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lia lubambo

Especial | pol铆tica

governador eduardo campos: seu diagn贸stico da economia brasileira se parece com o do meio empresarial

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lia lubambo

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governador eduardo campos: seu diagn贸stico da economia brasileira se parece com o do meio empresarial

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sERá que ele e?

Para os empresários que têm encontrado o governador Eduardo Campos, ele é candidatíssimo à Presidência — e possui ideias que, à primeira vista, apontam uma nova visão para a economia Daniel Barros, de recife, e Tatiana Bautzer, de São Paulo

o

Aécio diz que é candidato e ninguém acredita. Eu falo que não sou candidato e

também ninguém acredita.” A frase acima foi dita, com humor, pelo governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB, em pelos menos dois encontros com empresários nos últimos meses. Campos viaja, comporta-se, fala e discursa como um presidenciável. Embora, até agora, tenha negado a intenção de concorrer ao Planalto em 2014, tem corrido o país para, como ele gosta de dizer, “debater os grandes temas nacionais”. Há algum tempo, sua opinião sobre os destinos do Brasil poderia passar despercebida. Desde que despontou como um presidenciável de peso, ninguém pode mais ignorar o que tem a dizer. Ele é a grande

novidade da cena política brasileira. Com uma oposição enfraquecida, a avaliação do próprio governo é que Campos talvez seja seu maior adversário no ano que vem — hoje, o mineiro Aécio Neves é o principal desafiante da presidente Dilma Rousseff. Esse status de estrela ascendente foi rapidamente captado pelo meio empresarial. Nas últimas duas semanas, EXAME falou com cerca de 50 empresários, executivos e economistas de primeiro time que já encontraram ou gostariam de conhecer o governador pernambucano. A conclusão: Campos entrou na briga de verdade. Um dos melhores termômetros para medir o interesse que tem despertado são os encontros que já ocorreram. Uma das pri-

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Especial | política

O périplo do governador

2012

Nos últimos meses, Eduardo Campos encontrou empresários e executivos de vários setores para falar de seu desempenho à frente de Pernambuco e de temas ligados à conjuntura nacional, como inflação, ambiente de negócios e concessões à iniciativa privada

Jantar com Marcelo Odebrecht, presidente do grupo Odebrecht, na casa do empresário, em São Paulo

Encontro com André Esteves, presidente do BTG Pactual, e almoço com Rubens Ometto, controlador da Cosan, em Recife

Encontro com Marcial Portela, presidente do banco Santander, em São Paulo

Leticia Moreira/Folhapress

Fotos: GERMANO LüDERS

Encontro com Lázaro Brandão, presidente do conselho do Bradesco, na sede do banco, em Osasco, São Paulo

meiras conversas que merecem registro aconteceu em um jantar na casa de Marcelo Odebrecht, presidente do conglomerado Odebrecht, em São Paulo, no primeiro semestre do ano passado. Campos era, então, mais conhecido pela adoção, na gestão pública, de métodos baseados na meritocracia, mas já era tido como força ascendente. Depois das eleições para prefeito em outubro, o governador ganhou uma nova estatura. Seu partido, o PSB, passou de 310 para 443 cidades e despontou como o vencedor de um maior número de capitais: Recife, Fortaleza,

Jantar em São Paulo com Flávio Rocha, acionista da varejista Riachuelo, e outros 50 executivos, como José Olympio Pereira, presidente do Credit Suisse, e Ricardo Steinbruch, presidente da Vicunha Têxtil

Jantar numa churrascaria de Santos, depois de um evento do PSB, com executivos dos setores portuário, de transportes e hoteleiro

Almoço com Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, acionistas do Itaú Unibanco, na sede do banco, em São Paulo

