FOTOs: ©1 ana claudia crispim, ©2 k. thomas/keystone, ©3 dalbera/flickr, ©4 thomas frey/corbis/latinstock, ©5 Gonzalo silva/corbis/latinstock, ©6 movementway/imagebroker/keystone
Portão de Brandemburgo, ponto de partida de um novo país
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Alemanha sem barreiras
Texto e arte ana claudia crispim
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FOTOs: ©1 ana claudia crispim, ©2 k. thomas/keystone, ©3 dalbera/flickr, ©4 thomas frey/corbis/latinstock, ©5 Gonzalo silva/corbis/latinstock, ©6 movementway/imagebroker/keystone
Portão de Brandemburgo, ponto de partida de um novo país
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Alemanha sem barreiras
Texto e arte ana claudia crispim
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FOTO: sean gallup/getty images
Bora pedalar Ă beira do Rio Spree, em Berlim, olhando as luzes do Reichstag do outro lado?
FOTO: andrew michael/keystone
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Os campos que a gente encontra se perdendo na Rota Romântica, na Bavåria
A Alemanha acaba de celebrar os 25 anos da queda do Muro de Berlim, numa festa mais do que justificada para quem levou a pior nas duas guerras mundiais e pagou o preço mais alto da Guerra Fria. Ainda que sempre faça questão de lembrar esse passado, o país hoje é todo bola pra frente. Maior potência econômica da Europa, dona de índices de desenvolvimento humano espetaculares, a Alemanha é, ainda por cima, terra de um dos povos mais gente fina deste planeta – não, o Podolski não era só marketing daquela seleção que passou sobre a nossa feito um Panzer na Copa. Esqueça, aliás, todas essas metáforas bélicas: viajar pela Alemanha é uma paz completa, civilidade e gente bacana superam qualquer barreira de língua. Então, não tema: vá ver o que Berlim, uma das cidades mais baratas da Europa, tem de hipster e moderno; compre comida orgânica nos mercados de rua pra fazer piquenique nas áreas verdes lotadas de gente; experimente todos os tipos de cerveja nos Biergarten da Bavária; confira o que é dar a volta por cima, mesmo, em cidades como Dresden e Nuremberg; suspire visitando a quantidade inacreditável de castelos de contos de fadas no Vale do Reno; dirija pelas bem-conservadas Autobahns e adentre as cidades fofas da Rota Romântica. Tudo com a alegria que um povo cheio de disciplina e jogo de cintura aprendeu a ter.
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Depois dos maus dias, a capital alemã escolheu viver. E bem
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O coração da cidade
Área da antiga Berlim Oriental, o Mitte se transformou numa espécie de Centro da capital depois da reunificação. A arquitetura é toda misturada, resultado de várias épocas e influências que nem sempre são fáceis de identificar. Prédios de tijolos do pós-guerra se misturam à arquitetura modernista da Bauhaus e a edifícios dos tempos da Prússia, reino que deu origem à Alemanha. É nesse pedaço que estão as atrações turísticas mais disputadas – daí ser o ponto de partida ideal para quem não sossega até ticar os cartões-postais do roteiro. Se você não ficou em coma nos últimos 25 anos, já viu um pedacinho do Mitte: o Portão de Brandemburgo | + Brandenburger Tor |. Encimada pela estátua da deusa Vitória conduzindo em triunfo uma biga de quatro cavalos, a grandiosa estrutura de pavilhões e colunas servia de portão da cidade nos tempos prussianos. Trancado do lado oriental desde 1961, nos anos de Guerra Fria, virou o símbolo da unificação quando o muro veio abaixo, naquele 9 de novembro de 1989. Hoje abre alas para o lado ocidental, de frente para a imensa área verde do Tiergarten. Nesse parque, em meio a 5 000 metros quadrados de trilhas e árvores nativas, está o Siegessäule, a superdourada coluna da Vitória (ela de novo), construída no século 19 para celebrar os
detalhes: ana claudia crispim; foto: ampelmann gmbh/flickr
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o fim de tarde ensolarado, as ruas estão cheias de gente exibindo o bronzeado, os cabelos coloridos, os penteados multiculturais. Pais supertatuados pegam o filho na escola, muçulmanas flanam com vestes coloridas, mulheres pedalam de saia, calcinhas aparecem, meias desfiam transporte – quem liga? Berlim é assim. E verde. E No texto que se segue, os principais quieta: nos bairros residenciais, o silênpontos turísticos da cio só é quebrado, vez em quando, por capital alemã estão uma justa buzina advertindo o pedessinalizados com as estações de metrô e tre distraído que caminhou na ciclovia os pontos de ônibus – ou um ciclista que resolveu fazer o mais próximos mesmo no caminho do carro. Atraves1 Dividido na zonas sar a faixa, só quando o AmpelmännA, B e C, o sistema é composto por: chen (o homenzinho de chapéu dos semáforos da antiga Berlim Oriental) fica Metrô U-Bahn (10 linhas, quase verde. Ordem é ordem. sempre subterrâneas, Ainda que abrigando tanta coisa bacobrem a área A e B) cana, descolada e civilizada, Berlim faz Metrô S-Bahn (15 linhas, quase questão de não esquecer seus maus sempre de superfície, dias. Há memoriais para todas as víticobrem as três áreas) mas do nazismo – judeus, gays, ciganos Ônibus Tram e Metrotram – e sinais em toda parte do muro que (Bondinhos. Mais partiu a cidade durante os longos anos frequentes na parte da Guerra Fria. Enxergar a confluência leste da cidade) das marcas do passado e da nova vida, Vale a pena comprar o porém, nem sempre é simples. Há de se Berlin WelcomeCard e se jogar nas infinitas ter olho para achar as coisas meio espossibilidades de condidas, as camadas de história, o taninterligação. Só a tão de arte e um estilo de vida de uma zona C, mais distante do Centro, exige um cidade que aprende a ser uma só de nobilhete à parte. A vo. E que, em meio a tantas camadas boa notícia: o metrô funciona 24 horas nos de conflitos e transformações, escolheu fins de semana. simplesmente viver. E bem.
O Ampelmännchen då sinal verde pra visitar, logo ali, a Torre de TV
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1 Perto do Tiergarten, a cicatriz do Muro 2 A cúpula de vidro do Reichstag 3 A medievalzinha Nikolaiviertel 4 Escadaria da casa de concertos Konzerthaus 5 O Trabant, carrinho de Berlim Oriental, no DDR Museum 6 Painel no Memorial do Muro de Berlim 7 Neues Museum 8 A babilônica e coloridaça Porta de Ishtar, no Museu Pergamon
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fotos: ©1 ana claudia crispim, ©2 jorbasa/flickr, ©3 felipe rodriguez/keystone, ©4 DIVULGAÇÃO, ©5 ARQUIVO PESSOAL
triunfos da Prússia sobre os vizinhos. É uma lindeza de jardim à beira de um lago onde tem barcos para alugar. E não se assuste se der de cara com peladões; lá isso é totalmente aceitável. Nas redondezas do parque está o Memorial do Holocausto, dedicado aos 6 milhões de judeus mortos durante a Segunda Guerra Mundial. Não foi de propósito, mas a estrutura formada por 2 711 blocos retangulares de concreto enfileirados sobre uma superfície irregular lembram ondas de lápides – para muitos, obra de gosto duvidoso. Também por ali está o Reichstag, o edifício histórico do Parlamento alemão, com uma outra boa história de calamidades. Incendiado e bombardeado, foi lá que as tropas soviéticas fincaram sua bandeira ao entrar na cidade arrasada. Reformado pelo arquiteto inglês Norman Foster, voltou a sediar o Legislativo do país em 1999. As formas neorrenascentistas foram mantidas, mas uma cúpula de vidro, construída no lugar da original, dá vista pra sala do plenário. Recado político, símbolo de novos tempos, de transparência. Logo ali, aliás, está o Bundeskanzleramt, o prédio da chancelaria, onde Angela Merkel bate seu cartão. Na Potsdamer Platz | + Potsdamer Platz Bhf | está o modernão Sony Center, complexo de entretenimento, compras, hospedagem e escritórios construído no lugar onde havia um antigo prédio bombardeado. Nessa região fica um pedaço do Muro transformado em exposição, que ficou famoso porque foi totalmente coberto com chicletes! É uma daquelas bobagens que começam e ninguém sabe explicar a razão. Curiosidades à parte, este pode ser um ponto de partida pra quem quer mergulhar um pouco mais no tema.
