CA PA
Por que
tudo cu ta s tão caro no Brasil Não, a culpa não é só dos impostos. É da infraestrutura precária de um país tão gigante quanto sua burocracia, uma nação que enriqueceu e não investiu em seu próprio crescimento. A culpa é do governo, é da indústria. E é nossa também. e d i ç ã o e r e p o r ta g e m / Alexandre Versignassi e Felipe van Deursen d e s i g n / Jorge Oliveira i l u s t r a ç ã o / Bruno Oliveira Santos F OTO / Arthuzzi
Perguntaram ao ganhador do Big Brother:
- E aí? O que você vai fazer com o seu milhão? - Vou comprar um apartamento em Brasília. - E com o resto? - O resto eu financio pela Caixa! Essa piada já rola há um tempo em Brasília. Mas serve em qualquer lugar. De 2008 para cá, só em São Paulo, os imóveis subiram 163%. R$ 1 milhão é o novo R$ 380 mil no Banco Imobiliário da vida real. O metro quadrado na capital paulista e no Rio já está entre os mais altos do mundo. Nos bairros ricos, então, haja Big Brother: um apartamento de 100 m² no Leblon custa a mesma coisa que um em Paris - R$ 2 milhões. E já começam a aparecer
Com reportagem de Clarissa Barreto e Cristine Kist
nos classificados coberturas de R$ 20, R$ 30 milhões. Aqui embaixo, as leis não são diferentes. O Big Mac brasileiro é o quinto mais caro do mundo. Enquanto os moradores de Tóquio pagam R$ 7 por ele, nós gastamos R$ 11,25 - e olha que o Japão não é exatamente um país conhecido pelo baixo custo de vida. Em Paris, que também não está na lista das cidades mais baratas da Terra, você paga R$ 25 por uma coxa de pato. Isso no Chartier, um restaurante badalado do bairro mais fofo da cidade, Montmartre. Na nem tão fofa assim São Paulo, o mesmo pedaço de pato pode custar até R$ 70 - e não consta que o dono do restaurante pague ao pato para que ele venha voando de Montmartre até a Vila Madalena.
CA PA
Por que
tudo cu ta s tão caro no Brasil Não, a culpa não é só dos impostos. É da infraestrutura precária de um país tão gigante quanto sua burocracia, uma nação que enriqueceu e não investiu em seu próprio crescimento. A culpa é do governo, é da indústria. E é nossa também. e d i ç ã o e r e p o r ta g e m / Alexandre Versignassi e Felipe van Deursen d e s i g n / Jorge Oliveira i l u s t r a ç ã o / Bruno Oliveira Santos F OTO / Arthuzzi
Perguntaram ao ganhador do Big Brother:
- E aí? O que você vai fazer com o seu milhão? - Vou comprar um apartamento em Brasília. - E com o resto? - O resto eu financio pela Caixa! Essa piada já rola há um tempo em Brasília. Mas serve em qualquer lugar. De 2008 para cá, só em São Paulo, os imóveis subiram 163%. R$ 1 milhão é o novo R$ 380 mil no Banco Imobiliário da vida real. O metro quadrado na capital paulista e no Rio já está entre os mais altos do mundo. Nos bairros ricos, então, haja Big Brother: um apartamento de 100 m² no Leblon custa a mesma coisa que um em Paris - R$ 2 milhões. E já começam a aparecer
Com reportagem de Clarissa Barreto e Cristine Kist
nos classificados coberturas de R$ 20, R$ 30 milhões. Aqui embaixo, as leis não são diferentes. O Big Mac brasileiro é o quinto mais caro do mundo. Enquanto os moradores de Tóquio pagam R$ 7 por ele, nós gastamos R$ 11,25 - e olha que o Japão não é exatamente um país conhecido pelo baixo custo de vida. Em Paris, que também não está na lista das cidades mais baratas da Terra, você paga R$ 25 por uma coxa de pato. Isso no Chartier, um restaurante badalado do bairro mais fofo da cidade, Montmartre. Na nem tão fofa assim São Paulo, o mesmo pedaço de pato pode custar até R$ 70 - e não consta que o dono do restaurante pague ao pato para que ele venha voando de Montmartre até a Vila Madalena.
Nosso iPhone é joia. Para ter um, o brasileiro médio precisa trabalhar uma semana, segundo um ranking do banco UBS, da Suíça - onde bastam 22 horas.
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super / ABRIL 2013
A escalada do Big Mac
O preço do sanduíche reflete, em parte, o custo do Brasil. Ranking da revista The Economist . Preços em reais da época convertidos em dólares de março de 2013.
