TFG - Mobiliário Urbano para a Avenida Paulista

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Projeto de Mobiliário Urbano para a Avenida Paulista junho/2013

Patricia Pero Occhipinti Orientação Fábio Mariz Gonçalves



Aos meus pais, por sempre acreditarem.

Ao meu orientador Fábio Mariz, pela aposta, paciência e ensinamentos; Ao professor Giorgio Giorgi, pelos conselhos. Às amizades pra uma vida que a faculdade proporcionou, e em especial à Ana Beatriz, Ana Luísa, Dora, Maíra, Maria, Renata e Tamires, pois sem elas talvez esse trabalho não ficasse pronto a tempo. À todos os amigos que compreenderam a minha ausência. E a toda a minha família, por todo o apoio, carinho e compreensão.



“Quando acreditamos apaixonadamente em algo que ainda não existe, nós o criamos. O inexistente é o que não desejamos o suficiente” Franz Kafka


Sumรกrio


08    Proposta de Trabalho  12    Avenida paulista  20    Calçadas  26    Calçadas da Av. Paulista  44    Proposta de intervenção  50    Projeto: ponto de ônibus  66    Projeto: Bancos  74    Projeto: Lixeira e cinzeiro  86    Projeto: Gradil  92    Projeto: Floreira 100    Conclusão 102    Referências projetuais 108    Referências BIBLIOGRÁFICAS


Proposta de Trabalho


Uma questão urbanística de grande importância atualmente é a insuficiência e a inadequação do mobiliário urbano na cidade de São Paulo. Entendemos que esse problema é uma das consequências da priorização do automóvel, em detrimento aos pedestres e aos transportes coletivos, na definição dos projetos dos espaços públicos e obras viárias. A proposta desse trabalho, consiste em suprir algumas necessidades do pedestre na cidade de São Paulo, cujo estudo de caso aqui apresentado são as calçadas da avenida Paulista. Ao caminhar pela cidade fica clara a falta de informação e de espaços agradáveis de passagem e permanência. O modelo rodoviarista existente delega aos pedestres o espaço que sobra nas cidades. São muitos os fatores que

colaboram para esse modelo. Por exemplo, a questão do fetiche pelo automóvel: durante muitos anos o principal produto industrializado no Brasil. A instalação de algumas das maiores montadoras internacionais no país em meados do século XX levou à alteração dos padrões de comportamento da população, movido pelas campanhas publicitárias e o automóvel se tornou um bem de desejo e de ostentação. Além disso, existe a questão da falta de investimentos em infraestrutura e no espaço urbano. Nas áreas mais centrais e mais turísticas percebemos uma maior preocupação com o espaço destinado ao pedestre. Nessas regiões podemos encontrar alguns espaços bem cuidados, alguns exemplares de mobiliários urbanos (nem sempre em boas condições) e alguns pontos com informações, que mui-

tas vezes não são adequados, nem suficientes ao espaço disponível e nem aos usuários da região. Outra questão é a fiscalização deficiente. Nas áreas mais afastadas e de urbanização mais precária a condição das calçadas é muito ruim chegando até mesmo a inviabilizar seu uso. Porém, mesmo nas áreas centrais vemos problemas como degraus e rampas inadequados, larguras muito estreitas e obstáculos de todos os tipos. As calçadas dependem dos cuidados dos moradores que normalmente nem sabem que essa responsabilidade é deles. Falta conscientização dos moradores para manutenção da via pública. Elaborada essa situação problema, eu, como estudante de arquitetura e urbanismo, com um particular gosto por design, vi aí uma oportunidade interessante de

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apresentar uma proposta para essa questão. Pensando mais sobre a falta de mobiliário, e sobre a situação das calçadas, resolvi unir esses dois temas propondo um conjunto de mobiliário urbano para uma calçada da cidade de São Paulo. Por acreditar que os melhores projetos são aqueles pensados para se adequarem a um espaço específico, primeiro eu escolhi uma avenida da cidade para depois fazer o projeto do mobiliário. Durante o processo de escolha, resolvi procurar um espaço de calçadas que me permitisse criar áreas agradáveis, e por isso busquei por uma calçada mais larga, e que apresentasse elementos complexos como: grande fluxo de pessoas, elementos turísticos, e importância para a cidade de São Paulo. Pelo desafio de projetar para toda uma cidade, e para um dos públicos mais exigentes de São Paulo, optei por tomar a avenida Paulista como espaço-foco para o projeto do meu conjunto de mobiliário urbano, criando também um projeto de calçada para a avenida, tentando melhorar a qualidade do passeio e a permanência dos usuários. Considerada a avenida com uma das melhores calçadas da cidade de São Paulo, a avenida Pau-

lista poderia se tornar ainda melhor, com alterações em seu mobiliário, organizando melhor o espaço (tanto de passagem quanto de permanência) para atender a grande quantidade de pessoas que circulam por lá. Apesar de privilegiada pela sua localização, pelo seu projeto e pela generosidade dos espaços, tanto para residentes, pessoas que lá trabalham e turistas, ainda apresenta alguns problemas relativos ao projeto dos seus mobiliários e nas suas disposições ao longo do caminho. Outro fator importante sobre a Paulista é que todo o tipo de pessoa, de idades, tribos e com objetivos diferentes, frequenta a avenida Paulista, mostrando uma heterogeneidade do público. Isso acontece, pois ela é uma das mais importantes avenidas da cidade de São Paulo, do ponto de vista histórico e econômico. E também, é o espelho das manifestações políticas e artísticas da cidade gerando um grande destaque para tudo o que lá acontece.

Acima, vista geral da avenida Paulista e ao lado mapa geral da avenida. Fonte: Internet. Escala: 1:10000.



Avenida paulista


Em 1891 o engenheiro Joaquim Eugênio de Lima, em parceria com João Borges de Figueiredo e João augusto Garcia, comprou os terrenos no espigão entre os rios Tietê e Pinheiros, já na época uma das áreas mais nobres da cidade. E em 8 de dezembro deste mesmo ano foi inaugurada a Avenida Paulista, que viria a ser tornar uma das mais importantes e queridas avenidas da cidade. O objetivo de ocupar o espigão era criar novas áreas residenciais, uma vez que os bairros de Higienópolis, Praça da República e Campos Elíseos estavam completamente ocupados. O projeto da avenida se inspirava nos modelos de bulevar parisienses e europeus, com ruas extremamente largas e grandes lotes. Os grandes terrenos da avenida surgem então para abrigar os luxu-

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osos palacetes da elite paulistana. Em 1909 a avenida foi uma das primeiras a ser asfaltada em todo o país, com material importado da Alemanha que ainda era novidade, nos mercados, europeu e norte americano. Na década de 50 com a especulação imobiliária começaram a surgir os primeiros arranha-céus da Paulista. Primeiramente com caráter residencial, os grandes edifícios instalados na avenida trouxeram um aspecto metropolitano com seus projetos modernistas e arrojados.

Pintura que retrata a origem da avenida Paulista. Fonte: Paulista Viva.


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Fotos mostrando os primeiros casarões construídos na avenida Paulista. Fonte: Paulista Viva e Internet.

Um dos primeiros arranha-céus da Paulista foi o Conjunto Nacional, projetado por David Libeskind. Caracterizado por seu projeto inovador, e pelo seu caráter multifuncional, incluía um centro de compras, serviços, lazer e um hotel que posteriormente foi transformado em edifício residencial. A relação entre esses diversos usos se dá pela composição em duas lâminas do projeto; uma horizontal, que ocupa toda a quadra e que contém uma galeria comercial, e uma verti-

cal implantada em cima da horizontal, que contém os apartamentos. Porém, o mais interessante neste projeto, é a relação criada entre o espaço público e privado. Com passeios e calçadas generosas, os usos se fundem criando espaços altamente qualificados do ponto de vista urbanístico. Depois de concluído, o edifício passou a ser um marco na cidade de São Paulo, dando a largada para a verticalização de toda a região. O Conjunto Nacional também deu


início à valorização do metro quadrado dos terrenos das mansões da avenida, o que gerou a mudança de uso predominantemente residencial da avenida para o dominante uso comercial que permanece nos dias atuais. Na década de 70, com o projeto ‘Nova Paulista’, a avenida passou a ter as características que mantém até hoje. O projeto elaborado pelos escritórios Nadir Mezerani Arquitetura e Figueiredo Ferraz previa uma linha de metrô e uma via expressa subterrânea ao longo de todo o espigão da Paulista. Na superfície cruzariam apenas as ruas transversais, sem acesso para carros à avenida e a área entre lotes se transformaria numa grande calçada/ bulevar com aberturas para a via enterrada, e acesso para o metrô e linhas de ônibus. A construção foi iniciada em 1967, sob a administração do então Prefeito José Carlos do Figueiredo

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Ferraz. Porém ele foi destituído do seu cargo em 1973 e com ele o projeto foi deixado de lado. Infelizmente, quando Miguel Colasuonno assumiu a prefeitura, o projeto tomou feições muito mais modestas, resumindo-se ao alargamento da avenida de 28 para 48 metros, a implantação do projeto de mobiliário e comunicação visual de João Carlos Cauduro e ao projeto de paisagismo de Rosa Grena Kliass, deixando de lado a principal característica da avenida, a de ser

Fotos do projeto e construção do Conjunto Nacional. Fonte: Internet.