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2013

Encontro com Jorge Gerdau, presidente do conselho da Gerdau, em Porto Alegre

Belo Horizonte, Cuiabá e Porto Velho. Algumas vitórias vieram de embates diretos com o PT de Lula, o que pode ter estimulado as ambições de Campos. Foi a partir daí que ele intensificou seus contatos no meio empresarial. Ainda em 2012, as portas se abriram no Itaú Unibanco, onde almoçou com Roberto Setubal, presidente executivo, e Pedro Moreira Salles, número 1 no conselho de administração. Foi recebido também por Lázaro Brandão, presidente do conselho de administração do Bradesco. Nesses primeiros encontros, Campos não fazia críticas diretas

ao governo Dilma, mas enfatizava o espaço para o país melhorar. O que era sutil e ocasional em 2012 ganhou um ritmo mais forte neste ano. Em fevereiro, Campos encontrou André Esteves, maior sócio do banco BTG Pactual. Em março, almoçou com Rubens Ometto, acionista controlador da empresa de energia Cosan, em Recife. A conversa com Ometto, na sede provisória do governo pernambucano, durou cerca de 3 horas e ficou centrada nos problemas do setor sucroalcooleiro. Ainda em março, Campos almoçou em São Paulo com Marcial Portela, pre-


DOUGLAS MAGNO/Folhapress

DILMA e aécio: a presidente lidera as intenções de voto para as eleições de 2014

nas conversas, eduardo campos tem batido na mesma tecla: a necessidade de aumentar os investimentos sidente da operação brasileira do Santander, e jantou na casa de Flávio Rocha, acionista e vice-presidente da rede varejista Riachuelo, com outros 50 empresários e executivos de diferentes setores. Do segmento financeiro estavam José Olympio Pereira, presidente do banco Credit Suisse, e o investidor Azuri Safra. Da indústria estava Ricardo Steinbruch, presidente da Vicunha Têxtil. O jantar, inicialmente previsto para as 22 horas, só foi servido às 23h30, depois de um entusiasmado discurso de Campos. De acordo com alguns dos presentes, o governador elogiou muito

os avanços sociais e a política econômica da administração Lula, mas deu a entender que não vê, no governo de sua ainda aliada Dilma, a continuidade dessa evolução. Lembrou que, já no terceiro ano do mandato, não houve nenhuma discussão sobre reformas importantes para melhorar o ambiente de negócios, como a tributária. “Acima de tudo, Campos mostrou que não tem preconceito em relação aos investimentos privados. Isso é um grande diferencial”, diz Walter Torre, presidente da incorporadora paulista WTorre e um dos presentes ao jantar.

Em abril, o clima de animação esquentou nos encontros do governador. No começo do mês, ele participou de um jantar na churrascaria Tertúlia, em Santos, com representantes do setor portuário. “O tom foi claramente de campanha”, diz um dos presentes. Menos de uma semana depois, Campos seria recebido em Porto Alegre por seus correligionários aos gritos de: “Um passo à frente, Eduardo presidente”. Na capital gaúcha, o governador reuniu 330 empresários e políticos num almoço na sede da Federasul, entidade de associações comerciais. Entre os presentes estava Eduardo Logemann, do grupo SLC, um dos maiores produtores brasileiros de soja, milho e algodão. Antes de partir, ainda encontraria Jorge Gerdau, presidente do conselho de administração do grupo Gerdau e da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, criada por Dilma para melhorar a gestão pública. “Muitos homens de negócios estão falando com Eduardo Campos e muitos outros querem conhecê-lo. Só está contente com o governo quem recebeu empréstimos do BNDES ou entrou para alguma lista de desoneração de impostos”, diz Maílson da Nóbrega, sócio da consultoria Tendências. um diagnóstico comum

