Revista Mutante 3edição Preto e Branco

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Agradecimentos: Dino Santos, pela fonte Leitura AIF · Consultoria e Formação, pela di�onibilização da aplicação Laudaview Sílvia Bapti�a, pela revisão do texto Colaboradores: Ana Calhau Andreia Correia Catarina Leal Cláudia Abrantes Cri�ina Ataíde Daniel Biléu Filipe Cartaxo Isabel Santa Bárbara Isa Silva João Madeira João Tinoco Johan Van Huys�een José Pedro Santa Bárbara Marcelo Vieira Maria Keil Natalia Valle Nuno Patrício Paradoxon Produções Rita Verdades Sara Capitão Sofia Macedo Alexandra Bertrand Isabel Cotrim João Pedro Rato Sandra Afonso

Preto no Branco O preto no branco, a realidade, os sonhos e a ausência da cor, o contra�e, o cheiro a mofo que nos faz percorrer as nossas memórias. Da magia do preto no branco, surgem a imagem e as sombras, o negativo, os opo�os, a diferença, a discordância… diferença, a discordância...

É preto. Não! É branco. Não! É preto. Não! É branco. Não! É preto. Não! É branco.


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texto Andreia Correia · “Unicidade”

ilu�ração Sara Capitão

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fotografia Catarina Le

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ilu�ração Daniel Biléu · “O amor e seus desdobramentos externos e In memoriam”

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texto João Madeira · “Nada é preto no branco”

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proje�o Cole�ivo · “Sentidos ao cubo”

caligrafia João Tinoco

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30 ilu�ração Rita Verdades

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ilu�ração Johan van Huys�een · “17wet1”

fotografia Nat alia Valle

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6 texto Andreia Correia

“Fagulha silenciosa” Há o preto

nos teus olhos mareados, A luz trazendo aos teus seios a boca branca do sonho. Há ainda os gritos suados A saudade que de tão escura É poema e já não arde. As mãos que forjam o de�ino E na mágoa tanto batem, devolvendo à penumbra o sentido. Há as pedras rugindo, O montinho de dias Moídos. E eu, avulso, Negro, ve�ido de fundo. Risco a noite a giz… Preto no branco, a mesma hesitação… Onde a fagulha que acende a vida?


tica um peso de uma vida inteira e de um Outro que ficou para trás, por recuperar. Agora, naquele dia sem luz, em que as árvores pareciam sugadas pelo peso da gravidade escura invernal, sentia-se perdido, com olhos abertos para o céu, tentando descortinar a maré da e�erança nos segundos que lhe pintavam a face de lágrimas e lhe acentuavam as olheiras. As mãos, agora negras, na escuridão do deserto, aquele que, por vezes, todos os homens atravessam, pairavam como dúvidas que não conseguimos de modo algum afugentar. Abanava a vida, porque abanava a fotografia, abanava a saudade, o preto e branco da saudade e reclamava o direito a revisitar aquele in�ante partilhado, aquele beijo fundido no tempo. Mas sentia-se de pernas partidas, porque o salto era impossível.

8 texto Andreia Correia desenho Sandra Afonso

“UNICIDADE” I Trazia os dedos negros de raízes. O corpo

suado, na sua brancura disforme, levava-o a trautear um choro cândido, que, para olhos mais atentos, vê-lo-íamos a empoleirar-se nas árvores, sem fruto, quando a noite caía, como um guinda�e partido, trazendo à boca do céu a dor vermelha, magoada dos homens. Trazia no seu sorriso amarrotado (rasura ou som de ave negra partida) a brancura de uma fileira de dentes, todos eles carnívoros por natureza, ansiando pela próxima dentada, porque apetite não lhe faltava e porque a imensidão do seu corpo tentacular esganava a fome com a ansiedade soberba de um comboio descarrilado.

II Ao longe as mãos de cinzento mortiço, sem

luz, se revelavam, segurando na mão a fotografia a preto e branco e na fotografia as reminiscências de uma vida ali paradas, a preto e branco. Num segundo fixadas, as pernas hirtas e o sorriso flagrado, os olhos abertos no e�asmo da surpresa e o coração a mil à hora, mesmo que a imagem isso ocultasse. Era o segredo plasmado, pedindo um olhar com demoras que, afinal, se vertia, lânguido e sereno, sobre a superfície, cobrando à semió-

III Horas passadas, pintou o quadro, um risco negro na noite

clara da tela. Pintou como se abrisse uma fenda na possibilidade da criação. Acordara naquele dia com a sensação de que não pertencia ao corpo, que a pele branca que o envolvia e dizia esvaziara-o. Descobriu a fotografia, por acaso. Deixou-a igualmente por acaso, a anoitecer debaixo da almofada chorada. Via-se em frente a um e�elho que não refle�ia, a noite chegada também àquele quarto, abrigo de muitos sóis e muitas luas, vertigem meio apagada nas cores da sua alma, quando escrita com o negro da tinta. Segurava nos olhos o mundo - equilibri�a lúcido – que não sabia a que horas partiria para chegar lá, ao outro lado do tempo. Era a ansiedade que sentia pousar-se nos lábios como uma âncora ferrugenta que deixa o peso da vida na boca fragmentada, as palavras falidas de sentido, tudo e nada, dançando no mesmo silêncio. A inércia batia no seu coração, deixava-o rígido, paralisia doente que o empurrava para a cama horas a fio, horas sem retorno, numa continuada dívida para com a vida. E quando se digladiava com o pincel, contra um fantasma inventado, sentia-se rei e senhor da sua escuridão. E era. E era, naqueles segundos, grandioso, afa�ando o constante ardor que a vida lhe deixara no coração – fogueira de Prometeu, no início de todos os tempos, antes de Deus dizer… Faça-se Luz! Era grandiosamente grandioso. Preto e branco grandioso. E era todo um.


10 ilu�ração Sara Capitão


12 fotografia Catarina Leal

“Luz. Branco no Preto.” Proje�o expo�o nos Rencontres Photographiques d’Été, em Niort, França


o mundo inverso 14 texto Cláudia Abrantes fotografia Cláudia Abrantes

PinHole - buraco de alfinete, é a designação usada para referir a fotografia e�enopeica – a fotografia sem máquina fotográfica. Com uma caixa vulgar de cartão e um pequeno furo, consegue-se uma máquina fotográfica artesanal com imagens que resultam em negativo e, conforme o tempo de exposição, mais ou menos tremidas. A Série PinHole, o mundo inverso, surge do efeito arrepiante que e�as imagens podem ter. O mundo inverso – pelo regi�o do negativo, aborda o tema Preto no Branco como o Desconhecido. Contrariamente a uma máquina digital ou analógica, numa pinhole é impossível saber ao certo o que vai sair dali. O medo do desconhecido é aqui demon�rado através do negativo, das sombras. Uma outra conotação para Preto e Branco.


