CIDADE NOVA SEGREGAÇÃO, GENTRIFICAÇÃO E MEMÓRIA
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Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
Paula C. Guimarães Carvalho │ Trabalho de Conclusão de Curso Ronaldo Brilhante │ Orientador Louise Lomardo e Cristina Nacif │ Supervisor Escola de Arquitetura e Urbanismo Universidade federal Fluminense 2015.2
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Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
CONTEÚDO
INTRODUÇÃO
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PARTE I
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[1] GENTRIFICAÇÃO RIO DE JANEIRO
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[2] HISTÓRIA
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[3] ANÁLISE E CRÍTICA CONTEXTO URBANO CONTEXTO SOCIAL PROCESSOS VIGENTES CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
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PARTE II
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[1] ÁREA DE ESTUDO
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[2] DIRETRIZES DIRETIZES GERAIS EMBASABENTO TEÓRICO [3] PROPOSTAS NÚCLEO 1 NÚCLEO 2 NÚCLEO 3 NÚCLEO 4
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BIBLIOGRAFIA E ICONOGRAFIA
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INTRODUÇÃO Este trabalho nasceu de uma inquietação fomentada durante as aulas de projeto De habitação popular no último período do curso. A partir dessas aulas, onde desenvolvi um projeto arquitetônico de uso misto, segui aperfeiçoando o projeto e aprofundando o estudo do bairro da Cidade Nova. O trabalho de arquitetura foi continuado para um concurso de habitação de interesse social, cujo tema era habitação como promovedora de cidadania. As diretrizes do concurso tinham como objetivo contrariar o crescimento disperso da cidade, estimular do adensamento, “promover uma cidade inclusiva, diversa, eficiente, mista, evolutiva e democrática”. Essas diretrizes seguiram norteando meu trabalho. Durante a análise do bairro ficou evidente o período de crescente segregação sócio espacial que a Cidade Nova vive, como o restante do Rio de Janeiro. Sob essa perspectiva vemos que os interesses políticos e econômicos interferem diretamente no processo de urbanização e ocupação da cidade. Investimentos públicos e privados com motivações prioritariamente econômicas moldam a vida da população há mais de um século. Fazendo uma retrospectiva dos governos do século XX, no Rio de Janeiro, e seus projetos é possível fazer uma avaliação mais atenta do atual processo de remodelação da cidade. A reforma urbana da zona portuária (Porto Maravilha), o surgimento de novos empreendimentos de alto padrão em terrenos antes desvalorizados, as remoções de população pobre, em áreas com potencial de valorização, para a periferia, definições de zonas com usos únicos. Estas são algumas peças que compõe o tabuleiro que é a cidade.
Hoje o bairro da Cidade Nova merece atenção por conta do seu potencial econômico, sua proximidade com o Centro, a facilidade de acesso e servido de infra estrutura básica, fazem deste um bairro muito atraente ao mercado imobiliário. É habitado majoritariamente por população pobre e em situação habitacional frágil, que ocupa remanescentes de sobrados históricos sem real propriedade dos imóveis. Começam a surgir novos empreendimentos que vão expulsando essa população e comprometendo a vitalidade local. Tendo identificado a situação urbana e social perante o processo de gentrificação, indico diretrizes que têm função de minimizar esse processo. As diretrizes promoverão diversidade e fixação dos grupos socioculturais diversos, estimulando a economia local e proporcionando melhor qualidade de vida.
