Plano de infraestrutura verde uma estratégia para requalificação do ribeirão cocaia

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Plano de Infra-Estrutura Verde: Uma estratégia para requalificação da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Cocaia


Plano de Infra-Estrutura Verde: Uma estratégia para requalificação da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Cocaia

Arq. Ciro Cesar O. Vidotte Arq. Patrícia de Lima Nishi Eng. Silvia Coelho Santiago

Trabalho de Conclusão de Curso na disciplina

AUP 5859—Estúdio de Infraestrutura Verde Programa de Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo —FAU-USP Prof. Dr. Paulo Renato Mesquita Pellegrino

2


Sumário: 1. Resumo

4

2. Introdução

4

2.1 O processo de expansão urbana sobre as áreas periféricas 3. Contextualização da área de estudo

7

4. Infraestrutura Verde

12

5. Diretrizes Projetuais

16

6. Cinturão Verde

19

7. Conclusão

24

8. Referencias Bibliográficas

25

3


1. RESUMO

Paulo, está ligado diretamente com um sistemático comprometimento da drenagem natural, através das canalizações e sobreposições, com o propósito de viabilizar a construção de seu sistema viário para a crescente frota de veículos. A especulação imobiliária também faz parte desta sistemática, por se beneficiar da valorização destas áreas, empurrando a população carente para áreas periféricas, sobretudo sobre as áreas de mananciais sendo muitas não urbanizadas e não urbanizáveis, como apresentam Wilheim:

A área de intervenção está localizada ao extremo sul do município de São Paulo entre as bacias hidrográficas Bil-

lings e Gurapiranga e dos rios Capivari e Monos. Esta região apresenta 90% de seu território como parte integrante da Área de Proteção dos Mananciais. A fragilidade com que se encontram expostos os cursos de água da região, determinaram a escolha de um trecho do Ribeirão Cocaia como área de estudo para o desenvolvimento da proposta de implantação de um sistema de infraestrutura verde como um modelo de planejamento urbano de baixo impacto como estruturador da requalificação urbana ambiental.

A estratégia de urbanização dos migrantes pobres, bem como o atendimento de demanda da população pobre em geral, dá-se pela ocupação de áreas públicas, loteamentos clandestinos, posses na periferia da cidade, ocupação de áreas de risco em aclives sujeitos a deslizamentos, em locais de preservação de mananciais e margens de águas; dá-se também através de “puxadinhos” construídos atrás da casa, criando seja cortiços de quintal, seja ampliações para o aumento da família. (WILHEIM, 2011, p.147)

2. INTRODUÇÃO 2.1. O PROCESSO DE EXPANSÃO URBANA SOBRE AS ÁREAS PERIFÉRICAS

Os inúmeros impactos ambientais causados pelo empobrecimento da drenagem natural no município de São Paulo que ocorre ao longo dos anos, devido a canalizações e tamponamentos

O crescimento da cidade de São

4

rios e córregos, impermeabilizações do solo com seus asfaltamentos, alta densidade demográfica e dos assentamentos urbanos informais, alto índice de construções e baixo índice de cobertura vegetal, trouxeram como consequências, o surgimento do fenômeno climático caracterizado como “ilhas de calor”, além da poluição do ar, poluição dos corpos d’água, enchentes, deslizamentos dentre outros.


Figura 1 .Mapa da Temperatura da Superfície do Município de São Paulo

Figura 2 . Mapa do índice de área foliar do município de São Paulo.

Fonte: BARROS, H. R.; LOMBARDO, M. A. - Acesso: Nov.2016.

