Centro polĂtico
1
Centro
político
Trabalho Final de Graduação
Pâmela Rodrigues Castro Antônio Fabiano Júnior orientador
Vera Luz
Coorientadora
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Maria Eliza de Castro Pita | Antônio Carlos Barossi
Banca Examinadora
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Pontifícia Universidade Católica de Campinas Dezembro de 2017
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Um espaço do encontro como lugar da conquista. É um projeto lefevbriano na proposição de desenhar a “inscrição do tempo no mundo¹”. É a construção de responsabilidade na procura por uma manifestação cultural enquanto expressão coletiva; política, na busca pela possibilidade do encontro e liberdade de regulação social e econômica com o valor da troca, lugar de simultaneidade e encontro, onde esta não é subordinada ao comércio e ao lucro. A cidade, mais do que o locus privilegiado de explosão de manifestações, é objeto de contestação e luta, na medida em que amplificam e transformam as contradições social e econômica constantes. Um vazio e um plano inclinado expressam a latente necessidade do desejo no encontro com o outro no lugar que sempre foi nosso espaço comum: a própria cidade. ¹ LEFEVBRE, Henri. “Direito a cidade”. São Paulo: Editora Centauro, 2001.
Antônio Fabiano Júnior 4
ao Norte, meu norte
À Deus, por nunca me descer do seu colo À painho, por me ensinar a ler o mundo mesmo faltando letra, À mainha, por permitir que eu me tornasse teimosa como ela e por me ensinar a ter coragem e força de vontade pra viver Ao meu irmão, por me lembrar de onde vim e para onde vou À minha irmã, por abrir caminho para que meu trajeto fosse mais fácil À Lulu e Gui por sorrir e iluminar meu mundo À Rep. Alpha pelo amadurecimento coletivo e pela saudade compartilhada Aos amigos Carol T, Gustavo, Heitor, Lucas e Patrícia, por estar junto. À Carol, Desiré e Virgínia, por compartilhar conhecimento e companheirismo, aprendendo junto durante esses cinco anos. Aos professores Bia Brandão e Fábio Boretti por me ajudarem a encontrar o prumo. Ao Jassa, Rafa, Alê, Fláucia, Rosana e Dagô pelas referências e compreensão ao longo dos últimos meses. Ao grupo de tfg que ao longo desse ano transformou cada experiência em conhecimento novo À Vera Luz por ser luz e loucura nesse aprendizado E ao Tonho, orientador e norte, por me ensinar, linda e delicadamente, a alinhar o traço e desalinhar o mundo. Á Bahia inteira, por se lugar forte. À Pindaí pelo forró e São João. À Guirapá pelas ruas de terra, por São Sebastião, pelas calçadas, pela seca, pela gente forte e por ser mãe terra. À fazenda Cachoeira pelo quartinho de barro feito por mãos fortes, pelo curral e pela cocheira de pneu, pelo pé de laranja e pelo “pé de Juá”, pelo balanço, pelas flores amarelas de “sombra de ovelha”, pelos umbuzeiros, pelas amizades, e por estar em mim, mesmo eu não estando mais lá. 5
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08 Manifesto 10 Tempo
da Grécia... ...ao Jardim Vera Cruz
21 Justificativa
O Jardim Vera Cruz Espaço O centro político
32 Programática 44 Constructo 50 Infraestrutura 54 Considerações Finais 55 Referências Projetuais 80 Referências
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Então a gente mudou a ordem das coisas, a gente mudou a forma das pessoas pensarem essas, né? Aí você começa a transformar a sua periferia. Nós passamos uma época que o Jardim Ângela foi tido como o lugar mais violento do mundo. E era terrível morar no Jardim Ângela, porque você amava esse lugar... e pra eles, da mídia, passou da ponte era tudo Jardim Ângela... E você amar um lugar, você saber que ele é violento mas ele não é aquela violência que eles vendem... Você amar, crescer ali, você ter uma vontade terrível de sair dali, mas tem uma vontade terrível de ficar lá e fazer alguma diferença, e você nunca conseguir ter ideia de como fazer isso. E de repente nós começamos a fazer isso: periferia passou a ser um lugar de referência pra nós, pra outras pessoas e as pessoas reconhecerem isso. (Márcio Batista em entrevista em 25 de julho de 2011, apud NASCIMENTO, 2011)
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As inquietações que deram origem ao projeto nascem das vozes do território. Um lugar desacreditado na política partidária, mas que faz política no grito; distante de políticas públicas urbanas, mas que cria suas próprias alternativas, sobrevivendo em meio ao caos. Essas questões começaram a se colocar desde as primeiras vivências urbanas e foram se complexificando gradativamente conforme se seguia uma trajetória investigativa e diagnóstica. Acredito que a política só se faz eficaz quando coletiva e oposta à descentralização, permitindo discussões espontâneas, manifestadas no rap dos MC’s, em apresentações de coletivos, ou panfletos impressos... desde que represente o indivíduo na sua coletividade. A escolha do tema do projeto partiu, então, dessas observâncias e pelo entendimento da política como algo inerente ao homem, exclusivamente público e, extremamente necessário. A linha que conduz o estudo e o desenvolvimento do projeto pauta-se nas relações urbanas e coletivas, e no próprio indivíduo como ser pensante, empoderado e formador de opinião. É um projeto de declaração pública de fundamentos. Como todo manifesto assim o é. Dessa maneira, o indivíduo é detentor e dominador do espaço, público por natureza! Foto: Mídia Ninja. Movimento das ocupações das Escolas públicas em São Paulo, 2016. 9
TEMPO da Grécia...
