Ampliação dos saberes

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[AMPLIAÇÃO DOS SABERES] Autoria: Daniela de Santana Função: Coordenadora pedagógica Instituição: Escola Municipal do Gravatá Município: Camaçari - BA

O termo “formação”, na concepção de Larrosa, representa na contemporaneidade um “processo temporal pelo qual um sujeito singular alcança sua própria identidade, configura sua particular humanidade ou, definitivamente, converte-se no que é”. Ser responsável pelas ações de formação na escola é oferecer situações para que o professor alcance sua própria forma, constitua sua própria identidade. Neste sentido, o coordenador pedagógico como formador tem o papel de mediador das aprendizagens do professor, é aquele que observa as experiências, que escuta, acolhe, problematiza, faz diagnósticos, oferecendo condições para que este profissional ressignifique sua prática e reelabore seu conhecimento. Este encontro intensificou a prática de ampliação dos saberes. Um formador não pode limitar-se ao “senso comum”. Ao assumir uma experiência formativa, é indispensável adquirir uma postura de estudo para ampliação dos saberes científicos, pois os referenciais teóricos permitem ao coordenador-formador olhar e refletir a prática na perspectiva de qualificá-la, de entendê-la, para assim desenvolvê-la melhor. Sob luzes e câmeras entramos em ação! De modo divertido o registro do encontro anterior foi compartilhado pelas coordenadoras Noemia e Mônica com a participação de todas. A assessora Rita Margarete fez um questionamento ao grupo sobre o conteúdo do registro: na ausência de uma resposta, ela ressaltou que o texto apresentou uma fluência poética fantástica, mas do seu ponto de vista faltaram alguns aspectos abordados no encontro, sendo necessário outro texto que contemplasse os elementos ausentes. As autoras do registro falaram que já tinham feito um texto narrativo sobre o encontro. Em seguida, sentadas numa colcha de retalhos e no aconchego de uma grande roda, aconteceu o momento da tertúlia, onde nos deliciamos com os poemas de Cecília Meireles, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade. O poema nos toca de forma muito particular, assim a coordenadora Valéria expressou o sentimento voltado à relação do cotidiano agitado e como isto vem fechando o nosso olhar para os sinais vindos da natureza, que agora ela deixa a cortina do seu quarto aberta para contemplar o céu antes de adormecer. Com a leitura do poema, Girlene trouxe as lembranças da infância, do seu avô que tinha um cavalo para cada ocasião. “Deixe em paz os passarinhos, se me queres


enfim tem de ser devagarinho” – trecho do poema elegido pela coordenadora Ana Lúcia como muito tocante, que, assim como Osvaldina, refletiu que todos nós precisamos do amor, sem o amor nada somos. Durante este espaço de pura poesia, tivemos a visita do secretário de Educação, Márcio Neves. Rita Margarete falou um pouco sobre a vivência e solicitou que ele indicasse um livro literário para o grupo; este sugeriu o título As viagens de Téo, comentou brevemente sobre a história e ressaltou que o grupo irá se surpreender com o desfecho do livro, que é muito emocionante. Encerrando a tertúlia, Rita fez um comentário: que a poesia é o encontro de sentido, estes sentidos são múltiplos, abertos a diversas interpretações. Precisamos ser tocados pelo poema. E para a próxima tertúlia foi sugerido pelo grupo a leitura de textos literários do Almanaque Paralapracá e do livro 111 poemas. Dando prosseguimento ao encontro, a assessora Rita Margarete solicitou que o grupo se organizasse em quartetos para o estudo dos textos “A leitura literária na Educação Infantil” e “Os bebês, a leitura e a literatura”, destacando informações importantes. Cabe uma citação do caderno de orientação Assim se Faz Literatura, que introduz de forma efetiva o diálogo alinhando opiniões e saberes ocorrido após a leitura e discussão nos pequenos grupos: Quando falamos em literatura para crianças, falamos também na formação leitora, em especial a formação do leitor de literatura. O primeiro contato das crianças com o literário se dá pelas experiências sonoras e imagéticas, através da escuta de histórias, da apreciação das ilustrações dos livros e das brincadeiras com a poesia oral. Logo, porém, o seu contato com o livro a aproxima da linguagem escrita, pela via da leitura do adulto e de tudo que ela passa a observar dessa atividade leitora, na interação com os livros e com os outros. Neste espaço dialógico, foi intensa a circulação de saberes e experiências pedagógicas – as falas, as teorias, as práticas, ilustraram significativamente como se dá este processo formativo do coordenador- formador. A teoria é constitutiva da prática e a prática da teoria; ambas se apoiam e se retroalimentam. Ante a riqueza dos conhecimentos compartilhados neste diálogo foram ilustrados aqueles que foram possíveis de serem registrados. Saliento que a maioria das falas não foram individualizadas, e sim contempladas em pontos comuns. O eixo Assim se Faz Literatura está encantando a todos e as crianças estão ávidas e solicitando das educadoras diversas leituras. A literatura está invadindo também o espaço familiar através do empréstimo de livros. Além de oferecer o universo literário para as crianças e, junto com isso, instigar a curiosidade em relação aos livros e ao que eles trazem, os adultos que leem para elas estão também apresentando características e especificidades do mundo da escrita e, principalmente, compartilhando atitudes e rituais referentes à leitura. (Caderno de Orientação Assim se Faz