Fonte: BARROS, H. R.; LOMBARDO, M. A. - Acesso: Nov.2016 5


Para tanto, as propostas aqui

aparentemente desconexas que fazem o

no Estado de São Paulo.

apresentadas pautaram-se no reesta-

dia-a-dia da cidade, e para coordenar

belecimento dos processos ecológicos,

milhares de ações incrementalistas, é

ambientais e sociais da região e na cri-

necessária uma nova atitude para com

ação de uma paisagem dinâmica atra-

a cidade e sua conformação. A cidade

vés da inserção de novos espaços livres

precisa ser reconhecida como parte da

públicos, tendo como enfoque a aplica-

natureza e ser projetada de acordo com

ção da infraestrutura verde como miti-

isso. A cidade, sua periferia e o campo

gadora dos danos ambientais em um

precisam ser vistos como um único sis-

As dinâmicas nos processos de expansão urbana da Região metropolitana de São Paulo envolvem desde grupos sociais de baixa renda caracterizados pelos loteamentos irregulares e o processo de favelização, como grupos de médio e alto poder aquisitivo caracterizados pela disseminação dos loteamentos e condomínios fechados na paisagem urbana.

ambiente urbano consolidado. Para es-

tema em evolução dentro da natureza,

te estudo tomou-se como recorte, parte

como cada edifício e parque devem ser

O alto valor do solo urbano acaba

da bacia do Ribeirão Cocaia, perten-

vistos dentro daquele todo maior. O va-

por impactar diretamente nas dinâmi-

cente à subprefeitura da Capela do So-

lor social da natureza precisa ser reco-

cas urbanísticas das grandes cidades,

corro, zona sul do município de São

nhecido e seu poder, mais do que com-

desta forma a procura por habitações

Paulo.

batido, deve ser aproveitado. A nature-

em áreas de baixo custo intensificam as

A infraestrutura verde se refere

za na cidade precisa ser cultivada como

ocupações irregulares e impulsionam as

à ideia de que a natureza nas cidades

um jardim, em vez de ser ignorada ou

populações mais carentes para as áreas

deve ser administrada de forma inte-

subjugada. (SPIRN, 1947, PELLEGRI-

distantes dos centros urbanos.

grada da mesma maneira que a infra-

NO, 1995, P.21)

“...é nas áreas rejeitadas pelo mercado imobiliário privado e em áreas pú-

estrutura cinza. (GREEN INFRASConforme apontado por Meyer et

blicas situadas em regiões desvaloriza-

al. (2004), Reis e Tanaka (2007), o pro-

das é que a população de baixo poder

cesso de urbanização brasileiro a partir

aquisitivo vai se instalar: beira de cór-

Para aproveitar as oportunida-

da segunda metade do século XX mar-

regos, encostas dos morros, terrenos su-

des inerentes ao ambiente natural da

cou a formação das regiões metropolita-

jeitos a enchentes ou outros tipos de ris-

cidade, para ver além dos custos e be-

nas, o processo de verticalização e o aden-

cos, regiões poluídas, ou... áreas de pro-

nefícios a curto prazo, para perceber as

samento das áreas já urbanizadas, além da ex-

teção ambiental. ” (Maricato, 2003,

consequências

pansão das áreas periféricas principalmente

p.31).

TRUCTURE, 2004). Assim como apresenta Spirn:

das

inúmeras

ações 6


A expansão urbana informal a que as cidades estão expostas ocorre em grande velocidade expondo a fragilidade do poder público como agente regulador do solo urbano ocasionando perdas econômicas, sociais e ambientais, desta forma grandes áreas periféricas sofrem com a falta de infraestruturas urbanas como saneamento, transporte, equipamentos institucionais e mesmo espaços livres públicos destinados ao lazer.

3. CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

da promulgação da legislação dos ma-

priedades urbanizáveis e urbanizadas, impedindo a valorização e frustrando expectativas de lucro imobiliário. O grau de conflito é determinado pela intensidade da desvalorização imobiliária. Já a intensidade da desvalorização imobiliária é determinada pela intensidade das restrições ao uso e à ocupação do solo. Assim o conflito com proprietários e usuários da área de proteção dos mananciais não é apenas uma decorrência da proteção, mas é também decorrência do modo de proteção adotado

nanciais) a política pública de proteção dos mananciais estabelece restrições urbanísticas compatíveis com os padrões da periferia. Seu efeito foi a ocupação dessas áreas em padrões compatíveis com a legislação de proteção dos mananciais.