16 fotografia Cláudia Abrantes


Varanasi: o preto e o branco 18

E�ou no aeroporto de Varanasi. O avião e�á atrasado. Parece ser normal nas Indian Airlines. Apetece-me escrever. E�e caderno foi uma simpática oferta de Shashah, dono de um hotel delicioso, Ganga View Hotel, onde fiquei. Vim finalmente a VARANASI, (Benares), India.

texto Cri�ina Ataíde desenhos Cri�ina Ataíde

É realmente uma cidade e�ecial. Uma cidade onde tudo é novo e tudo é e�erado. Tudo é diferente e tudo é normal. Vida e morte e�ão lado a lado com naturalidade. Fiquei com os pés mais assentes, como se e�ar na terra fosse mais natural. Talvez mais fácil? Tudo é tão relativo! Na realidade, é não fazer julgamentos. Ver, ver só, aceitar, tentar entender. O RIO. O rio de todas as coisas. O rio sagrado que limpa, purifica, perdoa. Limpa os pecados de quem se banha. É como a confissão dos católicos. Todos tomam banho. Os locais e os peregrinos. Tudo é público. O corpo é público. Os homens de�em-se e cingem um pano branco à cintura. Banham-se, mergulham, nadam um pouco, rezam. Lavam-se com sabão, fazem e�uma que escorre pelas co�as abaixo, con�ruindo um novo corpo. Limpam-se, penteiam-se cuidadosamente. Vão pedir a benção ao sacerdote que os unge com Bindi, pigmento vermelho ou amarelo mi�urado com óleo. Alguns lavam a roupa, e�remem e e�icam-na com os braços, deixando-a secar um pouco ao vento. Muitas vezes ve�em-na molhada e secam-na no corpo. Enchem uma bilha de metal com a água do Ganges que levam para casa para continuarem a purificação. As mulheres são mais recatadas, mas mergulham também e lavam-se vagarosamente. Mergulham com o sari, depois mudam-

se dentro de pequenas barracas de tijolo ou usam o próprio saiote. Vi algumas com os seios desnudos, sem ligarem a quem passa. Go�ava de as fotografar, mas há um pudor que não o permite. Vou andando ao longo dos Ghat, são mais de 5 Km de escadarias que ligam a cidade ao rio. Aqui, lavam a roupa, em pedras direitas, batendo ritmicamente. Normalmente são homens. Sobre um pano põem a roupa a escorrer. Quando já não pinga e�endem-na onde calha. Sobre a terra arenosa que cobre o chão, nos paredões, nas grades das escadas, ao longo da escadaria, por todo o lado. Mais à frente, é o Ghat das vacas que bebem pachorrentamente a água do rio e se deitam a apanhar o sol, ainda não muito quente. A seguir, um bando de peregrinos toma banho, mesmo junto a um dos locais onde se cremam os corpos. Grandes pilhas de madeira, bem arrumada aguardam o fogo. Os corpos vêm em padiolas de bambu, enfaixados em panos brancos e cobertos com tecido dourado e grinaldas de flores. É feita uma pira de madeira em função do peso do corpo. Depois molham-no no rio, põem o corpo sobre a pira e cobrem com mais madeira. Normalmente os pés ficam de fora e por vezes também a cabeça. Vê-se que o corpo e�á muito hirto, como um bocado de madeira. Ateiam o fogo por baixo e deitam um punhado de sal e os tecidos dourados para ajudar a atear. O lume começa a crescer, aumenta, as labaredas envolvem todo o corpo. Demora 2 a 3 horas até arder todo. Ninguém chora, para não dificultar a entrada do corpo no Nirvana e por isso as mulheres ficam em casa. Os ossos da bacia não se desfazem, são deitados ao rio. As brasas que ficam são levadas pelos habitantes, para se aquecerem. Quando as cinzas arrefecem são peneiradas, dentro do rio, com água pela cintura e em ce�os semi-esféricos, forrados com serapilheira, para reterem os ouros que ficam pertença do cremador. As cinzas vão descendo o rio suavemente ao sabor da corrente. Mesmo ao lado, homens lavando no rio. A morte e a vida, lado a lado.

Mais peregrinos a banharem-se, mais pobres a pedirem, mais homens santos a meditarem, mais crianças a jogarem algo parecido com a bilharda que se jogava na minha infância (um pau afiado nas duas extremidades e que é batido por outro pau). Por todo o lado se lançam papagaios. São e�ruturas levíssimas de


20 texto Cri�ina Ataíde desenhos Cri�ina Ataíde

“durante o rio #D 04”, 2004 Pigmento e rio s/ papel 42x90 cm

cana e papel de seda. A grande excitação é porque quem apanha o papagaio do vizinho, fica com ele. Vêem-se autênticos duelos no ar. Não é quem voa mais alto, mas quem apanha mais papagaios. Chego ao Ghat mais importante, Dashashvamedha. Há vários púlpitos para se fazer o Puja, lindíssimos rituais em honra do Rio. Começam às 6h, depois do pôr-do-sol. O e�rado principal tem 5 altares onde os sacerdotes fazem o ritual em simultâneo. Primeiro, rezam junto ao rio e deitam-lhe flores, depois vêm para os altares e fazem movimentos sempre idênticos com incenso, fogo, água, fumo, mais fogo, água, flores… etc. Tudo acompanhado pelo som de sinos e do tocar ininterrupto de um tambor. Barcos no rio assi�em ao Puja e por vezes lançam luzes que vão passando lentamente. As luzes são taças feitas de folhas secas prensadas, cheias de flores e no meio uma forminha em papel, com um bocado de sebo e uma mecha. Arde muito bem e não se apaga facilmente. É lindo vê-las a passar na água negra do rio. O Ghat seguinte é o das cremações em duro. Aí a “máfia” é notória. Fomos recebidos pelo “dono” do Gath que nos encaminhou para um guia. Não se pode tirar fotografias às cremações e o a�e�o de tudo é tétrico. É tudo preto, desde a terra às pessoas. Há montes de lenha por todos os lados O guia leva-nos a uma casa em que segundo diz, “e�ão as pessoas pobres à e�era de morrer”. Eles que são bonzinhos, fazem-lhes o funeral... Subimos para vermos as cremações. Não se vê muito bem, e�amos na varanda, o guia e�á sempre a falar e nós parecemos abutres a olhar para a presa. Vai-nos explicando que a lenha necessária cu�a uma enormidade, 20 ou 200 dólares, já não me lembro. Quando nos íamos embora, vem uma velhota, pedir dinheiro para a lenha. Cada um deu 100 rupias que é imenso. No fim o guia pediu mais dinheiro para ele… A morte explorada como e�e�áculo para turi�a. Outro momento difícil foi a travessia para o outro lado. Tinha uma imagem romântica da outra margem, pensava que seria a paz, o vazio, a serenidade, só cinzas.

