PARANÁ
EM FOCO 38
ABR.2014
Prejuízos na soja: veranico causa perdas de R$ 2,1 bilhões aos agricultores do Paraná
Hamilton Faria: escritor vai espalhar mínimoIMENSO em Curitiba, seu último livro de poesia
Construção civil: lançamento de projetos aquece o mercado e gera empregos no estado
O “SIM” QUE PODE SALVAR VIDAS DECISÃO DA FAMÍLIA SOBRE DOAÇÃO DOS ÓRGÃOS DA PESSOA FALECIDA É SOBERANA. DESCONHECIMENTO SOBRE O PROCESSO, NO ENTANTO, TEM FEITO AUMENTAR A FILA DE QUEM ESPERA POR UM TRANSPLANTE
EDITORIAL
EDIÇÃO 38 ABRIL DE 2014
Publicação Editora Paraná Em Foco Editor Sílvio Oricolli Redação Lucian Haro Colunista Nilson Monteiro Colaboradores Bruna Maarin Felipe Stresser José Luiz da Silva Nunes Luciana Maria Bassi Wilson Pedrosa Comercial Guaracy Ribas Junior Projeto Gráfico e Diagramação Celso Arimatéia Tiragem 30.000 exemplares auditados pela GP Auditores Fale com a redação redacao@jornalparanaemfoco.com.br Comercial junior@horaextramkt.com.br (041) 3029-6786 www.jornalparanaemfoco.com.br www.facebook.com/paranaemfoco @paranaemfoco
4 ABR.2014 Paraná em Foco
PROVA DE GENEROSIDADE No Paraná, em números fechados no início do mês passado, havia perto de 2.100 pessoas na fila de transplantes. A maioria (quase 1.600) esperando por um rim. Única chance para boa parte dos pacientes se livrar das hemodiálises e ter qualidade de vida. Outras 317 aguardam ansiosas pela doação de córneas. Alternativa que recolocará claridade na visão e cores na vida de cada uma delas. No entanto, o Estado, que é referência nacional quando se trata de transplantes de órgãos, retraiu-se nos dois primeiros meses do ano. Muitas e necessárias doações foram negadas por motivos ainda ignorados. Pode ser por desconhecimento do benefício que isso gera ou temor de que a retirada dos órgãos mutile o corpo. Também há quem diga que a família pode ficar insegura no momento de autorizar o transplante por temer que o doador ainda esteja vivo. No entanto, o ato só ocorre após a autorização formal dos familiares e com a comprovada morte cerebral do paciente, de acordo com protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Por isso, especialistas, famílias de pessoas que se beneficiaram com transplante e mesmo ONGs têm se mobilizado para reverter o quadro, a partir da conscientização das pessoas sobre a importância do ato que, se de um lado, exige coragem, de outro, é nobre e generoso, porque pode salvar vidas. Justamente por ser uma questão delicada e, ao mesmo tempo, envolver imensa generosidade, Paraná Em Foco ouviu envolvidos em campanhas de conscientização sobre a importância do ato. O propósito da matéria é contribuir para o aprofundamento do debate transparente sobre a necessidade de haver um número cada vez maior de doadores. Boa Leitura!
ÍNDICE
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
06 08
INTERNET VIA RAIO LASER MAIS “ANÉIS” NO UNIVERSO
SAÚDE
10 12 12 13 14
TESTE RÁPIDO PAR A TUBERCULOSE RESTRIÇÃO A CLAREADORES RANKING DE MÉDICOS E HOSPITAIS CORRETO E SADIO ENTRE O POSSÍVEL, O REAL E O IMAGINÁRIO
CIDADANIA
16 16 18
TRISTE QUADRO FACILITADA A ADOÇÃO INTERNACIONAL UMA REALIDADE POSSÍVEL
AGRONEGÓCIO
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ECONOMIA
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SALDO DO AGRONEGÓCIO É DE US$ 15,9 BILHÕES
A TODO O VAPOR
AGRICULTURA
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NOVA SOJA NO MERCADO TECNOLOGIA ALTERNATIVA SOJA TEM PERDAS DE MAIS DE R$ 2 BILHÕES
CULTURA
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COM UM PÉ NA “IMORTALIDADE” UM ANO E 55 MIL LIVROS REENCANTAR É PRECISO ARTE DA FAVELA NO MON NOBEL DA LITERATUVA INFANTO-JUVENIL É BRASILEIRO INFINITO E FOGOSO, POSTO QUE É CHAMA
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FOTOGRAFIA
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A ECONOMIA A CAMINHO DA MODERNIDADE
WILSON PEDROSA
ARTIGO
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AGRICULTURA DE PRECISÃO Paraná em Foco
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CIÊNCIA & TECNOLOGIA
INTERNET VIA O Facebook está com um plano ambicioso de conectar os dois terços do mundo que não têm acesso à internet usando drones, satélites e lasers, segundo anúncio feito por Mark Zuckerberg na mídia social. O projeto colocará a empresa em competição direta com o Google, que planeja levar internet à essas áreas por meio de balões. Os dois gigantes da internet querem ampliar suas audiências, principalmente nos países em desenvolvimento. Ainda há poucos detalhes sobre o projeto do Facebook, mas já se sabe que o plano é utilizar uma frota de drones (veículos aéreos não tripulados) movidos a energia solar, bem como satélites geoestacionários e em órbita próxima à Terra. Raios laser infravermelhos e invisíveis também poderiam ser usados para aumentar a velocidade das ligações de rede. No ano passado, o Facebook e outras empresas de tecnologia lançaram o internet.org para ajudar a levar acesso à internet para as enormes áreas do globo que ainda não estão conectadas.
Projeto, que utilizará satélite e drone, colocará Facebook em competição direta com o Google 6 ABR.2014 Paraná em Foco
Especialistas aeroespaciais A rede social já fez uma parceria com operadoras de telecomunicações nas Filipinas e no Paraguai para dobrar o número de pessoas usando a internet nessas regiões. “Nós vamos continuar fazendo essas parcerias, mas conectar o mundo inteiro vai exigir também inventar uma nova tecnologia”, disse Zuckerberg em seu post.
Para fazer o projeto se concretizar, o Facebook criou um Laboratório de Conectividade (Connectivity Lab) que conta com especialistas em aeronáutica e tecnologia de comunicação do laboratório de propulsão de jet da Nasa e do seu centro de pesquisa Ames. Também contratou uma equipe de cinco membros que trabalhou na em-
RAIO LASER Por Bruna Maarin*
Com o codinome Projeto Loon, 30 dos balões de super-pressão foram lançados da Nova Zelândia em junho. “O projeto terá vários obstáculos políticos para ultrapassar. Alguns governos não aceitarão ter essa frota em seu espaço aéreo”, disse Little. Ele acredita que tanto para o Facebook quanto para o Google, a tecnologia em seus projetos poderá provar ser “a parte fácil” e que o verdadeiro desafio consistirá em persuadir os governos ao redor do mundo de que suas redes alternativas são viáveis. “As operadoras móveis estão sempre sob a ameaça de formas alternativas de serviços de internet. Isto se torna uma preocupação para os governos quando a comunicação de uma nação depende de um provedor de fora”, acrescentou Little. (Especial para Paraná Em Foco) Divulgação
Altruísta? Os planos fazem parte das ambições do Facebook de estender seu alcance para além de seus 1,2 bilhão de usuários, acredita o analista Mark Little, do centro de análises de tecnologia Ovum. “Zuckerberg está levando isso como uma forma altruísta de conectar mais pessoas em todo o mundo, usando a internet como um direito humano básico. Mas, ao aumentar o total de conexões de rede, aumenta também o número de usuários do Facebook e a quantidade de compartilhamentos, que, por sua vez, cria mais espaço para publicidade, elevando consideravelmente suas receitas”, avalia Little. No ano passado, o Google anunciou planos semelhantes para desenvolver balões movidos a energia solar para fornecer acesso à internet em áreas remotas do mundo.
presa britânica Ascenta, responsável pelo desenvolvimento do Zephyr, que detém o recorde de voo mais longo feito por aviões não tripulados movidos a energia solar. No início de março, surgiram rumores de que a rede social estava interessada em comprar a fabricante de drones Titan, apesar de não haver nenhuma menção sobre isso no anúncio de Zuckerberg.