Nas áreas de maior restrição - as áreas de primeira categoria (faixas marginais aos corpos de água protegidos, matas e todas as formas de vegeta-

A subprefeitura de Capela do So-

ção primitiva, e declives superiores a

corro localiza-se no extremo sul do mu-

60%) a política pública de proteção dos

nicípio de São Paulo entre as sub-

mananciais impede o uso urbano e obri-

bacias hidrográficas Billings e Guara-

ga seus proprietários a preservar a ve-

piranga e dos rios Capivari e Monos.

getação nelas existente, sem qualquer

A região apresenta 90% de seu

utilidade para eles. Seu efeito foi a de-

território como parte integrante da

socupação das áreas de primeira cate-

Área de Proteção dos Mananciais.

goria, expondo-as às invasões, bem co-

A legislação de proteção dos mananciais dividiu as áreas por categorias de restrição, em uma dessas categorias, transfere os encargos da proteção aos proprietários e usuários da área protegida. Por consequência reduz as possibilidades de aproveitamento das pro-

mo a destruição das matas, na expectativa de descaracterizar a restrição. Nas áreas de menor restrição - as áreas de segunda categoria classe Figura 3 .Mapa de Localização da Subpre-

"A" (áreas já urbanizadas por ocasião

feitura de Capela do Socorro em relação ao Município de São Paulo

7

Fonte: Elaborado pelos Autores, 2016


Nas demais áreas, áreas de segunda categoria classes "B" e "C" (maior parte da área protegida) a política pública da proteção dos mananciais estabelece restrições urbanísticas muito exigentes relativamente aos padrões da área urbanizada. Seu efeito foi o descontrole da expansão urbana nestas áreas nas imediações das áreas já urbanizadas. Como forma de preservar os recursos hídricos, surtiu um efeito inverso, “As grandes limitações impostas à ocupação do solo interferiram no mercado fundiário fazendo com que o preço da terra tivesse uma queda relativa” (Silva, 1997, p.76.), desta forma a região da Capela do Socorro, com suas extensas áreas verdes e baixo custo da

Figura 4 .Ocupações Irregulares Sobre o Ribeirão Cocaia

terra passaram a constituir extensas

sula do Cocaia tomam grandes dimen-

reservas de espaços livres disponíveis

sões, ocupando quase por completo o

para moradia das camadas mais ca-

território. Mais ao sul há presença de

rentes da população, fato este refletido

chácaras e sítios com baixa densidade

na paisagem da região.

populacional. Devido a sua localização entre duas bacias hidrográficas, a subprefeitura da capela do Socorro apresenta inúmeros córregos sendo o de maior extensão o Córrego Reimberg Cocaia ou Ribeirão Cocaia.

Uma paisagem marcada por contrastes, na margem direita da Represa Guarapiranga encontram-se bairros de alto padrão, ao sul destes bairros há existência de diversas ocupações irregulares, ocupações estas que na penín8

e Represa Billings. Fonte: Prefeitura Municipal de São Paulo


A fragilidade com que se encontram expostos os cursos de água da região, determinaram a escolha de um trecho do Ribeirão Cocaia como área de estudo para o desenvolvimento da proposta de implantação de um sistema de infraestrutura verde como mitigador dos danos ambientais na região. O trecho escolhido inicia-se na Avenida Dona Belmira Marin e se estende pelo Ribeirão Cocaia até sua foz na Represa Billings, deste ponto prolonga-se por toda a Avenida Dr. Nuno Guerner de Almeida tratando a extensão do córrego Cocaia. A área delimitada para o estudo pode ser caracterizada como de extrema fragilidade ambiental e social, marcada por construções precárias, ocupação de encostas, altos níveis de desmatamento e falta de saneamento básico, resultando no lançamento dos esgotos domésticos diretamente nos corpos de água contaminando os mananciais existentes. No que tange à questão da mobilidade urbana, a região apresenta um sistema viário bastante limitado, pouco organizado e estruturado. Na região do Cocaia, a principal via de acesso ocorre através da Avenida Dona Belmira Marin, uma área de centraliFigura 5 .Mapa Hidrológico e Principais vias da Região.

