isso que Ele nos vê,

nos mira nos olhos e jamais se dá por vencido quando o interesse é pela nossa redenção. O Pai Eterno guia, orienta e nos ampara no difícil caminho da vida. Igualmente, é Ele quem traz os Seus filhos queridos para perto de Si. Aí fazemos a experiência de encontro com Deus, nos deixamos tocar por Sua graça e diante Dele depositamos cada um de nossos pecados. Importa considerar ainda que a vivência primeira do amor não tem qualquer relação com merecimentos. Nós o experimentamos por pura gratuidade. A própria condição de filhos já anula qualquer possibilidade de méritos ou deméritos perante o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação (Cf. 2 Cor 1,3). Não estamos sozinhos nem entregues ao acaso! Não caminhamos sem rumo, muito menos, vivemos isolados. Nossa missão é amparada e, ao mesmo tempo, abastecida pelo Divino que se tornou humano por nós, comunicando-nos um frutuoso projeto de vida, cujas raízes estão fincadas no solo da misericórdia. Rogo ao Pai Eterno para que a Sua terna bondade nos acompanhe por todos os dias de nossas vidas (Cf. Sl 22,6a), ajudando-nos a amar aqueles que estão próximos e, aos poucos, transformá-los pela evangelização. Sendo a fé o caminho para o Pai Eterno, não nos esqueçamos de que o amor é o atalho. Portanto, corramos ao coração de Deus. Lá, a misericórdia espera por nós! Mas, façamos isso, olhando para as nossas cicatrizes. É nelas que o amor divino, capaz de a tudo superar, se faz presente.

Pe. Robson de Oliveira, C.Ss.R. Superior Provincial dos Redentoristas de Goiás e Presidente-fundador da Afipe Agosto - 2018 |

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Sumário

Violência familiar:

atos que ferem toda a sociedade A realidade de muitas famílias passa longe da harmonia e segurança que se espera encontrar no ambiente doméstico. Porém, com a força da fé, é possível mudar esta situação para escrever uma nova história. [18]

Aniversário de Trindade A Capital da Fé de Goiás completa 98 anos e se destaca por seu desenvolvimento turístico religioso, graças à devoção ao Divino Pai Eterno. [10]

Vila São Cottolengo

A instituição que surgiu durante a Romaria do Divino Pai Eterno, hoje, é referência no atendimento gratuito para pessoas com deficiências múltiplas. [28]

Diário de Carreiro Conheça a jornada e tradição de fé e sacrifício de famílias que vêm agradecer ao Pai Eterno pelas graças alcançadas. [12]

De onde vêm os devotos? A Casa do Pai Eterno recebe milhões de devotos todo ano, saiba de que cidade estes romeiros vêm e o que os motiva a ter firmeza nesta devoção. [30]

PUBLICAÇÃO BIMESTRAL DO SANTUÁRIO BASÍLICA DE TRINDADE, PRODUZIDA PELA AFIPE Superior Provincial dos Redentoristas de Goiás e Presidente-fundador da Afipe: Pe. Robson de Oliveira, C.Ss.R. Reitor do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno: Pe. Edinisio Pereira, C.Ss.R. | Direção de Comunicação: Talitta Di Martino Jornalista Responsável: Simone Borges - JP 2715 - GO | Redação: Juliana Nunes, Pollyana Reis e Vinícius Braga Coord. de Marketing: Bárbara Simões | Projeto Gráfico: Elton Rosa | Diagramação: Diogo Correia | Arte/Anúncios: Diogo Oliveira Ilustrações: Ramón Fonseca | Coord. de Produção: Andrei Renato | Fotografia: Danilo Eduardo e Rodolfo Carvalhaes Colaboração: Michele Rodrigues e Ana Lídia Oliveira | Impressão: Scala Editora | Tiragem: 20.000 exemplares Contatos: imprensa@paieterno.com.br | www.paieterno.com.br | (62) 3506-9800

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Artigo

Família, núcleo de Vida e Fé

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alar de “Família” para quem é fruto de uma família estruturada, a chamada “Família ideal”, é algo muito bom, fácil, prazeroso. O mesmo não acontece para quem a vida não favoreceu a mesma sorte. Fui professor da rede pública estadual de Goiás por quase dez anos e, por muitas vezes, presenciei emoções que manifestam claramente essas duas realidades. Principalmente, em datas fortes e marcantes como o Dia dos Pais e Dia das Mães. É preciso perguntar, então: existe um modelo ideal de família para que uma criança cresça saudável e feliz? A Bíblia é muito clara na definição e na composição do que é uma família: “E Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança; à imagem de Deus, Ele o criou; e os criou homem e mulher. Os abençoou e lhes disse: ‘Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam a terra’” (Gn 1,27-28). Este é, pois, de acordo com os valores e princípios cristãos, o modelo perfeito, o modelo nuclear de família conforme a vontade de Deus. Um lar estruturado forma cidadãos religiosos, éticos e moralmente constituídos. Especialistas no assunto dizem que tudo o que somos na vida adulta é o que aprendemos de nossos pais até os sete anos de idade. Posterior a isso, toda forma de conhecimento é um acréscimo. Santo Afonso diz que é preciso for-

mar “consciência reta e sadia desde cedo”, se quisermos ter na sociedade cidadãos conscientes de si e de suas responsabilidades, maduros e equilibrados tanto espiritual quanto socialmente. Acontece que a modernidade e a pós-modernidade criaram a cultura do descartável, do efêmero, do passageiro. Desenvolveram o sentimento do egocentrismo, do hedonismo e do narcisismo. A partir de ideologias recentes, produziu novas formas de relacionamentos e outros modos de viver que se denominam família. Christine Collange em seu livro “Defina uma família!”, apresenta uma lista enorme de famílias, às quais apenas cito como conhecimento, não entrando na discussão e definição de cada uma delas. São, pois: “família casulo, família Disneylândia, família clube, família moderna, família tradição, família cepa, família monoparental, família em kit, família reconstituída, família aberta, família invisível, família new look, família comunitária, família fragmentada, família parceira, família de fusão”. São modos peculiares de viver que nem sempre se constitui, necessariamente, família. Outro estudioso do assunto, Juarez Ferreira de Jesus, diz que “ainda é possível detectar, na sociedade pós-moderna, outros modelos e arranjos familiares que, somados aos anteriores, aumentam o universo para escolha de todo o indivíduo do nosso tempo. São famílias com

base em união livre, famílias compostas apenas de irmãos e irmãs, mães adolescentes com filhos, pessoas divorciadas gerando novas famílias, entre outras”. Segundo ele, são modelos e arranjos alternativos criados pelo e para o ser humano contemporâneo. Porém, afirma, que “qualquer que seja a configuração ou o modelo de estruturação da sua família, ela deve ser sempre o espaço de relações afetivas; atitudes responsáveis; respeitabilidade; solidariedade; seguridade física, moral, espiritual de seus formadores. Deve ser lugar de educação e transmissão de valores essenciais à vida e ao exercício da cidadania”. Para mim, mediante às múltiplas experiências que tenho com minha família, ela é a forma natural que Deus encontrou para se fazer presente no meio de nós. Uma forma especial de nos ajudar em nosso crescimento diário e na busca da santidade, pois é na família que revelamos quem verdadeiramente somos!