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PARTE I [1] Gentrificação [2] História [3] Análise crítica
[1] Gentrificação Definição Gentrificação no Rio de Janeiro
[1] GENTRIFICAÇÃO
Algumas definições do termo gentrificação: 1. Mais importante talvez seja o fato de que uma realidade absolutamente local e inicialmente identificada nas grandes cidades do capitalismo avançado tais como Londres, Nova Iorque, Paris e Sidney, tenha agora se tornado mundial. Esta evolução é ao mesmo tempo vertical e horizontal. Por um lado, a gentrificação foi um processo que se propagou por toda a hierarquia das cidades: ela não corre somente nas maiores, mas também nos centros mais improváveis, tais como as antigas cidades industriais de Clavelan e Glasgow; em pequenas cidades como Malmö e Grenade; e mesmo nas pequenas cidades comerciais como Lancaster, na Pensilvânia, ou Eské Krumlov, na República Checa. Por outro lado, o processo se difundiu geograficamente de Tóquio a Tenerife (Garcia, 2001), de São Paulo a Puebla e México (Jones & Varley, 1999), da cidade do Cabo (Garside, 1993) às ilhas do caribe (Thomas, 1991), de Xangai a Seul. [1] 2. Derivada de gentry – que significa de origem gentil, de boa linhagem ou nobre – essa expressão tem sido traduzida literalmente por “gentrificação”, ou seja, “enobrecimento” de áreas degradadas. Tal conceito foi empregado de forma pioneira na requalificação urbana do Soho, em Nova York, e em algumas cidades europeias, durante as décadas de 1980 e 1990. [2] 3. O conceito de gentrificação, oriunda da expressão inglesa gentrification, ou enobrecimento urbano, como também é conhecido, diz respeito à expulsão de moradores tradicionais, em sua maioria pertencentes a classes sociais menos favorecidas, de espaços urbanos, que sofrem subitamente uma intervenção urbana (com ou sem auxilio governamental), provocando sua valorização imobiliária. [3] I. 1
1. SMITH. 2006. Pg. 6 2. JANOT. Disponível em www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/14.076/5005 3. CAVALCANTI. 2001. Pg. 13
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RIO DE JANEIRO: Processos de renovação e limpeza Processos de renovação e limpeza urbana são práticas recorrentes no Brasil há mais de um século. Apesar do conceito de gentrificação na américa latina ser novo, este, nada mais é do que um processo de renovação e limpeza com novas características de apropriação do espaço. No começo do século XX, a partir de 1903, a reforma Passos foi pioneira no Brasil, com o projeto de embelezamento e limpeza da área central e região portuária da cidade, áreas que misturavam o centro de negócios à população pobre e amontoada. A proposta de “reformar” o Rio de Janeiro, para que incorporasse as qualidades de uma cidade moderna e simbolizasse a importância do país como principal produtor de café, resolveu problemas como propagação de doenças infecciosas e o emergente fluxo de veículos na cidade. A primeira grande limpeza também varreu a pobreza do centro, transferindo-a para o subúrbio, embelezou o espaço, possibilitou maior valorização fundiária e a ocupação do por uma população mais abastada, com novas construções e renovação urbana e arquitetônica. Atualmente a gentrificação influi também por bairros carregados de uma estética atrativa e nostálgica, que estimulam a chegada de novos residentes de alto padrão. Essas pessoas procuram o estilo de vida e a vitalidade urbana dos bairros historicamente associados as populações marginais, carentes de serviços públicos e oportunidades de trabalho, que acabam sendo removidas para subúrbios pobres. A limpeza da área está feita porém os problemas que existiam para essa população continuam existindo, eles foram somente realocados. A nova população se apropria da história, da memória e da cultura local, transformando o espaço em uma versão gourmetizada do que era.