Algumas torres de vigia foram mantidas. Uma delas está na ErnaBerger-Straße, e é curioso ver como os terrenos em torno ainda estão vazios. O Check Point Charlie | Koch Str./Checkpoint Charlie | é um clássico. Era posto militar usado pro vai e vem de diplomatas e membros das forças aliadas – Estados Unidos, Inglaterra e França, que ficaram com o pedaço ocidental. Na mesma rua tem o Museum Haus am Checkpoint Charlie, que, em seus quase 2 000 metros quadrados, toma essa desgraceira toda como mote para uma série de exibições em prol dos direitos humanos. Por ali está também o Topographie des Terrors, museu que documenta as atrocidades nazistas. Aliás, se a sua ideia for esgotar o tema do muro, pegue o metrô e vá já para o ex-ocidental bairro Wedding. Lá está o Memorial do Muro de Berlim | Bernauer Str. |, que reúne as histórias mais pavorosas do dia em que, sem mais nem menos, as pessoas se viram impedidas de circular – muitas, de ver suas famílias.
Flanar em alemão
Depois de tanto muro e guerra, um refresco pra alma é a charmosa Gendarmenmarkt | Französische Str. |, praça considerada (por quem tem mania de ranquear tudo) a mais bonita de Berlim. É composta de três harmoniosos edifícios: a casa de concertos Konzerthaus, ladeada por duas igrejas, a católica Französischer Dom e a protestante Deutscher Dom. Com exceção dos cantos onde ficam as igrejas, é uma praça sem árvores. Não dá pra dizer assssimmm que é a mais bonita. A Bebelplatz é outra praça de prédios imponentes: a Catedral St. Hedwig,
VINTAGE IS THE NEW BLACK “Em Berlim é legal gastar pouco sempre, e o vintage tem a cara da cidade. Todo mundo se veste de um jeito meio despretensioso. Há uma rede chamada Humana que é tipo uma “H&M retrô”; algumas lojas têm vários andares, com peças de € 3 a € 20. Achei muitas coisas incríveis lá, principalmente anos 90. A Feirinha do Mauerpark de domingo tem opções de roupas também. O que compensa muito lá são as jaquetas militares, por até € 5, e os casacos de inverno, muito bons para aguentar aquele frio todo.”
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Jana Rosa é escritora, autora do livro Como Ter uma Vida Normal Sendo Louca
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Walking Tours “Há vários walking tours na cidade, a maioria gratuita. Você só contribui com uma gorjeta para o guia. Gostei do tour organizado pela Alternative Berlin (alternativeberlin. com), que mostra como a cidade se tornou a capital hipster do mundo. Na maior parte do tempo andamos pelo bairro Kreuzberg, vendo grafites e visitando lugares por onde passaram artistas famosos e importantes. Um ponto alto do passeio foi o Künstlerhaus Bethanien, um antigo hospital abandonado que hoje serve como espaço de cocriação e galeria de arte.”
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Wellington Soares Jornalista, morou na Alemanha por seis meses
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a Alte Bibliothek e a Alte Palais. Viu uma rodinha de pessoas olhando pro chão? O quadrado vazio, coberto por uma tampa de vidro, é o memorial (mais um) bolado pelo artista israelense Micha Ullman, em referência à queima de livros “subversivos” promovida no lugar pelos nazistas em 1933. O.k., não é tão fácil fugir das marcas da guerra. Desviando dos monumentos e memoriais, dá para aproveitar, logo ali, o hype Cookie Cream, representante do estilo da deliciosa nova cozinha natureba-alemã-berlinense, que só usa produtos sazonais e fresquinhos. Dá um trabalhinho encontrar: entre no vão entre o hotel The Westin Grand Berlin e a Komische Oper Berlin, passe pelas lixeiras, vença os becos até achar a porta com um lustre em forma de caixa. É lá. No loft com paredes caiadas de branco, entregue-se às combinações inusitadas como mingau de milho e pipoca, repolho com creme de leite e uvas, trufa de queijo suíço com beterraba em conserva... E os vinhos são ótimos.
Ilha de cultura
Do lado oriental do Portão de Brandemburgo, seguindo pela Avenida Unter den Linden, chega-se a Lustgarten | 100 Lustgarten |, grande jardim que dá para a Berliner Dom, a catedral da cidade. Ele está na Museumsinsel, a ilha sobre um braço do Rio Spree que é inteirinha de museus! São cinco no total, e, se você tiver tempo para apenas um, siga a multidão e vá ao Pergamon, com acervo cujo forte são as peças da Antiguidade. A principal atração é o Altar de Pérgamo, uma gigantesca estrutura de mármore com frisos e baixos-relevos, construída na cidade de Pérgamo no século 2 a.C., em
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homenagem a Zeus. Problema: acabou de ser fechado para restauração e só abre em 2019! Mas não faz mal, ainda há hits como o grego Portão do Mercado de Mileto, a babilônica e coloridíssima Porta de Ishtar e a ala inteirinha de arte islâmica. Se tempo não for problema, vale ver o busto de Nefertiti, datado de 3 300 anos atrás, no Neues Museum; ou as obras de Monet, Cézanne e Renoir, no Alte Nationalgalerie. O Bode-Museum é famoso pelas peças bizantinas e pela coleção de moedas, mas já é uma atração e tanto do lado de fora. O edifício neobarroco, lindo e imponente, contorna a ponta da ilha. Ali, nos domingos de verão, berlinenses se juntam pra assistir a concertos. De graça. Fora da ilha também tem o DDR, museu interativo com objetos e ambientes que recriam como era a vida em Berlim Oriental. Na outra margem do Spree está Nikolaiviertel | Kloster Str. |, vila medieval meio escondidinha. Dá até pra esquecer que estamos dentro de Berlim, tamanhas a fofura e a cara de cidadezinha do interior desse pedaço que é o marco zero, o lugar em que a cidade nasceu, em 1237. A antítese desses refúgios está a poucas quadras. É a Alexanderplatz, a praça mais muvucada de Berlim. Loucos por tranqueiras tecnológicas piram na Saturn, consumistas arrastam sacolas da H&M e da Primark. Tudo sob a sombra da bizarra Berliner Fernsehturm, a Torre de TV, que, construída pelo governo socialista, volta e meia aparece nas fotos, onde quer que você esteja. Tem 368 metros de altura, e a plataforma de observação, a 203 metros, é aberta ao público. Lá, o restaurante Sphere gira 360 graus, devagarinho, enquanto você come. Uma mesa na janela, por favor.
FOTOs: ©1 arquivo pessoal, ©2 phil robinson/keystone
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Sony Center, a cara da nova Berlim, em Potsdamer Platz
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1 Gente boa no Mauerpark 2 Bánh mì deli, sanduíche hit no Cô-cô 3 Food truck Bunsmobile no Bite Club 4 Obra de Katharina Grosse na galeria Sammlung Hoffmann 5 The Legenda preta Barn, prum cafezinho 6 Gente velisse bla Um descolada quis dolorpeem Scheunenviertel 7 Portinha pras delícias do rostieEditiatiur? Cookie Cream 8 o Hackesche Duntiur? Höfe (bacana Ernatium enis demais!)
