Caracterização das necessidades de ervas aromáticas e medicinais na Ilha da Madeira

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Departamento de Biologia

Relatório de estágio do curso de Pós Graduação em Agricultura Biológica

Caracterização das necessidades de ervas aromáticas e medicinais na Ilha da Madeira

Graça Mateus Funchal, 2005


Caracterização das necessidades de ervas aromáticas e medicinais na Ilha da Madeira Graça Mateus Parque Natural da Madeira – Quinta do Bom Sucesso, Caminho do Meio, 9050-245 Funchal e-mail: gracamateus@mail.pt Resumo Este trabalho tem como objectivo uma breve caracterização da procura de ervas aromáticas e medicinais (PAM), na Ilha da Madeira, com particular incidência no concelho do Funchal. Pretende-se identificar quais as mais utilizadas, qual o modo de produção e qual a preferência tanto do utilizador como do revendedor, de forma a que o tratamento dos dados nos permita caracterizar as necessidades deste sector de produção. A questão foi abordada através de duas frentes: a) entrevistas aos utilizadores e b) entrevistas aos revendedores. As entrevistas foram realizadas aos chefes de cozinha de unidades hoteleiras do concelho do Funchal, unidades hoteleiras inseridas nos outros concelhos da Ilha da Madeira, aos directores de vendas das três grandes superfícies que operam produtos alimentares na Ilha e a cinco pequenas lojas de ervas ou produtos “naturais”. Concluiu-se que existe um grande crescimento do comércio deste produto, encontrando-se a procura direccionada para as aromáticas em fresco e as medicinais em seco. Das aromáticas são consumidas em maior escala a salsa e os coentros, existindo contudo um interesse generalizado no consumo de uma grande variedade de PAM. Os hotéis situados fora do Funchal todos têm um pequeno jardim de ervas, o que lhes permite produzir uma maior variedade. Dos entrevistados só um hotel produzia ervas biológicas, só uma grande superfície as comercializa em conjunto com as não biológicas, assim como uma pequena loja e só uma pequena loja vende exclusivamente PAM biológicas. Relativamente à frequência de abastecimento, verificou-se que preferem receber duas vezes por semana o produto, pois é garantia da sua frescura. No que se refere á forma de embalamento, as frescas são comercializadas não embaladas e as secas embaladas. Constatou-se que o modo de produção biológico e a referência ao local de produção, como numa Área Protegida, são formas reconhecidas de valorizar as PAM, apesar de ao nível de hotelaria não haver um bom conhecimento dos produtos biológicos.

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Introdução O desenvolvimento do mundo rural surge actualmente muito ligado à diversificação da sua economia e valorização dos recursos existentes. A produção de ervas aromáticas e medicinais, PAM, representa uma possibilidade de diversificação e valorização da produção agrícola. Além de todos os efeitos benéficos que o consumidor de ervas aromáticas e medicinais pode obter para o seu bem-estar, ao utilizá-las, está a dar também um excelente contributo para a preservação e valorização destas espécies e de todo o seu habitat natural, assim como, para a dinamização socioeconómica de uma zona rural. Desde o início das civilizações, há milhares de anos que os cheiros, plantas aromáticas usadas para temperar a comida, são cultivados, como demonstram registos do seu cultivo e uso muito recuado no Egipto, China, Índia, Arábia, Pérsia e Grécia e, o seu uso mantém-se como uma tradição firmemente enraizada. Na cozinha mundial, os grandes pratos são caracterizados por combinações de aromas e sabores exóticos, específicos de ervas aromáticas, especiarias e temperos. Os produtos alimentares característicos de cada região, determinados pelo clima, solo e cultura local, conferem características únicas a estas combinações (Ortiz, 1992). A crescente procura e o enorme ressurgimento do interesse pelas PAM, as investigações sobre a sua utilização na medicina e na cosmética, bem como as novas ideias no campo da decoração e dos arranjos perfumados e o conhecimento dos efeitos negativos que o estilo de vida dos nossos tempos exerce sobre o corpo humano e o ambiente, aumentam o interesse do conhecimento e capacidades de tais plantas (Bremness, 1993; Mcvicar, 2003). Por outro lado, a agricultura biológica é o modo de produção que permite uma maior valorização dos seus produtos, levando a um maior rendimento do agricultor. Em toda a Europa, este modo de produção tem vindo cada vez mais a crescer e, na área alimentar, é o sector que tem tido maior crescimento. As vendas sextuplicaram de 1990 a 2001 (Ferreira, 2003) e a FAO, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, prevê um aumento de 1% para 10% do sector de produtos biológicos, no mercado alimentar mundial (Yussefi and Willer, 2003). As PAM são extremamente benéficas numa produção biológica, pois atraem muitos insectos auxiliares e pássaros, contribuindo para evitar o desenvolvimento de pragas e permitindo alcançar níveis elevados de polinização e produção (Mcvicar, 2003). Tendo o Parque Natural da Madeira uma área em que o mundo rural representa uma parte muito significativa, pareceu-nos pertinente realizar este estudo, tendo como preocupação não só, saber se na Ilha da Madeira o consumo destes produtos é significativo, mas também, se produzidos em agricultura biológica são preferidos.