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[1] GENTRIFICAÇÃO
Remoções A gentrificação carrega uma importância simbólica pesada. Com o país sediando megaeventos, os focos de renovação urbana se multiplicaram pela cidade do Rio de Janeiro com o mesmo propósito da Reforma Passos, no começo do século XX, promover uma imagem de país e cidade moderna e desenvolvida para o mundo. As áreas turísticas e espaços com potencial de valorização fundiária recebem grandes investimentos do estado e do Mercado, custando remoções, muitas vezes agressivas da população residente, e transferência da pobreza para longe, para os subúrbios. Limpeza da paisagem “para inglês ver”. No livro SMH 2016: Remoções no Rio de Janeiro olímpico, Lucas Faulhaber , a partir de seu trabalho final de graduação na Universidade Federal Fluminense, faz um mapeamento das remoções feitas pela gestão do prefeito Eduardo Paes e conclui que Paes promoveu mais despejos do que Pereira Passos e Carlos Lacerda. As renovações urbanas, os focos de remoção e a implantação de condomínios do programa Minha Casa Minha Vida posicionam-se de maneira estratégica na cidade. No mapa abaixo, retirado do livro SMH 2016, o movimento de êxodo forçado é da população pobre para fora da região central da cidade. Os empreendimentos MCMV são, em sua maioria, implantados em regiões afastadas na cidade. As áreas mais comuns são as menos favorecidas por infra estrutura. Um dos empreendimentos que excedem a regra está na área de análise escolhida para este trabalho, fica no bairro do Estácio, ao lado da Cidade Nova. Os condomínios Zé Keti e Ismael Silva somam uma população de baixa renda vinda de remoções e sorteados.
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Quando as áreas de grandes renovações, como o Porto Maravilha e empreendimentos olímpicos são definidas, as remoções começam a aparecer. As remoções são justificadas por serem áreas de risco ou pelo fato de algumas comunidades serem empecilho para obras públicas. Apesar das justificativas dadas pelo poder público, muitas remoções não são justificáveis. Um dos casos mais comentado é o da Vila Autódromo, que em dois anos teve mais de 80% das 700 famílias residentes removidas. As imagens ao lado mostram a comunidade devastada, ao lado das obras do Parque Olímpico e os poucos que ainda resistem, também retratam a maneira violenta do estado de lidar com essa população. O mais importante nesse exemplo de remoção agressiva, é que a comunidade não ocupa o mesmo espaço que o projeto do Parque Olímpico, mas “enfeia” o seu entorno. A moradora, Dona Maria Penha, relata o confronto com a polícia durante uma resistência às demolições por parte dos moradores em junho de 2015:
Não deram [a prefeitura] nem uma semana de prazo para as famílias se mudarem. Eles falaram que a família tem que sair hoje. Todos os moradores da comunidade se juntaram… Não mexemos com eles [a polícia], não agredimos… eu apanhei, foi cassetete dos guardas que me bateram… [4]
4. Linamagalhaes7. Semana Tensa Introduz Nova Política de “Remoções Relâmpago” Em Favelas do Rio. Disponível em: <https://derechoalaciudadflacso.wordpress.com/author/linamagalhaes7/>
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[2] História Ocupação da cidade Ocupação da Cidade Nova
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Até o século XIX o Rio era uma cidade espremida, limitada pelos Morros do Castelo, de São Bento, de Santo Antônio e da Conceição, que concentrava uma população sem meios de transporte coletivo e, portanto, sem possibilidades de real expansão. Com a maioria da população ainda escrava, a moradia da elite diferenciava-se do restante da população apenas pela forma, e não pela localização. Em 1821 as freguesias (urbanas) existentes eram: Candelária, São José, Sacramento, Santa Rita e Santana, ocupadas majoritariamente pelas classes dirigentes. As demais classes, sem poder de mobilidade particular e ainda com falta de transporte coletivo, adensavam as freguesias circundantes: Santa Rita e Santana (atualmente Saúde, Santo Cristo e Gamboa).O Saco de São Diogo (atual Cidade Nova) ainda era área de mangue. Nas décadas de 1850 e 1860 o centro da cidade recebeu algumas importantes melhorias urbanísticas, como calçamento com paralelepípedos, iluminação a gás e, em 1862, passou a se beneficiar também de esgotos sanitários. Ainda assim, o centro era onde a população pobre, sem poder de mobilidade e necessidade de proximidade com o trabalho, permanecia residindo. A solução para essa questão da terra cada vez mais valorizada foi, para os pobres, o cortiço. Até o início do século XIX, a região da Cidade Nova, que era um alagadiço, servia de rota de passagem entre o Centro e as zonas rurais da Tijuca e São Cristóvão. Com a intenção de melhorar a travessia surgiu o projeto de impulsionar o crescimento da cidade para a área, vindo daí o nome. Foram feitas obras de aterro, como o aterro do mangue do Saco de São Diogo por volta de 1850, e a abertura de canal de escoamento que deu origem a atual Cidade Nova, Estácio, Catumbi e parte de Rio Comprido. Também justificou a criação da freguesia de Santo Antônio em 1854, desmembrada das de São José, Santana e Sacramento. O aterro dos mangues e atoleiros que cercavam Santa Teresa e Rio Comprido permitiu a intensificação da ocupação nesses bairros.
