Como analisar um raio de sol

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como analisar um raio de sol


ficha catalogrรกfica


Ă­ndice



E de repente, como se os olhos queimassem, o que se vê é uma invenção: o céu tingido de vermelho, o próprio ar adquire uma atmosfera de sonho. A imagem nunca é real.

Amilcar Betega Barbosa -Os lados do círculo-



o sol na sombra se esquece dormindo numa cadeira

Milton Nascimento / Ronaldo Bastos -um gosto de sol-





como um raio como s贸 o sol



p么r-do-sol



l창mina transparente

dia pouco dia pouca noite noite


aid

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l창mina transparente

pouco dia pouca noite noite


aid aid ocuop

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pouca noite noite


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aid aid ocuop etion acuop


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noite


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aid aid ocuop etion acuop etion




naco nada fatia de qualquer coisa de não existência. Pedaço que não existe, o oposto de tudo.





Q

uando eu ia visitar o túmulo de meu avô, na volta para casa, o carro sempre percorria todo o cemitério pelo caminho de pedra até o portão da saída. Era sempre assim: a gente passava primeiro pelos jazigos mais ricos e lápides belas, carregados de flores e fotografias, e depois, lá no final, apareciam as caixas de concreto feias e mofadas das pessoas pobres e indigentes, pensava eu, que quase não brotavam do chão de terra e nem ao menos apresentavam nomes. Bem no meio do caminho, descobri a foto do menino que aparecia em forma de luz ao lado de um homem mais velho. Não sei seu nome, tinha quase minha idade. Lembro bem do boné de esportista vermelho e sua cara por debaixo, bochecha vermelha e sorriso grande. Ficava imaginando a distância que nos separava, o tempo, o infinito. Os músculos de minha cara comprimiam maravilhosamente minha boca em forma de sorriso. Era sempre assim, eu ficava olhando fixamente para o lado da direita até encontrar a casa do menino morto pelo qual me apaixonei. Quando não encontrava ficava triste, foi a primeira pessoa por quem me apaixonei. Por escuro que pareça, apaixonar-se pelo menino que já não existia talvez fosse a única forma de amor possível naquela época. Eu esperava por esse momento e meu olho brilhava.



Comece pegando o mundo para brincar estique, amasse, faรงa uma bolinha de papel e jogue na cabeรงa da primeira pessoa que passar.





apaga a luz, sai do quarto entra na sala, liga a luz apaga a luz, entra no mundo



Tudo Nada



A totalidade das coisas: Enquanto tudo em volta chora e gritos guerreiros agonizam delírios perdidos. No momento em que um carinho me domina e quase me leva ao mesmo desespero lógico da mesma ignorância que age contra mim, Tudo o que ainda sinto é nada. Tudo em mim, tudo de mim, apenas tudo. As trevas me olham e eu sou as trevas para elas. Meus olhos mergulham na escuridão e eu seguro suas mãos. (Não creio na sua culpa. Creio na loucura e no amor... no amor cego que o leva à loucura, como se não houvesse amor) Os dedos se tocam e as impressões revelam que não há impressões. Compaixão... distância, ódio... piedade, amor... ira. Tudo em mim, tudo de mim. Tudo Nada



eu em um soto tu em um susto eu em dois soma eu em mim solto tu em mim susto eu em um somo tu em dois susta eu em dois somos



EU MIM MIM EU EUMIM MIMEU



pessoas muradas sozinhas e t찾o s처 dentro de si sozinhas e t찾o longe

p e s s o a s

Na casa em frente de onde eu morava viviam pessoas estranhas, pessoas fechadas. Sempre fico imaginando o que acontecia do lado de dentro daquele muro.

nunca saberei nunca vou entender



vezes


vezes dias não são só dias em si, são vezes intervalo, vezes medo e vezes sonho para enfeitar. Fico acordado um pouco mais pensativo e arrepiado do que antes, como de costume. Pôr-do-Sol vai e vem, olhos piscam a mil, coração azul-anis abotoado, virgindade literal inocência à pele, presentes guardados no armário, elefante cor-de-rosa sozinho, artigos, antiguidades, quarto velho, casa desdém.

Sozinho Calafrio Intervalo

Medo


Desde que o calor saiu para andar de roda-gigante ficou frio lá fora. Também em mim, o calor saiu para passear. O calor saiu para passear e encontrou aconchego em algum refúgio visceral. Sem rumos ladrão, roubou-me pessoa e deixou-me gelo.

