Paisagem Artística: Figurinha carimbada promoção da cultura numa viagem com Zé Barros

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[FIGURINHA CARIMBADA: PROMOÇÃO DA CULTURA NUMA VIAGEM COM ZÉ BARROS] Autoria: Evely Barros Paz de Lima, diretora pedagógica; Ariadna de Carvalho Barbosa, diretora administrativo financeiro; Maria das Graças Dantas Bezerra, coordenadora pedagógica; Kelle Cristine Mendonça dos Santos, professora. Instituição: CMEI Irmã Dulce Município: Natal - RN

Município: Data:

Não precisa de muitos instrumentos, nem um grande palco. Qualquer coisa fica linda, quando se faz de coração. Como meu próprio pai costuma falar. Enquanto tiver alguém que gosta de apreciar o autêntico forró pé-de-serra, ele dirá “Maravilha meu povo querido, ainda vale a pena respirar!” (Antônio Lins de Barros)

Em meio às Paisagens Culturais do Bairro de Felipe Camarão, encontramos uma figurinha carimbada; um ilustre morador de voz suave que encanta a todos ao interpretar canções de sua autoria, Zé Barros. Filho da Terra, que canta com a alma e enxerga com o coração: resgate de uma história. Paraibano de origem, o filho de Dona Luiza e seu Antônio chegou ao Rio Grande do Norte, aos cinco anos de idade. Recém-chegado à Cidade do Sol, enfrentou uma vida difícil com sua mãe. Moravam em uma “taperazinha” emprestada por uma amiga, próximo ao Rio das Quintas, lugar que lhe trás à memória o cheiro de mangas, pois da janela se alegrava com as mangas que via cair lá fora e com o rio em que tomava banho, enquanto sua mãe lavava roupas para o sustento da casa. Lembra com emoção da mãe e do pai, pois não chegou a conhecer o seu genitor, que se aventurou em Natal, na expectativa de uma vida melhor, trabalhando de tudo no mundo. De lavadeira de roupas nas Quintas, sua mãe foi trabalhar de cozinheira na Cidade Alta, na casa de pessoas influentes da sociedade natalense. Desse tempo, guarda muitas lembranças boas, pois quando não estava fazendo “mandados”, geralmente estava brincando com as crianças da casa e da vizinhança de patinete, tomando banho no canal do baldo e andando de jipe pela Cidade Alta. Afirma que nunca soube que era “pobre” nessa época. Ia para Escola Estadual Padre Miguelinho – escola em que estudou quando criança – no carro junto com os meninos e a dona da casa, D. Lurdinha, que também era diretora da escola. Esta, que ficou guardada em sua memória pelo jeito carinhoso que lhe tratava. Da Cidade Alta percorreu alguns bairros da zona oeste, agora já em companhia do padrasto e dos irmãos que foram nascendo, dois meninos e uma menina. A vida foi ficando difícil para a família e assim foram conhecendo o Bom Pastor, Nazaré, Alecrim, Cidade da Esperança e Cidade Nova, finalizando a peregrinação em Felipe Camarão, lugar onde reside até hoje, há mais de dezessete anos. Aos quatorze anos, quando não estava nas dunas com os amigos, já cantava forró em festas e bailes da cidade e até algumas serestas, frequentando o Forró da Coreia, contra as ordens da mãe. Cometia essa infração para cantar ao lado de Elino Julião, no Bom Pastor. Em 1980 teve a oportunidade de mostrar seu trabalho como compositor no I Festival dos Compositores do Rio Grande do Norte, com a música “Toada Sertaneja”, ganhando a premiação máxima, o troféu Paulo Lira. A perda da visão, que se iniciou na década de 80, por causa de uma retinose pigmentar (há suspeita de ter ocorrido devido à união consanguínea entre o pai e a mãe, uma vez que são primos em primeiro grau), não tirou sua paixão pela vida nem pela música, mas o medo de perder a namorada Ivaneide sim, fez o romântico Zé omitir que já não


enxergava quase nada. Driblou tão bem a situação que conseguiu enganá-la por três meses e só foi descoberto por um fatídico encontro marcado, que não aconteceu, porque a moça passou por ele e ele não a viu... Colocado em um canto de parede, contou-lhe a condição de cego, mesmo temendo perder o grande amor, mas já era tarde. Dona Ivaneide já estava apaixonada e disse-lhe no momento: “_ Já tá dando certo até agora, não tem porque acabar”. Desse amor, nasceu Isabela e Juliana, filha que hoje o acompanha e canta com ele mundo a fora, além da netinha Yasmin. Nunca usou a condição de cego para se acomodar, e já fez de tudo um pouco para sustentar sua família, porém teve que abandonar a atividade que uma vez teve como pedreiro. Da culinária nordestina ele gosta de tudo, mas se tem uma coisa que seu Zé não resiste é a um arroz de leite com feijão branco farofado e um bode bem torradinho. Ao longo da adaptação à nova realidade, sendo homem de muitas amizades e querido por todos, continuou a desenvolver a sua vocação de cantor e compositor, vindo a ser reconhecido em todo nordeste como um artista singular e de estilo próprio, bem como, exemplo de ser humano e superação. Portanto, de valor imensurável como pessoa. O filho adotivo da Cidade do Sol sempre apresentou um estilo variado em suas apresentações, mas não abre mão de provocar um “sarrabufado” com o xote, xaxado, baião e arrasta-pé, que sempre fizeram parte da sua vida e do seu repertório. Zé Barros tem muitas de suas músicas gravadas por cantores e bandas conhecidas, dando mais repercussão à sua discografia os discos: Filho da Terra, Pé na Estrada e Sonho Singular. Pai de três filhos (Antônio Barros, do primeiro casamento com Nanci Lins, Isabela Barros e Juliane Barros, com sua atual esposa Ivaneide de Barros) e avô de dois netos (Yasmim de 6 anos, filha de Isabela, e Miguel de 1 ano e meio, filho de Antônio), diz que pretende continuar trabalhando até quando Deus permitir, para contribuir com a manutenção da casa, pois a aposentadoria que recebe também nunca foi motivo de se acomodar. CONSIDERAÇÕES FINAIS De fato, em uma viagem com Zé Barros! - a cada nova experiência educativa, queremos sempre mais, nos encantamos juntos e proporcionamos, assim, o encantamento das crianças. Nessa proposta, não concluímos um projeto, pois se disséssemos que o estávamos concluindo, nos enganaríamos. O CMEI é um imóvel que nunca se deslocará. Valorizar a cultura que está em seu entorno é que o torna móvel e com isso proporcionamos mobilidade aos envolvidos. As famílias se envolveram, os funcionários se envolveram, a equipe pedagógica se envolveu e com essa dinâmica o ganho é certo para o aprendizado e desenvolvimento das crianças. Temos como propósito na caminhada manter abertos olhos e ouvidos, para que possamos mostrar à comunidade acadêmica o quão possível é conhecer, reconhecer, respeitar e valorizar a cultura latente do Bairro de Felipe Camarão.




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