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Imagens mostrando o projeto Nova Paulista que foi projetado na década de 70. Fonte: Internet.

uma avenida para pedestres. Com o propósito de eliminar os muitos elementos de conflito no visual da avenida, João Carlos Cauduro e Ludovico Martino (seu sócio) padronizaram as placas de sinalização, e fizeram o enterramento da fiação elétrica e de telefonia. Na época, o sistema de grandes prismas verticais negros, com a disposição da sinalização prevista e estudada para orientar tanto pedestres quanto veículos, era inovador. Essas placas organizavam

a sinalização da seguinte forma: para pedestres até a altura de 2,50 metros; para informações de média distancia até 3,50 metros de altura e; acima disto, para longa distancia (veículos da via). Os semáforos foram embutidos e as placas de trânsito incorporadas. Também foram propostos elementos como coberturas e bancos instalados ao longo das calçadas da via. Para a implantação do projeto Nova Paulista toda a área subter-


rânea da avenida foi adquirida pela prefeitura. Porém, com o abandono do projeto, essas áreas foram deixadas ao acaso e hoje ainda existe mais de 800 tubulões de concreto e aço sob a avenida, , em galerias trancadas e sem aproveitamento. Esse fato é importante quando pensamos que ele impede o plantio de grandes árvores na avenida pois a única área permeável que elas terão para se desenvolver é a da própria floreira. Com isso vimos um bulevar bem arborizado se transformar em uma grande avenida um tanto árida para os pedestres. O subsolo só foi utilizado no ano de 1991, quando foi inaugurada a linha verde do Metrô, ligando a Consolação ao Paraíso. De qualquer forma, para esse objetivo, foi

utilizada apenas uma fração da área de subsolo existente. Sendo assim, a partir dos anos 70, a Avenida Paulista já se apresentava com a configuração atual e se destacava como centro financeiro da cidade. As grandes torres de escritórios criaram grandes paredes delimitando verticalmente a avenida e reforçando o aspecto linear e contínuo que a Paulista apresenta. Mesmo com o surgimento de novos centros econômicos na Faria Lima e Berrini, a importância da Avenida Paulista se manteve, pois ela se tornou símbolo de inovação e modernidade. Além disso, alguns de seus edifícios são responsáveis por grande parte do destaque que a avenida tem, como por exemplo, a Casa das Rosas.

Imagem do Mobiliário Projetado por Cauduro que foi implantado na década de 70 na avenida Paulista. Fonte: escritório Cauduro & Martino.

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Foto do edifício do MASP visto do Parque Trianon. Fonte: Paulista Viva.

O casarão foi projetado pelo escritório de Francisco de Paula Ramos de Azevedo pouco antes de sua morte, e a construção foi terminada em 1935. Em 1991 foi então inaugurado um espaço cultural batizado de “Casa das Rosas”, fato este que garantiu a preservação do edifício. Outro fator interessante é que atrás do casarão há um edifício contemporâneo com fachadas espelhadas. O contraste criado entre as edificações é uma marca da diversidade histórica e cultural da própria avenida Paulista.

Outro edifício muito significativo na história da Paulista é o prédio do MASP. A nova sede do Museu de Arte de São Paulo, inaugurada em 07 de novembro de 1968, abriga o mais valioso acervo de arte da Cidade de São Paulo. O edifício foi projetado por Lina Bo Bardi obedecendo à determinação da prefeitura de que a vista para o centro da cidade e a da Serra da Cantareira fossem preservados. Dessa forma a arquiteta criou um projeto desafiador para a época, com uma estrutura de vigas e pilares aparentes e o volume do prédio elevado do solo, mantendo um grande vão livre de 74 metros no nível da Avenida Paulista, vão este muito utilizado atualmente como ponto de encontro, manifestações e área de permanência. Atualmente, a Avenida Paulista possui 2500 metros de extensão; duas pistas, cada uma com de 12,60 metros de largura, separadas por um canteiro central de 2,40 metros de largura e calçadas amplas. A largura do passeio apresenta variações, sendo de 10,00 metros na maioria dos trechos, mas chegando a 22,00 metros em frente ao Parque Trianon e reduzindo para 6,00 metros no trecho entre a Rua Bela Cintra e Rua da Consolação. Pela Paulista circulam, soman-


do-se os dois sentidos, 6884 veículos por hora no horário de pico da manhã e 6050 veículos por hora no pico da tarde (dados obtidos em estudo realizado pela CET). A avenida também é itinerário de diversas linhas de ônibus municipais (166 ônibus/hora no pico da manhã e 80 ônibus/hora no pico da tarde de acordo com o mesmo estudo da CET). O serviço de transporte por táxi também é muito concentrado na região. O transporte público, bem como o uso predominante dos edifícios para escritórios geram um fluxo elevado de pedestres. Observando uma das travessias da Avenida Paulista, verificou-se o volume de 3600 pedestres/ hora na faixa de pedestres em frente ao Conjunto Nacional (no horário de almoço, entre 12h30 / 13h30, de acordo com a estudo feito pela CET). Sendo este um dos maiores fluxos da Cidade de São Paulo, o que confirma a necessidade de se priorizar o pedestre, ele demanda dessa forma uma operação e projeto diferenciados, para atender as necessidades de segurança do seu deslocamento a pé pela via.

Corte esquemático da Paulista, mostrando as proporções entre os elementos existentes na avenida.

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Calรงadas


Imagens mostrando a condição precária de calçadas nas cidades. Fonte: Internet.

Segundo dados do IBGE (2010), no Brasil cerca de 30% das viagens cotidianas são realizadas a pé, isso sem levar em conta a caminhada até o ponto de ônibus ou até o estacionamento. Esse dado mostra a importância de termos calçadas uniformes e em bom estado de conservação. Porém, infelizmente, a realidade não é essa e como consequência anualmente cerca de 100 mil pedestres paulistanos caem e se machucam nas calçadas de São Paulo.

Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cada queda custa, em média, R$ 2500,00 reais à prefeitura. Nesse valor está incluso despesas como resgate, atendimento médico e hospitalar e prejuízos com a perda de produção devido aos possíveis afastamentos do trabalho. Contabilizando estes dados o prejuízo anual atinge 250 milhões de reais. E quem paga essa conta? Para garantir maior segurança e conforto aos pedestres, a Pre-

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feitura de São Paulo regulamentou uma nova lei sobre as calçadas paulistanas, a Lei 15.442. Nesta lei, mudanças importantes nos deveres, punições mais rígidas e fiscalização mais ativa tentam solucionar o problema das calçadas. Ela também estabelece que a responsabilidade pela construção, conservação, reforma e manutenção das calçadas, que antes era apenas do proprietário do imóvel, passa a ser, também, do usuário do local (o locatário, por exemplo), seja o imóvel comercial ou residencial. A fiscalização continua sob responsabilidade das 31 Subprefeituras. No entanto, a partir de agora, há um grupo específico na Secretaria de Coordenação das Subprefeituras para auxiliar esse trabalho. A Prefeitura, apesar da lei, mantém a iniciativa de reformar as calçadas das grandes avenidas, como fez, por exemplo, na Avenida Paulista, na Avenida João Dias e na Radial Leste.

Imagem mostrando o processo que deve ser feito para a regularização de uma calçada moldada in loco, de acordo com a cartilha da prefeitura. Fonte: Cartilha Passeio Livre da Prefeitura de São Paulo.