Sozinho Calafrio Intervalo

À golpes de porquês, Alguma coisa está por acontecer.



vila dos gansos



Parte I Escuridão, Frio, casa... O Sol tinha se posto e o jovem escritor procurava a Lua. A lua não estava mais onde sempre esteve, assim como as poesias que nunca conseguia encontrar nas tardes noites de domingo. Pegou a velha estrada e encontrou o caminho da casa, quase tão antiga quanto. A casa... desenhos, cores, fotografias. Infância, Família, lembranças... Encontrou o muro que lhe remetia à palavra casa. Só poderia ser ali, pensou. Penetrou a imensa muralha com um só dedo, e com a ajuda de um fio de cabelo que não era seu. Sem perceber, venceu aquilo que há entre o mundo e o espelho. Viagem, Passatempo, memória... Infância, Família, lembranças... Escuridão, Frio, casa... Confirmação!


Sim, mais uma vez acertara. Era ali: a velha muralha, a casa antiga, a (...) vida. Vida casa, corpo, cara... coração, pensamento, abacate... mudança, cóx, cadeirinha de bebê... verde, verde, verde. Temporal. Nada. Preto! Tudo era preto. Preto porta, preto parede, preto corredor. Preto imagens, preto subtítulo, preto borboleta técnico colar. Tinha cheiro, sentia cheiro! O cheiro As pessoas não sentem cheiro em suas casas. Não quando tudo está em equilíbrio. Apenas há cheiro nas casas próprias quando ali aparece algum perfume que vem de fora, ou algo percebe-se putrefato que foi esquecido ou ignorado. É isso... as casas próprias não têm cheiro. Aquela casa tinha cheiro.


Parte II

O todo feito de preto era provocante. Sempre gostou mais de telas misteriosas e desafiadoras do que de impressões límpidas e angelicais. Caminhou através do cheiro que achava instigantemente diferente e não encontrou luz. A casa era a mesma e tudo estava exatamente igual. Não conseguia mais caminhar no escuro como antes, como no tempo em que era pequeno e acordava amedrontado pela escuridão e saía a caminhar pela casa como quem anda de montanha russa. Cheiro diferente, casa diferente... tudo como antes O jovem escritor não era mais o mesmo. Cadeirinha de bebê, Bicicleta, bicicleta sem dinha... verde, verde, verde. Dentinho, Fada do Dentinho, pentelho verde, verde, verde Desenho, Fotografia colorida, fotografia... preto, preto, preto.

“Brilha, brilha estrelinha (...)”

ro-



estrela



lâmina transparente

e a alertse uecerapa

o céu só saiu para ser escuro


etnerapsnart animâl

e a estrela apareceu

o uéc ós uias arap res orucse





a luz do cĂŠu ficou acesa a noite o tema o grilo ostenta sustenta a barca sem medo molha o casco grilha a onda fica


l창mina largura 2x

o riso risa a boca infla o olho abre o corpo sente

o rosto some o rastro sobe o grilo grita s o b r a a o s u l o som que fica



lâmina transparente

no tĂşnel dentro


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ortned lenĂşt on




...


Este texto é para não dizer na é para o que a palavra escrita não se sabe o quê e que é mu Este texto é sobretudo um des perança de encontrar algo em tras ou em atos complexos de é, em palavras claras, uma per leva e nem pretende levar a l nada, uma prostituição do cor camente uma prostituição do t ou desuso do corpo em função do tempo em função do corpo. o mundo se esquece do corpo do. No final perde-se o mome de muito ou pouco que não se de tempo relativa e algo que s dizer nada, é para preencher a mesmo tempo e que se sabe, s


ada. É só para unir. Este texto se presta: preencher algo que uito e pouco ao mesmo tempo. sabafo de quem mantém a esum simples ato de dedilhar leviver. Esse ato de escrever-se rda de tempo absurda que não lugar algum. É, antes de mais rpo frente ao tempo e reciprotempo frente ao corpo. Um uso o do tempo e um uso ou desuso . O tempo passa em tinta azul: e o corpo se esquece do munento e o que resta são linhas e sabe bem o quê, uma perda satisfaz. Esse texto é para não algo que é muito ou pouco ao só a palavra faz.


