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EXPEDiENTE Orientador Salvio Juliano Farias Reportagem/Redatores Fernanda Caroline Moraes Gabriel Evan Borba Patricia Lorrane Lise Fotografia Gabriel Evan Borba Guilherme Augusto Melks Marks Nelson Pacheco Thiago Carvalho Colaboradores Roldão Barros Warlos Morais Paula Pereira
Fernanda Caroline Moraes, 22 anos. Preta, pobre e mora longe. Apaixonada por jornalismo, moda, gastronomia e decoração.
Diagramação Gabriel Evan Borba Tratamento de Imagens Gabriel Evan Borba Revisão Salvio Juliano Farias Impressão Cirgráfica
Gabriel Evan Borba, 22 anos. Um pouco jornalista, um pouco criador, um pouco fotógrafo, meio fora do eixo e perfeccionista ao extremo. Isso que dá ser virginiano.
Arte produzida pelo Bicicleta Sem freio, exposta em março de 2015 pela primeira vez em Londres com curadoria de Charlotte Dutoit (JustKids).
Patricia Lorrane Lise, 22 anos. Escritora, falante, blogueira. Viciada em acreditar que tudo vai dar certo no final. Sofro de incontinência verbal, vicio em mídias sociais e por tomar café demais.
Editorial
Chega mais! Pelas ruas da capital não é difícil perceber os diferentes movimentos culturais que percorrem os becos e vielas de uma cidade marcada pelo tradicionalismo. A Revista do Beco chega com o objetivo de identificar as áreas culturais que carecem de visibilidade no Estado de Goiás, dando uma nova visão à cultura contemporânea goiana. Com o foco em romper uma tradição já dominante mostrando que é possível trazer novidades sem se esquecer dos "velhos conceitos". Com pautas que refletem sobre diferentes manifestações culturais, ao folhear nossa primeira edição, você encontrará uma matéria exclusiva sobre a primeira edição do Festival O Rolê, que durante dois dias reuniu mais de cinco mil pessoas no Centro Cultural Oscar Niemeyer, além disso, um bate-papo com o cantor Criolo, que foi uma das principais atrações do evento. Em uma passada rápida pelo cenário musical independente, a banda Carne Doce fala do seu último trabalho. A história de três coletivos que com projetos sociais buscam construir uma sociedade mais reflexiva e ainda duas matérias visuais, uma de exposições artísticas pela capital e a outra em homenagem a Cidade de Goiás. Bem vindos ao nosso beco, nos vemos lá dentro!
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Sumรกrio
Rapidinha Espaço Arte Urbana no Passeio
Despedida
Nos dias 26 e 27 de agosto o Shopping Passeio das Águas resgatou um estilo que marcou época com o projeto "CineDrive In – Cinema no Carro". Foram exibidas duas sessões por dia, dos filmes: “Star Wars: O Despertar da Força” e “Divertida Mente”.
Demos adeus à grande Elke Maravilha. Ela foi uma das modelos brasileiras de maior destaque nos anos 1960/70, e também era excelente atriz. Uma autêntica drag queen, com o pequeno detalhe: ter nascido mulher.
Pokémon Go no Brasil
Ney Matogrosso em Goiânia
Demorou, mas chegou! Finalmente o jogo está disponível no país. Se você der uma volta pela rua, com certeza vai encontrar pessoas correndo atrás dos monstrinhos.
A capital goiana recebeu a turnê "Atento aos Sinais", do cantor Ney Matogrosso. Celebrando seus 40 anos de carreira, o performático e ousado artista apresentou seus maiores sucessos em um cenário moderno e com figurinos exuberantes. O Teatro Rio Vermelho foi o palco do grande show.
Arte Polêmica Imagem de santa utilizada pelo Festival Vaca Amarela gera polêmica na página do evento no Facebook, discussões sobre blasfêmia e liberdade de expressão colocam em pauta a obra da artista plástica Ana Smile.
se liga! Gastronomia
se tem bro Música
Feira Gastronômica
Chorinho na Ambiente
Serão 21 restaurantes com pratos gourmet por preços populares, música ao vivo, atividades ao ar livre e entrada gratuita.
O encontro organizado pela Ambiente Skate Shop reune música, bebida gelada e petiscos! A entrada é no esquema Quanto Vale o Show.
Quando rola? 08 a 11 de setembro Onde? Parque Flamboyant Horário? 17h às 22h
Quando rola? 17 de setembro Onde? Ambiente Skate Shop Horário? 21h às 2h Valor? A partir de 5 reais
Moda
Vogue Fashion´s Night Out 2016
Rapense 2º Edição
Shopping Flamboyant recebe o evento de moda mais badalado em todo o mundo: o Fashion’s Night Out, criado pela Vogue americana, com as novidades em moda para o verão.
Organizado pelo Coletivo Oz Outros o evento busca a ocupação de espaços públicos dedicado ao Rap.
Quando rola? 15 de setembro Onde? Shopping Flamboyant Horário? 11h30 às 22h
Quando rola? 18 de setembro Onde? Beco da Codorna Horário? 14h Valor? 5 reais ou 2kg de alimento não perecível
Cultura
1ª Feira Cultural LGBT
III Mostra Música Offsina
Com sua primeira edição, a feira é uma manifestação social que promove a cultura da população LGBT. O evento reunirá arte, shows com cantores e dragqueens, tendas de comes e bebes.
Um grande encontro músical abraçando a diversidade, misturando tribos e gerações.
Quando rola? 3 de setembro Onde? Praça do Trabalhador Horário? 14h às 22h
Quando rola? 28 de setembro a 9 de outubro Onde? Beco da Codorna Horário? 20h
ARTIGO
Favor deixar a casa aberta Por Roldão Barros
Ainda tenho boas recordações da primeira vez que fui ao "Chorinho" do Grande Hotel, como era conhecido o infelizmente extinto projeto Grande Hotel Vive o Choro, na região central de Goiânia. A convite de amigos, fui ver qual era a proposta, mas com certo medo. Aquela não era a minha praia. Assim que cheguei, percebi que o receio nem precisava ter batido à porta. Com parte da Avenida Goiás fechada e centenas de pessoas, de diferentes tribos e idades, ali, na rua, bebendo e cantando em coro, percebi que a intenção não era gastar dinheiro público com um evento fechado em si. A casa estava aberta para quem quisesse entrar. E eu quis. O samba sempre me acompanhou depois disso. Desde essa época, no início do curso de jornalismo, muitos eventos surgiram. Os de rua sempre foram os meus favoritos nos dias de sol ou em noites claras, pelo simples motivo de serem completamente abertos e gratuitos. Ali mesmo, no Grande Hotel, eu, até então um garoto de periferia, me vi integrado a outros iguais, mas também aos diferentes. De senhoras e senhores saudosistas a moradores de rua. Ninguém era invisível. Claro que tanta liberdade trouxe problemas com o tempo. Já no final daquela temporada, eu ouvia falar em assaltos, por exemplo. Com o fim daquele evento, eu migrei. Muitas pessoas migraram também e outras tantas foram sendo agregadas. O Goiânia Ouro, os becos do Setor Sul, a Rua do Lazer, a Praça Cívica, a Praça Universitária. Vejo tudo que aconteceu e que acontece em Goiânia como um movimento fundamental, principal-
mente para a formação de público. Uma disciplina curiosa na Universidade Federal de Goiás, chamada "formação de plateia", me trouxe um pouco disso. Só dar o acesso à cultura não é o suficiente. É preciso incentivar a pessoa a dar o primeiro passo rumo ao que ainda é desconhecido. Assim como meus amigos fizeram comigo - e como fizeram antes com eles. Hoje, vejo muitas tentativas dentro da esfera pública, mas fico particularmente animado com empresas entrando no clima e ajudando a fortalecer a agenda cultural da cidade. Entrevistei, recentemente, algumas dessas pessoas e também alguns agitadores culturais para que me explicassem o que está acontecendo. O que me chamou a atenção em suas falas foi justamente a concepção de que o usual não basta para a população de uma cidade como a nossa. Os espaços existem e podem trazer muito mais. Nessa concepção, a rua virou palco para o samba, as praças foram ocupadas por música e feiras colaborativas, os parques receberam concertos de música clássica, o bar teve exposição de arte urbana, o hostel promoveu saraus, os amantes do cinema se reuniram em becos, sentados em almofadas. Quanta gente não foi atingida por tudo isso? A sequência de eventos e iniciativas pipocando, mesmo que com as dificuldades características do fazer cultural, podem querer dizer que nós não precisamos esperar na inércia. Tem gente fazendo acontecer e abrindo novas possibilidades para a população. Cultura é, entre tantas outras coisas, compartilhamento. Incrível o poder da arte, né?