Zuckerberg: “Conectar o mundo inteiro vai exigir também inventar uma nova tecnologia”
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CIÊNCIA & TECNOLOGIA
MAIS “ANÉIS”
NO UNIVERSO
Equipe com brasileiros descobre anéis em pequeno corpo celeste do sistema solar Da Redação
Divulgação/Obser vatório Nacional
Uma observação feita na noite do dia 3 de junho de Martins adiantou que a observação faz parte de um 2013 por astrônomos de vários países, incluindo pesquiprograma de longo prazo que pretende entender como sadores do Brasil, permitiu a descoberta de anéis em um o sistema solar se formou e como evoluiu no início de corpo celeste do sistema solar do tipo centauro, pequesua vida. “Dentro desse projeto, a gente observou esse nos objetos que orbitam ao redor do Sol atravessando as objeto particular e descobriu, por acaso, que ele tinha órbitas dos planetas. O asteróide Chariklo está situado anéis. A importância do anel é que, até hoje, só se coentre as órbitas de Saturno e Urano, e tem dois anéis, nhecia anéis nos grandes planetas do sistema solar. Nedistantes cerca de 9 quilômetros um do outro. nhum outro objeto tinha anel”, sustentou. O artigo que descreve a descoberta, publicado no Chariklo Centauro é um objeto pequeno, cujo diâdia 26 de março pela revista Nature, é assinado por 62 metro mede apenas 250 quilômetros. “É menor do que astrônomos de 34 instituições em 12 países, sendo 11 a Lua”, disse Martins. Fora a surpresa da descoberta, brasileiros, dos quais cinco trabalham no Observatório os astrônomos vão se dedicar agora a tentar explicar Nacional (ON), do Rio de Janeiros, órgão do Ministério como isso ocorreu, porque o mecanismo de formação da Ciência, Tecnologia e Inovação. Também participade anéis que a astronomia conhece hoje está ligado a ram pelo Brasil Observatório planetas gigantes. “O achado do Valongo/UFRJ, a Universidavai motivar agora um olhar dide Estadual de Ponta Grossa ferente para procurar entender (PR), Polo Astronômico Casimicomo se formam anéis em um ro Montenegro Filho/FPTI-BR, corpo celeste pequeno”, acresUniversidade Estadual do Oescentou. te do Paraná (Unioeste), InstiO astrônomo destacou que tuto de Física e Química de Itaa descoberta é importante por jubá (MG) e Universidade Estase tratar de observação feita dual Paulista (Unesp-Guaratinem cooperação entre pesquisaguetá). dores de diversos países. “Para Os anéis foram batizados peo Brasil, em particular, signifiAnéis do centauro Chariklo são uma los descobridores como Oiapoca inserção internacional da cinovidade para esse tipo de corpo celeste que, para o mais largo, enquanência”, explicou. Como a desto o outro foi denominado Chuí. A confirmação dos nocoberta usou tecnologia de ponta, o achado tende ainda mes, no entanto, ainda depende da IAU (sigla em inglês ao desenvolvimento de novos métodos e equipamentos. para União Astronômica Internacional). A descoberta põe “O retorno para a sociedade vem por meio da evolução por terra a tese que vigorava até então, de que somente da tecnologia que a ciência propicia”, disse. os planetas gigantes (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) Martins reiterou que, a partir do entendimento sotêm anéis. bre o Chariklo, que é o maior de seu tipo, os astrônomos Segundo o astrônomo Roberto Vieira Martins, do ON, poderão ter uma boa ideia sobre a formação e evolução o fenômeno foi visto em sete observatórios localizados do próprio sistema solar. “É muito importante saber por na América Latina, com destaque para Chile, Uruguai, que ele tem a cara que apresenta hoje, inclusive para Argentina e Brasil. O projeto resultou de cooperação poder tirar conclusões se um sistema, como o nosso, é entre o ON, o Observatório de Paris e o Instituto de Ascomum ou não no Universo”, acrescentou. (Com Agência Brasil) trofísica de Andaluzia, na Espanha. 8 ABR.2014 Paraná em Foco
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SAÚDE
TESTE RÁPIDO PARA
TUBERCULOSE
Já está disponível no País o teste rápido gratuito de diagnóstico da tuberculose, com capacidade de detectar a presença do bacilo causador da doença em apenas duas horas, segundo informações do Ministério da Saúde. Todos os municípios e capitais do País, que registraram mais de 130 casos de tuberculose em 2012, receberão o tratamento inicialmente. Destes, 92 municípios concentram mais de 55% de casos novos da moléstia. Para implementar a nova tecnologia no Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde adquiriu testes, computadores de última 10 ABR.2014 Paraná em Foco
geração, com leitor de código de barras e impressora, além de investir no treinamento dos profissionais de saúde. No entanto, sua aplicação é simples, sem a necessidade de especialização. Segundo Dráurio Barreira, coordenador do Programa Nacional de Controle da Tuberculose, “o Ministério da Saúde tem se articulado com a sociedade civil para prevenir a doença entre as populações mais vulneráveis, como as comunidades indígenas, população em situação de rua e pessoas com HIV”. De acordo com o ministério, em
2013, o País registrou 71.123 novos casos de tuberculose, o que representa queda de 20,3% desde 2003. O Brasil ocupa, atualmente, o 16º lugar num ranking de 22 nações consideradas “de alta carga” (onde há grande circulação da doença), mas é o 111º na comparação com os países do mundo. No País, a tuberculose é a quarta causa de morte por doenças infecciosas e a primeira causa de morte por doença identificada entre pessoas com HIV. São mais vulneráveis à doença as populações indígenas – três vezes mais -, presidiários – 28 vezes -, mo-
Mesmo com queda de 20,3% desde 2003, o Brasil registrou 71.123 novos casos de tuberculose no ano passado Da Redação
Corante natural identifica a doença A tuberculose é diagnosticada através da baciloscopia, que analisa o escarro do paciente. Preocupados em eliminar os riscos envolvidos nesse procedimento, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Inpa/MCTI) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) desenvolveram nova técnica de coloração que substitui a carbolfucsina por uma substância natural encontrada em plantas da Amazônia ou microrganismos da natureza. O resultado da pesquisa gerou o pedido de duas patentes, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), em 2013. Os nomes das plantas e dos microrganismos são mantidos em sigilo por questões de segurança. Na baciloscopia são utilizados corantes sintéticos (a carbolfucsina) e reagentes para detectar a presença de micróbios causadores da doença. Os corantes utilizados no diagnóstico são indutores de desenvolvimento de câncer ou tóxicos à saúde do homem e ao meio ambiente. “Após 130 anos, utilizando-se a mesma técnica para diagnosticar a tuberculose e sabendo que os corantes e reagentes sintéticos utilizados são cancerígenos ou tóxicos para o homem e para o meio ambiente, surgiu a ideia de substitui-los por uma substância natural”, explica a pesquisadora do Inpa, Julia Ignez Salem, médica e doutora em microbiologia. O Laboratório de Micobacteriologia do Inpa pesquisa novos fármacos e corantes para uso no combate à tuberculose desde 1995. Para isso, conta com vários parceiros, entre eles a Ufam. (Com MCTI e Inpa)
Divulgação
radores de rua – 44 vezes mais, devido à dificuldade de acesso aos serviços de saúde e às condições específicas de vida –, além das pessoas vivendo com o HIV e Aids. Dos 9 milhões de casos estimados no mundo, 3 milhões não são detectados. A tuberculose é uma doença infecciosa e contagiosa causada pelo micróbio Mycobacterium tuberculosis, conhecido como bacilo de Koch. Atinge principalmente os pulmões, mas pode afetar outras partes do nosso corpo, como gânglios, rins, ossos, intestinos e meninges. (Com Por tal Brasil)
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SAÚDE
RESTRIÇÃO A CLAREADORES Uso errado desses produtos pode causar até perda de dentes
Divulgação
Da Redação
Com o objetivo de evitar as consequências decorrentes do uso indevido e sem orientação profissional de clareadores em concentrações altas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai propor que determinados clareadores dentais sejam vendidos somente com prescrição do odontologista. A proposta de Consulta Pública já foi aprovada pela Diretoria Colegiada do órgão e se refere aos produtos com as substâncias peróxido de hidrogênio e peróxido de carbamida, em concentrações superiores a 3%. Clareadores deste tipo terão que trazer a expressão “Venda Sob Prescrição Odontológica”. Com o novo enquadramento, a propaganda deste tipo de produto ficará proibida, restringido-se apenas aos veículos especializados. Os clareadores dentais podem causar danos irreversíveis se utilizados de maneira indevida, levando até mesmo a perda de um dente, além de favorecer o surgimento de infecções. A restrição da venda já havia sido proposta pelos Conselhos de Odontologia, associações de classe e o Ministério Público Federal, preocupados com o impacto do uso deste produto por pessoas leigas. (Com ANS)
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RANKING DE MÉDICOS E HOSPITAIS Segundo norma da ANS, as operadoras de planos de saúde devem informar aos usuários a qualificação dos profissionais e estabelecimentos Da Redação Por determinação das Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), desde o mês passado, as operadoras de planos de saúde têm de divulgar informações quanto à qualificação dos profissionais e estabelecimentos de saúde que fazem parte de suas redes credenciadas. Por exemplo, se um médico possui especialização ou se um hospital tem certificado de Acreditação, o livro de convênio e a página da operadora na internet deverão ter o ícone relativo a esses atributos nas listas de sua rede prestadora de serviços de saúde. Com isso, a ANS pretende proporcionar aos usuários poder de avaliação e de escolha, destacar os atributos que diferenciam os prestadores e ainda estimular a adesão destes pro-
fissionais e estabelecimentos de saúde a programas que melhorem seus desempenhos e os qualifiquem. A divulgação das informações sobre a rede assistencial deve seguir a padronização estabelecida pela ANS, por meio de ícones dos atributos, especificados no anexo da Instrução Normativa nº 52. Ficou estabelecido que é responsabilidade das operadoras conferir a veracidade e a procedência das informações fornecidas por seus prestadores de serviços de saúde antes da divulgação em seus canais. As empresas que deixarem de incluir os atributos de qualificação informados por seus prestadores no prazo estabelecido poderão ser multadas em até R$ 35 mil. (Com ANS) Divulgação
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SAÚDE
CORRETO E SADIO O projeto Biocopac resultou na criação de um novo composto feito com pele de tomate para revestir latas de alimentos Por Bruna Maarin*
Fotos: Divulgação
Cientistas e engenheiros se reuniram recentemente na Europa em busca de novo material para ser usado no revestimento de latas de alimentos, pois o tradicional bisfenol A (BPA) provoca uma série de danos à saúde. O projeto, denominado Biocopac, resultou no desenvolvimento de um novo composto a partir de rejeitos de cascas de tomate. As latas metálicas utilizadas para armazenar alimentos para a venda e consumo precisam ser revestidas com um tipo de verniz ou laca (uma resina obtida de plantas da família das anacardiáceas) que tenha propriedades biologicamente inertes e não ofereça riscos à saúde. Como o BPA, atualmente utilizado no revestimento, é suspeito de provocar varias complicações e representar riscos à saúde, vários países, incluindo o Brasil, decidiram proibir a importação e fabricação de mamadeiras que contenham esse compos-
A pesquisa inicia-se com a análise e a caracterização dos resíduos de tomate, que conduz à formulação de bio-lacas aplicáveis aos materiais de metal em linhas de produção normais. to. A proibição em território brasileiro está em vigor desde janeiro de 2012, por meio da Resolução RDC nº 41/2011 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para as demais aplicações, o BPA ainda é permitido, mas a legislação estabelece limite máximo de migração específica desta substância para o alimento, com base nos resultados de estudos toxicológicos. Latas de pele de tomate O objetivo do projeto é desenvolver uma bio-laca para a proteção interna e externa de embalagens de metal para alimentos para atender a demanda de produção sustentável e para a proteção da saúde do consumidor, além de, ao mesmo tempo, aumentar a competitividade da indústria destas embalagens, reduzindo e valorizando os resíduos produzidos pelo setor de conservas.