1 Preparação da área

(compactação do terreno, colocação da camada de brita, formas de concretagem e tela)

2 Descarga, espalhamento

e nivelamento da base de concreto (sarrafeamento)

3 Desempenho


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Esquema explicando os três tipos de faixas que regulamentam a organização das calçadas. Fonte: Site da Prefeitura de São Paulo.


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Esquema explicando as medidas mínimas das faixas da calçada. Fonte: Cartilha Passeio Livre da Prefeitura de São Paulo.


Outro fator relevante da nova legislação é a ampliação de largura mínima para a passagem dos pedestres de 0,90 para 1,20 metros. Para as calçadas existentes, as Subprefeituras irão avaliar cada caso separadamente. Também foi criado o “Disk-Calçadas”, um programa de Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) da Prefeitura para atender a população e sanar as dúvidas mais frequentes dos cidadãos quanto à nova legislação. Nesta lei, a fim de organizar e padronizar os passeios públicos, a prefeitura dividiu as calçadas em faixas da seguinte forma: calçadas com até 2 metros devem ser divididas em duas faixas diferenciadas por cor ou textura, calçadas de mais de 2 metros devem ser dividas em três faixas também diferenciadas entre si. Cada um dos três tipos de faixa tem sua medida mínima, localização específica (se mais próxima do lote ou da via), e utilização estipulada. A primeira faixa, Faixa de Serviço, com largura mínima de 0,75 metro, é destinada a colocação de árvores, rampas de acesso para veículos ou portadores de deficiências, postes de iluminação, sinalização de transito, e mobiliário urbano como bancos, floreiras, telefones, caixas de correio e lixeiras.

A segunda faixa, chamada de Faixa Livre, é destinada exclusivamente à circulação de pedestres, portanto deve estar livre de quaisquer desníveis, obstáculos físicos, temporários ou permanentes ou vegetação. Para essa faixa do passeio é obrigatório: uma superfície regular, firme, contínua e antiderrapante que deve ser observada sob qualquer condição. Ela deve possuir largura mínima de 1,20 metros; e deve ser contínua, sem qualquer emenda, reparo ou fissura. Portanto, em qualquer intervenção, o piso deve ser reparado em toda a sua largura seguindo o modelo original. A Faixa de Acesso, a terceira e última delas, fica localizada bem em rente ao lote. Nela pode ser colocado vegetação, rampas, toldos, propaganda e mobiliário móvel como mesas de bar e floreiras, desde que não impeçam o acesso aos imóveis. É uma faixa de apoio à sua propriedade, e não tem medida mínima. Nas esquinas a determinação é que deve ser desobstruída. Para isso, mobiliários de grande porte como bancas de jornal, devem ficar a pelo menos 15 metros do eixo da esquina e, mobiliários menores, como telefones públicos ou caixas de correio, a 5metros. Para cada tipo de calçada, a

nova lei define um tipo específico de piso a ser utilizado e a forma correta para execução, visando garantir a qualidade final da calçada. Os pisos tácteis e as rampas também tiveram o seu uso e instalação definidos, para garantir acessibilidade universal. Pode-se encontrar todas as especificações da nova lei de calçadas em uma cartilha preparada para ajudar os cidadãos a manterem suas calçadas em ordem.

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Calรงadas da Av. Paulista


A partir da nova lei de calçadas, a Prefeitura de São Paulo realizou a reforma de algumas avenidas da cidade e uma delas foi a Avenida Paulista. Nessa reforma, o piso de mosaico português projetado por Rosa Grena Kliass nos anos 70 foi trocado por um piso em concreto moldado in loco de acordo com a nova regulamentação. O custo dos 435 metros quadrados de piso novo na Paulista custeados pela CESP e instalados na esquina com a rua Augusta, foi de R$ 100,00 por metro quadrado, o que resultou em investimentos de R$ 45 mil. O tempo total dessa instalação foi de 10 dias (dados obtidos no site da prefeitura de São Paulo). O piso utilizado, que posteriormente foi colocado ao longo de toda a avenida a um custo de r$ 8 milhões, possui pouca porosidade e, embora não seja liso, facilita o trá-

fego normal das pessoas, incluindo aquelas que possuem algum tipo de dificuldade de mobilidade. A base dele é feita de terra compactada com uma camada separadora de brita; logo em cima recebe telas de aço soldadas e um acabamento superficial com diversidade de texturas. O concreto moldado in loco pode ser “vassourado” ou receber estampas coloridas através de um tratamento superficial no momento da concretagem, antes do início da pega. A espessura final varia de 5 a 10 centímetros de acordo com o uso (apenas para pedestres ou para pedestres e veículos leves) e possui uma resistência à compressão mínima de fck 20 MPa. A manutenção desse tipo de pavimento é simples. A limpeza deve ser feita com jato de água e sabão neutro. E, em caso de neces-

sidade, a remoção de alguma parte por algum tipo de problema, deve ser feita obedecendo a modulação original, e o novo pedaço deve ser refeito seguindo as mesmas orientações da calçada existente. Seguindo essas recomendações, esse modelo de pavimento para calçada terá uma alta durabilidade. Historicamente, as travessias de pedestre nas cidades brasileiras tendem a privilegiar a fluidez do transito, e na avenida Paulista não era diferente. Devido a grande circulação de veículos na avenida, não era possível adotar tempos semafóricos sincronizados para que os pedestres conseguissem atravessar as duas pistas de uma só vez. Essa situação gerava uma espera grande, o que levava os pedestres a atravessar a avenida mesmo sem ter a liberação, gerando um alto risco de acidentes. Durante os anos

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de 2007 e 2008 foram feitas algumas melhorias na Avenida Paulista, prevendo uma série de medidas, como por exemplo a troca do piso para o concreto moldado in loco já mencionado. Nessa ocasião, a CET solicitou à SMSP sobre a possibilidade de incluir no projeto adequações para aumentar a segurança dos pedestres e usuários em geral, além de um estudo sobre a segurança e a fluidez de pedestres e veículos na avenida. A solução deveria ser definitiva e interferir em todos os cruzamentos com semáforos que apresentavam problemas. Através do estudo detalhado ficou claro que uma intervenção física seria necessária. Como na mesma região dos cruzamentos ocorriam a movimentação de veículos na avenida e nas vias transversais, juntamente com as travessias de pedestres, ficou claro que a temporização dos semáforos ou a implantação de novos sistemas de controle de tráfego ainda criariam uma solução paliativa, que diminui o conflito, mas não o resolve. Imagens mostrando todo o processo de preparação e instalação das placas de concreto mondado in loco. Fonte: manual Calçadas da avenida Paulista Especificações e Procedimentos da Prefeitura de São Paulo.

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Nesse momento foi proposta a realocação do movimento de travessia da avenida, diminuindo os elementos conflitantes do cruzamento, e possibilitando que a temporização dos semáforos de pedestre da travessia da Paulista fosse aumentada para permitir a atravessá-la, sem precisar parar no canteiro central. Foi necessário verificar se não teria nenhuma interferência física nas calçadas e no canteiro central nestes novos locais. Para a implantação foi importante colocar no mínimo duas faixas de pedestres em cada quadra, e em quadras maiores três, tentando deixar distâncias menores e mais bem distribuídas entre as passagens, evitando que os pedestres cruzem a via fora delas. Também importante foi a padronização das larguras das faixas de pedestre em 8 metros na avenida e de 6 metros nas vias transversais. Outra regulamentação foi a de implantar duas rampas de acesso

Imagens dos estudos realizados pela CET para a readequação dos cruzamentos e faixas de pedestre da avenida Paulista. Fonte: cartilha Nova Paulista: Uma Quebra de Paradigmas no Tratamento das Travessias de Pedestres.


em cada um dos cruzamentos, com 2,40 metros de largura cada uma e duas abas de 0,60 metro. No canteiro central, também duas áreas rebaixadas, mas com 1,80 metros de largura e sem abas. Foram instalados novos totens e semáforos para veículos e pedestres e uma nova organização da esquina, para impedir a travessia de pedestres fora das faixas de segurança. Também durante a reforma realizada em 2007/2008 foram readequadas as baias de acesso de carros aos lotes, e de carga e descarga sendo criado um novo desenho para elas. Como no local de algumas baias foram implantadas as novas travessias de pedestres, as baias existentes foram reconfiguradas, retiradas ou realocadas. Das vinte baias utilizáveis existentes antes do início da obra, onze foram reconfiguradas, quatro foram realocadas e cinco suprimidas, permanecendo quinze baias a disposição após a implantação do projeto. Para o início do projeto deste TFG foi importante fazer um levantamento e estudo da atual situação das calçadas e do mobiliário da Avenida Paulista. Tendo em vista sua extensão, escolhi quatro quadras que apresentassem as situ-

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Mapa da avenida Paulista com destaque para as quadras representativas desse projeto. Escala: 1:10000.


ações mais comuns das calçadas da avenida, como por exemplo: conter todo o tipo de mobiliário que encontramos ao longo da avenida; não ser uma quadra atípica, como a quadra do MASP, que possui uma calçada muito mais estreita que o padrão, ou a calçada do Conjunto Nacional, que devido ao tombamento manteve o piso em pedras portuguesas, além de apresentar elementos de mobiliários distintos do restante da Paulista. As calçadas escolhidas no sentido Consolação-Paraíso foram as duas quadras entre as alamedas Casa Branca e Campinas. No sentido Paraíso-Consolação, as duas quadras entre a Alameda Campinas e a Rua Itapeva.