O guia começou por dizer que era proibido ir lá. Depois que tínhamos que pagar aos homens do outro lado. Aco�ámos. E�ava tudo cheio de lixo, tudo o que era deitado fora do outro lado. As flores dos templos, sacos de plá�ico e um cavalo morto. Mais à frente, um bando de cães e corvos comia a carcaça de uma vaca. Comecei a andar atrás do guia que se dirigiu para uma tenda. Outra carcaça com corvos em cima. Homens com um ar horrível começaram a aproximar-se. Uma criança no meio das flores quase murchas, escolhia as que ainda podia aproveitar. Dei meia volta quando começaram a chamar-me.

não!


22 texto Cri�ina Ataíde desenhos Cri�ina Ataíde

“durante o rio #D 08”, 2004 Pigmento e rio s/ papel 2x [42x30 cm]

À tarde aluguei um barco, o do co�ume, mas só com o barqueiro, sem o guia agoirento e fui para o meio do rio. Queria trabalhar um pouco. Tinha pensado molhar as folhas na água do Ganges, colocar Bindi em linhas longitudinais no meio da folha e colocá-las no meio das escadas a secarem, e�erando que as pessoas as pisassem. Seriam os seus passos, a memória desses passos, o desenho. Hesitei, talvez não fosse bem vinda. Talvez e�ivesse a profanar algo de sagrado para eles. Por que mexer de uma forma leviana nos seus símbolos, nas suas crenças? Sem os conhecer profundamente, não os posso usar. Assim, resolvi desenhar com o Rio. Quando pus as folhas na água elas foram-me devolvidas com milhares de minúsculas formas que faziam uma renda levíssima em todo o papel. Todo o amontoado de memórias que navegava nele ficou retido na folha criando um pattern riquíssimo. Enquanto secava, deitei sobre o papel pigmento vermelho, Bindi, que a própria aragem do rio trabalhou, criando novos desenhos. Prensei o pó e, no fim, segurei os desenho entre os dedos, deixando-os esvoaçar, secando-os como tinha visto fazer aos lavadeiros.

São o bocado do rio que trouxe comigo. O Rio, aqui, dentro dos meus desenhos.


24 texto Cri�ina Ataíde desenhos Cri�ina Ataíde

“durante o rio #D 01”, 2004 Pigmento e rio s/ papel [42x90 cm]


j FOTOGRAFIA

26 fotografia NISA


28 fotografia NISA


30 ilu�ração Daniel Biléu “O amor e seus desdobramentos externos” Spray e marcador sobre tela 1x0,50 m

“In Memoriam” Marcadores e nankim sobre papel pergaminho 35,5x13 cm


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“Não é raro que a passagem se faça, do branco ao negro e inversamente. Só os extremos são e�áveis, como o sublinha a pulsação que se manife�a aquando das pausas nos patamares intermédios, qualquer que seja a sua duração e altura, na cor que nunca o foi.” Samuel Beckett in “Imaginação Morta Imaginem”

texto Ana Calhau fotografia Ana Calhau

“O cego ergueu as mãos diante dos olhos, moveu-as, Nada, é como se e�ivesse no meio de um nevoeiro, é como se tivesse caído num mar de leite, Mas a cegueira não é assim, disse o outro, a cegueira dizem que é negra, Pois eu vejo tudo branco (...)” José Saramago in “Ensaio sobre a Cegueira”

Branco [uma cor sem cor]


O branco é mais do que cor ou luz. É um valor ideal, positivo, opo�o às “trevas” e à ignorância, valor limite entre conjuntos de pontos extremos: a luz e a obscuridade, o dia e a noite, a iluminação e as trevas, a sabedoria e a ignorância, o positivo e o negativo.

34 texto Ana Calhau fotografia Ana Calhau “�e sky is blue [2]”

Se e�a leitura, que durou séculos, nos parece óbvia, com facilidade podemos con�atar que a luz branca ilumina tanto quanto pode cegar, possuindo assim ambas as capacidades: a da visão e a da cegueira, um paradoxo em que o branco funciona sempre como limite, charneira de passagem e opo�o de si mesmo. Ou seja, todos nós já passámos pela experiência de ficar encandeados com o excesso de luz numa sala ou o excesso de sol numa praia, o que nos deixa, momentaneamente, sem ver. Na realidade, não deixamos de ver mas tornamo-nos cegos ao que antes víamos. O que vemos ne�es momentos é um excesso de branco que, como uma névoa intensa, nos inibe de ver o re�ante. De�a forma, o branco torna-se, durante alguns in�antes, a cor da cegueira e só aos poucos essa névoa branca de luz se vai dissipando e retomamos a visão das coisas enquanto os nossos olhos se vão, gradualmente, adaptando às condições de luminosidade. O que acontece, geralmente em todos os e�udos e teorias sobre a luz e a cor branca, é que não se raciocina tanto sobre a “luz” que nós vemos, quanto sobre aquela que, do exterior, entra nos nossos olhos e comanda a visão. Damos, como exemplo, o branco como a cor da cegueira no livro de José Saramago, “Ensaio Sobre a Cegueira”, onde a luz referida é a cor branca ou o “mar de leite” vi�a pelos cegos e não a luz solar necessária ao processo da visão. Paradoxo que nega a possibilidade da cegueira total pois, ainda que a visão do mundo exterior, de cores, formas e obje�os lhes e�eja vedada, e�e cegos descrevem algo que, de fa�o, vêem. Um outro tipo de luz ou de cor, um branco incessante e não o habitual negro que co�umamos associar à cegueira: “Sim, senhor doutor, não como uma luz que se apaga. Mais como uma luz que se acende.”[1], “o mal é sermos cegos. A mulher do médico disse ao marido, o mundo e�á todo aqui dentro e é todo branco.”[2] ou “chegara mesmo a ponto de pensar que a escuridão em que os cegos viviam não era, afinal, senão simples ausência de luz, que o que chamamos cegueira era algo que se limitava a cobrir a aparência dos seres e das coisas, deixando-os inta�os, por trás do seu véu negro. Agora, pelo contrário, ei-lo que se encontrava mergulhado numa brancura tão luminosa, tão total, que devorava, mais do que absorvia, não só as cores, mas as próprias coisas e seres, tornando-os, por essa maneira, duplamente invisíveis.”[3]. E�a “amaurose[4] branca” de que fala José Saramago é, obviamente, metafórica e não e�ará com certeza na li�a de disfunções visuais exi�entes no ser humano. Também não tem a ver com o branco que cega quando, de repente, os nossos olhos são tran�ortados para e�aços de luminosidade intensa e alucinatória. É um fa�o que a cor branca e�á no limiar entre a visão e a cegueira. É esse outro branco que não é a luz do sol e que só é vi�o em momen-


tos de cegueira, a que Maurice Blanchot se refere em “A Loucura do Dia”[5] e Albert Camus em “O E�rangeiro”[6]. Apresentadas de forma diferente, e�as duas obras relatam casos de personagens que, tendo ficado temporariamente cegos pela luz, se tornam incapacitados de narrar o que antes lhes sucedeu. O branco da luz torna-se assim um impedimento à visão e à narração do antes vi�o.

