Ferro à brasa

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[FERRO À BRASA] Autoria: Sinéia Wanderley Função: Professora Instituição: Creche Escola Maria Liege Tavares de Albuquerque Município: Maceió (AL)

A partir do projeto “Resgatando Valores Culturais”, fizemos uma viagem no tempo para mostrar como as pessoas utilizavam alguns utensílios no seu dia a dia. Durante a exposição, as crianças puderam apreciar, tocar, sentir, brincar e conhecer um pouquinho sobre objetos que eram usados pelas pessoas em outros tempos. Conhecer cada um deles, de que são feitos e suas utilidades foi ricamente cultural e prazeroso. Cada objeto traz consigo riqueza de significados e utilidades, hoje substituídas pela praticidade dos tempos modernos.


Exposição

E um dos utensílios que chamou a atenção das crianças foi um ferro à brasa que tenho e o levei para a sala. Ao apresentar o objeto, perguntei se sabiam o que era e a partir daí a curiosidade tomou conta. Surgiram experiências que proporcionaram inúmeras aprendizagens, diversas sensações e o instinto investigativo das crianças, que foram estimuladas a serem autônomas e a conviverem com o outro, com a natureza e, acima de tudo, se divertiram.


E nossa tarde foi de muitas descobertas! Coloquei o objeto no meio da rodinha e perguntei o que achavam que era. E a conversa fluiu. Kauanny Vitória disse: - É um regador. Davi Arthur, incomodado com o que a colega falou, perguntou: - E como funciona? Jaylane completou: - Metade é ferro e outra metade é regador. Mas, Davi Arthur complementou: - Não é regador porque não tem buraco para sair água. Serve pra fazer chá! E as crianças continuaram observando o objeto. - Eu desisto! - Disse Jaylane. Khauanny Ferraz apontou para um buraquinho na frente do objeto e disse: - Isso aqui abre. - É um ferro de passar - disse a Laura Bianca. - Vamos abrir pra ver o que tem dentro - disse Jaylane. - Acho que já vi um desse! Então, fazendo movimento de abrir, falei: - O que será que tem aqui dentro? E as ideias foram muitas... Khauanny Ferraz disse: - não tem nada!... Tem carrinho! João Paulo disse ter um brinquedo. Karine disse ter um objeto, mas não especificou. Sthefany disse que tinha estrelinha. Laura apostou numa bola. Jaylane acha ser boneca. Kamilla pensa ter uma flor.


Kauanny Vitória, Ryam e Davi Arthur também acham que tem um carro. E quando abri a parte superior todos puderam ver que não tinha nada. Então continuamos a conversa. E falei que o objeto é um ferro de passar roupas. Ficaram admirados! E como usava? - Perguntou o Arthur. Falei como era usado antigamente. Então, foram manipular o objeto. Nicole disse que era muito pesado! Jaylane então falou: - As pessoas faziam uma fogueira, colocava ele em cima e passava a roupa. Indaguei: - Pra quê colocar o ferro em cima? - Pra ficar quente e passar. Jaylane, mostrando seu conhecimento, disse: - Pega duas pedras, esfrega e faz o fogo. Khauanny Ferraz também apresentou outro jeito: - Meu vô pega um copinho, coloca papel higiênico e óleo. Coloca fogo e faz o fogo. A Jaylane também disse conhecer essa maneira de fazer fogo. Após todas as descobertas, convidei-os a coletar uns gravetos para servir de base para fazer um fogo, aquecer o carvão e torná-lo brasa que aquecerá o ferro. Todos foram à coleta.

Coleta de gravetos para fazer fogo (11/07/16).

O dia seguinte foi para fazer brasas e colocar no ferro. Todo cuidado é pouco... Mas deu tudo certo!


Colocamos os gravetos e a professora acendeu o fósforo

Enfim, o ferro à brasa começava a esquentar! Momento de expectativa das crianças, para que o fogo pegasse e as brasas aquecessem o ferro. As mãos próximas confirmam o aquecimento. As crianças precisam do contato com elementos da natureza e dessa vez foi o fogo que foi explorado.