Sobre o mobiliário da Avenida Paulista, uma breve análise: Bancos: A completa inexistência de bancos em toda a Avenida Paulista é uma das primeiras coisas a chamar atenção. Em uma calçada com grande circulação de pessoas, nem sempre se pensa que elas possam querer parar e ficar por algum tempo para descansar, contemplar ou simplesmente esperar o tempo passar. Os únicos bancos encontrados na avenida são os que pertencem ao ponto de ônibus, ou dentro dos lotes de alguns dos grandes edifícios de serviços. Na grande maioria das vezes observamos que as pessoas acabam sentando onde

Detalhe dos metais colocados para impedir que as pessoas sentem nas entradas dos edifícios. Fonte: Autora.

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dá: nas bordas das floreiras (mesmo que elas tenham um formato extremamente desconfortável), em escadarias (como no edifício Gazeta), e sentariam nas muretas dos edifícios, se essas não apresentassem elementos “anti-pessoas”, impedindo-as de sentar ali. Fica bem claro que falta uma área destinada a permanência e descanso das pessoas que estão na avenida.

Floreira: Das 43 floreiras com dimensões variadas, algumas acabam mais atrapalhando o passeio público do que o qualificando. Muito utilizada como assento pelos pedestres, sua vegetação rasteira não consegue se estabelecer. Escolhida para a avenida Paulista, a azaléia é uma planta popular que suporta condições adversas, e

Fotos mostrando como as pessoas resolvem o problema da falta de bancos na avenida Paulista, sentando em qualquer lugar. Fonte: Autora.


Acima uma floreira cujas plantas mais rasteiras não conseguem crescer, e ao lado imagens das lixeiras da Paulista que sofrem constante vandalismo. Fonte: Autora.

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por isso é muito utilizada em locais públicos. Porém a Paulista dispõe de apenas 1,5 metros de profundidade de terra para o plantio e crescimento da vegetação. Por isso muitos tipos de árvores não podem ser utilizadas na avenida. Além das azaléias, foram plantados exemplares de pau-ferro, que atendem às condições do solo, com altura entre 12 e 28 metros proporcionam uma sombra muito boa.

Lixeira: As lixeiras em concreto pré moldado com uma cesta basculante de aço inox foram colocadas de forma descontínua ao longo da calçada da avenida. Em alguns pontos ficam muito afastadas umas das outras e, em alguns pontos muito próximas. São 194 lixeiras que recolhem diariamente 280 quilos de lixo, somando uma média de 8 toneladas por mês. Cada uma delas custou R$ 780 e pesa mais de 100 quilos.


Ainda sobre a limpeza da avenida Paulista, ela é varrida 8 vezes por dia, 3 na parte da manhã, 3 na parte da tarde e 2 à noite. Cinzeiros: Com a proibição de fumar em locais fechados, as ruas se tornaram um dos pontos com maior concentração de fumantes. Passando pela Avenida Paulista vemos que os grandes edifícios solucionaram o problema da coleta de cinzas e bitucas colocando cinzeiros em frente a seus lotes durante o dia, que são recolhidos no final do dia útil. Mas na verdade é que é necessária a criação de um projeto de cinzeiro que possa ser aplicado a toda a avenida, resolvendo o problema por completo.

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Imagens de cinzeiros que encontramos atualmente na avenida Paulista. O modelo implantado na frente do Conjunto Nacional, e os modelos colocados por empresas. Fonte: Autora.

Banca de Jornal: Como parte do mobiliário urbano, as 31 bancas de jornal da Avenida Paulista foram realocadas na última reforma, em 2008, de modo a não atrapalhar a visão dos pedestres que estão nas esquinas para fazer a travessia ou das pessoas que aguardam nos pontos de ônibus. Porém, as bancas apresentam problemas de espaço interno que ainda devem ser resolvidos. Com o passar dos anos, as bancas de jornal da avenida têm agregado mais


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Acima imagens mostrando bancas de jornal em diferentes pontos da Paulista, e ao lado imagem do ponto de ônibus encontrado atualmente na avenida. Fonte: Autora.

e mais funções, sem que o espaço interno tenha sofrido alterações. Por isso vemos que algumas delas já utilizam as calçadas para expor seus produtos, atrapalhando a circulação. Ponto de Ônibus: Antes da reforma de 2008 existiam 28 pontos de ônibus em toda a extensão da avenida. Esses abrigos foram retirados, reformados e reimplantados, agora somando um total de 33 pontos, com uma distância de 600 metros entre as paradas, para otimizar a circulação dos coletivos

na região. Atualmente, a Paulista é rota de 48 linhas de ônibus, sendo que 280 ônibus circulam por hora nos horários de pico. Ao final do dia, são 1.500 ônibus que transitam pela avenida. Nessa alta rotatividade de coletivos e pessoas, a reformulação dos pontos foi estrategicamente importante porque redistribuiu a circulação dos pedestres, evitando grandes aglomerações. Para facilitar também a circulação das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, foram implantados pisos táteis de alerta indicando a existência deste mobiliário em meio à calçada.


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Mais recentemente, foram elaborados novos projetos de abrigos para embarque de ônibus para a cidade de São Paulo, criados pelo designer Guto Índio da Costa, os quais devem ser instalados na Paulista até o ano de 2015. Dos quatro modelos diferentes criados pelo designer, o “high-tech”, com painel digital, será instalado em centros financeiros como a Avenida Paulista. Até o momento, os modelos “minimalista” e “caos estruturado” são os que já tem mais exemplares instalados. Em relação a esses dois modelos, vemos que muitos usuários têm reclamado das condições de insolação e de proteção às chuvas. Apesar da serigrafia aplicada

Imagens dos quatro modelos de ponto de ônibus em processo de instalação pela cidade. Fonte: Autora.


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Imagem do ponto de ônibus “high-tech” instalado no centro de São Paulo. Fonte: Autora. Imagens mostrando entradas do metrô com acessibilidade. Fonte: Autora. Imagem da ciclo-faixa instalada aos domingos na avenida. Fonte: Internet.

no vidro da cobertura, que diminui a temperatura, ela não cria uma sensação de conforto, principalmente em épocas de calor intenso. Quanto às chuvas, vãos entre as placas de vidro, sem proteção, deixam a água passar, molhando os usuários. Acessos do Metrô: Em 1990, foram trocados os acessos às estações do metrô da Avenida Paulista pelo modelo que ainda se encontra lá. O projeto em vidro e aço abriga as escadas, protegendo os usuários que chegam à Paulista. Com o passar do tempo foram instalados equipamentos com-

plementares para garantir acessibilidade às estações de metrô, como elevadores e postes de informação para pessoas com deficiências. Bicicletário: Com a nova ciclo-faixa ativada aos finais de semana e feriados muitos ciclistas têm frequentado a Paulista, que atualmente não está completamente adequada para receber esse novo tipo de usuário. É necessário que a avenida se adapte a esse novo tipo de usuário que está se tornando mais e mais comum na cidade de são Paulo.


