A minha infância e adolescência

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A minha infância e adolescência (1/3) https://youtu.be/FLi_9uf9iAI

A minha mãe é de Angola. E la e os meus avós faziam muito o triângulo, como lhe chamavam, entre Angola, o Brasil e Portugal. Os meus avós eram portugueses e o meu pai também. A minha mãe era portuguesa de Angola. Quando estalou a guerra em Angola, eles estavam lá todos. Em 1975 Os meus avós foram viver para o Brasil, Para Manaus, onde o meu avô tinha trabalho, no INPA, o Instituto Nacional de Protecção da Amazónia. Pouco tempo depois, os meus pais também se vieram embora, já no fim, para irem ter com os meus avós ao Brasil mas decidiram Ir de automóvel para a Africa do Sul. Tiveram muitas peripécias pelo caminho, o País estava em guerra e os meus pais a atravessá-lo sozinhos de automóvel. Lá foram resolvendo os problemas que surgiram e conseguiram chegar a Cape Town, a Cidade do Cabo de hoje. Aí tinham a questão do Apartheid. A minha mãe conta que chegou a estar 2 horas à espera da chave da casa de banho das brancas… Foram tempos conturbados e ainda bem que alguns se resolveram… Segundo a minha mãe, eu fui concebida lá, Em Cape Town. Já grávida, embarcou com o meu pai para o Brasil para se juntar aos meus avós. Viveu a gravidez toda em Manaus e já no final da gravidez, o meu pai teve que regressar a Portugal por causa dos negócios que cá tinha, a minha mãe quis vir com ele, claro. Embarcou no avião grávida de 9 meses, o que era proibido, mas conseguiu disfarçar a gravidez. Dentro do avião, as águas rebentaram às 4 da manhã e eu nasci já em Portugal às 5 para as 9 da noite. Tive “azar” porque se tivesse nascido no avião, teria viagens gratuitas para o resto da vida e presentes no aniversário. Nasci dia 1 de Abril de 1976, em Lisboa, onde ficámos a morar. Os meus pais não tinham qualquer problema financeiro, viviam bem devido aos negócios do meu pai. Era uma vida de bem estar financeiro. Quando tinha 3 anos, os meus pais foram visitar um casal de amigos nossos vizinhos, pois ela fazia anos. Eles tinham um Grand Danois, uma raça de cães, tão grandes, que parecem burros pequenos, em casa e eu, pequenita, fui mexer-lhe na comida. Ele virou o focinho para me afastar mas raspou os dentes na minha cara e rasgou-a toda. Levaram-me logo para as urgências mas o cirurgião que estava de plantão não sabia cozer-me. A sorte é que o dono do cão, o nosso amigo, era um cirurgião muito conceituado e cozeu-me ele. Segundo a minha mãe conta, as instalações e condições eram péssimas e o cirurgião teve que cozer-me com agulha e linha de costura. Levei 36 pontos na zona dos olhos. Fiquei sem um bocado de


sobrancelha e tudo. Estive 2 meses cega, estava em constantes tratamentos para que não ficasse desfigurada e andei assim uns largos meses. Queriam fazer-me uma cirurgia plástica mas como era pequena, na altura só davam anestesia local e a minha mãe não quis, ficou cá a marca. Os meus pais tinham divergências que com os anos se foram agravando. O meu pai não entendia a minha mãe e ela não o entendia a ele. Infelizmente assisti a cenas de violência doméstica e bem pequenina tentava defender a minha mãe, sem sucesso, claro, mas ele lá se acalmava. Comigo nunca houve nada, nunca me levantou a mão. A minha mãe ainda chegou a sair de casa mas ele foi busca-la. A minha mãe era uma pessoa que sofria de constantes depressões, ainda hoje, e tinha uma percepção diferente das coisas. Não estou a falar mal dela, estou a relatar o que me aconteceu. Ela ficava tão envolta nos problemas dela que às vezes se esquecia de me ir buscar ao colégio, vinham as educadoras trazer-me, esquecia-se de me dar o almoço, ou não comia ou era a empregada que tínhamos que o fazia…Enfim… Isto chegou a tal ponto, que aos meus 7 anos, ela tentou o suicídio para se livrar dos problemas, segundo ela. Mas esqueceu que tinha uma filha pequena, que precisava da mãe. Fui eu que a encontrei quase morta na cama. Imaginam o que é? Não queiram! Chamei os vizinhos, percebi que a coisa não era boa, pedi ajuda e fiquei em casa de uns vizinhos que não conhecia à espera. Os meus avós vieram para Portugal logo a seguir à minha mãe, o meu avô era muito agarrado à filha. Arranjou colocação como professor universitário em Vila Real mas como achava que estava muito longe dela, pediu transferência para Évora, para ficar mais perto de Lisboa. Estive horas à espera que alguém me viesse buscar. O meu pai não sabia de nada, nem sabiam onde ele podia estar e então chamaram o meu avô, que estava em Évora e demorou horas a chegar a Lisboa para me vir buscar e para tratar do internamento da minha mãe no hospital. A minha mãe ficou quase 5 meses internada e quem ficou comigo, contra vontade dos meus avós e da minha mãe, foi o meu pai, que foi metido em tribunal por causa do poder paternal. Estive com o meu pai esses 5 meses, foram meses divertidos, eu andava sempre com ele, contudo ele tinha a Judiciária à perna por minha causa. Eu já os conhecia a todos, eram sempre os mesmos! Chegava a cumprimenta-los no café e eles aproveitavam para me perguntar se estava tudo bem comigo. Em seguida a minha mãe veio viver com os meus avós para Évora, em Junho, salvo erro e em Novembro o meu avô faleceu. Foi uma desgraça para toda a gente, até para o meu pai pois gostava muito dele e por isso, o meu pai resolveu devolver-me à minha mãe. Vim para Évora em finais de Novembro. Entrei para a 2ª. classe da escola primária a seguir às férias do Natal e adaptei-me bem pois quando entrei na escola já sabia ler e escrever com os ensinamentos da minha mãe e da minha avó.