dade linear que concentra as atividades comerciais e

Fonte: Elaborado pelos Autores, 2016.

de prestação de serviços. Todo o transporte público coletivo, constituído de vans e ônibus, se dá por esta via, o restante da malha viária é caracterizado por ruas estreitas, algumas sem pavimentação e com esgoto a céu aberto. 9


A topografia da região apresenta-se de maneira pluriforme, ao longo dos cursos d’ água encontram-se planícies alagáveis e encostas ocupadas, a vegetação não é significativa sendo composta por remanescentes de trechos de bosques, campos e planícies inundáveis ao longo dos cursos d’ água .

Figura 8 .Ocupações Irregulares as Margens da Represa. Ruas Sem Pavimentação e Esgoto a Céu Aberto.

Figura 7 .Mapa de Vegetação Existente na Área de Estudo.

Fonte: Autores, 2016

Fonte: SOS Mata Atlântica – Adaptado pelos Autores, 2016

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A área de estudo caracteriza-se por uma ocupação urbana consolidada por residências de baixa renda e presença de poucos equipamentos institucionais. Muitas destas residências encontramse sobre ou ao longo dos córregos e represas estando em desconformidade com a lei de Proteção dos Mananciais.

Figura 10 .Comércio Local. Fonte: Autores,2016.

Figura 11 .Áreas Residenciais Avançando Sobre a Represa Billings. Fonte: Autores,2016.

Figura 9 .Uso e Ocupação do Solo do Recorte de Estudo. Fonte: Autores,2016. 11


4. INFRAESTRUTURA VERDE Os ecossistemas urbanos podem ser definidos de acordo com Newman e Jennings, como sistemas abertos, dinâmicos, complexos e inter-relacionados, que requerem grandes quantidades de energia e matéria, com equivalente geração

de

resíduos

e

poluição.

(NEWMAN, JENNINGS, 2008). O modelo de urbanização brasileiro é baseado na infraestrutura foca-

quências como inundações e desliza-

da filtragem das águas provenientes

mentos, além de suprimir áreas natu-

das vias urbanas nos 10 primeiros mi-

rais alagadas florestadas que prestam

nutos de chuva, a detenção e retenção

serviços ecológicos insubstituíveis nas

das águas contribuindo para o contro-

áreas urbanizadas.

le das enchentes, controle da erosão,

Contrapondo-se ao modelo de in-

conservação da biodiversidade, controle

fraestrutura urbana adotado surge a in-

do clima, articulação de meios de trans-

fraestrutura verde:

porte de baixo impacto e a valorização

tados e interconectados que ao incorporar tipologias paisagísticas de alto de-

na tem como objetivo o descarte das

sempenho exerce funções infraestrutu-

águas pluviais e esgoto, telhados tem

rais ecológicas e oferece uma gama de

como única função proteger as edifica-

serviços

ções e inúmeros estacionamentos as-

ecossistêmicos

as

cidades.