10 Ilustração: Catarina Bessell
A palavra política deriva do grego polis, cidade como agrupação ordenada dos cidadãos livres e diferentes que se auto organizam na política para atuar no mundo. Cabe destacar, portanto, a estreita relação entre política e cidade sem suas raízes, e tal como escreveu Aristóteles em Política “a cidade é, por natureza, uma pluralidade; a cidade está composta não somente por indivíduos, mas também por elementos especialmente distintos, uma cidade não está formada de partes semelhantes, já que uma coisa é a cidade e outra coisa é uma SYMMANCHI (simples aliança)”. (MONTANER; MUXÍ, 2011)
A cidade vista como um todo coletivo parece ser, de fato, uma contribuição da Grécia Clássica. O crescimento de consciência cívica era expressado arquitetonicamente no conjunto da cidade com edifícios grandiosos e monumentais dedicados a funções políticas, religiosas e mercantis que serviam a comunidade. O papel de centro irradiador de toda a cidade era realizado pela ágora, atribuindo à cidade uma forma humana, o próprio “corpo político” refletindo a ideia do homem como medida de todas as coisas. É na Grécia que pela primeira vez na história humana o ser político institucionalizado é posto em prática como resultado de uma reflexão consciente e deliberada. Segundo Lemos (2016) o impulso ao planejamento e a racionalização da vida social era, pois, a pedra angular da sociedade grega já a partir do século VII a.C., data em que se acredita terem sido estruturadas as primeiras polis no Mediterrâneo. Para o grego há, na vida humana, dois planos bem separados: um domínio privado, familiar, doméstico (o que os gregos denominam economia), e um domínio público que compreende todas as decisões de interesse comum, tudo o que faz da coletividade um grupo unido e solidário, uma pólis no sentido próprio. No quadro das instituições das cidades – esta cidade que surge precisamente entre a época de Hesíodo e a de Anaximandro – nada do que pertence ao domínio público pode ser mais regulamentado por um indivíduo único, mesmo que ele seja o rei. Todas as coisas “comuns” devem ser o objeto, entre os que compõem a coletividade política, de um debate livre, de uma discussão pública, pela luz da ágora, sob a forma de discursos argumentados. A pólis pressupõe, pois, um processo de dessacralização e de racionalização da vida social, são os próprios homens que tomam em mãos seu destino “comum”, que decidem dele após discussão. O logos, instrumento desses debates públicos, toma então um sentido duplo. De um lado, significa a palavra, o discurso que pronunciam os oradores na assembleia, mas significa também a razão, esta faculdade de argumentar que define o homem como não simplesmente um animal, mas como um “animal político”, um ser racional. (VERNANT, p. 249-250 apud. LEMOS, 2016) A política, para o grego, é o ponto norteador de toda a vida humana, uma vez que é considerada inerente ao homem. E de fato é. Os atos políticos acontecem naturalmente, porque somos efetivamente animais políticos. Quando pessoas marginalizadas ocupam determinados lugares na sociedade, espaços inVISIVELMENTE demarcados para uma minoria privilegiada, se faz política. Quando um negro canta um samba e luta capoeira, se faz política. Separar o lixo é um ato político, ser mulher e sobreviver é um ato político, ouvir Criolo, Emicida e Mano Brown é uma ato político... Porque pra fazer política basta estar vivo, e para estar vivo é preciso ser político por excelência. 11
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Manifestação popular zona sul de São Paulo, 2013
Diferentemente das cidades gregas e sua organização no entorno de grandes edifícios monumentais, a periferia é a cidade informal que se desenvolve espontaneamente buscando encaixar as edificações em locais menos íngremes e mais seguros. No entanto, a política aqui também se desenvolve a partir da pólis, que, muito além da informalidade, busca uma racionalização dos contextos sociais, sendo ela seu ponto norteador, porque afinal o homem não é um animal político por excelência? As primeiras grandes e significativas abordagens que influenciaram a compreensão do tema periferia deu-se por meio dos movimentos sociais nos anos 1970 e 1980 envolvidos pelo intenso clima política das “diretas já” e da luta pela volta da democracia após um longo período de ditadura militar. A partir dos anos de 1990 essas abordagens começam a aproximar-se do campo cultural, sendo intensificado pelo surgimento de grupos de rap com músicas que fazem críticas direitas à sociedade representado, principalmente, pelos Racionais MC’s - grupo brasileiro de rap, fundado em 1988, e formado por Mano Brown e Ice Blue, ambos da zona sul e Edi Rock e o dj KL Jay provenientes da zona norte. Filhos de áreas excluídas, cada um de um ponto extremo da cidade, se juntando para falar de mesmas realidades provenientes do território mesmo quando esses são distantes. Os grupos de rap surgem como um escape do destino destrutivo e do genocídio da maioria dos jovens periféricos, reflexo do racismo e da miséria periférica. O movimento rap cresce, e as rimas tornam-se hinos entre os jovens. A partir dos anos 2000 esse crescimento atinge outros tantos setores culturais, amparados por ONG’s que começam a atuar nas periferias e também por políticas públicas fortemente implantadas no início do lulismo. A ideia de política na periferia tem, desde então, se afastado cada vez mais dos ideários partidários e dos discursos de “palanques”, talvez por uma descrença na política convencional que nunca resolveu estruturalmente a realidade do lugar. Nesse argumento, “o aumento do número de coletivos que produzem cultura seria uma forma de fazer política por meio da cultura e seria um desdobramento da crise de participação política vivida atualmente e da descrença na política institucional” (D’ANDREA, 2013).