Mas o que, afinal, Campos tem dito ao meio empresarial? Ele tem batido numa tecla notoriamente sensível: a necessidade de estimular os investimentos privados. Como ficou claro nas duas entrevistas que concedeu a EXAME­ao longo do mês de abril, Campos defende um governo menos interventor na economia e mais severo na luta contra a inflação (veja a íntegra na pág. 112). De certo modo, faz um diagnóstico semelhante ao do setor produtivo. Por isso, sua popularidade no meio empresarial sobe à medida que cai o otimismo em relação à gestão da economia brasileira. De acordo com uma pesquisa feita em abril a pedido de EXAME pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) com 95 presidentes de grandes empresas, 73% acreditam que 1 de maio de 2013 | 109


Especial | política Copo cheio ou copo vazio? Eduardo Campos está no meio do segundo mandato como governador de Pernambuco. Nos últimos seis anos, o estado avançou Pernambuco avançou em...

...e ficou devendo em... Segurança pública Número de homicídios (óbitos por 1 000 habitantes)

SAÚDE BÁSICA Mortalidade infantil (mortes para cada 1 000 nascidos) 30,1

2006

17

2010

Resultado O estado obteve a terceira maior queda do país: era a sexta e passou para a 16ª pior taxa de mortalidade

o cenário macroeconômico é um entrave ao avanço dos negócios. Há oito meses, apenas 33% tinham citado a conjuntura como um problema. Alguma dúvida sobre por que a taxa de investimento no Brasil continua baixa? Um cenário econômico mais adverso decorre, em larga medida, das ações que o Brasil vem tomando nos últimos tempos. Depois da crise de 2008, o capitalismo virou alvo de ataques em todo o mundo. Acusado de instável, injusto, ineficiente, passou a ser criticado não só pelos erros que culminaram na quebra do banco americano Lehman Brothers, mas também por suas qualidades. No Brasil, as administrações petistas se sentiram mais à vontade para defender a intervenção estatal. Isso ficou evidente nas mudanças feitas no setor elétrico e na falta de independência do Banco Central, o que acabou no recente estouro da meta de inflação. A última novidade na lista de intervenções é a discussão sobre a taxa de retorno das concessões públicas. Toda a história do capitalismo está baseada na ideia do lucro. É isso que leva as pessoas a arriscar e empreender. No Brasil de hoje, isso parece estar sob questionamento. “Não é o governo que deve definir a taxa de retorno das concessionárias de serviços públicos. É a competição nos leilões”, diz Campos. Para empresários que estiveram com 110 | www.exame.com

52,6

2006

39,5

2010

Resultado Deixou de ser o segundo estado mais violento e foi para a oitava posição no ranking nacional de homicídios

Ensino médio Ideb de alunos do 1º ano ao 3º ano (notas e posição no ranking nacional) 2,7

18o 2005

3,1

17o 2011

Resultado Pernambuco avançou menos do que outros nove estados. O crescimento de 2009 a 2011 foi quase nulo

Sala de aula em pernambuco: apesar dos discursos do governador, os


em algumas áreas e em outras, nem tanto

Taxa de analfabetismo Percentual de habitantes que não sabem ler nem escrever 18,5%

17,5%

2006

2011

Resultado A redução foi menor do que em 20 outros estados. Pernambuco continua entre os dez que mais têm analfabetos

Fontes: Ministério da Saúde e Ministério da Educação

o governador, ele exprime tão bem a visão do setor produtivo que alguns duvidam de sua sinceridade. “Depois de ouvi-lo, fiquei com a impressão de que estava jogando para a plateia”, diz um executivo do setor financeiro. Para fazer uma distinção entre o discurso e a prática, muitos têm buscado informações sobre os seis anos de Campos à frente do governo de Pernambuco. Seu cartão de visita é o complexo portuário e industrial de Sua­pe, que reúne mais de 100 empresas a 60 quilômetros de Recife. Os três maiores investimentos ali foram feitos pelo governo federal: a Refinaria Abreu e Lima, a Petroquímica Suape e o Estaleiro Atlântico Sul. A própria Dilma, em vi-