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Gradil: Importante em qualquer lugar onde carros e pessoas convivam, os gradis têm a função de garantir segurança. Em 2008, foram instalados 1.432 gradis de proteção nas esquinas da Paulista. Cada gradil tem 90 centímetros de altura e 143 cm de extensão, e o Senai foi o responsável pela doação deles. Com as mudanças das faixas de travessia de pedestres foram propostos gradis de proteção aos pedestres nas esquinas e no canteiro central, para desestimular e impedir a travessia na área dos cruzamentos, como ocorria anteriormente, e direcionar os pedestres para os novos locais. Devido às necessidades projetuais das calçadas, os gradis foram propostos basicamente nas curvas dos raios de concordância das esquinas e na extensão referente ao trecho utilizado pela antiga travessia. Para proteção total até as novas faixas, foi complementada a implantação de gradis no canteiro central até as travessias de pedestres, fechando o caminho do cruzamento até as faixas. Foram também construídas floreiras no canteiro central, antes e depois das faixas de pedestres, com dez metros de extensão para, além do paisagismo, funcionar como barreira para os pedestres.

Imagem do gradil metálico e da luminária colocados durante a reforma de 2007. Fonte: Autora.


Postes de Iluminação: Os 54 postes de concreto de 25 metros foram substituídos por 39 postes de aço de 20 metros, e 15 postes de 12 metros. As lâmpadas amarelas de vapor de sódio de 400W de potência deram lugar a outras, brancas de vapor metálico de 315W. Segundo a prefeitura, a mudança nos postes e lâmpadas fez com que avenida Paulista ficasse 425% mais bem iluminada. Porém, o que se vê são ruas muito bem iluminadas e calçadas mais escuras: utilizando um luxímetro, fizemos uma medição da luminosidade, em que constatamos que em diversos pontos a luminosidade diminuiu. Verificamos que no canteiro central da avenida temos 90 lux; no meio das pistas, onde passam os carros, 72 lux; e, na calçada, temos apenas 30 lux, sendo que, quando refletida no piso escuro da calçada, a medição chega a apenas 3,5 lux no olho humano (dados obtidos em reportagem do jornal Folha). Telefones Públicos: Com a difusão dos aparelhos celulares, os telefones públicos têm sido usados cada vez menos, mas não é por isso que eles deixaram de existir. Na avenida Paulista os orelhões recentemente agregaram

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Fotos de alguns exemplares dos telefones públicos da Paulista participantes da Call Parade”. Fonte: Autora.


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uma outra função, a de verdadeiras obras de arte expostas ao ar livre. Esta exposição, batizada de Call Parade, é formada por cem telefones públicos que foram reformados por cem diferentes artistas plásticos participantes de um concurso promovido pela empresa responsável pelos equipamentos, criando uma exposição de arte ao ar livre. Um fator muito importante na questão do mobiliário urbano é o vandalismo. Para se ter uma ideia, de dezembro de 2008, data em que foram instaladas, à janeiro de 2009, das 194 lixeiras da avenida apenas 134 não foram alvo de vandalismo. Existe uma estimativa de que anualmente seja necessária a troca de 20% das lixeiras (informações encontradas na cartilha da associação Viva Paulista). Assim, entendemos, que o projeto de qualquer mobiliário urbano deve buscar minimizar os efeitos dos atos de vandalismo, seja ao utilizar um material mais resistente ou simplesmente através do design.

Imagens mostrando o resultado de atos de vandalismo na estação de metrô, e com uma lixeira. Fonte: Internet e Autora.


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Proposta de intervenção


O mobiliário urbano contribui para a estética e para a funcionalidade dos espaços da cidade, promovendo conforto e segurança às pessoas. A disposição inadequada do mobiliário nas calçadas é um empecilho para a utilização dos espaços públicos. Por isso, além da adequação ao uso específico para o qual se destinam, esses objetos devem também se adequar às atividades mais gerais do espaço onde serão implantados. Quanto à relação do mobiliário com a qualidade visual da paisagem na qual se inserem, é preciso considerar a criação de espaços mais agradáveis aos usuários destes espaços. Os elementos urbanos devem fazer parte da paisagem sem gerar interferências visuais negativas. Para isso, a presença de ordem na disposição do mobiliário precisa ser considerada, assim como a interferência desses objetos na complexidade da paisagem. Também importante é a relação do mobiliário com as edificações e outros elementos de entorno. O mobiliário urbano influencia

a percepção dos usuários sobre o espaço ao seu redor, e sua funcionalidade pode ser relacionada ao desenho desses objetos e à sua correspondência com aspectos ergonômicos. Durante esse trabalho tive a oportunidade de estudar e pensar mais sobre os aspectos da circulação e dos objetos que pertencem a um passeio público. Somente após esses estudos tive a aptidão para iniciar o projeto em si do mobiliário. De início me preocupei com os volumes a serem criados, suas formas e relações entre eles. Alguns modelos volumétricos me ajudaram e pensar os elementos da circulação que são muito importantes para o meu projeto por se tratar de um local de grande movimentação de pessoas. Pensando sobre a forma dos objetos, decidi que gostaria de trabalhar sempre com dois elementos que se complementariam. Um deles deveria ser mais robusto e com mais presença física e visual enquanto o segundo componente do projeto seria leve e delicado,

criando uma dualidade entre eles que delimita a linha de projeto a ser seguida. A melhor forma que encontrei para trabalhar essa dualidade foi contrastando os materiais desses elementos. A escolha do aço e do vidro para exercer essa oposição mostrou ser bem acertada. Assim, o aço faria o papel de elemento com maior peso visual, estruturando o vidro que seria usado para vedar e complementar o projeto da peça de mobiliário de maneira que a sua transparência trouxesse leveza ao conjunto, criando harmonia no produto final. Outro motivo que me fez optar pela escolha do aço como elemento principal e estruturador dos objetos que eu iria projetar foi a própria Paulista. Quando em 1974 a proposta de João Carlos Cauduro deu uma nova identidade à avenida com o projeto completo de mobiliário urbano desenhado especificamente para a avenida, ele criou um modelo de identidade visual simples e muito eficiente com seus conhecidos totens de alumínio, de 7,2 metros de

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Imagem do projeto dos totens do Cauduro, Fonte: site Cauduro & Martino.

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altura, 0,45 de largura e 0,20 metros de profundidade, que marcaram a paisagem e com os quais solucionou o problema de sinalização de um modo tão bem resolvido que atualmente não se pensa na Paulista sem lembrar desse elemento. Apesar da retirada dos pontos de ônibus e bancos na gestão da prefeita Luiza Erundina, os totens ainda permanecem e são elementos fundamentais da paisagem da Paulista. O alumínio pintado de preto com textos brancos utilizando uma fonte de letra limpa e de fácil entendimento dos totens ajuda a criar um clima de ambiente moderno e sofisticado para a Avenida Paulista. Buscando seguir essa linha de projeto, que optei pelo aço (pintado) com o vidro criando esse mesmo aspecto do totem com a sua fonte tipográfica. O aço escolhido para aplica-

ção no meu projeto de mobiliário é o cos ar cor 350 (antiga cos ar cor 500) pelo seu uso estrutural e principalmente pela sua alta resistência a corrosão atmosférica. Para a maior durabilidade do equipamento é im-

portante que ele receba uma aplicação a base de shop-primer epóxy, com 40 micrômetros de espessura de filme seco na cor vermelho óxido de acordo com a NBR7831 antes da aplicação da pintura eletrostática na


cor preta que promove uma película de alto acabamento, uniformidade e resistência. As peças de aço serão criadas através de dobras e soldas em chapas recortadas. O vidro escolhido para o projeto de mobiliário é do tipo laminado, por ser um vidro de segurança com alta resistência ao impacto direto, que em caso de quebra, os cacos permanecem presos à película de polivinil butiral ou resina, evitando que os usuários se machuquem. O vidro laminado filtra aproximadamente 99,5% dos raios UV e, quando agregado ao vidro do tipo refletivo ou low-e, é possível obter excelentes níveis de conforto térmico. Além dos tipos já citados, o vidro laminado pode ser agregado a produtos como o vidro insulado, temperado e serigrafado, permitindo uma ampla variedade de soluções para melhorar o desempenho térmico, acústico e de segurança. Quando estudei mais sobre o projeto da calçada da Avenida Paulista reparei que apesar de alguns elementos terem problemas na sua implantação (como por exemplo as floreiras) e de outros que, por sofrerem constante vandalismo, nem sempre seguem a implantação projetada (como no caso das lixeiras), de forma geral, pode-se dizer que os locais escolhidos para a colo-

cação de cada um dos elementos foram bem pensados e estudados, de modo que não precisei fazer tantas alterações no meu projeto nesse sentido.