Nada é suficiente Quero muito mais Quando eu puder sonhar Quando o último sol se pôr Lua elétrica no céu A noite é para sonhar Um dia vai aparecer O último raio de luz


luneta



M

eu sonho de criança era ganhar uma luneta para poder ver a lua.

bem de perto bem de pertinho

Aquele menino disse que ganhou uma luneta de natal. Aquele menino disse que acompanhou a apollo 11 pela lente até ela pousar na lua. Ele disse que viu a máquina aterrissando, parando, ficando imóvel. Ele disse que viu, direitinho, Neil Armstrong, o astronauta, descendo, observando, pulando. “cravou a bandeira no chão e a boca mexeu”. Só não ouviu a frase que o astronauta falou.


para Antonio CĂ­cero


hesitante entre rir ou chorar escolhi escrever agora estou neste estado quase poesia de ser


lâmina adesivo

Faça você mesmo

só você sabe

não há felicidade

não há felicidade

nada é pouco

não é demais


quando



patrick tedesco

l창mina adesivo

como analisar um raio de sol ?





A cigana da mãe me disse Jogue sua vida fora e você estará bem agora Esqueça teu mundo de tristezas e viva o que há o menino viverá de novo e será feliz



quase



Q

uando a avó vinha eu ouvia lá de longe o barulho do ônibus chegando na rodoviária e ia correndo para ajudá-la. Olhava, dava oi, abraçava. Ela era tão magra que quase não se podia apertar. Eu pegava na mão sua mala, sempre a mesma, e carregava até a casa.

Quando fiquei maior, ganhei uma motinho. Feliz e dando risada, ao ouvir o ronco do unesul, desci correndo a ladeira e só freei na frente dela. Sobe vó, falei rindo. Você tá louco, ela respondeu. Peguei a mala e coloquei no bagageiro, ela sorriu. Subi a ladeira e fiquei esperando na janela pelos dias maravilhosos que estavam por chegar.


RODA GIGANTE


A

vida estava fraca e o corpo já não funcionava bem. Os últimos dias haviam sido difíceis e a procura pela saída persistia. O caminho de viver piscava lá longe e ouvia-se um sonido, como o de uma sirene, lá no fundo. A marcação do tempo se dava pelo sonho de reviver. Naquele dia, vovó estava deitada e precisou ser levada com urgência a outro hospital. A família estava preocupada e já cega pela longa espera: a luz branca da enfermaria não deixava ver. A equipe chegou com a maca e vovó sozinha e apagada deixou seu lugar. À tardinha, vovó voltou ao encontro da família. Fora apenas necessário alguns exames e vovó estava pronta para retornar ao de sempre. A família esperava aflita e com o mesmo olhar apagado que vovó a deixou. Foram feitos apenas alguns exames pois não havia mais nada a se fazer. Vovó voltou radiante: andei de montanha russa. A maca percorreu os corredores em velocidade e desceu a rampa em impulso para o lado de fora, onde havia sol. A ambulância correu e a sirene gritou: a surpresa em movimento revelou a emoção que estava guardada.


A emoção em movimento libertou a luz que há muito estava apagada e que lá no fundo sempre esteve acesa para o dia de viver. A família em sobressalto inesperado achou graça e contou para os amigos, os vizinhos, os enfermeiros, os parentes, os médicos, o padre, o cabeleireiro, enfim. Eu fiquei em silêncio e nunca esqueci esse dia. Nunca vou esquecer. Até hoje, vivo do que vovó deixou. Feliz ela estará ao saber nessas linhas que a montanha russa inventada acorda em sonho despertado e sirene todos os dias da minha vida. Será assim para sempre.





Era uma sala grande, O som ressonava por grande lugar e por grande se transfomava. Ecoava em mim, silêncio, e fazia-se sala grande. Fazia-se sala grande e assim fazendo-me grande eu ecoava. Ecoava meu olhar e de olhar janelas e janelas, olhando janelas e janelas ecoando, e ecoar ecoavam e eu olhar ecoava em janelas em janelas grande grandes. Zzzzzz. Do outro lado, sol e lua daqueles dias que fazem sol e lua, de um lado lua e de um lado sol. e eu pequeno.

Daqueles dias, daqueles dias em que tudo é bonito, em que sol é dark e que dark eu gosto. Daqueles dias de estar em sala grande e de ver de fora a casa de janelas e janelas grandes. De dentro, observo ressonar-me em teto alto de casa quase não antiga por ser casa antiga. Na natureza não há nudez. Na casa antiga não há antigo. Estou e logo estou lendo lembranças de passado já não mais. Ecoando, ecoando. Só há nudez na natureza. Só há antigo na casa. Só eu aqui, só.