Companhia Siderúrgica Suape, um investimento de 1,6 bilhão de reais. O governo Campos também é destaque por ter melhorado a gestão esta­dual já a partir do início do primeiro mandato, em 2006. Com a ajuda do Movimento Brasil Competitivo, consultoria fundada por Gerdau em prol da administração pública, estabeleceu objetivos e um método para acompanhar e avaliar os projetos. Em seis anos, conseguiu diminuir em 34% os índices de homicídio no estado. Sua maior fragilidade são os resultados na área da educação. Ainda em 2012, parte dos professores tinha o piso salarial mais baixo do país. “As notas do índice do ensino médio não mudaram de 2009 a 2011”, diz Pierre

os três maiores investimentos no complexo portuário e industrial de suape foram feitos pelo governo federal

indicadores quase não avançaram

sita recente ao estado, fez questão de enfatizar que o avanço de Pernambuco deve-se, em larga medida, a investimentos federais. “Embora Pernambuco tenha contado com o apoio de Brasília, é inegável que Campos soube criar projetos viáveis para os investimentos”, diz João Carlos Paes Mendonça, presidente do grupo JCPM, com sede em Recife, o maior dono de shopping centers do Nordeste. Executivos que participaram de negociações para a instalação de fábricas em Suape e outras regiões de Pernambuco costumam elogiar a agilidade do estado. “Não parece uma conversa entre empresa e governo. Parece que estamos tratando com outra companhia”, diz Carlos André da Costa, diretor financeiro da fabricante de pás para geradores eólicos LM Wind Power do Brasil, que se instalou em Suape recentemente. Na lista das maiores conquistas de Campos estão a montadora Fiat, parte de um polo industrial de 7 bilhões de reais na cidade de Goiana, e a

Lucena, professor de finanças da Universidade Federal de Pernambuco. Mesmo com o seu currículo e a boa impressão no empresariado, Campos tem hoje apenas 6% das intenções de voto para presidente, atrás do senador Aécio Neves, do PSDB, com 10%, Marina Silva, que tenta fundar a Rede Sustentabilidade, com 16%, e Dilma, com 58%. Até no meio empresarial, Campos perde feio para Aécio: na pesquisa da ABRH com presidentes de empresas, ele aparece como o preferido de 10%, enquanto o senador mineiro conta com 70%. “Campos ainda tem um longo caminho para se firmar como o candidato preferido do capital”, diz Betania Tanure, consultora especializada em gestão e uma das responsáveis pela pesquisa da ABRH. Oficialmente, Campos ainda não é candidato, e isso pode explicar em parte seu desempenho. Mas, para os empresários que têm falado com o governador, a cada dia que passa ele está mais perto da disputa pelo Planalto. n 1 de maio de 2013 | 111


especial | política

A economia na visao de campos Em entrevista exclusiva, o governador Eduardo Campos diz que o Brasil precisa abandonar as medidas de curto prazo e ter um planejamento estratégico para atingir todo o seu potencial de crescimento

F

eduardo salgado, de Porto alegre, e daniel barros, de recife

ormado em economia pela universidade Federal de Pernambuco, o governador Eduardo Campos tem fa-

miliaridade com os termos comuns ao mundo dos negócios. Isso ficou claro nas duas conversas que teve com EXAME ao longo do mês de abril, a primeira em Porto Alegre, onde participou de um encontro empresarial, e a segunda em Recife. Campos discorreu sobre temas como ciclos tecnológicos e crescimento potencial do país, além de analisar algumas das principais fontes de preocupação do empresariado brasileiro: a falta de consistência da política macroeconômica, as condições impostas pelo governo nas concessões, o papel das agências reguladoras e a política de financiamento do BNDES. A mensagem do governador é clara: o Brasil avançou nas últimas décadas, mas agora está perdendo oportunidades. É a forma que encontrou para não atacar o ex-presidente Lula, de quem foi ministro de Ciência e Tecnologia, e, ao mesmo tempo, diferenciar-se da presidente Dilma Rousseff e oferecer um discurso alternativo. Campos quer ser uma espécie de “caminho do meio” entre tucanos e petistas, que dominam a cena desde 1994. “Precisamos voltar a crescer em outro patamar”, disse ele em seu gabinete, onde, nas paredes forradas de obras de arte, há um retrato do avô Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco, mas nenhuma foto de Dilma.