2009 R$ 8,03 2006 R$ 6,40 2003 R$ 4,55
( US $ 4 , 0 4 )
( U S$ 3 ,2 2 )
( U S$ 2 ,2 9 )
a multiplicação do crédito
Nossa Mega-Sena veio nos primeiros anos deste século. Entre 2003 e 2007, os cinco anos antes da crise de 2008, o Produto Interno Bruto do planeta cresceu em média 5% ao ano - com a China chegando a picos de 11%, 12%, depois 14%. “A economia mundial vem passando por uma fase de exuberância maior ainda que nos golden years da década de 1960”, escreveu na época o economista Fabio Giambiagi, do BNDES. Bom, Produto Interno Bruto é um dado medido em dinheiro. Mas PIB não é dinheiro. PIB são coisas concretas. Só o crescimento do PIB chinês significou a construção de 1.500 prédios de mais de 30 andares por ano no país. Xangai, que não tinha metrô até 1995, passou a ter 454 quilômetros de linhas - contra 402 km em Londres, 337 km em Nova York e 74 km em São Paulo. Era um mundo novo nascendo do zero. E o Brasil surfou nesse trem vendendo matériaprima para o resto do mundo. Principalmente minério de ferro, petróleo e comida - commodities, como dizem os economistas. Entre o começo dos anos 90 e 2002, exportávamos em média US$ 54 bilhões por ano. De 2003 até 2011, a média triplicou para US$ 155 bilhões. Não por coincidência, foi exatamente nesse período que 40 milhões de brasileiros saíram da pobreza. Entraram para a classe C. Outros 9 milhões saíram da C e subiram para a A e a B. Tudo porque o dinheiro das exportações azeitou os motores da nossa economia. Funciona assim: imagine um sujeito que ganhou milhões com minério de ferro, tipo um diretor da Vale. Ele se aposenta, pega o que juntou nos anos dourados e abre uma rede de pizzarias. O gerente da pizzaria resolve comprar um carro. O dono da concessionária compra uma SUPER... e nós queimamos as calorias nadando na enorme piscina
O valor da labuta Quanto é preciso trabalhar para comprar
UM BIG MAC brasil 42 MIN.
ALEMANHA 16 MIN.
EUA 10 MIN.
Rankng do Banco UBS
Com o frango é diferente: ele vai voando, sim. Boiando, na verdade - congelado dentro de um cargueiro, mas vai. Daqui até a Europa. O Brasil tem de frango quase o que a China tem de gente (1,26 bilhão, segundo o IBGE). É o maior exportador do mundo. Parte desse efetivo galináceo vai para a Alemanha após a morte. E alguns desses penados possivelmente acabam no Görlitzer Park, onde os berlinenses fazem fila para comprar pratinhos de halbHähnchen (meio frango). Custa R$ 9,50 lá, com batata frita. No Brasil é quase R$ 20. Sem batata frita. E não é só frango que a gente manda ao mar e que é vendido mais barato lá fora. Mandamos carros. O Gol sai da fábrica em São Bernardo do Campo (SP) e desliza de cargueiro até o México. O modelo básico lá é o 1.6 quatro portas, com ar-condicionado. Aqui, um Gol assim sai por R$ 37 mil. Lá, Dona Florinda e Professor Girafales podem pagar R$ 23 mil pelo mesmo “Nuevo Gol”. Se o Quico fizer birra e quiser um carro mais vistoso, dá até dá para pensar num Camaro. Lá custa R$ 65 mil. Aqui, R$ 190 mil. Com a diferença, dá para pagar um ano e quatro meses de diárias no Las Brisas Acapulco, um dos melhores hotéis do balneário mexicano. Agora, quando o carro é caro mesmo, a diferença fica épica. Sigam-me os bons: o conversível mais invocado da história deve chegar ao Brasil em 2013. É o Lamborghini Aventador LP 700-4 Roadster. Aqui, ele vai ter uma etiqueta de preço tão grande quanto o nome: R$ 3 milhões. E pelo menos três brasileiros já reservaram os deles. Mas então, Eike: se você deixar para gastar esses R$ 3 milhões nos Estados Unidos, pode comprar um helicóptero, um apartamento em Manhattan e mais o mesmo Lamborghini! Olha só. E um apartamento nos Jardins então, à venda por R$ 30 milhões? Cinco suítes, oito vagas na garagem... Uau. Mas com essa grana você compra um palácio na França (R$ 14,4 mi), uma vila em Portugal (R$ 8,6 mi), uma fazenda na Itália (R$ 3,4 mi), uma cobertura no litoral da Espanha (R$ 2,2 mi) e mais um chalé nos Alpes (R$ 1,4 mi). E ainda sobra um troco para o lanche. Se for um Big Mac, melhor ainda. Ele é mais barato em todos esses países. E é isso que os brasileiros vêm fazendo, por sinal: deixar para comprar em outros países. Você sabe: iPad, enxoval de bebê, maquiagem... Todo mundo volta carregado. O português das vendedoras de Miami já está melhor que o nosso. E tinha de estar mesmo: o gasto de brasileiros no exterior é o que mais cresce no país. O PIB travou, mas a quantidade de dólares que gastamos lá fora sobe que é uma beleza. Eram US$ 10,9 bilhões em 2009. Hoje são US$ 22 bi. Dá um crescimento de 19,5% ao ano. O do PIB, no mesmo período, subiu só 2,7% por ano. Ou seja: estamos consumindo o PIB dos outros, já que o nosso está caro demais. Por que está caro demais? Porque o Brasil ganhou na Mega-Sena. E está gastando tudo no bar.