...à periferia
Imagem: Folha uol, 2013 13
14 Ato contra a reforma da previdĂŞncia, 2017
Dessa maneira, a movimentação e a produção cultural empreendida por artistas periféricos podem ser estratégicas para a análise do posicionamento político atual. Pois são esses atores que vêm ganhando novamente centralidade na cena política, apresentando outras questões e demandas que se diferenciam daquelas tidas como tradicionais (como infraestrutura e serviços), reivindicando políticas públicas específicas para a área cultural e estabelecendo conexões tanto entre sujeitos periféricos como também entre estes e representantes dos chamados centros geográfico, políticos e cultural. (NASCIMENTO, 2011) Segundo D’Andrea, morador da periferia da Zona Leste de São Paulo, em sua tese de doutorado “Formação dos sujeitos periféricos: cultura e política na periferia de São Paulo”, os moradores dos bairros pobres passaram a fazer política voltando-se para criação de coletivos e manifestações artísticas: “a explosão dessas atividades nas periferias teria sido induzida e estimulada por partidos e movimentos sociais de esquerda que perceberam que as antigas formas de fazer política, baseada em reuniões, discursos e palavras de ordem, já não mais faziam eco. Os trabalhos de base, protestos e atos eram cansativos e monótonos. Percebendo a reprodução de um certo fazer militante que já que já estava superado, buscaram trazer a produção artística para dentro de coletivos militantes e incentivaram a criação de coletivos de produção de arte que por meio da arte fizessem política. Discutem, a partir de novas práticas, o dirigimos e o verticalismo presentes em algumas organizações, não necessariamente superando-os. Nessas organizações, quase sempre as atividades artísticas são organizadas de maneira instrumental e quase sempre se observa a arte como um apoio à luta política. Constata-se também que a periferia fervilha por meio da produção artística e que fomentar também essa produção é um modo de trazer pessoas para a discussão política.” (D’ANDREA, 2013)
Com o surgimento dessas novas discussões “desloca-se as disposições de poder” (HALL, 2003), por meio de pressões políticas culturais que resultam em novas posições de sujeitos, criando novas identidade. A identidade aqui é vista, segundo a conceituação de Hall (2003) apresentada em seu livro “Da Diáspora: identidades e mediações culturais”, como um ponto de encontro e sutura de discursos e práticas, de um lado; e dos processos que produzem subjetividades, do outro. Ou seja, a identidade é aquilo que o sujeito se torna, não o que ele é. Sendo assim, as identidades são fragmentadas e fraturadas, e construídas ao longo de discursos, práticas e posições, que estão em constante processo de mudança. Dessa maneira as discussões políticas são formadoras da identidade do sujeito e deve ser tomada pelo ponto de vista cultural representando muito mais a realidade concreta, onde o indivíduo se autorrepresenta e expõe como os moradores pensam tanto coletivamente quanto como sujeito frente aos contextos urbanos. Imagem: Folha uol - Mídia Ninja, 2017 15
Manifesto da Antropofagia Periférica Sérgio Vaz
16 Ilustração: Catarina Bessell
A periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado[...] A arte que liberta não pode vir da mão que escraviza. A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar, Do teatro que não vem do “ter ou não ter” Do cinema real que transmite ilusão. Das artes plásticas, que, de concreto, quer substituir os barracos de madeira. Da dança que desafoga no lago dos cisnes. Da música que não embala os adormecidos. Da literatura das ruas despertando nas calçadas. A periferia unida, no centro de todas as coisas. Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala. Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala. É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que armado da verdade, por si só exercita a revolução. Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona. Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural. Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado. Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles? “me ame pra nós!” Contra os carrascos e as vítimas do sistema. Contra os covardes e eruditos de aquário de aquário. Contra o artista serviçal escravo da vaidade. Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada. A arte que liberta não pode vir da mão que escraviza. Por uma periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor É tudo nosso! 17
18 Imagem: Ato pelas “Diretas Já!”, São Paulo 1974
19 Imagem: Ato pelas “Diretas Já!”, São Paulo 2017
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Imagem: Acervo do individual
JUSTIFICATIVA o Jardim Vera Cruz..