Goianiense, Roldão Barros tem o jornalismo como profissão. Além dessa paixão, caminha ainda por áreas como a fotografia, a literatura e a discotecagem.
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CHEGOU COCA-COLA COM STEVIA E 50% MENOS AÇÚCARES 11
SHOW
O Rolê
Evento cultural trouxe à Goiânia artistas renomados, como Seu Jorge e Criolo Patrícia Lise
Quando o assunto é música, o cenário goianiense se destaca pela diversificação. A capital reúne festivais de músicas alternativas para todos os gostos, como o Goiânia Noise Festival e o Festival Vaca Amarela. A metrópole também é berço de grandes bandas de sucesso, como Boogarins, Shotgun Wives, Black Drawing Chalks, Carne Doce, entre varias outras. Tudo isso se deve ao público que vem crescendo cada dia mais e que não mede esforços para ouvir do sertanejo ao rock. O festival O Rolê, organizado pelos empresários Thiago Câmara e Paulo Vitor, reuniu em dois dias, uma média de cinco mil pessoas que prestigiaram bandas goianas e nacionais, no Centro Cultural Oscar Niemeyer. O evento ainda trouxe ao publico, gastronomia, arte e moda. Foram oito atrações musicais e a mistura de sons dentro da cultura goiana ficou nítida, reunindo ritmos como hip-hop, reggae-samba, samba-rock, rock-pop e rap. No primeiro dia houve shows de rappers, como Rael, 3030, a banda de hip hop Chama q é noix, e o mais esperando pelo público presente, o rapper Criolo. No segundo dia, subiram ao palco Seu Jorge, Cidade Verde, RZO e a o grupo goiano Entre Para Brisa. O organizador do evento, sócio da agência Box Dream, Thiago Câmara, conta que foi montado primeiramente um mapeamento com base em bandas e cantores que não vinham a Goiânia há muito tempo. A produtora se baseia muito em negociação, no peso do nome do artista e principalmente no que o público está pedindo. “Fizemos enquetes nas redes sociais só para atender bem ao público e o seu Jorge foi escolhido por votação”, revela. Sobre os artis-
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tas regionais, ele declara que a Casa de Música foi a responsável por selecionar todos os cantores que iriam se apresentar em um palco particular chamado Street Style, onde reuniram também duelos de rimas e grupos de dança de street dance. O cenário montado para receber o publico foi a reprodução de morros, favelas e bairros, como a Vila Madalena e o Pelourinho baiano. Thiago revela que a referência à cidade de São Paulo se dá porque é um local que influencia muito o cenario músical, e nela possui um ambiente urbano com muitas variedades. Também teve uma pegada das favelas cariocas para transparecer bem o conceito do evento. Uma ala gastronômica chamada de “Beco Gastronômico” foi montada dando espaço reservado para uma série de food trucks que ofereciam as mais variadas comidas. Além disso, o evento contou com exposições de roupas de marcas goianas, serviço de barbearia e vendas de livros. Com área destinada ao grafite, chamada o “Grito de Expressão”, foi feito um cenário que garantiu muitas fotos ao público presente. Durante os dois dias de festival, painéis foram feitos ao vivo por convidados, como Jeah Trindade, além de uma composição aberta para quem quisesse participar. E esse foi só o primeiro evento, garante o organizador: “Nós usamos o lema que não fazemos eventos, fazemos marca. O plano é fazer O Rolê anualmente, esse foi só o começo de uma longa jornada”. E o pulbico aprovou. “Espero poder vir de novo ao festival, a decoração ficou muito bem pensada e alguns dos meus cantores favoritos estiveram aqui esse ano”, declarou a estudante Bianca Barbara, de 17 anos.
FOTOS: NELSON PACHECO
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bate-papo com
CRIOLO
Batizado como Kleber Cavalcante Gomes, filho de imigrantes nordestinos, Criolo, de 40 anos, é hoje um dos artistas da nova geração mais aclamados pela crítica brasileira. Desde o álbum Nó na Orelha (2011), deixou o gueto do rap paulistano e multiplicou o alcance de sua música. O cantor se apresentou no Festival O Rolê, em Goiânia, e contou em um bate-papo com a Revista do Beco sobre sua trajetória e o seu novo projeto, uma releitura do seu primeiro álbum 'Ainda Há tempo', lançado em 2006. O primeiro disco de um dos artistas mais expressivos do gênero, quando ele ainda era conhecido como Criolo Doido. O disco é uma roupagem de vários artistas talentosos com jovens produtores e multimakers que o diretor Daniel Ganjaman teve a iniciativa de convidar. Segundo o artista, tudo aconteceu de uma forma bem natural, a ideia não era lançar algo por agora, começou apenas como um plano de fazer uma única apresentação para celebrar os dez anos do seu primeiro disco, que nunca teve um lançamento oficial. Porém, as forças foram se unindo e as energias aumentando. “Nossa equipe selecionou alguns nomes de pessoas queridas e que admiramos para participar desse projeto, e tudo foi dando muito certo”, conta.
A segunda parte veio pela direção de arte, que apresentou uma experiência nova nos shows, a comando do diretor Alexando Iori. A partir disso começaram a perceber a dimensão que poderia ser o projeto, com possibilidade de um futuro promissor. De uma ideia inicialmente simples, passou a ser uma celebração. Criolo assume que fez proveito da oportunidade que viu em sua frente, gravou mais algumas músicas e assim surgiu o nascimento de um novo disco. Quando produtores souberam dessa ideia, de imediato já solicitaram pequenas turnês, e assim o lançamento se espalhou pelo Brasil. O rapper lembra que já esteve cinco vezes em Goiânia. A primeira vez bem do início da sua trajetória, quando ainda nem imaginava que teria uma carreira de verdade. “Fazíamos do jeito que fazemos até hoje, como o coração pede. A inspiração que vem e te faz escrever alguma coisa. Nunca imaginei na minha vida que meu trabalho como artista iria me proporcionar viver as coisas que vivo”, conclui. Sobre os próximos shows, o cantor promete que as mudanças são de acordo com suas fases de vida, apesar de parceiros musicais, a essência nunca vai mudar. A sua dedicação é dividir com o público conteúdo que emocione.