lâmina largura 2x papel vegetal

Só há, então, só há. Eu, no que serei, e a casa no que será. Será, será? E de frio e de frio se preenche tranformação. Só há o que será e eu aqui passo ecoado em vida. Transbordado em água dos olhos que antes olhavam e agora olham e olham e olham e não vêem nada além janelas janelas e janelas. Ouvindo ouvindo ouvindo. O que será o que será? Queria estar lá fora. Vendo-me dentro. Lá fora há dois sóis. Um amarelo, para quem gosta de amarelo, e um branco,

para quem gosta de branco. Lá fora é mais fácil enxergar e vejo-me inteiro. De fora, é mais fácil ver-me ecoar. Nudo ou desnudo vejo-me sóbrio, instigante, animador, e sinto-me sóbrio, animador e instigante, com som que vem de dentro. Som que ecoa pela janela e transgride o mundo ulterior. Som que ecoa e transgride aqui é mais quente. Som que ecoa e transgride. Ecoa e transgride. Ecoa. Ecoa.



maquete



S

abendo que nunca mais voltaria a ver minha avó, voltei à casa abandonada. A família se preparava morbidamente para o natal. A casa estava quase pronta. Luzes postas às árvores, quintal iluminado, pinheiro de verdade na sala, presépio. A família refazia um algo não mais que já se foi. Andei pelas calçadas do jardim de flores, subi a sacada e me sentei no lugar que elegera desde menino. Mirei a Igreja enfeitada e recordei o tempo em que tudo estava no seu lugar. O tempo em que tudo se encaixava à moda mentida da infância.

Lua no céu.

Ouvi meus tios discutindo e conversando e discutindo. Desci a escadaria e deixei meu local preferido. Noite agradável e perfume dama-da-noite no ar. Passei pelo cáctus e contei 10 cicatrizes. Cicatrizes que eu deixara, uma por ano, desde meus 8 anos. Contagem do tempo em pele verde e surrada.


Vocês já machucaram um cáctus para ver o que acontece? Percorri o corredor de pedra ao pleno fundo do quintal. Grama verde cuidadosamente plantada pela vida que morreu. Atrás da casa da lenha, da massa e do pão, as árvores estavam todas coloridas. Luzinhas 4 watts somadas à mil. Vermelho, amarelo, laranja e azul. Voltei tropeçando pelo corredor, algo grande estava por acontecer. O sol tomou o lugar da lua. No quintal, meu pai, segurando na mão a maquete. Caixinha de vidro delicado 10X20. A casa do vizinho na metade direita e a rosa vermelha em lugar da casa de minha avó perdida. Tinha uma luz que vinha de dentro e pulsava como um coração moroso. Acendendo e apagando, acendendo e apagando. Inspirando e expirando.

inspirando e expirando luz. Está ficando mais forte.



inspirando e expirando

LU


UZ

estรก ficando mais forte



god save the king



-“god save the king” diziam os garotos ao ver Jesus de Nazareh sendo cremado na manjedoura. -“god save the king” O menino não entendia o acontecimento. Porque queimam o menino? Porque tantas velas, cabras, presentes, coroas, reinados, fogo? o menino não entendia. -“god save The king” univox -“god save the king” polivox

a fotografia marcou o tempo e hoje as vozes são ouvidas em imaginação.



homem nĂş


N

ão havia nada mais triste do que a imagem daquele homem no banho. Figura grande e sentimento de vida acabada. Naquele dia, olhos profundos, peito ofegante e coração amargo. Esfregava o corpo e não havia minuto que o fizesse sentir-se limpo. O passado é duro e cansou de existir. Percebeu que tudo o que fora era perdido e, confusão, era tempo tarde para viver. Arrependimento. Gritos no corredor que ecoam ainda hoje em sótão da casa antiga, barulho de um tempo apagado. Ouvem-se brigas no hall, bebedeira, falta de afeto, incompreensão, noites insólitas. Vida passando em sono pesado. Tempo medíocre. Tórax cabeludo, barriga grande, hálito charco, dentes amarelos, mãos de peixaria, pele vermelha, tumor. Clímax do descuido. Tinha um semblante imóvel. Se alguém o chamasse, nunca ouviria. Desesperança. Estava mergulhado em resquícios do tempo passado que se foi de tanto cirandar. Tudo acabou e ele se propôs a esperar. Jogo desprezível.


Não havia nada mais triste. Não havia vida mais medíocre, coração mais amarrado e existência mais desprezível. Não havia nada mais triste, não havia. Mesmo que dissessem: ele tem família, ele tem Tenho pena desse homem que já não tem pena de si e espera a vida findar.