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fotos: ©1 ana claudia crispim, ©2 divulgação, ©3 Iain Masterton/keystone
Fauna alternativa
Ao norte do Mitte, a uma estação de metrô do coração da cidade, outro mundo se apresenta em Scheunenviertel | Oranienburger Str. |. Bairro operário judeu antes da Segunda Guerra, ele guarda outras cicatrizes em meio às suas peculiares transformações. Obra do artista alemão Gunter Demnig, As Pedras do Tropeço – plaquinhas de cobre chumbadas na calçada – informam nome, data de nascimento, de morte e para qual campo de concentração foi levado o morador daquela casa. Nos imóveis se misturam marcas judaicas do passado às do presente, com muitos estabelecimentos exibindo a estrela de Davi ou indicando cardápios kosher. Também nessa área está a lindíssima Neue Synagoge, com sua cúpula dourada em estilo mourisco. Por razões óbvias, gueto é uma ideia que não pode se repetir na cidade. Mas pode, talvez, ser reinventada. Cheia de Höfes, pátios internos que já foram galpões e fábricas escondidos pela fachada das casas, a região foi tomada pela turma descolada, que ali ergueu residências, galerias de arte, restaurantes, cafés, livrarias... Você está, nessas ruas estreitas e tranquilas, em meio a uma das faunas mais hipster da Alemanha! O Hackesche Höfe é um complexo de oito pátios restaurados nos anos 90 e protegidos pelo patrimônio histórico. Além dos habituais estabelecimentos, tem um teatro, o Chamäleon Varieté, que fica no Endellscher Hof, o pátio mais bonito do conjunto, restaurado em estilo art nouveau com azulejos desenhados pelo arquiteto August Endell. Na mesma rua está o Café Cinema. A entrada do beco meio escura não é exatamente convidativa, mas é de boa pra entrar e tomar uma cerveja sentado
nos compridos bancos de madeira, ou explorar as portinhas que podem levar para escadas estreitas, grafites, livrarias e exposição de monstros de metal que se mexem. Divertido. Perto, outro pátio, o Sophie-Gips, abriga a Sammlung Hoffmann, uma conceituada galeria de arte contemporânea que tem obras de Basquiat e Andy Warhol. Sim, claro, street art. O prédio que foi da galeria Tacheles | Oranienburger Tor |, berço da porra-louquice que baixou na cidade após a reunificação, ainda exibe do lado de fora o famoso mural How Long Is Now. Aos pedaços, o prédio está hoje à beira da demolição. Mas fique sossegado, que arte alternativa não vai faltar, nos grafites dos bombados Alias e El Bocho, por exemplo. O Hackescher Mark | Hackescher Markt | fica perto da avenida mais movimentada do bairro, a Rosenthaler Straße, onde, às quintas e aos sábados, acontece uma animada feira. Nas barraquinhas que ficam no início da rua são vendidos os doces turcos mais fresquinhos e crocantes que comi na cidade. Na via mais emblemática do pedaço, a Auguststraße, o programão é ir de porta em porta. Ali está The Barn, minúsculo café em que são servidos espressos perfeitos. Importante: jamais magoe os simpáticos atendentes pedindo açúcar; café ali é coisa levada a sério. Se estiver muito lotado, peça pra viagem e tome o seu no sossego da Do You Read Me?!, uma livraria discreta, mas que tem o poder de enlouquecer loucos por papel impresso. São publicações sobre arte, moda, arquitetura e design de mais de 20 países. Fora do bairro, um pouco mais ao norte, acaba de abrir uma edição do Bite Club, uma feira gastrônomica que funciona nas tardes de sábado,
rolê gastrÔ EM Scheunenviertel 1 Cô-cô O Bánh mì deli é um baguete crocante com lascas de porco e molho agridoce. Não precisa de mais nada! (co-co.net) 1 Monsieur Vuong Mais comida do Vietnã. Os berlinenses amam. Vá com fé no prato do dia! (monsieurvuong.de) 1 Pantry Retrô e barulhento. Carnes ótimas! Também famoso por pratos veganos. (pantry-berlin.com) 1 Katz Orange Fica num pátio charmosérrimo! Comidas feitas com carne e vegetais orgânicos. (katzorange.com) 1 Pauly Saal Fica numa ex-escola de meninas judias. Serve cordeiro, enguia, vieiras... No almoço sai mais em conta. (paulysaal.com)
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prenzlauer berg hambúrgueres Descolados 1 White Trash Food Acaba de se mudar para o bairro Treptow, perto da Badeschiff – uma piscina construída dentro do Rio Spree. O burger de polvo é único. (white trashfastfood.com) 1 Burgermeister Antes banheiro público (!), hoje serve sandubas perfeitos com batatas fritas polvilhadas com queijo. Fica embaixo da linha de trem. (burger-meister.de) 1 BurgerAMT Os caras não têm medo de arriscar nas combinações (guacamole, teriyaki, abacaxi, amendoim) dos enormes hambúrgueres feitos com carne especiais. (burgeramt.com) 1 Berlin Burger International A modesta portinha em Kreuzkölln esconde um menu cheio de burgers gigantes e afamados. (berlinburger international.com)
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Gente diferenciada
A noroeste da cidade, o Prenzlauer Berg é daqueles bairros cujo metro quadrado ganhou preços nada socialistas depois da reunificação. Reduto de jovens famílias abonadas com seus bebês, é realmente todo gracioso, com mercadinhos free lactose, glúten ou gordura trans, além de estúdios de ioga e parques sossegados. Mas o diferenciado mesmo está literalmente do outro lado da linha do trem, quando a vizinhança fica movimentada. Nas tardes de domingo, uma horda se dirige para o mesmo lugar: o Mauerpark | U Eberswalder Str. |. Perto de um trecho largado do Muro, com grama falhada e trechos de areião, as pessoas levam tapetes de casa, enrolam um cigarro de palha, abrem uma cerveja e acendem práticas churrasqueiras descartáveis. Divertidíssimo, o popular mercado de pulgas vende belas tranqueiras: roupas, lentes de máquinas, bijoux de qualidade e artigos de brechó de primeira linha! E shows acontecem simultaneamente. O ponto alto das tardes de domingo é o karaokê que reúne mais de mil pessoas em torno da bicicleta do irlandês Joe Hatchiban, o cara que dá o som. Pode ser que ele não apareça, fato ocorrido a esta que vos escreve, que afinou o gogó e levou um bolo. Pô, Joe!
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charlottenburg e schöneberg
Compras, compras
Lado ocidental adentro, Charlottenburg | + Zoologischer Garten Bhf | é o bairro para onde os orientais correram quando o Muro caiu, pra ver coisas corriqueiras como variedade de chocolates e roupas, raridades do lado de lá. Ali fica a KaDeWe, tradicional loja de departamentos que vende de guardanapo de papel a bolsa de € 10 000. Vale subir até o quinto e último andar e dar uma volta na sensacional praça de alimentação, misto de mercadão e empório chique. Na avenidona Kurfürstendamm, chamada de Kudamm, estão o megashopping Europa Center e lojas de marcas populares e de grifes como Bulgari e Chanel. Shopping-conceito, o Bikini Berlin é um disparador de tendências com algumas marcas que só podem ser encontradas lá. As lojas minimalistas são todas organizadas em conteinêres, dentro de uma estrutura cheia de transparências. A ideia é que as pessoas deem de cara com o Zoologischer Garten, o zoológico queridinho da cidade por ter a maior coleção de espécies do mundo. Não é, por ali, a única coisa que se vê. No skyline moderníssimo do bairro se destaca a torre da igreja luterana Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche, bombardeada e de propósito não restaurada. Queria se jogar nas compras e esquecer da guerra? Não, senhor. No vizinho Schöneberg, bairro gay que já abrigou David Bowie, Iggy Pop, Marlene Dietrich e Einstein, o borogodó é outro. Ali se misturam vitrines de sex shops, lojas de roupas vintage e as tradicionais feiras familiares que acontecem nas ruas arborizadas. Muito bom para comprar peças exclusivas.
FOTO: sebaso/flickr
no terreno atrás da Platoon Kunsthalle | Rosa-Luxemburg-Platz |, um centro cultural e de eventos. Desejei ter dois estômagos para provar a variedade de comidinhas vendidas nos populares food trucks. Porções indianas do Chai Wallahs, drinques do Singleton Whisky Bar, sandubas do Bunsmobile, piadinas italianas do Pic Nic 3.