A pesquisa inicia-se com a análise e a caracterização dos resíduos de tomate, que conduz à formulação de bio-lacas aplicáveis aos materiais de metal em linhas de produção normais. Os novos vernizes têm como principal componente a cutina biopolímero extraído da cutícula da fruta, por meio de um método otimizado e padronizado. Após a avaliação das propriedades físico-químicas e da higiene para a saúde dos novos vernizes produzidos, de acordo com a legislação da União Europeia, a sua adequação será confirmada pela produção de latas e da embalagem para os principais produtos alimentares. Deste modo, no final do projeto, será possível ter indicação completa da utilização das novas lacas em contato com os produtos alimentares e suas vantagens econômicas e ambientais. (Especial para Paraná Em Foco)
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ARTIGO
Luciana Maria Bassi*
defeitos alheios do que olhar Há muito tempo, assim para nossas próprias dores. como era uma vez..., as pesPara tomar consciência do soas se preocupavam em deque realmente somos é necessejar um bom dia, em pergunsário nos implicarmos com tar como você estava se sennossas questões emocionais, tindo e em querer ouvir se os com nossa história de vida, outros estavam bem. com aquilo que ao longo do Ouvimos queixas que isto tempo foi nos construído. já e coisa do passado. Será Quero dizer que nossos mesmo? Até que ponto nossa traumas, angústias e alegrias falta de consciência do coletivividos ao longo da nossa invo nos impulsiona a perceber fância deixaram marcas em somente nós mesmos? nosso inconsciente. Em um determinado temAlgumas dessas marcas po da nossa vida, isso e talvez ficam reprimidas por conteo que chamamos de maturidarem grande quantidade de de, percebemos que não soafetos desagradáveis. mos tão perfeitos, completos Mas as sensações ligadas e plenos. acabam se manifestando atraEntão, qual o limite das vés de situações indesejáveis nossas expectativas em relacomo repetição e influencianção ao mundo e a nós mes“Narciso”, de Michelangelo Caravaggio do nossas decisões. mos? Num mundo moderno Em muitos casos, esta “lei da repetição” leva a desecheio de consumismos concretos e morais, como a vaiquilíbrios físicos, psíquicos e a somatizações. dade que exige e aprisiona cada vez mais as pessoas. Olhar para dentro de si exige coragem, mas é o caO fim do século XX e o início do XXI têm como caminho para o encontro da nossa essência. racterísticas certas a depressão, insatisfação e profunAssim recebemos como presente a liberdade de vida tristeza. ver e fazer nossas escolhas, de forma consciente, sem Somos narcisos. E o espelho d’água reflete dor e sorepetir. frimento, porque, viver com o objetivo de realizar as expectativas e fazer com que esse mundo “perfeito” que criamos se torne realidade, é impossível. A grande questão é conciliar aquilo que somos, buscar identificar e relacionar nossas possibilidades. Conciliar desejo e realidade é tarefa árdua e não nos traz plenitude, mas olhando de outra ótica é possível e consequentemente flexível. É um processo libertador porque nos permite arriscar a seguir novos caminhos. *Luciana Maria Nossa dificuldade em perceber quem somos sem másBassi é psicóloga caras é grande. É mais fácil perceber o outro, apontar em Curitiba 14 ABR.2014 Paraná em Foco
Foto: Felipe Stresser
ENTRE O POSSÍVEL, O REAL E O IMAGINÁRIO
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CIDADANIA
FACILITADA A ADOÇÃO INTERNACIONAL
TRISTE QUADRO
Da Redação
Em 2011,
258 mil crianças
A adoção de crianças brasileiras por casais estrangeiros ficou mais fácil com a aprovação pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no dia 24 de março, de uma mudança na resolução que trata do Cadastro Nacional de Adoção (CNA). A partir de agora, o cadastro – por meio do qual são feitos os processos de adoção no Brasil – estará aberto também a pretendentes estrangeiros. De acordo com a assessoria do CNJ, a publicação da nova resolução faz com que brasileiros e estrangeiros sigam o mesmo trâmite no processo de adoção. Antes, os casais estrangeiros só poderiam adotar crianças que não tivessem sido adotadas por meio do CNA, ou seja, após elas não terem despertado o interesse de brasileiros. Em todo país, há 30.424 pretendentes para a adoção de 5.440 crianças e adolescentes até 17 anos cadastrados (3.081 meninos e 2.359 meninas). O estado com maior número de criancas cadas-
e adolescentes exerciam trabalhos domésticos no Pais, segundo pesquisa
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Exploração do Trabalho Infantil decidiu que vai procurar mecanismos jurídicos para enfrentar o trabalho doméstico infantil, em defesa dos direitos dos pequenos cidadãos. A relatora da CPI, deputada federal Luciana Santos (PCdoBPE), argumenta que a inviolabilidade do lar não deve servir para encobrir violação aos direitos humanos de crianças que trabalham em lares próprios ou de terceiros no Brasil. “O que nós estamos aqui tentando desenvolver é a ideia de flexibilizar a inviolabilidade do lar. Isso terá que mudar o Código Penal e a própria Constituição Brasileira”, argumenta De acordo com o relatório Brasil Livre de Trabalho Infantil, realizado com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, havia 258 mil crianças e adolescentes exercendo trabalhos domésticos no Brasil, naquela época. Desse total, cerca de 67 mil tinham entre 10 a 14 anos e 190 mil entre 15 e 17 anos. (Com Agência Câmara Notícias)
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(Com Agência Brasil)
Divulgação
Da Redação
tradas é São Paulo (1.341), seguido do Rio Grande do Sul (702), de Minas Gerais (669) e do Paraná (667). Há, segundo o cadastro, oito crianças com menos de um ano, em busca de uma família. O número cresce à medida que a idade avança. São 40 crianças com um ano de idade esperando por adoção; 59 com 2 anos; 91 com 3 anos. No outro lado da tabela do CNA, há 567 pessoas com 17 anos na busca por uma família e 628 com 16 anos. Do total de crianças e adolescentes cadastrados, 2.588 são pardos; 1.762 brancos; 1.033 negros; 31 indígenas e 25 de raça amarela (oriental-asiática). Dos 30,4 mil pretendentes cadastrados, 8.995 (29,57% do total) dizem querer “somente” crianças brancas, enquanto 511 (1,68%) dizem querer “somente” crianças negras. Há, ainda, 206 querendo somente adotar indígenas (0,68%).
Alteração em resolução permite que
casais estrangeiros se inscrevam no
Cadastro Nacional de Adoção
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CIDADANIA
UMA REALIDADE
Estado tenta reverter queda no número de doação de órgãos registrada nos dois primeiros meses do ano Por Lucian Haro Quando se fala em doação de órgãos, o Paraná é referência no País. O Estado ocupa, atualmente, a terceira posição no ranking nacional, atrás apenas do Ceará e do Rio Grande do Sul. Uma queda no número de 18 ABR.2014 Paraná em Foco
doações, registrada entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano – comparando-se a igual período de 2013 –, reforça a importância de o assunto ser discutido em casa, uma vez que a família (e apenas ela) de-
tém o poder de autorizar a retirada dos órgãos da pessoa falecida. Pelos dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), nos dois primeiros meses de 2013 houve 55 casos de “não doação” de órgãos e 19
casos de recusa familiar. Já em 2014, foram 64 casos de não doação e 33 de recusa. A justificativa mais provável para essa redução, segundo a coordenadora da Central Estadual de Transplantes (CET), Arlene Badoch, é o desconhecimento das famílias em relação ao processo de retirada dos órgãos. “Muita gente ainda tem receio de que a retirada aconteça em pessoas vivas, o que é impossível”, afirmou. Segundo a coordenadora, o processo é minucioso e há, inclusive, um protocolo criado pelo Ministério da Saúde, que tem de ser cumprido para evitar qualquer erro. “Quando há a confirmação da morte cerebral, por meio do Protocolo de Morte Encefálica, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) conversa com os familiares, esclarecendo toda e qualquer dúvida sobre a remoção dos órgãos. Somente a partir desse contato e mediante autorização é que se inicia o processo”, esclareceu. Ainda de acordo com Arlene, é comum que as famílias, que conhecem o procedimento e entendem a importância do ato, se tornem mais favoráveis à doação, o que ajuda a diminuir as filas de espera por um transplante. “Em muitos casos, a desinformação é a pior inimiga. Por isso, um bom começo é pensar na doação de órgãos como um ato humano, de coragem e que pode salvar vidas”, enfatizou. Fila de espera Atualmente, 2.099 pessoas aguardam na fila por um transplan-
Foto: Felipe Stresser
POSSÍVEL
Arlene: “Muita gente ainda têm receio de que a retirada ocorra em pessoas vivas, o que é impossível de acontecer” te, no Paraná. A maioria delas (1.591) espera por um rim. Desses pacientes, 583 (ou 27% deles) tem entre 35 e 49 anos, 933 são homens, dos quais 653 sofrem de insuficiência renal crônica. Já a cirurgia de córnea é a segunda mais procurada: são 317 pessoas na fila, sendo que 40% delas (126) têm entre 18 e 34 anos e os homens são maioria (165). Lembrando que esses números foram fechados pela Secretaria Estadual de Saúde entre os dias 1° de janeiro a 12 de março deste ano. Pela vida O nome escolhido pelo adminis-
trador de empresas curitibano, Ivan Pegoraro, para a ONG que montou não poderia ser mais sugestivo: “Valorize a vida”. A organização, que surgiu há 13 anos, estimula a doação de órgãos a partir de uma triste experiência vivida por ele. Em 2000, Ivan perdeu a filha, Amanda, de 15 anos, num grave acidente de carro causado por um motorista alcoolizado. Foi aí que tudo começou. “Depois que ela morreu, fomos chamados pela equipe médica, que nos falou sobre a possibilidade de doar os órgãos dela. Na hora lembrei da minha mãe, que recebeu um rim, em São Paulo, e vive bem até hoje”, recordou. “E, depois, a Amanda gosParaná em Foco
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CIDADANIA
tava muito de ajudar os outros e, com certeza, ver outras pessoas felizes seria da vontade dela”, continuou. Desde então, o administrador de empresas dedica-se incansavelmente ao trabalho de conscientização. Com a ONG, visita escolas e empresas dando palestras sobre o assunto. “Nas escolas, por exemplo, fazemos palestra e pedimos que as crianças façam uma redação sobre o tema como lição de casa. Esperamos que elas conversem com os pais sobre isso. Logo, eles conversarão com outras pessoas da família, com os amigos e, dessa maneira, o assunto será mais divulgado”, afirmou. Ainda segundo Pegoraro, como a filha passou nove dias internada na UTI antes de falecer, apenas seis órgãos puderam ser doados: as córneas, os rins e duas válvulas do coração. “Mas esses órgãos foram suficientes para salvar a vida de duas crianças internadas num hospital de Curitiba”, revelou.