(PINHEIRO;PELLEGRINO, 2015).

faltados espalhados pelas cidades destinam-se apenas à acomodação dos veí-

A adoção de um sistema de infra-

culos. por

tratamento das águas urbanas através

espaços abertos paisagisticamente tra-

gotamento sanitário e drenagem urba-

apontado

dinâmicas naturais ocasionando conse-

"[...} uma rede de áreas naturais e

para a

circulação de veículos, sistemas de es-

Conforme

cios destacam-se a contribuição para o

da paisagem dentre outros.

da na indústria automobilística, desta forma ruas são estruturadas

sas cidades interfere no que tange as

estrutura verde proporciona inúmeros

Farr

benefícios para as cidades tornando-as

(2008) e Hezorg (2009), o sistema de

mais sustentáveis, dentre estes benefí-

infraestrutura cinza adotado em nos-

12

Diversas tipologias de infraestrutura verde tem sido adotadas com a finalidade de restabelecer as dinâmicas naturais do ambiente urbano alguns exemplo são os jardins de chuva, biovaletas, bacias de detenção e bacias pluviais de retenção, telhados e muros verdes, alagados construídos, pisos drenantes, dentre outros, tais tipologias devem ser combinadas entre si, podendo ser inseridas no desenvolvimento de novos projetos ou mesmo implementadas em ambientes urbanos consolidados, contribuindo para a melhoria na qualidade de vida urbana dos grandes centros já que


ela "reposiciona o espaço aberto como um

poluição difusa, dentre outros serviços ecoló-

dos elementos vitais para que as cidades

gicos.

possam ser revitalizadas, tanto ecológica como

social

e

economicamen-

te" (PELLEGRINO, 2008, p.141). Entre as tipologias de infraestrutura verde propostas, estão: Agricultura urbana

- O planeja-

mento e incentivo de áreas produtivas, jardins e hortas comunitários reduz o consumo de energia e a emissões de gases de efeito estufa devido a diminuição das distancias de fornecimento. Além disso, o cultivo orgânico é preocupação não apenas pela segurança alimentar, mas também pela contaminação das águas e do solo causada pelo

Biovaletas - Jardins lineares em cotas mais baixas ao longo de vias, recebem as águas contaminadas por resíduos de

Figura 12. Biovaleta

óleos, borracha de pneus, partículas de

Fonte: Autores , 2016

poluição e demais detritos. Promovendo uma filtragem inicial. Bacia de Detenção - Depressão vegetada que durante as chuvas recebe as águas, retarda a entrada das águas no sistema de drenagem, possibilita a infiltração com a recarga de aquíferos. Contribui para a diminuição do escoamento superficial, que causam enchentes. Em tempos secos pode ser usada para lazer, recreação e atividades diversas

Figura 13. Modelo de Agricultura Urbana Implantado em Sapopemba – São Paulo. Fonte: Catraca livre – Acesso – Nov. 2016

uso de agrotóxicos. Agricultura urbana é um meio de desenvolver uma atividade econômica integrada às potencialidades naturais locais, à conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos em áreas urbanas. Alagados construídos (Wetlands) Áreas alagadas que recebem as águas pluviais, promovem a retenção e remoção de contaminantes, construídos em locais adequados para a mitigação da

Bacia de Retenção - A bacia de retenção é integrada ao sistema de drenagem da infraestrutura verde. Acomoda o excesso de água das chuvas, alivia o sistema de águas pluviais, evita inundações ao mesmo tempo em que pode contribuir para a descontaminação de águas poluídas por fontes difusas. Possibilita a infiltração e a recarga de aquíferos. Pode se constituir num habitat para diversas espécies dentro de áreas urbanas, além da possibilidade de se integrar a áreas de lazer e recreação públicas e privadas.

Figura 14. Bacia de Detenção Seca. Fonte: Sustenabilityworkshop.com – Acesso – Nov. 2016 . 13


Jardim de chuva - Jardins em cotas mais baixas que recebem as águas da chuva de superfícies impermeáveis adjacentes.

Figura 15. Exemplo de Jardim de Chuva. Fonte: ABC Waters Design Guidelines,2011

14


Pisos Drenantes - Permitem a infiltração das águas, no qual fazem filtragem, além de reduzir o escoamento superficial.