Alexanderplatz, o canto da muvuca consumista berlinense
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Legenda preta velisse bla Um quis dolorpe rostieEditiatiur? 7 Duntiur? Ernatium enis
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1 Vida mansa à beira do canal Landwehr 2 Muçulmanas no Maybachufer Turkish Market 3 Clique diante do beijaço de Honecker e Brejnev no East Side Gallery 4 Burger embaixo do trem no Burgermeister 5 Relax no Liquidrom 6 Badeschiff, a piscina dentro do Rio Spree 7 KitKat, balada para os fortes
Kreuzberg, neukölln E friedrichshain
fotos: ©1 ana claudia crispim, ©2 divulgação, ©3 Juergen Henkelmann Photography/alamy/latinstock
Boêmios e baladeiros
Região mais a leste do lado ocidental, trancada pelo Muro em três de seus lados, Kreuzberg só aos poucos vai se valorizando – daí ser até hoje reduto de punks, bichos-grilos, artistas e turcos. Boêmio, é ideal para encontrar restaurantes abertos até tarde. O aglomerado de ruas entre a Oranienstraße | Moritzplatz | e a Bergmannkiez | Gneisenau Str. | não desapontará quem quer fazer uma boquinha fora de hora. Um alívio numa cidade que, apesar de moderna, vai dormir com as galinhas. O que não fecha cedo, óbvio, são as baladas. Uma parte do bairro está perto do Spree, e os locais adoram um agito beira-rio! É o lugar para experimentar uma tradição berlinense: o Strandbar – algo como bar de praia (só que sem praia). O animado Sage Restaurant reúne música, boa comida e até areia à beira d’água! O KitKat Club é uma balada-fetiche, o que – atenção! – significa que é preciso se caracterizar para dançar entre gente vestindo todo tipo de fantasia sexual. Se for demais para você, tente o WaterGate: chique, com janelas de vidro que enquadram o rio e a ponte Oberbaumbrücke. Já o Chalet é frequentado por moradores; não se intimidade com a portinha de nada. Pra se recompor, o spa Liquidrom | Anhalter Bnf | cai como uma luva! Aaaah... As chaise-longues do jardim de inverno... A massagem com óleos quentes... A sensação de voltar ao útero boiando na piscina com som tocando embaixo da água morna... O vestiário e a sauna... AAAH... mistos! O.k., pode ser estranho, mas tente entrar no clima. Berlinenses acham natural bater um papo com os colegas da firma co-
mo vieram ao mundo. Justiça seja feita: pedaladas esculpem. Mesmo. A região, à beira do canal Landwehr, onde Kreuzberg encontra o vizinho Neukölln, é chamada informalmente de “Kreuzkölln”. É lá que funciona, às terças e sextas, um mercado de rua sensacional: o Maybachufer Turkish Market | Schönlein Str. |, uma versão turcahipster-natureba da nossa feira livre, com vegetais orgânicos, roupas, tecidos para as vaidosas muçulmanas e comida vendida ao gritos pelos feirantes turcos. Uma multidão fica ali à toa vendo os barcos passarem ou assistindo a alguma performance ou show. Vi alemães batucando e cantando: “Iaiá, ôôôôô iáiá, minha preta não sabe o que eu sei…” Mas, se o seu negócio é mesmo balada, vale escapulir novamente pro lado ex-oriental. No Friedrichshain está uma das mais famosas do mundo! O Berghain, que fica num enorme galpão, é aquele lugar que a gente espera ver em Berlim: gente sem camisa enlouquecida ao som de música eletrônica de peso. Esteja preparado para todo e qualquer tipo de bizarrice – coisa como gente enrolada em Magipack e pendurada em esquemas masoquistas. É nesse bairro que também está o maior trecho do Muro. São 1 300 metros de grafites que se transformaram numa galeria a céu aberto, o East Side Gallery | + Ostbahnhof |, um desfile de grafites de artistas do mundo todo! Não deixe de tirar seu selfie em frente à obra Meu Deus, me Ajude a Sobreviver a Esse Amor Fatal, do russo Dmitri Vrubel, que reproduz o beijaço entre Erich Honecker, o último dirigente da Alemanha Oriental, e Leonid Brejnev, o homem-forte da União Soviética entre 1964 e 1982. Amor, com muito muro e muita guerra. Bem Berlim.
escapadas 1 Gleis 17 A estação de trem onde os nazistas embarcaram parte dos 50 mil judeus deportados de Berlim para campos de concentração. | Bahn Grunewald | 1 Potsdam Os jardins e o Castelo de Sanssouci, onde os reis da Prússia passavam as férias, valem o deslocamento de uma hora de trem. | Potsdam Hauptbahnhof | 1 Sachsenhausen Um dos três maiores campos de concenrração da Alemanha. Na porta de entrada, a frase: “O trabalho te libertará”. | Oranienburg Bhf | 1 Alte Börse Marzahn Antigos prédios da bolsa de valores de Marzahn, abrigam galerias e oficinas que foram deslocadas da cidade de Berlin, como os da Tacheles. Arte pra iniciados. | Friedrichsfelde Ost |
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F체rstenzug, o maior mural de cer창mica do mundo
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Barroca (linda!), a capital da Saxônia é um case de reconstrução
detalhes: ana claudia crispim; foto: silvia otte/getty images
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uem anda desavisado pelas ruas pavimentadas de pedras, entre os prédios barrocos do século 18 que mais parecem obras de arte, pode não se dar conta de que, em Dresden, nada é antigo de verdade. Tudo, absolutamente tudo foi refeito na cidade depois que os maciços bombardeios aliados na Segunda Guerra não deixaram pedra sobre pedra. A capital da Saxônia é um case de reconstrução, tamanhos a destruição e o êxito na recuperação. O resultado é encantador. Vista da ponte Augustusbrüke, a cidade brilha se dobrando em duas no reflexo das águas do Rio Elba – ninguém vai recriminar os casais que tiram fotos agarradinhos pra postar no Facebook. As abóbadas verdes inspiram mesmo. Não sei é por causa das luzes amarelas que iluminaram a cidade ao anoitecer, mas Dresden parece aquele tipo de beleza que pede contemplação. Não é má ideia subir no andar de cima de um ônibus hop-on hop-hof, ligar o audioguia e saltar só quando der vontade. Mas o turista à moda antiga, que precisa andar pra sentir que conheceu um lugar, não vai enjoar ao caminhar pela Autstadt, a cidade velha. Verá obras de Monet e Rodin no Albertinum, prédio que abriga a Galerie Neue Meister. Ficará de boca aberta ao olhar para cima e ver a enorme Frauenkirche, a igreja luterana conhecida carinhosamente como “Mulher Gorda” – a mes-
ma que dá nome à praça onde sempre acontecem festas. No Residenzschloss, o castelo da cidade, poderá ver obras como o luxuoso Türckische Cammer, um quarto turco reconhecido por ser uma das coleções mais antigas da arte otomana fora da Turquia. Dá vontade de levar a tenda feita de seda e fios de ouro pra casa. O Fürstenzug, que é o paredão na lateral do castelo, reconhecido como o maior mural de cerâmica do mundo! Nem precisava de título algum – os mais de 100 metros de mural com pinturas que retratam cenas da realeza dos séculos 12 ao 20 são motivo suficiente pra ficar zanzando por ali, sem a mínima vontade de ir embora. Atravessando o rio está Neustadt, o lado mais modesto da cidade, e que apesar do nome “neu” não tem nada de novo. É na verdade a parte mais antiga e a que foi menos destruída. Neste lado, a atração é o Kunsthof Passage. A discreta entradinha vai dar num corredor estreito que se abre em um conjunto de minipátios coloridos com instalações modernas. Um ótimo exemplo é o Lila Soße, que sozinho já garante o passeio, não só pelos pratos substanciosos, mas principalmente pelos aperitivos alemães em minipotes de vidro. Com mais tempo, você encontra tudo aquilo que os alemães teimam em enfiar nesses becos silenciosos: árvores, cafés gostosos e comida. Comida boa.