Gasolina litro
Brasil R$ 2,75* 2013 R$ 11,25
2011 R$ 9,50
( U S $ 5 ,66)
2013 R$ 8,69
(US $ 4,37)
2013 R$ 4,04
EUA R$ 1,90
(U S$ 2, 03)
(US $ 4, 7 8 )
Eua
Brasil
Diesel
África Do Sul
litro
Brasil R$ 2,30* EUA R$ 2
Burocracia
*Cidade de São Paulo, março de 2013
Fonte: Fiesp/Banco Mundial
Transporte
Tempo para abrir uma empresa
Custo médio do transporte de soja, da plantação até o porto:
Brasil 119 dias China 38 dias
Energia elétrica Preço da eletricidade por kwh:
Brasil R$ 166
Fonte: Aneel
res i d enc i a l
R$ 0,27 Brasil nova tarifa
i n d ustr i a l
R$ 0,18 Brasil nova tarifa
R$ 0,23 eua
R$ 0,12 eua
Fonte: Agência Nacional do Petróleo (ANP)
O Brasil vai mal no índice Big Mac, com o 5º sanduíche mais caro do mundo. Há dez anos, estávamos em 28º lugar.
Juros
sobre empréstimos para capital de giro: Fonte: Fiesp
China 3,7%
Encargos trabalhistas em porcentagem sobre o salário
EUA R$ 36
Brasil 19%
57 51 42 30 25 22 16 8 8 5 3 Brasil
Itália
57,5%
51,8%
França
42,7%
China
30,8%
Japão
México
Holanda
25,7%
22,6%
16,2%
EUA
Reino Unido
Dinamarca
8,8%
8,2%
5,5%
Índia
3,6%
de dinheiro que montamos na redação. São as engrenagens da economia girando. Só isso já começa a explicar o boom dos imóveis. Agora o gerente da pizzaria, o dono da concessionária e a equipe da SUPER não dependiam mais do Baú da Felicidade para tentar o sonho da casa própria. Sentiram que dava e foram atrás de apartamento. Mas prédios novos não dão em árvore e, como dizia o mafioso e investidor do mercado imobiliário Tony Soprano, “Deus não está abrindo terrenos novos por aí”. Emilio Haddad, um engenheiro especialista em imóveis e professor da USP, concorda com Tony: “A oferta de terrenos urbanos é escassa no Brasil”. A escassez de oferta bateu de frente com a fome dos compradores. O preço dos imóveis, que estava mais ou menos estagnado havia dez anos, começou a subir. E o que aconteceu, então? Ficou mais fácil comprar apartamento! Não mais difícil, como a razão pura mandaria. É que a economia tem uma lógica peculiar: os bancos começam a financiar mais quando o mercado imobiliário esquenta. O banqueiro se sente protegido. Se o tomador do financiamento der calote, o banco vende o apartamento depois por um valor bem maior do que pagou. Imagine a situação: um cara financiou um apartamento de R$ 380 mil em São Paulo, em 2008, e perdeu o emprego. Não conseguiu mais pagar as parcelas do financiamento. O que acontece com o banco que pagou os R$ 380 mil pelo apartamento lá atrás? Ele vai e vende por R$ 1 milhão, ué. Lindo. É dinheiro certo, na alegria ou na tristeza. Nisso os gerentes começaram a receber qualquer um de braços abertos. Nem parecia banco... Era o milagre da multiplicação do crédito. Se em 2007 os financiamentos habitacionais representaram 1,5% do PIB, em 2012 já eram 5,5%. Há dez anos existiam R$ 4 bilhões voando pelo sistema financeiro na forma de crédito imobiliário. Hoje são R$ 100 bilhões. E se a demanda já estava quente, com o estouro da boiada do crédito ela pegou fogo. Foi a disparada do terraço gourmet. Rio, São Paulo, Brasília, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte... Em todas essas capitais o metro quadrado subiu mais que a inflação de 2008 para cá, que foi de 25%. No Rio, foram 200%, já que Deus não tem mais para onde aumentar o Leblon. De quebra, o preço do cimento, do aço e de tudo o mais que você precisa para levantar um prédio também subiu. Quem reformou a casa recentemente sentiu o peso da argamassa de ouro. A unidade monetária dos mestres de obra passou a ser o “dois pau”. “Quanto sai para arrumar essa parede aqui?”. “Dois pau”. “E o encanamento?”. “Ah, dois pau”. Como dissemos, esse fenômeno começa a explicar o
54
super / ABRIL 2013
Brasil x Europa
Diária de hotel em capitais do país e do velho mundo. Hotel Íbis em regiões centrais.