Pe. Edinisio Pereira, C.Ss.R. Reitor do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno Agosto - 2018 |

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Entretenimento

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Devoção contada por meio da arte Grupo Desencanto evangeliza e diverte através de peça teatral que conta sobre a fé ao Divino Pai Eterno

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m espetáculo que alia arte, cultura e religiosidade. Assim pode ser definida a peça “Devoção ao Divino Pai Eterno”, do Grupo Desencanto, apresentada no Cineteatro Afipe durante a Romaria de Trindade (GO). Com elenco afiado, roteiro criativo e figurinos bem trabalhados, a apresentação proporcionou aos presentes uma viagem no tempo para explicar como a devoção iniciada por volta de 1840, com o casal Constantino e Ana Rosa Xavier, tornou-se tão forte e vivida por milhões de fiéis em todo o mundo. O diretor do Grupo, Amarildo Jacinto, conta que a ideia da peça partiu do Pe. Robson de Oliveira, presidente-fundador da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), que gostaria de ver a história da devoção representada de forma leve e descontraída nos palcos. “Discutimos juntos cada detalhe da apresentação. A partir disso, pesquisei a fundo e, há um ano, montei um rico laboratório com os atores para que

tudo ficasse fiel à realidade. Minha preocupação era em não deixar cansativo para o público, por isso optei por algo mais lúdico e atual. Estou muito feliz e orgulhoso do resultado”, afirma o diretor. Ele acrescenta que sonha em levar a peça para fora do País, assim como aconteceu com outras apresentações do Grupo Desencanto, que recentemente esteve na Europa. “Você não imagina o quanto falar da nossa devoção me emociona e me satisfaz. Há 30 anos, saí de Minas Gerais e me mudei para Trindade justamente por causa disso. Sempre carreguei a vontade de difundir o quanto puder a devoção ao Divino Pai Eterno”, destaca Amarildo.

Emoção

Esse sentimento é compartilhado pelos atores da peça. Para Byanca Melo, atriz do espetáculo, é gratificante representar a devoção através da arte e, ao final, ganhar a melhor

recompensa: os sorrisos e aplausos da plateia. O ator André Renato Cunha, é trindadense e também não esconde a satisfação em fazer parte do elenco, justamente por interpretar algo que sempre vivenciou. “É emocionante! O melhor de tudo é que, ao estudar e fazer o laboratório da peça, aprendi mais sobre a história da devoção e conheci testemunhos muito fortes. Isso fortaleceu ainda mais a minha fé”, diz o ator. A alegria de quem faz parte do Grupo contagiou a todos que estavam na plateia. Vanilde Maria, 40, de Vianópolis (GO), levou a família toda para conferir a peça e aprender mais sobre a devoção. Ela saiu do Cineteatro Afipe encantada com o que viu e parabeniza os responsáveis pela ideia. “Foi arrepiante, inclusive meu sobrinho chorou. Fiz questão de trazê-los para que eles conheçam a fundo como tudo começou e saibam do imenso amor do Divino Pai Eterno por cada um de nós”, finaliza a devota.

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Construção

Obras avançam, expectativas também Cheios de esperança, devotos visitaram a construção do Novo Santuário durante a Romaria do Divino Pai Eterno

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etapa de construção de três, dos quatro braços da cruz que formará o Novo Santuário dedicado ao Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), anuncia o progresso da obra e já pode ser visto pelos devotos. A cada fase, a expectativa aumenta e torna mais próxima a concretização do sonho de ver a Nova Casa do Pai concluída. Na última Romaria do Divino Pai Eterno, o local foi um dos principais pontos de peregrinação e reuniu romeiros do Brasil e também do exterior, que conferiram de perto o andamento da obra. Um deles foi o comerciante Paulo Bueno, de Brasília (DF). Em sua primeira Romaria, ele fez questão de ir ao local para testemunhar o Novo

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Templo Santo tomando forma. Ao seu lado, o filho Jhony Bueno, de 12 anos, a quem sempre ensinou sobre a devoção ao Divino Pai Eterno. “Resolvi trazê-lo comigo para que, desde novo, ele tenha noção da importância deste lugar para todos nós, fiéis”, diz. Impressionado, Paulo afirma que a construção é maior do que imaginava: “Eu só acompanhava o andamento da obra pela televisão. Vindo aqui, pude realmente ter ideia de como ficará. Será uma igreja enorme e, aparentemente, vai ficar muito bonita. Não vejo a hora de estar aqui com toda minha família”. Aos 81 anos e em sua quarta Romaria, Osmar Barbosa, de Paracatu

(MG), também esteve na obra acompanhado das filhas Luciene Barbosa, e Eliane Barbosa. Fervorosos devotos do Divino Pai Eterno, eles não esconderam a ansiedade e a empolgação por estar tão perto do futuro Santuário. Na Capela do Cruzeiro, pai e filhas agradeceram a oportunidade e pediram a Deus Pai que continue abençoando a construção. “Há anos, venho à Trindade e nunca tinha passado por aqui. Minhas filhas e eu resolvemos acabar com a curiosidade e, finalmente, conhecemos a obra. Agora, vendo de tão perto, temos certeza que, em breve, teremos uma igreja bonita e pronta para acolher todos os fiéis da melhor forma”, destaca Osmar.


Maquete do Novo Santuário

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urante a Tradicional Festa em Louvor ao Divino Pai Eterno, o Espaço do Romeiro atraiu milhares de devotos. A estrutura temporária montada no pátio do Santuário Basílica, em frente à Sala dos Milagres, contou com vários estandes, entre eles o da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). Lá, os fiéis puderam visitar a maquete do Novo Santuário. A professora trindadense Rosângela Moreira, de 47 anos, ficou impressionada ao ver a representação da Nova Casa do Pai. “Sempre ouvimos falar de como vai ficar a igreja. Agora, vendo a maquete tão linda, só au-

menta a ansiedade e a vontade de frequentá-la”, diz ela, ao lado do neto Jonas Oliveira, de 4 anos. Vindo de Anápolis (GO), Adilson Antônio da Silva, de 49 anos, também esteve na Romaria e passou pelo estande para ver a maquete. Ele afirma que é um Operário do Pai Eterno, já que contribui para que a construção prossiga, além de acompanhar todos os passos da obra. “Pelo que vi na maquete, a igreja vai ser bastante acolhedora. É uma honra para nós, goianos, termos um Novo Templo Santo recebendo devotos do mundo todo”, finaliza.