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5. ABREU. 2013. Pg. 41
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[2] HISTÓRIA
A rapidez da ocupação dessa “Cidade Nova” foi tão intensa que, a partir de 1865, criou-se a freguesia de Espírito Santo, que tinha jurisdição sobre os atuais bairros do Catumbi, Estácio, Rio Comprido e parte de Santa Teresa (...) A população menos abastada procurava ocupar os espaços mais próximos do centro, numa época que, devido a inexistência de transportes coletivos rápidos, a cidade praticamente andava a pé. [5] O surgimento do bonde de burro e do trem a vapor, a partir de 1870, impulsionou o crescimento físico da cidade. O Rio começava a ter sua estrutura sócio espacial estratificada. As classes nobres ocuparam os bairros fora no centro e servidos por bondes, enquanto a população pobre deslocou-se para os subúrbios servidos por trens, o transporte das massas. A expansão da cidade do Rio se deveu, basicamente, ao desenvolvimento dos meios de transportes de massa, significativamente patrocinados por empresas privadas e investimento internacional. Os investimentos constituíam não somente meios de transporte mas também infra estrutura viária. É a partir da expansão do território ocupado que a estratificação social começa a se acomodar espacialmente na cidade.
Só a partir do século XIX é que a cidade do Rio de Janeiro começa a transformar radicalmente a sua forma urbana e apresentar verdadeiramente uma estrutura espacial estratificada em termos de classe social... Trem e bondes foram, sem dúvida, indutores do desenvolvimento urbano do Rio. Mas o caráter de massa destes meios de transporte tem de ser relativizado, como também devem ser relativizados os seus papeis frente ao ambiente urbano. [6]
6. ABREU. 2013. Pg. 35 7. ABREU. 2013. Pg. 44
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É que trem, bondes e, mais tarde, ônibus (e os sistemas viários correspondentes) só vieram “coisificar” um sistema urbano preexistente, ou pelo menos um sistema de organização do espaço urbano, cujas premissas já estavam pontas em termos de representação ideológica do espaço e que apenas esperavam os meios de concretização. Em outras palavras, o bonde fez a zona sul, porque as razões de ocupação seletiva da área já eram “realidade”... Já o trem veio responder a uma necessidade de localização de pessoas de baixa rena e de atividades menos nobres (indústrias, por exemplo) [7] A partir do começo do século XX, após o boom dos transportes na cidade, a reforma Passos foi pioneira no Brasil e alterou definitivamente a relação do Estado sobre o meio urbano. As relações de intervenção passaram a ser diretas e os investimentos revelavam as intenções para a ocupação e desenvolvimento da cidade. A Reforma Passos veio como um projeto de embelezamento da área central e região portuária da cidade, áreas que misturavam o centro de negócios da cidade à população mais pobre amontoada. O plano era “reformar” a cidade para que esta incorporasse as qualidades de uma cidade moderna e simbolizasse a importância do país como principal produtor de café. O rápido crescimento em direção à zona sul, o aparecimento de um novo e elitista meio de transporte (o automóvel), a sofisticação tecnológica do transporte de massa que servia às áreas urbanas (o bonde elétrico), e a importância cada vez maior da cidade no contexto internacional não condiziam com a existência de uma área central ainda com características coloniais, com ruas estreitas e sombrias , e onde se misturavam as sedes dos poderes político e econômico com carroças, animais e cortiços. Ainda no começo do século XX mais reformas idealizadas pelo governo norteavam a urbanização e aceleravam o processo de estratificação da cidade . Sob a administração de Serzedello Correa (1909-1910) o bairros de Copacabana, ainda pouco habitado, e Ipanema, com apenas 175 prédios segundo levantamento do Serviço da Carta Cadastral, foram beneficiados por obras de saneamento. Em 1911 Copacabana e Leme tiveram boa parte das ruas calçadas além de arborização e áreas de lazer de praças aprimoradas. Entre 1914 e 1918 o país sofreu efeitos econômicos devido à guerra mundial e o estado foi forçado a cortar despesas, mas isso não impediu que obras de melhoramento na cidade do Rio seguissem em frente.