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Material e Métodos A metodologia utilizada neste trabalho respeitou cinco etapas: • Determinação da população a estudar; • Estruturação dos guiões das entrevistas; • Selecção da amostra; • Realização do trabalho de campo; • Tratamento dos dados obtidos. Na determinação da população a estudar entendemos que deveríamos abordar a questão através de duas frentes, por um lado entrevistas aos utilizadores e por outro entrevistas aos revendedores. Do lado dos utilizadores, estudámos o interesse por parte dos hotéis, uma vez que estes são potenciais utilizadores deste tipo de produtos e tentam responder, actualizadamente, ás solicitações dos turistas que nos visitam. Do lado dos revendedores, estudámos as necessidades das pequenas lojas que comercializam ervas e produtos “naturais”, no Funchal e das grandes superfícies que comercializam produtos alimentares, pois reflectem principalmente a procura pelos residentes. Aquando da elaboração do guião das entrevistas, em anexo, as questões foram organizadas em dois grandes grupos: o tipo de consumo e o conhecimento e valorização do modo de produção biológico. No primeiro, pretendia-se saber quais as ervas mais utilizadas ou vendidas, de que forma, como tem evoluído o consumo ou a procura, motivações e tipo de frequência de abastecimento. No segundo grupo, como já referimos, pretendia-se saber se os utilizadores ou revendedores conheciam e valorizavam o modo de produção biológico. Quanto á selecção da amostra, foram entrevistados 10 cozinheiros chefes de hotéis de 4 e 5 estrelas, situados na Estrada Monumental do Funchal e a 10 cozinheiros chefes das unidades de hotelaria de 4 ou 5 estrelas, situadas em cada concelho da Ilha da Madeira, pois pretendíamos saber se havia alguma diferença no consumo destes produtos. Entrevistamos, também, os directores de vendas dos três grandes grupos de super e hipermercados que operam na Ilha: Grupo Sá, Modelo e Pingo Doce e os gerentes das pequenas lojas de ervas e produtos “naturais” que existem no Funchal, mais concretamente, Biológos, Bioforma, Fava Rica, Bom Pastor e um pequeno stand de PAM no Mercado dos Lavradores. Antecipadamente, as pessoas a entrevistar foram contactadas telefonicamente para combinar o local e hora da entrevista, a efectuar depois pessoalmente. As entrevistas realizaram-se em Julho, Setembro e Outubro de 2004. Como já foi referido, desenvolveu-se um guião para orientar as entrevistas, mas deixou-se sempre liberdade e registou-se sempre todos os comentários ou referências que ao entrevistado parecesse oportuno fazer. Para tratar os dados obtidos pelas entrevistas recorreu-se á análise de conteúdo, pois é uma técnica de tratamento de informação que nos permite descrever fenómenos e descobrir relações de causa-efeito entre fenómenos (Vala, 1986). O resultado de cada questão das diversas entrevistas, foi tratado numa matriz realizada numa folha de cálculo, de Excel, atribuindo o valor um ou zero consoante a resposta apresentada. O zero corresponde á negação e o um á afirmação. Seguidamente

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determinou-se o peso percentual no total de respostas, permitindo elaborar gráficos para melhor visualização dos resultados. Resultados Vamos apresentar os resultados obtidos tendo em consideração o tipo de entrevistados. A) Utilizadores

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sa l or s a ég ã se os gu re co lha en tro al s e m cri an m jer ic ão lo ur ho o rte lã sa m l va an jer on fu a nc es ho tra ce gão bo lin h to o m ilh o

%

Observando a figura 1, verificamos que as cinco PAM mais utilizadas, pelos chefes de cozinha entrevistados, são: a salsa referida em 89,5%; os orégãos, em 78,9%; a segurelha, em 73,7% e os coentros, alecrim e manjericão referidos em 63,2% dos casos. O louro, as hortelãs, a salva e a manjerona, foram referidas entre 45 e 25% e o funcho (rama e bolbo), o estragão, o cebolinho e o tomilho foram referidas abaixo de 25% dos casos.