Literatura, p.12) No processo de mediação a assessora Rita questiona ao grupo: o que é comportamento leitor? Diante disso algumas coordenadoras respondem que são atitudes em relação à leitura e ao ato de ler, como manusear o livro de forma sequencial, observar as ilustrações, compartilhar o que ler, comentar e/ou recomendar, selecionar o que vai ler. Rita comentou que o professor é o exemplo para a aprendizagem do comportamento leitor. Este precisa provocar as crianças no que diz respeito às preferências e indicações. As coordenadoras expuseram que o professor precisa se envolver com a leitura, conhecer os livros; se não tem o hábito leitor, como vou mobilizar o meu grupo de crianças para que se tornem leitores? É indispensável conhecer um vasto acervo literário para selecionar o texto adequado para as crianças. O trecho do caderno de orientação amplia esta reflexão: Mas, para que a relação com a leitura e a literatura se estabeleça de forma produtiva e prazerosa, temos que pensar sobre a qualidade dos livros que serão lidos e oferecidos às crianças. Quanto mais você conhecer a literatura infantil disponível, mais vai aprender a reconhecer suas qualidades literárias e construir suas referências de seleção (...) (Assim se Faz Literatura, p.13) A assessora Rita chama a atenção sobre alguns livros que são vendidos, bem finos, com pouco texto, comentou que não é o título que é ruim, mas sim a versão escrita da história. Em continuidade ao diálogo, ressaltou que na contação da história o foco é a pessoa e na leitura o foco é o livro – esta é uma relação de aprendizagem muito importante para a criança perceber a diferença entre as marcas da oralidade e as expressões da escrita. A coordenadora Cristina Nazaré compartilhou uma experiência da sua escola: um carrinho literário que circulou pela comunidade e foi parar no campo de futebol, onde as crianças chamavam as pessoas para lerem os livros. Agora o carrinho está visitando as salas de aula. O encantamento que as crianças tiveram em participar desta ação mostra o quanto a literatura promove o prazer, favorece a liberdade, emociona e amplia a experiência de mundo. A coordenadora Nádia também relatou a sua estratégia para fomentar a leitura por parte dos professores, organizou um ambiente esteticamente bonito e acolhedor, ofereceu momentos de deleite fazendo leitura para os professores. A leitura literária precisa fazer parte da rotina pedagógica, deve ter momentos específicos e estabelecidos para este fim. A leitura não merece ser desperdiçada para ocupar o tempo que sobrou desta rotina. Segundo Rita, os momentos de leitura espontâneos são fundamentais, mas o professor precisa ter clareza da intenção, precisa estar no seu planejamento. A coordenadora Carla salienta o papel do coordenador como alimentador do processo de permanência dos trabalhos educativos na escola. O olhar precisa estar mais sensível para perceber e buscar estratégias formativas de apoio