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Intervenções na Cidade Nova Nas intervenções no bairro da Cidade Nova, a abertura da Av. Presidente Vargas foi planejada para fazer a ligação do Centro da cidade à zona norte. As obras seguiam os projetos de melhoria e aumento das vias de circulação de cidade sob o governo de Getúlio Vargas nos anos de 1930. Foi a primeira grande intervenção no bairro, já consolidado, exigindo quase mil desapropriações. Na Cidade Nova localizava-se a antiga Praça 11 de Junho, que seria destruída com as obras de abertura da Avenida Presidente Vargas.
Para abertura da avenida a solução foi demolir os quarteirões que existiam entre o lado par da Rua General Câmara e lado ímpar da Rua São Pedro, fundindo as duas ruas em uma só. Estas duas ruas existiam começando no Campo de Santana ou Praça da República e indo até um pouco além da Igreja da Candelária. Com a abertura da Avenida Presidente Vargas, esta duas ruas deixaram de existir. A Avenida também engoliu uma parte da Praça da República (antigo campo de Santana). Antigamente o Campo de Santana chegava até onde situa-se a Estação D. Pedro II da Central do Brasil e o Edifício do Ministério do Exército. [8]
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8. Disponível em http://www.riodejaneiroaqui.com/pt/av-presidente-vargas.html
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[2] HISTÓRIA
Durante a primeira metade do século XX a Cidade Nova tornou-se referência de zona de meretrício, antes caracterizada por ocupação da classe proletária. As antigas casas operárias foram sendo convertidas em bordéis e uma vila inteira acabou ocupada pelas "casas de tolerância". O nome desta antiga vila operária acabou por se tornar sinônimo de baixa prostituição: Vila Mimosa. Os locais mais visados para a prostituição permeavam, principalmente, entre os bairros da Lapa, Glória, Castelo e Freguesia do Sacramento (atual Cidade Nova). Nesse momento, as prostitutas passaram a ser mobilizadas para a Zona do Mangue, local que abrangia a Praça XI até a Praia do Cajú. A ideia era criar um local específico para a prostituição, de acordo com as tendências progressistas de redefinição da cidade, independente dos usos que dela fazem seus habitantes. Na década de 1930, já são 200 casas e 3 mil prostitutas espalhadas por 10 ruas, e a cidade vai crescendo. Nos anos 40, a zona chega ao seu auge com 7 mil prostitutas brasileiras, russas, romenas, francesas, uruguaias e as famosas polacas. Com a chegada dos anos de 1970, depois de quase 50 anos de relativa estabilidade, começa a saga das mulheres. A Cidade Nova viria a abrigar linhas de metrô e o novo “bairro projetado de acordo com as mais modernas tendências urbanísticas”, além do centro administrativo da cidade (prefeitura). Foi em 1979, que as prostitutas se estabeleceram em 44 casas na pequena Rua Travessa Guedes, que tinha uma Vila de casas, chamada Vila Mimosa. A partir do final da década de 1960, várias destas casas foram sendo adquiridas e demolidas para dar lugar à construção de prédios residenciais e comerciais. A área onde se localizava a original Vila Mimosa foi demolida em princípios da década de 1990. Nos anos 70, o bairro passou a abrigar o Centro Administrativo São Sebastião, da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, e mais recentemente, os prédios do teleporto. Iniciou-se um projeto de criação de um novo polo de desenvolvimento no Rio de Janeiro, alguns grandes investimentos foram e estão sendo feitos no bairro, como edifícios administrativos e comerciais de alto padrão a fim de "revitalizar" o bairro. Hoje a vila mimosa ocupa uma área próxima à Praça da Bandeira.
