MOnitorização e ecologia da gaivota-de-patas-amarelas no arquipélago da madeira

Page 1

Nº de ordem: – 2007

Ano de 2007

ESTÁGIO CIENTÍFICO Apresentado na UNIVERSIDADE DA MADEIRA

Para obtenção do grau de LICENCIATURA

Nádia Micaela Gomes Coelho

“Monitorização e Ecologia da gaivota de patas amarelas Larus cachinnans atlantis no Arquipélago da Madeira”

Defendido em 30 do mês de Outubro de 2007

Júri: Professora Doutora Graça Costa

(Presidente)

Professor Doutor Thomas Dellinger

(Vogal Arguente)

Professor Doutor José Jesus

(Vogal)

Drª. Dília Menezes – P.N.M.

(Orientador)

Doutor Paulo Oliveira – P.N.M.

(Orientador)

Departamento de Biologia Universidade da Madeira Pólo Tecnológico da Penteada, Funchal


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

RESUMO O objectivo deste trabalho é avaliar o impacto nos efectivos populacionais, movimentos e dieta dos juvenis da população de gaivota de patas amarela Larus cachinnans atlantis, da redução de alimento disponibilizado pelas lixeiras; neste caso particular em consequência dos melhoramentos efectuados na “Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra”. Foi repetida a metodologia de um trabalho de 2002, desenvolvido antes das alterações referidas, verificando-se: (i) que a taxa de crescimento da população reprodutora da colónia do Ilhéu do Desembarcadouro é agora mais baixa, (ii) que os padrões de movimentos são substancialmente distintos e (iii) que a dieta dos juvenis é agora baseada em alimento natural (peixe), em detrimento do alimento de origem antropogénica que antes dominava a dieta. Neste contexto concluímos que a menor disponibilidade de alimento está a influenciar negativamente o crescimento da população e que esta adaptou os seus movimentos e dieta às novas condições tróficas existentes.

ABSTRACT

The main purpose of this study is to evaluate the impact of the reduction of food provided by rubbish tips on population numbers, movements and juveniles diet of yellowlegged gulls Larus cachinnans atlantis. Food availability reduction happened as a consequence of the improvements made on “Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra”. The same methodology used on a study of 2002, before the alterations referred previously, was repeated and the main results show that: (i) the increase rate of the breeding population of the Desembarcadouro islet colony is now lower, (ii) that the pattern of movements are substantially different and (iii) the juveniles diet is now based on natural food (fish), in detriment of the food with anthropogenic origin which dominated the diet at the time. In this context, it is possible to conclude that the reduced amount of food availability provided by the rubbish tips is influencing negatively the population numbers, and that the birds adapted their movements and diet to the new trophic conditions.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

2


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

ÍNDICE

1- INTRODUÇÃO ........................................................ ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 1.1- A GAIVOTA DE PATAS AMARELAS. CARACTERIZAÇÃO GERAL .. ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 1.1.1- Distribuição e sistemática das gaivotas................. Erro! Marcador não definido. 1.1.2- Descrição e morfometria ....................................... Erro! Marcador não definido. 1.1.3- Ecologia ................................................................ Erro! Marcador não definido. 1.2- A GAIVOTA DE PATAS AMARELAS NA MADEIRA ....................... ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 1.3- PROBLEMAS CAUSADOS PELAS GAIVOTAS ............................. ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 1.3.1- Caracterização do problema ................................. Erro! Marcador não definido. 1.4- OBJECTIVOS ......................................................................... ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 2- MATERIAL E MÉTODOS ........................................ ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 2.1- ÁREA DE ESTUDO ................................................................. ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 2.2- METODOLOGIA DE CAMPO ..................................................... ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 2.2.1- Censo Populacional .............................................. Erro! Marcador não definido. 2.3- DETERMINAÇÃO DA ACTIVIDADE DESENVOLVIDA NOS LOCAIS DE TRÂNSITOERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 2.4- DETERMINAÇÃO DA ACTIVIDADE NOS LOCAIS DE ALIMENTAÇÃO E REPOUSO.ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 2.4.1- Determinação da actividade diária ........................ Erro! Marcador não definido. 2.5- DIETA DOS JUVENIS DE GAIVOTA ........................................... ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 2.5.1- Recolha de Regurgitações .................................... Erro! Marcador não definido. 2.5.2- Análise das regurgitações ..................................... Erro! Marcador não definido. 2.5.3- Tratamento estatístico dos dados ......................... Erro! Marcador não definido. 3- RESULTADOS ........................................................ ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 3.1- POPULAÇÃO REPRODUTORA E TAMANHO MÉDIO DE POSTURASERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 3.2- ACTIVIDADE DESENVOLVIDA NOS LOCAIS DE TRÂNSITO.......... ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 3.3- ACTIVIDADE NOS LOCAIS DE ALIMENTAÇÃO E REPOUSO ......... ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 3.4- DIETA DOS JUVENIS DE GAIVOTA ........................................... ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 3.4.1- Variação de alimento natural e alimento antropogénico ao longo das idades ....................................................................................... Erro! Marcador não definido. 4- DISCUSSÃO ........................................................... ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 4.1- POPULAÇÃO REPRODUTORA E TAMANHO MÉDIO DE POSTURASERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 4.2- FONTES DE TRÂNSITO E ALIMENTAÇÃO .................................. ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 4.3- DIETA NO ILHÉU DO DESEMBARCADOURO ............................. ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 4.4- VARIAÇÃO DE ALIMENTO NATURAL E ALIMENTO ANTROPOGÉNICO AO LONGO DAS IDADES . ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 4.5- CONSIDERAÇÕES GERAIS E RECOMENDAÇÕES FUTURAS....... ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 5- AGRADECIMENTOS .............................................. ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................ ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO. 7- ANEXOS ................................................................. ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

3


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

1- INTRODUÇÃO A gaivota macaronésica tem sido um foco de polémica entre ornitólogos e taxonomistas. Inicialmente esta espécie foi considerada como pertencente ao grupo da gaivota argêntea Larus argentatus atlantis, sendo actualmente identificada como uma subespécie de Larus cachinnans. No Arquipélago da Madeira é possível observar três espécies de gaivota Larus cachinnans, Larus argentatus e Larus fuscus, sendo a primeira a única gaivota nidificante, não havendo registo de cruzamento com as duas espécies visitantes L. argentatus e L. fuscus (Câmara 1997). Ainda assim, actualmente não se assiste a uma concordância em termos de nomenclatura desta subespécie, pelo que, neste estudo optou-se por utilizar os critérios seguidos por Oliveira & Menezes (2004) e identificar esta subespécie residente como sendo Larus cachinnans atlantis, Clements 1991. Esta espécie encontra-se incluída no Anexo III da Convenção de Berna, e 20 a 50% da sua área de ocorrência está classificada como ZPE (Zona de Protecção Especial) e SIC (Sítio de Interesse Comunitário), integrando a Rede Natura 2000 (Oliveira & Menezes 2004). Dado que esta ave necessitava de uma gestão adequada o Parque Natural da Madeira (PNM) em 1992, criou condições para que fosse efectuado o primeiro trabalho sistemático com esta ave, com a monitorização da população no Ilhéu Chão (Barbosa 1992). Posteriormente em 1993 este projecto foi alargado pelo PNM, abrangendo outras ilhas do arquipélago. Adoptando a mesma metodologia, definimos como propósito angariar informação que pudesse contribuir para uma análise congruente do estatuto desta população, indicando quais as medidas de gestão a adoptar. Foram assim, iniciados alguns meios de controlo populacional nessa época em fase de experimentação, sendo efectuado através da inviabilização de ovos. Em 2001/2002 um novo projecto foi elaborado, de forma a conhecer os factores que condicionavam o sucesso dos juvenis de gaivota no Arquipélago da Madeira, com especial destaque para a maior colónia da Ilha da Madeira e, determinar em que extensão os vários tipos de detritos resultantes da actividade humana contribuíam para a manutenção do sucesso das populações de gaivota, através do estudo da dieta dos juvenis (Fagundes et al. 2002). O actual trabalho surge na continuação do que tem sido feito, contribuindo para compreender se a reestruturação da ETRSMS terá provocado alterações na população reprodutora da colónia do Ilhéu do Desembarcadouro.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

4


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

1.1- A gaivota de patas amarelas. Caracterização geral 1.1.1- Distribuição e sistemática das gaivotas A gaivota de patas amarelas é uma espécie de gaivota pertencente à ordem Charadriiformes, ao género Larus e à família Laridae. Esta ordem é constituída por aves robustas, pés palmados, asas bastante estreitas, bicos fortes e caudas curtas (Bruun et al. 2004). Possui 95 espécies, distribuídas por 15 géneros (Forbes et al. 1986). A subespécie Larus cachinnans atlantis desfruta de uma ampla distribuição mundial, desde o extremo noroeste da China, Mongólia e Sul da Europa, fundamentalmente nas Costas Atlântica e Mediterrânica (Oliveira & Menezes 2004). Na figura 1, é possível observar a distribuição da espécie. Esta ave encontra-se assim difundida, constituindo mais de 50% da sua área de reprodução a nível global, tendo o seu efectivo populacional Europeu ascendido a 310,000 pares (BirdLife International 2004). Área de nidificação abandonada no Inverno

Área de distribuição Invernal

Área em que se podem observar as espécies em migração

Direcção principal da migração (pode não ser a rota exacta) Presente todo o ano, inclusive durante a nidificação (Residente)

Figura 1 – Mapa de distribuição da espécie Larus cachinnans segundo Mullarney et al. (2003)

1.1.2- Descrição e morfometria A gaivota possui as partes superiores cinzento- prateado a cinzento- escuro e bico forte amarelo (Carlson & Carlson 1994). Rémiges primárias pretas com pontas brancas e resto do corpo completamente branco. Bico amarelo vivo, e vermelho perto da ponta da mandíbula inferior. Olho amarelo, com anel orbital vermelho, e as pernas e patas amarelo vivo. Os juvenis são castanhos com o bico preto. A quantidade de castanho varia com a idade (Carlson & Carlson 1994). Na figura 2 podemos observar distintamente o padrão desta espécie. A identificação dos imaturos é geralmente mais difícil, uma vez que possuem plumagem parda ou listrada relativamente indistinguível, e as patas e o bico ainda não adquiriram a coloração de adulto.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

5


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Figura 2 – Ilustração do padrão da gaivota de patas amarelas (http://ecoinf.uran.ru/content/2birds/m176.shtml )

Estas adquirem a plumagem de adulto após três anos de idade. A mudança da plumagem de juvenil para adulto processa-se através de mudas regulares, em que as penas velhas são substituídas por penas novas (Mullarney et al. 2003). Estas aves possuem dimorfismo sexual pouco acentuado, sendo os machos ligeiramente maiores que as fêmeas. O peso de um adulto macho varia entre as 720 -1000 gramas, e o peso de um adulto fêmea varia entre as 570 – 930 gramas. No que diz respeito ao comprimento da asa, o macho varia entre os 418 – 455 milímetros, e a fêmea entre os 393 – 439 milímetros. Estas aves possuem uma mortalidade elevada durante os primeiros anos de vida, diminuindo acentuadamente na fase adulta. A pouca informação disponível originária, essencialmente, de estudos que recorreram à anilhagem de aves, sugere uma longevidade superior a 15 anos (SNPRCN 1990). 1.1.3- Ecologia Habitat e reprodução Esta espécie ocupa um vasto leque de habitats procurando locais com pouca perturbação, tais como ilhas, ilhéus e falésias costeiras, para pernoitar e nidificar. Nas suas actividades diárias associa-se a ambientes humanizados aos quais se adaptou extremamente bem (Oliveira & Menezes 2004). De acordo com (Carlson & Carlson 1994) estas aves podem ainda utilizar dunas de areia e praias rochosas, passando o Inverno em estuários e águas interiores. Na maioria das regiões as gaivotas reproduzem-se uma vez por ano no decurso de uma época bem definida, que corresponde ao aumento de recursos alimentares durante o Verão. O sistema de acasalamento desta espécie é monogâmico, e os pares mantêm-se juntos enquanto os dois membros sobreviverem (Forbes et al. 1986), sendo que estas não se reproduzem antes do seu 4º ano de idade (Finney 1989). N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

6


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Á medida que se aproxima a época de reprodução, as gaivotas reúnem-se em grandes e densas colónias, reclamando com frequência o local do ano anterior (Forbes et al. 1986). A defesa territorial é evidente na época reprodutora, que tem o seu início a meados de Março (obs. pess.). O ninho destas aves é uma concavidade no solo, onde a ave põe em média 2/3 ovos, bastante pintados de castanho e preto (Câmara 1997). Uma segunda postura pode ser efectuada, caso a primeira se perca (Rufino et al. 1989), salientando o facto que os ovos da segunda postura possuem relativamente menos lípidos e mais água (Nager et al. 2000). Coulson (1963) realça ainda o facto de, numa postura de três ovos, o ovo final diferir marcadamente dos primeiros dois na forma e no tamanho. A incubação é partilhada entre si, pelos dois sexos, fazendo vários turnos por dia até a eclosão dos ovos (Forbes et al. 1986). De acordo com Quintal (2003), a incubação dos ovos pode durar entre 28 a 29 dias. Fora da época de reprodução é típico que as gaivotas continuem a ser muito gregárias, reunindo-se em grandes bandos para se alimentarem, descansarem e tomarem banho (Forbes et al. 1986).