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FOTOS: RODRIGO GIANESI
MÚSICA
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Princesa Destaque no cenário independente, banda Carne Doce lança novo álbum com significados além da imaginação Fernanda Moraes
Projeto oriundo de uma relação entre o casal Salma Jô e Macloys Aquino, a banda Carne Doce surgiu buscando reforçar a importância das letras em português com uma linguagem pop junto ao MPB. O quinteto, formado também por João Victor Santana, Ricardo Machado e Aderson Maia teve em 2014, o primeiro álbum eleito um dos melhores nacionais, com dez faixas inéditas. Mesmo com o preconceito e esteriótipo de "banda do interior", visto que estão longe do eixo Rio-São Paulo, o grupo vem conseguindo se manter relevante no cenário. A partir daí a banda se apresentou em importantes festivais, começou a ser reconhecida por suas músicas independentes e neste ano, exibiu o seu mais recente trabalho. Registrado em um estúdio paulista (Red Bull Studios), Princesa, que foi gravado em menos de um mês, nasce de várias vertentes em contextos diferentes. As músicas do novo CD rompem com a semelhança do disco anterior e traz poesias feministas de sua vocalista, Salma Jô. Por ter diversas personas, em entrevista para a Revista do Beco, a vocalista, explica o nome dado ao novo álbum: “Pode ser entendida como um elogio carinhoso, às vezes paternal, outras vezes pode ser apenas uma cantada barata. Uma mesma mulher pode ficar lisonjeada ou enojada com esse mesmo adjetivo, pode ser princesas diferentes, pode ser mimada, pode usar o machismo pra tirar vantagem, ou pode sofrer com ele, pode ser poderosa, pode se render”, afirma Salma. Ainda dependentes de outros empregos, os integrantes têm planos de continuar com o crescimento, ampliar público, aumentar a agenda de shows para que possam se dedicar completamente à banda.
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CRIATIVIDADE
Um encontro de ideias
Espaço para a divulgação de produtos artesanais faz do Mercado Das Coisas um verdadeiro sucesso
FOTO: GABRIEL EVAN
Gabriel Evan
Na foto, Thaty Cunha, criadora do "Mercado Das Coisas".
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Não satisfeita com o pequeno espaço disponível na capital para a divulgação de seu trabalho, Thaty Cunha teve a ideia de criar seu próprio lugar de exposição. Dona de uma linha de roupas para mulheres, sempre expôs sua marca em feiras e eventos, porém, segunda ela, o preço cobrado para participar estava ficando muito alto. “Não é todo evento que você tem um retorno”, conta. Do inconformismo, resolveu realizar o próprio centro de exposição. Assim, em fevereiro deste ano, escolheu a Rua do Lazer, no Centro de Goiânia, como o lugar para sediar a primeira edição do Mercado Das Coisas. A ideia inicial era ter 20 expositores em sua primeira edição, mas logo de inicio conseguiu fechar com 44 pessoas. Hoje o Mercado das Coisas reúne arte, gastronomia e artesanato. Thaty o denomina como “Feira de Produtos Locais”. A sexta edição do evento, realizado na Vila Cultural Cora Coralina, reuniu cerca de 70 expositores, isso porque é preciso limitar o número de
vagas. Segundo Thaty, a procura tem sido muito maior. O objetivo do projeto é dar mais espaço para as pessoas que não têm condições de expor seus trabalhos em eventos que cobram tão caro. “Meu objetivo foi fazer um evento para nós, pequenos criadores. E ele foi alcançando. Hoje vêm pessoas de outros Estados para participar do Mercado, coisa que eu nem imaginava que aconteceria”, revela Thaty. Sobre os espaços culturais disponíveis para a divulgação de trabalhos artesanais espalhados pela cidade, a idealizadora da feira conta que eles existem, mas há certa resistência dos próprios artistas em ocupá-los. “Vejo anúncios selecionando os artistas, o que os diferencia de mim? Nada!” O resultado traz números satisfatórios. A empreendedora diz que 97% dos expositores são formados por mulheres, que carregam peso e que comandam o seu próprio negócio. “O evento surgiu pra dar espaço para essas pessoas, porque elas existem, e estão por toda parte, e nós conseguimos isso”, conclui. Alguém duvida?
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mil Palavras
Olhares sobre
GOIĂ S
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FOTOS: GABRIEL EVAN
Muitas pessoas não sabem, mas Goiás possui uma imensidão de lugares marcados pela sua história e tradição que se mantém até os dias atuais. Cidades culturais onde os seus monumentos e arquitetura sobrevivem ao tempo e às ações do homem quase intactas, trazendo cada uma delas um significado, vidas contadas em cada detalhe. A cidade de Goiás é marcada por essas histórias, suas casas coloniais onde hoje habitam pessoas que mesmo se tentassem não conseguiriam definir o que já aconteceu ali. Suas igrejas do século passado onde o 'amém' foi ecoado por gerações totalmente diferentes, as ruas feitas com calçamento de pedra onde caminharam pessoas que hoje fazem parte da história regional e são adoradas pelos moradores da antiga Vila Boa, considerada desde 2001 Patrimônio Histórico da Humanidade, pela UNESCO. Andar pelas ruas da Cidade De Goiás é reviver momentos marcados por grandes acontecimentos, cada detalhe possui um grande significado. A Revista Do Beco traz uma sessão de fotos em homenagem a antiga capital do estado.
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REPRODUÇÃO
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Becos de Goiás Poema publicado por Cora Coralina no ano de 1965
Homenagem aos 95 anos da eterna poetisa da antiga Vila Boa
Conto a estória dos becos, dos becos da minha terra, suspeitos... mal afamados onde família de conceito não passava. “Lugar de gentinha” - diziam, virando a cara. De gente do pote d’água. De gente de pé no chão. Becos de mulher perdida. Becos de mulheres da vida. Renegadas, confinadas na sombra triste do beco. Quarto de porta e janela. Prostituta anemiada, solitária, hética, engalicada, tossindo, escarrando sangue na umidade suja do beco. Becos mal assombrados. Becos de assombração... Altas horas, mortas horas... Capitão-mor - alma penada, terror dos soldados, castigado nas armas. Capitão-mor, alma penada, num cavalo ferrado, chispando fogo, descendo e subindo o beco, comandando o quadrado - feixe de varas... Arrastando espada, tinindo esporas... [...]
