Faculdade de Arquitetura e Urbanismo | Universidade Federal da Fronteira Sul | Trabalho Final de Graduação I 2017/2
Acadêmica Paula Carlesso | Orientadora Prof. Natalia Nakadomari Bula
O TEMA O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta arquitetônica para nova sede da Associação Benecente Recriando a Vida, localizada no município de Erechim/RS. Atualmente, a instituição está instalada em uma residência alugada no bairro Presidente Vargas, onde atua dando assistência a 80 crianças e jovens, de 06 a 15 anos, que encontram-se em situação de risco e vulnerabilidade social, no período complementar ao da escola. O projeto socioeducativo Recriando a Vida - Casa Santa Teresa de Jesus foi inaugurado no dia 06 de março de 2008 pelas Irmãs Teresianas (Congregação Santa Teresa de Jesus), com a presença de algumas guras importantes do bairro Presidente Vargas, onde está localizada, que incluíam os setores da educação, saúde e administração municipal, além de representantes religiosos do bairro. Em 2014 a nova associação assumiu a entidade, alterando seu nome para Associação Benecente Recriando a Vida. Desde sua fundação, a entidade funciona através de doações de empresas, grupos e comunidade em geral, em conjunto com o serviço voluntário. São realizadas ocinas de segunda à sexta-feira, com o intuito de melhorar o desempenho escolar das crianças e adolescentes. Com o auxílio de professoras voluntárias, são ofertadas aulas de artes, música, valores éticos e morais, sessões de lmes, prática de esportes e reforço escolar nas disciplinas de língua portuguesa e matemática. A associação também fornece alimentação (café da manhã, lanche e almoço), além de acompanhamento e assistência social através de estágios realizados por estudantes de psicologia e enfermagem de universidades da região.
O LUGAR DA EDUCAÇÃO INTEGRAL NA POLÍTICA SOCIAL Dentre as respostas ao quadro atual da educação pública no Brasil estão as novas políticas educacionais voltadas ao ensino integral. O Programa Mais Educação, regulamentado pelo Decreto 7.083/10, que visa atender escolas com baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e localizadas em zonas de vulnerabilidade social, situadas em capitais, regiões metropolitanas ou cidades com população igual ou superior a 90 mil habitantes. Além dele, o discurso da educação integral também está inserido no texto que compõe a Lei n° 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e prevê o aumento progressivo da jornada escolar para o regime de tempo integral (arts. 34 e 87, § 5°), além de reconhecer e valorizar as iniciativas de instituições que desenvolvem, como parceiras da escola, experiências extra-escolares (art. 3°, X). Neste contexto encontram-se as organizações não-governamentais, que desenvolvem atividades no período inverso ao da escola e, como apoio a ela, assumem um caráter educativo geralmente em “bairros que são, em sua maioria, pouco providos de serviEscolas públicas da educação básica com matrículas em tempo integral
Matrículas na rede pública em tempo integral na Educação Básica
1549
1824
1934
15,7%
2014
2014
2014
2014
50,8%
25,6%
50%
17,5%
2014
Lei de diretrizes e bases da educação Primeira aprovação da proposta ainda com alguns conceitos considerados conservadores, pois dava maior foco ao ensino privado
1961
Constituição brasileira Educação denida como direito social e de responsabilidade do Estado
1988
2014
BRASIL
42%
25% 2024
RS
META
50% 2024
ERECHIM
Constituição brasileira Tem início as discussões sobre a Lei de Diretrizes e bases da educação ‘’Movimento de defesa da escola pública’’
1946
Constituição brasileira Ensino primário como dever do Estado
Escola Nova Manifesto dos pioneiros da educação na época (Anísio Teixeira). Obrigatoriedade da educção de qualidade para todos.
1932
Constituição Imperial Acesso e gratuidade à educação primária a todo ciddão brasileiro
1808
Educalção religiosa Jesuítas
Institucionalização do ensino superior
Para dar embasamento ao estudo, iniciou-se uma pesquisa acerca da inserção da educação integral na história da educação pública brasileira, resultando em uma linha do tempo. Esta etapa mostrou que a discussão é relativamente recente e necessita de planejamento e investimentos para que atinja os resultados desejados. Nesse sentido, a legislação atual que trata sobre a educação integral também mostra que entidades como a Recriando a Vida assumem um importante papel dando suporte às escolas públicas que, com sua estrutura atual, não conseguem atender todos os seus alunos em período integral.
META
REFERENCIAL TEÓRICO
ços e oportunidades destinados à proteção, educação e lazer de crianças, adolescentes e jovens’’. (GUARÁ, 2009) Mais do que ampliar o número de horas que uma criança ou adolescente passa dentro da escola, é preciso vericar sua real efetividade e se são contempladas todas as políticas setoriais, como cultura, esporte e meio ambiente, por exemplo. Nesse sentido, Carvalho (2006) aponta que as políticas sociais nascem de demandas e iniciativas da comunidade, e não pela mão do Estado. Instituições de apoio que realizam o atendimento no período complementar ao da escola constituem-se como serviço de proteção social, uma vez que desempenham o papel de manter e reforçar o vínculo escolar da criança e do adolescente. Além disso, a diversidade de atividades envolvendo cultura, educação, esporte, lazer e saúde torna o programa multisetorial, atendendo às reais necessidades do usuário que está inserido em determinado contexto e busca na escola e na comunidade desenvolver sua identidade. (CARVALHO, 2006) O gráco ao lado apresenta a relação da meta 6 estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE), a qual visa ‘’oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos(as) alunos(as) da Educação Básica’’ em um período de 10 anos (2014 a 2024) (Observatório PNE, 2017). Os dados disponibilizados pela plataforma do PNE indicam que para o número de escolas com oferta de ensino integral, a única esfera que ainda não atingiu a meta é a nacional. Com relação ao número de alunos matriculados, em âmbito nacional e municipal os números não se mostram satisfatórios. O município de Erechim, com relação ao número de escolas que oferecem as atividades em tempo integral está dentro da meta proposta. Entretanto, de acordo com os dados de 2014, o número de alunos matriculados nesta modalidade de ensino está em 17,5 dos 25% propostos.
Cidade Escola Aprendiz, SP Promoção de experiências e políticas públicas orientadas por uma perspectiva integral da educação
Programa Escola Integrada, MG Política municipal de Belo Horizonte, promove o ensino integral para além do edifício escolar.
PNE Plano Nacional de Educação Diretrizes, metas e estratégias para 10 anos (2014 a 2024). A meta 6 trata especicamente da educação integral.