Dieta O sucesso das gaivotas deve-se à falta de especialização pois, estas aves possuem um regime alimentar marcadamente generalista. Este facto conduziu-as, ao contrário da maioria das aves marinhas, a beneficiar da sua associação com o Homem, na alimentação, reprodução e postura (Furness & Monaghan 1987; Vicente & Moutinho 1993). Segundo Buckley (1990), o alimento consumido e a sua relativa importância variam de área para área, demonstrando a sua flexibilidade na dieta. Assim, a possibilidade de acesso a um “recurso fácil” durante uma determinada fase do ciclo de vida, é determinante. Tendo a alimentação facilitada, os progenitores podem despender maior esforço na construção do ninho e na pesca no mar para alimentação dos jovens. Ao mesmo tempo, a maior disponibilidade alimentar durante o resto do ano tenderá a diminuir a mortalidade no primeiro Inverno e a tornar sedentária a população (Vicente & Moutinho 1993). Existem essencialmente dois recursos antropogénicos mais utilizados por estas aves, sendo o peixe descartado dos barcos de pesca comerciais, um suplemento adicional na sua dieta, assim como as lixeiras a céu aberto (Davis 1975; Garthe & Scherp 2003; Yorio & Caille 2004). Estas representam uma fonte segura de alimento disponível para as populações de gaivotas, sendo provável que este facto tenha contribuído para um aumento do número destas aves, sendo plausível o seu contínuo incremento enquanto alimentos de origem antropogénica se encontrem disponíveis, ou seja, enquanto se continuar com uma má gestão no tratamento das lixeiras e aterros, bem como nas descargas de peixe, N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

7


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

resultado do seu mau processamento por parte da actual frota pesqueira (Pons 1992; Belant et al. 1998; Soldatini et al. 2005). Deste modo, segundo Sol et al., (1995) as lixeiras influenciam significativamente a distribuição destas aves, atraindo um grande número de indivíduos para se alimentar durante o dia, sugerindo que estas são as áreas preferidas para esta espécie. Pons

(1992)

registou

no

decurso

do

seu

trabalho

comportamentos

de

cleptoparasitismo intraespecífico em lixeiras. O cleptoparasitismo – a forma de interacção onde um individuo rouba algum recurso de outro, geralmente alimento, é bem conhecido entre as aves, em particular na família laridae. Abraín et al. (2003) faz referência a este tipo de comportamento, essencialmente quando há uma diminuição na disponibilidade de suplementos alimentares. Este tipo de comportamento pode também afectar o sucesso reprodutor de outras aves marinhas, competindo com estas pelo espaço de nidificação, roubando o seu alimento, ou escolhendo os seus ovos e juvenis como alvos de predação (Furness & Monaghan 1987). 1.2- A gaivota de patas amarelas na Madeira Distribuição e efectivos populacionais Nos anos sessenta Bannerman & Bannerman (1965), referiram-se à presença desta espécie para todas as ilhas, utilizando para nidificar, ilhéus com pouca vegetação e perturbação reduzida. Actualmente e segundo Oliveira & Menezes (2004), a selecção preferencial por estes ilhéus ainda se verifica. As óptimas condições que estes ilhéus oferecem ficam a dever-se a uma série conjunta de factores, tais como, o isolamento geográfico, com consequentes baixos níveis de perturbação, a qual poderia pesar essencialmente na época de reprodução; a ausência de predadores; assim como as proximidades a portos piscatórios, e aterros sanitários (Barbosa 1992). Os seus efectivos populacionais estão distribuídos fundamentalmente pela Madeira e Desertas, onde a população está estimada como sendo superior a 1650 e 700 casais, respectivamente. Nas Selvagens a população não excede os 30 casais (Oliveira & Menezes 2004). No Porto Santo nidifica fundamentalmente nos ilhéus maiores, contando com uma população que ronda os 1600 casais (Fagundes et al. 2002). A principal colónia do Arquipélago da Madeira situa-se na península mais oriental da ilha da Madeira. No que diz respeito à flora típica deste local Fontinha & Carvalho (1995), adiantam que esta é formada principalmente por plantas herbáceas e por uma distribuição escassa de alguns arbustos, tais como Echium nervosum, Argyranthemum pinnatifidum ssp. succulentum e Suaeda vera, sendo esta última a mais frequente no ilhéu do Desembarcadouro ocorrendo ao longo de toda a superfície. N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

8


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Relativamente à composição florística, a Ponta de São Lourenço e o Ilhéu do Desembarcadouro incluem 35 endemismos, 22 endemismos exclusivos do Arquipélago da Madeira e 13 endemismos da Macaronésia (Fontinha & Carvalho 1995). Destacam-se ainda algumas espécies de ocorrência exclusiva neste extremo Este da Ilha da Madeira, não ocorrendo noutra parte da Ilha tais como: Asphodelus fistulosus L., Lycium intricatum Boiss., Launea arborescens (Batt.) Murb., Frankenia laevis L., Beta patula Ait. e Phalaris maderensis (Menezes) Menezes, sendo estas duas últimas exclusivas do Ilhéu do Desembarcadouro (Fontinha & Carvalho 1995). Dieta da gaivota no Arquipélago da Madeira De acordo com Oliveira et al. (1993), a população de gaivota, que vive no Arquipélago da Madeira, assenta na problemática anteriormente referenciada, da lixeira a céu aberto, sendo que a abundância de alimento que lhes era proporcionada pelos resíduos depositados em aterro sanitário era um dos factores que contribuíam para as elevadas taxas de sucesso e sobrevivência desta espécie. Fagundes et al. (2002), no estudo efectuado verificou que 25% do total da dieta dos juvenis no ilhéu do Desembarcadouro era constituída por derivados de galinha. Não obstante e embora em menor escala os derivados de porco e de vaca também se assumiram com relativa importância no sucesso dos juvenis. De uma forma geral o consumo de alimentos de origem humana mostrou-se elevado para este ilhéu, tornando-se pertinente chamar a atenção para a necessidade de alertar as autoridades responsáveis para que o despejo dos detritos orgânicos, provenientes dos centros de reprodução/ produção animal, não fosse efectuado nos mesmos locais que o restante lixo. Estes deveriam sofrer uma triagem, para separação de detritos de compostagem e o restante, colocado em aterros próprios e prontamente cobertos. Contudo a ETRSMS e os centros de reprodução/ produção animal não se afiguram como únicas fontes de alimento disponível, sendo que os principais locais de descarga de pescado da Ilha da Madeira representam igualmente um atractivo para estas aves. Porém, posteriormente será feita uma abordagem a estes locais de atracção. 1.3- Problemas causados pelas gaivotas 1.3.1- Caracterização do problema A partir da década de quarenta tem vindo a ocorrer, em toda a sua área de distribuição, um aumento significativo das populações de gaivota essencialmente, a gaivota argêntea (Larus argentatus). Nos últimos anos, este crescimento tomou proporções tão alarmantes que levou os governos de vários países (E.U.A, Canadá, Inglaterra, França, Espanha etc.) a tomar medidas de controlo activo das populações desta espécie (Vicente & Moutinho 1993). Uma das maiores populações de gaivota de patas amarelas em toda a N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

9


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Europa Ocidental encontra-se na Galiza, prevalecendo na sua grande maioria a comunidade de aves marinhas (Munilla 1997). Já a gaivota argêntea actualmente, assume em todo o Atlântico Norte as características biológicas de praga (espécie cujo crescimento populacional interfere negativamente com populações alo-especificas, ameaçando-as de extinção e causando situações de ruptura ecológica), sendo com este estatuto encarada pelos governos dos países mais seriamente afectados pelo crescimento das suas populações (Vicente & Moutinho 1993). Todavia os problemas causados por estas aves não se prendem apenas ao crescimento desmesurado da população, mas representam a causa para outras situações de ruptura dramáticas. Um aspecto a ter em atenção é a excessiva nitrificação do solo, pelos dejectos desta ave. Segundo Fontinha & Carvalho (1995), os excrementos do coelho e das gaivotas, principalmente no ilhéu do Desembarcadouro, parecem estar a impedir uma cobertura de plantas mais abundante. De acordo com Vicente & Moutinho (1993), em estudos realizados na Ilha da Berlenga, este factor pode ter como consequência a extinção da vegetação indígena e endémica, sendo progressivamente substituída por flora nitrófila. São também de considerar as consequências que estas aves podem assumir para o próprio Homem. Assim sendo e no que se refere à saúde publica, é de salientar que estas aves são portadoras de alguns fungos (ex: Aspergillus fumigatus) e parasitas (Taenia saginata), causando consequentemente, alergias, problemas no aparelho digestivo e / ou respiratório, representando assim um sério perigo para o Homem. Contudo estas doenças já detectadas nas gaivotas são também veiculadas por muitas outras aves, salientando-se que o perigo para a saúde pública apenas existe se o crescimento das populações de gaivotas for incontrolado (Vicente & Moutinho 1993). Todavia não serão de menosprezar eventuais consequências nefastas sobre populações de outras aves marinhas, dado que as gaivotas podem exercer pressão por predação sobre estas. Esta acção foi realçada por Oliveira & Menezes (2004), sobre a alma negra Bulweria bulwerii para as Ilhas Desertas, contudo dada a tendência populacional desta espécie, esta predação não deverá ser muito expressiva. Adicionalmente, esta ave causa a nível mundial problemas sérios na aviação. Registou-se a 7 de Setembro de 1905 o primeiro “birdstrike” na história da aviação em Dayton Ohio, registando-se a 3 de Abril de 1912 a primeira vítima mortal. Desde estes registos, o tráfego aéreo tem aumentado. Como resultado, pelo menos 122 aviões civis foram destruídos e cerca de 255 vidas civis foram perdidas desde 1960 a 2004 (Cleary & Dolbeer 2005). “Birdstrikes” ocorrem regularmente em muitos aeroportos e requerem uma atenção constante (Godin 1994).

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

10


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Mais de 90% de todas as espécies de aves são diurnas, permanecendo activas durante o dia. Existem normalmente dois picos de actividade, pelo qual se dá um súbito aumento do número destas, pela manhã, e ao entardecer quando as aves se movem entre os locais de alimentação e os locais de repouso (MacKinnon 2005). A ocorrência de aves varia de acordo com a disponibilidade de habitat, tempo, estação do ano, e a hora do dia (Godin 1994). As colónias de gaivotas estabelecidas em áreas adjacentes a aeroportos podem causar sérios perigos para a aviação. Segundo a (FAA) Federal Aviation Administration que tem conduzido estudos para melhor aceder à extensão dos danos causados pelas colisões das aves, as gaivotas são as mais comuns a serem sugadas, representando 35% de todas as absorções. Este risco pode aumentar devido ao grande tamanho da espécie e à sua abundância em torno dos aeroportos (Seubert 1990) . Baseado nas condições do aeroporto e nos possíveis riscos que as aves podem causar para a aviação, podendo até mesmo resultar na perda de vidas humanas, é necessário dar ênfase a este problema. Segundo Demarchi et al. (1999), monitorizar os movimentos das aves perto de aeroportos é uma componente integral para um eficaz controlo, podendo desta forma contornar esta problemática inequívoca. Dado que este é um problema mundial, o Arquipélago da Madeira não poderia ser excepção, Fagundes et al. (2002) atesta que o aeroporto da Madeira, pela sua localização, é um bom ponto de referência para as gaivotas que viajam entre as colónias de nidificação e os locais de alimentação, funcionando muitas vezes como local de repouso antes de prosseguirem voo.

1.4- Objectivos O trabalho aqui apresentado tem por objectivo estruturante contribuir para uma melhor gestão dos problemas causados pela explosão demográfica de algumas populações de gaivotas, através da avaliação do impacto da redução das fontes alimentares disponibilizadas pelas lixeiras a céu aberto, sobre vários aspectos do comportamento, biologia e ecologia da gaivota de patas amarelas (Larus cachinnans atlantis) na Madeira.

Os passos para a concretização dos resultados perspectivados foram os seguintes:

- Avaliar o impacto da entrada em funcionamento da Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra, e da consequente redução das fontes alimentares disponibilizadas pela anterior situação de lixeira a céu aberto, sobre os efectivos reprodutores na maior colónia do Arquipélago da Madeira.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

11


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

- Comparar os actuais padrões de movimentos sazonais, nas zonas de trânsito (nomeadamente o aeroporto), alimentação e repouso, com os existentes antes da entrada em funcionamento da Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra. - Comparar a actual dieta dos juvenis com aquela verificada antes da entrada em funcionamento da Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

12


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

2- MATERIAL E MÉTODOS 2.1- Área de Estudo A Ilha da Madeira encontra-se situada no oceano Atlântico, entre os meridianos 16º 39´ 19´´ e 17º 15´54´´W e os paralelos 32º 37´52´´ e 32 52º08´´ N, a cerca de 796 km da costa de África e a 978 km a sudoeste de Lisboa (Menezes et al. 2004). A área de estudo (Ponta de São Lourenço) ver figura 4, tem a forma de uma península estreita com cerca de 9 km de comprimento e uma largura máxima de 2 km (Quintal 2003). Este local é formado essencialmente pelo ilhéu do Desembarcadouro, da Cevada ou da Metade e pelo ilhéu do Farol ou de Fora (Teixeira & Abreu 2003). Com um comprimento aproximado de 1750 metros e uma largura média de 200 metros, o ilhéu da Cevada tem uma área de cerca de 40 hectares. O topo é pouco acidentado e a altitude do planalto oscila entre os 60 e os 80 metros. O ponto mais elevado é o pico Vermelho que atinge 101 metros. A presença de espécies da flora e da fauna listadas na Directiva Habitats justificou a integração da Ponta de São Lourenço na Rede Natura 2000 (Quintal 2003). Esta área tem o estatuto de Reserva Integral (Decreto Legislativo Regional N.º 14/82/M, 1982) (Abreu 2004). Na figura 3 estão representados os sete pontos de observação destas aves, assim como a colónia em estudo. Em anexo, (anexo2) encontra-se o mapa com a área de estudo detalhada.