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BOA IDÉIA
Projeto Cinematográfico Cultural A calçada do Grande Hotel, na capital goiana, tornou-se palco para exibição de filmes que levam cultura à população Fernanda Moraes
FOTOS: THIAGO CARVALHO
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A Panaceia Filmes é uma produtora audiovisual que realiza projetos de produção, formação e reflexão desde 2010 em Goiânia. Com sete curtas-metragens e um longa, a Produtora tem utilizado de som e imagem para transmitir um novo projeto cultural, que ganha as calçadas da capital pela 4° vez. A produtora e diretora de cinema, Larissa Fernandes, formada em audiovisual pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e sócia da Panaceia Filmes, conta que a proposta que tem ocupando espaços do centro de Goiânia, surgiu numa edição muito pequena na porta da extinta Fábrica Cultura Coletiva, um coletivo de empresas culturais onde a Panaceia era situada em 2011. Preocupados em ocupar espaços vazios, pelo centro da cidade de forma consciente, viram uma oportunidade quando a Prefeitura de Goiânia precisou de um projeto de cinema para a Revirada Cultural, evento realizado por meio da Secretaria Municipal da Cultura, onde havia locais específicos para apresentações como shows musicais, exibição de filmes, dança, teatro e malabarismo. A Panaceia então foi indicada por um parceiro da Fábrica, "pensamos em fazer algo que chegasse muito perto da população, então decidimos fazer uma mostra ao ar livre no centro da cidade, e foi aí que nasceu o Cinema na Calçada", conta Larissa. O objetivo principal pelos ideali-
zadores, das edições do Cinema na Calçada, é a ocupação dos espaços urbanos de forma consciente e sustentável, a democratização do audiovisual e de curtas-metragens, a formação de publico para o curta-metragem, a promoção de debates com assuntos urgentes e indução de ações que promovam cultura e pensamento sustentável para a cidade. Mesmo com alguns problemas de investimento, "a ideia era de ser uma mostra anual", afirma Larissa Fernandes. A mostra aconteceu nos anos de 2011, 2013 por incentivo da lei municipal, 2014 com o apoio da lei municipal e do edital do Correios e no ano de 2016 tem sido com o apoio da Lei Goyazes e Fundo de arte e Cultura de Goiás. Além da preocupação em fazer um panorama nacional do que está sendo produzida dentro de um tema, cada mostra tem a delizadeza de tratar de um tema específico ligado a questões urgentes que devem ser discutidas, "a cada edição nós fazemos parcerias com curadores de todo o Brasil para ser trazermos filmes com cenários amplos. Na edição de 2013 a curadoria foi de festivais temáticos de todo o Brasil, em 2014 foi realizadores audiovisuais de quatro estado diferentes e na edição de 2016 a curadoria ficou por conta da Revista de audiovisual ] JANELA[" explica Larissa, sobre as seleções de filmes exibidos no Projeto.
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NA RUA
Um show sem palco Menos de sessenta segundos, é o que o artista Gabriel Santos precisa para conquistar o seu público Patricia Lise
FOTOS: GABRIEL EVAN
Os artistas de rua têm uma função muito importante na sociedade, eles quebram as paredes físicas e imaginárias entre o artista e o público. O trânsito é extremamente estressante e na maioria das vezes, as pessoas só querem chegar logo ao seu destino. Mas quando se deparam com um artista no semáforo, muito se esquecem dos seus pensamentos momentaneamente durante os poucos segundos de apresentação. É uma forma pela qual os motoristas têm contato com expressões artísticas que provavelmente eles não iriam procurar por conta própria. Ao percorrer o centro de Goiânia, ou os principais cruzamentos, não é muito difícil avistar um artista fazendo algo fantástico. Músicos, palhaços, acrobatas, malabaristas, artesãos e muitos outros costumam colorir ruas e bordar sorrisos nos rostos de pessoas que estão sufocadas pelo cotidiano. O malabarismo é umas das principais modalidades do universo circense. É pode ser definido como a arte de manipular objetos com agilidade e precisão. Estes objetos são itens utilizados para fazer o malabarismo, o qual pode ser feito com bolas, clavas, argolas, facas etc. E está presente nos espetáculos de entretenimento há milhares de anos. O artista de rua Gabriel Santos, con-
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ta que está nas ruas há cinco anos, e não escolheu trabalhar lá por conta própria. Ele trabalhava com propaganda na empresa do seu pai, mas sempre que podia ia para o semáforo realizar suas exibições de malabarismos. Certo dia, após uma discussão, saiu da empresa e ficou trabalhando somente nas ruas. Atualmente, quando não está trabalhando em um evento, vai para rua para manter a sua renda. Segundo o artista, com o ganho dos seus shows consegue arrecadar mais que um emprego de carteira assinada, isso se trabalhar todo dia. Tempo é literalmente dinheiro e cada dia que o artista não for trabalhar, a renda cai muito. No cenário atual, as ruas são ocupadas por jovens que buscam liberdade, autonomia e prazer na atividade malabarista, que é considerada uma ocupação rentável. Sobre o preconceito, o malabarista desabafa: “Eu vejo que o brasileiro, em sua maioria, tem vontade de ajudar. Mas infelizmente grande parte ajuda por dó e misericórdia, por acreditar que a pessoa que está ali no semáforo está sofrendo e passando por necessidades. O que nem sempre é verdade”. Não se trata de pedir esmola, a atividade é uma troca de arte, prazer, lazer e cultura. Gabriel já recebeu várias demonstrações de respeito e carinho, porém
eventualmente escuta frases como: "Vai caçar um emprego, vagabundo”, "Ah! Você é malabarista? Mas emprego mesmo você não tem?", "Se não tem curso disso na faculdade, não é emprego de verdade". O que demonstra como a arte de rua tem caminhos longos a serem trilhados. Atualmente, não existe nenhuma ajuda do governo para esses artistas, e alguns políticos já entraram com projetos até para proibir as apresentações de rua. Em algumas cidades já não se pode trabalhar em semáforos. Mesmo com a criação de um sindicato para a categoria, a ajuda não veio como esperada e necessitada, e os artistas de rua, em geral, estão por sua conta e risco. Considerando que a atividade apresenta risco para a saúde e a grande maioria não tem plano de saúde. O malabarismo também pode ser visto como atividade em um processo educacional, pois é caracterizado como parte da cultura corporal. Além de divertir, pode colaborar com a coordenação física e com a capacidade de persistir para aprender. Algumas escolas adotam essa modalidade, com aulas de educação física, aplicando esse método para seus alunos. Ensinar arte em suas diversas esferas, forma crianças e adolescentes como cidadãos mais educados e conscientes.
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FOTOS: GABRIEL EVAN
Com grandes prédios, ruas e lojas, Goiânia lembra uma verdadeira selva de pedra. Mesmo no mundo havendo paisagens incríveis, os grandes centros urbanos se perdem no acinzentado. A maioria dos artistas de rua, preferem os muros ao cárcere de um museu, e agora pelos becos e vielas existem verdadeiras exposições ao céu aberto desconhecidas pela maioria da população. A Revista do Beco te convida a conhecer essas obras de artes.