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Aniversário

Turismo religioso forte nos 98 anos de Trindade Cada dia mais próspera e acolhedora, a Capital da Fé de Goiás cresce junto com a devoção ao Divino Pai Eterno

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cada ano que passa, Trindade (GO) passa a ser conhecida por mais pessoas por meio da fé e devoção ao Divino Pai Eterno. É um município que carrega em suas ruas e em algumas características interioranas uma fé que encanta quem mora e quem visita o local. Trindade possui atrações que demostram como a fé pode trazer mudanças e proporcionar milagres. Cada pedacinho desse município que, segundo estimativa de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possui mais de 120 mil

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habitantes, expressa de forma concreta como o amor do Pai Eterno é e foi capaz de transformar um lugar. Este ano, a cidade completa 98 anos de emancipação e leva em sua bagagem uma tradição que começou pela fé de um casal e que hoje arrasta multidões. Em constante ascensão, a cidade se prepara a cada ano para receber da melhor forma seus romeiros, turistas e novos moradores. A prova disso é a Romaria do Divino Pai Eterno 2018 que, em seus dez dias, recebeu cerca de três milhões de pessoas. Segundo o presidente do Conse-

lho Municipal de Turismo (ComTur), Fernando Carlos Pereira, Trindade merece destaque por esse acolhimento. “É muito bom receber essas pessoas que vêm de longe para acompanhar a Festa do Divino Pai Eterno, ou em outras épocas do ano, para apenas agradecer. A cidade lucra sempre com a Festa e aproveita isso para melhorar a cada ano”, explica. O município se movimenta o ano todo, os devotos vêm de todo o Brasil e tem também os estrangeiros em razão dessa devoção. “Através do Conselho Municipal de Turismo,


tentamos alavancar a cada dia o nosso turismo religioso juntamente com o setor público-privado e a Igreja, de forma integrada com os cidadãos trindadenses que se dedicam a receber melhor esse pessoal que sai de longe para vir até a Casa do Pai Eterno”, explica Fernando.

Fé e desenvolvimento

O crescimento da cidade é visível, os aspectos econômicos e culturais foram se modificando ao longo do tempo e a cidade foi se adaptando a novas realidades. De tão acolhedora,

muitos fiéis que apenas a visitavam, resolveram migrar para a cidade. É o caso da devota Naira Ferreira Braga, de Brasília (DF). Por conta de sua devoção, ela resolveu se mudar com seu esposo para Trindade. “Eu queria um lugar calmo, que eu pudesse ficar bem perto do Pai Eterno refletindo e agradecendo por tantas graças que eu, minha família e meus amigos já recebemos Dele. Então, aqui é uma oportunidade de vida melhor principalmente para idosos”, comenta Naira. Ela e o esposo moram a cerca de

100 metros da Igreja Matriz do Divino Pai Eterno, o que considera uma providência Divina. “Foi o Pai Eterno que me trouxe e me arrumou essa casa, porque Ele é muito bom, maravilhoso”, conta. Além de Naira, muitos outros filhos do Pai Eterno, decidiram escolher a Capital da Fé de Goiás para morar. A motivação é agradecer e estar mais perto da devoção, em uma cidade que ainda tem características do interior, mas está de braços abertos para as facilidades da vida moderna.

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Carreiros

A fé viva na tradição Romaria dos Carros de Boi é repassada de geração em geração e se mantém viva em Trindade

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erca de 190 quilômetros separam as cidades goianas de Itapirapuã e Trindade. Para um carreiro, o percurso não é nada fácil. Forte Sol durante o dia, frio intenso à noite, pousos improvisados. Contudo, para Guilhermino José Andrade, e seu filho, Dione José Andrade, todo esse sacrifício, durante 14 dias, vale a pena em nome da fé e do amor pelo Divino Pai Eterno. Cheios de orgulho e satisfação, eles vêm mantendo viva a antiga tra-

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dição da Romaria dos Carros de Boi em Trindade. “Meu avô já era carreiro, inclusive minha mãe foi trazida por ele em um carro de boi para ser batizada na Igreja Matriz, em Trindade. Eu sempre o acompanhava e passei a gostar desde novinho. Fiz questão de passar isso para os meus filhos, netos e bisnetos. Espero que essa tradição nunca acabe”, diz Guilhermino, orgulhoso, ao lado de sua família. Dione também cresceu vendo

todo esse amor do pai pela Romaria e, desde os 10 anos, segue os seus passos. “É algo que está no sangue. Para mim, esta é a melhor época do ano. À medida que a Festa em louvor ao Divino Pai Eterno se aproxima, a ansiedade vai aumentando e não vemos a hora de chegar logo em Trindade”, afirma. Segundo ele, a preparação começa com bastante antecedência, logo quando retornam para sua cidade: “Participar do desfile funciona como


Família Andrade reunida para Desfile dos Carreiros

um retiro espiritual. Primeiramente, agradecemos ao Pai pela oportunidade de estarmos aqui mais uma vez. Depois disso, voltamos para Itapirapuã com a sensação de dever cumprido e renovados para mais um ano de muitas bênçãos”. Orgulhosa, a filha de Dione, Kálita Oliveira Andrade, destaca que o pai e o avô são verdadeiros exemplos de fé e, se depender dela, a tradição não acaba tão cedo. A presença de sua filha, Maria Eduarda Oliveira, é uma prova disso. Vestida como uma legítima carreira, a pequena foi escolhida como rainha do desfile dos carros de boi. “É uma honra vê-la recebendo esse título. É sinal de que o amor e a devoção ao Divino Pai Eterno vêm sendo conservados em nossa família e passados de geração em geração”, diz Kálita.

História

Assim como a família Andrade, centenas de comitivas de diferentes lugares marcam

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presença todos os anos na Romaria. Para o reitor do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, Pe. Edinisio Pereira, a tradição relembra o início da devoção ao Divino Pai Eterno. “O carro de boi era o meio de transporte daquela época. Todo esse cenário que visualizamos durante a Romaria, especialmente no desfile de carros de boi, tem uma relação muito próxima com aquele tempo. É uma tradição resgatada e repassada há anos”, explica o sacerdote. Para ele, há uma única explicação para essa tradição se manter viva por tanto tempo: “Somente pela fé, alguém pode desejar continuar algo tão desafiador, sobretudo na modernidade, na qual temos meios de transporte com mais segurança, conforto e rapidez. Lidar com carro de boi não é fácil, exige bastante paciência e cuidados especiais. Então, a fé é o que move estes carreiros e os incentiva a estar aqui todos os anos”, finaliza Pe. Edinisio Pereira.