P7 P3

P4

P5 P1 P2

P6

Figura 3 – Localização geográfica da área em estudo (IGEOE 2003)

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

13


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

 Descrição e caracterização dos sete postos de observação: P1 – Cabeceira Este P1 e P2 – Cabeceira Oeste da pista do Aeroporto Estes dois pontos foram escolhidos, pois possuem uma boa visibilidade quer da pista quer do mar permitindo assim obter dados concretos sobre a actividade das gaivotas dentro da área do Aeroporto. P3 – Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra (ETRSMS) O factor que levaria a uma maior proliferação de aves neste ponto era claramente devido ao facto de existir quantidades ilimitadas de alimento disponível. Este ponto foi seleccionado para observação dado que ocorreu a ampliação e remodelação da Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra em 2002. As observações foram efectuadas num ponto localizado por cima do aterro, o que permitiu uma boa visualização da área. P4 – Lagoa do Santo da Serra O facto desta lagoa ser uma reserva de água doce, torna-se essencialmente importante como posto de observação. Com a grande disponibilidade de água durante todo o ano, torna-se um local bastante atractivo quer para repouso quer para o banho de algumas aves. P5 – Cais de Machico Sendo um local junto ao mar, este posto foi eleito devido à grande proximidade com a colónia e igualmente devido à actividade pesqueira que existe durante todo o ano. Este posto torna-se assim atractivo para as aves quer para alimentação quer para repouso. P6 – Porto do Funchal Com o crescente desenvolvimento e melhoramento das infra estruturas de apoio à pesca, em terra, como sejam postos de recepção de pescado, o porto do Funchal torna-se uma vez mais um ponto de atracção para este tipo de aves. P7 – Pico do Facho Este pico situa-se na cidade de Machico, encontrando-se a 323m de altitude. Este ponto permite-nos determinar com alguma facilidade as rotas diárias estabelecidas por estas aves. 2.2- Metodologia de campo 2.2.1- Censo Populacional A estimativa populacional foi realizada através do método do transecto linear. Este método consistiu na realização de um transecto em linha por uma equipa de três elementos, com uma área previamente definida pelo comprimento do trajecto, medido com um GPS (Garmin) e uma distância previamente estabelecida como largura (Rabaça 1995), definida

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

14


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

por um fio de 15 m. Dentro desta área foram registados todos os ninhos observados e respectivo número de ovos. Na figura 4 é possível observar a metodologia acima referida.

Figura 4 – Método utilizado para o cálculo da estimativa populacional

A área do Ilhéu segundo Fagundes et al. (2002) (468750 m2) foi usada para calcular o tamanho e a densidade populacional de gaivotas. Através da multiplicação da largura do transecto com a distância percorrida, é possível calcular a área em que foi realizado o censo, ou seja, a área em que foi feita a contagem de ninhos e de ovos. Deste modo, a estimativa do total de ninhos existentes no Ilhéu foi calculada da seguinte forma, tendo como pressuposto a sua representatividade:

Área do Ilhéu X ninhos contabilizados Densidade ninhos = Área de transecto 2.3- Determinação da actividade desenvolvida nos locais de trânsito Aeroporto da Madeira Para a determinação dos padrões de voo e da actividade desenvolvida na área do aeroporto foram definidos dois postos de observação, um em cada uma das cabeceiras da pista, a Este (P1) e a Oeste (P2). Estes postos foram realizados segundo Fagundes et al. (2002). As observações tiveram início na segunda quinzena de Dezembro de 2005, terminando na segunda quinzena de Julho de 2006. Os postos P1 e P2, foram realizados alternadamente, com apenas um observador em cada um destes, tinham periodicidade mensal, sendo realizados de manhã das 8 às 10 horas e à tarde nas últimas duas horas e meia antes do anoitecer, (de Dezembro a Abril o registo foi efectuado das 16.30h às 19h, enquanto que de Maio a Julho foi efectuado das 18h às 20.30h) com um contínuo registo de observações.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

15


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Durante os períodos de observação era efectuada uma procura exaustiva das aves, com o auxílio de binóculos e, no caso de serem encontradas concentrações de gaivotas, pousadas no mar ou na pista, era utilizado o telescópio, com o propósito de contabilizá-las. Durante os postos era analisada a actividade desenvolvida pelas gaivotas, considerando as seguintes variáveis; se estavam em repouso ou em trânsito e, neste ultimo caso a sua proveniência, direcção de voo (Norte/ Sul/ Este/ Oeste). Além de todos estes aspectos eram ainda registadas as condições meteorológicas, nomeadamente a pluviosidade, coberto nebuloso, visibilidade, temperatura, intensidade e direcção do vento. Pico do Facho O Pico do Facho é um ponto, em que é possível observar a zona onde se situa a Lagoa do Santo da Serra, o Pico do Areeiro e o Ilhéu do Desembarcadouro. Este posto foi efectuado mensalmente seguindo a mesma metodologia referenciada anteriormente em 2.3.1. Durante o período de observação era analisada a proveniência e direcção de voo das aves. 2.4- Determinação da actividade nos locais de alimentação e repouso. 2.4.1- Determinação da actividade diária Para determinação da actividade desenvolvida pelas gaivotas nos principais locais de alimentação e repouso foram definidos cinco postos de observação. Estes postos foram seleccionados segundo Fagundes et al. (2002) como sendo potenciais locais de atracção, por existir uma maior concentração de aves. As observações decorreram entre Dezembro de 2005 e Julho de 2006. Estes postos foram realizados mensalmente, sendo realizado na parte da manhã das 8 às 10 horas e de tarde, nas últimas duas horas e meia antes do anoitecer, com períodos de contagem de 10 minutos. Durante o período de observação era registado o número de gaivotas presente no local. 2.5- Dieta dos juvenis de gaivota Este estudo desenvolveu-se entre Março e Junho de 2006. Durante este período, foi feito um investimento de forma a que fossem conseguidas o maior número de amostras possíveis. O acompanhamento dos ninhos na época de eclosão tornou-se mais regular, para que fosse determinado o dia da eclosão dos primeiros juvenis. A tabela 1 mostra a cronologia da época reprodutora na colónia estudada segundo Fagundes et al. (2002).

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

16


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa Tabela 1 – Cronologia de época reprodutora no Ilhéu do Desembarcadouro segundo Fagundes et al. (2002).

Março

Abril

Maio

Junho

Construção ninhos Posturas Eclosões Saída da colónia 2.5.1- Recolha de Regurgitações Foram

recolhidas

regurgitações

de

juvenis

em

diferentes

estados

de

desenvolvimento e, para facilitar a identificação do material e evitar erros na quantificação da dieta, devido aos diferentes graus de digestibilidade de cada item alimentar, as recolhas foram efectuadas logo após a alimentação das aves. De acordo com Fagundes et al. (2002) os períodos seleccionados para uma melhor recolha de material são nomeadamente das 11h às 15h e das 17h às 21h. Para que toda a área do Ilhéu fosse coberta e para se evitar a captura dos mesmos indivíduos, de forma a não prejudicar o seu crescimento e minimizar o aparecimento de erros em virtude dos juvenis capturados e seus progenitores apresentarem características fora do padrão comum, foram realizados transectos ao longo da colónia e, nos juvenis encontrados foi induzida a regurgitação. Para se proceder à recolha das amostras era necessário verificar a existência de alimento fresco no papo dos juvenis. A ave cujo papo estivesse cheio, era colocada de cabeça para baixo, com o bico dentro do saco de recolha e com massagens ligeiras no papo, era provocado o vómito. Aos juvenis que regurgitavam era colocado um fio de lã colorido na pata esquerda, que permitia a distinção entre juvenis das diferentes semanas de recolha, de forma a evitar a recaptura dos mesmos. Com o auxílio de uma régua metálica de 50cm procedeu-se à medição do comprimento da asa. Estas medições tiveram por objectivo a determinação da idade dos juvenis capturados, para o estudo da dieta (detalhes mais abaixo). As medições e as recolhas das regurgitações dos juvenis foram efectuadas, todas as semanas embora dependessem fortemente das condições meteorológicas, principalmente o estado do mar, que por vezes condicionava o acesso ao Ilhéu. O material recolhido foi guardado em sacos de congelação individualizados devidamente etiquetados com toda a informação recolhida (medida da asa, data e hora de recolha, cor do fio de lã) e, para evitar a perda de qualquer informação, estes dados foram também inscritos numa etiqueta de papel vegetal, colocada no interior do saco. Todas as recolhas foram congeladas a 3ºc negativos para posterior análise (Buckley 1990).

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

17


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

2.5.2- Análise das regurgitações O material recolhido foi triado e analisado à lupa binocular (Leica Wild M3B) com uma ampliação de 64x. Alguns dos itens presentes nas amostras foram separados por observação directa, (ex: insectos) e, pelo uso de uma colecção de referência com material cru e cozinhado, oriundo dos diferentes tecidos animais, para o caso das carnes de galinha, porco e vaca. Os diversos tipos de alimento encontrados foram agrupados em categorias de acordo com o tipo de presa contido: derivados de galinha; derivados de porco; derivados de vaca; derivados de peixe; insectos; vegetação; material inorgânico e outros. Em todas as amostras determinou-se a origem do material (natural ou antropogénica). Para comparar amostras procedeu-se à análise qualitativa da dieta, que possibilitou descrever os itens alimentares ocorrentes nas amostras e as suas proporções relativas. Para esta análise foram calculados dois índices; frequência de ocorrência, que corresponde ao número de amostras em que dado item ocorreu e a percentagem volumétrica, calculada por uma estimativa do volume que cada item ocupava na amostra. Esta percentagem volumétrica foi possível estimar dado que se dividiu a caixa de petri em quatro partes iguais, representando cada uma delas 25%

2.5.3- Tratamento estatístico dos dados Os dados recolhidos foram digitados para uma folha de cálculo e posteriormente exportados para o SPSS 13.0 onde se realizou a análise estatística. Todas as estimativas apresentadas foram calculadas para uma significância de 5%, isto é com 95% de confiança. As variáveis em estudo foram alvo de dois tipos de tratamento, inicialmente procuramos descrever com recurso à média e desvio padrão ou utilizando tabelas de frequência. Numa segunda abordagem utilizamos técnicas de inferência que permitiram validar as hipóteses que foram surgindo ao longo do estudo. Na caracterização da população reprodutora utilizamos o teste do Qui-Quadrado para determinar se o número de ovos por ninho apresentava a mesma distribuição em 2001 e 2006. O teste de Mann-Whitney foi utilizado como um recurso ao teste t-Student uma vez que a nossa amostra era demasiado pequena para a aplicação de um teste paramétrico. Foi aplicado para determinar se as deslocações das gaivotas diferiam significativamente nos períodos da manhã e da tarde entre os dois anos que pretendíamos comparar para cada posto de observação. O mesmo foi feito considerando o total anual. Este teste também foi utilizado para comparar o número médio de gaivotas observadas mensalmente nos locais de alimentação e repouso entre 2002 e 2006.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

18


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Para avaliar se as rotas tomadas pelas gaivotas diferiram entre 2002 e 2006 nos locais de trânsito, utilizamos o teste do Qui-Quadrado. Na composição da dieta utilizamos o teste do Qui-Quadrado para estabelecer se ocorreram mudanças no comportamento alimentar observado em 2002 e 2006, considerando a categoria de cada alimento e a sua origem. Ainda calculamos o coeficiente de correlação de Spearman para estabelecer a associação entre as percentagens volumétricas e a frequência de ocorrência. Consideramos relevante estabelecer se ao longo do tempo de vida dos juvenis, a percentagem das categorias alimentares e da origem dos alimentos diferiam, utilizando para este efeito modelos de regressão linear simples (Zar 1999; Fowler & Cohen, 1990; Maroco 2003). Para a determinação da idade dos juvenis, e segundo Fagundes et al. (2002), utilizou-se a curva de crescimento (figura 5) obtida para as medidas da asa (Y) em função da idade (t) dos juvenis, sendo esta obtida através da regressão logística segundo Ricklefs (1968):

Y =_____b1_________ (1+b2 x e (-b3t) ) Assim sendo, é possível determinar a idade dos juvenis através da medição do C ur v a de c r e sc i me nt o da a sa

comprimento asa (cm)

tamanho da asa. 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 ,00 0

dias semana

10

1

2

20

30

3

4

Tamanhos de asa

40

5

6

50

7

Curva Logistica

Figura 5 – Curva de crescimento obtida, por regressão logística, das medições das asas dos juvenis das áreas de controlo (n = 93) (Fagundes et al. 2002).

Contudo a idade dos juvenis capturados apesar de determinada com recurso a este método, foi sempre confirmada com a curva de crescimento.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

19


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

3- RESULTADOS 3.1- População reprodutora e tamanho médio de posturas De acordo com o objectivo inicialmente proposto, em seguida são apresentados os dados comparativos, referentes ao ano de 2001/2002 segundo Fagundes et al. (2002) e os dados de 2006. A análise comparativa foi possível dado que a metodologia foi idêntica. Desta forma a tabela 2 mostra os dados referentes aos anos de 2001, 2002 e 2006, no que respeita ao total de ninhos observados e à densidade populacional da colónia em estudo. Tabela 2 – Estimativa do total de ninhos e densidade populacional da colónia do Ilhéu do Desembarcadouro, no ano de 2001, 2002 e 2006. Época de reprodução

2001*

2002 *

Total de ninhos

1440

1650

Densidade

0,0030 ninhos/m2

0,0035 ninhos/m

2006 1836 2

0,0039 ninhos/m

2

*Dados de Fagundes et al. (2002)

Podemos observar que o censo de 2006, traduziu-se numa estimativa populacional na ordem dos 1836 casais, representando um aumento na ordem dos 10%, relativamente à estimativa efectuada em 2002, o que, assumindo um crescimento homogéneo, nos dá uma taxa de 2% ao ano. Repare-se que entre 2001 e 2002 a população sofre um aumento de 13%, ou seja, mais elevado que o observado entre 2002 e 2006. De forma a perceber, se ocorreram mudanças no que diz respeito ao tamanho das posturas destas aves, foram agrupados os ninhos de acordo com o número de ovos que apresentavam, para o ano de 2001 e 2006 como mostra a figura 6.