passeios 1 Großer Garten O enorme parque da cidade tem zoo, trenzinho, jardim botânico e o palácio barroco Palais Großer Garten. (grossergarten-dresden.de) 1 Gläserne Manufaktur A fábrica de paredes transparentes da Volkswagen é programa de menino, mas as meninas também adoram. Para fazer um tour é preciso agendar. (glaeserne manufaktur.de) 1 Trabi Safari A brincadeira é fazer um tour com você ao volante de um Trabant, o carrinho de plástico fabricado na antiga Alemanha Oriental. (trabi-safari.de) 1 NightWalk É um tour noturno por Neustadt, para descobrir arte de rua, pubs e a história do lado menos famoso da cidade. (nightwalkdresden.de)
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mais que comida 1 Bratwursthausle Lugar para comer linguicinhas (e se defumar no salão) e bater papo com o dono, o engraçadíssimo Werner Behringer. (die-nuernbergerbratwurst.de) 1 Hausbrauerei Altstadthof Um bar para se refestelar nos pratos e nas cervejas avermelhadas da Francônia. Peça para visitar o subsolo, antiga adega que servia de abrigo antiaéreo. (hausbrauereialtstadthof.de) 1 Im Keller Fica num porão de 800 anos – ambiente de taverna, para um jantar em estilo medieval. (alte-kuechn.de)
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partir de Berlim, em direção ao sul, está Nuremberg, capital informal da região da Francônia, na Bavária. Cercada de muralhas medievais, entremeada por vielas que parecem ter parado no tempo e edifícios de arquitetura gótica, a cidade pode parecer um pouco soturna à primeira vista. Em boa parte porque chegamos já sabendo que ela foi palco dos primeiros comícios públicos nazistas incentivando hostilidades a qualquer um que não fosse ariano, e, por isso mesmo, escolhida para sediar os julgamentos dos criminosos de guerra, entre 1945 e 1949. A despeito da história recente e ainda tão viva, Nuremberg é uma cidade de pessoas alegres, abraçadeiras e satisfeitas pelo olé que deram nas dificuldades – reconstruindo tudo. Foi conduzida pela guia Lol, uma velhinha alemã que viveu toda essa história, que adentrei o centro histórico pelo fosso, hoje uma faixa de área verde, que cerca a cidade. Ela me apresentou um pouco do que enche de orgulho os moradores de Nuremberg: as muralhas que no passado protegeram o Kaiserburg, o magnífico castelo da época do Sacro Império; as pontes em estilo enxaimel que passam sobre o Rio Pegnitz, recriando pequenos tecos de Veneza; a Lorenzkirche, a igreja do mártir São Lourenço, uma reunião de obras de arte milagrosamente salvas dos bombardeios; o mercado do Hauptmarkt, on-
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de é montada a feira de Natal, tradição alemã. E a Schöner Brunnen, fonte gótica com 19 metros de altura, dourada e decorada com gárgulas, onde as pessoas disputavam lugar para girar um anel de ferro preso à grade (existem dois anéis que ficam em lados opostos: um é pra desejos genéricos, e o outro, pra fertilidade; melhor não confundir as coisas). Isso pra ver. Pra comer e beber tem o Lebkuchen, o pão de mel, gengibre e especiarias vendido em lindas caixinhas com motivos natalinos; a encorpada cerveja de trigo Tucher, que agrada até a quem não gosta tanto assim da bebida; e Rostbratwürste, linguiça fininha como um dedo, como eles fazem questão de lembrar. Deixa o restaurante (e os comensais) defumados. A cidade tem muitos museus, mas dois deles chamam atenção pela fachada. O Neues Museum, de arte contemporânea, design e fotografia, tem uma fachada de 100 metros de vidro curvo que reflete tudo ao redor das maneiras mais surpreendentes. Já o Germanisches Nationalmuseum é todo dedicado à cultura germânica. Em frente foi erguido em 1993 o Caminho dos Direitos Humanos, obra do artista israelense Dani Karavan. São 30 pilares, cada um com um artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos escrito em alemão e vários outros idiomas. É nessas horas que a gente usa a desculpa do cisco no olho e sai de fininho.
detalhes: ana claudia crispim; foto: david ball/alamy/latinstock
Na região da Francônia, a cidade dribla a má fama com alegria
O mercado de Hauptmarkt, com toda a bossa de Natal
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Sol, bike e preguiรงa no Englisher Garten, onde dรก ainda pra beber bastante cerveja
munique
A terra da Oktoberfest, do joelho de porco e das cervejas gigantes
detalhes: ana claudia crispim; foto: konrad whotte/getty images
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om certeza foi de Munique, a capital da Bavária, que importamos todos os estereótipos alemães: Oktoberfest (que começa em setembro), joelho de porco, copos gigantes de cerveja e um jeito meio bipolar de tratar as pessoas – ora nos cascos, ora beijando as bochechas. Lá, em cenários que achamos fácil em folhetos de viagem, quase tudo acontece ao ar livre quando é verão – começando com os Biergarten, jardins onde as pessoas se juntam para beber cerveja. O Hirschgarten, por exemplo, pode receber até 8 mil pessoas de uma vez só; no famoso Englisher Garten, bebe-se e comem-se pretzels plus-size ao pés de um pagode chinês de 25 metros de altura, o Chinesischer Turm. Além de se acabar nesses lugares, os felizes alemães e turistas podem surfar no Eisbach, um braço do Rio Isar, ou se refrescar em uma das várias fontes espalhadas pela cidade. Se o clima não ajudar (pode soprar um vento chato dos Alpes ou chover muuuito em Munique), dá para aproveitar o espírito da cidade mesmo assim. Não dá pra deixar de comer mil tipos de pretzels e linguiças do mercado Viktualienmarkt. Ou pelo menos dar uma olhada na tradicionalíssima cervejaria Hofbräuhaus, com bandinhas alemãs que animam o vaivém de bandejas de comida (e os maiores copos de cerveja já vistos) sobre a nossa cabeça. Ou
então dividir uma mesa com um estranho na ainda cervejaria Augustinerbrau Bräustuben, que mantém um estábulo – sim, com cavalos – pertinho da vitrine cheia de Schweinshaxe (a parte logo abaixo do joelho de porco), o prato mais pedido da casa. Na região central, o programa é acompanhar o tradicional espetaculozinho no relógio da torre da Neues Rathaus, a gótica prefeitura. Três vezes ao dia, bonecos representam a história da cidade: o casamento do duque Wilhelm V e de Renata de Lorraine na Idade Média e a dança tradicional da Bavária. Fora do Centro, não faltam monumentos fincados em largas avenidas como o Siegestor – caso do Arco do Triunfo de Munique. Um passeio fora das atrações de verão pode levar a experiências surpreendentes. No dia em que eu estava na região da f lorida e circular praça Gartnerplatz, chovia torrencialmente, sem parar. Ao procurar um lugar quente pra me abrigar, ouvi ao longe o trovejar de vozes cantando em coro. Seguindo o som, encontrei uma porção de homens com trajes folclóricos bávaros e com coletes e chapéus enfeitados com uma pena. Em vez de ser uma miniedição da Oktoberfest, tratava-se – de repente ficou claro – de uma festa gay de rua, com drag queens agitando os braços entre músicas tradicionais e de Lady Gaga.
bávaros e modernos 1 Pinakothek der Moderne Integra um conjunto de pinacotecas, umas bem pertinho das outras. Esta é dedicada às artes gráficas, ao design e à arquitetura. Logo na entrada, a tela Converse Extra Special Value, 198586, de Andy Warhol, funciona como cartão de boas-vindas. (bit. ly/pdermoderne) 1 Brandhorst Museum O prédio, revestido de tubos coloridos como se fosse uma grande caixa de lápis de cor, já é uma obra de arte. O acervo conta com obras de Damien Hirst, Jeff Koons, Bruce Nauman e (ele de novo!) Andy Warhol, cuja A Foice e o Martelo (1976) está logo na entrada. (museum-brand horst.de)
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rota romântica Ao longo de 300 km, 28 cidades compõem um cenário de sonho
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as placas da estrada se lê: Romantische Straße, “Estrada Romântica” em alemão. Logo abaixo a tradução vem... em japonês! Bem se vê que o início de uns dos circuitos mais turísticos da Europa recebe muitas excursões do Japão e do mundo, incluindo jovens casais, grupos de aposentados e famílias com crianças. Todos buscam a mesma coisa nos 300 quilômetros do percurso: as fofuras das 28 cidades entre Würzburg e Füssen, na Bavária, sul da Alemanha. Nascida nos anos 50 para levantar o moral do país e criar um turismo para vender uma Alemanha legal e alegre, a Rota Romântica não é, apesar disso, só marketing. É legal mesmo! Viajar pelas estradinhas de mão única é um relax sem fim: elas são entrecortadas por suaves ondulações cobertas de vegetação, florzinhas amarelas e girassóis – sim, girassóis, como na Toscana. A paisagem de calendário também tem cataventos e encantadoras vilas sem nome sinalizado. Besta de quem não dá um baile no GPS e não começa a se perder enquanto ele implora pra você voltar pro caminho original! No sentido oposto ao habitual entre os turistas, fiz o roteiro de sul a norte, de Füssen a Würzburg, passando por Schwangau, Landsberg am Lech, Dinkelsbühl e Rothenburg ob der Tauber. Eu sei, são muitas consoantes para poucas palavras, mas elas não mordem.
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Ao contrário: nessas microcidades, elas se multiplicam enquanto o inglês fica mais raro. Mas a simpatia, redobrada, deixa tudo muito simples.