Eliane e o filho, Junior: Transplante de rim salvou a vida do rapaz 20 ABR.2014 Paraná em Foco
Visão recuperada E foi graças a uma córnea transplantada que a empresária Michele Westphal, 30 anos, dá conta da rotina atarefada que tem. Ela sofria de Ceratocone, uma doença nos olhos que vai tornando a córnea mais fina e irregular, resultando em uma visão distorcida das imagens. “Eu não enxergava nada com o olho esquerdo. Tinha apenas 2% de visão, o que me atrapalhava muito”, disse. Há oito anos, porém, Michele re-
alizou o transplante e hoje vive tranquilamente com 99% da visão. “Iniciei o processo em Curitiba, mas depois de dois anos de espera fui orientada a ir para Sorocaba (SP), onde a fila era menor. Fui para lá na sextafeira e já fiz a cirurgia na terça seguinte”, garantiu. “Em um mês já comecei a ver a melhora. Levei 18 pontos e a cada ponto que tirava, ganhava de 2 a 3 graus de visão”, completou. Ainda segundo a empresária, a cirurgia mudou a visão dela e a da família, literalmente. “Antes, a doação de órgãos era um tabu para a minha família. Hoje, depois que fiz a cirurgia e os resultados apareceram, o pensamento mudou muito”, admitiu. Nova vida Um transplante bem sucedido também mudou a vida da dona de Foto: Felipe Stresser
Foto: Felipe Stresser
Michele Westphal: “Antes do transplante de córnea, eu enxergava 2% com o olho esquerdo. Hoje, tenho 99% da visão”
Foto: Venilton Kuchler
Dúvidas frequentes
Como as dúvidas sobre o processo de doação de órgãos ainda são muito frequentes, a Secretaria de Estado da Saúde elaborou uma cartilha com as principais perguntas. Veja abaixo:
Como posso ser doador? No Brasil, para ser doador, você não precisa deixar nada por escrito, em nenhum documento. Basta comunicar a família da sua vontade. Afinal, a doação de órgãos só acontece após autorização familiar.
Pegoraro: “A Amanda gostava muito de ajudar os outros e, com certeza, ver outras pessoas felizes seria da vontade dela” casa Eliane Garcia e de seu filho, Junior Garcia Rossi, que moram em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba. Faz pouco mais de um ano que o rapaz, de 18 anos, recebeu um rim de uma pessoa que morreu e, com ele, a chance de sobreviver - para a alegria da família. Pelo que contou a mãe, Junior sofria de insuficiência renal e aos 15 anos já havia perdido os dois rins, o que deixou a vida dele “por um fio”. “Em 2011, o pai dele chegou a doar um dos rins para ser transplantado no Junior, mas o organismo dele rejeitou. Aí começou a nossa luta na fila de espera por um novo órgão”, lembrou Eliane. Foi então que, em fevereiro do ano passado, Junior recebeu o órgão de uma pessoa falecida e a cirurgia foi um sucesso. “O órgão veio na hora que mais precisávamos. Ou ele fazia o transplante ou o perderíamos. Graças a Deus deu tudo certo”, afirmou a mãe. Hoje, Junior toca as atividades normalmente e Eliane levanta a bandeira da doação de órgãos. “Eu já era a favor da doação de órgãos, mas hoje, vendo meu filho bem, vejo como é importante”, frisou.
Quem pode doar? Qualquer pessoa. Para um transplante de órgão importa apenas a compatibilidade entre você e as várias pessoas que esperam uma nova vida de presente. Rins, parte do fígado e da medula óssea podem ser doados em vida. Mas, em geral, a doação ocorre em situações de morte encefálica, após a autorização familiar.
Para quem vão os órgãos? Os órgãos são destinados a pacientes que necessitam de transplante e estão aguardando em uma lista única de espera, por critérios definidos pelo Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde. No Paraná, todas as ações de distribuição de órgãos e tecidos são coordenadas pela Central Estadual de Transplantes.
Após a doação o corpo fica deformado? Nunca. A retirada dos órgãos é uma cirurgia como qualquer outra. O corpo do doador fica intacto e pode ser velado normalmente.
Se os médicos do setor de emergência souberem que eu sou um doador, não vão se esforçar para me salvar? Se você está doente ou ferido e foi admitido no hospital, a prioridade número um é salvar a sua vida. A doação de órgãos somente será considerada após sua morte e após o consentimento de sua família.
Somente corações, fígados e rins podem ser transplantados? Órgãos necessários incluem coração, rins, pâncreas, pulmões, fígado e intestinos. Tecidos que podem ser doados incluem: córneas, pele, ossos, valvas cardíacas e tendões. (Fonte: Sesa)
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ECONOMIA
A TODO O VAPOR Construção civil deve bater recorde de contratações com carteira assinada neste ano Por Lucian Haro A cena se repete em todos os lugares: caminhões descarregando sacos e mais sacos de cimento, tapumes isolando áreas e muitos homens trabalhando. O novo cenário urbano - que transformou boa parte das cidades brasileiras em verdadeiros canteiros de obras - representa não só o grande “boom” que vive a construção civil, mas, também, o aquecimento do setor quanto à contratação de mão de obra. Recente pesquisa do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta que o número de empregados no setor cresceu 0,88% em fevereiro deste ano, ante o mesmo mês do ano passado, com abertura de 30,8 mil vagas a mais. Já no acumulado do primeiro bimestre de 2014, o indicador apresenta alta de 1,85% nos empregos em relação a 2013. No Paraná, a situação não poderia ser diferente. Entre janeiro e fevereiro deste ano, o Sindicato da Indús-
tria da Construção Civil do Estado (Sinduscon-PR) registrou acréscimo de 2,13% no número de contratações. “O crescimento se deve, principalmente, aos projetos que estão sendo lançados”, explicou o vice-presidente da entidade, Wladimir Mazzola Morais.
Morais: “Com a abertura de mais projetos, esses profissionais estão sendo chamados novamente” 22 ABR.2014 Paraná em Foco
Segundo ele, o que ocorre, na verdade, é uma recontratação dos trabalhadores que estavam desempregados desde o fim do ano passado. “Em novembro e dezembro houve o término de muitas obras e, com isso, demissões. Agora, com a abertura de mais projetos (a maioria deles residenciais), esses profissionais estão sendo chamados novamente”, explicou Morais. A novidade para este ano, no entanto, é a quantidade de vagas que devem ser abertas. O Sinduscon-PR projeta a contratação de mais 3.400 trabalhadores até o fim do ano - o que é considerado um número alto. “O mercado da construção civil do Paraná está estabilizado, hoje. Inclusive, essa ideia de que falta mão de obra, por aqui, é incorreta. Temos
Recorde antecipado
O levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ainda prevê que, ao longo do primeiro semestre do ano, a construção civil já ultrapasse o recorde de 3,57 milhões de empregos formais, alcançado em setembro do ano passado.
trabalhadores suficientes para atender a necessidade atual”, sustentou. Ainda de acordo com Morais, o quadro de vagas deve crescer, justamente, por conta do aumento na demanda por profissionais. “Fizemos essa projeção (de 3.400 vagas) já contanto com novos empreendimentos que devem sair do papel no decorrer de 2014”, enfatizou. Já pelo que informou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Curitiba, o Sintracon, Domingos de Oliveira Davide, a procura por profissionais não falta. “Se você olhar os nossos quadros de aviso, tem procura o tempo todo. As empresas estão pedindo gente”, afirmou. O impasse vivido, segundo ele, no entanto, é quanto à supervalorização
dos imóveis, que acaba dando origem a outro fenômeno: o dos empreendimentos que ficam “empacados”. “O problema é o alto preço dos imóveis, o setor majorou muito. Aí, aquela pessoa interessada em comprar espera por mais tempo para conseguir uma boa proposta, o que estaciona o mercado. Mas o setor continua aquecido, o que é bom para nós”, ponderou. De acordo com Davide, o sindicato não tem um número fechado de trabalhadores em atividade, hoje, na cidade, porque há muita informalidade no setor e porque as obras são rotativas. A estimativa, porém, é de que existam, em média, 55 mil pessoas trabalhando em canteiros de obras entre Curitiba e a Região Metropolitana.
Davide: “Tem procura o tempo todo. As empresas estão pedindo gente”. Paraná em Foco
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AGRONEGÓCIO
SALDO DO AGRONEGÓCIO É DE US$ 15,9 BILHÕES A soja em grão foi o destaque dos embarques do primeiro trimestre do ano, que movimentaram mais de US$ 20 bilhões Da Redação De janeiro a março, as vendas externas do agronegócio brasileiro totalizaram US$ 20,23 bilhões, enquanto as importações somaram US$ 4,25 bilhões, proporcionando saldo positivo da balança comercial do setor de US$ 15,97 bilhões. A soja em grão bateu recorde, com a exportação de 9 milhões de toneladas, superando em 101% os 4,5 milhões de to-
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neladas de igual período de 2013. As vendas da oleaginosa renderam US$ 4,55 bilhões, valor recorde para o trimestre. O faturamento da carne bovina aumentou 13,2% e atingiu U$ 1,65 bilhão. Dentre os principais países compradores, a China novamente se destacou: os negócios foram de US$ 4,80 bilhões, o que representou aumento de 73,8% sobre os US$ 2,76 bilhões faturados com as vendas do primeiro
Foto: Divulgação/APPA
trimestre do ano passado. A soma das vendas para a Ásia e para a União Europeia representou 61,8% do total das exportações brasileiras do agronegócio, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Embarques aumentam 20% De janeiro a março, foram despachados pelo corredor de exportação do Porto de Paranaguá cerca de 4 milhões de toneladas, incluindo soja em grão e farelo e milho. Segundo balanço da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), a movimentação de granéis no período teve aumento de 20% em relação ao primeiro trimestre de 2013.
Mês expressivo De acordo com dados do Mapa, em março, com incremento de 3,7%, na comparação com o mesmo mês de um ano atrás, o agronegócio brasileiro exportou o equivalente a US$ 7,97 bilhões, ao passo que as importações, com recuo de 7% na mesma base de relação, somaram R$ 1,42 bilhão. Com isso, o superávit do setor no mês foi de US$ 6,55 bilhões. A maior contribuição para o resultado veio do complexo soja, que exportou mais de 7 milhões de toneladas, movimentando US$ 3,62 bilhões. Novamente a soja em grão foi a vedete dos negócios, ao faturar US$ 3,15 bilhões e crescimento de 64,8% em relação ao mesmo período do ano passado. O farelo vem em seguida, com negócios da ordem de US$ 363 milhões, o que representou aumento de 17,1%. No entanto, o óleo de soja, com queda de 26,6% no resultado dos negócios, gerou US$ 114 milhões. O Mapa demonstrou também que, de abril de 2013 a março de 2014, as vendas externas do agronegócio do Brasil atingiram o montante de US$ 99,63 bilhões (+2,7%), enquanto as importações alcançaram US$ 17,04 bilhões (+4,1%). Com isso, o saldo do setor teve superávit de US$ 82,59 bilhões. O aumento foi de 2,5%.