Amsterdã
Paris
SP
R$ 293
R$ 253
R$ 249
aumento dos imóveis. Mas não termina. Tem outra razão para os aumentos, menos glamourosa que a piscina de dinheiro das exportações: a nossa lerdeza.
O valor da labuta
O custo Brasil
Dá para entender nossa lentidão sem sair do mundo dos imóveis. O método mais comum de construção por aqui continua sendo basicamente o mesmo da Mesopotâmia de 8 mil a.C.: a alvenaria - levantar paredes tijolo por tijolo (ou bloco de concreto por bloco de concreto), unindo tudo com argamassa. Lá fora, usam mais material pré-fabricado: uma usina vai e monta placas de concreto (ou de cerâmica). As placas saem da usina, vão para a construção, e os operários montam o prédio como se fosse um Lego gigante. Vão encaixando tudo. “Se aqui um empreendimento com duas torres de 35 metros exige até 1.500 trabalhadores e leva 42 meses para ficar pronto, os americanos erguem uma obra dessa magnitude em 30 meses e com metade dos funcionários”, disse Alessandro Vendrossi, diretor da Brookfield, uma construtora, em uma entrevista recente à revista EXAME. Na China, usando ainda mais material pré-moldado e uma logística do demônio, já conseguem levantar prédios de 30 andares em 15 dias. Se fosse assim no Brasil, a oferta de prédios novos acompanharia qualquer demanda. E o preço dos imóveis não teria explodido. Pelo menos não tanto. Por que não tem nada assim no Brasil, então? Porque os empresários e o governo gastam pouco para melhorar seus meios de produção, não investem o que poderiam em máquinas mais modernas e novas fábricas (como usinas de placas de concreto). Na China, esse tipo de investimento corresponde a 48% do PIB. Metade do que o país produz tem em vista justamente produzir mais. Um terço do aço que a China fabricou na era dourada, boa parte usando o nosso minério como matéria-prima, foi para a construção de novas usinas de aço. Aqui, pegaram o dinheiro do minério e foram
Quanto é preciso trabalhar para comprar
UMA bud weiser brasil 16 MIN.
ALEMANHA 2,5 MIN.
EUA 3 MIN.
rj r$ 3,20 sp r$ 3 Brasília r$ 3 Santiago r$ 2,79 Belo Horizonte r$ 1,80 Recife r$ 1,60 Buenos Aires r$ 0,98 Cidade do México r$ 0,46 Caracas r$ 0,47
Brasil x América Latina Nosso metrô de ouro. Bilhetes unitários em horário regular.
RJ
Bruxelas
Luxemburgo
Madri
Viena
Belo Horizonte
Porto Alegre
Berlim
Curitiba
Lisboa
Florianópolis
Fortaleza
Dublin
R$ 239
R$ 239
R$ 188
R$ 188
R$ 175
R$ 169
R$ 169
R$ 159
R$ 155
R$ 145
R$ 145
R$ 139
R$ 97
O custo da diversão
Churrascarias, orgulho nacional.
São Paulo R$ 103
Rodízio na Fogo de Chão
A cerveja aumentou 13% em 2012 (o dobro da inflação). Parte da explicação está no aumento do preço de matériasprimas como arroz e lúpulo. E o aumento da tributação sobre a bebida, que elevou o preço final em 2,85%. Não culpe só o bar.