“A democracia é uma aspiração. Exige, portanto, atenção e luta diária para ser alcançada”. Judith Butler, palestra proferida no Sesc Pompeia em 07 de novembro de 2017 No Jardim Vera Cruz não existe uma palavra de ordem superficial mas muitas vozes que juntas gritam por uma qualidade de vida minimamente aceitável. Sons que soam como luta contra uma realidade anti urbana, contra a violência de ausência do Estado e contra a precariedade da vida. Algumas poucas vezes essas vozes são atendidas, outras tantas, não. A violência da periferia é uma reação violenta à sociedade violenta. Esse barulho nasce nas reuniões informais e é personificado em pessoas como a Maria dos Anjos, líder comunitária local e participante ativa de discussões diante do poder legislativo municipal, sendo reconhecida pela militância e força comunitária. No entanto, apesar de todo o empoderamento político-social há ainda uma visível desestabilização na organização dos movimentos sociais, talvez pela simples descrença no poder popular, ou pelo sentimento de impotência frente as questões políticas mais amplas. Diante disso, e diante da atual conjunta política do país, nada é mais óbvio do que a necessidade de se discutir e questionar a política e como ela é dirigida. Mas, entendo que ela não necessariamente deve se limitar a discursos vagos, monótonos e palavras de ordem. É preciso ir além! É preciso entender que a política deve ser discutida a partir de atos, de discussões simples e expressivas, não se limitando a uma reunião numa garagem no subsolo, mas aberta. É preciso discutir política no ponto mais alto da pólis, ecoando e multiplicando as vozes, no lugar mais público possível, sob ou sobre uma cobertura, sentado no chão ou na pequena ágora. É preciso discutir. dis·cu·tir 1 Debater, examinar, investigar, tendo em vista provas e razões pró e contra. 2 Fazer contestação. Diante dessa necessidade de fazer política, e de se fazer político enquanto cidadão-sujeito-periférico, que nasce a necessidade do projeto. Lugar público, pensado a partir da ideia de subversão da tradicional política partidária, lugar voltado para a cidade informal e seus acontecimentos. Espaço da liberdade. De ir, vir, falar e ser ouvido. Lugar de encontrar seus pares, de entender o sentido de sociedade. Olho do furacão de mudanças sociais. Vazio potencial para mudanças sempre. 21
Localização
Distrito Jardim Ângela São Paulo
Jardim Ângela Represa Guarapiranga Jardim Ângela 22
Projetos
1 - Sutura - Adriana Abdala 2 - Polo ambiental para jovens - Beatriz Michelazzo 3 - Conviver - Camila Borges 4 - Espaço de paz - Danilo Maia 5 - Projeto Ser - Gabriel Ramires 6 - Calor da Rua - Helder Ferrari 7 - Projeto cuidar - Isabelle Cocetti 8 - Educar entre jardins - Kaena Justo 9 - Projeto Navegar - Maria Clara 10 - Casa Atemporal - Marjolijn Vrolijk 11 - Pátio das Expressões - Paloma Rodrigues 12 - Centro Político 14 - Farol da Comunidade - Patrícia Desenzi 15 - Sobre Trilhos - Pricila Franco 16 - Píer do Sol - Vivian Helena
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Espaço Para nós, a periferia é um país
Sérgio Vaz
O vazio escolhido para implantação do projeto já havia sido predicado como “centro cívico” nas diretrizes do projeto urbano desenvolvido no primeiro semestre do presente trabalho. Sua localização estratégica, ao lado de um Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) e próximo à uma das avenidas de principal conexão do bairro (Avenida dos Funcionários Públicos) e fácil acesso ao bolsão de ônibus coletivo, permite criar eixos e conexões importante para o bairro. A construção da escola criou um enorme platô nivelando o topo do morro. É nele que o projeto se insere. O lugar é o ponto de partida para a criação de uma grande praça, palco para acontecimentos e arquibancada para a cidade informal que acontece na encosta, logo abaixo do (seu) Centro. Outro ponto norteador para o projeto é o fato do terreno de implantação ser um dos pontos mais altos do bairro. A partir dele é possível visualizar a Represa Guarapiranga e o infinito horizonte além dela. O Centro Político não tem a intenção de modificar a paisagem, muito menos impor visualmente um marco referencial. Muito pelo contrário, a intenção é criar espaços delicados e sutis que acontecem ao longo da praça e se conectam a partir da coletividade, sendo a cidade e os indivíduos habitantes o grande palco e detentor dos melhores e mais significativos acontecimentos.
1 - Escola Municipal de Ensino Fundamental (CEMEI) 2 - Local de implantação do centro 3- Proposta de trajeto para bolsão de ônibus, segundo plano urbano. 24
da d
Aven i s Pú blicos
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1
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O centro político A noção de espaço no centro político, aqui desenvolvido, é vista como continuação do tecido urbano. Para criar essa continuidade pensou-se em rampas que descolam da rua, agora sem hierarquização entre pedestre e veículos sendo compartilhada conforme diretrizes do projeto urbano. Para vencer o desnível de 3 metros entre praça e rua cria-se pequenas praças em níveis intermediários criando relações espaciais distintas. O desnível de vinte e um metros entre o nível mais baixo da avenida dos funcionários e a praça projetada é vencido através de um funicular de via dupla que se move no plano inclinado por meios de cabos a partir do contrapeso entre as duas cabines em sentidos opostos. Esse funicular tem função urbana por permitir o acesso direto entre uma via de acesso importante e a CEMEI, além do próprio centro. É um projeto de circulação urbana, por se tratar de um ponto urbano, por excelência. Fluxos escola e centro político Os espaços são pensados para o grande público que quer gritar e se reunir rumo à Av. Paulista para gritar contra o genocídio dos jovens negros. Mas também é pensado para quem quer falar baixo, pensar sobre si enquanto indivíduo. Espaço de escuta e fala. A cobertura inclinada que sai do chão do nível 794 é sombra, mas também luz, porque as discussões e decisões da ágora devem ser iluminadas e transparentes. Nenhum ponto construído é fechado em si, porque busca-se abrir e tonar público cada fala. Dessa maneira, ao mesmo tempo que o constructo é sutil com relação à topografia, permite que seja anunciado, ainda que em pequenas frestas. Ele se anuncia e repousa. Da sombra e acolhimento. Apoio e abertura.
