A minha história de vida abreviada

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A minha história de vida abreviada

Tinha muito para vos contar sobre a minha história. Terá que ser resumida pois será extensa. Até aos sete anos, não tinha problemas financeiros, vivíamos bem, mas havia outros problemas bem mais graves. Com essa idade a minha vida virou. aconteceu tudo ao mesmo tempo, a minha mãe tentou o suicídio para se livrar do meu pai, conseguiu o divórcio, veio para casa dos meus avós, eu fiquei com o meu pai, o meu avô morreu logo a seguir, vim para casa da minha avó, onde estava a minha mãe e de repente, deixei de ter tudo, passei a ter NADA! A minha avó vivia numa casa de função devido ao trabalho do meu avô e ficou com uma pensãozinha mínima que mal dava para comer. A minha mãe sem arranjar trabalho e os que arranjava, eram de meses. Era complicado. Mais não era porque a minha avó, uma senhora muito culta e mestra na economia doméstica, tomava as coisas a pulso e eram três batatinhas para cada uma e um bifinho (quando havia dinheiro para comprar tal luxo) para cada uma. se alguém se queixava que tinha fome, ela dizia: bebe água que isso passa. Passámos fome, muito frio, tínhamos que pôr os casacos da rua em cima das camas, para nos aquecermos, às vezes até dormíamos as três juntas para nos aquecermos, lembro-me que muitas vezes de manhãzinha para me vestir para ir para a escola, mudava de roupa dentro da cama do frio que tinha, chegávamos a ter o quarto a 0 graus centígrados. foi duro. Os anos foram-se passando assim. na escola não tinha dinheiro para o almoço nem para os livros, elas por vergonha não pediam ajuda, e eu fui estudando com apontamentos.. Cheguei ao 9.º ano e fui para uma escola profissional. aí pagavam-me subsídios e podia estudar, já podia ajudar em casa! Quando chegou a altura de fazer o trabalho de fim de curso, precisava de um computador, era um luxo na altura, estávamos em 1996! E eu sem um tostão para isso. Surgiu então uma oportunidade de ir trabalhar para as limpezas à noite, aceitei logo! Saia das aulas a correr para apanhar o autocarro, e fazia limpezas das 5 da tarde às 9 e meia da noite e aos sábados das 6 da manhã ao meio dia. À noite estudava para acabar o curso e de manhã ia para as aulas... Assim consegui acabar o meu curso. Quando acabei o curso descobri no Centro de Emprego um programa que se chamava POC, acho que ainda existe e inscrevi-me, consegui entrar para a Câmara Municipal (onde ainda hoje estou mas espero que por pouco tempo mas isso depois explico, acompanhe-me). Comecei a sustentar a minha casa aos 19 anos. A minha avó e a minha mãe começaram a ter melhores condições. Entretanto andava sempre a inventar maneiras de ganhar mais algum dinheiro, vendia produtos de cosmética, fui convidada para ser chefe de um grupo de cosmética, cheguei a recrutar e a ser chefe de cerca de 150 pessoas, as coisas estavam a começar a correr bem... Em 2001 o meu mundo desabou! No fatídico dia 17 de Março de 2001 a minha avó, o amor da minha vida, a mulher que toda a vida esteve comigo, a minha amiga e confidente de todas as horas, morreu! Ela estava acamada já há dois anos e teve que ser internada no hospital pois estava com uma anemia, faleceu com uma asfixia, uma sonda mal colocada no estômago matou a minha avó num corredor do hospital. Com o falecimento dela e como vivíamos numa casa de função, fomos despejadas!