Boston R$ 59,80
São Paulo R$ 37
Ingresso Duro de Matar no imax
Boston R$ 33,30
Shows de cifras
Grandes festivais aqui e lá fora. Lollapalooza 2013
Santiago R$ 270
rock in rio 2001 R$ 91*
São Paulo R$ 330 R$ 220 2011 2012
Chicago R$ 192
2013 R$ 260
Rock in Rio Lisboa R$ 157
*Valor corrigido pela inflação acumulada
s u p e r / n ov e m b r O 2 0 1 2
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comprar Land Rovers e reformar coberturas na Lagoa. Investir em mais meios de produção é ótimo porque baixa os custos lá na frente. É um PIB que gera mais PIB. A argamassa não fica valendo ouro porque o país passa a produzir mais e melhor argamassa (ou placas pré-fabricadas). E aí não tem como surgir a cultura do “dois pau”. Os preços não partem para a irracionalidade. Não dá. O nome técnico que os economistas dão para esse tipo de gasto é, não por acaso, “investimento”. E a regra é óbvia: quanto menos desenvolvido for um país, mais ele precisa gastar em investimento. Os emergentes colocam em média 31% de seus PIBs nisso. A Mongólia, novo quintal de commodities da China, 51%. Nós, 19%. É o mesmo tanto que o Egito - um país que só gastou de verdade com investimento quando fez as pirâmides. Quem pode se dar ao luxo de gastar pouco com investimento são nações que já se desenvolveram há tempos: Suíça, Bélgica, Finlândia... Esses também estão no clube dos 19%, mas já são bem industrializados. Ainda não é o nosso caso. E, se continuarmos investindo pouco, nunca será. A falta de investimento é a explicação por trás do “custo Brasil” - o fato de que produzir aqui é mais caro e penoso do que em países desenvolvidos. Ferrovia, por exemplo. Ferrovia é um caso clássico de investimento: custa caro, mas dá retorno de longo prazo, tornando fretes mais baratos. O Brasil tem 29,8 mil quilômetros de linhas férreas. Dez mil foram construídos por dom Pedro 2º. E hoje nossas linhas não alcançam os lugares que mais precisam delas, como as regiões produtoras de soja no Mato Grosso. Nisso a soja percorre boa parte do caminho até os portos de caminhão mesmo. Resultado: enquanto o custo de transporte por tonelada de soja é de R$ 35 nos EUA, aqui é de R$ 160. Já a China, sempre ela, adicionou mais de meio Brasil em trilhos só entre 2007 e 2011: 19 mil quilômetros. E hoje eles têm 98 mil. Ficam atrás só dos EUA e da Rússia, outros dois países continentais, que também precisam de ferrovias para respirar (são 226 mil nos EUA e 128 mil na Rússia). Lembra de algum outro país continental no mundo? Canadá: 46 mil. Austrália: 38 mil. E a Argentina tem 36 mil, 7 mil a mais que o Brasil. Pois é. Sem uma malha ferroviária decente, o custo do transporte vai lá para cima. E acaba embutido nos preços de tudo. Levar um carro da fábrica em São Paulo para uma concessionária em Salvador (a 1.900 km) custa quatro vezes mais do que o frete entre Xangai e Pequim (1.200 km). Na era dourada dos anos 00, a China levantava duas termelétricas novas por semana. O Brasil, abençoado por Deus e hidrelétrico por natureza, não se preo-
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super / ABRIL 2013
Combo do absurdo 1
Carros e imóveis aqui compram mundos lá fora.
= 1 Lamborghini Aventador LP 700-4 Roadster
Preço no Brasil R$ 3 milhões
Nos EUA, com R$ 3 milhões, você compra:
+ 1 Helicóptero Robinson R-44 R$ 920 mil
cupou tanto com a parte da energia. E agora estamos pagando a conta via custo Brasil. Produzir uma tonelada de cimento, por exemplo, custa por volta de R$ 30 em eletricidade. Parece pouco, mas o consumo de cimento em 2011 foi de 65 milhões de toneladas. Dá R$ 1,9 bilhão de conta de luz. Nos EUA, a energia industrial é 55% mais barata do que a nossa era até 2012. Ou seja: produzir a mesma quantidade de cimento lá estava saindo por R$ 1 bilhão a menos só na eletricidade. Metade do valor. E tome argamassa de ouro... Por que tão caro? Porque as companhias de energia tinham contratos de pai para filho - às vezes com reajustes anuais pelo IGPM, o índice de inflação invariavelmente mais gordo que o IPCA. Ser acionista de uma companhia de energia, até o ano passado, era dormir em berço esplêndido: muito lucro e pouca dor de cabeça com esse negócio de “investimento”. Tanto havia gordura para queimar aí que o governo renegociou seus contratos com as companhias de energia. A tarifa residencial caiu 18% e a industrial, 32%, segundo a Aneel. E o mundo não acabou, nem o Brasil apagou. Mas nossa indústria ainda paga 33% a mais pela energia do que a dos EUA. Ainda temos muito a investir aí. Só que fica difícil investir quando a gente se depara com outro insumo que custa muito dinheiro: o próprio dinheiro. Pois é. O empréstimo para capital de giro (que os empresários usam para tocar despesas do dia a dia, como folha de pagamento) sai por uma taxa média de 19% ao ano. No Chile, são 5,8%. Na China, 3,7%. Na Alemanha, 2,5%. Nos EUA, 1,1%. Dá para ir até o final dessa matéria só listando os países em que o dinheiro é mais barato. Cortesia do nosso spread bancário. Spread é o seguinte: banco também toma dinheiro emprestado. Às vezes, de você mesmo. Quando você põe dinheiro em um CDB, por exemplo, está emprestando para ele. A diferença entre os juros que o banco paga para você e
+ 1 Apto de 67 m² em nova York
R$ 1,2 milhão
O valor da labuta Quanto é preciso trabalhar para comprar
UM honda fit
brasil 2 anos e 7 meses
EUA 4 meses e 3 semanas
ALEMANHA 4 meses e 3 semanas
1 Lamborghini Aventador LP 700-4 Roadster! R$ 890 mil
Os cinco imóveis mais caros à venda no Brasil ficam no Rio e em São Paulo e custam a partir de R$ 27 milhões.