% Ninhos

Ilhéu do Desembarcadouro 50 40 30 20 10 0

2001 2006

0

1

2

3

Nº Ovos

Figura 6 – Percentagem de ninhos observados e respectivo número de ovos, para o ano de 2001 e 2006 (para 2001, n =123 e para 2006, n = 145).

Podemos observar que em 2006 os ninhos com dois ovos são aqueles que surgem em maior número (31,7%), enquanto que para 2001 as posturas com três ovos são as mais

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

20


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

frequentes (39%). No que diz respeito às posturas com um ovo podemos ver que em 2006 estas também foram mais comuns do que em 2001 (22,1% e 11,4% respectivamente). Os dados referentes à tabela de contingência confirmam, que esta diminuição é significativa (X2= 9,90; g.l=3; p <0,019). Assim sendo, em 2006 assiste-se a uma redução do número de ninhos com três ovos, e a um aumento de ninhos com um e com dois ovos.

3.2- Actividade desenvolvida nos locais de trânsito Para melhor compreender as sequências das alterações em análise, nas deslocações efectuadas por estas aves, foram comparados os dados de 2006 com aqueles de 2002, no que se refere ao número de aves em trânsito entre a colónia e possíveis zonas de alimentação. Os dados aqui referenciados dizem respeito às médias anuais de gaivotas, observadas nos locais de trânsito, assim como as diferentes direcções observadas, nos postos P1 (cabeceira este da pista do aeroporto), P2 (cabeceira oeste da pista do aeroporto) e P7 (Pico do Facho). Aeroporto da Madeira e Pico do Facho A figura 7, mostra as médias anuais de gaivotas, resultantes das observações efectuadas, nos postos realizados na área do aeroporto e no Pico do Facho, nos períodos manhã e tarde. 2002

160 140 120 100 80 60 40 20 0

Média anual gaivotas

Média anual gaivotas

2006

8:009:00

9:0010:00

Manhã P1

160 140 120 100 80 60 40 20 0 8:009:00

Tarde P2

9:0010:00

Manhã

Tarde P1

P7

P2

P7

Figura 7 – Média anual de gaivotas observadas nos postos P1,P2 e P7, nos períodos da manhã das 8h às 10h e, de tarde nas últimas duas horas e meia antes do anoitecer.

Observa-se que o número médio de gaivotas em 2006 no posto P1, nas duas primeiras horas da manhã, sofre um ligeiro aumento relativamente a 2002. Contudo, e de acordo com o teste de Mann- Whitney encontram-se diferenças significativas no período da tarde, para a última meia hora antes do anoitecer (U= 147,0; p= 0,017). No posto P2 destaca-se uma ligeira redução dos valores médios anuais, em 2006 no período da manhã, inversamente ao que se verifica no período da tarde. Todavia e segundo o teste de MannN Nááddiiaa C Cooeellhhoo

21


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Whitney, foram encontradas diferenças altamente significativas, no número médio anual de gaivotas, apenas na primeira hora da manhã (U= 744,50; p= 0,000). No posto P7, é possível observar uma grande discrepância de valores entre 2006 e 2002, com um considerável aumento nas duas primeiras horas de observação da manhã, e uma progressiva redução nas últimas duas horas e meia antes do anoitecer. Estes dados são suportados pelo teste de Mann- Whitney, (consultar tabela 3), que confirma a significância nos dois períodos de observação (manhã/tarde). Tabela 3 – Teste Mann- Whitney, obtido na comparação do número médio de gaivotas, para o ano de 2006 e 2002 no posto P7, nos respectivos períodos de observação. Hora 8:00 – 9:00 9:00 – 10:00 1ºhora 2ºhora 3ºhora

U 429,50 388,00 676,00 442,00 62,00

p 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00

De uma forma geral não existem diferenças significativas em cada posto anualmente, (U= 54,00; p= 0,540), (U= 62,00; p= 0,903) e (U= 38,00; p= 0,111), para P1, P2 e P7 respectivamente. Direcção de voo Para melhor compreender as consequências das alterações em análise nas deslocações efectuadas por estas aves, foram comparados os dados de 2006 com aqueles de 2002, no que se refere às direcções de voo quando em trânsito entre a colónia e possíveis zonas de alimentação. Note-se que a trajectória Este, indica o sentido da colónia (Caniçal) e a direcção Oeste, o sentido inverso (Santa Cruz). A figura 8, mostra o número médio anual de gaivotas observadas em voo nas diferentes direcções nos postos P1 e P2, para os períodos da manhã e tarde. No sentido de dar uma maior perceptibilidade aos gráficos das direcções, optou-se por separá-los e apresentá-los com escalas diferentes. 2002 Média de gaivotas

Média de gaivotas

2006 500 400 300 200 100 0

500 400 300 200 100 0 manhã

manhã

tarde

manhã

P1

tarde

tarde

manhã

P1

tarde P2

P2

Norte

Este

Sul

Norte

Oeste

Este

Sul

Oeste

Figura 8 – Número médio de gaivotas observadas em cada direcção de voo, nos postos P1 e P2 de manhã e de tarde e respectivo desvio padrão para 2006 e 2002. N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

22


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

De uma forma geral, e atendendo aos gráficos em questão, o que se verifica em 2006, quer para o posto P1 quer para o posto P2, é a existência de um menor número de aves em trânsito, de/ e para a colónia. Analisando pormenorizadamente a figura 8, no posto P1 as diferenças incidem essencialmente na direcção Este, verificando-se um aumento no período da manhã e uma redução no período da tarde para o ano de 2006 comparativamente a 2002. No posto P2, observa-se um ligeiro aumento no número médio de gaivotas que utilizam a direcção Este no período da manhã, contrariamente ao que se verifica com a direcção Oeste. No período da tarde é notória a redução no número médio de gaivotas observadas em qualquer uma das direcções utilizadas por estas aves. A análise estatística comparativa entre os dados obtidos em 2006 e 2002, foi feita através de uma tabela de contingência. Através desta análise, verificou-se que as direcções utilizadas por estas aves em 2006, apresentam diferenças altamente significativas relativamente a 2002, quer para o posto P1 (X2=981,93; gl=3; p< 0,01), apresentando valores significativos para todas as direcções, quer para o posto P2 (X2=202,73; gl=3; p< 0,01), tendo menos relevância na direcção sul. O posto de observação do Pico do Facho permite obter dados sobre as horas a que as gaivotas saem e chegam à colónia em estudo. Sendo assim a figura 9 mostra, as médias anuais de gaivotas observadas nos períodos da manhã e da tarde para o ano de 2006 e 2002. Pico do Facho 2006

Pico do Facho 2002

3000 3000

Norte

1729,75

2500

Media de gaivotas

2500

Este

2000 2000

Sul 1500 1500

Oeste 1000

1000 191,5

500

500 50,3

21,6 1,8 62,4

2,9

4,3 23,6

0

5,9

0,0

0,0 12,4

0,0

37,5 0,0

0 manhã

tarde

manhã

tarde

Figura 9 – Número médio de gaivotas observadas em cada direcção de voo, no posto P7, de manhã e de tarde e respectivo desvio padrão para 2006 e 2002. Os valores assinalados dizem respeito às rotas com as respectivas cores.

Observa-se uma grande disparidade no número médio de gaivotas observadas nas várias direcções de voo utilizadas. É de salientar a grande redução, no período da tarde para a direcção Este em 2006. Através de uma tabela de contingência determinou-se a N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

23


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

significância das direcções utilizadas por estas aves. Verificou-se que as direcções utilizadas pelas aves em 2006 neste posto, apresentam diferenças altamente significativas relativamente a 2002 (X2=5020,87; gl=3; p< 0,01). 3.3- Actividade nos locais de alimentação e repouso De forma a perceber se existiram alterações nas actividades desenvolvidas por estas aves nos locais de alimentação e repouso, e dado que a metodologia adoptada em 2006 foi idêntica à de 2002, procedeu-se a uma análise comparativa dos dados. A figura 10 (A, B, C e D), mostra os dados relativos às médias de gaivotas, observadas nos locais de alimentação e repouso nos diferentes meses de observação, em 2006 e 2002. B) P4- Lagoa do Santo da Serra

2006 2002

900

900

800

800

700

700

Meses

C) P5 - Cais de Machico

lh o Ju

nh o Ju

ai o M

il Ab r

D) P6 - Porto do Funchal

800

300

Meses

lh o Ju

Ju nh o

ai o M

o br ez em D

Ju lh o

nh o Ju

ai o M

ril Ab

ar M

ro

er Fe v

ne i

o br

Ja

ez em

ço

0

ei ro

100

0

ril

200

100

Ab

*

ço

*

ar

*

M

*

200

*

400

ei ro

300

*

500

er

400

*

Fe v

500

*

600

ro

600

Média de gaivotas

700

700

Ja ne i

800

Média de gaivotas

Meses

900

900

D

ar ço

o D ez

em br

Ju lh o

Ju nh o

ai o M

Ab ril

M

Ja ne i

ar ço

0 ro Fe ve re ir o

100

0

br o

100

De ze m

*

200

M

200

300

iro

300

400

re

400

500

ne i ro

500

600

Fe ve

*

Ja

600

Média de gaivotas

Media gaivotas

A) P3 - ETRMSerra

Meses

Figura 10 (A, B, C e D) – Número médio de gaivotas e respectivo desvio padrão, em cada mês de observação desde Dezembro de 2005 a Julho de 2006. A) P3-ETRMS, B) P4- Lagoa do Santo da Serra, C) P5 – Cais de Machico, D) P6- Porto do Funchal. Os meses assinalados com * representam meses com diferenças significativas para o ano de 2006 comparativamente a 2002.

De uma forma global, observa-se um decréscimo no número médio de gaivotas em todos os postos no ano de 2006 relativamente a 2002, à excepção do posto P6 (Porto do Funchal), no qual se verifica um acréscimo no número médio destas aves. Analisando pormenorizadamente os gráficos, no posto P3 (ETRSMS) verifica-se, que ao longo dos meses de observação os valores médios de gaivotas registados em 2006 N 24 Nááddiiaa C Cooeellhhoo


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

foram ligeiramente superiores apenas nos meses de Fevereiro e Maio comparativamente aos valores médios registados em 2002. No posto P4 (Lagoa do Santo da Serra) observa-se que os números médios destas aves são sempre menores em 2006 à excepção do mês de Dezembro. Os dados referentes ao posto P5 (Cais de Machico) mostram um aumento em 2006 para os meses de Dezembro, Janeiro e Março, sendo o seu valor médio sempre inferior a 2002 nos restantes meses. Contrariamente ao verificado nos postos anteriores, o posto P6 (Porto do Funchal) é o que reflecte um maior aumento em 2006. Note-se que o aumento dos valores médios destas aves é verificado em todos os meses de registo à excepção do mês de Julho que apresenta uma ligeira redução dos seus valores médios. Para uma melhor compreensão dos valores obtidos, resultantes do teste Mann Whitney, aplicado ao número médio de aves em cada mês nos anos correspondentes, construiu-se a tabela 4, que mostra o valor do teste para os meses com diferenças significativas entre 2006 e 2002, para os respectivos postos. Tabela 4 – Teste Mann- Whitney, obtido na comparação do número médio de gaivotas, nos respectivos meses para o ano de 2006 e 2002, em cada posto. Posto P3 P4 P5 P6

Mês Dezembro U p U p U p U p

5,00 0,04

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

-

-

1,00 0,01 4,00 0,03

4,00 0,03 4,50 0,03 0,00 0,00

5,00 0,04 -

5,50 0,05 4,00 0,03

3,00 0,03 -

Nota: U= estatística de teste e p = valor de prova

3.4- Dieta dos juvenis de gaivota De forma a compreender se a entrada em funcionamento da ERTSMS teve alguma influência na dieta dos juvenis da colónia em estudo, efectuou-se recolhas de amostras a juvenis em várias fases de crescimento. O ciclo reprodutor desta ave iniciou-se em Março, com a construção dos ninhos e as respectivas posturas. A eclosão dos juvenis processou-se de uma forma assíncrona, iniciando-se em meados do mês de Abril. Uma vez que o seu desenvolvimento efectuou-se de forma desfasada, tornou-se fundamental acompanhar esta época, no sentido de obter amostras de juvenis em diferentes estados de desenvolvimento. A tabela 5 mostra o número de amostras recolhidas, desde o dia 11 de Maio até o dia 21 de Junho. As 103 amostras recolhidas foram divididas por quatro grupos etários: (até às duas semanas, 3 semanas, 4 semanas e 5 semanas). Pelo facto do número de amostras N 25 Nááddiiaa C Cooeellhhoo


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

recolhidas em juvenis com uma semana ser baixo, este foi agrupado com as amostras recolhidas em juvenis com duas semanas, passando – se a considerar apenas um grupo etário denominado até às duas semanas. Tabela 5 – Número de amostras recolhidas no Ilhéu do Desembarcadouro, por grupo etário, durante as várias semanas de estudo e total de amostras recolhidas por idade. Idade ( em Semanas) ≤2