Tive que alugar uma casa, pagar renda e caução (que é igual ao valor da renda) e eu sem um tostão! Entrei em depressão profunda! Estive três meses em que só chorava, afastei-me de todos, estava sempre enfiada no quarto, não queria ver ninguém, meti baixa psiquiátrica, deixei de comer, perdi 30 kg nesses três meses, desisti dos negócios, desisti de mim, só queria morrer... (parte de mim morreu com a minha avó. nunca mais voltei a ser a mesma). De baixa, sem dinheiro, ia pedindo aos amigos dinheiro para conseguir pagar a renda. Cheguei a passar uma semana com uma empada no estômago. Não tinha capacidade psicológica para nada. Até que um dia acordei e resolvi dar um basta naquilo. Ninguém me tirava o luto mas assim não podia ficar. Regressei ao trabalho. Alguns amigos vieram ter comigo literalmente com dinheiro na mão (só de escrever isto já me estou a emocionar) a dizerem que sabiam o que se estava a passar e que sabiam que eu precisava de ajuda e eu desatava a chorar...e agradecia e agradecia do fundo do coração. Pela atenção e pelo carinho ao qual eu não estava habituada a ter. Pessoas de quem eu não esperava qualquer ajuda, pessoas a quem ficarei eternamente grata, nem elas imaginam o quanto. E depois disso fui vivendo a minha vida. O ano de 2006 Havia um certo rapaz que pertencia ao grupo de amigos, que estava sempre a embirrar comigo, ora convenci-me que ele não simpatizava comigo. Passaram-se anos e ele sempre naquilo. Eu perguntava às minhas amigas o que é que ele queria, porque me estava sempre a chatear e elas riam-se! Um belo dia, estava eu aborrecida nos meus pensamentos e ele aproximou-se. E eu pensei, lá vem ele embirrar comigo. Mas não, desta vez veio de mansinho e de mansinho foi ficando... até hoje. Depois vim a saber que esse mesmo rapaz pensava o mesmo que eu. que eu não simpatizava com ele! e esta, hein? Esse rapaz chama-se Mauro Pires e é o meu companheiro de todas as horas. No radioso mês de agosto de 2008 nasceu o nosso menino reguila Daniel e a partir daí a minha vida tem sido calma, com altos e baixos, claro. O ano de 2015 Quer saber o que vai acontecer? acompanhe-me e descubra.

Tinha muito para vos contar sobre a minha história. Terá que ser resumida pois será extensa. Até aos sete anos, não tinha problemas financeiros, vivíamos bem, mas havia outros problemas bem mais graves. Com essa idade a minha vida virou. aconteceu tudo ao mesmo tempo, a minha mãe tentou o suicídio para se livrar do meu pai, conseguiu o divórcio, veio para casa dos meus avós, eu fiquei com o meu pai, o meu avô morreu logo a seguir, vim para casa da minha avó, onde estava a minha mãe e de repente, deixei de ter tudo, passei a ter NADA! A minha avó vivia numa casa de função devido ao trabalho do meu avô e ficou com uma pensãozinha mínima que mal dava para comer. A minha mãe sem arranjar trabalho e os que arranjava, eram de meses.