1997
2006
2014
1
/8
E.M. Othelo Rosa
recriando a vida:
A EDUCAÇÃO ALÉM DA ESCOLA
365 matrículas ensino fundamental 1° a 9° ano
matriculados no programa
85 alunos
23,3% atendidos pelo
MAIS EDUCAÇÃO
ENSINO INTEGRAL
A Escola de Ensino Fundamental Othelo Rosa, localizada no bairro Presidente Vargas, atualmente é uma das 62,5 mil escolas de educação básica do Brasil vinculadas ao programa Mais Educação. As atividades ofertadas de segunda a quinta-feira contemplam aulas de português, matemática, taewkondo, artesanato e basquete. Em virtude das dependências da escola estarem ocupadas quase em sua totalidade durante os dois turnos, o atendimento em turno integral para 100% dos alunos ca impossibilitado. Isto ocorre para a maioria dos casos de escolas públicas no Brasil, pois para atender a um programa de educação integral, a edicação escolar deve ter sido planejada previamente para este m. Por ser um tema relativamente atual, a falta de infraestrutura para viabilizar as atividades no contraturno torna-se um desao.
AS PEDAGOGIAS ALTERNATIVAS Tomando como ponto de partida a abordagem já utilizada atualmente na Associação Benecente Recriando a Vida, procurou-se compor uma síntese dos principais objetivos de algumas das mais importantes pedagogias alternativas da atualidade. O principal conceito que pode ser absorvido dentre todas é o de garantir a autonomia da criança no processo de aprendizado. O esquema de palavras abaixo foi utilizado na denição das diretrizes projetuais.
WALDORF EXPRESSÃO ARTÍSTICA
CONEXÃO COM A NATUREZA
CRIATIVIDADE PENSAR+SENTIR+QUERER
PAULO FREIRE ASPECTOS SOCIAIS E CULTURAIS CURIOSIDADE
Escola-parque, BA Anísio Teixeira Primeiras propostas para ampliação da jornada escolar
CIEP, RJ Centro Integrado de Educação Pública Oscar Niemeyer Atendimento a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Educação integral.
1990 ECA Estatuto da Criança e do Adolescente Proteção e prioridade aos direitos da infância e adolescência.
2000 CEU, SP Centro de Artes e Esportes Unicados Além de atividades esportivas e culturais, oferece assistência social, formação e qualicação para promover a cidadania em territórios de alta vulnerabilidade social.
2010 Programa Mais Educação Ampliação da jornada escolar para no mínimo 7h diárias, nas instituições de ensino municipais e estaduais, por meio de atividades optativas que envolvem educação ambiental, acompanhamento pedagógico, aulas de reforço escolar e prática de esportes.
VITTRA CORES PEDAGOGIA + DESIGN
EDUCAÇÃO + LAZER
EXPRESSÕES DO CORPO
SENSAÇÕES OLHAR DA CRIANÇA AUTONOMIA LIBERDADE DE APRENDIZADO
1980
HUMANISMO
REGGIO EMILIA
ESCOLA-PARQUE
1950
MONTAIGNE RESPEITO À PERSONALIDADE
PAPEL SOCIAL DA ESCOLA
PIAGET EXPERIMENTAÇÃO
AUTONOMIA
MONTESSORI SENTIDOS E EXPERIÊNCIAS ESCALA DA CRIANÇA
AUTONOMIA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _____Decreto nº 7.083, de 27 de janeiro de 2010. Dispõe sobre o Programa Mais Educação. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7083.htm>. Acesso em: 20 mar. 2017. _____Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm>. Acesso em: 20 mar. 2017. BEYER, Sabine. Uma introdução à arquitetura nas pedagogias alternativas. 2014. Disponível em: <reevo.org/pt-br/columna/uma-introducao-aarquitetura-nas-pedagogias-alternativas/> Acesso em: 18 abr. 2017. BULA, Natalia Nakadomari. Arquitetura e Fenomenologia: qualidades sensíveis e o processo de projeto. Dissertação (Mestrado em Programa Pósgraduação em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal de Santa Catarina. 2015. CARVALHO, Maria do Carmo Brant. O lugar da educação integral na politica social. Cadernos CENPEC, São Paulo, , v. 5.000, p. 7 - 11, 01 out. 2006. DUARTE, Cristiane; RHEINGANTZ, Paulo; AZEVEDO, Giselle A.N.; BRONSTEIN, Lais. (Org). O lugar do projeto no ensino e na pesquisa em arquitetura e urbanismo. Rio de Janeiro: Contra Capa e PROARQ/FAU-UFRJ, 2007. GUARÁ, Isa Maria Ferreira da Rosa. Educação e Desenvolvimento Integral: articulando saberes na escola e além da escola. Em Aberto , v. 22, p. 65-81, 2009. KOWALTOWSKI, Doris K.. Arquitetura escolar: o projeto do ambiente de ensino. São Paulo, Ocina de Textos, 2011. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Traduzido por Jefferson Luiz Camargo. São Paulo, Martins Fontes, 1997. OLIVEIRA, Gabriela Bastos. Diretrizes arquitetônicas para ambientes de socialização da população infantojuvenil em situação de vulnerabilidade social: um estudo de caso no Centro de Educação Complementar (CEC) em Florianópolis/SC. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Florianópolis, SC, 2013. 208p. SOUZA, Fabiana dos Santos ; RHEINGANTZ, P. A. . Observação Incorporada, Experiência e empatia na APO com ênfase na Educação Infantil. In: NUTAU'2006 Inovações Tecnológicas Sustentabilidade, 2006, São Paulo. NUTAU'2006 Inovações Tecnológicas e Sustentabilidade. São Paulo: FAUUSP, 2006. v. 1. p. 1-10. REBELLO, Yopanan. (2000). A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000. RHEINGANTZ, P. A.; FIGUEIREDO, J. . Observando a Qualidade do Projeto e do Lugar. In: 1o. Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto, 2009, São Carlos. Anais do 1o. simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto. São Carlos/Porto Alegre: EESC USP/ANTAC, 2009. v. 1. p. 25-55.
PESQUISA QUALITATIVA
2/8
RESULTADOS Já que a APO considera o ponto de vista do usuário, Rheingantz et al (2009) arma que é pertinente inserir as sensações e experiências do pesquisador, que incluirá um olhar técnico e sensível em virtude da convivência e da criação de vínculos com as pessoas e o local estudado. Esta aproximação pode ser feita através do método da Obseravção Experiencial, onde a leitura do espaço é realizada através das relações pessoais estabelecidas com os usuários.