VOCÊ SABIA?

m 2017, a Romaria de Carros de Bois da Festa do Divino Pai Eterno de Trindade foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Por sua relevância como referência cultural e representatividade da vida rural. O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou, por unanimidade, o registro da celebração religiosa como patrimônio imaterial. Outra curiosidade é que, em 2018, pesquisadores espanhóis buscaram cidades em todo o mundo que ainda tinham carros de boi e descobriram o desfile em Trindade. O objetivo deles era captar o som emitido por esse que é um dos meios de transporte mais antigos do mundo. “A nosso ver, Trindade é a última fase da pesquisa. Há seis mil anos há registros sobre este som específico, aqui fizemos a captação do áudio de um meio de transporte que há muito tempo vem passando de geração em geração por todo o mundo”, disse o pesquisador Xabier Erkizia.

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Comportamento

Consumir com sabedoria Comprar excessivamente e sem necessidade pode indicar um transtorno que pode e deve ser tratado

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hopping center é o inimigo número um da servidora pública Gabriele Nascimento, de 30 anos. Consumidora compulsiva assumida, ela faz de tudo para evitar locais que a fazem cair em tentação e instigam seu grande vício: comprar. Essa compulsão desenfreada para o consumo tem nome: Oneomania, um transtorno que tem se tornado cada vez mais frequente e pode atingir qualquer pessoa, independentemente de classe social, condição econômica e formação intelectual. “Pode parecer besteira, mas não é. Por várias vezes, já me peguei agindo por impulso e adquirindo mercadorias sem necessidade algu-

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ma, simplesmente para sanar uma abstinência. Geralmente, eu só percebo isso quando chego em casa e me pergunto o porquê de ter comprado”, desabafa Gabriele. O psicólogo Shouzo Abe explica que tal doença está ligada ao supérfluo, que foge daquilo que realmente precisa para sua existência. “O grande problema é quando a pessoa começa a ignorar as necessidades básicas e passa a consumir bens dispensáveis, sem qualquer utilidade, simplesmente guiada pelo impulso”, analisa. A questão se torna ainda mais crítica quando este hábito começa a prejudicar a si mesmo ou a terceiros.

“Em muitos casos, o resultado dessa atitude impulsiva é o endividamento crescente. A pessoa começa a gastar mais do que realmente pode e faz com que as dívidas se transformem em uma verdadeira bola de neve”, afirma o especialista. Foi justamente essa situação que fez com que Gabriele Nascimento percebesse o distúrbio que estava vivendo. “Comecei a ter sérios problemas financeiros por causa das compras desenfreadas. Passei a viver no vermelho, com limites de cartões estourados e cheia de dívidas. Tudo isso me deixava profundamente angustiada, a ponto de perder noites de sono”, diz a servidora pública.


Válvula de

escape

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houzo Abe destaca que, para quem sofre tal distúrbio, o ato de comprar é uma forma de fugir dos problemas. “Geralmente a pessoa está passando por um período difícil, principalmente, ligado às questões afetivas, e consumir funciona como uma válvula de escape. Inconscientemente, ela passa a acreditar que, adquirindo algo, vai compensar aquilo que está perdendo”, pontua. Ao chegar nessa situação, o melhor caminho é procurar ajuda, seja de familiares, amigos, padres, orientadores espirituais ou por meio de tratamentos psicológicos, conforme orienta o especialista. “O apoio de pessoas próximas é fundamental para aconselhar sobre a gravidade do transtorno. Há casos extremos que exigem psicoterapias. Nesses, os pacientes podem ser medicados e até a família pode ser chamada para auxiliar no tratamento. Uma coisa é certa: quanto mais isolada a pessoa estiver, mais difícil será para ela se tratar”, alerta o psicólogo. Gabriele reconhece a importância disso e revela que já procurou ajuda profissional para auxiliá-la. “Procurei uma psicóloga no momento mais crítico e consegui fazer um planejamento para quitar minhas dívidas. Logo depois, tive uma recaída e comecei tudo de novo. Por causa disso, tive que retornar com as consultas. É um processo que exige muita disciplina e responsabilidade, mas estou disposta a vencer isso”, finaliza.

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Rastreando Papa na JMJ em 2019 A Santa Sé confirmou a presença do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) do Panamá, em 2019. Esta será a 3ª JMJ com o Papa Francisco. Antes, ele havia participado do evento no Rio de Janeiro, em 2013, e na Cracóvia, em 2016. O Panamá será a 9ª nação latino-americana visitada pelo Papa Francisco. Desde que iniciou seu pontificado, Francisco passou pelo Brasil, Bolívia, Equador, Paraguai, Cuba, México, Chile e Peru. O Pontífice ainda não regressou à Argentina, seu país natal. Na agenda do Papa, o roteiro de viagens para este ano prevê visitas à Europa, com uma passagem pela Irlanda, e outra pelos países bálticos: Lituânia, Estônia, Letônia.

Pe. Pelágio Sauter Foi lançada, em Trindade (GO), a 6ª edição do livro “Pelágio Sauter - O Apóstolo de Goiás”, escrito pelo Missionário Redentorista Pe. Clóvis Bovo. O sacerdote é o responsável, no Brasil, pelo processo de beatificação e canonização de Pe. Pelágio. O livro é uma compilação de várias histórias sobre a vida e trajetória de Pe. Pelágio, contadas por padre Clóvis de uma forma simples e carinhosa, para que os devotos possam apreciar e saber mais sobre a vida do Venerável, título que foi instituído a Pe. Pelágio pelo Papa Francisco em 2014. Esta é uma das etapas mais exigentes do processo e abre os caminhos para continuar o estudo sobre sua santidade. Apesar de sua origem alemã, Pe. Pelágio passou a maior parte da sua vida no Brasil e ganhou fama em Goiás por seu intenso trabalho de evangelização e acolhimento dos pobres e doentes.

Junioristas Redentoristas

Aconteceu no mês de julho, em Trindade (GO), o Encontro Nacional dos Junioristas Redentoristas. O evento teve como objetivo, proporcionar um momento de convivência e formação conjunta com os religiosos em formação, proporcionando troca de experiências e conhecimento das realidades de seus trabalhos pastorais. Muitos participantes fazem o ano do noviciado juntos, mas raramente se encontram ao término deste período. Por isso, o Encontro de Junioristas também visa o reencontro pós-noviciado. Em cada encontro nacional, é abordado um tema relevante para a vida e missão dos junioristas. São temas que os ajudam a lidar com as realidades pastorais. Este ano, o tema foi “Missionários com Jesus no Ano do Laicato”, inspirado no Ano Nacional dedicado aos Leigos.