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Rua Carlo Caproli
a aul aP
Ru
Avenida dso Funcionários Públicos
s me Go
Implantação sem escala
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A
PROGRAMĂ TICA B
B
C
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C
A
Planta cobertura sem escala
Painel solar 5
B
A
7 6
4 3 1
2
1 Grêmio estudantil
B
2 Salas de apoio 3 Banheiro 4 Comedor 5 Biblioteca 6 Gráfica
C
C
A
7 Reciclagem
“a obra de arquitetura concretiza a síntese entre o pensamento do arquiteto (ainda que abstrato ideológico) e a realidade. Uma realidade que é antes de mais nada a condição geográfica: a arquitetura transforma uma condição de natureza numa condição de cultura. Essa transformação modifica um equilíbrio espacial existente num novo equilíbrio. O encontro entre o mundo ideológico do pensamento, o mundo abstrato do desenho e o mundo da realidade é também encontro com uma situação histórica, com uma entidade cultural, com uma memória da qual o território está impregnado e que, julgo, a arquitetura deve reler e repropor através de novas interpretações, como testemunho das aspirações, das tensões, das vontades de mudanças do nosso tempo.” Mario Botta, 1996 Considera-se o centro político não apenas o espaço construído, mas toda a área de praça criada na proximidade da CEMEI que caracteriza o projeto como espaço urbano com diferentes percepções e usos. Dessa maneira o centro é dividido em três seções âncoras: a praça conectora, a cobertura que abriga a arquibancada, e o “braço” onde se desenvolve os apoios específicos. Embora sejam espacialmente contínuos, os espaços diferenciam-se devido a percepção do indivíduo e do uso.
Planta nível 791 sem escala
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C
C
Ampliação trecho planta de cobertura sem escala
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C
Ampliação trecho planta nível 791 sem escala
C
A cobertura destina-se à exposições e discussões mais amplas, quando se faz necessário um espaço maior, sendo possível a adaptação do lugar a partir de mobiliários ou fechamentos de tecido utilizando-se da modulação dos pilares de modo a criar diferentes ambiências.
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O “braço”, implantada no nível 791,00, é onde se desenvolvem as questões práticas do programa. No primeiro momento tem-se um espaço de apoio aos estudantes da CEMEI, implantada na praça do conjunto, funcionando como grêmio estudantil para dar suporte aos alunos e possibilitar as mais diversas discussões e produções culturais. É a casa estudantil, o braço político de luta contra uma possível escola sem partido. Em seguida propõe-se uma sala com dimensões maiores como apoio para as extensões dos cursos de direito e ciências sociais das universidades, segundo proposto na concepção do projeto, e para a realização de discussões ou reuniões mais contidas. A sala pode ser dividida a partir de uma cortina de tecido com estrutura simples conforme a necessidade de uso. Além dos espaços citados, são propostos um comedor coletivo (espaço de trocas coletivas diárias) e uma biblioteca (guarda de textos históricos sobre cidade e política), ambos de caráter público. “O direito à leitura é imprescindível, pois é a chave para o acesso a todos os outros direitos”. (MARQUES NETO, 2016, p. 28). Logo à frente da biblioteca cria-se uma pequena gráfica. A intenção é que ali possa ser impresso livros concebidos pela comunidade contendo manifestos, poesias, raps ou qualquer outra produção intelectual, além de cartazes, lambe-lambe, panfletos e jornais, que possam ser espalhados pelo bairro e quem sabe por toda a cidade, a fim de expor o que é produzido pela periferia, extrapolando os limites sociais e territoriais impostos pela cidade formal. A cidade fala e precisa ser lida. Cria-se espaços para que as pessoas se reconheçam e, assim, criam-se pessoas que ocupem esses espaços. Ao lado da gráfica tem-se um ponto de reciclagem para coleta de papel, plástico e lixo orgânico. Aqui pretende-se elucidar de onde vem e para onde vai o papel utilizado na gráfica, expondo o processo cíclico do pensar-discutir-escrever-publicar-reciclar, o que também é um ato político por si. Para facilitar o depósito de lixo evitando que seja exclusivamente necessário a entrada das pessoas no edifício pensou-se em aberturas que dão direto para a rua, na altura do espectro visível do pedestre, possibilitando um descarte rápido e eficaz. Ainda no nível 791,00 implanta-se algumas duchas coletivas de uso público. A praça é a continuidade da rua e da cidade. Conforme predicado no projeto urbano, todas as ruas locais, ou seja, aquelas que não serão rota dos ônibus, deverão ser compartilhadas, sem hierarquização de espaço entre pedestre e veículos. Dessa maneira os acessos para o centro político são realizados pela continuação da rua, a partir de rampas, escadas e platôs em diferentes níveis, criando conexões e transpondo o talude de 3m que antes era uma barreira entre rua e a praça, além de interligar espacialmente a escola e o centro político. Assim cria-se, ao mesmo tempo, um palco, tendo como arquibancada a própria cobertura que se estende do solo, e uma arquibancada que tem como palco a cidade informal e todos os seus acontecimentos.