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Mapa de levantamento:

Mapa com a implantação do projeto:


Mapas: de levantamento da situação atual da avenida Paulista, e de implantação do meu projeto. Escala 1:1000. Legenda: Totem. Lixeira. Floreira. Gradil. Ponto de Ônibus. Metrô. Banca de Jornal. Saída de Ar do Metrô. Bancos


Projeto: ponto de 么nibus


Mapa com detalhe da implantação do ponto de ônibus. Escala: 1:250.


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Atualmente, a maior parte dos abrigos de ônibus existentes na capital é criticada por usuários do transporte público. Falta manutenção, limpeza e, principalmente, um sistema eficiente de informação ao passageiro, que não sabe nem qual o percurso da linha nem quais linhas de ônibus passam naquele local. Nesse quesito pode-se dizer que os abrigos apresentam uma situação melhor. Quando não há espaço para um abrigo e o ponto se resume a um poste onde o ônibus para, simplesmente não há informação alguma para o usuário, isso sem falar na falta de assento e de proteção do sol e da chuva. Na Avenida Paulista, apesar de toda a modernidade e das reformas recentes, o modelo de abrigo para a parada de ônibus encontrado atualmente, ainda é um dos remanescentes do modelo “barcelona” que está sendo substituído em toda a cidade. Ele é eficiente, resistente, e tem uma implantação bem organizada na Paulista. Porém não há placas com os itinerários dos ônibus, o que é um grande problema, já que o sistema de paradas da avenida em alguns pontos é separado de acordo com o destino ou a rota do ônibus, e mais de 45 linhas diferentes circulam pela Paulista. A realidade atual é que as pes-

soas que já estão acostumadas a circular pela região e conhecem as linhas de transporte público conseguem se orientar, mas quem não conhece a região fica desinformado a respeito do sistema de transporte urbano de ônibus. Esse é um problema que o novo modelo de abrigo, a ser instalado na Paulista até o final do ano, deve resolver.

Imagens mostrando os pontos de ônibus presentes na Paulista atualmente. Fonte: Autora.


Existem quatro modelos novos de abrigos de parada de ônibus, todos com cobertura de vidro ou plástico transparente sobre estrutura de aço ou concreto. O modelo “caos estruturado”, com pilares desordenados, e o “brutalista”, instalado perto de pontes, viadutos e nas marginais, estarão na maior parte da cidade. Enquanto o modelo “minimalista” foi previsto para os pontos turísticos e o modelo “high-tech”, com tela touch screen, foi pensado para os centros econômicos. Dos quatro modelos com design arrojado e aplicações de tecnologia avançada, criados pelo designer Guto Índio da Costa, que serão instalados na cidade, o “hi-tech” é o modelo que vamos encontrar na Avenida Paulista. Este modelo contará com um painel sensível ao toque, que ficará oposto ao painel de publicidade e irá trazer informações interessantes da região, como pontos turísticos, e um mapa sobre como chegar nas atrações turísticas da cidade. Entretanto, há divergências quanto à funcionalidade e à estética. Com alguns modelos sendo instalados pela cidade, os usuários tem manifestado suas primeiras criticas: a cobertura de vidro foi questionada por não proteger dos raios de sol, os bancos (principalmente

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Imagens dos pontos de ônibus novos que já foram instalados (caos estruturado e hightech). Fonte: Autora.


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do modelo “caos estruturado”) foram considerados insuficientes e ainda há muitas reclamações dos usuários por falta de informações sobre itinerários das linhas. A concessionária alega que os vidros contam com proteção uv e serigrafia para melhorar o conforto térmico, e que os totens com as informações dos itinerários dos ônibus ainda não estão instalados pois fazem parte da última etapa no processo de instalação. Passado algum tempo da instalação dos primeiros exemplares dos abrigos, vemos que a quantidade de reclamações vem diminuindo. Acredito que, de uma forma geral, os abrigos de ônibus da cidade de são Paulo são adequados. Eles poderiam ter algumas pequenas modificações para garantir um maior conforto aos usuários, mas é muito difícil que um mesmo modelo apresente a mesma qualidade quando aplicado no local para onde ele foi pensado, por exemplo uma região plana, e quando ele é adaptado para um local completamente diferente, como uma rua com grande inclinação. Se o projeto for feito já com essa proposta, é possível que a solução seja boa, mas no geral não é isso que vemos. Os modelos devem ser pensados especificamente para o local onde serão implanta-

dos, observando questões como medidas mais adequadas, altura do pé-direito, localização dos pilares, e do banco, etc. Exatamente por isso em meu projeto foi priorizada a escolha de um local específico para a implantação não só do abrigo de ônibus mas de toda a família de mobiliário que seria criada. As principais referências que usei foram os próprios abrigos já existentes na cidade, para poder observar, como usuária, quais as melhorias que poderiam ser propostas. Durante a criação do ponto de ônibus as minhas maiores preocupações se davam na questão da quantidade de pessoas que costuma pegar ônibus nos horários de pico, e de prover para elas um abrigo adequado, protegendo de chuva o maior número de pessoas possível; por isso o projeto tem um tamanho maior que os pontos de ônibus comuns ao resto da cidade. O acesso ao ponto de ônibus e o acesso ao próprio ônibus também foram preocupações. Para ajudar na entrada no ônibus, optei por erguer toda a estrutura do nível da calçada, diminuindo o tamanho do degrau quando o usuário for subir no veículo. Sobre o tempo de espera, achei

importante de providenciar bons assentos para esperas mais longas, e apoios confortáveis para esperas mais curtas. Sobre a informação a respeito de itinerários e horários de ônibus, pensei que eles poderiam ser colocados sobre algum dos pilares de aço que estruturam o ponto.




Nas juntas entre vidros é importante a aplicação de um silicone que permita a dilatação do material, sem que entre água em momentos de chuva, e sem interferir esteticamente no projeto.



Sobre o piso, ele se projeta elevado até o meio-fio, para ajudar os passageiros no embarques nos ônibus. Mas a cobertura não pode chegar até essa medida por segurança, já que muitas vezes o asfalto na região do ponto de ônibus cede, deixando os veículos tortos. A intenção ao colocar uma iluminação no piso, era aumentar a iluminação já fraca nas calçadas e criar um elemento que poderia ser utilizado para colocar uma cor na Paulista que é uma avenida bem cinzenta.





Os elementos vazados representam as chapas dobradas e soldadas finais que fazem parte do meu projeto. Os elementos em preto são as chapas de aço jå com dobras marcadas, que serão soldadas para formar o elemento final.



Aqui fica claro como seria a utilização de uma iluminação colorida no piso da calçada, criando um ambiente em outra tonalidade, que poderia variar de acordo com o dia da semana por exemplo.


Projeto: Bancos


Quando pensamos sobre o uso das calçadas lembramos muito da passagem e circulação, e em poucos casos pensamos na permanência nos espaços públicos. Muito provavelmente por essa razão não encontramos muitas calçadas providas de assentos para a permanência das pessoas na cidade de São Paulo. A existência de bancos possibilitaria às pessoas apreciarem o movimento e a paisagem local, além de aumentar as oportunidades de se relacionarem com outros usuários daquele espaço público. Provavelmente é por isso que encontramos mais bancos em praças e jardins. Na Avenida Paulista isso não é diferente. Encontramos áreas de estar, com assentos, nos parques e nos jardins de recepção dos lotes mas quando observamos o passeio fica clara a intenção de que as pessoas não permaneçam ali. Nas áreas acessíveis das calçadas, vemos pessoas sentadas em qualquer canto que lhes permita um descanso, contemplação ou ainda uma descontração do trabalho. Degraus

de escada, cantos de floreiras e até o ponto de ônibus (quando não está lotado) são utilizados pelas pessoas que querem descansar um pouco quando estão na Paulista. Vemos que mesmo não sendo os lugares mais confortáveis, a falta de opção faz as pessoas lotarem esses lugares. 67

Imagens dos mostrando o falta de bancos na avenida, e como uma empresa criou um estar agradável para os seus funcionários. Fonte: Autora.