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porto de suape, no sul de

CONJUNTURA

O governo precisa ter uma estratégia de longo prazo

“Estamos num momento de transformações. Os grandes blocos econômicos estão buscando caminhos para sair dessa brutal crise que o mundo vive desde 2008, e isso exige de nós um planejamento estratégico. O Brasil fez movimentos táticos importantes num primeiro momento da crise, como intensificar o consumo das famílias e ampliar as possibilidades de inves­ timento público. Esses movimentos de viés keynesiano surtiram efeito. Tanto é que chegamos a um crescimento de 7,5% em 2010. Dali em diante, vimos


Leo Caldas

recife: “O Brasil tem potencial para crescer mais de 4% ao ano sem gerar grandes distorções”, diz Campos

as consequências desse movimento na área fiscal e nas taxas de inflação. Então, fizemos movimentos táticos sequenciados que passaram a impressão clara ao mercado e à sociedade de que temos um conjunto de medidas e não uma estratégia para remeter o Brasil a outro patamar. Estamos tomando medidas que podem amenizar a crise no seu dia a dia e no curto prazo, mas que começam a gerar uma grande an­ siedade em relação a aonde pode nos levar, do ponto de vista fiscal e de competitividade de nossas indústrias. Esse é o debate que precisamos fazer com maior intensidade. O Brasil tem de voltar a crescer em outro patamar. Como fazer para ampliar o investimento?

O que nós queremos ser no futuro? Qual é o papel de cada um? O primeiro passo é pactuar uma estratégia. É dizer: ‘Estamos indo nesta direção’. Se isso não é feito, mesmo quem quer ajudar não sabe como”.

CRESCIMENTO

O país tem condições de crescer mais de 4% de forma sustentada

“O crescimento econômico é fundamental. Num país marcado pelas desigualdades e pela exclusão, não podemos transformar a realidade sem crescimento. Mas que qualidade esse crescimento deve ter? Que compromisso

esse crescimento deve ter com a superação de desigualdades sociais e com os desníveis no desenvolvimento regional? Essa é uma preocupação clara que tenho. Temos o potencial de crescer acima de 4% sem gerar grandes distorções na economia. Para isso, é preciso mostrar que existe uma estratégia de longo prazo. Mostrar que existem regras claras e seguras para os investidores, tanto daqui como de fora. Formar mecanismos de financiamento de longo prazo que não sejam só dependentes do governo e dos bancos governamentais. Construir uma estratégia de inovação para os principais setores que entendemos ser estratégicos para o nosso país do futuro.” 1 de maio de 2013 | 113


especial | política INDÚSTRIA

É preciso investir em tecnologia nas áreas em que temos mais vantagens

“Vamos ser competitivos em todas as áreas da indústria? Precisamos ser competitivos em áreas fundamentais. Se você tem 100 e divide entre 1 000, não vai longe. É necessário fazer um esforço para dividir os 100 entre 50 e aumentar as chances de sucesso. Vamos abandonar completamente a possibilidade de nos posicionar no setor de fármacos, que vive a grande transformação dos remédios químicos para os biofármacos? Vamos pensar a indústria do século 20 ou vamos ver o que fizeram os países que têm uma indústria forte e competitiva? Os países mais avançados têm uma indústria cada vez mais ligada a áreas como a de tecnologia da informação, comunicação e inteligência embarcada. Os ciclos tecnológicos, cada vez mais curtos, estão possibilitando a países que perderam o trem em uma estação pegar o próximo lá na frente. Essas são discussões relevantes: como ampliar a inovação tecnológica? Como aumentar o valor agregado das exportações? Por outro lado, não se trata de jogar um conjunto de setores ao mar. Para mim, o papel do governo é fomentar esse debate. No setor agrícola, me preocupa o segmento sucroalcooleiro, uma experiência exitosa de inovação que tem passado anos muito difíceis.”