Assembleia Trindade (GO) também sediou a Assembleia da Conferência dos Redentoristas da América Latina e Caribe. O evento ocorreu entre os dias 6 e 15 de agosto. Ao final do evento, foi apresentado o Documento de Trabalho com os pontos discutidos durante esses dias. A Assembleia tem por objetivo avaliar o trabalho da Congregação do Santíssimo Redentor frente aos desafios da pós-modernidade e refletir sobre como preservar o carisma fundacional de

Santo Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação do Santíssimo Redentor. Durante a Assembleia, marcaram presença os representantes

das unidades brasileiras, que são 9 ao todo, entre eles, Pe. Robson de Oliveira, Superior Provincial dos Redentoristas de Goiás. Agosto - 2018 |

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FamĂ­lia

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Reescrevendo a própria história A violência familiar deixa suas marcas, mas o perdão e o amor ajudam vítimas a reconstruírem suas vidas

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família é um lugar sagrado, um dom de Deus, onde deve brotar o amor, a proteção e a educação para que crianças e adultos possam crescer e amadurecer com inteligência emocional, fé e bons princípios. Infelizmente, esta não é uma realidade vivida por todas as pessoas, especialmente quando se trata de famílias em situação de vulnerabilidade social. Muitas vezes, entende-se a violência somente como a agressão física, mas ela pode ir muito além. De acordo com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), existem oito tipos de violência, que são enfrentados nas mais diversas sociedades pelo mundo: violência física; psicológica; sexual; discriminação; tortura; negligência e abandono; trabalho infantil; e tráfico de pessoas. Nesse sentido, a maioria das vítimas é composta por mulheres e crianças nas mais diversas situações e,

muitas vezes, até mesmo no próprio ambiente familiar. O agressor age normalmente porque tem um sentimento de posse sobre a vítima. O resultado causa muitos danos pessoais e um desequilíbrio emocional que, por vezes, envolve também o abuso de bebidas alcoólicas e o uso de drogas ilícitas, que tornam os casos ainda mais grave. De acordo com o psicólogo Márcio Mujalli, outro ponto a destacar são os costumes educacionais que cada pai ou mãe carrega na sua história: “Um jovem casal, por exemplo, às vezes foi criado sendo corrigido por palmadas ou gritos e acabam repetindo isso no seu próprio contexto familiar”. Para o psicólogo, uma importante alternativa para fugir dos casos de violência familiar é o questionamento e o debate dos próprios conceitos de educação. Isso porque a sociedade já evoluiu em muitos aspectos. A relação entre pais e filhos também mu-

“O agressor age normalmente porque tem um sentimento de posse sobre a vítima.”

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dou, então o debate das técnicas educacionais é bastante válido. “Eu já atendi menores que preferiam viver na rua a continuar em casa, pois sofriam com a violência. Por isso, é importante que pais e responsáveis busquem o diálogo, busquem desenvolver e incentivar uma comunicação assertiva desde a infância”, afirma Márcio. Ainda segundo ele, o diálogo é a chave para que as crianças e adolescentes cresçam e se desenvolvam sabendo lidar com frustrações, com maturidade e entendendo que uma atitude errada implica consequência. O psicólogo destaca que, ao corrigir e ao dizer ‘não’ ou ‘sim’, os pais devem procurar estabelecer um vínculo de confiança e respeito com a criança e o adolescente, sem perder a autoridade. “Não é um trabalho fácil, há muitos contextos e realidades de cada família, é claro. Mas o cuidado, o amor e a fé em Deus são essenciais no âmbito educacional. Eu costumo incentivar meus pacientes a ensinarem seus filhos a rezar, a encontrarem uma oração para fazer juntos e buscarem a orientação do Espírito Santo para ser família”, comenta Márcio.

Esperança Em Goiânia (GO), uma das Obras Sociais Redentoristas, a Casa Talitha Kum, atende meninas entre 12 e 18 anos que passaram por situações de violência familiar. As religiosas que administram a Casa e cuidam das atendidas buscam ressignificar a história dessas meninas que, já tão jovens, carregam marcas profundas. Segundo a Ir. Deguimar da Rocha, responsável pelo departamento financeiro da Casa, desde o primeiro contato, o objetivo é compreender a realidade de cada uma delas. “Cada história é única, as meninas

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Tipos de violência Violência Psicológica

Relação de poder com abuso da autoridade ou da ascendência sobre o outro, de forma inadequada e com excesso ou descaso. Coerção.

Violência Sexual

Situações de abuso ou de exploração sexual. Implica a utilização de pessoas para fins sexuais, mediada ou não por força ou vantagem financeira.

Violência Física

Ato de agressão física que se traduz em marcas visíveis ou não.

Discriminação

Distinção, segregação, prejuízo ou tratamento diferenciado de alguém por causa de características pessoais, raça/etnia, gênero, religião, idade, origem social, entre outras.

Negligência e Abandono

aqui passam por situações psicológicas e físicas complicadas muito novas. Ao chegarem aqui, buscamos dar a elas a oportunidade de estabelecer novos vínculos, de conhecer o real significado do carinho e da educação”, afirma a irmã. O resgate da própria história, a formação da identidade longe da situação de violência é primordial para que as meninas acolhidas no local tenham a chance de recomeçar. “Aqui, trabalhamos para garantir o apoio completo: médico, psicológico, terapêutico, social e escolar”, explica a religiosa. E ela afirma ainda que o objetivo é ser família para cada uma dessas meninas e isso implica investir em todas as áreas da formação humana até que a assistida esteja apta a voltar ao ambiente social, com capacidade de se defender e trilhar um novo caminho. Para se ter uma ideia, o período de acolhida de uma vítima pode levar de um a três meses. Só então, é recomendado reinseri-la na escola e demais atividades, de acordo com a necessidade. “Cada história é distinta, mas buscamos, sobretudo, curar os traumas e a violência que sofreram pelo amor, pelos laços de afeto e amizade”, finaliza irmã Deguimar.

Abandono, descuido, desamparo, desresponsabilização e descompromisso do cuidado. Ato que não está necessariamente relacionado às dificuldades socioeconômicas dos responsáveis pela criança ou pelo adolescente.

Tortura

Atos intencionalmente praticados para causar lesões físicas, ou mentais, ou de ambas as naturezas com finalidade de obter determinada vantagem, informação, aplicar castigo, entre outros.

Trabalho Infantil

É todo o trabalho realizado por pessoas que tenham menos da idade mínima permitida para trabalhar. No Brasil, o trabalho não é permitido sob qualquer condição para crianças e adolescentes até 14 anos. Adolescentes entre 14 e 16 podem trabalhar, mas na condição de aprendizes. Dos 16 aos 18 anos, as atividades laborais são permitidas, desde que não aconteçam das 22h às 5h e não sejam insalubres ou perigosas.