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OPORTUNIDADE
Dentro do beco da codorna Loja comercializa peças de artistas locais e reúne grafiteiros da capital Patricía Lise
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e realizaram suas pinturas, então são mais de cem artistas nos painéis do Beco da Codorna. Pegamos autorização e conseguimos fazer o 360º dentro desse espaço. O Beco é a maior viela do cento da cidade”, relata. O evento durou quatro dias e a importância para a arte na cidade é notável. Foi usado o poder de transformação como uma ferramenta de divulgação e integração das artes. Goiânia tem se incluído cada vez mais no mercado e também no cenário de arte urbana nacional, e o festival foi um dos pilares que promoveu esse avanço. Foi possível falar da cidade para o Brasil inteiro, principalmente nas redes sociais, com um bom feedback, tanto que rendeu a realização do segundo evento em 2016. O beco é a oportunidade que os artistas têm de mostrar seu trabalho e seu poder, que é a companhia de vários artistas sincronizada em prol de um só objetivo. “O beco é diferente por esse motivo, pintamos uma grande extensão de parede em dois dias. Fechamos um quarteirão em 24 horas. É uma vivencia marcante com troca de experiências. Esse momento do encontro já traz uma carga de importância. Mostrar essa qualidade no resultado, e no feedback que os artistas dão sobre a recepção e os cuidados que foram tomados é muito importante para o local”, desabafa. O street arte em geral, têm feito bem sua parte para o crescimento da metrópole, mesmo sendo uma cultura internacional. É nítida a mu-
dança desde que os grafites entraram na viela, se tornou mais frequentável, inclusive é usada como palco de ensaios fotográficos, com a ajuda de iluminação e de alguns requisitos básicos para se ter segurança. “Foi surpreendente o resultado e acreditamos que isso deveria ser disseminado para dentro das outras vielas, lógico que seria necessário um apoio maior dos órgãos públicos em geral, como a prefeitura. Ajuda direta, sem burocracia, intervir e trabalhar para se colocar um paisagismo interessante”. O trabalho no Beco é independente e algumas vezes é realizado com as próprias mãos dos frequentadores, desde atos simples, como varrer e retirar o lixo (porque o caminhão não entra dentro da viela). A ideia vem atraindo famílias, jovens e crianças nos finais de semana, sendo um palco para fotografia e um estúdio a céu aberto. Convertendo entulho em arte como alimento cultural.
REPRODUÇÃO
Eduardo Fernandes de Castro, artista, grafiteiro e dono da loja Upoint, situada no Beco da Codorna, conta que o principal objetivo da loja é incentivar os artistas grafiteiros a produzirem materiais de arte. “Nós da galeria acreditamos muito no potencial estético do grafite como obra de arte, então queremos ver mais telas e produtos de amigos artistas à venda, inserindo o grafite no cenário urbano e conseguindo comercializar suas peças”, declara o artista. A ideia de abrir a loja no beco surgiu de uma visita, no ano de 2014, para participar de um evento universitário. O local estava abandonado pelo poder público, mas havia um imóvel para ser alugado por um bom preço. Inicialmente o projeto era de se construir um ateliê para produção de telas e trabalhos artísticos. Porém, depois de alugado foi percebido o qual grande poderia ser o projeto. Eduardo convidou alguns artistas e assim montaram uma proposta de grafitar todas as paredes do beco, para transformar o espaço em uma zona habitável. Na época havia muito descaso no local e as paredes estavam danificadas com as ações do tempo. E o grafite transformou o abandono em um museu de arte urbana. O Festival do Beco foi a maneira encontrada de reformar a viela. Eduardo foi o curador, e fez questão de convidar todos os artistas pessoalmente. E assim aconteceu a primeira edição do festival, que foi o primeiro encontro nacional de grafite na cidade de Goiânia. “Conseguimos artistas de todo o Brasil, que vieram para cá
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ARTIGO
Por Warlos Morais
Divagações por becos e ideias Para e pensa: você está agora no centro da cidade... Estava caminhando e pá.. deu de cara com um beco! Sua mente curiosa começou a funcionar: O que tem ali? Perigo? Prazer? Será que lá é bom? Talvez não! Talvez sim! Mas parece não ter uma alma viva! Mas o que o seu olho alcança só colabora com a confirmação negativa daquele lugar relés. Aí mais coisas vêm a mente. Que nojo! Esse lugar é muito sujo! Será que ninguém cuida daqui? Lugar inútil! Aff!! Os becos daqui foram planejados com uma finalidade, inicialmente para carga e descarga, mas isso quando Goiânia era idealizada com poucos habitantes. O tempo passou, o número de habitantes começou a crescer progressivamente e aqueles becos pacatos começaram a fazer parte de uma cidade desenvolvida. Aqueles corredores longos cheio de rachaduras, uma moita aqui outra ali, o cheiro de mijo misturado com esgoto, ainda é um lugar frio, sombrio, que às vezes nos deixa a entender que é um lugar reservado apenas para a ratataia da sociedade. Mas nesse lugar existem moradores e comerciantes que na maior parte do seu tempo habitam ali. O que pouco pude saber é que naqueles becos um dia viveram famílias, que matavam todos os fins de tarde na calçada... até que um dia alguém maior, decidiu: Não! esse espaço pode ser meu, vou usá-lo para um melhor fim! E S T A C I O N A M E N T O! Mas não são as grandes empresas as únicas oportunistas da história. Num belo dia, eis que uma tendência surge entre grupos no centro da cidade. Um aluno de publi orientado por um aqui, um agitador cultural ali, um grafiteiro acolá e pimba! “Nossa, pensamos as mesmas coisas!” “Vamos transformar os becos em uma zona cultural!”. E o pior que transformaram. Um lugar que não
tinha graça de maneira tímida começou a ganhar vida, os encontros eram marcados quinzenalmente, depois mensalmente e viraram rotineiros. Daí quem não tinha espaço ou visibilidade e se identificava com a característica alternativa da cidade se juntava no rolê e o ajudava a se fortalecer. A aglomeração de pessoas só aumentava. As pessoas que acreditam na possibilidade de viver da arte faziam saraus, performances de teatro, rinhas de mc’s, dança de rua e etc. O eventos começaram a fazer sucesso e começou a chamar a atenção não só de jovens desvairados, pobres que farejava festinhas 0800. Profissionais da arquitetura, professores e articuladores artístico-sociais começaram a apoiar e a incentivar o movimento que parecia cada vez mais tomar corpo. Em 2014 o Ocupa Goiânia, evento organizado pelo Crea GO, que preocupados com a infraestrutura da cidade estimulou diversas atividades espalhadas pelo centro, a fim de chamar a atenção da população para lugares que supostamente estavam abandonados. O beco mais famoso, o da codorna, foi um deles. Porém o evento teve apenas uma edição e de lá pra cá veio se recolhendo timidamente da mesma forma com que se iniciou. Um evento mês sim, outro não, os públicos começaram a mudar, as ocupações começou a tomar outros moldes, passou a haver evento fechados com bilheteria, sons com volume máximo e que viravam a noite. Os organizadores de alguns eventos usavam o espaço sem se atentar para o que existia ao seu redor, houve raves que virava noites. Final da história: O beco foi embargado por meio de denúncias de incômodos e mal uso do espaço público. O tiro (revitalização) saiu pela culatra. Hoje a ocupação que há nos becos de Goiânia voltou a ser a mesma de 4,5 anos atrás, alguns usuários de drogas e carros e mais carros. Warlos Morais, comunicador experimental