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Esta situação tem se agravado já que, paulatinamente, os edifícios vêm reformando suas fachadas e as frentes dos lotes, instalando grades impedindo que as pessoas se sentem nestes locais. Podemos comparar essas grades com as espículas que são colocadas em alguns locais a fim de evitar que pombos façam seus ninhos lá. Com essa situação, a necessidade de bancos na avenida Paulista se tornou a principal motivação para o desenvolvimento deste projeto. Como pedestre e turista da cidade de São Paulo vejo a extrema necessidade dessa criação, para que as pessoas possam observar com calma toda a grandeza da avenida Paulista, com sua riqueza arquitetônica e esplendor cultural. Para a criação desse projeto me inspirei em bancos de praças já existentes na cidade de São Paulo e outros dispostos em calçadas pelo mundo. Ao projetar o banco a questão mais importante era criar uma peça resistente, confortável e durável que pudesse ser implantada na calçada, criando um novo espaço, sem atrapalhar o floxo de pessoas. O projeto em si acabou sendo um resultado das questões acima, e da necessidade de familiaridade entre os ob-

Imagens das espículas usadas para evitar pomos e da grade instalada em alguns edifícios da Paulista para evitar pessoas. Fonte: Internet e Autora.

jetos, que criaria a unidade visual que estávamos buscando para esse projeto. A sua implantação junto a floreiras e gradis cria diferentes áreas para o usuário, permitindo diferentes usos.


Mapa com detalhe da implantação dos bancos, criando uma área de repouso. Escala: 1:250.





No projeto do banco me preocupei em utilizar medidas confortĂĄveis, que os materiais nĂŁo absorvessem muito calor, e que as formas fossem resistentes e leves ao mesmo tempo, contraste que consigo pelo uso dos materiais.


Projeto: Lixeira e cinzeiro


Mapa com detalhe da colocação das lixeiras e cinzeiros. Escala: 1:250.


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Como já mencionado neste trabalho, os serviços de limpeza da Avenida Paulista são dos melhores do município, sendo varrida oito vezes por dia. Porém, as lixeiras de concreto são os elementos mais depredados e vandalizados de todo o equipamento urbano existente na avenida. Vinte por cento das peças precisam ser trocadas anualmente. O modelo de lixeira em concreto com frente e cesto em aço inox que está atualmente na Paulista foi pensado para ser mais resistente que os outros modelos da cidade, a grande maioria de plástico, e que também sofrem constantemente com o vandalismo. Porém apesar de muito mais resistente, as lixeiras de concreto também são depredadas, derrubadas, etc.

Apesar do vandalismo, o projeto das lixeiras é bem competente. O maior problema com relação a elas é que sua disposição na avenida é descontínua, de forma que em alguns locais encontramos lixeiras muito longe umas das outras, enquanto em outros pontos elas estão a poucos passos de distância. Essa distribuição desigual é ruim pois o passeio tende a ficar mais sujo onde as lixeiras são mais distanciadas. Acredito que, para uma boa distribuição das lixeiras, elas deveriam estar próximas dos totens junto às faixas de pedestre, perto de outros equipamentos como bancas de jornal e bancos, assim como ter um espaçamento mínimo entre elas, para que as pessoas não precisem carregar seu lixo por grandes distâncias.

Fotos das lixeiras e cinzeiros atuais na Paulista. Fonte: Autora.


Nos últimos anos, após a instituição da lei que proibiu as pessoas de fumarem em locais fechados, vemos mais e mais fumantes nas calçadas. No início da vigência da lei, as calçadas da Paulista não estavam preparadas para receber as cinzas e bitucas de cigarros, e assim, os canteiros e o chão passaram a servir de cinzeiro. Preocupados com a imagem negativa causada pela sujeira, muitos edifícios da avenida já dispõem de cinzeiros posicionados nas áreas públicas em frente aos lotes, durante o horário comercial. Estes cinzeiros não são padronizados nem fixos e acabam criando novos problemas a serem tratados quanto ao mobiliário urbano da avenida. Recentemente, algumas lixeiras foram adaptadas para receberem cinzeiros e novos postes preparados para o descarte apropriado foram instalados em alguns pontos, mas ainda assim o que se vê é um enorme desrespeito ao patrimônio público e privado. Por isso, junto do projeto de lixeira desenvolvi um cinzeiro que dialoga visualmente com a forma da lixeira. Para o projeto da lixeira e do cinzeiro para a avenida Paulista me preocupei em seguir os traços do desenho dos outros objetos, como o banco e o abrigo de ônibus, para criar uma unidade familiar entre to-

das as peças do meu projeto. Como referências para esses objetos eu observei a lixeira de concreto existente na Avenida Paulista e também alguns exemplares de outros lugares no mundo. Ao me debruçar sobre esses projetos, pensei na importância deles funcionarem bem juntos, e na sua versatilidade, para que pudessem ser implantados repetidamente ao longo da avenida, sem atrapalhar o fluxo de pessoas. Também foi importante pensar os locais onde as pessoas acabam ficando mais tempo, para que nesses pontos mais peças fossem colocadas, ajudando a manter as ruas da cidade limpa. Nesses dois projetos tive que me preocupar com a forma de limpeza/ remoção de detritos pela equipe que faz a limpeza da avenida. Foram duas soluções diferentes devido ao peso de cada uma das peças, já que o cinzeiro é muito menor e permite o manuseio do recipiente que recebe as cinzas, assim como a lixeira é pesada, e impossibilita o mesmo movimento. Outra preocupação nesse projeto foi a utilização de um vidro com película branca, que impede a visualização através dele.

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Projeto da Lixeira

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A rotação da tampa da lixeira foi uma solução que é simples, e bem funcional. Ela permite que a pesada cesta em vidro fique fixa, e que os funcionários não tenham problema para colocar e tirar o lixo. Com o dreno para escoamento da água pluvial, fica fácil fazer a limpeza do cesto a cargo de manutenção.

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Projeto do Cinzeiro

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Para o cinzeiro, imaginei um encaixe que tambĂŠm facilita para a limpeza e esvaziamento do recipiente.


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Projeto: Gradil


Mapa com detalhe do uso do gradil para proteger o usuário do banco (além da conhecida colocação nas esquinas). Escala: 1:250.


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Com a reforma que alterou a localização das faixas de pedestre na Avenida Paulista, em um primeiro momento, a instalação dos gradis nas esquinas da avenida teve como objetivo impedir que as pessoas atravessassem em local inadequado, atrapalhando o trânsito. Depois que os usuários já estavam acostumados com as novas travessias, eles foram mantidos apenas como medida de segurança. O modelo que encontramos atualmente na avenida é simples e eficiente. Composto por barras quadradas de aço pintadas de preto, as 1.432 grades instaladas nas esquinas da Paulista foram colocadas junto ao meio fio das esquinas, assim como nos canteiros centrais, para não obstruir nem interferir na passagem prevista aos pedestres. Alguns gradis apresentam sinais de falta de manutenção, outros de vandalismo, mas em geral eles estão inteiros e cumprindo a sua função. Em toda a Cidade de São Paulo encontramos elementos parecidos com a mesma função de organizar as calçadas e principalmente as travessias. O projeto de um gradil novo vem da necessidade de que todo o mobiliário da Paulista tenha uma relação entre si, estabelecendo uma união entre as peças, e como conjunto, melhorando a percepção

visual e desta forma criando um estilo único para toda a avenida. Sendo assim, utilizei como referência o gradil existente na Paulista, bem como os outros objetos já criados, a fim de garantir a unidade visual da família de mobiliário. O projeto do gradil é simples e mostra uma relação de familiaridade com os outros objetos. Sua transparência dá leveza ao objeto, e me permitiu a colocação em mais locais além das esquinas.

Imagens mostrando um gradil da Palista, e seus detalhes. Fonte: Autora.


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O gradil tem uma forma resistente ao mesmo tempo que sua transparência permita a utilização dele como proteção na colocação de bancos na calçada, sem atrapalhar a vista dos usuários.


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Projeto: Floreira


Mapa com detalhe da colocação das floreiras junto com bancos. Escala: 1:250.