Era complicado. Mais não era porque a minha avó, uma senhora muito culta e mestra na economia doméstica, tomava as coisas a pulso e eram três batatinhas para cada uma e um bifinho (quando havia dinheiro para comprar tal luxo) para cada uma. se alguém se queixava que tinha fome, ela dizia: bebe água que isso passa. Passámos fome, muito frio, tínhamos que pôr os casacos da rua em cima das camas, para nos aquecermos, às vezes até dormíamos as três juntas para nos aquecermos, lembro-me que muitas vezes de manhãzinha para me vestir para ir para a escola, mudava de roupa dentro da cama do frio que tinha, chegávamos a ter o quarto a 0 graus centígrados. foi duro. Os anos foram-se passando assim. na escola não tinha dinheiro para o almoço nem para os livros, elas por vergonha não pediam ajuda, e eu fui estudando com apontamentos.. Cheguei ao 9.º ano e fui para uma escola profissional. aí pagavam-me subsídios e podia estudar, já podia ajudar em casa! Quando chegou a altura de fazer o trabalho de fim de curso, precisava de um computador, era um luxo na altura, estávamos em 1996! E eu sem um tostão para isso. Surgiu então uma oportunidade de ir trabalhar para as limpezas à noite, aceitei logo! Saia das aulas a correr para apanhar o autocarro, e fazia limpezas das 5 da tarde às 9 e meia da noite e aos sábados das 6 da manhã ao meio dia. À noite estudava para acabar o curso e de manhã ia para as aulas... Assim consegui acabar o meu curso. Quando acabei o curso descobri no Centro de Emprego um programa que se chamava POC, acho que ainda existe e inscrevi-me, consegui entrar para a Câmara Municipal (onde ainda hoje estou mas espero que por pouco tempo mas isso depois explico, acompanhe-me). Comecei a sustentar a minha casa aos 19 anos. A minha avó e a minha mãe começaram a ter melhores condições. Entretanto andava sempre a inventar maneiras de ganhar mais algum dinheiro, vendia produtos de cosmética, fui convidada para ser chefe de um grupo de cosmética, cheguei a recrutar e a ser chefe de cerca de 150 pessoas, as coisas estavam a começar a correr bem... Em 2001 o meu mundo desabou! No fatídico dia 17 de Março de 2001 a minha avó, o amor da minha vida, a mulher que toda a vida esteve comigo, a minha amiga e confidente de todas as horas, morreu! Ela estava acamada já há dois anos e teve que ser internada no hospital pois estava com uma anemia, faleceu com uma asfixia, uma sonda mal colocada no estômago matou a minha avó num corredor do hospital. Com o falecimento dela e como vivíamos numa casa de função, fomos despejadas! Tive que alugar uma casa, pagar renda e caução (que é igual ao valor da renda) e eu sem um tostão! Entrei em depressão profunda! Estive três meses em que só chorava, afastei-me de todos, estava sempre enfiada no quarto, não queria ver ninguém, meti baixa psiquiátrica, deixei de comer, perdi 30 kg nesses três meses, desisti dos negócios, desisti de mim, só queria morrer... (parte de mim morreu com a minha avó. nunca mais voltei a ser a mesma). De baixa, sem dinheiro, ia pedindo aos amigos dinheiro para conseguir pagar a renda. Cheguei a passar uma semana com uma empada no estômago. Não tinha capacidade psicológica para nada. Até que um dia acordei e resolvi dar um basta naquilo. Ninguém me tirava o luto mas assim não podia ficar. Regressei ao trabalho. Alguns amigos vieram ter comigo literalmente com dinheiro na mão (só de escrever isto já me estou a emocionar) a dizerem que sabiam o que se estava a passar e que sabiam que eu precisava de ajuda e eu desatava a chorar...e agradecia e agradecia do fundo do coração. Pela atenção e pelo carinho ao qual eu não estava habituada a ter. Pessoas


de quem eu não esperava qualquer ajuda, pessoas a quem ficarei eternamente grata, nem elas imaginam o quanto. E depois disso fui vivendo a minha vida. O ano de 2006 Havia um certo rapaz que pertencia ao grupo de amigos, que estava sempre a embirrar comigo, ora convenci-me que ele não simpatizava comigo. Passaram-se anos e ele sempre naquilo. Eu perguntava às minhas amigas o que é que ele queria, porque me estava sempre a chatear e elas riam-se! Um belo dia, estava eu aborrecida nos meus pensamentos e ele aproximou-se. E eu pensei, lá vem ele embirrar comigo. Mas não, desta vez veio de mansinho e de mansinho foi ficando... até hoje. Depois vim a saber que esse mesmo rapaz pensava o mesmo que eu. que eu não simpatizava com ele! e esta, hein? Esse rapaz chama-se Mauro Pires e é o meu companheiro de todas as horas. No radioso mês de agosto de 2008 nasceu o nosso menino reguila Daniel e a partir daí a minha vida tem sido calma, com altos e baixos, claro. O ano de 2015 Quer saber o que vai acontecer? acompanhe-me e descubra.

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