“Considerando a produtividade que temos alcançado nestes primeiros meses do ano, acredito que passaremos dos 17 milhões de toneladas de grãos previstos para este ano”, avaliou o superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Luiz Henrique Dividino. Dividino disse ainda que o movimento de caminhões que transportam grãos para Paranaguá aumentou 25% em relação ao do primeiro trimestre de 2013. “Nesse primeiro trimestre, recebemos quase 100 mil caminhões no Pátio Público de Triagem. Apesar desse total representar mais de 25 mil caminhões do que o recebido no período do ano passado, continuamos sem registro de filas ou transtornos nos acessos ao porto, graças ao trabalho em conjunto com os operadores portuários”, garantiu. (Com Appa) Foto: Divulgação/ANPr
(Com Mapa)
Respondendo por 62,5% do volume exportado, foram embarcados 2,5 milhões de toneladas de soja em grão, com incremento de 144% sobre o volume do primeiro trimestre do ano passado. Também saíram pelo terminal 835,2 mil toneladas de farelo de soja e mais de 500 mil toneladas de milho.
Dividino: “Passaremos dos 17 milhões de toneladas de grãos previstos para este ano” Paraná em Foco
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AGRICULTURA
NOVA SOJA NO MERCADO Da Redação em parceria com a Fundação Meridional. A cultivar é resistente às principais doenças da cultura, como a podridão de fitóftora, podridão parda da haste e cancro da haste, além de apresentar um bom comportamento diante de dois nematoides rotylenchulus renoformis (resistente) e ne-
Cultivar de ciclo precoce, que acaba de ser lançada pela Embrapa, é ideal para o sistema soja/milho
Foto: Divulgação/Fundação Meridional
Material, já disponível para os agricultores, a soja BRS 359RR, portanto, transgênica, alia produtividade (3,6 toneladas por hectare) e precocidade e, com isso, favorece o plantio do milho da segunda safra no período mais benéfico à cultura. A nova cultivar é um produto da Embrapa Soja, Embrapa Produtos e Mercado,
matoide de galha meloidoyne incognita (moderamente resistente). Além disso, é tolerante ao acamamento, podendo ser cultivada também em regiões com altitude um pouco mais elevadas. A BRS 359RR é indicada para a Macrorregião 2 - Norte, Noroeste e Oeste do Paraná; Sul e Centro-Sul do Mato Grosso do Sul e Paranapanema (SP). Segundo Rogério de Sá Borges, pesquisador da Embrapa Produtos e Mercado, “é uma cultivar com um excelente arranque inicial, o que ajuda a lavoura a se estabelecer mais rapidamente”. A pesquisadora da Embrapa Soja, Divania de Lima, acrescentou que “é um material precoce, com a vantagem de possibilitar a semeadura antecipada e ter excelente produtividade”. Há relatos de campo que apontam que a produtividade por hectare chegou a 3,9 toneladas. A melhoria do desempenho da cultivar, porém, depende das condições climáticas e da condução e do manejo da lavoura. “É uma cultivar que está entrando no mercado com um bom volume de sementes e já estará disponível para semeadura na safra 2014/2015”, esclareceu Milton Dalbosco, coordenador técnico de transferência de tecnologia da Fundação Meridional. (Com Embrapa Soja)
A nova cultivar já está disponível para a próxima safra de soja 26 ABR.2014 Paraná em Foco
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AGRICULTURA
TECNOLOGIA ALTERNATIVA Não poluente e mais eficiente na elevação da produtividade agrícola. Estas são algumas das vantagens de um fertilizante que utiliza nova tecnologia de produção de insumos de liberação lenta no solo. O produto, desenvolvido pelo Centro de Tecnologia Mineral, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Cetem/MCTI), em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Serviço Geológico Brasileiro (CPRM) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), utiliza concentrados zeolíticos, que podem ser usados em substituição aos fertilizantes solúveis, que tem causado poluição das águas, sem falar no desperdício de nutrientes. Durante os estudos, pesquisadores usaram os concentrados, enriquecidos com nutrientes, como fertilizantes alternativos no cultivo de alface, tomate e mudas de frutas cítricas, com eficiência produtiva. Nos testes agronômicos, a produtividade foi até 40% superior àquela obtida com métodos convencionais de fertilização. A pesquisadora Marisa Bezerra de Mello Monte dis-
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Da Redação
Fertilizantes concentrados zeolíticos podem substituir, com vantagens ambientais e agronômicas, os insumos solúveis
se que o uso dos concentrados zeolíticos também minimiza o impacto ambiental causado pelo gás amônia (liberado pela ureia, base dos principais fertilizantes), um dos principais causadores do efeito estufa, com ação 50 vezes mais forte que a do dióxido de carbono. A patente já foi deferida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O novo insumo é resultado dos experimentos desenvolvidos pelos pesquisadores Alberto Carlos de Campos Bernardi, Paulo Renato Perdigão de Paiva, Nélio das Graças de Andrade da Mata Rezende, Fernando de Souza Barros e Hélio Salim de Amorim, além de Marisa. O novo insumo é um dos resultados do projeto Inovação Tecnológica no Uso de Minerais Industriais na Agricultura (Agromin), desenvolvido com suporte financeiro do Fundo Setorial Mineral (CT-Mineral) por uma equipe interinstitucional de pesquisadores de Cetem, UFRJ, Embrapa Agropecuária Sudeste, Embrapa Solos, CPRM e Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). (Com MCTI)
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AGRICULTURA
SOJA TEM PERDAS DE MAIS DE R$ 2 BILHÕES Veranico de janeiro e fevereiro reduziu estimativa de produção da oleaginosa em dois milhões de toneladas. A região Norte do Estado foi a mais prejudicada Por Sílvio Oricolli O Paraná deixará de colher dois milhões de toneladas de soja na atual safra por causa da falta de chuva e do calor intenso do início do ano, o que representará prejuízo de R$ 2,11 bilhões, considerando a cotação média R$ 63,36 da saca de 60 quilos comer-
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cializada em março, segundo informações da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). O milho da safra de verão perdeu 185 mil toneladas, o que comprometeu a renda da atividade em R$ 71,8 milhões, uma vez que a saca de 60 qui-
los foi vendida em média, no mês passado, a R$ 23,29. Diante da expectativa do encerramento da colheita da soja no final deste mês, o secretário da Agricultura, Norberto Ortigara, confirmou perda de 12% no volume da safra da cultura,
Prejuízo maior O chefe de conjuntura do Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab, Marcelo Garrido, disse que a perda mais acentuada se soja ocorreu no Norte do Paraná, com a quebra de 1,3 milhão de toneladas, o que corresponde a prejuízo de R$ 1,37 bilhão. “A quebra na safra de verão ajudou a puxar um pouco o preço para cima, tendência que deve se manter ao considerar que a atual oferta mundial de soja está apertada. Mas temos pela frente a safra dos Estados Unidos, que deve ocupar área maior”, analisa. O agrônomo Robson Mafioletti, assessor técnico e econômico do Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), avalia que o prejuízo causado à soja pelo veranico, ocorrido entre 18 de janeiro e 10 de fevereiro, pode ser reduzido, ao considerar que “aumento da área da oleaginosa na safrinha ameniza um pouco a quebra”. Em sua avaliação, com exceção da safra 2005/06, que teve clima e mercado desfavoráveis, as demais
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Ortigara: “Mesmo assim é uma grande safra”
Contando o prejuízo O agricultor Adão de Pauli, que plantou soja em 350 hectares da Fazenda Guaritá, em Paiquerê, distrito de Londrina, no Norte do Paraná, antes do veranico do início do ano esperava que a lavoura lhe desse bons lucros. Afinal, o mercado estava favorável e tudo indicava que a produtividade média de 58 sacas (3,48 toneladas) por hectare seria mantida ou mesmo superada. “Investi muito na lavoura para essa safra”, comenta. Se tudo desse certo, Pauli tiraria limpo por hectare o equivalente a 30 sacas de soja, considerando o custo total de 28 sacas por igual área. Mas a estiagem causou estrago danado na Guaritá: reduziu a produção para 38 sacas (2,28 toneladas). O prejuízo por hectare, portanto, foi de 20 sacas, ou seja, R$ 1,26 mil, que, multiplicados pela área da propriedade, totaliza R$ 441 mil. Apesar do mercado firme no momento, na avaliação do agricultor, a tendência é de redução do preço. Não acredita, porém, que fique abaixo de R$ 55 a saca de 60 quilos. “A seca, que afetou boa parte das lavouras do Norte do Paraná, até ajudou a manter o preço, mesmo porque os estoques mundiais de soja estão baixo. Isso alivia um pouco a situação”, analisa. Pauli, que está na atividade há cerca de 30 anos, disse que vendeu 30% da soja para entrega futura na média de R$ 62 a saca. “Foi minha sorte. O jeito, agora, é negociar os contratos para fazer dinheiro e pagar o financiamento”, adianta. Divulgação
reduzindo o volume para 14,5 milhões de toneladas. “Mesmo assim é uma grande safra”, acrescenta, ao lembrar que a estimativa era produzir 16,5 milhões de toneladas. Mas com a normalização do clima, o otimismo voltou à agricultura paranaense, que pode compensar parte da perda da safra de verão com a produção de inverno. “O agricultor paranaense não desanima e vai buscar a compensação com as lavouras de inverno”, contemporizou Ortigara, ao prever que, somadas as lavouras de verão e inverno, a produção paranaense deverá ser de 35,4 milhões de toneladas. No entanto, esse volume será 3% menor se comparado aos 36,3 milhões de toneladas colhidos na safra anterior.
Pauli: “Investi muito na lavoura para essa safra” Paraná em Foco
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Garrido: “A quebra na safra de verão ajudou a puxar um pouco o preço para cima”
“Mas havia, entre os mais otimistas, previsão de 200 milhões de toneladas. Volume que não é difícil de se atingir”, ilustra. Mercado bom Mafioletti diz ainda que o preço praticado pelo mercado, acima dos valores do ano passado, ajudou a eviFoto: Divulgação/Ocepar
sempre foram boas e com preços compensadores. “O produtor, que considera a agricultura uma indústria a céu aberto, portanto, sujeita às variações do tempo, se preveniu e fez reserva de capital para suportar eventuais baques. Por isso, ele continua tocando a atividade”, acrescenta Mafioletti. O assessor da Ocepar, disse que as perdas na soja foram registradas, além do Paraná, no Mato Grosso do Sul e São Paulo. Mas, no geral, o dano não foi tão grande, pois a expectativa atual da safra nacional da oleaginosa é de 87 milhões de toneladas, frente aos 91 milhões de toneladas. Inicialmente isso afeta a produção agrícola nacional, que deverá se situar em 190,6 milhões de toneladas, enquanto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimava produção de 194 milhões de toneladas.