Quando a moça velha ficou triste ele apareceu e disse você é a mais bela, a mais louca a mais trouxa a mais feliz De todas e todas lembranças você é a única que restou

toca oca boca onda

toca orca boca foca

De todas e todas e todas você é a única a única a única Deixe ser para sempre o tempo a memória da minha vida não existe sem ti.



A

manhã chegou e frio continua ainda frio. Te deixei assim como te vi e agora não quero dormir. O silêncio do dia que não é domingo me acompanha junto aos pássaros raros que aqui se abrigam. É bom sentir os embalos de suas asas na casa onde não moro. Esta casa de não viver reclama os barulhos que escorrem pela sala e parece querer continuar a dormir enquanto atrapalho seu sono imerso em sonhos concretos. Eu, então, reclamo meu direito de sonhar e poder viajar em teus sentimentos de não saber.


nada mais


N

o lugar onde estrelas se movimentam agitadas e a menina amada usa roupas de sacos de pano, na cidade onde os psi reduzem vidas à vidas passadas do tempo em que havia guerras, e no tempo em que guerras ainda há aqui estou, onde meu amigo está... vivendo, sentindo, pensando. Pensamos como seria se as estrelas realmente tremessem como vemos e as meninas usassem sacos e as vidas fossem vividas e revividas para sempre. Seria tão normal quanto tudo o que vemos e meu amigo também seria meu amigo e também pensaríamos como seria igual se o que não é fosse diferente ainda assim, eu não saberia quem sou eu e acharia que saberia o que é quem eu melhor conheço mas eu não sei, juro que eu não sei. Não sabendo, procuro. Procurando, penso... Pensando, sinto... e sentindo, vejo. vejo que sentido não há


e continuo buscando o n達o haver. Buscando, vivo e vivendo... aaaaa, vivendo. Vivo por viver, nada mais






Se um dia o vir em algum lugar Um lugar que com sorte passarás E que quase me satisfaz sonhar Diga-lhe que brinquei muito com tudo o que me deixou E que vivi intensamente muitos dos meus momentos de sozinho E que tive amigos e depois mais amigos ainda E que brinquei de pipa, joguei bola, dirigi avião Que continuo brincado de carrinho Que briguei muito com meus pais e que não brigo mais Que não peguei nenhuma doença contagiosa e que sempre uso camisinha Que usei Black, mais power do que black, e que depois fiquei careca Diga-lhe que vi o sol se pôr tantas vezes quanto ele E que escrevi muitas poesias Que eu vi diamantes no céu e até mesmo pude ouvi-los Que andei de barquinho na lagoa de noites geladas E que beijei bocas no trapiche Que andei de roda gigante, conheci mariposas technicolor, que ouvi sons de máquinas antigas das cidades abandonadas Diga-lhe que não consegui vender bergamotas e que vovó morreu Diga-lhe que me apaixonei, me frustei e me apaixonei várias vezes de novo Que comprei brinquedos antigos para presentear a páscoa Que caí de bicicleta e não usei drops que vesti camisetas bonitas e até ternos dos mais importantes briques da cidade que moro sozinho e que vejo o céu cor-de-rosa duas vezes por semana que leio clarice, pessoa e não ando de skate que roubei taças do teatro e chorei muito depois que namorei por um dia e depois acabei que tirei fotos todos os dias e depois cansei que ainda vejo as fotos que me mandou que fui preso que fui ao psiquiatra que apanhei que não comi que briguei que fugi que brinquei de sexo, sexo bizzarro, sexo animal, algemas cinta liga e rock and roll que uso desodorante sem cheiro e não gosto de perfume que ainda lembro do cheiro de quando eu não conheci que escutei hansons e que vi que era chato que gosto de ter sapinhos enfeitando a casa que dancei no queijinho e que viajei para praia e que fiquei sentado pensando nele e que vi peixinhos cor-de-rosa subindo o rio e buracos no oceano que não foram consertados que vi a lua com cara de biscoito sorrindo pra mim e que não vi o castelinho na lua que pintei sua fotografia que sou eternamente grato diga-lhe que ainda sonho e que vivo desse sonho





nascer-do-sol



noite



noite pouca noite



noite pouca noite pouco dia



noite pouca noite pouco dia dia





notas

A frase “como analisar um raio de sol”, que usei como título deste livro, é de José Menna, extraída do livro “Um Cavalo em Tróia”, de José Menna e Luciano Mello. O desenho “o sol dormindo numa cadeira” é de Luciano Mello. “God Save The King” também é título de um conto de Sérgio Sant’Anna. ...entre outras tantas e infinitas relações intertextuais.



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