Em síntese, para os quatro métodos de APO aplicados, a análise realizada aponta falta de espaço e a baixa qualidade daquele que está disponível atualmente. A observação experiencial ocorreu desde as primeiras visitas, onde em um caderno de campo eram anotadas as conversas e percepções das situações e dos espaços. Por se tratar de uma residência, a infraestrutura disponível não é adequada para atender os usuários, isto foi apontado tanto nas conversas quanto nas análises pessoais da pesquisadora. Além disso, um dos problemas frequentemente comentados pelos voluntários e pelas crianças tratava sobre o conito ocorrido em dias de chuva e os subsequentes. O Poema dos Desejos foi aplicado para 20 crianças entre 6 e 10 anos, onde apresentou-se a questão ‘’Qual seria a escola dos sonhos para você?’’, que deveria ser respondida através da expressão gráca das crianças. Assim como para Souza et al (2006, a atividade ocorreu com o acompanhamento da pesquisadora, que sentou-se junto às crianças para anotar tudo que era dito enquanto os desenhos eram produzidos, facilitando a análise das criações posteriormente. Para o Jogo de Imagens e Palavras, foram apresentadas 4 opções de imagens para cada atividade realizada na instituição. Aplicou-se o método para 7 crianças e adolescentes com idades entre 9 e 13 anos, as quais deveriam optar por uma das quatro imagens e justicar sua escolha. As imagens abaixo, de 5 a 9, foram as mais escolhidas pelos participantes e abaixo estão algumas das justicativas anotadas. Por m, a entrevista semi-estruturada foi aplicada para os quatro voluntários xos da entidade, que são a coordenadora, o presidente e duas pessoas responsáveis pela alimentação. Um dos relatos, dado pela coordenadora do projeto, tratava sobre a principal diculdade, abordada em todas as análises: ‘’Não é confortável, porque não tem espaço para nada. Ontem chovia com 40 crianças divididas em 3 espaços.’’
O método desenvolvido em 2002 por Saddek Rebal, denominado Jogo de Imagens e Palavras, surge como alternativa para ampliar as possibilidades de linguagem entre pesquisador e usuário. A atividade é baseada na reexão da opinião dos participantes sobre sua experiência com o ambiente relacionado às imagens apresentadas. (OLIVEIRA, 2013) Desenvolvido por Henry Sanoff, o método do Poema dos Desejos consiste na exposição de sentimentos e desejos de usuários de um determinado espaço através da escrita ou do desenho a partir de questões colocadas pelo pesquisador com relação ao ambiente vivenciado. Para Rheingantz et al (2009),’’É um instrumento que se baseia na espontaneidade das respostas [...] que, de um modo geral, produz resultados ricos e representativos das demandas e expectativas dos usuários.’’ Por m, a entrevista semiestruturada aplica-se nesta pesquisa com o intuito de estudar a opinião dos voluntários da Associação Benecente Recriando a Vida, que também são usuários do espaço atual. A técnica consiste em um roteiro ou esquema básico de perguntas abertas e fechadas, onde o entrevistado pode expressar-se da forma que julgar adequado, sem se prender ao que foi inicialmente questionado. (OLIVEIRA, 2013)
Desenhos produzidos no método Poema dos Desejos
Imagens mais escolhidas no Jogo de Imagens e Palavras
brincar
ass isti r
‘’É bem colorida, cabe bastante gente e aqui a gente ca muito apertado.’’
‘’Cada um tem o seu. Aqui às vezes tem cadeira e às vezes não.’’
‘’Gosto da quadra porque dá pra fazer qualquer brincadeira e atividade dentro dela’’
r
es
A maior parte dos desenhos produzidos durante a aplicação do método Poema dos Desejos apresentou áreas externas, com parquinhos e espaços de brincar. Durante a atividade, as crianças comentavam sobre campos de futebol maiores e a presença de árvores frutíferas. Um dos desenhos (gura 4) trouxe um espaço interno que demonstra uma conguração de mesa diferente da tradicional, onde os alunos compartilham a área de estudo de frente um para o outro. O ponto laranja acima da mesa foi descrito por ele como um ‘’lampeão para iluminar na hora de estudar’’.
e
d es ca n
-se r a nt
sa
lm
ar d u t es
a li m
Em virtude de o tema se tratar de uma demanda real identicada, entende-se a pesquisa qualitativa como um modo de “escutar vozes silenciadas”, termo que é utilizado por Creswell (2014) para justicar este método e quando ele deve ser aplicado. A pesquisa qualitativa no contexto da arquitetura também é denida por Duarte et al (2007) como o surgimento de uma prática preocupada em atender às necessidades, expectativas e valores de seus usuários, onde o sentido de pertencimento descrito pelos autores só é realmente efetivado quando existe a participação da criança, dos pais e professores no processo de projeto, somando suas experiências culturais que dão signicado ao ambiente construído, para além do conhecimento teórico do arquiteto. Para estabelecer uma aproximação com os usuários da Associação Benecente Recriando a Vida e suas necessidades, buscou-se uma metodologia que abrangesse a APO (Avaliação Pós-Ocupação) relacionada à residência na qual são realizadas as atividades da Associação Benecente Recriando a Vida atualmente. A APO constitui-se como uma importante ferramenta de análise de ambientes educacionais, permitindo que sejam realizadas intervenções e melhorias no espaço escolar levando em consideração o olhar do usuário. (RHEINGANTZ et al. 2009) Para compreender as necessidades e anseios das crianças, adolescentes e voluntários que utilizam o espaço atual da Associação Benecente Recriando a Vida, foram escolhidos quatro métodos da APO para aplicação. O método do Poema dos desejos para as crianças, o Jogo de imagens e Palavras para os adolescentes e a Entrevista Semiestruturada para os voluntários, além da Observação Experiencial realizada ao longo de toda a pesquisa.