36 texto Ana Calhau fotografia Ana Calhau “Sem título [2]”

“Ho�italizado na sequência de uma agressão, o narrador, temporariamente cego, descreve a luz. Não se trata da luz do dia que, essa, foi-lhe temporariamente subtraída e que, no momento em que a recupera, no confronto com essa outra luz da cegueira, é já menos que luz, embora não seja ausência de luz: uma névoa permanentemente branca, uma luz crepuscular a qualquer hora do dia. No ho�ital, com os olhos protegidos pela película e as muralhas de algodão, o narrador é assaltado pela luminosidade sobrepo�a de ‘sete dias’, um incêndio, o efeito da luz nas trevas, a luz daquela noite que se deve a circun�âncias que ele não vai saber ‘narrar’, porque não vai ser capaz de re�onder ao inquérito dos médicos que procuram esclarecer as causas da agressão [...] o narrador já foi condenado, por um a�o de extrema violência, a ‘ver’ a loucura do dia. Condenação também ela ambígua, já que confere a possibilidade de ver o mundo na intensidade de uma luz mais branca.”[7]. Ne�e excerto de “A Loucura do Dia”, retirado do livro de Patrícia San-Payo, uma outra luz surge como potenciadora da cegueira e é na cegueira que o branco é vivido em angú�ia e sofrimento. Um branco que surge como efeito da luz nas trevas, uma realidade mais crua e dolorosa que fere os olhos e a mente. Um relativismo do branco que é aumentado pelo núcleo escuro que o produz. De certa forma, podemos mesmo crer que o valor do branco é aqui apresentado como dependendo de um determinado movimento opo�o ao branco-sabedoria de que já falámos. I�o é, o movimento do narrador já não é o de ir para o branco nem o de sair dele, mas sim a permanência dentro do mesmo, o que o torna calcinante, deva�ador e sufocante. Uma pura violência que encontraremos também descrita em alguns excertos de “O E�rangeiro” de Albert Camus , onde o branco é o ponto negativo — “o efeito da luz nas trevas” — onde se permanece –


“Em volta de mim, era sempre a mesma paisagem luminosa, inundada de sol. O brilho do céu era insu�entável. Em dado momento, passámos por um troço de e�rada que havia sido arranjado há pouco. O sol derretia o alcatrão, descia o terrível branco sobre o negro. Os pés enterravam-se, deixando aberta

38 texto Ana Calhau fotografia Ana Calhau “�e sky is blue [1]”

a carne luzidia do alcatrão. Por cima do carro, o chapéu do cocheiro, de couro escuro, parecia ter sido moldado na mesma lama negra. Sentia-me um pouco perdido entre o céu azul e branco e a monotonia de�as cores. Tudo i�o, o sol, o cheiro de borracha e de óleo do automóvel, o do verniz e do incenso, o cansaço de uma noite de insónia, me perturbava o olhar e as ideias.”[8], “O calor era tão grande que me era igualmente penoso ficar assim imóvel, sob a chuva de luz que caía do céu, (...) a embriaguez opaca e branca que caía em mim. A cada e�ada de luz surgida da areia, de uma concha esbranquiçada ou de um vidro partido, os queixos cri�avam-se-me. Andei assim durante muito tempo. Di�inguia, de longe, a pequena massa sombria do rochedo de uma auréola formada pela luz e pela poeira do mar. Pensava na nascente fresca que havia por detrás do rochedo. Desejava, enfim, reencontrar a sombra e o repouso.”[9]. Ne�es dois excertos do livro de Albert Camus, a personagem descreve a luz do sol como uma “embriaguez opaca e branca que caía em mim” e fala do branco como uma entidade luminosa que e�onteia, um valor negativo que vai ao encontro do seu valor positivo (negro): “descia o terrível branco sobre o negro”. A personagem de�a hi�ória é condenada à morte pelo homicídio ocorrido numa praia e a razão que apresenta em sua defesa é a de que ficou cego com o excesso de luz. E�a ligação entre a morte e a luz é, mais uma vez, muito diferente da ideia de luz divina que o branco co�uma simbolizar. Já não se trata de um branco como motor da criação, do nascimento e da abertura ao conhecimento, mas sim de um outro branco que cria situações limite, fronteiras negativas entre a vida e a morte — o núcleo escuro do branco é o branco na sua violência mortífera. E�a ideia de limite, do branco quando e�amos “dentro dele”, quando nos “tornamos nele” aparece então como resultado de experiências limite onde, para além da visão, também a mente é afe�ada de modo negativo até um dese�ero máximo. Uma última e derradeira duplicidade do branco: uma entidade que quando é dominada pelo ser hu-


40

mano produz valores positivos e que quando o domina, inve�e sobre ele e nele como valor negativo, símbolo da morte e da fronteira entre a luz e as trevas. O conhecimento é sub�ituído pela ignorância (impossibilidade de narrar o que sucedeu) e por uma cegueira que impede um límpido conhecimento do que o rodeia. E�a entidade branca que usurpa as funções humanas, muito e�ecialmente a visão, e as direcciona no sentido da morte, será talvez a razão pela qual se nomeia a chamada “morte clínica” de “morte branca”. E�e uso metafórico do branco serve para denominar um estado de inconsciência onde exi�e, de fa�o, o diagnó�ico médico de uma morte cerebral e a palavra “branco” vem expressar esse momento de ausência que tantas vezes usamos na música para definir os e�aços de silêncio que a pontuam.

Branco

um valor ideal, assimptótico, um valor limite como as duas extremidades da linha do horizonte: cor, vi�a de forma metafórica ou não, de passagem, iniciadora ou de�ruidora, positiva ou negativa, mas sempre num ponto extremo e ambíguo. O branco como cor que serve para sentir, ver, descrever ocorrências de uma paralisia parcial ou total da percepção, bem como o contrário: o que ilumina o olhar e lhe permite ver melhor e mais além, avançar na sabedoria e conhecimento das coisas do mundo. Tal como em tantas outras coisas e cores, o branco é alvo da inevitável dimensão metafórica, mas essa dimensão metafórica tem, obviamente, uma razão de ser. Se associamos o branco à morte (mais e�ecificamente na expressão “morte branca”) e à cegueira (o que ilumina pode cegar nas atmosferas saturadas de luz) e�amos sem dúvida a associá-lo à ausência e ao vazio, tanto como às suas contrárias. Tratamos aqui de um território desconhecido, que nos é vedado, de algo que escapa à nossa percepção visual e aos nossos sentidos. É como dizer que o silêncio é vazio quando é ele que, muitas vezes, nos permite uma maior di�onibilidade para a reflexão. Mais do que querer concluir se a cor da cegueira e da morte é o branco, pretendemos apenas entendê-lo na sua neutralidade — conotamos com o branco aquilo que desconhecemos ou algo que nos foi retirado e a evidência desse pseudo-vazio torna-o um lugar de sentido.