Foto: Julio Tarnowski/Seab
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tar prejuízo maior aos agricultores. Por exemplo, entre a média do mês passado, de R$ 63,36, frente a de igual período de 2013, de R$ 53,4, o aumento médio por saca de 60 quilos foi de 18%. Segundo ele, a expectativa de preço é positiva, apesar da tendência de ligeira redução, considerando que a Argentina e o Paraguai tiveram safras cheias e os Estados Unidos vão ampliar a área de soja em 6,5% passando de 31,1 milhões para 33,1 milhões de hectares no plantio de maio. “Isso deve mexer no mercado. Basta ver que, na Bolsa de Chicago, os contratos para maio e julho pagam US$ 32 por saca de 60 quilos, ao passo que, para os contratos de setembro/outubro - período da colheita da soja norte-americana - o valor recua para US$ 27 a saca”, enfatizou Mafioletti.
Mafioletti: “O aumento da área da oleaginosa na safrinha ameniza um pouco o prejuízo” Otimismo com a safrinha Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), com a normalização das chuvas do período, as lavouras de soja, milho e feijão da segunda safra, se desenvolviam bem até o final de março. A estimativa de produção do milho é de 10 milhões de toneladas, enquanto o feijão da segunda safra pode render 490,3 mil toneladas. A soja foi implantada em 111.868 hectares. A colheita esperada é de 211 mil toneladas.
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COM UM PÉ NA
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Nilson Monteiro: “Recebi a indicação com muita alegria e gratidão” 32 ABR.2014 Paraná em Foco
IMORTALIDADE O jornalista e escritor Nilson Monteiro é indicado para a cadeira 27 da Academia Paranaense de Letras Por Lucian Haro Nascido em Presidente Bernardes (SP), mas londrinense de coração, Nilson Monteiro é o tipo de escritor que, literalmente, não fica sem palavras. Jornalista há 43 anos, desenvolveu uma atmosfera própria de criação, onde transita pelo relato “nu e cru” dos fatos (natural do jornalismo) e pela narrativa fictícia literária como ninguém. Por conta disso, coleciona leitores e admiradores não apenas nesses dois campos de escrita, mas nos diversos gêneros que os compõem: seja no conto, na reportagem, na crônica, no romance e, claro, na poesia. Atualmente, o representante do Norte do Estado atingiu a maturidade em sua carreira como autor, embora se considere um eterno aprendiz da arte de escrever. Nilson foi indicado, recentemente, a ocupar uma das cadeiras da Academia Paranaense de Letras (APL), o panteão dos escritores paranaenses. “Recebi a indicação com muita alegria e gratidão”, disse, ao comentar a chance de tornar-se um “imortal”. “Caso seja admitido, espero corresponder às expectativas dos que me indicaram”, afirmou. Além de ter um currículo sólido como escritor, outro critério para concorrer a uma das vagas da APL é receber o aval de pelo menos quatro acadêmicos da entidade. A sugestão do nome de Nilson veio,
LIVROS: Simples (poesia) Curitiba vista por um pé vermelho (crônicas) Ferroeste, um novo rumo para o Paraná (reportagem) Itaipu, a luz (reportagem) Pequena casa de jornal (crônica) Madeira de Lei, uma crônica da vida e obra de Miguel Zattar (biografia) Sebrae: 40 anos ajudando a transformar vidas (institucional) Pedaços de muita vida - A história dos 122 anos da Associação Comercial do Paraná (história) Mugido de trem (romance)
Desde o ventre O contato com a linguagem faz parte da vida de Nilson Monteiro “desde o ventre da mãe”, como ele mesmo diz. Ainda pequeno e recém-alfabetizado, com sete ou oito anos, lembra que escrevia cartas para a mãe contando a rotina, dele e dos irmãos, na casa dos avós. Um pouco mais velho e já frequentando o ginásio, o jornalista lembra de ter verdadeira paixão pelas aulas de Língua Portuguesa. “Tirar nota 10 nas aulas de Português era moleza. Agora, nas aulas de Matemática eu custei para atingir médias tão altas”, recordou. Com o passar do tempo, a relação amorosa entre Nilson e a escrita foi se entrelaçando cada vez mais. Hoje, portanto, algumas décadas mais tarde e nove títulos publicados, ele comemora o sucesso da mais recente obra, “Mugido de Trem”. O livro – seu romance de estreia - reúne 57 histórias e é definido por ele como sendo “raios x feitos da alma em conflito entre a vida no campo e a vida na cidade grande”. Na noite de lançamento, foram vendidos 257 exemplares. Ainda quanto à possibilidade de ingressar na Academia Paranaense de Letras, Nilson ressaltou que a indicação tem motivado uma série de moções gratificantes. Entre elas, as da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), da Câmara de Vereadores de Curitiba, da Associação Paranaense de Imprensa, Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil) e da Associação Comercial do Paraná (ACP).
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justamente, do também escritor Dante Mendonça, que ocupa a cadeira número um. “A Academia precisa contar com a presença de um pé vermelho (como é chamado quem nasce no interior do Estado). Nilson tem seus méritos como escritor e é, sem dúvida, uma grande referência da literatura paranaense. Vai acrescentar muito à Academia e oxigenar o nosso trabalho”, afirmou Mendonça. Já para Ernani Buchmann, outro imortal, são grandes as chances de Nilson entrar para o seleto grupo dos letrados. “A obra de Nilson é incontestável. Não tem quem não aprecie. Ele tem um texto límpido, apurado, coeso, e ainda é um excelente poeta”, disse. “Além do mais, é a única pessoa que eu conheço que é cidadão honorário de duas cidades (Curitiba e Londrina), sem nem ter nascido no Estado. A contribuição dele para a APL será fundamental”, completou. Conclave Após a indicação ser protocolada, os acadêmicos da APL – atualmente
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Dante Mendonça: “A Academia precisa contar com a presença de um pé vermelho para representar o Nor te do Paraná”
Ernani Buchmann: “A contribuição dele para a APL será fundamental”
são 38 - votam para escolher o novo colega de bancada. Nilson foi indicado a ocupar a cadeira de Noel Nascimento, ensaísta, poeta e romancista,
que morreu em junho do ano passado, aos 87 anos, vítima de complicações no pós-operatório de uma cirurgia no úmero.
Representatividade cultural A Academia Paranaense de Letras foi fundada em Curitiba, em 26 de setembro de 1936, sucedendo a antiga Academia de Letras do Paraná, criada em 1922 e dissolvida por motivos políticos. A recriação de uma entidade representativa da cultura do Estado deu-se por estímulo e influência da Academia Carioca de Letras e da Federação das Academias de Letras do Brasil. Da extinta Academia de Letras, alinharam-se na promoção da nova instituição figuras importantes, como Dom Alberto José Gonçalves, João Cândido, Sebastião Paraná, Dario Velozzo, Santa Rita, Leônidas Loyola, Pamphilo d’Assupção, Silveira Neto, Tasso da Silveira, Andrade Muricy, Leôncio Correia, Lacerda Pinto, Azevedo Macedo e Romario Martins. As cadeiras restantes foram ocupadas por outros intelectuais, totalizando quarenta.
Os acadêmicos: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13.
Dante Mendonça Ernani Lopes Buchmann René Ariel Dotti Eduardo Rocha Virmond Paulo Venturelli Oriovisto Guimarães Ney José de Freitas Rafael Valdomiro Greca de Macedo Ário Taborda Dergint de Rawicz Flora Munhoz da Rocha João Manuel Simões Ernani Costa Straube Rui Cavallin Pinto
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14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27.
Guido Viaro Adélia Maria Woellner Paulo Sérgio da Graça Torres Pereira Clemente Ivo Juliatto Laurentino Gomes Carlos Alberto Sanches Luiz Geraldo Mazza Albino de Brito Freire João José Bigarella Jeorling Cordeiro Cleve Chloris Casagrande Justen Paulo Vítola Léo de Almeida Neves Vaga (Cadeira que Nilson concorre)
28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37.
Vaga Darci Piana Adherbal Fortes de Sá Jr. Lauro Grein Filho José Wanderlei Resende Roberto Muggiati Antônio Celso Mendes Ricardo Pasquini Apollo Taborda França Clotilde de Lourdes Branco Germiniani 38. Maria José Justino 39. Cecília Vieira Helm 40. Valério Hoerner Júnior
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UM ANO E 55 MIL No dia 28 de março, o projeto Tubotecas completou um ano de funcionamento, contabilizando 55 mil livros recebidos de empresas, instituições, escritores locais e da comunidade em geral. Do total, 40 mil exemplares foram colocados nas dez Tubotecas disponíveis para os usuários do transporte coletivo de Curitiba e os demais foram destinados para as Casas da Leitura e bibliotecas especializadas da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), associações de moradores, presídios, hospitais, bibliotecas comunitárias e rurais. Segundo o presidente da FCC, Marcos Cordiolli, o projeto surgiu com o objetivo de mobilizar empresas e sociedade para que promoves-
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sem o incentivo à leitura por meio da doação de livros. “É muito satisfatório ver como os cidadãos e empresas de Curitiba abraçaram o projeto. As Tubotecas são um orgulho, pois vão além de cumprir seu objetivo de ampliar a convivência das pessoas com livros. Empresas e pessoas estão se tornando agentes de leitura”, comemora. Entre algumas das empresas e instituições doadoras estão a Itaipu Binacional, Gazeta do Povo, Volvo, Rádio Lumen FM, Imobiliária Gonzaga, Legião da Fraternidade, Editora da UFPR, Fundação de Ação Social, Operadora Oi, Universidade Tuiuti, Sebo Osório, Shopping Mueller, Sindicato da Indústria da Panificação e Confeitaria do Paraná.
Doações e devolução Além de continuar estimulando a doação de livros, a segunda fase do projeto desenvolvido pela FCC, em parceria com a Urbanização de Curitiba (Urbs) e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), vai reforçar o pedido de devolução dos livros. Segundo a coordenadora de Literatura da FCC, Marianne Torres, as Tubotecas devem ganhar em breve caixas de devolução. “Com as caixas poderemos mensurar o volume de devolução e até o tempo médio que cada livro leva para ser lido”, afirma. Como doar As doações de livros podem ser feitas em qualquer equipamento
LIVROS mantido pela Fundação Cultural, nas Casas da Leitura, na sede da Fundação (Rua Engenheiros Rebouças, 1.732 – Rebouças), no IPPUC (Rua Bom Jesus, 669 – Juvevê) e na sede da Prefeitura (Avenida Cândido de Abreu, 817 – Centro Cívico). As publicações passarão por uma triagem antes de serem levadas para as Tubotecas. Aceitam-se livros de literatura, contos, crônicas, romances, poesia, história em quadrinhos e infanto-juvenil. Não serão aceitos livros com teor ofensivo, discriminatório e pornográfico.