O meus colegas é que não gostaram nada de mim, nem eu deles. Era sistematicamente perseguida por ser filha de pais divorciados, por ser de Lisboa, por ser gordinha, por ter uma cicatriz na cara, por causa do meu apelido… E foi assim toda a minha vida escolar… Com a separação dos meus pais e a morte do meu avô, a nossa situação financeira tornou-se quase nula! Eles eram as fontes de rendimento. A minha avó ficou apenas com uma mísera pensão de sobrevivência que para pouco chegava. E a pensar que ainda há muita gente a receber essas misérias… No início foram vendendo a joias todas que tinham, quando se acabaram as joias, acabou-se esse rendimento e já não restava nada. A minha mãe tinha sido criada para casar (as coisas eram assim antigamente) e o meu avô nunca se preocupou e tratar dos documentos de habilitações da minha mãe e com a guerra, desapareceu tudo. A minha mãe nem o comprovativo de 4ª classe tinha! E ela tinha o antigo 9º ano, equivalente ao nosso 12º feito. Devido a isso, nunca conseguiu arranjar emprego, saltitava de emprego em emprego por poucos meses e não se podia contar com esse dinheiro. A nossa renda era só a pensão da minha avó. Passámos muita fome, muito frio. Lembro-me que chegávamos a dormir as 3 juntas para não termos muito frio, o nosso quarto chegava ao 0 graus, não havia dinheiro para aquecedores, electricidade e muitas vezes ficámos sem ela por falta de pagamento, andávamos com velinhas e candeeiros a petróleo, quando havia… Punhamos os cobertores todos em cima da cama, metíamos os casacos também, tudo para nos aquecermos um pouco. Quanto à comida, íamos tendo mas muito pouquinha e graças ao punho de ferro que a minha avó tinha na economia doméstica. Ela repartia irmãmente tudo o que havia, eram às vezes umas sopinhas de caldo ou 3 batatinhas para cada uma com um pedacinho de carne ou peixe… se reclamávamos com fome, ela retorquia, bebe água que isso passa. A minha avó era uma senhora fabulosa, nunca irei conhecer ninguém como ela. Nasceu com problemas de surdez e de visão, foi muitas vezes operada. Via muito mal e era muito surda, usava um aparelho que ia ajudando. Mas ela não desistiu nunca na vida! Sempre fez a vida dela, era muito culta, nasceu em 1912 e conseguiu terminar o antigo 9º ano, coisa rara na época, trabalhou como tradutora, foi secretária de um advogado, escreveu poemas para um jornal, era fantástica! Ela, além desses problemas de saúde que referi, tinha muitos outros e alguns graves mas nunca aquela alminha se queixava! Nunca! Para ela estava sempre tudo bem e queria os outros bem…


Ela entretinha-se a fazer e a ensinar-me a fazer bolinhos, compotas, pão… De tudo fazia para que a fome fosse a menor possível. E assim fui crescendo, sempre com a minha avó e com a minha mãe, sozinhas as 3, aliadas em tudo, a minha mãe sempre um pouco mais ausente em algumas coisas devido à depressão mas íamos indo… Eu só tinha 3 vizinhas que eram manas e só podia brincar com elas mas a minha mãe às vezes embirrava e não me deixava sair de casa nas férias grandes, passava 3 meses sem amigos para brincar. Mas isso não me impedia de me distrair, as minhas amigas eram vizinhas da frente e brincávamos à janela, conversando e descobrindo coisas novas em dicionários e outras coisas. Na escola, não havia dinheiro para livros e elas tinham vergonha de pedir apoio social. Lembro que do 7º ao 9º anos não tive nem um único livro, estudava pelos apontamentos e lá conseguia passar de ano… Quando terminei o 9º ano, decidi ir para a escola profissional onde ganhava subsídios e podia ajudar em casa com algum dinheiro… Queres saber mais? Acompanha-me que continua… Identificaste-te com alguma coisa? Queres saber o que faço na vida? Sou Internet Marketer na Empower Network e nos Lazy Millionaires. Sou independente, trabalho as horas que quero, divirto-me e ganho dinheiro a fazer o que gosto na Internet! Queres saber mais? Subscreve a minha newsletter e fica a saber tudo ao pormenor gratuitamente Junta-te a nós e vem ganhar dinheiro e realizar os teus sonhos….

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