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[3] Análise e Crítica Contexto urbano Grupos socioculturais Processos vigentes Caracterização da área de estudo
[3] ANÁLISE E CRÍTICA
LOCALIZAÇÃO Hoje a Cidade Nova está localizada no centro da região metropolitana do Rio de Janeiro. O bairro tem parte de sua área agregada ao projeto Porto Maravilha. A interseção acontece a partir da Avenida Presidente Vargas, que divide a parte do bairro que é habitada da área ocupada pelas linhas do metrô. Porto Maravilha Cidade Nova
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Metrópole Cidade Nova
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Contexto urbano
Seção do Morro de São Carlos à Avenida Presidente Vargas. Section from Morro de São Carlos to Avenida Presidente Vargas.
Uso Habitacional
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Av. Presidente Vargas
Rua Benedito Hipólito
APAC
Uso Habitacional Com Comércio De Bairro
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Rua Júlio Do Carmo
Rua Santa Maria
Av. Salvador De Sá
Rua Sr. De Matozinhos
Morro De São Carlos
Rua Frei Caneca
O bairro pode ser dividido em dois, entre a Avenida Presidente Vargas e o Morro de São Carlos, a área residencial e a administrativa-institucional. A área administrativa e institucional é claramente reconhecida pelo gabarito e tipologia arquitetônica. É uma área de grande dimensão e baixa densidade, pouquíssimo comércio e vitalidade. É possível indicar apenas duas torres de uso habitacional em toda essa área. A vitalidade e diversidade está sendo comprometida, assim como seu potencial econômico. Em oposição está a área residencial, predominantemente contida na poligonal da APAC, com sobrados históricos, comércio de bairro, com pequenas borracharias e bares que ocupam a área há décadas, por vezes até a mesma construção. Ali existe uma vitalidade diferenciada e até nostálgica, onde as pessoas usam a rua como mais do que local de passagem, mas como estadia, socialização e lazer.
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Uso Institucional E Administrativo
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(APV)
(MSC)
Morro de São Carlos (MSC) Área administrativa
MCMV
ECO Sapucaí Av. Presidente Vargas (APV) APAC Centro de Controle
Sambódromo
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Grupos socioculturais Os grupos socioculturais encontrados na Cidade Nova são extremamente importantes para identidade do bairro. A memória do bairro reside na sua população, que conta a historia do samba, da classe operária, da expansão e evolução da cidade do Rio de Janeiro. Os grupos de maior força são os habitantes localizados dentro da APAC, o grupo da escola de Samba Estácio de Sá e o Circo Crescer e Viver. Como já foi mencionado, a maior parte dos habitantes da Cidade Nova reside dentro dos limites da poligonal da APAC. Essa poligonal abriga um conjunto de edificações com valor histórico e, com ele, uma população antiga. Ainda dentro da poligonal está o atual galpão da escola de samba, que ocupa uma área muito reduzida. Toda essa área está em situação de fragilidade, por estar em valorização e ser ocupada por população majoritariamente pobre e vulnerável à diferentes tipos de remoção. Contribuindo para a educação e apoio à população jovem e carente existe a escola de circo, localizada fora da APAC. Essa escola, apesar de financiada pela prefeitura do Rio de Janeiro e órgãos públicos, é um grupo pouco valorizado. Ocupa um terreno em meio a área que sofre maiores intervenções de limpeza urbana e não tem seu potencial de promotor de inclusão social e cidadania estimulado no meio urbano. Não existe atualmente nenhuma política urbana, em meio as reformas e investimentos, que valorize ou apoie a estadia desses grupos. Ao que tudo indica, os grupos socioculturais são ignorados e com o tempo, por pressão imobiliária, devem deixar a área. Primeiro a população que ainda reside fora da APAC e posteriormente os que ocupam essa área.