Do total de volumes recebidos, projeto disponibilizou 40 mil exemplares nas dez Tubotecas Da Redação
Cordiolli: “Empresas e pessoas estão se tornando agentes de leitura”
(Com FCC)
Fotos: Alice Rodrigues/SMCS
Grandes doadores, interessados em doar acima de 1.000 volumes, precisarão se adequar a Edital de Chamamento Público lançado no dia 1º de abril de 2013, que está disponível no site www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br
ENDEREÇOS DAS TUBOTECAS Estações Praça Rui Barbosa: 4 unidades Linha Expressa Pinheirinho – Rui Barbosa Linha Expressa Pinhais – Rui Barbosa Linha Expressa Centenário – Campo Comprido Estação Central: 2 unidades Rua Presidente Faria (em frente ao Correio) Linha Expressa Santa Cândida – Capão Raso Estação Praça Carlos Gomes: 1 unidade Linha Expressa Boqueirão Ligeirão Boqueirão Estação Carlos Gomes: 1 unidade Rua Lourenço Pinto (em frente ao Hospital Paciornik) Ligeirão Pinheirinho – Carlos Gomes Estação Marechal: 2 unidades Linha Verde
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CULTURA
REENCANTAR
É PRECISO Hamilton Faria revisita Curitiba em maio para distribuir “miniIMENSO” seu mais recente livro de poemas Por Sílvio Oricolli
O poeta curitibano Hamilton Faria, que há anos mora em São Paulo, em defesa de sua arte, tem uma tese interessante: o reencantamento do mundo a partir da poesia. Mesmo porque isso está na essência do homem que, além (ou antes) de “Sapiens” é “Homo Poeticus”, segundo sua própria definição. E sustenta que “o poeta é o guardião do reencantamento das palavras e do mundo”. E nessa vinda à capital paranaense, no mês que vem, pretende ficar de mãos vazias ao repassar para mãos alheias o mais recente livro de poemas, miniIMENSO, concebido, escrito e impresso para ser dado, com o compromisso de circular entre os leitores. Sem autógrafo, pois a ideia é que o os versos tatuem emoções, saberes, em forma de dedicatória, na alma dos leitores. E quando se obtém a dedicatória do autor nas primeiras páginas do livro, muitos sentem-se dono da obra, afinal ela foi “dedicada” àquele leitor, que inclusive comprou o livro, que, muitas vezes, tem como destino não a leitura, provocar catarse, empatia, mas engordar as prateleiras de 38 ABR.2014 Paraná em Foco
bibliotecas particulares. O contradestino da literatura. “É uma pobreza, uma miséria para a poesia se destinar a uma prateleira de livraria ou biblioteca. Livro precisa circular. O poeta precisa pertencer ao mundo e estar em todos os lugares. Tenho feito lançamento na rua, na praça, entre jovens dos bairros, em sarau de produtores culturais, entre crianças. Dou livros para motorista de táxi, porteiro, manobrista, sambista, colega de academia de ginástica. Até para desafetos – aliás, este é um desafio do Potlatch: dar livros a quem não gosta de você ou que já teve alguma rusga, algum ruído na relação”, sustenta o poeta. Moda? Será que a proposta “Potlatch” pega? Outros autores vão aderir? Esta questão parece não preocupar Hamilton, que foi se inspirar nos índios norte-americanos do final do século XIX. Aliás, Potlatch foi pinçada dos nativos do Norte. “Não tenho certeza se os autores vão aderir à proposta. E isso não é minha intenção. O que me entusias-
ma é a ideia de doar livros em Potlatch, palavra que vem dos indígenas norte-americanos que realizavam cerimônias para dar o que até lhes faltavam e não o que tinham em excesso. Achei isso emocionante. Naquela época isso foi criticado por missionários e governos, porque vinha na lógica contrária da acumulação capitalista. Ora, sociedade industrial, o consumo se expandindo e os indígenas querem queimar riqueza? Foi proibido. Só reaberto por intervenção de antropólogos em meados do século XX. Era uma economia da dádiva que se fortalecia nos seus aspectos simbólicos e afetivos, contra toda a mercantilização da vida. Não é maravilhoso dar livros de poemas num momento de normose e mercantilização da vida, criar circuitos de reencantamento através da palavra e do livro e não da materialidade dos circuitos de mercado e das celebridades ocas?”, argumenta.
Hamilton Faria: “O poeta precisa pertencer ao mundo e estar em todos os lugares”
Parceria e qualidade Hamilton Faria, que já publicou oito livros e colaborou com 20 antologias no Brasil e no exterior e que foi premiado pela Academia de Artes, Ciências e Letras da França, em 2006, não esconde que mínimoIMENSO reúne poemas curtos, mas de qualidade e que deram muito trabalho, aliás, o que está implícito no próprio título. “Reuni estes poemas em um pequeno livro (mínimo), com poemas mínimos (três a quatro linhas) comunicando o imenso, trazendo consigo um cosmos de sentimentos, pensamentos emotivos, contemplações. O livro também busca novas situações poéticas, e trabalha com as palavras e a linguagem, e está atento a uma unidade do texto, embora cada poema valha por si. O livro é também uma proposta e traz consigo um risco – a proposta do Potlatch e não há boa proposta se a literatura não for compatível –, pois
não se sustenta se o texto não corresponder àquilo que se propõe”, diz. O poeta esclarece que a forma do livro, cor, papel, a distribuição dos textos no silêncio da página, as fotos, tudo foi pensado para compor com os textos e a proposta e ficasse um objeto agradável para ser doado. Segundo ele, “a artista e designer Marilda Donatelli foi a grande autora desta apresentação e Rita Joly me ajudou na organização dos poemas e dialogou com a produção”. Por fim, promete: “Este é o primeiro. Virão outros.”
SERVIÇO: O que: Lançamento/doação de mínimoIMENSO Quem: Hamilton Faria Quando: 9 de maio – 15h30 Onde: Auditório da Secretaria da Educação (Av. Água Verde, 2.140)
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ARTE
DA FAVELA NO MON Da Redação A favela do Jacarezinho foi durante muito tempo uma das regiões mais violentas do Rio de Janeiro, até sua pacificação em outubro de 2012. No entanto, antes disso, 80 meninos e meninas de 8 a 17 anos foram instigados a usar a criatividade para mostrar um novo olhar de dentro da favela. O resultado disso é “O Muro”, exposição interativa que permite enxergar a comunidade pelos olhos de quem vive nela. Depois de passar pelo Rio e Belo Horizonte, a mostra aporta no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, onde permanecerá até o dia 29 de junho. O Muro é resultado do projeto “Eu Sou”, que desde 2003 desenvolve um trabalho de artes plásticas com crianças e adolescentes do Jacarezinho. A proposta para montar a instalação era que as crianças fotografassem o lugar onde moram para mostrá-lo a pessoas que não o conhecem, seguindo a estética artística à qual foram apresentadas. O objetivo era possibilitar aos jovens o reconhecimento de um olhar menos contaminado pelo preconceito e o desprezo pela própria origem e o lugar onde vivem. Antes de empunharem as câmeras e retratarem o universo de origem, as crianças participaram de oficinas de sensibilização em que foram 40 ABR.2014 Paraná em Foco
Flagrantes capturados por crianças na comunidade em quem vivem podem ser vistos no museu
O trabalho resultou em mais de 200 fotos, das quais 80 estão expostas. São registros de flores, passarinhos e árvores que se misturam a fotos que mostram “crakeiros” e lixo, retratando parte do cotidiano das crianças na comunidade.
“O Muro”, do projeto "Eu Sou", idealizado e coordenado pelo escultor e arte-educador Helio Rodrigues
estimuladas a passar por um processo de transformação do olhar sobre aquele ambiente. Do percusso, com espaços e detalhes inusitados e, às vezes inóspitos, o que se vê é uma estética tão pessoal quanto extraordinária, além da tentativa de transpor o muro social.
O trabalho resultou em mais de 200 fotos, das quais 80 estão expostas. São registros de flores, passarinhos e árvores que se misturam a fotos que mostram “crakeiros” e lixo, retratando parte do cotidiano das crianças na comunidade. O resultado surpreende e emociona. Através de 80 olhos que expõem a obra produzida pelos jovens fotógrafos, O Muro pretende conduzir o público a uma viagem mais do que visual.
“Ajudamos as crianças a terem um olhar estético sobre o que já existe e a transformar em arte o que elas veem todos os dias. Agora mostramos ao asfalto esse novo olhar da comunidade, outros ângulos, novas perspectivas”, avalia o artista plástico e arte-educador Helio Rodrigues, ao acrescentar que “a arte não aceita limites, é um meio para transformar vidas. Atravessa, transgride, rompe ou, até mesmo, absorve os obstáculos e deles faz ferramenta”. Paraná em Foco
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CULTURA
A R U T A R E IT L A D L E NOB IRO E IL S A R B É IL N E V U -J O T INFAN ece a importância da Ilustração de Roger Mello, que inova a exploração da Conselho reconh desenvolvam a imaginação ças an cri as que te mi per e sil Bra do a história e cultur Da Redaçã o
Considerado o evento mais importante do segmento no mundo, a Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, na Itália, entregou ao ilustrador brasileiro Roger Mello o prêmio Hans Christian Andersen, atribuído pelo Conselho Internacional sobre Literatura para os Jovens (IBBY) a autores de literatura para a infância e juventude, que é considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil. A premiação foi entregue no dia 24 de março, durante a abertura da feira, que se encerrou no dia 27. Antes de Mello, Lygia Bojunga (1982) e Ana Maria Machado (2000) venceram na categoria escritor. O ilustrador, que já havia sido indicado ao mesmo prêmio em 2010, em 2002, recebeu o prêmio suíço Espace Enfants e foi vencedor do prêmio Jabuti nas categorias literatura infanto-juvenil e ilustração com o livro Meninos do Mangue, além de outros prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Ele tem 49 anos, dos quais 25 anos de carreira na literatura, e já ilustrou cerca de uma centena de obras. Mello alcançou a premiação, segundo o júri internacional da IBBY, porque a ilustração dele explora a história e a cultura do Brasil, demonstra a admiração pelos costumes, é inovadora e inclusiva e dá às crianças a oportunidade de entrar nas histórias pela sua própria imaginação. 42 ABR.2014 Paraná em Foco
Divulgação
Mello, dono de uma carreira brilhante como escritor e ilustrador, teve a importância de seu trabalho reconhecido em Bolonha
Além do premiado, mais de 50 artistas brasileiros tiveram trabalhos expostos no evento, como Ziraldo, Angela Lago, Eva Furnari, Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Rui Oliveira. A Feira de Bolonha é considerada a maior e mais importante feira de negócios do setor livreiro infantil e juvenil no mundo e o Brasil, o país homenageado nesta 50ª edição, esteve representado por 40 editoras. Segundo o Ministério da Cultura, a expectativa de retorno, por ser o país homenageado na feira, é que os autores e escritores brasileiros entrem com ainda mais força no mercado de livros da Europa. Após a homenagem na Feira de Frankfurt em 2013, as editoras brasileiras estimam faturamento de US$ 1,45 milhão nesse ano, entre direitos autorais e obras impressas. A ministra da Cultura, Marta Suplicy, que esteve na abertura do evento enfatizou que “é a segunda vez que somos o país homenageado nesta feira. No ano passado, também fomos homenageados, pela segunda vez, na Feira do Livro de Frankfurt. Isso mostra que a literatura brasileira, tal qual nosso País como um todo, desperta de forma muito significativa o interesse do mundo”. Paraná em Foco
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CRÔNICA
Nilson Monteiro*
INFINITO E FOGOSO, Para os maldosos de plantão, é falsidade. Nunca leram Vinícius de Moraes. São toscos. Outros dizem que é promiscuidade. Há controvérsias. Meu coração não é monogâmico. Suporta uma, umas ou várias paixões.