‘’Porque a gente pode sair, também fazer alguma atividade física entre as árvores e ainda reutilizando os pneus’’
‘’Gosto de fazer atividade ao ar livre.‘’
LOCALIZAÇÃO O
I
LO
L AU
ÃO
JOÃO
A
P
ELLO
TO ORA
BA
ST
RUA
OS SÉ D
SAN
JO
mapa 2 - uso e ocupação do solo e altura das edicações. escala 1:5000
A
CAR
A
LEGENDA residencial misto (residencial e comercial) comercial
I
AND
MOR
RU
A
institucional terreno atual (480m²) terreno de intervenção (9536,78m²)
OS
RUA
ÉD JOS
TO SAN
O
PELL
S CA
NTE
AVA
FIOR
DINARTE
LEGENDA E.M. Othelo Rosa
RU
A RU
NTE
AVA FIOR
O
PELL
CA TOS
ON
BELO RUA
A FIN SE JO
RUA NDI
A
S
TI
A MOR
RU
GO
SO RDO
ON
RUA GER
IN
FIN
ST
ALDINA
M
SE JO
BA
TI
DO
DALLA
S
HEL
MIC
DALLA
A RUA GER
IN
GO
INARTE
LDINA D
M
O JOÃ
áreas verdes e áreas remanescentes limite político do bairro Presidente Vargas
Base cartográca Prefeitura Municipal de Erechim/RS Elaboração dos mapas: Paula Carlesso
A
O PAN
RUA ANGEL
O DOS
DO
RUA
RU
Base cartográca Prefeitura Municipal de Erechim/RS Elaboração dos mapas: Paula Carlesso
A
JOÃ
ROSA
RUA
IC OM
NOV
HON
RUA
N
O PA RUA ANGEL
HEL
RU
BUDRISK
ROSA
HON
I
U PA
JO
R
LLO
OR
RUA
UA
RUA
BUDRISK
OVE
N ATO
ÃO
JOÃO
JO
RU
RUA
CA BELO
Erechim é um município brasileiro da região Sul, localizado no interior do Estado do Rio Grande do Sul. Considerada um centro sub-regional no país, é a segunda cidade mais populosa do norte do estado com 102.906 habitantes (estimativa do IBGE para 2016), superada apenas pelo município de Passo Fundo. O município localiza-se ao Norte do Rio Grande do Sul, na região do Alto Uruguai, sobre a cordilheira da Serra Geral. No contexto do ensino, a Secretaria Municipal de Educação é composta por 14 escolas (6 com ensino fundamental, 6 com atendimento especíco de Educação Infantil e 1 de Belas Artes). Todas as escolas municipais participam do programa Mais Educação e oferecem ensino integral para parte dos alunos matriculados. Uma das escolas de ensino fundamental citadas acima localiza-se no bairro Presidente Vargas, local de estudo da presente pesquisa, a Escola Municipal Othelo Rosa. A formação do bairro Presidente Vargas, onde a Associação Benecente Recriando a Vida está instalada, ocorreu em paralelo ao processo de industrialização no município de Erechim/RS. De acordo com relato documentado pelas Irmãs Teresianas, fundadoras do projeto Recriando a Vida, a formação do bairro ocorreu através de ocupações irregulares pela parcela da população em situação de risco e vulnerabilidade social. Em virtude disto, muitas residências não possuem infraestrutura básica mínima, como água encanada e esgoto. O recorte de estudo foi denido a partir das análises e visitas à Associação Benecente Recriando a Vida. Durante a aproximação e as conversas com moradores locais, constatou-se que a comunidade não se identica com os limites políticos estabelecidos pela Prefeitura Municipal de Erechim/RS. Diante disto, considerou-se no recorte que a via João Batiston estabelece um limite para o bairro, de acordo com os conceitos de Lynch (1997). O autor trata o bairro como parte da cidade que é percebida como possuindo alguma característica identicadora, que vai desde espaços e forma urbana até usos e habitantes. Com relação aos limites, a teoria de Kevin Lynch arma que são elementos lineares que conguram quebras de continuidade, como ocorre com a via do recorte em estudo. Por m, a abrangência do recorte leva em consideração a localização das residências das crianças e adolescentes que hoje frequentam a instituição.
Cemitério Municipal Santa Cruz Ginásio de esportes particular Áreas verdes 1 criança 2 crianças 3 crianças 4 crianças terreno atual (480m²) terreno de intervenção (9536,78m²) ponto de ônibus
mapa 3 - localização dos usuários e elementos importantes do recorte. escala 1:5000
IMAGENS DA SEDE ATUAL fonte: arquivo da autora.
Pátio/parque infantil
Sala de informática
Parque infantil
Refeitório/ sala de atividades
Espaço de exposição de trabalhos / sala de atividades
Fachada frontal
3/8
ZONEAMENTO O zoneamento para a proposta foi delimitado a partir de um programa de necessidades inicial, elaborado em conjunto com os usuários da Associação Benecente Recriando a Vida e os resultados da aplicação dos métodos de pesquisa qualitativa. Além disso, levou-se em consideração as análises de condicionantes naturais e legais. O acesso ao terreno abriga uma praça de caráter público que cará disponível aos moradores do bairro mesmo nos horários em que a instituição não estiver em funcionamento, já que não existe uma praça ou espaço público de lazer, brincar e estar próximo a esta localidade do município, com o intuito principal de trazer para a proposta o estímulo ao convívio social em uma área da cidade predominantemente residencial e com características de forte vínculo comunitário. Os três espaços que terão conexão direta com esta praça são o bloco cultural (com espaços de uso coletivo e possivelmente comunitário, como biblioteca, sala de informática e cinema), o bloco de recepção/administrativo e o pátio interno. A partir deste pátio, desenvolve-se toda a proposta com bloco de salas de atividades, refeitório, serviços, laboratórios, áreas recreativas e de esportes e a conexão com a mancha de vegetação existente a ser preservada no terreno, que possibilitará atividades de educação ambiental e atividades ao ar livre. A localização de cada bloco é justicada pela orientação solar, já que um dos maiores potenciais do terreno é que uma de suas maiores faces está voltada para Norte. Portanto, as áreas de maior permanência estão voltadas para esta face, e espaços de serviço e apoio como lavanderia, cozinha e sanitários voltam-se para Sul.
área verde
3
12 área remanescente 9 8
Recuo de fundos H/20+2,50m nunca inferior a 1/10 da prof. do lote Recuo frontal
12 Massa de vegetação/ educação
ambiental
7 4
c/ abertura: H/15+1,40m e nunca inferior a 2m s/ aberturas: H/23+1,10m e nunca inferior a 2m Verão
6 Salas de atividades
5
UR-6
1 80% subsolo, térreo e pav. intermediário 60% demais pavimentos Altura da edicação 04 pavimentos / 15,50m de altura
10 11
2
Índice de aprov. Taxa de ocupação
Recuos laterais
6
1
CONDICIONANTES DO SÍTIO UTP 13 Uso conforme para Educação/Cultura
LEGENDA 1 Acesso ao terreno (praça pública) 7 Refeitório 8 Serviços 2 Recepção/administrativo 3 Bloco cultural 9 Laboratórios 4 Sanitários 10 Área livre de estar e permanência 5 Pátio interno 11 Área de esportes/recreação
área verde
4m
Estacionamento subsolo ou qualquer pavimento
Ventos predominantes Nordeste
Inverno
N
Ventos de inverno Sul
CONCEITO E PARTIDO DA PROPOSTA Com o objetivo de fortalecer a função da instituição, que consiste no desenvolvimento intelectual e social das crianças e adolescentes, estabelecendo uma interface entre a casa e a escola, o conceito da proposta visa criar um sentido de pertencimento na proposta, respeitando a identidade do local e dos usuários da associação. Aliado a isto, pretende-se colocar em prática os conceitos abordados no painel síntese das pedagogias alternativas, que tratam sobre o estímulo da curiosidade, autonomia, conexão com a natureza e respeito à personalidade e à escala do usuário. Diante disto, a materialização do conceito ocorreu desde a etapa anterior (TFG I), ao longo do levantamento teórico e da pesquisa qualitativa, onde houve a participação do usuário na construção do programa de necessidades e das diretrizes para os espaços, com o objetivo de estabelecer uma identicação com a proposta. O partido também fortalece a permeabilidade no terreno através do pátio interno, que interliga todos os blocos tornando-se um espaço de transição, mas principalmente de estar, convívio e permanência. A proposta também visa alocar os blocos de modo que criem os próprios espaços externos, fortalecendo a conexão de dentro para fora da edicação e as relações visuais com a dinâmica diária do espaço.