ao professor, ajudá-lo a refletir e conhecer mais sobre a literatura. A coordenadora Edna Matos comentou que a sua experiência mostra o quanto os bebês gostam de histórias, que o livro precisa ser bem selecionado, pois ele é um objeto para os bebês. A coordenadora Rita complementou que é interessante para este público a contação individual ou em pequenos grupos e que o educador precisa conhecer para perceber que para a faixa etária de 0 a 3 anos o tempo das ações é muito passageiro. O modo sensorial como os bebês exploram e conhecem o mundo os leva a manipular o livro, colocando-o na boca, chupando, mordendo, babando e jogando – tudo muito natural, pois só aos poucos, a partir da interação com os livros, é que vão aprendendo a utilizá-los de outras maneiras. Sendo inicialmente o livro, um objeto para o bebê, é necessária uma seleção apropriada para manuseio e leitura – livros de borracha, de tecido, de plástico, livros sonoros, com imagens grandes, com texturas e figuras de alto relevo. Este espaço de ampliação dos saberes e partilha de experiências foi muito bom para fomentar a reflexão sobre a ação do coordenador pedagógico em sua atuação como formador. Dando continuidade ao encontro, foram compartilhados os avanços e desafios da rede a partir das visitas às escolas e do diálogo pedagógico do primeiro semestre. As coordenadoras Simone e Jaira, mediante suas observações, pontuaram que de um modo geral ainda viram a literatura como meio para a criança ler e escrever e não como um caminho que promove o despertar de emoções, de diversão, de prazer; os cantinhos de leitura só utilizados em momentos específicos, os horários para a utilização dos livros literários também são definidos; algumas escolas têm um acervo literário insuficiente, para os bebês isto se complica ainda mais; as poesias, parlendas, lendas utilizadas para o ensino da língua; valorização pequena da cultura comunitária; novos cantinhos de aprendizagens na escola e reorganização das bibliotecas. A coordenadora técnica Mynuska salientou que chegou o momento de pensar sobre a fundamentação teórica do professor. O educador precisa sair do lugar em que ele está, pois a qualidade da educação oferecida às crianças não se dá apenas através do romantismo, do afã das novidades, mas especialmente através do apoderamento dos conhecimentos para compreensão e/ou solução dos desafios inerentes ao exercício da profissão. A coordenadora Ana Valéria apresentou para o grupo a sua experiência no AVA, comentou que este ambiente é o seu socorro diário, que as suas dúvidas e inquietações são quase sempre sanadas a partir dos comentários das colegas internautas. Comentou que conseguiu achar a solução para uma estratégia formativa para o trabalho com cordel para crianças. Falou que acessa o AVA todos os dias na escola durante um período, que está garantido este tempo para ela. A coordenadora Elisângela parabenizou Valéria pela garantia deste espaço, comentando brevemente sobre a sua dificuldade para ter um momento para estudar na escola. Valéria finalizou dizendo que no AVA ela encontra a teoria e prática dialogando constantemente. A coordenadora Cristina falou também sobre a sua experiência


nos Tic’s Tac’s e sua maratona para editar e publicar um vídeo. Finalizando o encontro, Mônica Samia agradeceu a abertura do grupo para a partilha das falas e experiências para o AVA e reforçou que precisamos garantir o nosso papel enquanto formadores. O coordenador precisa redefinir o seu lugar no contexto educacional, se afastar de questões burocráticas e administrativas e se aproximar mais da ação pedagógica. Falou também que estava muito feliz de ouvir o quanto a criança estava presente na fala do grupo. “A criança está o tempo todo junto de vocês.” A coordenadora Osvaldina foi convidada a declamar o seu poema que, com certeza, tocou em cada uma de nós de forma especial e única. E assim foi encerrado mais um encontro recheado de poesia, luz, câmara, ação e muita sabedoria.


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