%

ervas aromáticas

Figura 1. Utilização das ervas aromáticas

Ao inquirirmos se nos últimos três/cinco anos tem havido um aumento da utilização destes produtos todos os cozinheiros chefes nos responderam que sim, justificando, dum modo geral, que duplicou o seu consumo.

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Quanto ao local de produção eleito, figura 2, todos são unânimes em preferir a produção regional, apesar de 10,5% importar tanto do Continente como da Alemanha, para colmatar a falta de produção regional. Também, se verificou que os hotéis, situados fora do Funchal, todos tinham a sua pequena produção, a qual era favorita, pois, por estar “à mão”, permitia a obtenção de produtos mais frescos. Relativamente ao caso de serem produzidas em Áreas Protegidas, como no Parque Natural da Madeira, 84,2% dos inquiridos preferem, desde que o preço não seja muito superior. Não podemos quantificar qual o acréscimo que estariam dispostos a pagar por serem produzidas nestas Áreas, visto que não mencionaram.

100 80 %

60 40 20 0

Regional

Importada

Área Protegida

Figura 2. Local de Produção

Quanto ao estado em que as PAM são preferidas, 94,7% dos inquiridos utiliza em estado fresco e só uma pequena minoria, 15,8%, em estado seco, como se pode observar na figura 3.

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%

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

Secas

Frescas

Figura 3. Estado de utilização das ervas

Como constatamos na figura 4, 89,5% utiliza as ervas a granel e só 10,5% as utiliza embaladas.

100 80 %

60 40 20 0

Não embaladas

Embaladas

Figura 4. Preferência de embalagem

Todos os entrevistados nos responderam que a utilização das ervas no estado fresco tem aumentado muito nos últimos três anos, não quantificando. Relativamente a eleger uma marca, todos nos disseram que não têm marcas preferidas, apesar de terem fornecedores eleitos. Quanto à frequência do abastecimento, ninguém prefere o abastecimento mensal, só 21,1 % prefere o abastecimento semanal e a maioria, 84,2%, elege outra frequência de abastecimento, como duas vezes por semana. Quisemos saber então, qual o número médio de refeições servidas por dia e obtivemos uma média de 300 refeições. Mas este número varia muito, dependendo da

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dimensão do hotel. Há hotéis fora do Funchal que servem, em média, 20 a 30 refeições por dia e outros, principalmente no Funchal que chegam a fornecer 900 refeições em média por dia. Quanto à quantidade de ervas compradas, nem todos os chefes nos souberam dizer, mas dos 73,7% que nos responderam, compram em média 40 Kgs por semana. O principal motivo porque utilizam as PAM, é o sabor, com a totalidade dos casos. Como se observa na figura 5, como segundo motivo, 57,9% aponta a decoração ou guarnição, só 31,6% refere por motivos de saúde, justificando que a utilização das PAM permite a redução do sal e 10,5% não indica nenhum segundo motivo, ficando-se só pelo sabor.

10,5

31,6

57,9

Decoração

Saúde

Só pelo sabor

Figura 5. Segundo motivo do uso das ervas aromáticas

Ao perguntarmos se conhecia a existência de benefícios, inclusive para a saúde, com a utilização das PAM, 94,7% respondeu-nos afirmativamente, e só 5,3% nos referiu que não sabia, como é bem visível na figura 6.

100 80 60 40 20 0

Sim

Não

Figura 6. Existência de benefícios para a saúde

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Especificamente em relação às cinco ervas que mais consomem, como se observa na figura 7, 94,7% apontou o sabor e aroma como o motivo para a sua utilização e 15,8%, também, por motivos de saúde.

15,8%

94,7%

Sabor e aroma

Saúde

Figura 7. Motivo da utilização das ervas mencionadas

Quanto ao conhecimento e valorização do modo de produção biológico, indagámos se conheciam os produtos biológicos, 63,2% respondeu-nos afirmativamente e 36,2% respondeu-nos que não, como se pode ver na figura 8.