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MODA
Um toque goiano Brasil afora A jovem estilista Lara Vaz se destaca no meio da moda por sua criatividade e ideias singulares Gabriel Evan
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Os microempresários goianos vem se destacando pela sua originalidade e tem levado criatividade para varios cantos do país. Mesmo com a crise financeira que atinge o Brasil, 67% dos jovens microempreendedores brasileiros estão otimistas em relação ao futuro de suas empresas, é o que diz pesquisas recentes realizadas pelo serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). As criações independentes e as customizações tem se tornado um campo promissor no mundo da moda. O estilo de roupas masculinas nada formais foi o portão de entrada para a jovem estilista Lara Vaz se sobressair em um mercado tão análogo. Formada em moda e apaixonada por viagens, Lara percebeu a escassez no universo masculino quando o assunto se tratava de moda. “Notei que havia muitas marcas vendendo produtos parecidos e limitados. Assim enxerguei uma oportunidade neste mercado”, declara a estilista que juntou seu estilo próprio e a paixão por arte e moda para criar camisas totalmente exclusivas e diferenciadas. Com muitas ideias para diversificar um estilo de moda tão formal, Lara criou há quatro anos a marca de roupas QUIM, com o intuito de criar camisas diferentes e únicas. O nome da marca surgiu da abreviação de Joaquim, que traz referencia a um nome tradicional brasileiro que se adequa em qualquer
tempo, e é o que Lara gostaria de fazer com suas roupas. Com criações próprias da estilista, que fez mestrado em design, a loja de camisas também traz coleções assinadas por artistas de renome, como a dupla de designers gráfico goianiense Renato Reno e Douglas de Castro, do Bicicleta Sem Freio. A estilista define as suas criações como “nada convencional”, com modelos alegres e coloridos. A marca já encontrou o seu espaço Brasil afora, hoje é possível encontrar o estilo goiano em feiras e lojas cariocas e paulistas. Mas não se limita ai, a estilista declara que metade de sua produção é distribuída para grande parte do Brasil pelo e-commerce. Mesmo com a ideia inicial de ser uma loja totalmente voltada para o universo masculino, as produções também podem ser adquiridas por mulheres, a sua criação diversificada e suas estampas artísticas fazem com que a marca siga um estilo sem distinção de gêneros. O universo microempreendedor surpreende a todo o momento, mentes criativas surgem com ideias singulares tornando o mercado da moda um leque de opções. A estilista da a dica para quem está começando e pretende investir nesse ramo. “Trabalho duro em primeiro lugar, sempre ser persistente nas adversidades e bastante estudo.”, conclui.
Estilista Lara Vaz
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beco INDICA
Fuja do comum Em um espaço inovador, Urbano Gastronomia e Cultura, mescla culinária, muita arte e boa música Fernanda Moraes
Inaugurando em junho desse ano, o Urbano veio somar junto a cultura tradicional de Goiânia. Desde a abertura do Bar, o publico da capital mostra estar na contra mão do que a cidade tem proporcionado em bares e boates sertanejas. O bar tem se comunicado com mais inteligência com a cultura urbana goiana, por meio do ambiente que possui obras de arte e painéis para exposições que são renovados para dar espaço a outros nomes locais e shows que variam entre o pop, rock, MPB, reggae e bandas independentes da capital. A gastronomia alinhada com exposição artística e shows diários é um modelo de negócio movimentando pelo publico alternativo e já existente em grandes capitais brasileiras como, Rio de Janeiro e São Paulo. A ideia se consiste em trazer o que a Baixa Gávea oferece. Localizado na Gávea, um dos bairros do Rio de Janeiro, o Baixo é uma concentração de bares, cerveja e gente bonita. Assim como também é visto na Vila
Madalena, na capital paulista. O lugar reúne vários artistas e intelectuais. Segundo a página do bairro na internet, a partir dos anos 80, começaram a surgir bares e uma série de negócios incrementados galerias de arte, ateliês e lojas de grife. Além de se inspirar em grandes capitais, o Urbano seguiu a linha do Tabu Cervejas Especiais, antigo bar do empresário Renato Gimes, hoje um dos donos do bar cultural. ''A ideia surgiu de mostrar artistas de ruas, grafiteiros que hoje são artistas que expõe em galerias de arte'', explica o empresário. Segundo o Atlas do Censo Demográfico 2010, lançado em 2013, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Goiânia é uma, das capitais brasileiras com maior atração de migrantes no Brasil. A metrópole se destaca por apresentar os maiores resultados de saldos migratórios, isto é, mais pessoas vêm viver aqui do que se mudam para outros lugares. Na mesma pesquisa, São Paulo e Rio de Janeiro, por outro lado, deixaram de FOTOS: GUILHERME AUGUSTO
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ser os principais polos de atração do país, embora seu volume de imigrantes e emigrantes seja significativo. Assim, Goiânia tem um percentual significativo de público que vem de fora para mesclar com ideias diferentes, como Renato Gimes, empresário sócio do Urbano Gastronomia e Cultura, que mora a 10 anos na capital. A cidade tem mostrado o amplo espaço para opções de acesso a cultura urbana, ''a capital tem a necessidade de se expor. Roupas boas, bons carros e a cultura urbana vem pra descomplicar, é ser mais básico e desapegado em relação a produtos, compras e etc; o Urbano é o lugar de encontro da galera que carecia desse ambiente.", analisa Renato. Anota aí! Onde: Urbano – Gastronomia e Cultura (Rua São Luis, Qd. 3, Lt.15 Setor Alto da Glória) Funcionamento: Terça a Sexta das 18h às 23h / Sábado e Domingo das 11h às 23h
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PLURAL
Bem comum Coletivos que integram a sociedade ocupam espaços urbanos com arte Fernanda Moraes
Movimentos buscam um proposito comum, interagir com a sociedade como um todo, sem distinção de raça, cor, sexo ou idade, na construção de um bairro, cidade ou mundo melhor.
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COLETIVOADOR
APOIA, COLABORA E REALIZA FOTOS: REPRODUÇÃO
Feira Verde: promove ações de conscientização ambiental em feiras livres e reaproveita os resíduos orgânicos gerados na feira para desenvolver hortas urbanas; Gelateratura: propõe a reforma e customiza geladeiras em desuso e as distribui por toda a cidade de Goiânia, eerecheados de livros, incentivando a leitura e a troca de conhecimento; Rede de oficineiros: por meio de troca e da conexão dos saberes propõe a reciclagem e a reutilização de conceitos e ideias, como meio de estimular uma reconstrução cultural, social e ambiental, por meio de oficinas, workshops e rodas de conversa.