plantação de cana no interior paulista: o governador pernambucano

INFLAÇÃO

Manter a taxa sob controle é uma condição inegociável no Brasil

“Nenhum brasileiro nos quatro quadrantes do país quer brincadeira com a alta de preços. A inflação é um monstro que já engoliu décadas e décadas de nossa prosperidade. Ninguém quer que isso volte. Portanto, a estabilidade é inegociável, e precisamos ter isso muito claro. O Brasil ainda é um país desigual. Não podemos condenar os mais pobres. Não podemos desfazer todo esse esforço que fizemos para a 114 | www.exame.com

rodovia dos bandeirantes: para Eduardo Campos, o setor privado é chave


PAPEL DO BNDES

alexandre battibugli

O banco dá a impressão de que atende primeiro quem não precisa

se diz preocupado com os anos difíceis vividos pelo setor

estabilização da economia. Até porque sabemos que a memória inflacionária está viva. Ainda há mecanismos de indexação na economia brasileira. Sobre a questão da independência do Banco Central, antes falava-se sobre a necessidade de uma lei. Não precisa ser sempre assim. Um governo pode compor uma diretoria do Banco Central e assumir o compromisso de que ela terá uma ação independente.”

CONCESSÕES

para destravar a infraestrutura do país

divulgação

O que define a taxa de retorno é a competição entre os interessados

“Em Pernambuco, temos feito concessões e parcerias público-privadas. Esse é o caminho para melhorar a infraestrutura do Brasil. Elas têm de ser bem regulamentadas, com regras muito claras e objetivas. Na área de in­ fraestrutura, todos os setores podem ser concedidos à iniciativa privada. Sobre a taxa de retorno, quem tem de definir é o mercado. Desde que, claro, haja competição. Não podemos deixar que uma concessão de 30 anos aconteça num ambiente sem disputa. A disputa é que vai garantir uma taxa de retorno justa. Não dá para o governo fixar uma taxa de retorno, porque o risco de errar é muito grande.”

“O BNDES teve um papel muito importante nestes últimos anos, sobretudo logo após a crise de 2008. Não vamos jogar pedra em quem alterou fortemente a situação para melhor. Mas o BNDES não deve ser a única fonte de financiamento de longo prazo no Brasil. Há uma preocupação crescente com o financiamento estatal de um conjunto de empresas que poderiam fazer captação no mercado de capitais ou em bancos estrangeiros. Isso aumenta a insatisfação das empresas que estão no final da fila do BNDES.”

reforma tributária

A implantação deve ser em vários anos para vencer as resistências

“Precisamos de um sistema tributário que não onere a geração de trabalho e que seja menos regressivo. As mudanças devem ter um prazo longo de implementação. Caso contrário, os atuais governadores e prefeitos vão se perguntar: ‘Como isso vai afetar o meu mandato?’ Se tivéssemos agido nos governos Fernando Henrique ou Lula, hoje estaríamos em outra situação.”

AGÊNCIAS REGULADORAS É preciso profissionalizá-las e melhorar o quadro técnico

“As agências têm uma tarefa importante. São instituições muito frágeis do ponto de vista técnico, muito desaparelhadas. Elas não podem ser capturadas pelo fisiologismo, o tomá lá dá cá da velha política, nem pelos interesses do setor que elas vão regular. Isso é uma coisa que pouco se fala. Muitos diretores de agências terminam seus mandatos e vão trabalhar para aqueles que eles regulavam.” n 1 de maio de 2013 | 115


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