DEMANDA A SER ATENDIDA Para denir o número de crianças e adolescentes a serem atendidos na nova proposta de sede da Associação Benecente Recriando a Vida, levou-se em consideração três principais elementos desta pesquisa: 1) Meta 6 do Plano Nacional de Educação, que estabelece o número de escolas e alunos matriculados na Educação Integral até o ano de 2024; 2) Número de alunos matriculados na E.M. Othelo Rosa atendidos pelo programa Mais Educação; e - Número de crianças e adolescentes atendidos atualmente pela Associação Benecente Recriando a Vida + dimensão, potencialidades e diretrizes para o terreno de intervenção + atmosfera de lar estabelecida pela entidade. A proposta visa dobrar o número de crianças e adolescentes atendidos atualmente pela instituição, totalizando 160 usuários, 80 para cada turno. O número representa 60% da demanda existente, considerando informações obtidas pela escola Othelo Rosa de que o número de alunos matriculados no Mais Educação tende a aumentar.
iluminação
DIRETRIZES PROJETUAIS
a
espaços amplos e diferenciados Inserir na proposta formas espaciais que possibilitem diferentes organizações de mobiliário e de uso para as atividades da instituição.
b
pátio como articulador dos espaços Salas de atividades com acesso direto ao pátio, onde as varandas criam a transição interior-exterior e reforçam a relação entre todos os ambientes conferindo unidade ao projeto.
c
sentidos cores
legibilidade Espaços com diferentes caracterísitcas, delimitadas através de elementos que explorem os sentidos do usuário, tais como visão, tato e audição. Por exemplo: salas com mais e menos iluminação, dependendo do uso.
d
escala do usuário Mobiliário condizente com a escala do usuário, que possibilite o acesso a brinquedos, livros e material pedagógico para fomentar a autonomia do usuário no espaço de ensino.
e
segurança Ao mesmo tempo em que não são propostos muros, também cria-se uma barreira física para que a criança não tenha acesso aos possíveis perigos da rua. As visuais são mantidas para possibilitar a relação do usuário com a cidade.
f
transparência Explorar as relações visuais para evitar a sensação de connamento e monotonia nos ambientes e ser um ponto de descanso para o olhar do usuário. (KOWALTOWSKI, 2011)
g
conforto ambiental Soluções arquitetônicas que explorem as possibilidades de ventilação e iluminação natural, auxiliando na eciência energética da edicação e consequentemente na economia da instituição.
h
+espaços livres Atendendo a demanda atual da instituição por espaços que contemplem as necessidades tanto de crianças quanto adolescentes. Espaços de estar, brincar e jogar.
i
atmosfera de lar Além de explorar as visuais e as relações com o entorno, trabalhar com pé direito menor para tornar o local mais aconchegante.
IMPLANTAÇÃO esc. 1/500 O mapa A traz a localização dos espaços públicos/praças mais próximos ao bairro Presidente Vargas. Como já citado no presente trabalho, o bairro não possui um espaço público próprio dentro de seu limite político, fazendo com que os moradores precisem realizar deslocamentos para bairros vizinhos em busca deste equipamento. Já que a maior parte da população do bairro possui forte identicação com a Associação Benecente Recriando a Vida, considera-se que possibilitar o uso da instituição durante os períodos que ela não estiver em funcionamento, na parte frontal do lote como uma praça pública. O mapa também destaca a distância do bairro onde está localizado o terreno até o terminal de transporte urbano, localizado no centro, rearmando seu caráter de bairro periférico. O mapa B demarca a rota que o transporte público faz dentro do bairro, passando em frente ao lote da proposta e, posteriormente, em frente à escola municipal. Esta conexão é muito utilizada pelos moradores do bairro para acessar o trabalho, faculdade, serviços de saúde ou outros equipamentos da cidade. Por se tratar de um bairro residencial e pouco movimentado, existe a possibilidade de uso dos estacionamentos disponíveis na via pública, demarcados no mapa de implantação. Além disso, fazem parte da proposta duas faixas de pedestre elevadas em frente à instituição, tornando a passagem mais segura para os pedestres, já que atualmente todas as crianças que frequentam a entidade realizam o trajeto até ela caminhando. Com relação à vegetação, optou-se por manter a mancha existente nos fundos do lote e em alguns pontos especícos, implantando os blocos em locais estratégicos. Também foram inseridas na proposta novas árvores, onde destacam-se duas principais no interior do pátio, com o intuito de fortalecer esta ligação de todo o lote com as áreas verdes aos fundos e remeter às crianças e adolescentes a proximidade constante com a natureza. Por m, as crianças e adolescentes da instituição solicitaram que houvesse na proposta árvores frutíferas, que foram alocadas em diferentes pontos ao longo do terreno, tanto na praça pública quanto no interior da instituição.
3,6km
1,5km 1km PONTO DE ÔNIBUS
Bairro Presidente Vargas Praças Terminal urbano
m
bairro : B apa
LO
ÃO
JOÃO
A RU
RUA
I
U PA
JO
BUDRISK
ELLO
TO ORA
RUA
Telha termoacústica
HON
RUA
RU
O PAN
RUA ANGEL
Gramado A
NOV
HEL
IC
OM
JOÃ
ROSA
legenda Pedra basalto (piso, rampas e escadas*)
4/8
mapa A: cidade
DO
ALDINA
M
RUA GER
IN
DALLA
BA
TI
ST
ON
A FIN SE JO
FRUTÍFERAS BANCO
RUA
Areia
S
OSO
Concregrama (via interna de serviços)
Cerca
DINARTE
ARD
Madeira (bancos, nichos e mobiliário do parquinho)
C BELO
Pedra basalto (muros de arrimo)
GO
ACESSO RU
DI
AN MOR
F
IORA
NT S SA
LO
i = 2% i = 2%
i = 23%
5000L
i = 8,33%
É DO
OS UA J
5000L
i = 2% i = 8,33%
APEL
OS C
TE VAN
i = 100%
MASSA DE VEGETAÇÃO
i = 2%
A
*As rampas e escadas não foram hachuradas para facilitar a compreensão da planta.
R
BANCO
i= 4,99%
BANCO/ CANTEIRO
5000L
i = 5%
i = 2%
MASSA DE VEGETAÇÃO
i = 100%
i = 8,33% i = 2%
i = 2%
i = 2%
BANCO i = 2%
i= 4,99%
Terreno da proposta
FRUTÍFERAS
i = 10% 1000L
MASSA DE VEGETAÇÃO
Escola Municipal Othelo Rosa Rota do transporte público
i = 2%
ACESSO
i = 5%
2000L 2000L
1000L
i = 5%
i = 18% i = 2%
CASA DE GÁS E LIXO
FRUTÍFERAS i = 7%
i = 4%
5
0
10
20
30m
Esc 1/500
EVOLUÇÃO DA VOLUMETRIA 1 Desde o primeiro lançamento volumétrico, tinha-se como objetivo inserir blocos com diferentes formas. A proposta apresentada ao nal da etapa de TFG I trazia um bloco de acesso composto pelos ambientes de apoio, como os setores administrativos e algumas salas do setor pedagógico. As salas de atividades inicialmente foram pensadas na implantação separadas umas das outras, abraçadas por uma cobertura que ligava-se também ao bloco da quadra poliesportiva, ao fundo do terreno. O pátio interno, neste lançamento volumétrico, era descoberto. 2 O estudo seguinte trouxe uma divisão dos blocos, organizados de acordo com a topograa do terreno e também ligados por uma cobertura que congurava o pátio interno. Também nesta fase iniciou-se os testes com diferentes formas e inclinações da cobertura da quadra poliesportiva, para que a mesma se integrasse com o conjunto. 3 A proposta nal traz uma volumetria onde desconstruiu-se os grandes blocos propostos inicialmente, os quais foram separados segundo a função e atividade a ser desempenhada. Manteve-se a proposta de localizar os ambientes de maior permanência voltadas para a face norte, e reforçou-se a permeabilidade do pátio para os blocos e também para a área vegetada aos fundos do lote.