Projetos realizados pelo ColetiVoador
A partir de discussões sobre conscientização, reconstrução, transformação, reutilização, essência, redução, reciclagem, decoração, junto a uma grande amizade, a artista circense Radarani Oliveira e o artista visual Wemerson Jhones deram início ao Coletivoador, no final de 2013, criando uma base para consolidar a ideia de um coletivo. Resíduos ligado à sustentabilidade, reaproveitamento e reciclagem fizeram com que os amigos acreditassem no potencial da transformação. “Procurávamos madeira na rua, móveis, objetos e quaisquer coisas que a gente acreditava ter um potencial pra ser transformada em outra. E descobrimos que com criatividade e mão na massa, se faz qualquer coisa, dá pra transformar de verdade”, afirma Radarani. O nome, Coletivoador, veio da junção de uma peça de roupa, o colete, que segundo a artista, é um acessório muito usado e remete ao tanto de peças que não são tão essenciais, mas que acabam descartados com rapidez e frequência, resultando o consumo inconsciente e voador pelo fato de “criar asas e ter imaginação”. No começo, o Coletivo comercializava produtos artesanais na Feira da Gambira, um encontro realizado pelo grupo, onde o dinheiro não entrava,
mas sim a troca, tanto de qualquer tipo de produtos que não eram mais usados, até de ideias e saberes. O evento durou cinco meses, mas o Coletivoador se manteve firme em seus ideais. Em 2015, Radarani Oliveira, que já tinha sua própria marca – a Dara –, que produzia carteiras, abajures e brinquedos, contou com mais dois apoios. A professora de história, que trabalha com teatro e arte educação, Maria Caroline, e a designer de moda, Gisliane, dona de uma marca de roupas de moda sustentável e consciente, o Limoeiro Azul. Usando a criatividade como ferramenta essencial de reconstrução do meio em que se vive, o Coletivoador se tornou um projeto que reúne artistas que tenham como principal fundamento a reutilização e a reciclagem de resíduos, e núcleos que desenvolvem ações sociais e comunitárias de estímulo à arte, à cultura e à conscientização ambiental. Com a política dos 5Rs (Reduzir, Repensar, Reaproveitar, Reciclar, Recusar consumir produtos que gerem impactos socioambientais significativos), o Coletivo propõe estimular e fomentar a criação e comercialização de produtos artesanais confeccionados a partir de materiais recicláveis, prin-
cipalmente por meio de oficinas realizadas. “Desenvolvemos um trabalho de formiguinha, que vai preparando o terreno, cativando as pessoas, tentando amenizar um pouquinho que seja os impactos ambientais e sociais”, conta Radarani. Assim para os idealizadores do Coletivo, os colaboradores são pessoas de toda parte do mundo que reaproveitam o lixo ou fazem o depósito dele no recipiente adequado. “A gente acredita na construção de um mundo melhor e em ferramentas pra se construir isso. A nossa ferramenta é o reaproveitamento, a reciclagem de ideias, hábitos, saberes. E qualquer um no mundo inteiro que compactue, colabore e utilize essas ferramentas, tá colaborando! Ou qualquer um que também se utiliza de outras ferramentas além dos resíduos, mas que tenham como ideal um mundo melhor, também tá colaborando! Então, temos vários colaboradores espalhados pelo mundo. E queremos evidenciá-los. Mostrar pros goianos, que existem pessoas fazendo coisas boas demais da conta nesse mundo afora, precisamos nos inspirar e botar a mão na massa pra construirmos uma cidade melhor pra gente, uma cidade de pessoas para pessoas”, conclui Radarani.
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VERACIDADE Alcançar a real transformação dos espaços urbanos é essa a abordagem principal do Coletivo Veracidade. Em outubro de 2016, o Coletivo completa, oficialmente, seis meses. As idealizadoras, Anna Carolina Cruz e Camila Dias, ambas estudantes do 8° período de Arquitetura e Urbanismo da PUCGO, sentiram-se insatisfeitas com problemas que as questões urbanas geram para quem reside na cidade de Goiânia. Com o propósito de ver a cidade refletir de modo direto ou indireto sobre ela mesma, decidiram intervir por meio de ações sociais, urbanas, inclusão social e sustentabilidade. Deram início aos projetos, apresentando questões urbanas na 2° Mostra de Arte Urbana no Brasil Central, um evento que contempla as diversas linguagens artísticas com identificação com as ruas. A edição teve como missão buscar a continuidade de fomento às iniciativas que valorizam a cultura, promovendo debates sobre assuntos de interesse coletivo e temas sobre consciência urbana. Ainda bem jovem, o Coletivo Veracidade se apresentou no 22º Goiânia Noise Festival, com mobiliários simples, trabalhados nos materiais brutos de forma prática para trazer a tona questões sobre a responsabilidade coletiva com o meio urbano. Na Mostra de decoração Morar Mais por Menos 2016, com a proposta "high and low", apresentou ambientes com soluções criativas e sustentáveis, junto a itens mais caros e sofisticadas, dimensionando com charme e estilo o custo final dos projetos. Assim cada vez mais bem definido, segundo Anna Carolina e Camila Dias, o Coletivo Veracidade trata de uma abordagem sistêmica, onde cada ciência tem seu espaço de voz, com foco em soluções urbanas. No Coletivo a troca de conhecimentos e interesses é fundamental, pois, atuam sem hierarquias, de forma bem horizontal. “Com paciência e muita coletividade trilharemos o caminho para melhor vermos e construirmos a cidade que queremos”, concluem as idealizadoras. CENTOPEIA Empresas voltadas para Economia Criativa deram vida ao Coletivo Centopeia. Completando seus nove anos nesse mês de setembro, o Coletivo
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Coletivo Veracidade
Coletivo Centopeia
teve vários formatos. A ideia, desde o começo, era um espaço inovador e descontraído para atender os clientes das empresas, criar uma rede de networking mais ampla e compartilhar a quem se interessasse. Sabrina Del Bianco, a principal idealizadora do Centopeia, foi responsável por incentivar cada desejo individual dentro do Coletivo. São 12 fundadores, incluindo a idealizadora que criaram um espaço plural, criativo, inovador e descontraído para reunir profissionais que compartilham do mesmo ideal. Para dividir potenciais criativos e gerar transformação social, os fundadores, dividem a vivência da coletividade se apoiando em três pontos que são o alicerce do Centopeia: A Escola Criativa, que conta com atividades que podem ser gratuitas, como a Oficina de Arte Urbana com Papel, que propõe a experimentação do papel na criação de
texturas, formas e volumetrias aplicadas em instalações artísticas e ações urbanas; e a Oficina de Mobiliário Urbano, que além de ensinar técnicas de criação e construção para fabricação de mobiliário urbano temporário e despertar o olhar pela apropriação do espaço verde disponível nas praças, também mostra a importância de tratar a cidade com extensão da nossa casa, alertando para o pensar, o cuidar e viver os espaços públicos da cidade. O Espaço Plural são os ambientes cuidadosamente projetados para inspirar a criatividade, em espaços colaborativos e produtivos de trabalho e criação. O coletivo disponibiliza para locação, salas multiuso, salas de reuniões, ateliês de uso coletivo e um amplo jardim para eventos. O terceiro ponto é a Potencializadora, que tem como objetivo estimular o que um negócio tem de melhor. O Centopeia
conta com profissionais qualificados e com experiência nas áreas de comunicação, design, inovação, web, marketing e pessoas para ajudar empresas ou clientes a desvendar seu potencial e proporcionar ferramentas que possibilitam reforçar seu crescimento. Mais que um espaço, os profissionais inseridos no Coletivo buscam uma forma diferente de fazer e estar na sociedade. Sabrina Del Bianco afirma que hoje, após nove anos e junto aos outros fundadores, conseguem fazer uma projeção de onde querem chegar de forma clara e conseguem perceber um resultado do “trabalho de formiguinha” que construíram ao longo do caminho. “Aqui não só trabalhamos, mas também vivemos o espaço e as pessoas, somando, dividindo e multiplicando nossos potenciais criativos para gerar transformação social”, finaliza a idealizadora do coletivo.