36,2%

63,2% Sim

Não

Figura 8. Conhecimento do modo de produção biológico

Através da observação da figura 9, podemos saber o nível de conhecimento do modo de produção biológico. Considerámos como correcto e bom nível de definição deste modo de produção, a indicação das duas seguintes razões: 1. Produtos produzidos sem a aplicação de produtos químicos de síntese;

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2. Produtos que ao serem comercializados com esta menção, têm que estar certificados. Do total de entrevistados deste grupo, ninguém nos apresentou as duas razões para justificar o ser produto biológico. 47,4% apontou-nos um só argumento, o que considerámos um nível de conhecimento razoável e 52,6 % apresentou argumentos errados ou não referiu nenhuma justificação.

47,4%

52,6%

Razoável

Fraca

Figura 9. Definição do modo de produção biológico

A figura 10, permite-nos observar que 84,2% dos entrevistados prefere consumir as PAM produzidas pelo modo de produção biológico e que aos restantes 15,8% este modo de produção não é motivo de preferência.

100,0% 80,0% 60,0% 40,0% 20,0% 0,0%

Sim

Não

Figura 10. Preferência pelo modo de produção biológico

Ao solicitarmos uma justificação, figura 11, para 68,4% dos entrevistados o argumento eleito foi a segurança alimentar (produtos sem pesticidas).

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Para 31,6% dos entrevistados a motivação para a preferência por este modo de produção, foi uma maior qualidade, não nos definindo essa qualidade. Apesar de alguns chefes de cozinha nos referirem que os seus clientes preferiam estes produtos e que são “melhores” para o ambiente, não nos apontaram este argumento como motivo de justificação.

80,0% 60,0% 40,0% 20,0% 0,0%

Segurança alimentar

Outro motivo

Figura 11. Motivação para o consumo de ervas em modo de produção biológico

B) Revendedores Analisando a figura 12, temos que as PAM mais vendidas, referidas por todos os revendedores, são o louro, a salsa, a segurelha, os orégãos, as malaguetas e os coentros. Deste grupo de entrevistados, 67% apontou ainda a rúcola (que consideraram erva aromática e não como folhas para salada), o cebolinho, as hortelãs e o manjericão. A macela, o alecrim e a manjerona tiveram 33% das referências.

lo ur o se gu re lh a or eg ão s m ac ela ale cr im m al ag ue t m an a je ro na sa ls co a en tro s rú co la ce bo lin ho ho rte m l an ã je ric ão

120 100 80 60 40 20 0

Figura 12. Ervas aromáticas e medicinais mais vendidas

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Deste grupo de entrevistados, as pequenas lojas referem ainda outras, como podemos observar na figura 13.

hi tília de per flo S icã rd .R o e s ob ab er to u pé gue s d iro e d e ce nt re flo e d ja r d e le fo e ca ão lh a d rqu a o ej a liv eir a

er va

er va

cid r ch eira áv er lu de er ci a v a l im pr ín a c ca ipe va lin ha m ac ela bo ld o

120 100 80 60 40 20 0

Figura 13. Ervas mais vendidas nas lojas de produtos "naturais"

Todos os gerentes das pequenas lojas, nos apontaram a erva-cidreira, a lúcia-lima, a erva príncipe e a macela como estando dentro das dez PAM mais vendidas. O chá verde, a cavalinha e a tília foram referidos por 75% destes gerentes. Dos gerentes das pequenas lojas, 50% apontou ainda o boldo, o hipericão, a erva-desão-roberto e a flor de sabugueiro. Os pés de cereja, o dente de leão, a flor da carqueja e a folha de oliveira foram referidos só por 25% destes entrevistados. Em relação à quantidade de ervas vendidas por mês, podemos observar na figura 14, o que vendem os três grandes grupos de super e hiper mercados da Região.

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2000 1500 1000 500 0

Grupo Sá

Modelo

Pingo Doce

Figura 14. Quantidade média de ervas vendidas por mês, em Kg

Assim, o grupo Sá vende em média 1680 kg por mês, o Grupo Pingo Doce 450 kg em média e o grupo Modelo cerca de 350 kg. De salientar que estas lojas de grandes superfícies, nos indicaram que das quantidades vendidas, a salsa representa 62,5%, os coentros 31,2% e as outras PAM referidas 6,3%. As pequenas lojas vendem, em média, cerca de 100 a 10 kg por mês, mas a Bioforma não nos indicou, por falta de informatização dos dados, qual a quantidade média de PAM vendida. Salientamos que a totalidade dos entrevistados respondeu afirmativamente que, nos últimos três anos tem havido um aumento significativo das vendas das PAM, quantificando em média 10% ao ano. Quanto ao local de produção, como se pode observar na figura 15, 66,7% vende mais a produção vinda do Continente ou de outros países e 33,3% vende mais a produção regional. Das grandes superfícies, o grupo Sá vende mais a produção regional. Das pequenas superfícies a Fava Rica vende só produção regional.