1
2
3
5/8 ESQUEMAS GRÁFICOS
6/8
1
Os níveis da proposta foram criados com o objetivo de aproveitar a conformação topográca natural do terreno e evitar grandes interferências. Para isso, foi criado no acesso uma praça com rampas que recebem e encaminham o usuário para o nível 2, onde estão situados os primeiros blocos da proposta. O pátio é dividido entre o nível 2, 3 e 5, onde distribuem-se os demais espaços do programa.
A
6 USOS
3 CONTROLE + SEGURANÇA
B
muro de alvenaria e concreto aparente
aberto
2
Por se tratar de vários blocos separados uns dos outros, propõe-se que estes sejam compostos por diferentes materiais, que incitem a curiosidade dos usuários devido à dinamicidade do conjunto. Também faz parte da proposta fortalecer a verdade dos materiais e do sistema construtivo, em conjunto com a estrutura metálica aparente.
NÍVEIS
1
Área passiva (convivência, estar e permanência) Área ativa (esportes, brincadeiras, reuniões coletivas)
Acesso
3
O esquema 3 demonstra a relação da implantação com as divisas do lote, que possuem diferentes características. As duas maiores faces estão separadas dos lotes vizinhos por muros a 2m de altura, garantindo privacidade e segurança para ambas as partes. Os fundos do terreno, também por questões de segurança possuem cercas nos limites do lote, ainda mantendo a integração entre a vegetação existente nas áreas verdes circundantes. Por m, a parte frontal do terreno permanece aberta e pública, sendo fechada pela proposta com os blocos, dois portões laterais e o acesso principal.
Área passiva (leitura)
portões Pátio nível 2
Blocos em nível 2
Pátio nível 3
Blocos em nível 3
cerca
VERÃO
4 PERMEABILIDADE
7 FECHAMENTOS
9h (Inclinação do Sol 50°)
Pátio nível 5
15h (Inclinação do Sol 55°)
Os brises para as salas de atividades foram projetados com o auxílio do programa SOL-Ar (Labeee/UFSC), para dois horários do dia na época de verão (22/Novembro a 21/Janeiro) e inverno (21/Maio a 24/Julho).
4/5 O esquema número 4 representa a permeabilidade desejada para a proposta, que se materializa através do pátio interno, por onde são acessados todos os ambientes (como mostra, portanto, o esquema número 5). Todos os blocos e seus espaços foram pensados a partir do pátio, já que dentro das diretrizes estava o não uso de corredores, e sim a relação direta de cada ambiente com o externo (pátio e jardins) e a dinâmica destes espaços. Em virtude disto, a proposta visa destinar a área principal do pátio para atividades de estar e permanência, onde as crianças, adolescentes e demais usuários tenham um espaço de convivência com atividades passivas. A área ativa, onde podem ser realizadas brincadeiras e esportes ca aos fundos do terreno, não comprometendo as atividades dos outros espaços.
INVERNO 9h (Inclinação do Sol 50°)
15h (Inclinação do Sol 50°)
Por se tratar da orientação Norte, foram inseridos brises horizontais que fazem a proteção das aberturas das salas, impedindo que o sol incida diretamente nos usuários, especialmente no verão. No inverno, permite-se que o sol adentre as salas para auxiliar no aquecimento natural e conforto térmico durante as atividades.
6
Paredes leves (dry-wall)
MATERIAIS
2
5 RELAÇÕES FÍSICAS + VISUAIS
C
Paredes em alvenaria
D
8 REVESTIMENTOS DE PISO
7
Para o fechamento da edicação propõe-se o uso da alvenaria, por ser uma técnica construtiva já difundida na região e, por isso, facilita o processo de mutirão para a construção da edicação, dando o sentido de pertencimento almejado pelo conceito da proposta, para que a comunidade sinta-se parte da instituição.
Tijolo aparente Concreto aparente
Ventos frios
Chuva
8 Como revestimento de piso utilizar-se-á a manta vinílica na maior parte dos espaços, por sua durabilidade e facilidade de instalação e limpeza. Nas áreas molhadas o piso é cerâmico e, por m, nos espaços externos propõe-se o uso da manta vinílica antiderrapante, para maior segurança enquanto o usuário percorre a edicação e durante a prática de esportes.
PLANTA BAIXA. esc 1/200
Pátio
Relações físicas
Manta vinílica
Cerâmico
Blocos
Relações visuais
Manta vinílica antiderrapante
Assoalho de madeira
O esquema C traz a alternativa das aberturas zenitais da cobertura do pátio interno para as árvores. O objetivo foi criar uma área gramada maior do que a área da abertura, para que houvesse a menor entrada possível de chuva no piso do pátio.
D
C
Ventos quentes
O esquema D demonstra as estratégias para ventilação natural dos espaços, destacando as salas de atividades com aberturas superiores, possibilitando que o ar quente suba e que sejam abertas durante o inverno sem a corrente de ar direta nos usuários. O esquema também demonstra a ventilação que ocorre no pátio por meio do desencontro das duas coberturas do pátio.
MURO h= 2m JARDIM VERTICAL
legenda e áreas PORTÃO FRUTÍFERAS
JARDINS INTERNOS
2.00
8.35
BANCO
12
2.90
4.90
ACESSO À CAIXA D’ÁGUA
9
3.92
13 5000L
7 5 15
7
20
9.
BANCO/ CANTEIRO
GUARDA-CORPO h=90cm
34.00
11.28
3
5000L
.9
5
BANCO/ CANTEIRO
24.45
10
8
24.30
64
BANCOS EM NÍVEIS
7
7. 03
6.
7.