Ruas verdes - Ruas arborizadas, que integram o manejo de águas pluviais, reduzem o escoamento superficial durante o período das chuvas, diminuem a poluição, possibilitam dar visibilidade aos processos hidrológicos e do funcionamento da infraestrutura verde. A circulação viária é mais restrita, com preferência para pedestres e ciclistas, não há trânsito de veículos pesados. As travessias são bem demarcadas com piso diferenciado e lombadas estendidas para diminuir a velocidade dos ve-

ículos. Prestam outros benefícios: conexão para avifauna entre fragmentos

Figura 16. Exemplo de Ruas Verdes. Fonte: HERZOG, 2009 .

de vegetação, parques e praças, amenização do clima, estímulo à circulação de baixo impacto, valorização da área, educação ambiental, entre outros. Teto Verde e Parede Verde - Cobertura vegetal que coleta e filtra a água substituindo a área natural de infiltração das águas alterada pela edificação.

Contribui para a melhoria da qualidade do ar, absorvendo substancias tóxicas, proporciona um maior isolamento térmico e acústico, contribuindo para eficiência energética, além do aumento da biodiversidade.

15


5.

DIRETRIZES

PROJETUAIS A proposta apresentada propõe re-

Remoção das áreas ocupadas irre-

Adoção de uma rede de mobilida-

qualificar trecho do córrego Ribeirão

gularmente e a criação de um par-

de urbana composta por ciclovia e

Cocaia e seus afluentes através do es-

que urbano voltado à conservação

passeios para pedestres.

tabelecimento de novas relações entre

dos recursos.

o ambiente urbano e recursos naturais

Proposta de implementação de um

A inserção de áreas vegetadas, ca-

parque aproximando a população

por meio de uma rede ecossistêmica a

pazes de estabilizar o solo, impe-

local das águas.

ser implantada.

dir o assoreamento dos corpos d’á-

De acordo com Herling, a adoção das

gua, controlar a poluição atmosfé-

plementação de uma floresta ur-

bacias hidrográficas como unidades de

rica dentre muitos outros benefí-

bana.

planejamento e gestão dos recursos hí-

cios.

dricos no que tange as questões legis-

lativas, institucionais e técnicas durante os anos 90 na cidade de São Pau-

habitacionais verdes.

local.

Implantação de bacias de retenção

mica quanto a exploração dos recursos

águas pluviais antes de seguirem

naturais

seu curso natural para a represa

cidade.

(HERLING, 2002)

Billings.

Considerando a abordagem proposta

Implantação de biovaletas e jar-

prevê-se: a erradicação das áreas de

dins de chuva, contribuindo para o

risco, a recuperação dos cursos de água

tratamento das águas pluviais

e criação de conexões ecológicas atra-

desde sua precipitação inicial.

vés da criação de um cinturão verde tomando como base as diretrizes relacionadas: 16

Implantação de horta urbana visando contribuir para economia

e detenção para o tratamento das

na

Recuperação da mata ciliar e im-

Implantação de novas unidades

lo, indica a recuperação da visão sistêexistentes

Tratamento das vias locais.


Figura 17. Diagnóstico da Área de Intervenção Fonte: Autores, 2016.

17


A implementação das propostas apresentadas foram divididas em uma escala temporal de acordo com sua complexidade para sua implantação.

As propostas apresentadas permitirão a formação de conexões ecológicas que ao longo do tempo poderão ser expandidas por todo o bairro conectando espaços livres públicos sob o preceito da ecologia urbana.

18


6. CINTURÃO VERDE O cinturão verde compreende em uma rede de preservação dos cursos d’água e projetado para garantir a qualidade de vida urbana local. A extensão total do cinturão proposto é de 689,955,22m², estruturado por espaços livre públicos de alto desempenho ecológico denominado como Parque Verde Cocaia, neste estão contidas uma sucessão de soluções no que tange as questões de moradia, economia, mobilidade e ecologia. Desta forma as propostas encontram-se estruturadas em 04 setores.

SETORES

Figura 18. Projeto para o o Cinturão Verde Cocaia Fonte: Autores,2016.