[1] SARAMAGO, José — Ensaio sobre a Cegueira; Lisboa; Editorial Caminho; 1995; p. 22. [2] SARAMAGO, José — Op. Cit., p. 102. [3] SARAMAGO, José — Op. Cit., p. 16. [4] Termo técnico utilizado na medicina para definir o enfraquecimento ou perda completa da vi�a por afecção na retina, no nervo óptico, no cérebro ou nas meninges. Vulgarmente conhecida por, cegueira total. [5] SAN-PAYO, Patrícia — Blanchot, a possibilidade da literatura; Lisboa; Edições Vendaval; 2003; p. 25. [6] CAMUS, Albert — O E�rangeiro; Lisboa; Editora Livros de Brasil; 2001. [7] SAN-PAYO, Patrícia — Op. Cit., p. 175. texto Ana Calhau

[8] CAMUS, Albert — Op. Cit., p. 41.

fotografia Ana Calhau

[9] CAMUS, Albert — Op. Cit., p. 76.

“Sem título [3]” “Sem título [2]”

Ana Calhau l Excerto da Tese de Me�rado: “Branco — E�aço Limite”


42 texto João Madeira fotografia Isabel Cotrim

Na da é pre to no bran co

As coisas nunca são como são mas antes como deveriam ter sido. Têm sombras e contornos onde tu os encontras e não onde a luz se fez sentir. Têm brilhos ine�erados e matizes indomáveis em miserabilismos triviais. Nada é como tu queres que seja. Porquê insi�ir na ju�iça da interpretação quando o que tu debitas é uma cartilha resumida, um vislumbre incompetente da realidade? Preto no branco só refle�e a tua ausência de cor. A tua ausência de e�írito. Para ti pode ser preciso. Para mim é um esboço rebuscado da tua ignorância.


44 ilu�ração Rita Verdades


ilu�ração Marcelo Vieira “Sereia”


48 fotografia Sandra Afonso

Jack Skellington “O e�ranho mundo de Jack”, Tim Burton


50 fotografia Sandra Afonso

Jack Skellington “O e�ranho mundo de Jack”, Tim Burton


52 fotografia Sandra Afonso

Jack Skellington “O e�ranho mundo de Jack”, Tim Burton


54 fotografia Sandra Afonso

Jack Skellington “O e�ranho mundo de Jack”, Tim Burton


“Por brincadeira, comprou um bilhete e entrou no parque. O local estava repleto das mais variadas lojinhas e �ands – uma barraquinha de tiro ao alvo, um e�e�áculo com serpentes, 56 proje�o Nuno Patrício

a cabina da mulher que lia a sina. (…) Comprou um gelado e sentou-se num

fotografia Sandra Afonso

Proje�o realizado

banco a ver a multidão a passar.

a partir de um excerto de “Sputnik, meu amor”, Haruki Murakami

Papel, cartolina e cola 30x30 cm

Sentia-se a milhares de quilómetros do bulício que a rodeava.”

Haruki Murakami. “Sputnik, Meu Amor”. Vozes do Mundo, Ed. Notícias E�torial.


58 proje�o Nuno Patrício fotografia Sandra Afonso

Proje�o realizado a partir de um excerto de “Sputnik, meu amor”, Haruki Murakami


60 fotografia Sandra Afonso conceito Sandra Afonso “Sentidos ao cubo” Como expressar visualmente e Preto no Branco sensações não visuais.

participação e autoria Ana Maria Moreira Ana Sofia Cabrita Diogo Santos Diogo Salvador Fernão Gonçalves Isabel Ca�ro José Miguel Pereira Leandro Bittencourt Mónica Simões Nuno da Silva Pedro Loureiro Ricardo Almeida Ricardo Pereira Tatiana Passeiro Tiago Godinho


Rasgar. Leve. Macio. Á�ero. Viciante. Doce. Mágico. Oco. Pesado. Agudo. Agre�e. Calmo. 62 fotografia Sandra Afonso conceito Sandra Afonso “Sentidos ao cubo” Como expressar visualmente e Preto no Branco sensações não visuais.

participação e autoria Ana Maria Moreira Ana Sofia Cabrita Diogo Santos Diogo Salvador Fernão Gonçalves Isabel Ca�ro José Miguel Pereira Leandro Bittencourt Mónica Simões Nuno da Silva Pedro Loureiro Ricardo Almeida Ricardo Pereira Tatiana Passeiro Tiago Godinho

E�ranho. Forte. Quente.


64 texto Isabel Santa Bárbara

1/2

Na época do cinzentismo em que vivemos e�á tudo a meio-gás, meias tintas, meio cheio, com meias-medidas. Mas, devemos perceber que, de fa�o, há certas verdades incontornáveis; há o sim e há o não; nascemos, vivemos e morremos; há o preto e há o branco e há o

PRETO NO BRANCO


66 texto Isabel Santa Bárbara

Não falamos alto porque dá nas vi�as,

Usamos saias pelo meio da perna.

nem baixo porque sugere timidez.

Os cabelos não são curtos nem compridos.

Não damos uma boa gargalhada pois parece mal.

Fazemos férias em duas vezes para não dar mau a�e�o no emprego, mas é com

Não comemos muito para não sermos chamados de alarves nem pouco não vão

saudades que lembramos o mês inteiro de férias que tivemos na Ericeira.

pensar que somos anoré�icos. Não bebemos muito, não fumamos muito.

Não telefonamos muitas vezes aos pais para não acharem que somos dependentes

Não nos aborrecemos muito no trabalho pois sempre é melhor e�e que nenhum.

– e se, de repente, eles já não e�iverem lá?

Não nos zangamos com amigos pois é uma grande maçada e podemos acabar sozinhos.

Não queremos casas muito grandes porque dão muito trabalho. Não casamos: fazemos experiências para ver se resulta. E se não resultar, o que pode acontecer, um divórcio? Pois se tiver que ser, será. Não temos filhos muito cedo para não arruinar a carreira – que carreira? Adiamos ad eternum aquela conversa que temos que ter com o irmão sobre o que fazer ao monte do Alentejo.


68 texto Isabel Santa Bárbara

Não vivemos com nitidez.

“Life is hard and then you die”, curta-metragem de Maria Sødahl, 1989.

Mas se tudo acontecer de forma nítida, aquele hífen que no fundo é a nossa vida pode não ser tão enfadonho. Temos é que saber viver e pôr tudo preto no branco, enquanto é tempo. Não é fácil, pois não, principalmente se pensarmos que

life is hard and then you die.