Tráfico de crianças e adolescentes

Recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de uma criança ou um adolescente para fins de exploração. Fonte: Unicef

Denuncie:

Denuncie qualquer tipo de violência contra crianças ou adolescentes e mulheres. Disque 100 ou entre em contato com as autoridades policiais, pela Delegacia da Mulher e de Proteção à Criança ou Adolescente de sua cidade.

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O Mistério da Palavra Divina

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os meus primeiros anos de Bispo, participando da Assembleia Geral da CNBB, ouvi um Bispo dizer que era preciso valorizar a Palavra de Deus. Fiquei pensando que parecia estranho aquele incentivo no meio de homens que constantemente lidavam com a Bíblia. Mais tarde, fui compreender o que ele motivava, pois é preciso ter alegria em receber e proclamar a Palavra do Senhor. Quem tem o costume de frequentar a Igreja, participar da Liturgia está sempre tendo a oportunidade de receber a Palavra Divina. É importante se perguntar como está a sua disposição interior para a acolhê-la. Conta-se que um casal foi convidado para ser padrinho de um matrimônio. Decidiram dar uma Bíblia aos noivos e o fizeram no dia da celebração. Passado quase um ano tiveram a coragem de perguntar aos seus afilhados o que acharam do presente recebido. Eles disseram que tinham gostado muito da Bíblia. Que a guardavam com muito carinho. Nem tinham tirado a embalagem para não a estragar. Os padrinhos disseram que então entenderam o que tinha acontecido, pois dentro da Bíblia haviam colocado um cheque com um valor considerável, mas até aquele momento o cheque não tinha sido descontado. Claro que os afilhados ficaram envergonhados. Essa história nos faz pensar no tesouro que é a Palavra de Deus e nem sempre abrimos esse tesouro descobrindo o presente de Deus para nós, dentro dela. Eu adquiri o hábito de ler na sequência, um capítulo da Bíblia todos os dias. Começo no livro do Gênesis e termino no Apocalipse. É preciso ter disposição de ler e rezar todos os dias. A Palavra de Deus vai fazendo parte de nossa vida. Encanta-me rezar o Magnificat. É maravilhoso o encontro de Maria com Isabel. Parecem duas biblistas conversando. A Palavra de Deus flui com a naturalidade de seus corações. Seus lábios revelam o que está no interior delas: “A boca fala do que transborda o coração” (Mt 12,34). Certa vez, eu estava dando assistência em uma paróquia e a casa paroquial era

um sobradinho e ficava ao lado da casa de um Pastor Evangélico. Da sacada eu avistava o Pastor que sentado em sua escrivaninha ficava longas horas lendo a Bíblia. Fiquei pensando como é importante nos familiarizarmos com a Palavra Divina. Certamente aquelas longas meditações o ajudavam a fazer pregações com unção. Hoje a Igreja nos pede para fazer uma leitura orante da Palavra de Deus. Essa leitura é muito frutuosa. Existe um método que ajuda os leitores. São basicamente cinco passos. Leitura, meditação, oração, contemplação e ação. Pode ser feita da seguinte forma: Escolhe-se um texto bíblico. Faz-se algumas leituras dele, se perguntando: O que o texto diz? Neste momento trata-se de lidar apenas com texto, compreendê-lo, olhá-lo do lado de fora, ver os personagens e a situação que os envolve. No segundo passo se pergunta: O que o texto me diz? Este é o momento da meditação. Quem lê entra no texto e se deixa ser tocado por ele. Sente-se parte integrante do texto. A terceira etapa é a da oração, onde se pergunta: O que este texto me ajuda a rezar? A partir da meditação começa-se a fazer a sua oração pessoal. Neste momento seu coração fala com Deus e encontra-se em Deus. A outra etapa é quase que um êxtase. A pessoa contempla a beleza de Deus e da vida em Deus. Com a pureza do coração busca avistar o Senhor: “Os puros de coração verão a Deus” (Mt 5,8). A última etapa da leitura orante da Bíblia é a ação. A pergunta que se deve fazer nesta etapa é: O que esta leitura e oração me ajudam a fazer? O que preciso fazer a partir desta minha oração? Esse método tão recomendado pela Igreja tem ajudado muitas pessoas a se banharem no mistério da Palavra. É bem verdade que precisamos muitas vezes sermos banhados pela Palavra. Uma história que ouvi ilustra bem essa necessidade. Um discípulo chegou para seu mestre e perguntou: - Mestre porque devemos ler muitas vezes a Palavra de Deus se nós não conseguimos memorizar tudo e com o tempo acabamos esquecendo? Somos obrigados a constantemente ler de novo o que esquecemos.

O mestre não respondeu imediatamente ao seu discípulo. Ele ficou olhando para o horizonte por alguns minutos e depois ordenou ao discípulo: - Pegue aquele cesto de junco, ele está sujo, desça até o riacho, encha o cesto de água e traga até aqui. O discípulo olhou para o cesto de junco e achou muito estranha a ordem do mestre, mas, mesmo assim, obedeceu. Pegou o cesto, desceu os cem degraus da escadaria do mosteiro até o riacho, encheu o cesto de água e começou a subir. Como o cesto era todo cheio de furos, a água foi escorrendo e quando chegou até o mestre já não restava nada. O mestre ordenou que fizesse isso muitas vezes. Quando o discípulo já estava cansado, quase não aguentando mais e sem conseguir levar o cesto cheio de água, o mestre lhe perguntou: - Então, meu filho, o que você aprendeu? O discípulo olhando dentro do cesto percebeu admirado: - O cesto está limpo! Apesar de não segurar a água, a repetição constante acabou por lavá-lo e deixá-lo limpo. O mestre, por fim, concluiu: - Não importa que você não consiga decorar todas as passagens da Bíblia que você lê, o que importa, na verdade, é que, no processo, a sua mente e a sua vida ficam limpas diante de Deus. É preciso cada dia ter disposição para ir descendo ao Mistério da Palavra de Deus.