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80 70 60 50 40 30 20 10 0 Regional

Continente

Figura 15. Local de produção

Quanto ao estado em que as PAM são mais vendidas, nas grandes superfícies e na Fava Rica é no estado fresco e Bioforma. Biológos, Bom Pastor e stand do Mercado dos Lavradores é no estado seco, Quadro 1. Quadro 1. Estado em que as PAM são mais vendidas pelos revendedores.

Nome da Loja Grupo Sá Grupo Modelo Grupo Pingo Doce Fava Rica Bioforma Biológos Bom Pastor Stand Merc Lavradores

Estado em que são mais vendidas as PAM Frescas Frescas Frescas Frescas Secas Secas Secas Secas

De seguida, questionámos se as PAM eram mais procuradas embaladas ou a granel. Das respostas obtidas, verificámos que 66,7 % dos entrevistados vendem mais as embaladas e 33,7% dos revendedores vendem mais a granel, como se objectiva na figura 16, ou seja as PAM já embaladas merecem uma clara preferência.

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80 70 60 50 40 30 20 10 0 Embaladas

Não embaladas

Figura 16. Preferência pelos produtos embalados

Em relação à venda de ervas frescas, pretendemos saber se tem aumentado nos últimos três anos. O resultado afirmativo foi para as lojas que vendem mais em fresco e o negativo para quem vende mais em seco. Em relação às marcas comercializadas, nem todos os revendedores nos indicaram quais as marcas que colocam ao dispor dos consumidores. As referidas foram: • FLV • Segredo da Planta • Lebensbaum • Bioforma • Margão As escolhas em relação às marcas líderes recaíram na FLV e Segredo da Planta. Sublinhamos que as marcas Segredo da Planta e Lebensbaum só comercializam PAM de produção biológica. Quanto à frequência de abastecimento favorito, como nos é transmitido pela figura 17, entre as hipóteses de semanal, mensal ou outro, 66,7% elegeu outro, indicandonos que era de duas vezes por semana. Em relação ao mensal, 33,3% dos entrevistados escolhe esta frequência de abastecimento. Quanto ao abastecimento semanal, nenhum dos entrevistados o preferiu.

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70 60 50 40 30 20 10 0

Semanal

Mensal

Outro

Figura 17. Preferência de abastecimento das ervas aromáticas

Também neste grupo de entrevistados pretendemos analisar o seu conhecimento e valorização atribuída ao modo de produção biológico. Na totalidade afirmaram que conheciam os produtos de agricultura biológica, tendo 75% referido que eram produtos certificados e produzidos sem pesticidas, revelando um bom conhecimento destes produtos e 25% um conhecimento razoável, pois notaram que são produtos sem resíduos de pesticidas. Verificou-se que só 25% dos revendedores, em análise, vende preferencialmente as PAM produzidas por este modo de produção. Metade, ou seja 50% dos entrevistados, manifestou a opinião de que o comprador prefere os produtos biológicos. A outra metade apontou a falta de regularidade no abastecimento e o preço mais elevado como causas para a não preferência do consumidor para as PAM produzidas em agricultura biológica. Das superfícies que vendem preferencialmente as PAM em fresco, 66,7% indicaram-nos que o consumidor prefere as biológicas, como se visualiza na figura 18, e 33,3% não biológicas. 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Frescas biológicas

frescas não biológicas

Figura 18. Preferência pela procura de ervas aromáticas frescas de modo de produção biológico

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Verifica-se que a totalidade dos entrevistados não sabe se das PAM que comercializa, algumas são produzidas em Áreas Protegidas na Ilha da Madeira. Ao colocarmos a hipótese das PAM serem produzidas, por exemplo, no Parque Natural da Madeira ou numa Reserva Natural, 75% dos revendedores estão convencidos que esta referência ao local de produção seria motivo para o consumidor as escolher e 50% acrescentam a referência ao modo de produção biológico. A gerente da Biológos informou-nos que alguns dos produtos de agricultura biológica que importa, têm referência a serem produzidos em Áreas Protegidas.