Keiko: prática, treino, ensino A prática de uma arte marcial, o Aikido, mas também da caligrafia, Sho. Num lugar e no outro a prática do ge�o, aqui a preto e branco. De um lado a tinta, pura, no papel por preencher. No outro, o regi�o de corpos que não vemos na sua totalidade preenchendo o e�aço, um e�aço.

70

Sabemos deles por traços, arra�amentos, luzes e sombras.

caligrafia João Tinoco fotografia Sofia Macedo

Keiko, aqui em três imagens Ukemi a queda, mas também aquele que se entrega. O corpo que aceita, a mão que se oferece à progressão do outro.

Koshi a anca, mas também o possível centro de um movimento, um eixo de uma rotação Kaiten


72

A relatividade do tempo é-nos impo�a pelas prioridades que definimos no dia-a-dia, ditando a pressa e o vagar, o longo e o curto, o vazio de uma hora, o cheio de um segundo… Quantas vezes quiseram ser pequeninos e depender do tempo que a mãe ou o pai demoram num aconchego, no colo, num abraço, num afago pelos cabelos? Quantas vezes olham lá do alto da vossa vida e vêm uns olhos pequeninos a depender de vós, dos vossos aconchegos, colos e afagos? Quantas vezes quiseram ter mais tempo, ou não ter mesmo tempo nenhum para i�o ou aquilo? Porque se torna tão relativo, tão subje�ivo, tão importante o tempo, do qual dependemos? Porque o queremos fazer parar, congelar, ou por outro lado, passá-lo em fracções de segundo? Era uma vez um bebé que fitava atentamente a face da sua mãe e se aninhava no seu colo... Dos bebés que nos contam a hi�ória do tempo, fica sempre a hi�ória de uma mãe – sal-

Ukemi


Koshi


Kaiten


78 fotografia Filipe Cartaxo

“o Ser encontra a co�a” Ensaio expo�o em São Paulo, Brasília, Portugal e São Paulo


80 fotografia Filipe Cartaxo

“o Ser encontra a co�a” Ensaio expo�o em São Paulo, Brasília, Portugal e São Paulo


82 fotografia Filipe Cartaxo

P&B01 P&B02


A Paradoxon Produções é a�ualmente constituída por Hernâni Duarte Maria (membro fundador e realizador), Pedro Noel da Luz (dire�or de fotografia e realizador), e Joana Oliveira ( a�riz, cara�erizadora, guarda roupa e assi�ente de produção). Os filmes são o principal obje�ivo da Paradoxon Produções, o de continuar a produzir e a realizar curtas metragens, mas também os fe�ivais de cinema, a divulgação do cinema no Algarve, a concepção de mo�ras de cinema independente e de extensões de fe�ivais de cinema para o Algarve.

84 texto Hernâni Duarte Maria Pedro Noel da Luz Joana Oliveira

Paradoxon Produções http://my�ace.com/paradoxonproducoes http://youtube.com/HernaniMaria www.camaradefilmar-paradoxon.blog�ot.com

A Paradoxon Produções continua o seu caminho traçado, desde 1997. O cinema e, sobretudo, a divulgação do cinema como cultura e arte. Enfatizar e divulgar os jovens cinea�as portugueses entre os quais e�e grupo se inclui, não ob�ante a dura tarefa de conseguir produzir e realizar os filmes, num país onde as pequenas produtoras e�ão abandonadas. É imperativo para a Paradoxon Produções continuar os seus trabalhos quaisquer que sejam os ob�áculos a tran�or. Já Charlie Chaplin dizia,

“num filme o que importa não é a rea�dade, mas o que dela possa extrair a imaginação“ E é com e�e pensamento que a Paradoxon Produções continua a sua caminhada no preto e branco, no claro e no escuro do cinema independente.


86 curta metragem “Desi�e” Paradoxon Produções

Workshop “Quanto tempo dura um in�ante?” orientado por Carlos Carrilho e Dora Batalim CAMJAP - Fundação Calou�e Gulbenkian • 15 de Dezembro de 2007


88

curta metragem “Insonia” Paradoxon Produções

Melhor curta metragem nacional Fe�ival internacional de cinema Arouca 2008


90

curta metragem “Pausa”

curta metragem “Pausa”

Paradoxon Produções

Paradoxon Produções


92 texto Maria Keil · 1995 fotografia José Pedro Santa Bárbara

“Escamas 2” foi a propo�a de exposição de fotografia de José Pedro Santa-Bárbara que encerrou o eixo temático para a cultura no ano de 2008 no concelho de Alcochete, sobre o CORPO. A exposição e�eve no Fórum Cultural de Alcochete de 15 Novembro 2008 a 4 Janeiro 2009. É uma abordagem sobre as modificações corporais, através das tatuagens, num paralelismo entre passado e futuro, uma vez que 12 anos antes surgia ‘Esca-

Os seres humanos são extraordinários. Incansáveis. Inesgotáveis. Desde que se conhece a hi�ória do pensamento que o homem* vem dando provas disso, descobrindo, inventando coisas, necessárias e desnecessárias, continuamente, sem tréguas, usando a sua prodigiosa faculdade de pensar. E irá continuando assim até às últimas consequências. Quais, não se imagina. Mas vai. E não é só no campo dos grandes inventos. E�ou eu pensando agora no que o homem* tem inventado para, dentro do possível, corrigir a Natureza que o criou tão indefeso.

Tão nu. Sem plumagem colorida, sem pelagem

prote�ora, sem escamas brilhantes, sem nada que o embeleze como aos outros animais ricamente ve�idos. O homem* tem-se defendido inventando coisas sem conta para cobrir o corpo, para disfarçar a sua pobreza, a sua condição de animal nu. (Temos de reconhecer que o homem* ao pé dos outros animais de�e planeta é um animalzinho feio). Mas pensa. E sabe que é feio e nu. E faz o que pode para remediar essa inju�iça da Natureza. Às vezes consegue.

mas 1’ (Valência “, Galeria Purgatorio I; Ca�ellón, Galeria Centro Urbano). Alguns dos modelos de há 12 anos atrás deixaram fotografar-se de novo, podendo

Por isso fiquei tão encantada com as imagens que vi de corpos tatuados. Penso que o caminho e�á aberto para que a Humanidade vá mudando para melhor.

observar-se a evolução das suas tatuagens em particular, e da tatuagem em geral, o tipo de desenho, o tamanho do desenho, a cor, a colecção de diferentes autores num só corpo.