Dom Messias dos Reis Silveira

Bispo de Uruaçu (GO) Presidente do Regional Centro-Oeste da CNBB Agosto - 2018 |

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Operรกrios do Pai

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Eleições

O poder do cidadão CNBB produz cartilha com informações para os cristãos que vão votar em 2018

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ano era 2014, logo após a Copa do Mundo de Futebol e o inesquecível 7x1. Após a decepção com a saída do Brasil do Mundial, os brasileiros se ocuparam de um intenso processo eleitoral. A disputa presidencial entre os candidatos Dilma Rouseff, do PT, e Aécio Neves, do PSDB, no segundo turno evidenciou um país extremamente dividido. Na decisão do segundo turno, foram 51,64% votos de Dilma, contra 48,36% de Aécio. Após a posse da presidente Dilma, a investigação da Operação Lava-Jato tomou conta do País revelando um esquema de corrupção envolvendo políticos e empreiteiras. Tudo isso, somado a uma grave recessão econômica, levou milhões de pessoas às ruas para pedir o impeachment da presidente que se concretizou no ano de 2016. Porém, os brasileiros continuaram vivenciando diariamente desdobramentos da Lava-Jato, mais escândalos de corrupção e até um ex-presidente condenado e preso. Tendo toda essa bagagem em vista, o Brasil viverá em outubro de 2018 uma das eleições mais desafiadoras e talvez até mais conscientes de sua história. O histórico não é nada otimista, mas sempre com a esperança de um futuro melhor, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) da regional Sul produziu uma cartilha para distribuir nas igrejas, paróquias e demais comunidades com orientações para os eleitores cristãos. “Com uma linguagem simples, buscamos apresentar indicações básicas sobre o universo da política, a partir do olhar da

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Igreja. Queremos que os fiéis saibam o que a Igreja pensa sobre a política e como podemos transformá-la”, explica Dom Mário Spaki, organizador da publicação. A cartilha se divide em quatro partes: Crise de Ética na política nacional; O papel da Igreja nas eleições; Alterações ocorridas na lei eleitoral (como a lei da Ficha Limpa); e a Responsabilidade de todos pelo que ocorre no País. De forma simples e direta, a cartilha pretende informar e incentivar o leitor a buscar conhecimento, principalmente sobre o candidato e partido para os quais pretende votar.

Notícias falsas

Quem nunca acessou uma rede social ou um site e se deparou com notícias duvidosas sobre pessoas públicas? Essas são as chamadas “Fake News” que são disseminadas por pessoas com segundas intenções para confundir e alterar a compreensão do eleitor. Portanto, se você viu um assunto compartilhado nas redes sociais ou nas rodas de conversa, busque confirmar a informação em fontes confiáveis. Independentemente das convicções políticas de cada um, todos esperam que políticos corretos e compromissados com o bem das pessoas sejam eleitos. Por isso, informe-se! Conheça seu candidato, acompanhe os debates e faça um voto consciente. Ainda que for votar nulo ou em branco, faça isso com conhecimento e não por influência de terceiros.

Para quais cargos será a eleição 2018: Deputado estadual: é eleito para ocupar a Assembleia Legislativa dos Estados e tem como principais funções criar leis de acordo com os interesses da população e fiscalizar o trabalho do governador. Deputado federal: ocupa a Câmara, em Brasília, e tem como principais atribuições legislar e fiscalizar o governo federal. Senador: representa um estado – ou unidade federativa – e compõe o Senado Federal em um mandato de 8 anos. O senador trabalha no Poder Legislativo da esfera federativa da União, ou seja, a nacional. Este ano, serão eleitos dois candidatos. Governador: deve cuidar dos interesses de um estado ou unidade federativa. É ele o poder executivo estadual que propõe projetos e executa leis para o bem dos municípios do Estado que governa. Presidente: é um representante eleito como a autoridade máxima da política brasileira e tem como função executar projetos e leis que beneficiem todo o povo nas suas mais diversas necessidades. Ele também pode sugerir projetos de lei ao Poder Legislativo e vetar ou sancionar projetos de lei aprovados pelos deputados e senadores.



Solidariedade

O Santuário do Irmão Vila São Cottolengo é uma obra de misericórdia que transforma vidas de pessoas com deficiências múltiplas

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esde muito nova, a professora Lilian Costa ouvia falar sobre o trabalho da Vila São José Bento Cottolengo. “Eu cresci em Trindade [GO] e minha família, principalmente minha madrinha, me contavam coisas boas sobre o trabalho realizado no local”, explica. Hoje, o filho de Lilian, que foi diagnosticado com autismo, faz tratamento no local e é sempre muito bem recebido. “A Vila oferece muito mais do que um serviço de saúde pública, é um verdadeiro acolhimento desde o momento que chegamos à recepção até o feedback que recebemos do tratamento”, diz Lilian, com alegria. A Vila São Cottolengo foi fundada há mais de 60 anos e nasceu de uma triste realidade que acontecia durante a Romaria de Trindade. “Todo ano, a cidade se enchia de devotos, dentre eles: pedintes, pessoas doentes, com deficiências, que ficavam nas ruas sem o menor cuidado e sem atenção”, explica a Ir. Vanda Elisa Conde, que coordena dois núcleos de atendi-

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mento aos pacientes da instituição. Há alguns anos, o então arcebispo de Goiânia, Dom Antônio Ribeiro, afirmava que a Vila era o “Santuário do Irmão” e pedia que todos os devotos do Pai Eterno visitassem o local e deixassem suas doações. O pedido de Dom Antônio acabou virando uma tradição e, felizmente, é muito comum que os milhares de romeiros que passam por Trindade, incluam a visita à Vila em seu itinerário. Especialmente durante a Romaria do Divino Pai Eterno, quando muitas comitivas trazem doações de suas cidades e entregam na Vila. Os devotos que chegam em grupos menores também fazem suas doações e orações.

Boas Ações

A alegria dos pacientes internos e a atenção dos colaboradores para com eles são marca registrada da Vila. A missão de servir aos filhos abandonados de Deus é árdua, pois a maioria deles possui deficiências físicas e

cognitivas, ou seja, não conseguem desenvolver a fala, e são dependentes para praticamente tudo. “Apesar de não poderem se comunicar da forma tradicional, eles usam como sua grande ferramenta de comunicação os olhares e os sorrisos: largos e inocentes”, explica Ir. Vanda. Se engana quem pensa que as deficiências são um fator limitante para que eles se desenvolvam. A Vila oferece apoio completo com atividades de fisioterapia, equo-terapia, atividades lúdicas, jogos, brincadeiras, pintura e música, além, é claro, do acompanhamento médico diário. Para a professora Lilian, o convívio com as pessoas da Vila São Cottolengo sempre a ensina a ser grata, independentemente das dificuldades. “Eu sou encantada com o trabalho realizado aqui, convivo com outras mães que trazem seus filhos e é realmente muito diferente. Quando estamos aqui e vemos um paciente conseguir alcançar um objeto, isto é motivo de festa para todos. Por isso,


a Vila me lembra o quanto sou grata por tudo o que tenho, até mesmo pelas dificuldades”, afirma. Parte dos internos formam a animada Banda Inclusiva Luar. Poder vê-los tocar é uma experiência inspiradora. É a prova de que os limites estão apenas na mente e que só o amor e a força de vontade

podem libertar desses limites e fazer seguir adiante. Na Banda Luar, cada componente toca um instrumento de acordo com sua capacidade. A filosofia do grupo vai contra o que o mundo prega e ensina a focar no que você consegue, no que você é bom, e não nas suas falhas. Ao observá-los tocando,

é possível perceber a presença de Jesus, que está ali sorrindo, cantando e se divertindo com esses irmãos que o mundo abandonou. Com isso, se tem também a certeza de que Ele deu um jeito de abençoar essas pessoas por meio do carinho e do trabalho que é oferecido na Vila São Cottolengo.