19

Setor 01—Parque Verde Cocaia

Setor 02 — Habitações Verdes

Setor 03 — Agricultura Urbana

Setor 04 — Floresta Urbana


SETOR 01 -

divididas em caminhos elevados e cami-

PARQUE VERDE COCAIA.

nhos suspensos, a rede de caminhos elevados contemplará ciclistas e pedestres,

Figura 19. Divisão do Projeto em Camadas.

A implantação do parque prevê uma su-

acompanhará a topografia natural do

cessão de soluções ecológicas pautadas

terreno, sendo elevados a 1,5m de altu-

no controle das cheias e tratamento das

ra, sendo passiveis de alagamento em

águas pluviais. Toda a drenagem foi

determinadas épocas do ano. Os acessos

tratada de maneira naturalizada com

à rede de caminhos suspensos iniciarão

uma descendência de jardins, biovale-

a partir da topografia natural do terre-

tas, lagoa de detenção e wetlands.

no e em alguns trechos estarão suspen-

O acesso principal ocorrerá pela Aveni-

sos a 10m do solo. Estas redes de cami-

da Dona Belmira Marin, onde localiza-

nhos têm como objetivo permitir que os

se o centro de Reciclagem e Educação

frequentadores observem os processos

ambiental. O centro de reciclagem foi

ecológicos locais assim como a fauna e

proposto com a finalidade de contribuir

flora. Foram dispostos ao longo do per-

economicamente com geração de renda

curso áreas de estar, sem atividades de-

para os habitantes locais através da cri-

finidas, o mesmo ocorre com os campos

ação de uma cooperativa, já o centro de

de várzea, tratados com gramíneas em

educação ambiental tem como objetivo

determinados trechos, que tendem abri-

a realização de atividades monitoradas

gar atividades como jogos de futebol,

e desenvolvimento educacional para

leituras, piqueniques ou espaços livres

apropriação da população local nas

adaptáveis às necessidades de seus fre-

questões referentes ao meio ambiente

quentadores.

em que vivem através da observação

As redes de caminhos criadas conduzem

dos processos ecológicos desenvolvidos

os visitantes até a grande praça propos-

na própria região como os fluxos d’água,

ta na península do parque, a praça com

controle das cheias e fitorremediação.

área de 10.122,17m² é um convite a

As redes de caminhos propostos serão

Fonte: Autores, 2016. 20

usufruir da Represa Billings.


SETOR 02 - HABITAÇÕES VERDES.

As áreas irregulares ocupadas anteriormente darão lugar a 02 conjuntos habitacionais verdes, tratados sobre os preceitos da infraestrutura verde. As edificações com 05 pavimentos receberão em sua cobertura um telhado verde, todas as áreas comuns incluindo os bolsões de estacionamentos localizados nas áreas frontais e nas duas extremidades dos conjuntos habitacionais receberão pisos impermeáveis, e jardins de chuva em to-

da sua extensão contribuindo para a infiltração das águas pluviais e o tratamento da poluição difusa através da fitorremediação.

Figura 20. Entrada do Parque. Fonte: Autores, 2016.

SETOR 03 - AGRICULTURA URBANA.

Entre as ruas Santo Antônio e Dr. Nuno Guerner de Almeida, prevê-se a inserção de um setor destinado a agricultura urbana. Porém, tal proposta dependerá do envolvimento dos moradores locais. Conforme apontado por Chaves, o sucesso de uma horta urbana depende do numero de pessoas e disponibilidade de tempo de cada um. (CHAVES,2015) Assim propõe-se a criação de uma coope-

Figura 21. Píeres. Fonte: Autores, 2016. 21


MOBILIDADE

rativa entre os moradores do bairro para que os mesmos comercializem seus

A mobilidade local será feita através da im-

produtos, podendo ser desenvolvida

plantação de uma ciclovia e via peato-

uma parceria entre o poder publico e a

nal ambas com 2,8 km de extensão, per-

cooperativa, de forma que a produção

correndo todo o prolongamento do cin-

local abasteça os equipamentos educaci-

turão verde proposto, conectando am-

onais da região.