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7
6 5
B
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2 1 1 Grêmio estudantil 2 Salas de apoio
B
3 Banheiro 4 Comedor 5 Biblioteca 6 Gráfica
Ampliação trecho planta nível 791 sem escala
7 Reciclagem
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A
Ampliação A trecho do corte Sem escala A
Corte AA38 Sem escala
B
B
Ampliação B trecho do corte Sem escala
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A
A
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Corte BB Sem escala
B
B
Corte CC Sem escala
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Constructo Para escolha do constructo utilizou-se como critério a possibilidade de racionalizar a construção, baixo impacto ambiental, baixo valor econômico e facilidade para execução, optando pela madeira utilizada como principal elemento estrutural. A princípio foi criada uma malha modular principal de 6mX6m e uma secundária de 3mX3m seguida em todos os espaços construídos permitindo a racionalidade no corte das peças e no seu dimensionamento. Como método construtivo de apoio da cobertura inclinada optou-se por pilares em árvore com tronco em seção dupla 6cmX16cm e hastes em seção única de mesma dimensão. Buscou-se, ao utilizar pilares em árvores, diminuir o vão entre os apoios permitindo a utilização de vigas comerciais 6cmX16cm, uma vez que os pilares distam 6m entre eixos, e as hastes possuem 1,5m de abertura (entre o eixo do pilar e ponta da haste) criando um vão de 3m entre os apoios das vigas.
Pilar árvore
Conexão pilar-fundação
Haste Madeira 6x16cm
Chapa metálica conexão pilar - fundação
Chapa metálica conexão pilar - fundação
Cantoneira metálica Madeira 6X16 Pilar duplo
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Armadura de vergalhão Bloco de concreto
A cobertura é composta por módulos de 1,5mX1,5m de ripas de madeira (2,5cmX6cm) apoiadas sobre caibros (6cmX6cm). A junção de 4 desses módulos formam um módulo estrutural de 3mX3m, que são apoiados sobre as vigas. A distância entre as ripas são 1,5cm e cada um dos módulos menores da cobertura possuem suas ripas dispostas em um sentido. Dessa maneira ao formar o módulo estrutural cria-se uma iluminação natural compositiva. A proposição da cobertura com ripas de madeira distante entre elas permite a utilização da iluminação natural, além da composição luz e sombra, no entanto não protege o espaço da chuva. Dessa maneira é necessário utilizar alguma alternativa de proteção, sendo escolhida uma telha translúcida de policarbonato que possibilita a entrada de 80% da luz natural. As placas de telha são fixadas nas vigas longitudinais e abaixo dos módulos de cobertura.
Distância entre ripas: 1,5 cm
Ripas 6cmX2,5cm
Direção opostas das ripas
5
0,7 5
0,7
Caibros 6cmX6cm 0
1,5
0
1,5
45
Para evitar infiltração de água entre a telha e as vigas transversais são colocado rufos ao longo de todas as placas fixados com silicone impermeável.
Ripa 6X2,5cm Caibro 6x6cm
Silicone
Viga madeira 6x16cm Rufo metálico Telha translúcida
Conexão em corte telha translúcida e viga de madeira através de rufo
Ripas 6cmx2,5cm
Caibro 6cmx6cm módulo estrutural Viga madeira 6cmx16cm
Conexão em perspectiva telha translúcida e viga de madeira através de rufo 46
Telha translúcida Rufo metálico
Viga madeira 6cmx16cm
Alvenaria estrutural - blocos de tijolos cerâmico maciço (24cmx10cmx5cm)
Fechamentos com ripas de madeira (6cmx2,5cm)
Pilares duplos (6cmx16cm)
Muro de arrimo em pedra
Pilar árvore
Viga (6cmx16cm)
Vigas 6x16cm
Viga (6cmx16cm)
Vigas 6x16cm
Laje maciça concretada junto às vigas de madeira Telha metálica trapezoidal
Trama estrutural da cobertura 47
O “braço” possui como sistema estrutural pilares de madeira compostos distantes a cada 3m e vigas 6cmX16cm. Esse sistema de pórtico é utilizado apenas como estruturante para a cobertura em telha metálica trapezoidal. Os demais espaços construídos são de alvenaria estrutural em tijolo maciço (24cmX10cmX5cm). Para execução da laje da gráfica e ponto de reciclagem foi utilizado um sistema de laje de concreto moldada in loco e viga de madeira, permitindo aumentar o vão de 8% suportado pela madeira, aliando os dois sistemas estruturais. Esse sistema é bastante engenhoso, uma vez que utiliza as vigas de madeira onde há forças de tração sobre o concreto, evitando o tracionamento da laje e permitindo aumentar a distância entre os apoios. Laje de concreto moldada in loco h=12cm
Tela metálica para parafusagem e aderência do concreto à madeira
Viga madeira 6cmx16cm
Os guarda-corpos necessários para proteção dos indivíduos também segui a lógica da facilidade de execucação e utilização de materiais economicamente viáveis. Dessa maneira propõe-se duas situação de guarda corpo. O primeiro deles localiza-se na borda inferior da grande cobertura. Placa metálica - estrutura para banco que compõe o guarda corpo Vergalhão Táubua madeira (35cmx6cm) abraçadeira metálica conexão vergalhão-caibro
Modelo guarda-corpo 1 - corte 48
Na tentativa de evitar que se transforme numa barreira visual pensou-se em diminuir a altura, agora com 75cm, e criar algo visualmente limpo utilizando uma estutrura simples em vergalhão. A proteção é aumentada ao criar um degrau, distante 50cm da base do guarda corpo, com altura de 40cm na sua face mais alta. O degrau passa a ser, então, um banco para olhar à cidade. O degrau/banco é feito utilizando barras metálicas na transversal e superfície em tábuas de madeira 35cmx6cm