Pacientes da Vila participam de diversas atividades na Instituição

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Caravanas

Destino: a Casa do Pai Pessoas de diversos lugares do Brasil, e até fora dele, visitam a Capital da Fé de Goiás em agradecimento pelas bênçãos recebidas

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propagação da devoção ao Divino Pai Eterno alcança corações em diversos lugares. Por conta do trabalho de evangelização feito pela Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), por meio da televisão, rádio e internet, o amor do Pai chega a milhões de famílias que precisam de oração, através da disceminação da devoção e da Palavra de Deus. E mesmo com as orações chegando aos lares, sem fronteiras, muitos devotos fazem questão de conhecer de perto a Casa do Pai. Assim, romeiros se organizam em caravanas e chegam a todo momento na Capital da Fé de

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Goiás para uma experiência única de fé: visitar o Santuário Basílica de Trindade, o único no mundo dedicado ao Divino Pai Eterno. Foi assim com um grupo de 40 pessoas de Brasília (DF), que se organizaram para conhecer Trindade e agradecer pelas graças recebidas, aos pés da imagem do Pai Eterno. Maria do Carmo Santos de Araújo, guia do grupo, conta que começou a montar a turma por vontade de mostrar para seus amigos essa cidade onde ela acredita que a fé é materializada: “O Pai Eterno tocou meu coração e, desde 2010, faço questão de montar grupos para visitar a Casa do Pai. O

Pai Eterno quer os filhos Dele todos aqui e por isso é tão fácil montar caravanas para vir a Trindade”. Para Maria do Carmo, estar na Casa do Pai faz com que as forças e a fé sejam renovadas. “Aqui é um pedacinho do Céu. Eu fico muito alegre, pois cada um que resolve vir até aqui, não volta com o coração vazio. Eu peço sempre ao Pai Eterno que abençoe a vida de todos aqui”, diz. Segundo ela, reunir pessoas para visitar Trindade é muito gratificante: “Nós somos uma ‘saladinha’ de Jesus, temos pessoas de diversos lugares que fazem questão de vir agradecer pelas graças”.


Caravanas de todo Brasil chegam ao Santuário Basílica do Divino Pai Eterno

Graças alcançadas A fé de pessoas que vêm de longe é retratada também em outro grupo de devotos de Brasília (DF). São cerca de 30 pessoas, entre familiares e amigos, que fazem questão de visitar Trindade em nome da devoção e das graças recebidas. A devota Walquíria Quirino é uma das integrantes do grupo e relata que quando está em Trindade é capaz de sentir ainda mais a presença do Pai. “A fé nos traz aqui todos os anos. Somos uma família religiosa que acredita no poder do Divino Pai Eterno e já tivemos inúmeras provas disso. É uma tradição que começou com a minha avó. Estamos aqui só agradecendo por tantas bênçãos”, explica. Para ela, é uma sensação de alegria poder estar na Casa do Pai e agradecer por todas as graças alcançadas. “Já tem 35 anos que visitamos a Casa do Pai, são muitas bênçãos recebidas e fazemos questão de passar esta fé para as gerações mais novas”, conta, com alegria. Em Trindade, há quem vem agradecer e quem vem pedir. Muitos deles chegam, fazem os seus pedidos e orações e depois retornam para agradecer. Esse é o caso da devota Firma Maria, de Lagarto (SE). “Eu estou agradecendo uma graça em minha vida. Ano passado, eu vim pedir de joelhos pela cura de um câncer. Fiz a caminhada pedindo para que tudo ocorresse bem em meu tratamento. Passei por tudo, pela cirurgia e quimioterapia. Foi um ano de muita tribulação, pedi ao Pai Eterno que me desse forças, que me sustentasse e me reerguesse. Agora, estou aqui, agradecendo pela minha cura. Enquanto vida e condições eu tiver, estarei aqui, para agradecer”, relata emocionada. Agosto - 2018 |

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Na Casa do Pai

“A tradição e devoção nos movem a sempre estar em Trindade”

“Há 50 anos, minha família tem a tradição de ir para a Romaria de Trindade (GO). Visitar a Casa do Divino Pai Eterno é lei para nós! No início, meu pai e meu avô iam de carro de boi, eu não tive a oportunidade de viver esta experiência, mas ouço muitas histórias deles e sei o quanto é bonita e tradicional a fé dos carreiros. Meus avós Simino e Nedina foram pais de 14 filhos. Desde sempre, criaram o hábito de ir a Trindade, esta fé e tradição se estendem até hoje, mesmo após o falecimento deles. Minha família e eu moramos em cidades do interior de Goiás e, nos dez dias da Festa em Louvor ao Pai Eterno, nós vivemos intensamente essa devoção. Vamos para Trindade no primeiro dia e só voltamos na segunda-feira, após a Missa de Encerramento, no dia da grande Festa. Gostamos sempre de participar da missa das 6h da manhã e da Novena Solene, é um momento que fortalece nossas

orações. Eu amo estar na Basílica do Divino Pai Eterno, ela é linda demais e as bandeirinhas que são colocadas na rampa e dentro das igrejas são perfeitas, enfeitam e deixam o local ainda mais alegre. Sempre passo também pela Igreja Matriz que, inclusive, estava muito linda, este ano. Eu nunca deixei de ir a uma Romaria, desde que nasci. A tradição e devoção nos movem a sempre estar em Trindade. Somos uma família grande e, atualmente, nos dividimos em três grupos para ficar na cidade porque a família cresceu. Na igreja, nos encontramos para rezar juntos. Acredito que não tenha uma palavra que descreva nossa fé e devoção. Quando estamos na Basílica, sentimos um amor e uma gratidão imensa! No ano em que minha avó paterna faleceu, foi poucos dias antes de iniciar a Festa. Mesmo assim, o Pai Eterno nos deu forças para vir até aqui, pois essa era a vontade Dele e também da minha

Sua história pode aparecer aqui na Revista Pai Eterno.

avó. Com certeza, ela ficaria triste se não viéssemos. No ano seguinte, após a Festa, perdi minha outra avó, também não foi fácil, mas o Pai Eterno não nos abandona! É Deus Pai que sempre nos dá forças para que possamos continuar. Apesar das dificuldades, sempre temos muito mais a agradecer do que a pedir. Viva ao Divino Pai Eterno!”

Janayna Siqueira

Devota de Pontalina - GO

Mande fotos e um depoimento, sobre como foi sua experiência ao visitar a Capital da Fé de Goiás, para o e-mail: imprensa@paieterno.com.br ou pelo telefone (62) 3506-9800 Agosto - 2018 |

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Dayane Rodrigues e TalĂ­ta Carvalho vestem Vitoriana



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