Combo do absurdo 2
Pelo preço de uma supercobertura aqui, dá para comprar vários imóveis de alto padrão na Europa. .
=
+
+
+ e ainda sobr am r$ 100 mil!!!
Cobertura na Barra da Tijuca Varanda 360º, 4 suítes, piscina. Condomínio com campo de golfe.
Mansão do rapper 50 Cent 4,6 mil m², 52 cômodos, piscinas, quadra de squash e pista de dança.
Castelo em Bordeaux 8 quartos, 600 m² de área útil. 4 ha de vinhedos. Puro luxo.
Apartamento em PariS 115 m², terraço, 5 quartos, próximo ao parque Bois de Boulogne.
Helicóptero Eurocopter 315B Lama Usado, ideal para altitudes elevadas.
Rio de Janeiro R$ 33 milhões
EUA R$ 19,6 milhões
FRANÇA R$ 8,9 milhões
FRANÇA R$ 3,2 milhões
ÁUSTRIA R$ 1,2 milhão
É bolha?
Especialistas divergem se há ou não uma bolha de preços. Quem diz que não explica que o volume do crédito imobiliário no PIB, de 5%, ainda é baixo. Na crise de 2008, os EUA tinham 65%. E que os juros ainda estão altos se comparados a outros países. Já quem acredita na bolha diz que o juro está baixo, sim, e que financiar ficou fácil demais. Tanto que o crescimento do crédito começou a cair em 2011, o que seria um sinal de crise. Ainda que seja uma bolha, os efeitos dela não seriam tão devastadores. Mas a história ensina que certezas sobre bolhas só surgem quando ela estoura.
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O manicômio tributário
Em 1821, dom Pedro, recém-nomeado príncipe regente, viu-se em uma enrascada. O Brasil estava quebrado. Para tentar reverter o quadro, uma de suas primeiras medidas foi abolir o imposto do sal e da navegação de cabotagem, que encareciam a produção de charque, um dos principais itens da economia de então. É, o excesso de impostos já era um entrave. Brasileiro, você sabe, paga muito imposto. Somos só o 75º país em PIB por habitante. Mas temos a 14ª carga tributária mais alta: 36,2% em relação ao PIB. Mas o buraco é mais embaixo. Se fosse uma pessoa, nossa carga tributária seria aquele namorado problemático, cheio de picuinhas e histórias mal contadas. Imposto é uma coisa tão complicada no Brasil que as empresas gastam 108 dias por ano só para preparar, registrar e pagar tributos. Estamos em 130º no ranking de burocracia do Banco Mundial (que é de trás para a frente: quanto mais embaixo na lista, mais burocrático é o país). Se sua Praga fosse aqui, Franz Kafka teria muita inspiração para escrever a respeito (a República Tcheca manda um salve do 65º lugar, aliás). A média nos países desenvolvidos é de uma semana para tratar da papelada. “Já ouvi donos de multinacionais dizerem que as equipes da área de tributação são dez vezes maiores aqui que no exterior”, diz Fernando Pimentel, diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil. “É um manicômio tributário”. As empresas gastam um terço do ano para lidar com impostos. São 88 tributos federais, estaduais e municipais, que vão da contribuição para a aposentadoria à taxa de lixo. Além disso, as regras mudam constantemente: 46 normas tributárias sâo editadas por dia. A cada 26 minutos, a Receita Federal cria uma nova regra. Olhe seu sapato. Se for Made in China, ele custava cerca de US$ 5 quando desembarcou no Porto de Santos. A partir daí, o preço sobe. Primeiro, é o Imposto
58
super / ABRIL 2013