7
6
4 00
6.85
5000L
4.44
MASSA DE VEGETAÇÃO
6.79
Praça 2 Pátio interno (1446,78m²) 3 Biblioteca (121,94m²) 4 Espaço externo de leitura 90,80m²) 5 Sala de informática (62,15m²) 6 Sala de vídeo e cinema (80,73m²) 7 Salas de atividades (40,23m²) 8 Sanitário PNE (4,52m²) 9 Sanitário PNE (4,71m²) 10 Área externa para piquenique 11 Quadra poliesportiva (788,72m²) 12 Sanitários/vestiários (30,35m² cada) 13 Depósito de materiais (8,90m²) 14 Área recreativa 15 Lab. de música (69,57m²) 16 Lab. de artesanato (50,65m²) 17 Horta/pomar A 18 Lab. de culinária (58,39m²) 19 Triagem e lavagem (12,94m²) 20 Despensa de frios (5,66m²) 21 Despensa de alimentos (8,30m²) 22 Cozinha (79,03m²) 23 Refeitório (146,64m²) 24 DML (6,54m²) 25 Lavanderia (6,54m²) 26 Sanitário (14,86m²) 27 Sanitário (10,58m²) 28 Sanitário (9,77m² cada) B 29 Sanitário PNE (4m² cada) 30 Depósito de doações de roupas e alimentos (6,03m²) 31 Sala de voluntários (64,26m²) 32 Coordenação (21,25m²) 33 Recepção (23,15m²) Área do lote = 9536,78m² Área total construída = 3541,89m² Área permeável = 5234,95m² Taxa de ocupação = 37,13% 1
11
12
1 MASSA DE VEGETAÇÃO
2.00
BANCO
A
4.35
6
.56
PROJEÇÃO DA COBERTURA GUARDA-CORPO h=90cm
ABERTURA DE ACESSO EM SISTEMA REIKI
.90
46.53
9.30
2
PROJEÇÃO DA MARQUISE
2 19.50
00
2.
2 9.
00 11 .
CORTE DE PELE B PRANCHA 7
32
50
23
5.
50 45
13
.3
40
NICHO DE ESTAR COM BANCO
14
GUARDA-CORPO h=90cm
7.
0
4.
7.54
33
FRUTÍFERAS
18 16
27
26
8.78
ACESSO À CAIXA D’ÁGUA
4.93 60 5.
17 4.20
1.35
29
3.75
28
11.46
11.52
24
LIXO (com porta externa)
26.84
90
5.
FRUTÍFERAS
4.00
25
63
29
00 6.
28
30
casa de gás e lixo
2000L29
B
ARMÁRIOS COM PLACAS ACÚSTICAS
5.
5.30
5.15
2
MASSA DE VEGETAÇÃO
2000L
2.00
30
.8
10
31
CISTERNAS CAP. 1000L cada
35
22
15
1000L
5.
1.00
2.
40
ACESSO À CAIXA D’ÁGUA 19 21 1000L 20
3.00
MURO h= 2m
PORTÃO
MURO h= 2m
MURO h= 2m 204.96
D
C
legenda de materiais
MEMORIAL EXPLICATIVO O programa distribui-se no lote de modo a acompanhar a horizontalidade característica do bairro. A partir disso, os blocos foram pensados com o objetivo de serem responsáveis por conformar os espaços externos de pátio e bordas do terreno, onde existem diferentes usos (como a horta, o espaço para piquenique ao ar livre, espaço de leitura ou pomar de árvores frutíferas). Com isso, houve um maior aproveitamento do terreno e seus potenciais. A biblioteca possui espaços especícos para leitura, tanto internos quanto externos (Croqui x), pensados com o intuito de chamar crianças e adolescentes a permanecerem e explorarem o ambiente. As salas de informática e cinema também fazem parte do programa solicitado pelas pessoas que fazem uso da instituição atualmente. As salas de atividades foram desenhadas a partir da forma octogonal para que haja maior integração no espaço, sem o uso de cantos, tornando-se mais aconchegante para as crianças relacionarem-se umas com as outras. As mesas, com possibilidade de formar grupos de diferentes tamanhos ou também individuais, acompanham a dinâmica das atividades que hoje ocorrem na instituição.
Foram distribuídos 24 lugares para cada turma de 20 crianças, onde propõe-se que as professoras tenham espaço nas mesas para acompanhar e trabalhar com os alunos. Também existem tapetes do tipo tatame para trabalhos e brincadeiras realizados no chão, e um armário com materiais didáticos para cada sala. Outra característica importante observada durante a pesquisa qualitativa na etapa de TFG I foi a integração entre diferentes idades que ocorre atualmente na instituição. Para dar continuidade a isso, as quatro salas (duas para crianças entre 6 e 10 anos e duas para jovens de 11 a 15 anos) possuem paredes móveis, com isolamento acústico, que podem abrir-se para juntar duas turmas. Todas as 4 salas abrem-se tanto para o pátio quanto para uma varanda voltada para Norte, possibilitando atividades externas e um espaço de descanso entre cada aula. A quadra poliesportiva também abrigará aulas de lutas marciais e dança, além dos esportes já praticados como futebol, basquete, vôlei, entre outros. A área externa foi pensada para ser uma extensão da quadra onde os esportes e brincadeiras podem ocorrer de maneira mais livre.
Os nichos do pátio existem com o intuito de criar espaços mais aconchegantes para o estar e a permanência dos usuários, compostos por painéis vazados que abrigam bancos e aproximam-se mais à escala da criança e do adolescente. O refeitório, com capacidade para 96 pessoas, foi localizado em um ponto do pátio abrindo as visuais e fortalecendo a relação deste com o pátio. Os dois depósitos servirão para armazenar as doações recebidas de alimentos e roupas. Com relação às roupas, a instituição realiza brechós para arrecadar fundos, que poderão ser realizados, em dias de frio ou chuva, na quadra poliesportiva, e nos demais, no pátio interno. Os laboratórios foram adicionados ao programa de necessidades por solicitação dos voluntários da associação, que informaram a existência de pessoas dispostas a dar cursos prossionalizantes aos jovens e pais, para auxiliar no ingresso ao mercado de trabalho. Estes espaços também podem ser utilizados em aulas experimentais para as crianças, quando não houverem cursos acontecendo.
A horta ca localizada próximo à cozinha e ao laboratório de culinária, viabilizando aulas externas e o aproveitamento desta produção. Também próximo a elas estão parte das árvores frutíferas. A cozinha foi projetada a partir do uxo de produção, com a entrada do alimento através da triagem e lavagem, seguindo para o armazenamento nas despensas de frios e secos, e em seguida para a produção, tendo pia e bancadas especícas para cada tipo de processamento (carnes, sucos, vegetais). O sistema de retirada do lixo, para que se evite conitos, foi pensado com uma porta externa ligada ao lixo interno. Os uxos do refeitório também foram projetados para que a hora das refeições ocorra de forma organizada, iniciando pelas pias externas para higienização, seguindo para a área de servir-se, alimentar-se, deixar o prato e escovar os dentes. O pátio segue um percurso que encaminha o usuário visual e/ou sicamente à massa de vegetação localizada aos fundos do lote. Neste espaço, podem ser realizadas trilhas ecológicas e aulas de educação ambiental com as crianças e adolescentes.