3

4

5

11 a 17 do 05

4

4

4

-

18 a 24 do 05

3

3

11

3

25 a 31 do 05

-

-

4

-

1 a 7 do 05

-

1

12

9

8 a 14 do 06

-

-

9

10

15 a 21 do 06

-

-

11

15

Total

7

8

51

37

Semana (Mês)

Nota: Sobre a determinação da idade dos juvenis, consultar Fagundes et al. (2002)

O número máximo de amostras recolhidas diz respeito a indivíduos com quatro semanas de vida (51 amostras), seguindo-se indivíduos com 5 semanas (37 amostras). Inversamente verifica-se um mínimo de amostras recolhidas até às duas semanas (7 amostras), enquanto que na terceira semana foi possível obter um número total de 8 amostras. As recolhas de amostras nas semanas posteriores não foram possíveis de ser efectuadas devido ao facto dos juvenis já terem adquirido capacidade de voo, o que impõe dificuldades acrescidas na sua captura. Composição geral da dieta Para melhor compreender, que tipo de alimento era fornecido aos juvenis, procedeuse à análise quantitativa e qualitativa da dieta, o que nos possibilitou a descrição dos itens alimentares presentes nas amostras e as suas proporções relativas. A tabela 6 mostra a frequência de ocorrência e a percentagem volumétrica de todos os itens encontrados nas regurgitações.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

26


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa Tabela 6 – Frequência de ocorrência e percentagem volumétrica de todos os itens encontrados nas regurgitações. Categorias alimentares Derivados de galinha Derivados de porco Derivados de Vaca Derivados de peixe Insectos

Itens

Freq. Ocorrência

% Volumétrica

Penas

12

0,13

Visceras

1

0,05

Visceras

11

0,39

Gorduras

1

0,05

Peixe

96

0,93

Adultos M. domestica

1

0,01

Larvas E.tenax

1

0,28

Ordem Coleoptera

12

0,17

Ordem Hemiptera

1

0,03

Vegetação Material inorgânico Outros

Ordem Heteroptera

1

0,05

Ordem Hymenoptera

1

0,04

Vegetação

68

0,03

Silicone

1

0,01

Fios de pesca

2

0,02

Caracol

3

0,38

Parasita de peixe

1

0,01

Pêlos

25

0,02

Gordura de aves

1

0,95

Pedras

3

0,02

Percebes Lepas anatifera

3

0,38

Classe Diplopoda

1

0,05

Para determinar as diferenças das percentagens volumétricas das categorias alimentares comparou-se os dados de 2001 com os dados recolhidos em 2006. A figura 11 mostra as percentagens volumétricas médias das categorias alimentares observadas nas regurgitações recolhidas para o ano de 2006 e 2001. 2006

2002

86,33%

29% 19%

5%

2,43% 4,22%

1,97% 0,03%

0,05% 2,48%

1%

2%

2% 17%

2,49%

derivados galinha derivados porco derivados vaca derivados peixe insectos vegetação inorgânicos outros

25%

Figura 11 – Percentagens volumétricas médias das categorias alimentares observadas nas regurgitações (para 2006, n = 103 e para 2001, n= 149).

Podemos observar que existem valores díspares nas percentagens volumétricas das várias categorias. A categoria derivados de peixe destaca-se pela sua elevada N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

27


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

percentagem, apresentando um valor de 86,33%,em 2006 contra 19% em 2002. Porém verifica-se menor expressividade nas categorias derivados de vaca e vegetação. Tal como (Fagundes et al. 2002), a importância de cada categoria alimentar segundo as frequências de ocorrência é também suportada pelas percentagens volumétricas, uma vez que foi encontrada uma correlação entres estes dois parâmetros (r s = 0,714; p> 0,05, n=7). No entanto, esta correlação só é observada quando a vegetação não é considerada. Este facto tem sentido biológico uma vez que verificou-se que esta categoria é um “outlier”, apresentando elevada frequência de ocorrência mas baixa percentagem volumétrica, o que denuncia que a sua captura é muito provavelmente acidental. A composição geral da dieta em 2006 comparativamente a 2002, apresentou diferenças altamente significativas nas frequências de ocorrência de cada categoria alimentar, (X2=139,42; gl=7; p<0,01). Note-se que as categorias em 2006 são as mesmas, embora se distribuam em termos percentuais de forma significativamente diferente. Sempre que possível, e quando em boas condições, os itens alimentares foram identificados ao nível da ordem, família, género ou espécie (ver tabela 6). Das espécies de peixe encontradas e em boas condições, salientam-se o chicharro Trachurus picturatus, a cavala Scomber scombrus a salema Sarpa salpa e uma espécie da família Anguilliformes, muito provavelmente um congro, Conger conger. Na categoria derivados de carne foram encontrados essencialmente vísceras e gorduras, nos derivados de galinha salientam-se as penas. No que diz respeito aos insectos, a ordem maioritariamente presente é a ordem coleoptera, seguida da ordem hemiptera, heteroptera e hymenoptera. Dentro desta categoria foram ainda incluídas a mosca doméstica Musca domestica pertencente a ordem dìptera, assim como a larva do díptero Eristalis tenax. A categoria “outros”, é a mais vasta e a mais diversa, nela incluem-se os caracóis Theba pisana e a Actinella nitidiuscula nitidiuscula, sendo de salientar que ambas as espécies podem ser encontradas nos ilhéus da Ponta de São Lourenço. Foi ainda observado um parasita de um peixe, suspeitando-se ser Rhadinorhynchus japonicus, da família Rhadinorhynchidae. Algumas amostras continham pêlos, os quais não foi possível determinar a sua origem, assim como algumas pedras de tamanho muito reduzido e em baixas percentagens. Ainda do filo Arthropoda foram encontrados organismos pertencentes a duas classes distintas, a classe Crustacea, onde se encontra a espécie Lepas anatifera e a classe Diplopoda. O material vegetal analisado, era essencialmente pertencente à flora local, pequenos caules e folhas de Suaeda vera, Mesembryanthemum crystallinum L. Trifolium scabrum L. e relva, provavelmente proveniente do campo de golfe (obs. pess.). Nos derivados de porco observou-se vísceras mas em muito pouca quantidade. Também em baixas percentagens registou-se a categoria inorgânicos onde se salientam fragmentos de linha de pesca, assim como fragmentos de silicone. N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

28


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Variação da dieta durante a fase de crescimento dos juvenis De forma a avaliar as diferenças na variação do alimento fornecido aos juvenis nas várias fases de crescimento, sempre que possível agrupou-se os dados e fez-se a análise comparativa dos dados referentes a 2002 e 2006. Agrupando os dados resultantes das análises às amostras, a tabela 7 mostra, o número total de amostras por categoria durante as várias semanas de crescimento. Tabela 7 – Número de amostras recolhidas, por categoria, durante as várias semanas de crescimento. Categorias Alimentares Der. de peixe

Der. de vaca

Der. de galinha

Der. de porco

Insectos

Vegetação

Inorgânico

Outros

≤2

7

-

-

-

2

4

-

-

3

8

-

3

-

2

6

1

3

4

49

5

4

-

8

29

-

18

5

32

6

6

1

3

29

1

12

Total

96

11

13

1

15

68

2

33

Semanas

A tabela 8 mostra o valor médio de percentagem volumétrica, de cada categoria alimentar nos diferentes grupos etários, para os anos de 2006 e 2002. Tabela 8 – Valor médio de percentagem volumétrica, de cada categoria alimentar nos diferentes grupos etários, para os anos de 2006 e 2002. Entre parêntesis é apresentado o desvio padrão. Semanas ≤2

Categorias alimentares

Der. de galinha

Der. de porco

Der. de vaca Der. de peixe Insectos Vegetação

Material inorgânico

Outros

3

4

5

2002 *

2006

2002*

2006

2002*

2006

2002*

2006

13,40

0,00

15,00

1,63

39,50

0,14

41,00

6,35

(36,35)

-

(0,60)

(0,02)

(41,30)

(0,05)

(43,60)

(0,6)

13,35

0,00

19,60

0,00

29,20

0,00

18,40

0,64 **

(31,45)

-

(32,40)

-

(29,20)

-

(24,40)

(-)

11,38

1,30

0,00

1,00

0,00

6,00

0,27

6,30

(0,70)

-

(0,00)

-

(49,50)

(0,00)

(40,10)

(0,48)

22,40

85,14

20,10

93,38

14,50

92,49

18,80

76,54

(36,85)

(0,36)

(39,30)

(0,07)

(36,90)

(0,05)

(17,30)

(0,17)

40,20

13,00

38,10

0,38

5,20

2,74

5,30

0,43

(37,50)

(0,63)

(30,80)

(0,01)

(34,00)

(0,33)

(38,50)

(0,09)

6,60

1,86

3,50

3,13

1,50

1,67

4,60

2,16

(17,30)

(0,03)

(4,20)

(0,03

(2,10)

(0,01)

(10,1)

(0,02)

0,60

0,00

1,10

0,25 **

3,90

0,0

1,80

0,03 **

(5,2)

-

(3,10)

(-)

(14,40)

-

(3,70)

(-)

2,3

0,00

2,10

1,25

0,30

2,69

3,70

2,97

(25,8)

-

(15,30)

(0,04)

(1,00)

(0,23)

(16,80)

(0,31)

* Dados segundo Fagundes et al. (2002). O dado assinalado com ** diz respeito apenas a um valor

percentual, razão pela qual não é possível o cálculo do desvio padrão. N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

29


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

A análise da tabela 8

mostra que para 2006 a categoria com maior

representatividade, ao longo de todas as idades consideradas, são os derivados de peixe, item que em 2002 mantêm valores sempre mais discretos. Neste ano verifica-se uma alternância de importância entre as categorias insectos (maior representatividade até à terceira semana) e derivados de galinha (a partir da terceira semana). Para 2006, os derivados de galinha surgem a partir da terceira semana de vida, seguindo-se os derivados de vaca que surgem com maior expressão a partir da quarta semana e os derivados de porco a figurarem na quinta semana. A categoria inorgânicos e “outros” surgem a partir da terceira semana, atingindo esta última categoria o seu máximo na quarta semana. Segundo estas frequências de ocorrência, a composição da dieta dos juvenis em 2006 não mostra uma variação significativa em relação à idade (X2=20,67; gl=21; p> 0,05). Isto contraria o encontrado por Fagundes et al. (2002) que mostraram que havia uma relação significativa entre a idade dos juvenis e a composição do alimento dado pelos progenitores. Estes autores mostraram que as variações encontradas entre as categorias insectos e derivados de galinha, atrás descritas, eram significativas. A figura 12 mostra a variação em termos de percentagem volumétrica, que as categorias com maior representatividade tiveram ao longo do crescimento dos juvenis em 2002 e 2006.

% Volumétrica

Variação entre idades 2006

Variação entre idades 2002 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Até às 2 semanas

3 semanas

4 semanas

5 semanas

Até às 2 semanas

3 semanas

Idade Derivados de galinha

Derivados de peixe

4 semanas

5 semanas

Idade Insectos

Derivados de galinha

Derivados de peixe

Insectos

Figura 12 – Variação temporal do valor médio das percentagens volumétricas das várias categorias encontradas nas regurgitações dos juvenis em 2006 e 2002.

Os dados das percentagens volumétricas apresentados na figura 12, confirmam que em 2006 a dieta sofreu variações muito menos marcadas, ao longo do crescimento dos juvenis, do que em 2002. Verifica-se contudo uma ténue tendência para um padrão semelhante; estando os derivados de peixe presentes ao longo de todo o crescimento e os insectos a perderem importância para os derivados de galinha. A tabela 9 mostra os valores das regressões lineares efectuadas no sentido de se perceber, como cada categoria alimentar variava (em termos de percentagem volumétrica) N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

30


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

com a idade dos juvenis. Ao contrário de Fagundes et al. (2002), verificou-se que não existe qualquer relação significativa entre os parâmetros em análise. Tabela 9 – Regressão linear aplicada à variação das categorias alimentares ao longo do crescimento dos juvenis. Categorias alimentares Derivados de peixe Vegetação Outros

R2

n 96 68 33

0,003 0,014 0,000

F 0,305 0,924 0,007

Sig 0,582 0,340 0,936

Nota: A regressão linear só foi aplicada às categorias com n> 30.

Selectividade A figura 13, mostra a selectividade medida através das categorias de alimento encontradas por amostra ao longo do período de crescimento dos juvenis 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

Categoria por amostra 2002 % Amostras

% Amostras

Categoria por amostra 2006

Até às 2 3 semanas 4semanas 5semanas semanas

70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

1 2 3 4 5 Até às 2 3semanas 4semanas 5semanas semanas

Idade

6

Idade

Figura 13 – Percentagem de amostras observadas nas diferentes idades, considerando o número de categorias encontradas para 2006 e 2002.