de Importação, um tributo federal que, no sapato, é de 35%. Depois, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é recolhido pelos Estados (e, em cada um deles, há uma tarifa diferente). Os famosos PIS e Cofins também aparecem nessa operação. O Programa de Integração Social (PIS) foi criado para alimentar um fundo de pagamento de seguro-desemprego. Já a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) serve para investimentos em saúde, previdência e assistência social. No caso do sapato, eles somam 9,1%. Também há uma taxa de Cofins exclusiva para importados e, no exemplo chinês, uma sobretaxa de US$ 13,85 por par desembarcado no Brasil. É uma medida antidumping do governo. Ou seja, ela serve para evitar que o preço baixíssimo do calçado chinês prejudique a indústria calçadista brasileira - e também dá uma folga para que essa indústria não seja obrigada a baixar suas margens de lucro por causa da concorrência. Ok. Agora, se o seu sapato foi fabricado aqui, a história muda. São 12% de ICMS e mais 9,25% de PIS e Cofins. Mais outros 3,4% de Imposto de Renda e de Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL), um imposto que também foi criado para ser revertido em saúde, previdência e assistência social. Depois são 0,04% de IOF, o Imposto Sobre Operações Financeiras. E ainda tem os gastos com os funcionários: Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que é aquela poupança que o governo faz em seu nome, caso você seja demitido sem justa causa. E a taxa do INSS, o Instituto Nacional da Seguridade Social, que um dia pagará sua minguada aposentadoria. Somados, dão 6,5%. Assim, o calçado sai da linha de produção a R$ 59, segundo a gerente de custos de uma fábrica de grande porte que preferiu não ser citada. Cansou? Pois isso é só na indústria. Sobre o varejo, incidem ICMS, PIS e Cofins, além de um outro, o ISS, sobre serviços, cobrado em cada município (varia entre 2% e 5%). Calma que piora. Se você simplesmente somar os percentuais de impostos, a conta não fecha. É que há tributos que incidem uns sobre os outros. E vão depender se a empresa paga imposto sobre o lucro presumido ou real, por exemplo. E aí os preços ficam como ficam. No ovo de Páscoa, 38,5% do valor cobrado são impostos. E, no bacalhau importado, gordurosos 43,7%. Por isso que cada vez mais gente vai às compras no exterior: um Samsung Galaxy SIII, em Miami, sai por R$ 650. Em São Paulo, o celular não sai por menos de R$ 2.048. Pelo menos em parte, dá para culpar os impostos: lá são só 7%, enquanto aqui são quase 40%. Para desatar o nó, economistas, políticos e empresários clamam pela reforma tributária. A maioria dos especialistas ouvidos pela SUPER defende que o imposto migre do consumo para o patrimônio, ou seja, que pese sobre o lucro e sobre a renda e não sobre trabalho, produção e consumo. Isso faz muita diferença. “Hoje, a maior parte do que pagamos de imposto é sobre o fa-
O valor da labuta Quanto é preciso trabalhar para comprar
UM iphone 4s brasil 160 HORAS
ALEMANHA 55,5 HORAS
EUA 27,5 HORAS
Rankng do Banco UBS
o que ele cobra quando empresta (na forma de crédito para capital de giro, por exemplo) é o spread. E o nosso spread é o maior do mundo. Vício de um sistema bancário acostumado a taxas pornográficas de juros. Seu cartão de crédito está de prova. E os preços altos também: a Fiesp diz que pelo menos 7,5% do preço final de qualquer produto é culpa dos juros que os bancos cobram. E que a indústria gasta R$ 156 bilhões anuais só para pagar esses juros. É o mesmo tanto que o BNDES empresta por ano para fomentar o “desenvolvimento econômico e social” que faz parte de sua sigla. Aí uma coisa acaba anulando a outra. Nossos juros altos, nossa energia cara e nossa logística do século 19 são grandes freios para o PIB. E aceleradores dos preços altos. Mas ainda tem o turbo dos preços: nossos amigos impostos, que estão sempre com a gente.
Conforto do lar
Quanto custam eletrônicos e utilidades domésticas. Fonte: Banco UBS
Brasil R$ 10,7 mil
Alemanha R$ 9,1 mil
Japão R$ 9,5 mil
EUA R$ 7,7 mil
Uma camisa na Zara custa R$ 99 em São Paulo e R$ 67 em Madri.
Pacote com geladeira, TV, iPhone, câmera, aspirador de pó, frigideira, secador de cabelo, PC e laptop.
Brasil x EUA
Carrinho de bebê
EUA: R$ 530,44 brasil: R$ 999
Produtos queridinhos em São Paulo e em Miami.