O segundo modelo de guarda corpo insere-se na borda mais alta da cobertura. Com uma altura maior, 90cm, para aumentar a segurança, utiliza-se o mesmo princípio do primeiro modelo: vergalhão e madeira como estrutura. Aqui também cria-se um banco ao longo do corrimão. A estrutura é composta por placas metálicas na transversal e tábuas em madeira, 35cmx6cm na superfície do assento. O encosto do banco, torna-se o próprio corrimão que é acrescido de ripas de madeira verticais ao longo de sua esturtura. Nos locais onde existe o banco as ripas possuem um espaçamento menor entre elas, 5cm. Nos outros lugares o espaçamento varia tornando-se maior conforme se afasta do “mobiliário”
Vergalhão
Base metálica conector entre vergalhão e estrutura
Modelo guarda-corpo 2 em corte
Ripa de madeira 6cmx2,5cm
Tábua de madeira 35cmx6cm Placa metálica
Vergalhão Ripas de madeira 6cmx2,5cm Placa metálica
Modelo guarda-corpo 2 vista frontal
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Infraestrutura A periferia é margem. Por estar a margem sofre com a ausência de infraestruturas básicas, negligência do Estado e omissão das problemáticas estruturais. Dessa maneira, baseando-se na proposta urbana, busca-se criar alternativas para o conjunto de infraestruturas do projeto, evitando a dependência do suporte público, tornando o edifício “vivo e independente” criando uma rede de comunicação entre o meio urbano e o meio ambiente natural. Como tratamento de esgoto negro utiliza-se os tanques de evapotranspiração, os quais não geram efluentes. Seu funcionamento se dá pela construção de tanques selados, preenchidos com entulho cerâmico e camadas de areia e brita, sobre os quais são plantadas espécies com folhas grandes, como a bananeira. O esgoto cinza é tratado utilizando-se de jardins filtrantes implantados na agroflorestal.
macrófitas aquáticas
entrada de esgoto cinza
caixa de rentenção de resíduos sólidos 50
saída de efluentes tratados
caixa de rentenção de gordura
camada de pedra britada
tela de nylon
camada de areia fina
tela de proteção
Tanque de evapotranpiração como tratamento de esgoto negro
Para dimensionamento dos tanques utilizou-se do princípio de que são necessário 3m³ para cada pessoa utilizando sanitário diariamente. Dessa maneira quantificou-se uma média de 10 usuários por sanitário, para fins de cálculo. 8 bacias sanitárias, 80 pessoas diariamente, totalizando 320 m³
terra areia brita pedras e entulho
entrada de águas negras
Esquema de localização dos tanques ao longo da aglofloresta
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As duchas coletivas são aquecidas utilizando um sistema de aquecedor solar de garrafa pet, criado pelo Jose Alcino Alano em 2004, implantado próximo à rua, voltado para o norte e com a inclinação da latitude da cidade de São Paulo (22º). Essa alternativa economiza energia e reduz os impactos para o meio ambiente, visto que as resistências elétricas que geram calor são responsáveis pelo maior consumo de energia. O sistema é criado a partir de placas confeccionadas com garrafas pet, latas de leite e canos PVC e sua execução é muito simples, sendo possível obter facilmente cartilhas explicativas para montagem.
Esquema de aquecimento de água utilizando placas de garrafa pet 52
Criou-se um reservatório de água pluvial para captar toda a água das coberturas e também do piso das praças, que, apesar de utilizar um piso permeável, não absorve toda a água, sendo que 20% dela escorre e vai para as grelhas dispostas segundo a inclinação natural do próprio terreno. Corte esquemático - sistema de tratamento de água pluvial peneira
extravazador/ladrão
grelha metálica
escoamento água cinza proveniente do chuveiro para os jardins filtrantes
válvula para liberar água quando necessário descarte da primeira água da chuva
armazenamento água da chuva
Direção das águas pluviais
conjunto de motor para levar a água a seu destino
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Considerações finais A primeira vez que ouvi sobre política foi em 2002. Era sobre Lula. Meu pai falava com muito orgulho e admiração sobre o candidato e futuro presidente. Eu não entendia as relações sociais da política, porque, para mim, ela se resumia a festas e comícios dentro dos currais eleitorais lá de Pindaí, no interior da Bahia, sertão Nordestino. A única vez que vi/ouvi debates sérios foi sobre Lula e sua importância para nossa gente. A primeira vez que tive contato com a arquitetura foi quando meu pai construiu o quartinho pro fogão à lenha no fundo de casa. Lá eu construí pela primeira vez. Minha irmã e eu colocamos nosso pezinho no contrapiso fresco e, a partir de então, todo ano eu media meu crescimento por ele. Arquitetura e política. As duas coisas entrelaçadas, coexistindo, aqui, na grande metrópole, e no interior do país. Mas coexistindo para quem? Para gente que veio da luta por obrigação a arquitetura tem que ser política por excelência e pública por natureza! Para gente que nasceu do privilégio ela tem que ser lugar de fala, ceder e estar à serviço. E é por acreditar que a arquitetura deve-pode-precisa estar à serviço das pessoas e para elas, que tentou-se, aqui, realizar o ensaio de um sonho coletivo e pessoal, na tentativa de simplificar o construído, enunciando não uma arquitetura nova, mas a utilização do tradicional para subverter o tradicionalismo e inverter a lógica da coisa formal. Acredito que a arquitetura seja isso: levantar questionamentos e problemáticas e resolvê-las, a partir do olhar do arquiteto e, muito mais importante do que qualquer conhecimento técnico/teórico, a partir do olhar enquanto individuo que ainda se permite incomodar com o sistema desigual e muito além disso, se permite levantar bandeira e fazer política, como um animal político por excelência e como indivíduo coletivo e empático. Aqui meu manifesto Há braços de luta!