bas as extremidades do Parque Verde Cocaia e a floresta urbana proposta. Es-

SETOR 04 - FLORESTA URBANA

te percurso tende a ser embrionário, co-

Ao longo da Rua Dr. Nuno Guerner de Almeida e o córrego

nectando as habitações verdes, passan-

Cocaia está pre-

do pelas áreas de decks implantadas

vista a recomposição da vegetação, con-

junto a represa Billings, possibilitando

figurando em uma floresta urbana.

um extenso percurso aos moradores lo-

A recuperação da mata ciliar com espé-

cais, um modelo embrionário que tende

cies nativas da mata atlântica contribu-

a se expandir na medida em que as pes-

irá com uma serie de benefícios e servi-

soas adotarem a bicicleta e o caminhar

ços ambientais, dentre estes benefícios

como um novo modo de locomoção.

destacam-se a moderação das temperaturas ao longo do dia, a manutenção dos níveis de umidade do ar e melhora na porosidade do

Entre a ciclovia e a via peatonal pro-

solo facilitando a infiltração das águas redu-

posta será implementada uma sequên-

zindo assim os riscos de enchentes.

cia de jardins de chuva e biovaletas contribuindo para o tratamento das águas. Também é proposto o tratamento das ruas locais que passarão a ser ruas compartilhadas, nestas haverão tratamento com pisos drenantes e implantação da arborização urbana de pequeno e médio porte em conformidade com os 22

espaços disponíveis. O tratamento destas ruas agirá como prolongamento do cinturão verde, fazendo assim conexões verdes. As propostas apresentadas buscam a

integração através da inserção de uma rede de espaços livres conectados através das vias peatonais e ciclo-faixas propostas, além do tratamento das vias locais da área de estudo. A conexão destes espaços forma uma infraestrutura verde que busca contribuir para o tratamento das questões ambientais, promover a conscientização ecológica e contribuir para uma cidade mais sustentável.


Figura 22. Plano de Infraestrutura Verde. Fonte: Autores, 2016.

Figura 23. Detalhe de vias — Ciclovia e Via Peatonal. Fonte: Autores, 2016.

23


7. CONCLUSÃO

Atualmente as questões referentes a degradação ambiental estão em evidencia, uma vez que o modelo de urbanização adotado causa grandes impactos ecológicos sobre nossas cidades. Enchentes, deslizamentos e escassez dos recursos hídricos se fazem cada vez mais presentes no cotidiano dos habitantes dos centros urbanos. A urbanização através da utilização da infraestrutura verde deveria se tornar o novo modelo de organizar as cidades ao invés da utilização de modelos convencionais de infraestrutura urbana cinza, pois assim, restabeleceria os fluxos naturais, além de trazer inúmeros benefícios a população, a cidade e ao meio

Figura 23. Parque Verde Cocaia.

ambiente, requalificando assim a paisagem

Fonte: Autores, 2016.

urbana. O projeto apresentado deve ser acolhido como uma proposta embrionária, um novo modelo de tratamento urbanístico a ser implantado, pautado na mobilidade urbana de baixo impacto, e tratamento dos espaços livres das

edificações, tal modelo pode ser expandido por toda a bacia do Ribeirão e Cocaia e demais bacias hidrográficas.

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8. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Humberto Prates da Fonseca et al . Dinâmicas de urbanização na hiperperiferia da metrópole de São Paulo: análise dos processos de expansão urbana e das situações de vulnerabilidade socioambiental em escala intraurbana. Rev. bras. estud. popul., São Paulo , v. 27, n.1, p.141159, June 2010. Available from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982010000100009&lng=en&nrm=iso. access on 03 Jan. 2017.

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