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Em suas andanças pelo país afora juntou lugares e times às suas artérias, como um cigano sempre alvinegro que reservou algum de seus cantos para abrigar outros amores. Não se pense que é leviandade, tara, traição. Nunca. É um coração feito o da mãe, sempre cabe mais um. O Corinthians é meu pecado original. Nasci com ele quando completei três anos e meu pai levou-me ao
Pacaembu para vibrar com a festa de campeão do Quarto Centenário. Vou morrer com ele, claro. E absolutamente contaminado pelo seu vírus de paixão. Em Campinas, onde morei por vários anos, manteve-se alvinegro ao adotar a Macaca como a amante, sem nunca concorrer, claro, com o amor primeiro. Vesti a história centenária, o bairro de ex-escravos e as arquibancadas da Ponte Preta, onde andei rasurando alguns passes de figurante em seu time de moleques, sonhando encantar plateias. Não deu. Varei-me de emoções em 1970 quando a Ponte voltou à Divisão Especial do Campeonato Paulista, com uma escalação que mantenho na ponta da língua. Gritei “Ponte” milhares de vezes, mas seu nome ficou mortal e naturalmente sufocado em 1977, quando o Corinthians decretou o fim de 23 anos de jejum e pelo pé santo de Basílio voltou a ganhar um título. E foi em cima dela, a Macaca, em pleno Morumbi alvinegro, sem lugar nem para moscas verdes. O pecado original pulsou maior. O Morumbi teve sua noite de Pacaembu, virou templo corintiano. E o encanto da amante nem perto passou do coração tomado pela paixão primeira. Em Londrina, de cuja cor roxa me lambuzei e tornei-me, de pensamentos, palavras e obra, pé vermelho por convicção, opção e paixão vulcânica, frequentei as arquibancadas vestido de azul clarinho, levado pelo carinho, Londrina Esporte Clube bordado no
lado esquerdo do peito, os ramos de café escapando das artérias cardíacas. Moro, a cada santo dia, em terras londrinenses, em qualquer lugar do mundo onde esteja. E me declaro torcedor londrinense em qualquer tribunal ou júri. Nunca engoli aquele celeste desmaiado no uniforme do LEC, não sei por que diabos - eu mesmo nunca entendi. Mas debulhei-me várias vezes, uma delas quando o time ficou em terceiro lugar no Campeonato Nacional, arregalando os olhos do país, já acostumados à pujança da cidade amada, mas incrédulos quanto ao seu futebol. Gritei Londrina milhões de vezes, no Estádio Vitorino Gonçalves Dias ou no Estádio do Café. Gritei “Tubarão” até arrebentar as cordas vocais, guelras engasgadas, sem concordar com este apelido afogado para uma cidade que não tem mar, mas um chão dos mais férteis do mundo. Melhor gritar Londrina! Deixar de lado esta birra contra a cor azul celeste. Ela continua em algum canto do coração, apesar de eu achar que o Londrina, o time, deveria se vestir de escarlate, a cor grudenta e magnífica de onde brotou o café. Assim, da cor da cidade. Enfim, mais um amor, desta vez para endiabrar o gelo curitibano, meu iglu há décadas. Desta vez, uma paixão encarnada, que habita o caldeirão com seu rubro-negro desafiador para os adversários. Intimado por meus filhos, também de corações submetidos a amores futebolísticos, e por minha infância na Baixada, as-
sumi também o amor demoníaco pelo Atlético. Impossível ir a um jogo na Arena e não socar o peito com seu grito de guerra. Seria muita insensibilidade e traição àquele mar vermelho e preto alucinante, mesmo que este pecado de amor conviva com o outro, o original, e com os outros, feito pouso de cigano. Só corações desalmados passariam pela Baixada sem apaixonar-se. Mutante, sim, como a vida. Carregado de amantes, todas inebriantes, o coração não nega espaço e carinho às paixões por onde passou neste país de chuteiras e loucuras. Vive gritando seus nomes escolhidos, poucos, em pulsação nada tênue, como a se preparar para a entrega ao pecado original. Sim, aquele triângulo de paixões convive sem desditas, em intensidades mais agudas do que outras ao sabor do tempo e do espaço. São tensas, honestas, todas, não se prestam a agradar ninguém, a não ser meu visgo pelo futebol e minhas escolhas. Posso emocionar-me com cada uma delas, embora, repito, o estremecimento tenha escalas diferentes. Amo, sim, esses pedaços de mim. E não tenho constrangimento, ao torcer por esses distintivos distintos, de repetir uma declaração pecaminosa, inflamada e santificada: Corinthians, meu amor!
Divulgação
POSTO QUE É CHAMA
* Nilson Monteiro é jornalista e escritor
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FOTOGRAFIA
Nascido no Rio de Janeiro, há 53 anos, dos quais 39 dedicados à fotografia, Wilson Pedrosa é um dos grandes nomes do fotojornalismo brasileiro, cobrindo grandes eventos e acontecimentos nacionais e internacionais. Começou a carreira em 1977, no Jornal de Brasília, transferindo-se, em 1979, para o Correio Brasiliense. Depois, em 1984, foi para o Jornal do Brasil, como coordenador da Sucursal de Brasília; em 1989 foi contratado pelo jornal Estado de São Paulo, também como coordenador e, em 2000, foi para São Paulo como editor de fotografia do Grupo do Estadão, onde permaneceu até 2013. Atualmente mora em Curitiba.
PARQUE NACIONAL DO XINGU 46 ABR.2014 Paraná em Foco
POR WILSON PEDROSA
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FOTOGRAFIA
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POR WILSON PEDROSA
SERTテグ NORDESTINO Paranテ。 em Foco
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ARTIGO
José Luis da Silva Nunes*
AGRICULTURA DE PRECISÃO COMO FERRAMENTA PARA O PRODUTOR RURAL logias às diferentes regiões do globo As rápidas transformações que e de tecnologias de sensoriamento e de popularização das técnicas ena moderna agricultura vem sofrenremoto. volvidas no processo, evoluíram para do nas últimas décadas tornaramConceitos surgiram a partir do soluções viáveis, tornando-a uma ferna uma atividade altamente compeemprego destas técnicas na agriculramenta real ao alcance dos produtitiva. Com isso, o agronegócio pastura, como os de aplicação de insutores. sou a exigir dos produtores rurais mos em taxas variáveis e dos SisteEngana-se quem pensa que a um alto grau de especialização e de mas de Informação Geográfica (SIG). agricultura de precisão está relaciprofissionalismo visando aumentar A consolidação de tais tecnologias onada apenas no emprego de máa capacidade gerencial das emprecomo ferramentas à disposição do quinas e tecnologias sofisticadas, sas rurais. produtor permitem visualização da pois esse princípio de agricultura Associado a isso está a capacivariabilidade espacial e temporal vai além, constituindo-se em um sisdade do produtor de coletar dados e dos fatores edafoclimáticos de cada tema de ações que levam informações relativas à sua a um manejo mais eficienárea produtiva, com o obEngana-se quem pensa que a te dos fatores de produjetivo de adaptar novas agricultura de precisão está relacionada ção, associados às conditecnologias à sua realidações de diversidade de de. Isso em função dos apenas no emprego de máquinas e uma área agrícola. constantes riscos a que ele tecnologias sofisticadas, pois esse Dessa forma, a adoção está exposto e que definem princípio de agricultura vai além, de práticas de manejo que o sucesso da produção constituindo-se em um sistema de levam em consideração a agrícola. diversidade de condições Dessa forma, é fundaações que levam a um manejo mais edafoclimáticas de uma mental ao moderno produeficiente dos fatores de produção, área agrícola, pode levar as tor rural ter eficiência na associados às condições de culturas à possibilidade de aplicação dos recursos disdiversidade de uma área agrícola. maior expressão do potenponíveis, como forma de cial genético, não somente assegurar o sucesso em em uma parte da lavoura, onde as sua atividade. Assim, a obtenção de área agrícola, considerando as pecondições são mais favoráveis, mas informações sobre os fatores que inculiaridades de cada parte da área em toda a área cultivada. teragem na lavoura e de como se no momento do manejo, ao invés de Por outro lado, as perspectivas pode maximizar os seus efeitos pamanejá-la como se a mesma fosse para a agricultura de precisão são rece crucial. uniforme. positivas, com possibilidade de auA agricultura de precisão surgiu Os problemas encontrados no inímento da precisão na obtenção de como um sistema de gerenciamento cio do desenvolvimento do conceito resultados, conforme se forem torde informações e que teve seu crese das práticas associadas à agriculnando mais bem entendidos e macimento potencializado a partir de tura de precisão, como dificuldade na peados os fatores que contribuem avanços da tecnologia de referenciainterpretação de um volume considepara a variabilidade nas áreas agrímento e posicionamento, como o GPS rável de dados, elevado custo dos colas. (do Inglês Global Positioning System) equipamentos, adaptação das tecno-
*José Luis da Silva Nunes, doutor em Fitotecnia pela UFRS, é engenheiro agrônomo da Badesul Desenvolvimento
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