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ReferĂŞncias projetuais
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Centro comunitário Thon Mun, Camboya - Project Little Dreams
Centro comunitário Pani, Bangladesh - SchilderScholte architects
56 Centro de desenvolvimento espiritual, Índia - Sameep Padora
A onda: espaço de atuação pública, Valparaíso, Chile - The Scarcity and Creativity Studio
Escuela Vocacional Sra Pou, Camboya - Arquitectos Architects Rudanko + Kankkunen
57 Escola primária em Gando, Keré
Referências ALANO, José Alcino. Manual sobre construção e instalação do aquecedor solar com descartáveis. Santa Catarina, 2012. D’ ANDREA, Tiarajú Pablo. A formação dos sujeitos periféricos: Cultura e política da periferia de São Paulo. Tese de doutorado apresentada ao Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo. USP, São Paulo, 2013. HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2003. LEMOS, Gláucia Gajardoni de. Formas políticas e urbanismo grego: a arquitetura monumental como representação do poder entre os séculos VI IV a.C. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo; pp. 9. USP, São Paulo, 2016. MONTANER, Josep Maria; MUXÍ, Zaida. Arquitectura y Política- ensaios para mundo alternativos. 1ª ed. Barcelo: editorial Gustavo Gill; 2011. NASCIMENTO, Érica Peçanha do. É tudo nosso! Produção cultural na periferia. Tese de mestrado apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. USP, São Paulo, 2011. RIBEIRO, Fabiana Valdoski. A produção do lugar na periferia na metrópole paulistana. Dissertação de mestrado apresentada Faculdade Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, São Paulo: 2007. ROLNIK, Raquel. Guerra dos Lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças. 1ª ed. – São Paulo: Boitempo, 2015. MARQUES NETO, José Castilho. Revista Apartes da Câmara Municipal de São Paulo n. 19 março-abril, 2016. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Jardim Filtrante: o que é como funciona. Cartilha de instrumentação. Disponível em: http://saneamento.cnpdia.embrapa.br/downloads/Jardim_Filtrante_%E2%80%93_O_que_%C3%A9_e_como_funciona_%E2%80%93_Wilson.pdf , acesso em: julho de 2017. 58
Cartilha manejo apropriado da água. IPESA, São Paulo, 2014. Disponível em: https://issuu.com/patyrati/docs/cartilha_manejo_final , acesso em outubro de 2017. Serviços oferecidos. Aguapé engenharia e projetos ecológicos. São Carlos, SP. Disponível em: http://aguapeengenharia.com.br/ servicos-prestados, acesso em novembro de 2017. Judith Butler: Por uma convivência democrática radical. Coordenação da Unifesp, Instituto de Cultura Árabe e Editora Boitempo. São Paulo, novembro de 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Bl_-JVei-EM, acesso em novembro de 2017. Escuela Vocacional Sra Pou / Architects Rudanko + Kankkunen, 28 abr 2011. Plataforma Arquitectura. Accedido el 27 Nov 2017. <https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-86870/escuela-vocacional-sra-pou-architects-rudanko-kankkunen> ISSN 0719-8914 A Onda: espaço de atuação pública / The Scarcity and Creativity Studio [The Wave: Public Performance Space / The Scarcity and Creativity Studio] 07 Jan 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Santiago Pedrotti, Gabriel) Acessado 27 Nov 2017. <https://www.archdaily. com.br/br/779905/a-onda-espaco-publico-para-performance-the-scarcity-and-creativity-studio> ISSN 0719-8906 Reinventando las prácticas locales de construcción: Centro Comunitario Thon Mun en Camboya, 14 abr 2014. Plataforma Arquitectura. Accedido el 27 Nov 2017. <https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-352467/reinventando-las-practicas-locales-de-construccion-centro-comunitario-thon-mun-en-camboya> ISSN 0719-8914 Jetavan / Sameep Padora & Associates, 04 de julho de 2016. ArchDaily . Acessado em 27 de novembro de 2017 . <https://www. archdaily.com/790646/jetavan-sameep-padora-and-associates/> ISSN 0719-8884 Centro Comunitário Pani / SchilderScholte architects [Pani Community Centre / SchilderScholte architects] 13 Mai 2015. ArchDaily Brasil. (Trad. Santiago Pedrotti, Gabriel) Acessado 27 Nov 2017. <https://www.archdaily.com.br/br/766431/centro-comunitario-pani-schilderscholte-architects> ISSN 0719-8906
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Centro polĂtico
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