Cinderela e Wagner
Füssen, no extremo sul, fica aos pés dos Alpes, cercada por lagos verdes e montanhas nevadas. O centro histórico é cheio de casinhas coloridas e prédios baixos, com telhadinhos íngremes para a neve escorregar com mais facilidade. Ali se vê uma particularidade que se repete em outras cidades da Rota Romântica: as pinturas decorativas nas fachadas. São adornos, imagens referentes a fábulas locais ou simplesmente letreiros estilizados de lojas. Minha guia, Silvia – uma alemã alegre, vestida de camponesa e usando duas trancinhas loiras –, disse que nem lhes ocorria fazer de maneira diferente. Ela já tinha me mostrado um dos castelo medievais mais bem preservados da Alemanha, o Hohes Schloss. De estilo gótico tardio, tem a fachada, as paredes do pátio interno e as torres pintadas de afrescos na técnica francesa trompel’oeil (algo como “engana o olho”), que é nada mais nada menos do que pinturas no lugar de janelas, molduras e portas. Outra fachada que me chamou a atenção foi a da Heilig-Geist-Spital, a barroca igreja do Hospital do Espírito Santo, destruído por um incêndio. Uma
detalhes: ana claudia crispim; fotos: ©1 josé antonio moreno/keystone, ©2 ANA CLAUDIA CRISPIM
joia do século 18 totalmente pintada em tons de terracota em estilo rococó. Na v i z i n ha S chw a ng au f ic a m os famosos e imponentes castelos Hohenschwangau, casa do rei bávaro Ludwig II na infância, e o portentoso Neuschwanstein, que arrasta milhares de turistas diariamente para visitas guiadas ao seu interior. A fama se deve a dois fatos. Primeiro: foi ele que inspirou Walt Disney a criar o castelo da Cinderela. Segundo: é o resultado de todas as pirações arquitetônicas de Ludwig, que quis recriar em seus aposentos os temas de cavalaria, mitológicos, da obra do compositor alemão Richard Wagner. As vistas das janelas para o vale são lindas – o danado do rei tinha bom gosto para locações. Os aposentos são requintados e muito bem preservados, mantendo o luxo e o brilho intactos. A sala do trono tem um piso com milhões de peças de um mosaico que está protegido por uma lâmina transparente. Pena que, depois de tudo, ele teve pouco tempo pra morar lá, só meio ano. Coisa, literalmente, de doido. Do lado de fora, a melhor foto do castelo (e igualzinha a todas as outras do mundo) é feita da ponte Marienbrücke. Dá um nó no estômago ver tanta gente andando na estrutura de ripas espaçadas, de maneira que se podem perceber direitinho os 90 metros de distância que separam nossos pés do chão. Selfies lá podem sair trêmulos de medo. Landsberg am Lech, 75 quilômetros ao norte, é uma cidadezinha pacífica e silenciosa às margens do Rio Lech. Tanto que não dá pra imaginar Hitler preso ali por ter tentado dar um golpe de Estado em 1923, escrevendo um dos li-
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1 O casario bávaro em Rothenburg ob der Tauber 2 Museu da Terceira Dimensão, em Dinkelsbühl 3 Pinturas no castelo Hohes Schloss, em Füssen 4 A praça Hauptplatz, em Landsberg am Lech 5 Fachada fofa em Dinkelsbühl, uma das poucas cidades que escaparam dos bombardeios na Segunda Guerra viagem e turismo dezembro 2014
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vros mais vendidos na história do mundo: Mein Kampf (“Minha Luta”). Bom ali é ficar dando sopa na praça central, Hauptplatz, rodeada de lojinhas, ou zanzar por ruazinhas cheias de casas coloridas que mais parecem ser de Lego. Ou circundar as muralhas, aproveitando para ver as lindas vistas dos telhados vermelhos. Há de se ter coragem para encarar as pirambeiras.
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1 Estradinha margeada por girassóis 2 Vida sem preocupações no Centro de Wurzburg 3 Interior da igreja gótica Münster St. Georg, em Dinkelsbühl 4 Vista de Wüzburg, às margens do Rio Meno, a partir da fortaleza Festung Marienberg 5 Bolinhas doces em Rothenburg ob der Tauber 6 Tour bacana com o guarda noturno em Rothenburg ob der Tauber
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Dinkelsbühl, 146 quilômetros ao norte de Landsberg, é uma sobrevivente. Diferentemente de tantas cidades do país, não foi bombardeada na guerra. É original de fábrica. Medieval, murada e com 18 torres, exibe fachadas de madeira velhíssimas e jardins das casas de muros baixos impecáveis, floridos e cheios de penduricalhos. Difícil andar 100 metros sem ver uma cadeira, um fogão ou qualquer objeto velho sendo usado como vaso de flores naturais, de pano ou madeira, pra enfeitar a fachada de uma casa, a entrada de uma garagem ou a porta de uma loja. E sobram cavalos, daqueles parrudos, fazendo passeios de charrete pela cidade. Os turistas amam! O programa preferido dos visitantes é andar à toa pelas ruas cheias de lojinhas de artesanato – só é bom tomar muito (muito) cuidado pra não gastar mal o seu dinheiro com bobeiras importadas da China ou almoços em restaurantes pega-turista. Com um bom olho dá pra levar lindos enfeites de Natal e boas cervejas artesanais. Mesmo que você esteja cansado de entrar em tantas igrejas Alemanha adentro, vale a pena conhecer a simplesinha Münster St. Georg, com seu lindo teto abobadado, um belo exemplar da arquitetura gótica.
fotos: ana claudia crispim
Gótico original
Se você quiser dar um tempo no turismo alpino, a cidade abriga o Museu da Terceira Dimensão, com uma série de peças, truques e apetrechos ópticos. Má ideia para quem sofre de labirintite.
Natal e Willy Wonka
Rothenburg ob der Tauber, mais 50 quilômetros na direção norte, é a mais popular dentre as mais populares paradas da Rota Romântica! É que ela é linda mesmo: as fachadas típicas alemãs, com placas e peças de latão, brilham de dia, de noite, o tempo todo! Todo mundo pira em frente às lojas com inacreditáveis vitrines com temas natalinos, como na Käthe Wohlfahrt Weihnachtsdorf! Bonecos ou bichos de pelúcia pendurados em janelas tocam música e soltam bolhas de sabão pela ruas enquanto turistas enchem suas sacolinhas com as Schneeballen – as bolotas feitas de tiras de massa, fritas, misturadas com açúcar, chocolate, creme, geleia ou qualquer outra coisa doce. Especialidade da cidade. Japoneses (eles!) ficam hipnotizados em frente à Diller’s Schneeballen, onde há demonstração de como fazer o doce, o dia todo. Dormir lá é uma ótima decisão, porque, quando o dia vai e a noite vem, as multidões dão no pé e quem fica ganha uma cidade totalmente diferente pra si! Um programa manjado, mas, sinceramente, muitíssimo divertido é fazer o tour com um personagem da cidade, o guarda noturno (Nachtwächter). É a cara do Willy Wonka. Todo dia, às 20 horas, ele sai da prefeitura da cidade, a Rathaus, com uma lanterna na mão, conduzindo os visitantes por ruas mal iluminadas e pelas muralhas da cidade. É um sucesso.
No mesmo clima, o Mittelalterliches Kriminalmuseum é um superbem montado museu que expõe instrumentos de tortura e desenhos com todos os tipos de métodos para causar dor e sofrimento. Pra quem gosta de temas inusitados, não é perda de tempo. Nem é pega-turista.
Vinho!