As amostras analisadas continham na sua grande maioria duas ou três categorias de alimento, no entanto, foram encontradas amostras com cinco categorias. Para a análise da selectividade os derivados de galinha, de porco e de vaca foram reunidos e considerados como uma única categoria. É visível nos gráficos da figura 13, que tanto em 2006 como em 2002, os indivíduos até às duas semanas têm uma alimentação mais selectiva. É durante este período que surge a maior percentagem de amostras com apenas uma categoria alimentar, na ordem dos 40% para os dois anos em análise. Em juvenis com três semanas surgem para 2006, amostras com quatro categorias, cerca de 50%, enquanto que em 2002 a maior percentagem recai sobre as amostras com duas categorias. Nas amostras dos juvenis com quatro e cinco semanas, destaca-se uma menor selectividade em 2006 comparativamente a 2002, apresentando contudo valores que rondam os 40% nas amostras com duas categorias. De todas as amostras que tinham apenas uma categoria, nos indivíduos com cinco semanas 85,7% continham peixe e 14,3% eram compostas por carnes. Nos restantes grupos etários as amostras com apenas uma categoria continham 100% peixe. N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

31


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

3.4.1- Variação de alimento natural e alimento antropogénico ao longo das idades De forma a ter uma melhor percepção do papel das fontes alimentares de carácter antropogénico, determinou-se a origem do material presente nas amostras recolhidas aos juvenis e comparou-se os dados de 2006 com os dados obtidos em 2002. Em todas as amostras analisadas, os diversos itens alimentares foram agrupados com base na sua origem, natural ou antropogénica. Todos os itens das categorias derivados de galinha, de porco, de vaca e material inorgânico foram considerados alimentos de origem humana. Dentro deste grupo foram ainda incluídos, os diversos tipos de pêlos e, os vários exemplares de dipteros, Eristalis tenax e Musca domestica. Os restantes itens alimentares foram assim incluídos no parâmetro de origem natural. A tabela 10, mostra o número de vezes em que cada um destes dois parâmetros ocorreu.

Tabela 10 – Frequência de ocorrência dos itens de origem natural e humana para a colónia em estudo. Ano Origem

2006

2002 *

Natural

188

45

Antropogénico

54

117

*Dados de Fagundes et al.(2002)

O parâmetro de origem natural ocorre nas amostras de 2006 com maior representatividade, frequência de ocorrência de 188, relativamente ao parâmetro de origem antropogénica, cuja frequência de ocorrência foi de 54. Esta tabela mostra claramente a discrepância de valores registados em 2006, comparativamente ao ano de 2002: os alimentos de origem natural têm uma representatividade muito maior em 2006 enquanto que para 2002 verifica-se o inverso. A figura 14 mostra a variação do valor médio de percentagem volumétrica, de alimento natural e alimento antropogénico presente na dieta por grupo etário e respectivo número de amostras analisadas. Alimento Natural vs alimento Antropogénico 2006

Percentagem volumétrica

140% 120% 100% 80% 60%

N= 7

51

8

37

40% 20% 0% Até às 2 semanas

3 semanas

4semanas

Alimento Natural vs Alimento Antropogénico 2002 140% 120% 100% 80% 60% 40% 20% 0%

N= 74

Até às 2 semanas

5 semanas

20

3 semanas

4 semanas

18

5 semanas

Idade

Idade Natural

22

Natural

Antropogénico

Antropogénico

Figura 14 – Variação do valor médio de percentagem volumétrica, de alimento natural e alimento antropogénico presente na dieta por grupo etário e respectivo número de amostras analisadas. N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

32


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Os gráficos mostram claramente as diferenças existentes entre 2002 e 2006. Em 2006 o alimento de origem natural está sempre mais bem representado ao longo do crescimento dos juvenis, enquanto que, com uma ligeira excepção para as duas primeiras semanas, o alimento de origem antropogénico em 2002 assume sempre maior representatividade. Para 2006 não foram encontradas variações significativas na proporção entre alimentos de origem natural e alimento de origem antropogénica na dieta dos juvenis (X2= 3,54; gl=3; p> 0,05). Enquanto que em 2002 esta variação mostrou ser significativa. A regressão linear aplicada à variação dos tipos de alimento ao longo das idades, mostra que não existe uma diminuição significativa dos alimentos naturais (R2 = 0,084, n=42, F=3,649, p> 0,05) em 2006. Todavia, a variação da percentagem volumétrica de alimento natural é explicado pelo modelo estatístico, por outro lado a variação da percentagem volumétrica de alimento antropogénico é excluído do modelo. À medida que a idade aumenta, existe uma redução da percentagem volumétrica de alimento de origem natural enquanto que a percentagem volumétrica de alimento de origem antropogénica apenas ocorre nas últimas semanas de vida, pelo que não tem relevância no modelo estatístico (ver anexo 1). Porém em 2002 verificou-se o inverso, ou seja a variação dos tipos de alimento ao longo das idades mostrou que a diminuição dos alimentos naturais era significativa. A figura 15 mostra uma comparação entre o ano de 2006 e 2002, no que diz respeito frequência de ocorrência dos dois tipos de alimento considerados (natural/ antropogénico) 2006

2002

natural humano

28% 78%

22% 72%

Figura 15 – Frequências de ocorrência, em percentagem, de alimento de origem natural/humano encontrado nos juvenis da colónia do Ilhéu do Desembarcadouro em 2006 e em 2002.

É notória a elevada percentagem do parâmetro natural relativamente ao parâmetro antropogénico. Observa-se um claro aumento do parâmetro natural (78%), e uma consequente redução do parâmetro humano para o ano de 2006 (22%), inversamente ao que se verifica para o ano de 2002, uma vez que as percentagens são de 28% e 72% respectivamente.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

33


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

4- DISCUSSÃO 4.1- População reprodutora e tamanho médio de posturas A primeira conclusão que podemos tirar deste trabalho é que a população reprodutora de gaivota do ilhéu do desembarcadouro continua a crescer. Contudo, a taxa de crescimento anual média entre 2002 e 2006 foi bastante inferior à verificada entre 2001 e 2002. A diminuição dos efectivos populacionais de várias espécies de gaivotas, como consequência do encerramento ou melhoramento das lixeiras a céu aberto está vastamente descrito na bibliografia (e.g. Horton et al, 1983; Furness & Monaghan 1987; Buckley 1990; Smith & Carlile 1993; Sol et al. 1995). No contexto deste trabalho, apesar da população ainda se encontrar em crescimento, o abrandamento verificado poderá estar relacionado com a reestruturação ocorrida em 2002 na ETRSMS. De acordo com Cuisin (1971) o crescimento deste tipo de populações surge quando a taxa de reprodução, em conjunto com a taxa de recrutamento são superiores à taxa de mortalidade. Tendo em conta que um dos parâmetros mais afectados pela menor disponibilidade de alimento é o sucesso reprodutor (Finney 1989), e uma vez que esta espécie só se reproduz a partir do 4º ano de vida e que a ETRSMS só foi remodelada à 5 anos, somos levados a supor que ainda existe recrutamento na população reprodutora de indivíduos que nasceram ainda na época da antiga ETRSMS. Neste contexto, e assumindo que existe uma menor disponibilidade de alimento no global da Ilha da Madeira, será de esperar que a médio e longo prazo a população estabilize ou mesmo comece a diminuir. Esta ideia é corroborada pela diminuição do tamanho médio de postura verificado. Em 2006 existiu uma redução do número de ninhos com três ovos, e um aumento de ninhos com um e com dois ovos. Perrins (1996), afirma que a disponibilidade de alimento é um dos factores principais que influenciam os padrões de reprodução. Por sua vez Krebs (1994) adianta que, ter um ovo a mais na postura, indicaria, ter um custo energético adicional, significaria também que os adultos teriam que trabalhar mais para alimentar os seus juvenis, havendo por sua vez um potencial custo à própria sobrevivência do adulto. Sugere-se, que esta redução no tamanho da postura poderá estar associada à disponibilidade de alimento na época de reprodução, assim sendo, a maior dificuldade na obtenção de alimento para as suas crias, levaria a que eventualmente colocassem menos ovos. Pons (1992) afirma que as gaivotas reprodutoras procuram alimentar-se em locais com elevada disponibilidade de alimento, em especial ricos em gordura, por forma a acumular reservas energéticas. Assim sendo atesta que, uma má situação alimentar para as fêmeas, poderá ser a causa do declínio das suas condições físicas resultando num decréscimo das suas capacidades reprodutivas. Este pode também ser um factor associado à redução no tamanho da postura. N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

34


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Por sua vez Fagundes et al. (2002) observou que a época em que se verificavam maiores concentrações de gaivotas na ETRSMS correspondia à altura de construção dos ninhos e posturas de ovos. O que poderá indiciar a utilização de alimento com determinados requisitos

nutricionais

essenciais

à

produção

de

ovos.

É

curioso

notar

que

independentemente da menor disponibilidade de alimento em 2006 o número de gaivotas utilizando este espaço era bastante semelhante. Refira-se que as principais colónias de gaivotas da Madeira eram controladas desde 1992 (Barbosa 1992; Oliveira 1999; Fagundes et al. 2002; Oliveira & Menezes 2004), pelo que, os impactos no crescimento populacional agora verificados, são um forte indicador da importância das alterações ocorridas. Contudo este assunto será discutido posteriormente no âmbito da abordagem à dieta. 4.2- Fontes de trânsito e alimentação Os dados obtidos nos postos de observação baseiam-se numa amostragem pequena que facilmente pode ser influenciada por factores não controláveis ou mesmo detectáveis. Por exemplo Fagundes et al. (2002) refere-se à influência, que a presença de barcos de pesca pode ter no número de aves observadas e nas rotas utilizadas. Este pode ser um dos factores que condicionam e dificultam uma clara interpretação dos dados. Contudo, e de uma forma geral, podemos retirar a conclusão de que em média em 2006 foram avistadas menos aves do que em 2002, quer em trânsito quer nas zonas de alimentação. Este facto evidencia uma diferente distribuição das aves entre 2002 e 2006, que muito provavelmente se prende com as alterações verificadas ao nível da procura e utilização dos recursos tróficos. Uma vez que a utilização de lixeiras como zonas de alimentação pelas gaivotas é vastamente referida na bibliografia (e.g. Horton et al. 1983; Furness & Monaghan 1987; Smith & Carlile 1993; Nogales et al. 1995; Sol et al. 1995; Duhem et al. 2003; Duhem et al. 2005)), incluindo o caso da Ilha da Madeira (Barbosa 1992; Fagundes et al. 2002; Oliveira & Menezes 2004), somos levados a concluir que as alterações operadas na ETRSMS em 2002, e que conduziram a uma diminuição do alimento disponível, estão na base das diferenças encontradas. Esta ideia é corroborada pelas diferenças encontradas nas rotas utilizadas nos dois anos em análise. No ano de 2006 os resultados mostram um aumento no número de aves, que utilizaram a direcção Este (Caniçal), no período da manhã e uma redução nesta rota no período da tarde na cabeceira Este da pista e na cabeceira Oeste da pista. Isto mostra, que estas aves optaram por um deslocamento diário diferente ao verificado em 2002, ou seja, é possível que estas aves estejam a utilizar outras rotas ou até mesmo a explorar novas fontes de alimentação e repouso, não sendo possível a sua visualização nos postos em questão.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

35


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Estes dados entram ainda em concordância, com os baixos valores obtidos para os postos da ETRSMS, da Lagoa do Santo da Serra e do Cais de Machico. Segundo esta avaliação, o decréscimo no número médio destas aves para estes postos, reflecte a reduzida afluência destas aves a estes locais, quer como local de repouso quer como local de alimentação. Por outro lado, o Porto do Funchal, é o que frui de um elevado aumento no número médio de gaivotas. Isto fica a dever-se ao facto das boas condições que este local oferecia já em 2002 (Fagundes et al. 2002) ter sido potenciado pela transferência dos contentores do Porto do Funchal para o Porto do Caniçal. Esta mudança aumentou grandemente a área de repouso disponível. Importante referir, que estas áreas são essencialmente ocupadas por juvenis e por adultos pré-reprodutores. 4.3- Dieta no Ilhéu do Desembarcadouro Composição geral da dieta dos juvenis A primeira conclusão que se pode tirar deste estudo é que a composição da dieta dos juvenis em 2006 foi significativamente diferente da composição da dieta dos juvenis em 2002. No estudo agora efectuado o peixe é o alimento preponderante (86%) enquanto que em 2002 os insectos e os derivados de galinha eram as principais fontes de alimento (54%). Poderão ser propostas duas situações, para explicar esta diferença: uma relacionada com a reestruturação ETRSMS e outra com o aumento da actividade pesqueira, não descurando a hipótese de estarem a ocorrer em simultâneo. A primeira hipótese prende-se ao tema fulcral deste estudo, ou seja com as alterações operadas na ETRSMS, que reduziu consideravelmente a disponibilidade de alimento das gaivotas na lixeira, podendo estar a contribuir para um aumento na exploração alternativa do habitat marinho, com ou sem interferência humana. A proveniência do peixe encontrado nas regurgitações é, nalguns casos difícil de determinar. Contudo, o facto de grande parte dos exemplares encontrados serem de pequenas dimensões (fundamentalmente cavalas e chicharros), à excepção de um exemplar pertencente à ordem dos Anguilliformes, aponta para que estes tenham sido obtidos em associação directa com a actividade pesqueira. Situação idêntica à que se verificou em 2002. Não obstante este facto, existem indicações que a ETRSMS, assim como aviários e suiniculturas poderão continuar a ser usados, ainda que de uma forma menos representativa, como fonte de alimentos para os juvenis, facto este que nos é dado pela presença de derivados de vaca, de galinha e de porco na sua dieta. A menor utilização destas áreas fica também bem patente na diferença existente no uso de larvas de Eristalis tenax entre 2002 (7,7%) e 2006 (0,3%). De acordo com Fagundes et al. (2002) o facto dos adultos desta espécie utilizarem águas fortemente poluídas para N 36 Nááddiiaa C Cooeellhhoo