[*onde se lê «o homem» leia-se o ser humano em todo o texto]


94 fotografia José Pedro Santa Bárbara


96

fotografia José Pedro Santa Bárbara

fotografia José Pedro Santa Bárbara


98

fotografia José Pedro Santa Bárbara

fotografia José Pedro Santa Bárbara


Workshop “Quanto tempo dura um in�ante?” orientado por Carlos Carrilho e Dora Batalim CAMJAP - Fundação Calou�e Gulbenkian • 15 de Dezembro de 2007 fotografia José Pedro Santa Bárbara


102

fotografia José Pedro Santa Bárbara

fotografia José Pedro Santa Bárbara


104 fotografia José Pedro Santa Bárbara


fotografia fotografias Cedidas por Lurdes Afonso composição gráfica Sandra Afonso

José Pedro Santa Bárbara


108 ilu�ração Johan van Huys�een “17 Wet 1”


110 fotografia Natalia Valle “After the �orm”


112

fotografia Natalia Valle

fotografia Natalia Valle

“Jewlery”

“Sem título”


Cidade

Condições para colaboração: Cada número tem um tema como ponto de partida. A part ir daí, a forma e o conteúdo da colaborações sã s o completamen te livres. A MUTANTE não e�á obrigada a publicar todos os trabalhos re cebidos.

114 fotografia e montagem Sandra Afonso

As colaborações

não são remun

eradas. Os conteúdos são da inteira re�onsabilidad dos re�e�ivos e autores. Os colaborado res, enquanto titulares em ex clusivo dos dire itos referentes à propriedade intele�ual corr e�ondentes à sua condição de autor, autorizam a MUTANTE a di vulgar, publicar e a usar as peças da sua au toria, na versão online e numa eventual versão impressa, bem como nos vário s meios e supo rtes de comunicação, ineren tes à divulgação e publicidade do proje�o. Créditos dos co laboradores: Todos os trab alhos publicad os serão identificados. Para is so, as colabora ções enviadas devem ser ac ompanhadas pelos seguinte dados: título da s peça; nome do autor e breve apresentação (m áximo 3 linhas) ; e-mail e/ou website. E�es dados devem se r enviados em ficheiro separa do e não deve m figurar nos trabalhos, sobr etudo, no caso de imagens. E�ecificações técnicas: As imagens de vem ser enviad as em CMYK no formatos TIF ou s JPG, em taman ho real e com uma resolução de 300 dpi. Os textos deve m ter a dimensã o máxima de 4 páginas, em Ar ial, tamanho 11 a 1,5 e�aço.

é o tema da 4a e A minha cidade dição da Mutante. onde nascemos e a tua cidade. A cidade mos, a cidade on, a cidade onde e�udáque visitámos d de vivemos, a cidade ou a cidade real.e fugida, a cidade ideal O burburinho, o As árvores e o betão. Mas também os �ress e a poluição. sorrisos, os balo e o rio. iços A data limite é 3 1 de Março de 20 09.

Colabore com a MUTANTE, so mos um e�aç e aberto a di o livre ferentes per� e�ivas sobre propo�o. O te o tema ma do 4. o nú mero será a Envie-nos os CIDADE. seus textos, fotografias, de ideias ou proj senhos, e�os, até ao dia 31 de Mar info@mutante ço, para: .pt


j COLABORADORES

Ana Calhau l anacalhau@netcabo.pt http://www.�orm-magazine.com/novodb/arqmais.php?id=418&sec=&secn= http://www.lainsignia.org/2004/enero/cul_076.htm Designer de Comunicação. Me�rado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação. Trabalhou, entre outros, nos ateliers: Criativa, Proto Design e Quadrado Branco. Co-autora do livro “Dia Por Ama”, com Eduiardo Prado Coelho [texto e imagem]. Proje�os/exposições individuais: “Font”, “Aurascape”, “Hífen” e “�e Source Flux”. A�ualmente trabalha como freelancer em design de comunicação, fotografia, ilu�ração e escrita poética.

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Andreia Correia | andreiacorreia2008@gmail.com 28 anos, Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas-Variante E�udos Portugueses; tem uma pós-graduação em ensino de Português e um Me�rado em Literatura Portuguesa, cuja tese foi defendida com o título “A Poética de Nuno Júdice - Da Viagem pela Terra de Ninguém ou Da Geometria da Intimidade”. A�ualmente e�á a frequentar uma pós-graduação em Programação e Ge�ão Cultural. Mal pode e�erar pelo que se segue, atendendo ao fa�o de go�ar demasiado de e�ar sempre a aprender. A escrita sempre foi uma paixão; uma forma e�ecular de se re-conhecer. Catarina Leal | cl@catarinaleal.com Natural da Figueira da Foz, licenciou-se em design gráfico e ilu�ração pela ARCA-EUAC, Coimbra, em 2000. Em 2004 completa o Me�rado Photography and Urban Cultures pelo Goldsmiths College, University of London, Reino Unido. Desde 1997 que trabalha como designer, editora de fotografia e fotógrafa. Depois de viver mais de 5 anos em Londres, trabalha há 2 anos como dire�ora de arte para a Carré Noir, Grupo Publicis, em Sófia, Bulgária. Cláudia Abrantes | claudiahabrantes@hotmail.com Lisboa, 1984. Curso de Fotografia pelo Ar.Co e licenciada em Design gráfico pelo IADE. Exposição de trabalhos fotográficos e menções honrosas no Concurso Nacional da Casa da Juventude de Póvoa de Varzim e no concurso CB Richard Ellis, Portugal. Ex-nadadora federada e campeã pela equipa do Benfica. Fã de serigrafias, colecciona livros e diários gráficos. A concluir o mestrado em Produção Visual. Cri�ina Ataíde | www.cri�inataide.com Licenciada em Escultura pela ESBAL. Foi dire�ora de produção de Escultura e Design da Madein de 1987 a 1996. O seu trabalho e�á representado em colecções públicas e particulares. Expõe individualmente e participa regularmente em exposições cole�ivas. Tem várias esculturas públicas em Portugal e no e�rangeiro.

Daniel Biléu | danielbileu@hotmail.com Daniel Biléu é um arti�a auto-didata que vive e trabalha no Rio de Janeiro. Em seu trabalho, cria aglomerados de formas, curvas, e�irais e linhas leves que formam um delicado universo de símbolos com movimentos próprios. E�udou Hi�ória da Arte, Arte Contemporânea e hoje, além das artes plá�icas, trabalha também com design e ilu�ração. Influenciado pela Art Nouveau e arquitetura Art Deco e por alguns me�res da pintura moderni�a figurativa, como Modigliani, Gu�av Klimt e Egon Schiele. É possível encontrar em seu trabalho, muito de arte antiga indígena, como a dos Maori (Polinésia) e dos Marajoara (Brasil). Toda essa mi�ura cria um e�ilo forte, elegante e único. Filipe Cartaxo | filipecartaxo@gmail.com | http://www.flickr.com/photos/cartaxo/ Poeta da luz, das formas simples e equilibradas, transforma a cena do cotidiano em belas imagens contemporâneas. E�e jovem fotógrafo ‘coleta’, com seu olhar sensível, o lado humani�a representado por cada movimento e pelos ge�os congelados em suas imagens. Suas con�ruções parecem ter sido meticulosamente calculadas diante do rigor observável na composição de suas imagens. Filipe “descreve” vigorosamente com a luz o que poetas procuram expressar em versos. texto de Edgard Oliva Já expôs em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Salvador, Portugal. Hernâni Duarte Maria Nasceu em Lagos no Algarve , 37 anos. Licenciado em património cultural pela Universidade do Algarve. Membro fundador da Paradoxon Produções. Realizador, argumenti�a. Isa Silva | isatatitati@live.com.pt Isa Tatiana Jorge Pinto da Silva Data de nascimento: 26-09-1987 Habilitações: finali�a do curso da licenciatura de Arte e Multimedia, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Formação: formação na área de fotografia, ilu�ração, webdesign, videoarte. Isabel Cotrim Sou antropóloga, embora me dedique, há muito tempo, a outras áreas. Go�o da mudança e da diversidade, do verão... de comer 2 bolas de sorvete de limão, e juntar morangos com chocolate! Isabel Santa Bárbara | isabel.santabarbara@gmail.com Saí de Braga há 17 anos mas ainda digo a Avª João XXI (de Braga) é a minha rua. Adoptei Lisboa sem ser adoptada mas, sou assim - vou sempre pelo caminho mais difícil. Todos os dias tenho que sair, ver gente, ouvir a cidade – pode ser e�a ou outra qualquer – desde que mexa.