Discussão As PAM mais vendidas, assim como as mais utilizadas pela hotelaria são: a salsa, a segurelha, os coentros e os orégãos. Na hotelaria, o alecrim e o manjericão são também muito utilizados, enquanto os consumidores residentes preferem ainda o louro e a malagueta. A hotelaria consome ainda em menor quantidade um grupo de aromáticas onde se incluem as hortelãs, a salva, o louro, a manjerona, o funcho, o estragão, o cebolinho e o tomilho. Os consumidores residentes consomem ainda um grupo significativo de medicinais como a erva-cidreira, a lúcia-lima (ou pessegueiro inglês), a macela e a erva príncipe (ou caninha). São utilizadas preferencialmente em estado fresco, pelo sabor e aroma que conferem aos alimentos. Apesar de ser do conhecimento geral que têm benefícios para a saúde, é pelo sabor e pela decoração que permitem que são utilizadas, na hotelaria. Nos últimos anos tanto o seu consumo pela hotelaria, como pelos residentes tem sofrido um crescimento significativo. Desde que haja oferta com regularidade, o estado em fresco das PAM e a sua produção regional são preferência tanto do consumidor como da hotelaria. Este gosto pela utilização das PAM muito frescas, leva a que os hotéis inseridos fora da cidade do Funchal tenham a sua própria produção, num jardim de ervas, só comprando o que lhes falta, como seja o caso essencialmente da salsa e dos coentros. Em média fornecem cerca de 300 refeições diárias e consomem em média 40 kg por semana de PAM, variando muito o consumo de acordo com a dimensão do hotel. Já as grandes superfícies são quem maior quantidade vende. Em fresco, preferencialmente não são embaladas, enquanto em seco, devido á dificuldade do seu manuseamento e porque são essencialmente importadas, são vendidas embaladas. Relativamente à frequência de abastecimento, no caso dos frescos, ficou demonstrada nítida preferência pelo abastecimento duas vezes por semana e, no caso dos secos, mensalmente. O principal motivo porque são utilizadas é essencialmente pelo sabor e aroma que transmitem aos alimentos, ficando o seu contributo para uma melhor saúde em segundo plano. A marca não é factor de valorização deste produto, mas sim a referência ao modo e ao local de produção. Especialmente quando é produzido em Área Protegida, este factor

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é apontado como valorização do produto, tanto pelo grupo dos utilizadores como dos vendedores. O conhecimento dos produtos biológicos é bom ao nível dos revendedores, mas decresce ao nível da hotelaria, o que nos leva a pensar que seria de toda a utilidade efectuar algumas acções de informação/formação na Escola Hoteleira e junto das unidades hoteleiras. Como a menção ao modo de produção de agricultura biológica é apontada como factor de valorização do produto junto dos consumidores em geral, então é porque existe um conhecimento bom ou razoável por parte destes. Em contradição, referimos que num estudo feito em Espanha, Pamplona, o conhecimento destes produtos é baixo, (Barroso e Teklioglu, 2003). Por último verificámos como contraditório, que as lojas que preferencialmente mais vendem as ervas como medicinais e têm um bom conhecimento destes produtos, são as que menos valorizam o modo de produção biológico, à excepção da Biólogos que só vende produtos provenientes de agricultura biológica.

Agradecimentos Agradecemos toda a orientação concedida pela Dr.ª Fabíola Pereira na elaboração da estrutura deste estudo e à Doutora Susana Fontinha, não só pela orientação concedida mas, também, pelo incentivo e disponibilidade sempre demonstrada.

Referências bibliográficas Barroso, Manuel & Teklioglu, Inci. 2003. As preferências do consumidor relativamente aos produtos biológicos. In Actas da Associação Portuguesa de Horticultura: I Colóquio Nacional de Horticultura Biológica. Lisboa: Associação Portuguesa de Horticultura. 197212. Bremness, Lesley. 1993. Plantas Aromáticas. Civilização Editores, Porto. Ferreira, José Carlos. 2003. Evolução da Agricultura Biológica na União Europeia e em Portugal. I Colóquio Nacional de Horticultura Biológica: Associação Portuguesa de Horticultura. Mcvicar, Jekka. 2003. O Poder das Ervas Aromáticas. Civilização Editores, Porto.

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Ortiz, Elisabeth Lambert. 1992. Bons sabores. Guia prático para cozinhar com ervas aromáticas, especiarias & condimentos. Verbo, Lisboa. Vala, Jorge. 1986. Metodologia das Ciências Sociais. In: A. Santos Silva e J. Madureira Pinto (eds), A Análise de Conteúdo, Cap.4. Ed. Afrontamento, Porto. pp 101-128. Willer, Helga; Yussefi, Minou. 2003. The world of Organic Agriculture-Statistics and Future Prospects. 5ª edição. International Federation of Organic Movements.

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