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

colocar os seus ovos (Aguilera et al. 1999), indicia claramente a utilização deste tipo de habitat (esgotos urbanos, poças de água em lixeiras, chiqueiros). Estes autores inclusive sugerem que o uso destes locais era feito especificamente para obtenção deste alimento. Os crustáceos, Lepas anatifera, encontrados nas amostras analisadas em 2006, não fizeram parte da dieta dos juvenis em 2002. Isto vem, segundo Furness & Hislop (1981) a reforçar a ideia que estas aves obtêm grande parte do seu alimento no mar. Contudo estes alimentos são considerados de baixa qualidade alimentar, sugerindo que apenas foi consumido quando outras fontes de alimento não se encontravam disponíveis, ou porque eventualmente fornecem certo tipo de nutrientes. A segunda hipótese que poderá explicar a diferença na dieta entre 2002 e 2006, nomeadamente o aumento da presença de peixe, relaciona-se com o facto do pescado descarregado nas lotas da R.A.M. ter aumentado expressivamente em 2006 (dados fornecidos pela Direcção Regional de Pescas da R.A.M, ver anexo 3). Este facto por si só indicia uma maior actividade pesqueira e um consequente aumento da quantidade de alimento disponível no meio marinho, essencialmente pelos excedentes de pesca, que são facilmente capturados por estas aves e desempenham um papel importante na sua sobrevivência (Furness et al. 1992). Obviamente que estas hipóteses não são mutuamente exclusivas existindo uma possível relação entre elas. Neste cenário a troca entre a ETRSMS e o meio marinho poderá ficar a se dever aos dois factores, diminuição de alimento na ETRSMS e aumento de alimento no meio marinho, estarem a actuar em simultâneo. Variação da dieta durante a fase de crescimento dos juvenis A composição da dieta em 2006 sofreu variações menos marcadas do que em 2002, contudo foi possível verificar uma ténue tendência para um padrão semelhante. Segundo as frequências de ocorrência de cada categoria alimentar, a dieta dos juvenis não mostra uma variação significativa entre a idade e a composição do alimento dado pelos progenitores em 2006, contrariando o encontrado em 2002. Dado que, o peixe se afigura com elevadas percentagens em todas as fases de crescimento dos juvenis, sugere-se que este poderá ser o agente motivador da insuficiente transparência da variação verificada em 2006, dado que em 2002 mantinha valores muito mais discretos. Ainda assim, a análise à variação das categorias alimentares ao longo do crescimento dos juvenis não apresentou valores significativos em 2006. Estes dados vêm, de alguma forma, entrar em concordância com a análise feita anteriormente, não havendo assim nenhuma categoria alimentar que se destaque significativamente em relação à idade em 2006

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

37


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

A avaliação da dieta, feita ao longo do crescimento dos juvenis, foi mais precisa quando nos debruçamos, sobre a variação temporal do valor médio das percentagens das três categorias consideradas, segundo Fagundes et al. (2002) como sendo as mais visíveis, no que respeita a mudanças ao longo das idades. É indubitável que o peixe é importante para o crescimento das crias por ser rico em proteínas e fornecer fosfato de cálcio, necessário à formação dos ossos (Noordhuis & Spaans 1992), sendo a sua presença notória nas amostras de 2006. Alguns autores, como Pierotti & Annett (1987) sugerem que as gaivotas preferem explorar qualquer fonte alimentar que esteja disponível durante o ano inteiro mas, trocam a sua alimentação para peixe quando os seus ovos eclodem, de modo a respeitarem os requerimentos nutricionais das suas crias. Tais factos justificam as elevadas percentagens de peixe observadas em 2006, contudo não explicam os dados obtidos para 2002. Todavia estes dados (2002), poderão ser o reflexo, da grande disponibilidade de alimento artificial proporcionado pela existência de uma lixeira a céu aberto. Um dado curioso foi observar que nas primeiras semanas de desenvolvimento dos juvenis, o peixe obtido nas amostras não possuía cabeça, verificando-se nas últimas semanas, amostras só com cabeças de peixe (obs. pess.). Estas observações entram em concordância com o observado por Nogales et al. (1995), de que os progenitores seleccionam os alimentos de maior valor nutricional para alimentar as suas crias mais novas, procurando também alimentos mais facilmente digeríveis. Por outro lado é constatável em 2006, um aumento relativo à idade para os derivados de galinha, embora de uma forma menos expressiva, que em 2002. A troca verificada de insectos para galinha ocorre essencialmente a partir da quarta semana de vida, sugerindo tal como Robbins (1983) que a acumulação de gorduras na fase final do crescimento é importante para o sucesso do juvenil, ou até mesmo segundo Fagundes et al. (2002)

estar associada à necessidade de aquisição de diferentes requerimentos

energéticos essenciais ao seu crescimento.

Selectividade A análise anteriormente documentada permite-nos, inferir sobre a situação alimentar em termos de selectividade. Foi observado que em 2006, tal como em 2002, os indivíduos até às duas semanas têm uma alimentação mais selectiva. Assentando na justificação de que as refeições fornecidas aos juvenis com uma semana são em geral, constituídas por um único tipo de alimento, aliado ao facto de não se registar uma variação sazonal na dieta. Fagundes et al. (2002) confirma mais uma vez a selecção dos alimentos por parte dos progenitores, respeitando assim os seus requerimentos nutricionais e a capacidade de manuseio do alimento fornecido (Burger & Gochfeld 1991). N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

38


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

No que toca a constituição das amostras com uma categoria, é importante referir que em 2002, eram essencialmente constituídas por insectos ou carnes, enquanto que em 2006 eram particularmente constituídas por peixe. Contudo e de uma forma geral o que se verifica ao longo do crescimento dos juvenis, é uma tendência para um índice de selectividade mais baixo, associado à evolução do grupo etário. 4.4- Variação de alimento natural e alimento antropogénico ao longo das idades No que toca à utilização do alimento natural, em contraponto com o alimento antropogénico, os dados apresentados apontam claramente para um aumento muito expressivo do primeiro, (78%) em 2006 contra (28%) em 2002. Este facto poderá prender-se à diminuição de alimento disponibilizado pela ETRSMS, obrigando consequentemente estas aves a aumentar a utilização de fontes alimentares alternativas, neste caso encontradas no meio natural. Smith & Carlile (1993) referem uma situação idêntica encontrada ao longo de um trabalho com os mesmos objectivos daquele que aqui se apresenta, adiantando que uma das explicações para o aumento do alimento natural está relacionada com a experiência e habilidade que os adultos têm em trocar de um alimento para o outro sem dificuldade. Assim sendo, o predomínio de alimento natural presente nas regurgitações amostradas ao longo deste trabalho, poderá explicar-se pela diminuição da disponibilidade do alimento antropogénico e pela presença de adultos reprodutores experientes. Repare-se que em 2006 os valores para cada um dos parâmetros foram marcadamente distintos, sendo facilmente observável, que ao longo de todos os grupos etários o parâmetro natural domina em larga escala, quando comparado com o parâmetro antropogénico, tendo apenas este ultimo uma maior expressividade nas últimas semanas de vida. Estes dados levam a que não se verifique uma variação significativa destes parâmetros na dieta dos juvenis em 2006, contrariando o observado em 2002. Ainda neste contexto, tornou-se possível verificar que a diminuição do parâmetro natural não se mostrou ser significativa, facto este que corrobora com os dados anteriormente analisados. A elevada percentagem de alimento antropogénico registada para o ilhéu do Desembarcadouro em 2002, era fruto da grande variedade de alimento disponível e, a sua proximidade às principais fontes de alimento (portos de pesca, lixeiras, aviários e suiniculturas) (Fagundes et al. 2002). Este facto leva-nos mais uma vez a concluir que a baixa percentagem de alimento antropogénico verificado na dieta dos juvenis, é consequência da remodelação da ETRSMS, que reduziu grandemente a disponibilidade de alimento artificial a estas aves. Tal facto é ainda justificado pelo estudo realizado na ilha de Tébéron, Pons (1992) verifica que a proporção de lixo humano na dieta das gaivotas tinha decrescido N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

39


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

drasticamente após a entrada em funcionamento de uma incineradora, salientando assim, que esta infra – estrutura teve um impacto negativo na população destas aves. É nossa convicção, que a remodelação da ETRSMS, está de uma forma positiva a contribuir para a redução de alimento de origem humana na dieta destas aves, podendo trazer, serias repercussões na demografia da colónia de gaivotas a longo prazo (Pons 1992). Assim sendo, estes dados reflectem na globalidade aquilo que temos vindo a mostrar, indiciando uma maior procura destas aves por alimento de origem natural. Existem ainda outros indícios de uma menor utilização dos recursos disponibilizados pela actividade da ETRSMS como por exemplo a presença de caracóis (Theba pisana, e Actinella nitidiuscula nitidiuscula) na dieta dos juvenis. Apesar de este alimento ocorrer com pequena expressão, o facto de em 2002 só terem sido encontrados para a colónia do Porto Santo, poderá ser mais um indício de uma alimentação baseada em alimento não antropogénico De notar que a espécie encontrada em 2006, Theba pisana poderá ser encontrada tanto na Ponta de São Lourenço como nos ilhéus do Porto Santo, e a espécie Actinella nitidiuscula nitidiuscula poderá ser encontrada nos ilhéus da Ponta de São Lourenço e Desertas. Contudo mesmo nos alimentos de proveniência natural a participação humana não deve ser ignorada, nomeadamente o caso do peixe. Esta avaliação foi enfatizada por Vicente (1989), num estudo efectuado com gaivota argêntea no litoral português, e por Fagundes et al. (2002), para a Ilha da Madeira, devido às dificuldades para distinguir o peixe “presa” – capturada pelas gaivotas e do peixe “excedente de pesca”. Ambos aumentam inevitavelmente a percentagem de alimento natural, pelo que o equilíbrio registado entre alimento natural e alimento de origem humana poderá não ser um verdadeiro reflexo da realidade. Não obstante, é fundamental mencionar e dado que o estado adulto reprodutivo só é atingido no quarto ano de vida, que os juvenis nascidos em 2002 (ano em que se iniciou a remodelação da ETRSMS), estarão a atingir a fase reprodutiva em 2006, podendo-se a partir deste ano, avaliar o estado reprodutivo/impacto reprodutivo na colónia, e consequentemente a taxa de sobrevivência dos juvenis face à falta de alimento que se faz sentir. 4.5- Considerações gerais e recomendações futuras O objectivo fundamental deste trabalho era o de compreender se a entrada em funcionamento da ETRSMS contribuiu com alterações, na população reprodutora da principal colónia da Ilha da Madeira, nos seus movimentos padrão diários, assim como na dieta fornecida aos juvenis na época de reprodução em 2006, comparando com os registos

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

40


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

de 2002 para a colónia acima referenciada. Assim sendo as grandes conclusões deste trabalho são: • A população reprodutora do ilhéu do Desembarcadouro continua a crescer, apesar da sua taxa de crescimento anual média entre 2002 e 2006 ser inferior à verificada entre 2001 e 2002. O que indica que a reestruturação da ETRSMS poderá estar a contribuir para uma maior contenção no crescimento populacional desta população. • Em 2006 existiu uma redução do número de ninhos com três ovos, e consequentemente um aumento de ninhos com um e com dois ovos. O que indica que a disponibilidade de alimento poderá estar associada às capacidades reprodutivas. • Apesar da pequena amostragem, de uma forma geral, em 2006 foram avistadas em média menos aves do que em 2002, quer em trânsito quer nas zonas de alimentação. Isto evidencia uma diferente distribuição que provavelmente se prende com as alterações verificadas ao nível da procura e utilização dos recursos tróficos. • A composição da dieta dos juvenis em 2006 foi significativamente diferente da composição da dieta em 2002, sofrendo porém variações menos marcadas. Neste estudo o alimento predominante foi o peixe, representando 86% da composição total. Isto indica-nos que, tanto as alterações operadas na ETRSMS, como o aumento expressivo do pescado descarregado, ou até mesmo, estes dois factores em simultâneo, contribuíram para um aumento na exploração do habitat marinho. • Indivíduos até às duas semanas têm uma alimentação mais selectiva tal como em 2002. Isto indica-nos que os progenitores seleccionam os alimentos, respeitando os requerimentos nutricionais e a capacidade de manuseio do alimento fornecido. • A utilização do alimento natural ao longo das várias idades dos juvenis, registou um aumento bastante expressivo para 2006, contrapondo com o alimento antropogénico. O que nos indica que a diminuição do alimento artificial disponibilizado pela ETRSMS, obrigou consequentemente estas aves a utilizar outras fontes alimentares alternativas, neste caso encontradas no meio natural.