Inspirada nos bulevares, a Avenida Paulista por muitos anos foi referência no que diz respeito à arborização. Com grandes áreas preparadas para plantio e colocação de vasos, ela se mantinha sempre verde. Entretanto, a profundidade rasa da avenida impede que grandes árvores sejam plantadas na avenida, de modo que encontramos apenas árvores de pequeno a médio porte, e principalmente arbustos e gramíneas povoando as floreiras da Paulista. Com o passar do tempo e as

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reformas que foram acontecendo na calçada, a área para plantio e os vasos deram lugar às floreiras em concreto pré-moldado que encontramos atualmente na avenida, sua disposição foi pensada para controlar o fluxo e a travessia de pedestre. As floreiras também servem de assento para as pessoas, apesar de o formato das suas bordas, desenhadas para a drenagem da água das chuvas, ser bem desconfortável. Além de garantir sombra e refresco, em uma região árida pela

predominância de concreto e asfalto, as floreiras da avenida também cumprem a função de alegrar a normalmente cinza Paulista. Entretanto, não é incomum ouvir dos frequentadores que as flores estão mortas ou morrendo por falta de cuidados. Houve inclusive um episódio em que as flores mortas foram trocadas por cactos e pedras, em uma tentativa de resolver o problema do abandono das flores e da necessidade de cuidados constantes. Em relação às floreiras, podese dizer, que na maioria das vezes, a forma segue a função e, por isso, as floreiras e vasos espalhados pela cidade são sempre bem parecidos em seu desenho e formato. E para o projeto em questão procurei seguir os aspectos positivos da Paulista atualmente, assim como algumas referências interessantes de outros lugares que me pareceram pertinentes a esse projeto. Foto da avenida Paulista nos anos 70, com o mobiliário da época projetado por João Carlos Cauduro. Fonte: Paulista Viva.


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O projeto da floreira é simples e funcional. A maior preocupação ao criá-lo era que sua implantação não atrapalhasse no fluxo, que ela pudesse ser usada junto ao banco, e que o desenho evitasse que o aço permanecesse em constante contado com a água, sem uma preparação prévia. Sua forma simples permitiu resolver todos essas questões.

Imagens dos diferentes tipos, desenhos e usos das floreiras da avenida. Fonte: Autora.


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A floreira tem um formato simples que pode ser repetido criando elementos mais longos. A base em concreto ajuda a manter o lado externo do aço a distância da água constante nas calçadas. Internamente, o caimento e os drenos também ajudam a evitar o acúmulo.


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Conclus達o


Alguns esclarecimentos finais: O conjunto de peças que desenvolvi para esse projeto mostra a minha intenção de criar uma família de mobiliário, em que cada um dos elementos se comunica com o outro visualmente, criando uma unidade que segue os padrões de qualidade que os frequentadores da Avenida Paulista estão acostumados. Por ser um trabalho acadêmico em caráter experimental, não foi possível projetar todo o conjunto de mobiliário que existe na avenida. Faltaram alguns elementos como luminária, orelhão, entrada do metrô, bancas de jornal, entre outros. Afinal a vontade inicial deste projeto era criar uma unidade com todos os elementos encontrados na calçada da Paulista, excluindo-se apenas a renovação do totem de comunicação criado por João Carlos Cauduro, já que esse foi o meu ponto de partida para criar todo o projeto. Um dos elementos que não tive a oportunidade de desenvolver neste trabalho foi a luminária. Re-

centemente as antigas luminárias foram substituídas por um modelo mais moderno, mas sem resolver o problema existente. A colocação das luminárias no canteiro central é uma solução inteligente, porém o modelo da luminária deveria se preocupar mais com a quantidade de luz que chega nas calçadas. A luz vinda dos postes altos privilegia a via de veículo, em detrimento dos passeios, deixando muitos pontos de escuridão durante a noite. Um exemplo desta deficiência são as calçadas entre a Rua Pamplona e Alameda Campinas, quadras objeto deste projeto. Este fato contribuiu muito quando decidi colocar iluminação no piso do ponto de ônibus, pensando que essa seria uma solução para todo o problema de iluminação nas calçadas, além de permitir o trabalho com luzes coloridas, criando um ambiente um pouco mais descontraído e alegre nas noites paulistanas. Além disso, também seria muito importante a inclusão de novos equipamentos além dos projetados neste trabalho. Um exemplo de mo-

biliário de grande importância seria um bicicletário, devido à disseminação da bicicleta como meio de transporte e a nova ciclofaixa, aberta apenas aos domingos e feriados. Ao longo de todo esse trabalho tive a oportunidade de estudar e investigar mais sobre a Avenida Paulista, assim como procurei conhecimentos a respeito de mobiliário urbano. Foi uma experiência enriquecedora e esclarecedora, que pretendo levar a diante em minhas próximas pesquisas.

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ReferĂŞncias projetuais


O mobiliário urbano deve ser estudado de maneira contextualizada, a fim de contribuir para que os projetos, bem como sua implantação nos espaços públicos, sejam satisfatórios aos usuários, não somente em relação a estética dos objetos considerados isoladamente, mas, também, em sua adequação aos demais componentes da paisagem, aos quesitos funcionais e ao uso dos espaços urbanos. Essas questões devem ser observadas quando se pretende projetar um ambiente público mais qualificado. Para projetar um mobiliário que se encaixe na Avenida Paulista, busquei referências que tinham a ver com o local, a sua história passada e recente. Sendo assim, comecei procurando informações sobre os bulevares europeus, principalmente os franceses, que foram a inspiração para o projeto da Paulista em seus primórdios. O termo bulevar se refere a avenidas largas e com privilegiados projetos paisagísticos. Ele surgiu na Europa, quando projetos de reurbanização das cida-

des propuseram o alargamento das estreitas passagens de carruagens, transformando estes caminhos em grandes avenidas arborizadas. Os exemplos de bulevares levados em conta para este projeto são interessantes para mostrar a qualidade de passagem e estadia que as vias bem arborizadas têm. Ao caminhar por uma via dessas a sensação é bem agradável, principalmente em climas tropicais onde o sol aquece muito as áreas com maior concentração de concreto. Outro projeto que achei interessante se trata da Gran Via de les Corts Catalanes em Barcelona, pois lá encontramos um exemplo de avenida que sofreu um processo de reforma parecido com o que seria realizado no projeto nova Paulista nos dando uma noção de como seria se esta tivesse sido executada em seu projeto original. O projeto de Barcelona é do escritório espanhol Arriola & Fiol e foi construído em 2007. Ele propôs o rebaixamento da via expressa, com a projeção de duas marginais, uma rebaixada junto com a expres-

O bulevar parisiense que foi inspiração para a criação da Paulista também foi minha. Fonte: Internet (autor desconhecido).

sa e uma na superfície para trânsito local. Esta solução reduz o ruído e a poluição sonora, além de propiciar uma solução para escassez de espaços livres na região: a área onde ficavam todas as vias pôde ser transformada em um grande parque linear ao longo dos dois lados da via. Esse parque é responsável por resolver a diferença entre os níveis dos edifícios e da via rebaixada, além de criar a interação dos dois lados da avenida através de passarelas. Ao longo de todo parque uma série de equipamentos urbanos úteis à população, os bancos foram especialmente concebidos pelos mesmos arquitetos responsáveis pelo projeto, usando

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como referências formas de objetos voadores e formas de vida marinha e eles servem para melhorar a qualidade das praças criadas no projeto. Porém, a referência mais im-

portante para o meu projeto foi a própria Avenida Paulista, sua história e todas as intervenções que foram feiras nela ao longo do tempo.

Imagens do projeto arquitetônico, realização e detalhe do mobiliário projetado por Cauduro, que foi minha maior fonte de inspiração. Fonte: Livro Design & ambiente de João Carlos Cauduro e Internet.


Imagens do projeto da Gran Via de les Corts Catalanes em Barcelona, mostrando como o aterramento da via permitiu a criação de áreas muito mais ricas aos pedestres e moradores da região. Fonte: Livro The Public Chance.

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MobiliĂĄrio criado especialmente para o projeto da Gran Via de les Corts Catalanes. Cada um deles pensado para um local especĂ­fico do parque linear. Fonte: Livro The Public Chance.


Algumas imagens de mobiliário e eliminação que me chamaram atenção ao longo do trabalho pela forma, leveza, solução criativa, simplicidade e competência; e que me ajudaram a chegar ao resultado que obtive nesse trabalho. Fonte: Internet e Livros.

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Referテェncias BIBLIOGRテ:ICAS


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Publicado em junho/2013 Papel Couché Fosco 120g Fontes tipográficas: Títulos em Britannic Bold. Texto em Helvética Neue.


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