A 64 quilômetros de Rothenburg – e 325 desde o início da viagem – está Würzburg, a cidade na região vinícola da Francônia que inicia o roteiro romântico – ou, neste caso, finaliza. Ironicamente, é uma cidade maior, sem aquele jeitinho de Lego que a gente tanto vê no caminho todo. Ela é famosa pelo Residenz, o grandioso palácio barroco do século 18 que servia à nobreza da região. Os 400 ambientes totalmente restaurados, cercados por jardins impecáveis, foram declarados Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Porém, o encanto de Würzburg está em sua vivacidade, sua alegria e nas ruas (com os piores músicos e estátuas humanas que vi na vida). A cidade tem uma ponte sobre o caudaloso Rio Meno, a Alte Mainbrücke. Nos dias quentes, os locais compram uma taça de vinho (de vidro), arranjam um canto nela e ficam lá, vendo o pôr do sol, ouvindo alguma música ou jogando o precioso tempo da maneira como ele deve ser desperdiçado. Essa cena pode ser apreciada lá do alto, do Festung Marienberg, a fortaleza que se ergue entre morros de videiras. O barulho da cidade fica longe, a multidão na ponte vira um grupo de formigas, e a vida passa lá, devagar, até o sol cair pintando a cidade com arquitetura barroca de vermelho. Um perfeito The End. viagem e turismo dezembro 2014
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Rüdesheim am Rhein
G A vida entre torres 1 Romantik-Schloß Burg Rheinstein Em Rüdesheim am Rhein, esse típico castelo romântico está sob os cuidados do senhor Hecher e sua família. É possível alugá-lo para casamentos – e passar a noite de núpcias como em um conto de fadas. (burg-rheinstein.de) 1 Hotel Ankar Nesse hotel na cidade de Kamp-Bornhofen, barrilzões servem de quarto para quem ficar de cara pro Rio Reno e pros castelos na paisagem. (ankerhotel.de) 1 Burg Rheinfels Construído no século 13, domina a paisagem na cidadezinha de St. Goar, uma das mais fofas ao longo da estrada B42. (st-goar.de)
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uarde este nome: Rüdensheim am Rhein (repitam comigo: rrrrü-demmms-ráinnne), um stopover a míseros 51,6 quilômetros, ou 38 minutos de carro, do aeroporto de Frankfurt. Os alemães adoram, os escandinavos descobriram faz tempo, os ingleses não saem de lá, e os orientais estão indo pela terceira ou quarta vez. Nós, brasileiros, ainda não nos ligamos que a Alemanha tem seu próprio Douro às margens do Rio Reno. Ali se cultiva a uva Riesling, que produz um dos melhores vinhos brancos do mundo – o único que presta na Alemanha. Uma das atrações de maior sucesso são os cruzeiros fluviais no Reno, irresistíveis para os aposentados do país. Há barcos para todos os gostos, inclusive para pernoitar, com varanda no quarto. Deles se podem ver as maravilhas do Vale do Reno: vilas de casas brancas nas margens, vinhedos e castelos, vários, pendurados nas montanhas, em meio à floresta. Outra opção para ver os castelos & as casinhas do Vale do Reno é pegar a B42, estrada lisinha, lisinha que liga Rüdesheim am Rhein a Koblenz, 70 quilômetros adiante. O percurso enfileira 30 castelos e paisagens de vilas & videiras do Vale do Reno que superam em muito as do trecho percorrido pelos cruzeiros. É possível também fazer caminhadas entre as íngremes vinhas com degustação. Só Deus sa-
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be como as pessoas chegam ao fim do passeio. Acho que felizes. De volta à cidade, a turma mais madura se destaca também na rua mais conhecida da cidade, a Drosselgaße, apinhada de pubs, restaurantes tocando rock dos anos 90 ou bandinhas tradicionais mandando ver numa seleção de músicas alemãs. Nas mesas dos restaurantes, outra peculiaridade local: grupos de mulheres de meia-idade, desacompanhadas, do nada, começam a cantar agitando seus copos de cerveja ou vinho. É tradição alemã: tirar uns dias com as amigas e viajar sem maridos ou filhos, para beber e rir. É, os alemães são muito sisudos mesmo. Mas, o.k., os caras têm teleféricos pra gente passear sobre os vinhedos! Um passeio clássico é subir até Jagdschloss Niederwald, hotel montanhês que já foi um alojamento para caçadores, e descer até a cidadezinha Assmanshausen de teleférico, daqueles abertos pra ir com as pernas balançando ao vento. Outro, também de teleférico, é ir até o Niederwalddenkmal, portentosa escultura feita no século 19 para simbolizar o reencontro das dezenas de antigos estados independentes após a guerra franco-alemã. Fica assentada num platô no topo da montanha, cercada por uma área ajardinada. Tudo isso faz parte do parque ecológico Osteinschen Park, que tem caverna, templo e trilhas com incansáveis vistas para o vale.
foto e detalhes: ana claudia crispim
O ponto de partida para a rota dos castelos no Vale do Reno
O RomantikSchloĂ&#x; Burg Rheinstein, um dos castelos Ă beira do rio
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Encontro de arquiteturas: os prédios em forma de guindaste no Rheinauhafen e a catedral gótica Kölner Dom
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Tem catedral gótica, a água famosa e uma goleada de boa comida
detalhes: ana claudia crispim; foto: david grigo/flickr
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trem pra Colônia sai do aeroporto de Frankfurt, e em apenas uma hora você está no coração da maior cidade da região da Renânia, ao lado da maior catedral da Alemanha, a Kölner Dom. Razão mais do que suficiente pra fazer a parada! Não interessa quantas igrejas você já tenha visto na Europa: a catedral de Colônia vai impressionar. Quem chega no final da tarde vê a silhueta das suas duas torres desalinhando o skyline baixo e regular da cidade e nunca mais vai parar de dar de cara com ela, onde quer que esteja. Ela é grande, forte, pesada, escura – só que pertinho é a própria delicadeza rendada em estilo gótico. Demorou mais de 600 anos para que sua construção fosse concluída. Colônia também tem outros ícones, como a linda ponte Hohenzollernbrücke, lotada de cadeados do amor, e a cerveja Kölsch, que vem num copo fininho e eles não param de servir enquanto a gente não colocar a bolacha na boca do copo. E Colônia é o lugar onde foi inventada a água de... Colônia! Elas podem ser encontradas onde nasceram, nas lendárias lojas Farina Haus e 4711 Haus. Lá a palavra museu ganha um significado novo. São ótimos – daqueles que dá mesmo vontade de visitar e não apenas fazer check list! Tem até o museu pra quem não gosta de museu: o Rautenstrauch-Joeste é uma grande
exposição de culturas do mundo que aborda questões de fé, comportamento, costumes e morte. Tem muita coisa pra tocar, experimentar e ouvir. É uma experiência desde o lobby, onde está um armazenador de arroz indonésio feito de vime, bambu e madeira. Tem 7 metros e meio de altura! A cara nova da cidade é o Rheinauhafen, o bairro que nasceu do esforço da revitalização de um porto largado, numa área marginal. Os predinhos de tijolos do século 19 se misturam aos edifícios de escritórios e residenciais modernos e estilosos. Retrato disso é o trio de prédios que se destaca na arquitetura local, o Kranhäuser, traduzido ao pé da letra como “casa dos guindastes”. É isso mesmo que eles parecem, debruçados em formato de L sobre o Reno. No subúrbio de Colônia, a confortáveis 40 minutos de trem, está o castelo Schlossbensberg, onde fica o Vendôme, restaurante três-estrelas (a cotação máxima) do Guia Michelin e 12 o no ranking mundial da revista britânica Restaurant. Comandado pelo premiado chef Joachim Wissler, virou o templo da chamada Nova Cozinha Alemã, que usa os ingredientes tradicionais da culinária do país em recriações criativas, minimalistas e ousadas – caso da bola de neve de foie gras com espuma de trufa e tamarilho. Show de bola – 7 a 1 pra eles.
Renânia de Todos os tempos 1 RömischGermanischesMuseum O acervo reúne peças da Antiguidade e do início da Idade Média – nos tempos conturbados em que as culturas romana e germânica se encontraram. A obra mais famosa, O Mosaico de Dionísio, que foi encontrado enterrado ali mesmo. fica no subsolo, numa sala envidraçada que dá vista para o Domo de Colônia, no térreo. É a foto perfeita. (bit.ly/germanisches) 1 Ludwig Museum A coleção permanente representa as tendências mais importantes desde o início do século 20 até hoje. Destaques para as alas de pop arte americana e alemã, pintura de vanguarda russa e abstrata. (museumludwig.de)
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Acima, lounge relax do Monkey Bar, no Hotel Bikini. Ao lado, entrada do Hhotel Weinmeister e prato do restaurante-sensação Horváth; à direita, chef do natureba Chipps prepara ovos benedict
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Boa parte dos hotéis tem investido em decorações modernetes, como o Nhow Hotel (nhow-ho tels.com; diárias desde € 88) e o 25 Hours Hotel Bikini Berlin (25hourshotel.com; diárias desde € 136), que tem um restaurante no terraço com vista panorâmica. No Mitte, o bairro descolado, o The Weinmeister (theweinmeister.com; diárias desde € 99) tem 84 quartos estilosos focados em hóspedes do cinema, da música e da moda, enquanto o MANI (amano group.de; diárias desde € 77) faz o estilo clássicocontemporâneo, com aposentos minimalistas. No ótimo Hostel One 80° (one80hostels.com; diárias desde € 63 em quarto privativo), você se sente ainda mais cool – e paga menos. E, para respirar mais arte, o
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comer E BEBER Com produtos sazonais, o Cookies Cream (cookies cream.com) é a estrela da nova cozinha inventiva. No alto da Torre de TV, o Sphere (bit.ly/Tvs phere) é um restaurantecartão-postal que gira 360° enquanto você... come! Para tomar uma boa gelada alemã em um canecão, vá ao Café Cinema (Rosenthaler Straße 39). No russo Pasternak (restaurant-pasternak.de), peça o Draniki (panqueca de batata, salmão e molho de raiz-forte), mas jamais opte pela cerveja russa. No Zur Letzten Instanz (zur letzteninstranz.de), encare um joelho de porco e, para forrar o estômago, invista no tradicional Konnopke’s Imbiss (konnopke-imbiss. de), que serve quitutes por € 1,90 debaixo dos trilhos da linha de trem. O Chipps
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(chipps.eu) é um restaurante natureba e vegetariano (que também serve carnes), com janelões altos de vidro de onde se veem executivos berlinenses chegando de bike. O Horvath (restaurant-horvath. de), estrelado Michelin do jovem chef Sebastian Frank, é uma das sensações do momento. Aos sábados, não perca o Bite Club (biteclub.de), feirinha de food trucks – dá-lhe sandubas, pizzas, doces e até porções indianas.