Julgamos fundamental, tendo como propósito dar continuidade a este trabalho, contribuir para um melhor conhecimento deste problema – quer global quer local (Arquipélago da Madeira). Assim, tendo em atenção toda a logística relativa à sua realização, é recomendado: • Dar continuação aos estudos de monitorização dos principais locais de alimentação e repouso, prospectando outros possíveis locais de grande concentração destas aves. N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

41


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

• Avaliação do sucesso reprodutor. • Dar continuação ao estudo da dieta dos juvenis, relacionando-o com a sua sobrevivência e dispersão.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

42


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

5- AGRADECIMENTOS - À minha família, em especial aos meus pais e ao Bruno, por todo o apoio, pela compreensão e paciência, sem os quais não teria chegado até aqui. - Aos meus orientadores Dr.ª Dília Menezes e Doutor Paulo Oliveira, pela oportunidade de estágio, pela sua orientação científica, pela disponibilidade e pelos sábios ensinamentos e incentivos, que de certa forma contribuíram para o meu amadurecimento e crescimento científico. - Ao Parque Natural da Madeira, pela permissão e suporte técnico-científico dada à execução deste projecto. - Ao corpo de Vigilantes da Natureza do PNM, em especial ao corpo de vigilantes da Reserva da Ponta de São Lourenço (Sapo, Cabral, Avelino, Nélio, Tiago), pela sua amizade e transporte das equipas de trabalho. - Ao Departamento de Biologia da Universidade da Madeira na pessoa do Prof. Doutor José Jesus, por ter disponibilizado os meios para análise das regurgitações para o estudo da dieta. - Ao Prof. Doutor Manfred Kaufmann, Dr. Carlos Freitas, Dr.ª Cristina Abreu e à Prof. Doutora Graça Costa, que foram peças fundamentais na identificação de alguns itens alimentares, crustáceos, peixes, insectos, gastrópodes e parasitas respectivamente. - À Dr.ª. Isabel Fagundes, pelos dados fornecidos e por todo o apoio prestado na realização deste projecto. - À Direcção Regional de Pescas da R.A.M, na pessoa de Dr. Filomena, pela disponibilização dos dados referentes ao pescado descarregado na R.A.M. nos anos de 2000 a 2006. - Ao Prof. Doutor Domingos Rodrigues, ao Dr. Uriel Abreu, pela sua amizade, disponibilidade e ensinamentos na área da cartografia. - Aos meus amigos, Fátima Santos, Cristina Malho, Liliana Ferreira, Jorge Ferreira, Pedro Monteiro, Lígia Carvalho, Magda Silva, Ilídio Santos pela sua disponibilidade no apoio ao trabalho de campo, necessário à execução deste projecto. - Aos meus amigos Marilyn Ferreira, Vítor Sousa, Alberto Nunes, Filipa Erra, que foram incansáveis nesta ultima fase do trabalho, pela sua amizade, colaboração, correcções e sugestões na revisão final. - Por fim queria agradecer a todas as pessoas que directa ou indirectamente contribuíram e continuam a contribuir para o meu crescimento profissional e pessoal, incutindo em mim valores e ensinando-me a respeitar e a ser respeitada.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

43


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

Abraín, A. M., Solis, J. G., Pedrocchi, V., Genovart, M., Abella J. C., Ruiz, X., Jiménez, J., Oro, D., 2003. Kleptoparasitism, disturbance and predation of yellow legged gulls on Audouin´s gulls in three colonies of Western Mediterranean. Scientia Marina, 67: 89-94.

Abreu, U. A. V., 2004. Análise Biofísica da Ponta de São Lourenço (Ilha da Madeira). Tese de Licenciatura. Universidade de Coimbra. Faculdade de Letras. Instituto de Estudos Geográficos.

Aguilera, A., Cid, A., Regueiro, B. J., Prieto, J. M., Noya, M., 1999. Intestinal myasis caused by Eristalis tenax. Journal of Clinical Microbiology 37, Nº 9: 3082.

Bannerman, D. & Bannerman, W., 1965. Birds of the Atlantic Islands. A history of the birds of Madeira, the Desertas and the Porto Santo Islands. Oliver and Boyd, Edinburgh.

Barbosa, P., 1992. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da Ecologia e Comportamento da Gaivota Argêntea (Larus argentatus atlantis) nas Ilhas Desertas. Relatório de estágio para licenciatura em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra.95 pp.

Belant, J. L., Sheri, K. Ickes, Seamans, T. W., 1998. Importance of landfills to urban nesting herring and ring - billed gulls. Landscape and Urban Planning, 43: 11 - 19.

BirdLife Internacional, 2004. Birds in Europe: population estimates, trends and conservation status. Cambridge, UK : BirdLife International. (BirdLife Conservation Series No. 12).

Bruun, B., Delin, H., Svensson, L., 2004. Country Life Guide to Birds of Britain and Europe. Bounty Books, a division of Octopus Publishing Group Ltd. 320 pp.

Buckley, N. J., 1990. Diet and feeding ecology of great black-backed gulls (Larus marinus) at a southern Irish breeding colony. Lond. Journal of Zoology, 222: 363-373.

Burger, J. & Gochfeld, M., 1991. The common Tern. Its breeding biology and social behavior. Columbia University Press. New York. In: Fagundes, I., Nunes J., Carvalho S., 2002. Gaivotas nos Aeroportos do Arquipélago da Madeira; Projecto de Investigação com o Objectivo de Solucionar ou Minimizar os Problemas Causados. ANAM.

Câmara, D. B., 1997. Guia de Campo das Aves do Parque Ecológico do Funchal e do Arquipélago da Madeira. Associação dos Amigos do Parque Ecológico, Funchal. 132 pp.

Carlson, K. & Carlson, C., 1994. Á descoberta das aves de Portugal. Lello & Irmão.175 pp

Cleary, E. C. & Dolbeer R. A., 2005. Wildlife Hazard Management at Airports. A manual for Airport Personnel. Second Edition. N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

44


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Coulson, J. C., 1963. Egg size and shape in the kittiwake (Rissa tridactyla) and their use in estimating age composition of populations. Journal of Zoology, 140: 211-227.

Cuisin, M., 1971. O que é a Ecologia? Bordas. Paris. 172 pp.

Davis, J. W. F., 1975. Specialization in feeding location by herring gulls. Journal of Animal Ecology, 44: 795-804.

Demarchi, M. W., McNicholl, M. K., Searing G. F., Mochizuki T., 1999. Monitoring the Ditribution, Abundance, and Movements of Bird Near Vancouver International Airport. University of Nebraska. Lincoln.

Duhem, C., Vidal, E., Legrand, J., Tatoni, T., 2003. Opportunistic feeding responses of the Yellow-legged Gull Larus michahellis to accessibility of refuse dumps. Bird study, 50: 61-67.

Duhem, C., Vidal, E., Roche, P., Legrand, J., 2005. How is the diet of yellow - legged gull chicks influenced by parent´s accessibility to landfills. Waterbirds, 28: 1: 46-52.

Fagundes, I., Nunes, J., Carvalho, S., 2002. Gaivotas nos Aeroportos do Arquipélago da Madeira; Projecto de Investigação com o Objectivo de Solucionar ou Minimizar os Problemas Causados. ANAM.

Finney, G., 1989. Atlantic Region Gull Management Plan. Canadian Wildlife Service Conservation and Protection Environment Canada. First Draft.

Fontinha, S. & Carvalho, J. A., 1995. Evaluation of the vascular flora of Madeira´s extreme east. Boletim do Museu Municipal do Funchal ,Sup.no.4: 263-275.

Forbes, P., Mackeith, B., Peberdy, R., 1986. Animals of the World - Water Birds and Flightless Birds.Circulo de Leitores, Lda.143 pp.

Fowler, J. & Cohen, L., 1990. Practical Statistics for Field Biology. Open University Press, Philadelphia.

Furness, R., Ensor, K., Dudson, A., 1992. The use of fishery waste by gull populations around the British Isles. Ardea, 80: 105-113.

Furness, R. W., Hislop, J. R. G., 1981. Diets and feeding ecology of Great Skuas Catharacta skua during the breeding season in Shetland. Lond. Journal of Zoology, 195: 1-23.

Furness, R. W. & Monaghan, P., 1987. Seabird Ecology. Blackie. USA: Chapman & Hall, New York. 164 pp.

Garthe, S. & Scherp, B., 2003. Utilization of discards and offal from commercial fisheries by seabirds in the Baltic Sea. ICES Journal of Marine Science, 60: 980-989.

Godin, A. J., 1994. Birds at Airports. Prevention and Control of Wildlife Damage. University of Nebraska. Lincoln.

IGEOE, 2003. Carta Militar de Portugal: 1/25.000, folha de 1 a 9 (Ilha da Madeira). Serviços Cartográficos do Exército, Série P821. N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

45


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Krebs, C. J., 1994. Ecology. The experiment analysis of distribution and abundance. HarperCollins College publishers, New York. U.S.A. 801 pp.

MacKinnon, B., 2005. Sharing the skies. An aviation industry guide to the management of wildlife hazards. Transport Canadá. Ottawa.

Maroco, J., 2003. Análise de Estatística com utilização do SPSS. Edições Sílabo, 2ª Edição. Lisboa. Portugal. 243 pp.

Menezes, D., Freitas, I., Gouveia, L., Mateus, M., Domingues, M., Oliveira, P., Fontinha, S., 2004. A Floresta Laurissilva da Madeira Património Mundial. Funchal. Portugal. 104 pp.

Mullarney, K., Svensson, L., Zetterström, D., Grant, P. J., 2003. O guia de campo mais completo das aves de Portugal e Europa. Assírio & Alvim, 400 pp.

Munilla, I., 1997. Henslow´s swimming crab (Polybius henslowii) as an important food for yellow- legged gulls (Larus cachinnans) in NW Spain. ICES Journal of Marine Science, 54: 631-634.

Horton, N., Brough,T., Rochard, J.B.A., 1983.The importance of refuse tips to gulls wintering in an inland area of south - east England. Journal of Applied Ecology, 20: 751-765.

Nager, R., Monaghan, P., Houston, D. C., 2000 Within- clutch trade-offs between the number and quality of eggs: experimental manipulations in gulls. Ecology, 81: 13391350.

Nogales, M., Zonfrillo, B., Monaghan, P., 1995. Diets of adult and chick Herring Gulls Larus argentatus argentatus on Ailsa Craig, south-west Scotland. Seabird, 17: 56-63.

Noordhuis, R. & Spaans, A., 1992. Interspecific competition for food between Herring Larus argentatus and Lesser Black- backed Gulls L. fuscus in the Dutch Wadden Sea area. Ardea, 80: 114-132.

Oliveira, P., 1999. A Conservação e Gestão das Aves do Arquipélago da Madeira. Parque Natural da Madeira. Funchal. Portugal.

Oliveira, P. & Menezes, D., 2004. Aves do Arquipélago da Madeira. Serviço do Parque Natural da Madeira, Funchal. Portugal. 111 pp.

Oliveira, P., Vieira, F., Silva, I., Almada, F., Marques, J., Franquinho, F., 1993. A população de gaivota argentea, Larus argentatus atlantis, do Ilhéu Chão. Evolução demográfica e perspectivas de gestão. Não publicado.

Perrins, C. M., 1996. Eggs, egg formation and the timing of breeding. Ibis, 138: 2-15.

Pierotti, R. & Annett, C., 1987. Reproductive consequences of dietary specialization and switching in an ecological generalist. Colonial Waterbirds, 12 : 4-11.

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

46


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

Pons, J. M., 1992. Effects of changes in the availability of human refuse on breeding parameters in a herring gull Larus argentatus population in Brittany, France. Ardea, 80: 143 - 150.

Quintal, R., 2003. Madeira. À descoberta da ilha de carro e a pé. Madeira. Portugal. 299 pp

Rabaça, J. E., 1995. Métodos de censo de aves: Aspectos Gerais, Pressupostos e Princípios de Aplicação. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. Lisboa. Portugal. 52 pp.

Ricklefs, R. 1968. Patterns of growth in birds. Ibis, 110:419-451.

Robbins, C., 1983. Wildlife Feeding and Nutrition. Academic Press, London.

Rufino, R., Neves, R., Araújo, A., Candeias, D., Guedes, R., Palma, L., Onofre, N., 1989. Atlas das aves que nidificam em Portugal Continental. Portugal. 215 pp.

Seubert, J. L., 1990. Reducing Gull Hazards to Aviation by Controlling Nesting Populations. BSCE 20 Helsinki. Working papers.

Smith, G. C. & Carlile, N., 1993. Food and Feeding Ecology of Breeding Silver Gulls (Larus novaehollandiae) in Urban Australia. Colonial Waterbirds, 16 (1): 9-17.

SNPRCN (Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza), 1990. Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.Vol I. Secretaria de Estado do Ambiente e Defesa do Consumidor. Lisboa. Portugal. 219 pp.

Sol, D., Arcos, J. M., Senar, J. C., 1995. The influence of refuse tips on the winter distribution of yellow- legged gulls Larus cachinnans. Bird study, 42: 216-221.

Soldatini, C., Riccato, F., Torricelli, P., Mainardi D., 2005. Yellow legged gulls, diet and foraging locations. 15th Meeting of the Italian Society of Ecology. Torino. Italy.

Teixeira, D. & Abreu, C., 2003. Biodiversidade Madeirense: Avaliação e Conservação., Moluscos Terrestres da Ponta de São Lourenço e Ilhéus Adjacentes. Funchal. Portugal. 114 pp.

Vicente, L., 1989. Controlo de efectivos de Gaivota – argentea no Litoral Português. Não publicado.

Vicente, L. & Moutinho, S., 1993. Evolução Demográfica da População de Gaivota Argentea. Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza. Não publicado.

Yorio, P. & Caille, G., 2004. Fish waste as an alterantive resource for gulls along the Patagonian coast: availability, use, and potential consequences. Marine Pollution Bulletin, 48: 778-783.

Zar, J. H., 1999. Biostatistical Analysis. Prentice Hall International, INCPrentice Hall International, INC, Fourth Edition, 663 pp.

ecoinf.uran.ru/content/2birds/m176.shtml (acedido a 24/01/2007). N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

47


M MoonnititoorrizizaaççããooeeEEccoolo loggia iaddaaggaaivivoottaaLLaarruussccaacchhin innnaannssaattla lannttisis ((C Cle lem mm meennttss11999911))nnooAArrqquuip ipééla laggooddaaM Maaddeeiriraa

7- ANEXOS

Anexo 1 – Variação da percentagem volumétrica de alimento natural vs alimento antropogénico ao longo das idades.

Variação de alimento natural vs alimento antropogénico ao longo das idades

Percentagem volum étrica

1,00

    

     

        

0,75

0,50

0,25 

   

   

      

3,00

4,00

5,00

0,00 2,00

Alime nto  

Antropogénico Natural

Ida de (se ma na s)

N Nááddiiaa C Cooeellhhoo

48


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.