j COLABORADORES

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Aos seis anos elegi a escrita como a minha forma favorita de comunicar. Go�o do mar, de um bom vinho, de um bom livro, de uma boa conversa, de um beijo, de uma árvore, do abraço dos amigos e das fe�as do meu gato. Às vezes também quero a Lua, mas ela vai aparecendo.

Marcelo Vieira | mvieiradg@gmail.com Marcelo Vieira, 27 anos, cidade de Araçatuba, SP, Brasil Formado em design grafico e ilu�rador, trabalho como free-lancer na área editorial, identidade visual e ilu�ração e trabalho em uma agência de publicidade.

Joana Oliveira Nasceu em Lagos no Algarve , 27 anos. Licenciada em património cultural pela universidade do algarve. Começou aos 15 anos no teatro oficina de lagos. A�riz,cara�erizadora e re�onsável pelo guarda roupa. A�ualmente exerce funções de assi�ente de produção e a�riz na paradoxon produções.

Nuno Patrício/mnemonica | a.mnemonica@gmail.com Go�o de observar o e�aço até mergulhar nele profundamente.

João Madeira | joao.madeira@ideal-line.pt Único membro de um núcleo familiar que não sabe desenhar, procura na escrita uma forma útil de exprimir a sua veia artí�ica. A�o inútil, pois o pendor para a dissensão aniquila a poesia e dá lugar à sátira. É nesse género que mais produz, embora por vezes se torne sentimental. Não é feliz sem escrever, nem quando escreve, mas prefere ter as mãos ocupadas. João Tinoco | jbtinoco@yahoo.com | http://hamsalivros.wordpress.com Tem o curso de design do IADE. Trabalha “por conta própria” como designer e ilu�rador, nomeadamente na área da literatura infantil onde tem vários livros publicados. Como editor freelancer criou o proje�o “Hamsa” que em breve lançará o 1º livro. Johan van Huys�een | jvanhuys@hotmail.com I was born in Pretoria on the 1� of December 1988 and matriculated at Hoërskool Waterkloof in 2006. I am currently a second year BA Fine Arts �udent at the University of Pretoria. As of yet I have obtained basic schooling in charcoal drawing, pa�el drawing, figure �udy, Adobe Photoshop® CS3, Adobe Premiere® Pro CS3, Adobe Indesign® CS3, oil painting, acrylic painting, sculpting in clay and bronze and wood work, printmaking (lino cuts and etching), photography (pinhole photography and manual SLR with film) and silkscreening. I have been under tutorship of arti�s such as Dianne Vi�or, Guy du Toit, Berco Wilsenach, Prof. Margaret Gradwell (Slabbert), Rina Stutzer, Diek Grobler, Carla Crafford, Pieter Swanepoel, André Naude and Angus Taylor. José Pedro Santa Bárbara | pi.santabarbara@gmail.com Nasci nas Caldas da Rainha porque os meus pais viveram lá uns tempos mas sou lisboeta de alma (rockabilly) e coração (de leão). A casa é o meu porto seguro e go�o de conduzir a vida do meu sofá. Daí só go�o de sair para uns copos com os amigos, um bom concerto, ir à praia ou viajar – de preferência juntar várias de�as opções. E voltar a casa sabe sempre bem. Fiz foto reportagem anos a fio até finalmente ser freelancer. É muito arriscado mas quem não corre riscos?

Pedro Noel da Luz Nasceu em Portimão no Algarve , 32 anos. Fotografo freelancer, editor de vídeo. Exerce funções de realização e direcção de fotografia na Paradoxon Produções. Frequentou o curso de formação profissional de tecnologias da informação e comunicação e multimédia de nível III no Centro de Formação Profissional de Alju�rel Rita Verdades | ritaverdades@hotmail.com “But i don´t want to go among mad people” said Alice. “Oh, you can´t help that” said the cat. “we are all mad here.” by Lewis Carrol O meu Mundo pessoal onde tudo é concerteza muito doido e ao mesmo tempo tudo muito “Naive”. Cores como o vermelho, o preto e o branco e�ão sempre presentes nas composições desenhadas à mão com um traço meio primitivo. No escuro encontra-se sempre e�erança em forma de coração e�e simboliza-me sendo como a minha assinatura/marca... Sandra Afonso | sandraafonso@mac.com Designer de comunicação e ser mutante. Go�a de observar, analisar, partilhar e materializar as coisas que vou sentindo, por definição, sempre de forma diferente. Amanhã, e�as linhas seriam outras. O essencial continuará o mesmo. Sara Capitão | saraqcapitao@gmail.com Me�randa em “Reabilitação do E�aço Con�ruído”, Universidade de Coimbra. Licenciatura em Arquite�ura pela ARCA-EUAC (2001). Pós-graduação em “Reabilitação e Re�auro em Arquite�ura de Interiores” na Fundação Ricardo E�írito Santo Silva (2004). Trabalha a�ualmente como freelancer. Ilu�rou o livro infantil “Uma Bola Sem Fronteiras” (2004), desenhou a imagem dos equipamentos das equipas de giná�ica do Clube ACM de Coimbra e realizou uma exposição “Faeries” (2006) no Quebra-Club em Coimbra. Sofia Macedo | macedosofia@gmail.com É licenciada em Eng.Química e Pós Graduada em Enga Sanitária. Dedica-se também à fotografia e realizou a primeira exposição individual em 2007 na Associação TenChi Internacional.


Colofon A revi�a Mutante é uma criação de Alexandra Bertrand, Isabel Cotrim, João Pedro Rato e Sandra Afonso. Compo�a com a fonte Leitura de Dino dos Santos. Difundida através de meio digital. www.mutante.pt Fevereiro de 2009



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