Foi uma rica e prazerosa experiência onde as atenções se voltaram para o ferro, um objeto antigo que não faz parte do cotidiano das crianças, mas que carrega consigo histórias e lembranças do passado. Vale muito à pena conhecer aspectos dos nossos primórdios. No meio ao entusiasmo, levei uma vela e fósforo para a rodinha e perguntei para as crianças o que achavam que aconteceria. E a conversa fluiu! - Vai soltar fogo! - Disse Jaylane. - A brasa - disse Kauanny Vitória. Então, perguntei: - Fogo ou brasa? E a maioria falou: - fogo!!! Ao acender a vela, os comentários foram surgindo sobre esse elemento tão importante para nossas vidas. E mais uma vez, Jaylane falou: - O fogo é uma coisa perigosa que a criança pequena não pode mexer, porque se mexer vai se queimar. - Criança de um ano não pode mexer porque ainda é bebê. Completou a Khauanny Ferraz. - Porque se o bebê botar a mão no fogo queima. - Disse Kauanny Vitória. Então, intervi: - Mas só criança de um ano pode se queimar? Então, pessoas maiores não se queimam se pegar no fogo? E todos numa só voz disseram: - sim! Mas Arthur discordou. Então me voltei a ele e perguntei: - Se eu tentar pegar nesse fogo da vela vou me queimar? E sem demora respondeu: - sim. Acredito que ele não havia entendido. E continuamos: - Para que serve o fogo? A maioria se referiu às vivências do cotidiano: - para fazer comida! - Davi Arthur disse que servia para fazer fogueira e imediatamente relacionou ao milho! -“Você pega uma madeira, bota o fogo, bota o milho num pau e vai queimar”. - Comer cru? - Perguntou Kauanny Vitória. E ele respondeu: - Não! O milho serve pra comer cozinhado e assado. Jaylane disse que era pra fazer comidas, fogueira... João Paulo lembrou que pode fazer churrasco e o Kelvin complementou: - Assa a calabresa! - Alguém sabe como o fogo foi feito? Kauanny Vitória citou a cruz.. Laura Bianca disse ter sido Jesus. - Deus - disseram Khauanny Ferraz e João Paulo. Jaylane disse: - o homem. Então pedi que ela recontasse o que havia dito no dia anterior. - “Pega duas pedrinhas, esfrega uma na outra bem assim (e mostrou com as mãos como fazia). Também pega dois gravetinhos, esfrega um no outro e sai fogo.” Perguntei como ela sabia e me falou que foi na televisão, num desenho da Peppa Pig.


Conversamos que esse era o modo de obter o fogo há muito tempo atrás, no tempo das cavernas. - E hoje, como fazemos para ter o fogo? - A gente acende o fósforo - disse Karine. E a Khauanny Ferraz complementou falando do isqueiro. Frisei o movimento necessário para que haja ‘atrito’ e assim a faísca surge. As crianças participaram bastante das discussões, trazendo conhecimentos do censo comum, que aos poucos vão se aprimorando em momentos de experiências e interações. Nossa conversa continua dessa vez fazendo comparativos entre ferro à brasa e ferro elétrico. Muitas foram as observações feitas pelas crianças. - O ferro antigo funciona com fogo - disse o Davi Arthur. E Khauanny Ferraz complementou que o outro funciona na energia quando encaixa na tomada. - O ferro à brasa sai fumaça - disse Kauanny Vitórtia e Karine afirmou que o ferro de sua mãe também sai fumaça pelo buraquinho. Complementei que era o vapor porque tem ferros que se coloca água e quando esta entra em contato com a parte quente transforma-se em fumaça, facilitando passar as roupas. E ele complementou que era assim mesmo. São as vivências sendo discutidas e valorizadas no âmbito da escola. Thallysson, Ryam e Davi Arthur foram unânimes em afirmar que o ferro elétrico não abre e que o outro abre para colocar a brasa. E Vanessa concluiu: - Parecem iguais, mas só um pouquinho!

Comparando ferro à brasa e ferro elétrico


- Mas, por que será que o ferro antigo foi feito de ferro? Realizamos alguns experimentos para comprovar a ação do fogo em relação à diversos materiais como: papel, plástico, madeiras grossa e fina, isopor, metais. Observando essas ações, as crianças puderam observar que o metal é, dentre os outros, o que resiste ao fogo.


Ação do fogo nos diversos materiais

E o grande final... Depois de vivenciar todos esses momentos, nada melhor que conferir a eficácia do ferro à brasa. Convidamos o Ilton, funcionário da escola, para fazer o fogo, colocar a brasa para aquecer o ferro. E, quando estava aquecido, todas as crianças vivenciaram a experiência.


Alguns só quiseram passar um pouquinho, enquanto outros conferiam se esquentava. Mas teve também quem comentasse que o ferro era muito pesado, como foi o caso da Karine, do João Paulo e da Vanessa. As imagens a seguir falam por si.


JoĂŁo Paulo mencionando o peso do ferro Ă brasa


Hora de conferir se o ferro esquentou mesmo! Oportunizando momentos como esses as crianças assumem uma atitude de pequenos alquimistas, atentos e compenetrados. Experimentando, as crianças vivenciam, enriquecem e ampliam seus conhecimentos. Foi muito bom o trabalho! Superou minhas expectativas, que eram apenas de mostrar um objeto histórico e cultural, que fez parte da vida de muitas pessoas num tempo diferente do nosso. Com o incentivo recebido de algumas pessoas, ’extrapolamos’ e foi maravilhoso o envolvimento das crianças a cada etapa realizada. Certamente uma experiência única que levaremos (eu e as crianças) em nossas memórias. Muito bom mesmo! Deixo aqui meus agradecimentos a todas as pessoas que contribuíram, direta ou indiretamente, para que essa riqueza de vivências e interações acontecesse.


SinĂŠia Wanderley de Souza Professora

Seguem outras fotos, caso precisem.










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