Pedra basalto (piso e rampas)
Piso vinílico antiderrapante (pátio interno)
Gramado
Pedra basalto (muros de arrimo)
Madeira (bancos, nichos e mobiliário do parque infantil)
Cerca
Concregrama (via interna de serviços)
Areia LIMITE DO TERRENO
PÓRTICO METÁLICO DE TRELIÇA PLANA
Imagem 1 - Praça
.45
10.30 4.75
12.30
.72 4.75
.55 .90
4.26
4.75
3.14 4.75
1.00
RAMPA i=8,33%
4.50
RAMPA i=8,33%
5.49
LIMITE DO TERRENO
PRAÇA
CORTE DE PELE B PRANCHA 7 3.16 .50 .55
COBERTURA EM VIDRO i=2%
CORTE AA esc 1/200
TELHA METÁLICA TERMOACÚSTICA i=2%
RAMPA i=8,33%
ÁREA RECREATIVA
PÁTIO
PÁTIO PRAÇA
Imagem 2 - Nichos do pátio
Imagem 3 - Praça (estar e lazer)
Imagem 4 - Aberturas em vidro jateado colorido nos blocos para provocar a curiosidade do usuário
Imagem 5 - Área recreativa (parquinho e esportes ao ar livre junto a um dos pomares de árvores frutíferas).
7/8 SISTEMA CONSTRUTIVO
8
Optou-se pela estrutura metálica na proposta, com o intuito de se ter uma construção rápida, leve e sem desperdícios. Pela mesma razão, a laje escolhida foi a pré-moldada. Para o fechamento, como já mostrado no esquema 7 (Prancha 5), propõe-se o uso de alvenaria para que a construção possa ocorrer com a participação da comunidade. Os pilares metálicos são de seção circular, com 25cm de diâmetro para a estrutura dos blocos e 40cm de diâmetro para a estrutura da cobertura do pátio. Com relação a isto, optou-se por compartilhar o mesmo pilar para os dois níveis de cobertura do pátio e, também, utilizar a estrutura dos blocos para sustentar estes elementos. Esta solução ocasionou na diminuição de pilares dispostos no pátio. A seção dos pilares foi dimensionada pela área necessária para receber todas as vigas que neles se apoiam, e para a altura das vigas utilizou-se o gráco disponibilizado por Yopanan Rabello (2000). Por m, altura da laje foi denida através de informações fornecidas pelo fabricante, totalizando em 15cm. O corte de pele A detalha o funcionamento da cisterna aparente para aproveitamento da água pluvial na horta, sistema que faz parte da proposta de educação ambiental para os usuários. Já o corte de pele B demonstra a cobertura do pátio, onde utilizou-se a telha metálica termoacústica, e como ocorre seu encontro com o vidro das aberturas zenitais e com a estrutura.
CORTE DE PELE A esc 1/20 Cisterna aparente
RUFO METÁLICO
TELHA METÁLICA TERMOACÚSTICA
CALHA METÁLICA CAPA DE CONCRETO CANO PVC 75mm TAVELA
LAJE PRÉ-MOLDADA
VIGOTA TRELIÇADA VIGA "I" 12x40cm revestida com placa cimentícia 10mm BLOCO CERÂMICO 11,5x14x24
CABO METÁLICO DE ESTRUTURAÇÃO DO GESSO
MONTANTE DE FIXAÇÃO DO FORRO
ARGAMASSA CHAPISCO
FORRO DE GESSO
EMBOÇO REBOCO
ENTRADA DA ÁGUA
PISO VINÍLICO CISTERNA APARENTE SAÍDA DA ÁGUA
CORTE DE PELE B esc 1/20 Cobertura do pátio PERFIL METÁLICO ‘’C’’ TELHA METÁLICA TERMOACÚSTICA i = 2% RUFO METÁLICO PERFIL TRAPEZOIDAL DE ALUMÍNIO VIDRO TEMPERADO 200mm PERFIL METÁLICO TUBULAR PARA FIXAÇÃO DO VIDRO CALHA METÁLICA FORRO EM PLACA CIMENTÍCIA MONTANTE DE FIXAÇÃO DO FORRO
VIGA METÁLICA "I" 12x55cm
CORTE CC esc 1/200
SAIA METÁLICA (recebe todas as vigas)
CORTE DD esc 1/200
PÓRTICO METÁLICO DE TRELIÇA PLANA
ABERTURA EM COBOGÓ
7.50
3.30
ÁREA RECREATIVA
4.18
2.20
PÁTIO
2.70
2.70
4.35
3.85
REFEIT.
3.40
4.72 .60.60
COZINHA
3.50
O reservatório de água foi dimensionado de acordo com a NBR 5626 – Instalação predial de água fria, que estipula 50L de água diários para cada criança. Considera-se que a maior população utilizando o edifício ao mesmo tempo pode chegar a 90 pessoas, portanto: N = PxC N = 90 (pessoas) x 50 (L/água) = 4500L. Para que a instituição tenha autonomia de 2 dias, dobrou-se o volume de água para 9000L. Por m, de acordo com a classicação do edifício pela norma, tornase necessário adicionar a reserva técnica de incêndio, apresentada na NBR 13714 – Sistemas de hidrantes e de mangotinhos para combate a incêndio, onde a classicação da edicação pelas tabelas indicou a necessidade de adição de 12000L ao volume total. Os reservatórios foram distribuídos de acordo com a proximidade e necessidade de pontos de descida d’água. O maior volume localiza-se nos sanitários e vestiários da quadra coberta, em virtude da pressão necessária para abastecer os chuveiros. Também foram alocadas caixas acima dos sanitários, da cozinha e do laboratório de artesanato. Foram utilizados reservatórios de bra com três capacidades, de 1000L, 2000L e 5000L, com as dimensões apresentadas pelo fabricante Fortlev.
4.70
RESERVATÓRIOS D’ÁGUA
1.20
.12 6.45 4.50 .40 1.63
12.10
PILAR METÁLICO DE SEÇÃO CIRCULAR Ø40
QUADRA POLIESPORTIVA
SALA ATIVID.
LIMITE DO TERRENO
CORTE BB esc 1/200 CORTE DE PELE A PRANCHA 7
DEP.
PÁTIO
WC
.12 1.20 1.63
WC
CIRC.
WC
LAV.
DML
1000L
6.45
1000L
COZINHA
FRUTÍFERAS ÁREA RECREATIVA
4.15
4.70
3.50
4.47
5.89
2000L
2.75 4.42
2.10
SALA DE VOLUNTÁRIOS
.65 .03 1.12.40
2.75 4.30
2000L
.12 2.78
LIMITE DO TERRENO
DESP.
DESP.
TRIAGEM
PÁTIO
LAB. ART.
LAB. MÚSICA
WC
PRAÇA
Imagem 6 - Sala de atividades
Imagem 7 - Biblioteca e espaço de leitura
Imagem 8 - Biblioteca e espaço de estudo
Imagem 9 - Espaço de alimentação externo
Imagem 10 - Espaço de leitura e descanso ao ar livre
/8