passear No Mitte estão os highlights mais emblemáticos: o Portão de Brandemburgo, o parque Tiergarten, os blocos de concreto do Memorial do Holocausto (stiftung-denkmal.de) e o Reichstag, prédio histórico do Parlamento. Para mergulhar mais na história do Muro, siga até o bairro de Wedding, onde está o Memorial do Muro (berli ner-mauer-gedenkstaette. de). Outros clássicos são o Museum Haus am Checkpoint Charlie (mauermu
seum.de) e o Topographie des Terrors (topographie. de), que documentam as atrocidades nazistas. Na famosa Potsdamer Platz, não perca o complexo Sony Center (sonycenter. de), e, na Ilha dos Museus, o gigantão Pergamon (smb.museum), a Neue Nationalgalerie, que tem Picasso e Renoir, e o BodeMuseum, com peças bizantinas. Outra galeria imperdível é a Sammlung Hoffmann (sammlunghoffmann.de). Para mais arte contemporânea, visite a imponente East Side Gallery (eastsidegalleryberlin.de), galeria a céu aberto com 1 300 metros de grafites. Aos domingos há um mercado de pulgas divertido no Mauerpark (mauerpark.info), bom para conjugar com uma visita ao Zoologischer Garten (zoo-berlin.de), o zoo com a maior coleção de espécies do mundo. E, no final, para se recompor da turistagem e curar a ressaca, as terapias do spa Liquidrom (liquidrom-berlin.de) caem como uma luva.
agitar Pra começar a noite em um ambiente sofisticado, vá ao Amano Bar (amano group.de). Nas margens do Rio Spree, vale conhecer o Strandbar (strandbar-mit te.de) e o Sage Restaurant (sage-restaurant.de), que tem música e comida boa à beira d’água. Para uma noite-fetiche, se jogue no KitKat Club (kitkatclub.org) vestido com uma fantasia sexual. No mais, o Watergate (water-gate.de) é para os chiques, o Chalet (chalet-berlin.de), para os low-profiles, e o Berghain (berghain.de), para a galera da música eletrônica.
comprar A Do You Read Me?! (doy oureadme.de) é uma livraria incrível com publicações de mais de 20 países. Mas, se o seu negócio é loja, siga para Charlotternburg, que tem a famosa KaDeWe (kadewe. de), que vende de tudo, o shopping-tendência Bikini Berlin (bikiniberlin.de) e o gigante Europa Center (europa-center-berlin.de).
fotos: divulgação
alemanha >49 Berlim >30
Arte Luise Kunsthotel (lui se- berlin.com; diárias desde € 80) é um hotel-galeria que ocupa um prédio de 1827 onde cada quarto foi desenhado por um artista.
alemanha
À esquerda, aperitivos no Lila Soße, em Dresden, e terraço do Hotel Goldener Hirsch, em Rothenburg ob der Tauber; acima, joelho de porco do Augustiner Bräustuben, em Munique; à direita, o QF Hotel, em Dresden
Nuremberg >911
O Eden Hotel Wolff (edenhotel-wolff.de; diárias desde € 148) mescla uma vibe clássica com móveis de madeira. Mais luxuoso, o Bayerischer Hof (bayerischerhof.de; diárias desde € 336) tem um restaurante estrelado Michelin. Considere o popular mercado Viktualienmarkt (viktualienmarkt.de) e as cervejarias Hofbräuhaus (hofbraeuhaus.de) e Augustiner Bräustuben (au gustiner-braeu.de), onde também se degustam bons joelhos de porco.
O Sheraton (sheratonnurenberg.com; diárias desde € 149) tem ótimos quartos em estilo clássico-executivo, e o Best Western (bestwesternnuernberg.de; diárias desde € 59), um bom custo/ benefício. E não perca os museus: o Neues Museum (nmn.de), para arte contemporânea, e o Germanisches Nationalmuseum (gnm.de), para cultura alemã.
fICAR E passear
Dresden >351
ficar e passear
ficar E passear
Rüdesheim am Rhein >6722 ficar e passear
O Jagdschloss Niederwald (niederwald.de; diárias desde € 95) é um hotel montanhês com teleférico. Para uma experiência mais tradicional, invista no Lindenwirt (lin denwirt.com; diárias desde € 83). Agende online o passeio pelas vinhas (bit. ly/wineexp).
O QF Hotel (qf-hotel.de; diárias desde € 189) é contemporâneo e clean, e o hotel-butique Swissôtel Dresden (swissotel.com; diárias desde € 139) ocupa um prédio histórico. Entre os museus, a Galerie Neue Meister (skd.mu seum) é imperdível. Para comer bem, vá ao Lila Colônia >221 Soße (lilasosse.de), que ficar e passear tem aperitivos em potes. O Hilton (placeshilton.
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com; diárias desde € 93) fica próximo das principais atrações. Se puder abrir o bolso, vá ao Vendôme (bit. ly/rvendome), o melhor restaurante do país.
com) voa para Frankfurt desde US$ 1 208 e para Munique desde US$ 1 463. Já a TAM (tam.com.br) só voa direto para Frankfurt, desde US$ 1 222. Para explorar o interior, opte pela Lufthansa, que leva às ciRota Romântica ficar dades menores com apeEm Füssen, o Luitpold- nas uma escala. park (luitpoldpark-hotel. de; diárias desde € 119) faz QUEM LEVA o estilo clássico com mó- A New Age (newage.tur. veis coloridos. Em Lands- br) tem seis noites com berg, o Schafbräu (scha guia em português em fbrau.de; diárias desde Frankfurt, Freiburg, Füs€ 55), no topo de um prédio sen, Garmisch-Partenkirresidencial, tem um dono simpático e um restaurante no térreo. Em Rothenburg, o Goldener Hirsch (hotelgoldener-hirsch.de; diárias desde € 55) tem quartos bem amplos.
QUANDO IR A alta temporada vai de junho a setembro, quando as temperaturas estão agradáveis e a vida acontece ao ar livre. Entre março e maio há menos gente e o clima está bom.
A Lufthansa (lufthansa.
150 km
0
1 cm
N
ALEMANHA Dresden
Colônia
Rüdesheim am Rhein
Frankfurt
Würzburg
Rothenburg ob der Tauber Dinkelsbühl
FRANÇA Landsberg am Lech Schwangau
COMO CHEGAR
0
Berlim
HOLANDA
BÉLGICA
chen e Munique por US$ 2 712. A mesma operadora tem roteiro de 11 noites, passando por Frankfurt, Colônia, Berlim e outras por US$ 3 760. Especialista em Alemanha, a TT Operadora (lufthansacc.com) vende 11 noites em Frankfurt, Colônia, Hamburgo, Berlim, Friburgo, Füssen, Garmisch-Partenkirchen e Munique por € 1 995 (sem aéreo). Com a Século XXI (seculoxxi.com.br), o city pack de quatro noites em Berlim custa US$ 1 286.
SUÍÇA
REPÚBLICA TCHECA
Nuremberg
Rota Romântica
Munique Füssen
ÁUSTRIA
fotos: divulgação
Munique >89