Ray-Ban (modelo wayfarer 2140)
EUA: R$ 294,57 brasil: R$ 499
Camiseta Hollister EUA: R$ 38,30 brasil: R$ 79
iPad 32GB com tela de retina
EUA: R$ 1176,79 brasil: R$ 1999
CK One (50 ml)
EUA: R$ 82,50 brasil: R$ 165
Calça Diesel Feminina modelo Livier EUA: R$ 370,69 brasil: R$ 490
s u p e r / n ov e m b r O 2 0 1 2
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Gastos de brasileiros no exterior
dade do mercado em um ambiente competitivo como o brasileiro, onde há mais de mil modelos à venda, entre nacionais Hoje gastamos e importados. duas vezes De fato. Talvez o problema esteja mesmais do que há mo na “realidade do mercado”. Nessa quatro anos. realidade, pagar R$ 100 mil em carFonte: Banco Central ro passou a ser uma despesa aceitável, do Brasil mesmo que isso comprometa uma fatia gorda do salário. A verdade é que preços altos têm uma força magnética no País. 2012 Gostamos de gastar, de ostentar. É staR$ 22,2 bilhões tus. A ponto de lojas de preços acessíveis na Europa, como a espanhola Zara e a inglesa Topshop, virarem grife aqui. A regra no Brasil é consumir muito e poupar 2011 pouco. Segundo o instituto de pesquisas R$ 21,2 Nielsen, os brasileiros guardam 27% bilhões do que ganham - contra uma média de 39% no resto da América Latina. No ano passado, consumimos quase 10% a mais 2010 que em 2011, em especial nas concesNo México, o Honda City é um carro imR$ 16,4 bilhões portado. Não do Japão, mas de Sumaré, no sionárias (30,3%) e nos supermercados interior de São Paulo. O City sai da fábrica (28,8%). Isso não é ruim na essência - no da Honda, na região de Campinas, emJapão, gastam pouco e poupam muito, e a economia deles está estagnada. Mas se barca para o México, e é vendido lá por R$ 2009 a produção não acompanha o consumo, 33.500. Aqui, o mesmo modelo, da mesma R$ 10,9 não tem jeito: os preços sobem. Outro bilhões fábrica, custa R$ 53.600. problema é que nos endividamos muito. O custo Brasil não explica a diferença, Uma pesquisa recente do Ibope diz que já que o carro é feito aqui, sob o corredor 41% dos brasileiros têm dívidas. Entre polonês de penúria que é produzir aqui. Tem os impostos. No Brasil, 36% do preos alemães, por exemplo, são 10% (e isso ço final de um carro é imposto. Significa é um recorde histórico lá). “Nunca tivemos tanto crédito e, por que, despido de taxas, o City sairia por R$ falta de educação financeira, o pensa34 mil. Ok. Mas o México não é o Jardim do Éden tributário. O imposto lá equivale a 18% do preço final mento é: ‘Estão me dando dinheiro, vou gastar’”, diz o econode um carro. Então o preço mexicano do City sem os tributos mista Samy Dana, da Fundação Getúlio Vargas. Para Gustavo de lá seria de R$ 27.500. Ou seja: mesmo tirando os impostos Loyola, ex-presidente do Banco Central, “as pessoas não estão da jogada, o City brasileiro ainda custa R$ 6.500 a mais que o acostumadas a lidar com isso. Doce é bom, mas demais lamseu irmão mexicano. buza”. Temos uma boa desculpa, até. Não faz tanto tempo, em Com o Gol acontece a mesma coisa. No México, ele é um car- 1993, a inflação medida pelo governo alcançou estratosféricos ro importado do Brasil, com a diferença que o modelo básico lá 2.477%. Todo dia 5, os brasileiros corriam ao supermercado é bem superior ao nosso, que é 1.0, duas portas e sem ar. Mas para abastecer a despensa de arroz e feijão e o freezer de carne. vamos comparar só os modelos com a “configuração mexica- Porque, no dia 6, os preços já teriam sido remarcados. Como na”. Descontando os impostos de cada lado, como fizemos com pensar em poupar em um cenário desses? O negócio era gastar, o City, o Gol brasileiro vendido no México ainda é R$ 4.500 mais antes que o dinheiro - ou seus zeros à direita - desaparecesse. barato que o nosso. Conclusão: a margem de lucro aqui é maior A verdade é que temos muito a aprender sobre como lidar com do que lá. E em tese deveria ser menor: o Brasil é o quarto maior dinheiro. “Agora chega”, diz a economista Virene Roxo Matesco, mercado consumidor de carros no mundo, atrás apenas de Chi- da FGV. “A inflação foi debelada em 1994. Já temos uma geração na, EUA e Japão. É mais fácil ganhar na escala (vendendo mais a de consumidores que não sabe o que é isso”, diz. “As pessoas não um preço menor) do que no México. Nosso mercado dá quatro têm ideia do custo-benefício de poupar”. Pois é. Uma hora a genvezes o deles. Mas não. Aqui é mais caro, mesmo tirando os im- te aprende. Mas, se o governo e as empresas não colaborarem, postos e o custo Brasil da jogada. investindo mais em produção e cortando tributos excessivos, não A Associação Nacional dos Produtores de Veículos (Anfavea) vai adiantar grande coisa. E vamos continuar enxergando os prese defende. Diz que não é possível falar em preços fora da reali- ços justos como uma atração turística do exterior. turamento [tudo o que entra em caixa], não sobre o lucro”, diz o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), João Eloi Olenike. Ou seja: os comerciantes têm de pagar impostos gordos mesmo quando têm prejuízo. Isso estimula bastante a livre-iniciativa – só que ao contrário. Enquanto a reforma não sai, alguns setores da economia fazem acordos pontuais. No ano passado, por exemplo, a indústria automobilística foi beneficiada pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Resultado: a venda de veículos subiu 4,6% em relação a 2011 - e o IPI virou garotopropaganda dos comerciais de carro. Mas não. Os impostos não explicam tudo sozinhos. Nem o custo Brasil. Outro fator também entra na conta: o “lucro Brasil”.
O lucro Brasil
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super / ABRIL 2013