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ARTE
Cruzando fronteiras De universitários à profissionais respeitados, dupla do Bicicleta Sem Freio ganhou o mundo com sua arte autoral e estilo único Gabriel Evan
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O traço singular e o mistura de cores vivas são uns dos pontos que tornam o trabalho da dupla do Bicicleta Sem Freio, Renato Reno e Douglas Pereira, algo único. Os amigos, que se conheceram no curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (UFG), iniciaram o projeto em 2007 com mais outros oito integrantes. O primeiro interesse pela criação do estúdio surgiu quando a turma de estudantes viajaram para um congresso de designers no Sul do país, em 2004, e ao perceberem a quantidade de universitários que já atuavam na área eles se interessaram pela ideia. Com a intenção de ser apenas um projeto de faculdade e um meio para a busca de conhecimento, o nome Bicicleta Sem Freio surgiu de uma ideia despretensiosa e aleatória, que segundo Douglas foi criado apenas para a turma, formada por universitários, curtir, sem nenhum compromisso. A inserção do Bicicleta Sem Freio no cenário internacional surgiu de um convite para pintarem um muro em um festival em Las Vegas, após a organizadora do evento encontrar o desenho dos ilustradores goianienses na internet enquanto pesquisava, para ela, uma tatuagem nova. Mesmo não tendo habilidades em muralismo, eles aceitaram o convite. “Nós queríamos mesmo era viajar”, ressalta Douglas em tom de brincadeira. A partir dai a dupla de ilustradores
ganharam o mundo, novos convites surgiram e as viagens para o exterior se tornaram mais frequentes. Os desenhos criativos, inspirados em cartazes dos anos 70, ganharam os muros de Miami, Portugal, Londres, Berlim e vários outros países em pouco tempo. Não demorou muito para que grandes marcas se interessassem no trabalho da dupla, empresas como Nike, Converse e Som Livre, já receberem um toque especial em cartazes produzidos pelo Bicicleta Sem Freio. Para Renato, o sucesso do seu trabalho ainda é algo que ele não esperava. “Já são mais de 10 anos, ainda não caiu a ficha de nada.”, declara ele, em uma entrevista cedida para a Revista do Beco. Hoje a dupla vive dos trabalhos desenvolvido pelo BSF, mas Renato lembra que ambos já tiveram que fazer tarefas paralelas para se manterem e que para conseguirem o reconhecimento que tem hoje foi preciso muita persistência. “Ter um trabalho autoral e conceitual requer muito murro em ponta de faca”, afirma. Renato e Douglas voltaram ao cenário Goiano ilustrando uma das paredes do grande prédio da biblioteca do Centro Cultural Oscar Niemeyer, em 2015, para o 17º Festival Bananada, mas se engana quem pensa que foi só nesse evento que os desenhos autorais da dupla tomaram conta do cenário goianiense. O BSF já produ-
FOTOS: HOOKEDBLOG
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ziu ilustrações que hoje compõem a fachada interna da Diablo Pub, reconhecida boate da capital, além de pintaram a pista de skate da Ambiente Skate Shop e de produzirem vários trabalhos pela cidade. Muito se discute que o cenário cultural ligado à arte de rua da capital não tenha o seu reconhecimento merecido, para Renato é preciso um debate mais sóbrio e inteligente sobre as ocupações dos espaços públicos e manifestações artísticas voltadas ao muralismo, grafite e pintura manual de painéis. ”É preciso sim um apoio maior dos governantes e politicas publicas voltadas para a construção, debate, informação sobre todo tipo de manifestação artística”, ressalta. Para eles, canais de comunicações mais novos, como youtubers, blogs e portais digitais estão dando mais abertura a inserção da divulgação dessas manifestações artísticas que vem acontecendo com tanta frequência no cenário cultural de várias cidade, porém as mídias tradicionais, como tv e jornais impressos de grande alcance, ainda carecem de um pouco de interesse em relação aos artistas. “... mas isso não é uma regra [...] Temos espaços diferentes e situações distintas.”, declara Renato. Para o futuro, Renato e Douglas demostram interesse em inserir as ilustrações em diferentes suportes, e que outros novos objetivos ainda são incertos. “Queremos explorar a escultura, mobiliário, papel de parede, não temos certeza ainda”, conclui.
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REPRODUÇÃO
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MANEIRAS DE SER
Toda forma de
AMOR!!
Todos os sentimentos valem a pena e precisam ser respeitados Patrícia Lise
A Parada do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) irá acontecer no dia 04 de Setembro, em frente ao Parque Multirama, a partir das 12 horas. O evento promete uma grande passeata pelo centro da capital, pedindo o fim da violência contra LGBTs. Sendo essa a segunda edição em 2016, a primeira aconteceu em agosto, com o tema “Transforme a sua dor em luta”. O objetivo é marcar a batalha da comunidade LGBT por maior visibilidade social e pela necessidade de se criar leis que garantam os direitos para o grupo, como a recente conquista pelo direito de se usar o nome social em todos os âmbitos da vida cotidiana. O manifesto traz a temática “Identidade de Gênero é direito”, que tem por finalidade descontruir padrões pré-determinados sobre a sexualidade e a aceitação da pessoa de acordo com o qual ela se identifica, não havendo, necessariamente, correspondência com características físicas do indivíduo. As identidades de gênero abrangem a complexidade humana e não seguem o padrão de classificação “homem” e “mulher”, correspondente à visão social tradicional. Existem pessoas com mais de um gênero, as transgêneros, com gênero fluído como as drag queens e o genderqueer, que abrem a perspectivas para novas formas de ser. Drag queen, drag king ou Genderqueer são pessoas que se caracterizam como sendo do sexo oposto, fantasiando-se com o intuito geralmente profissional de fazer shows e apresentações em boates, bares e evento.
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Apesar de na maioria das vezes os drag queens e kings sejam homossexuais, essa orientação sexual nem sempre é inflexível. Podendo os mesmos serem também bissexuais, assexuais e até mesmo heterossexuais. O sexo biológico não corresponde ao sexo psicológico e esse esclarecimento precisa ser ouvido. É necessário abrir os leques para as diferentes formas de enxergar e compreender o ser humano, pois sexo, gênero e orientação sexual entraram no contexto de identidade cultural e condição humana. O preconceito ainda é o principal agente de exclusão e discriminação, e a Parada LGBT expõe a necessidade da conscientização e do respeito por uma minoria que está se multiplicando e abrindo espaço por si só dentro da sociedade. A escolha de uma identidade possibilita a inclusão de um sujeito no mundo social, pois o gênero se refere a como a pessoa se autodetermina, independente do sexo, e está mais relacionado ao papel que o indivíduo tem na sociedade e como ele se reconhece. Desse modo, essa identidade seria um fenômeno social, e não biológico. A organização realizará testes rápidos para identificar o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), e serão distribuídos 50 mil preservativos, incentivando a proteção contra doenças sexualmente transmissíveis. As vias que fazem parte do trajeto devem ficar fechadas até o fim do percurso para garantir a segurança de todos os participantes. A expectativa é que 50 mil pessoas participem do movimento e que possamos caminhar para um Goiás sem transfobia e homofobia.
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