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[3] ANÁLISE E CRÍTICA
APAC Dentro da área da APAC, uma população de classe media e baixa ocupa remanescentes históricos de casas que datam do começo do século XX. Em especial a vila operária, construída por Pereira Passos em 1906 logo após a abertura das ruas Salvador de Sá e Mem de Sá. Esta área se destaca não pela arquitetura história, já muito deteriorada, mas por sua população. É possível observar a relação da população com a rua ao ver crianças tomando banho na calçada, pais vigiando os filhos brincarem, pessoas bebendo e conversando na porta de suas casas. Essas atividades podem ser observadas no cotidiano, fora de época de festas ou feriados. A relação dos moradores com a rua solidificou com o passar do tempo. Apesar das edificações deterioradas, a população segue com os costumes de uso da rua como uma extensão da casa observados na década de 80 por Carlos Nelson. Com menor intensidade, já que a urbanização do bairro não estimula esse tipo de uso, mas ainda existe algo da vitalidade descrita no século XX.
Cidade Nova APAC Vila Operária
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Escola de samba Estácio de Sá Não é possível falar de Cidade Nova e deixar de mencionar sua importância na cultura do samba. Considerada o berço do samba, a escola Estácio de Sá está localizada no bairro da Cidade Nova em um espaço reduzido na Avenida Salvador de Sá. A Deixa Falar, que deu origem à Estácio de Sá, é considerada a primeira escola de samba, pelo IPHAN, que nasceu em meados de agosto de 1927. Inicialmente a Deixa Falar era bloco, mas logo se tornou escola de samba e foi também referência para o surgimento de outras agremiações no Rio de Janeiro, inclusive no próprio morro de São Carlos, base da atual Estácio de Sá. Em 1983, quando a Unidos de São Carlos vira Estácio de Sá, passou a contar com integrantes de toda a região e adequou o nome da escola à sua comunidade. Hoje a escola dedica-se ao carnaval e à confraternização, que abraça população de diferentes bairros e comunidades, envolvendo atividades ao longo do ano, como feijoadas, ensaios e rodas de samba.
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[3] ANÁLISE E CRÍTICA
Escola de Circo Social Crescer e Viver
R. Carmo Neto
Um dos grupos socioculturais mais importantes para a comunidade é a escola de circo. Em funcionamento desde 2003 com apoio governamental, a escola tem uma proposta de educação não formal pela via cultural, usando as artes como ferramenta pedagógica alternativa, facilitadora de outros aprendizados. O Programa de Circo Social da Escola de Circo Crescer e Viver articula, gratuitamente, as dimensões simbólica, social e educativa das artes circenses, oferecendo à crianças e jovens de classes e comunidades populares, oportunidades educativas focadas na elevação da autoestima; fortalecimento da autonomia; e no desenvolvimento da criatividade. Além do programa social para jovens e crianças em situação de vulnerabilidade, oferece Programa de Formação do Artista de Circo como um campo de formação e profissionalização. O papel dessa instituição vai além das artes circenses, o circo promove atividades voltadas para a conscientização sobre o meio ambiente, saúde, cidadania, colocando os alunos em contato com profissionais competentes no mundo das artes e também no mundo acadêmico. O circo foi até mesmo incluído na 15ª mostra de arquitetura da bienal de Veneza, por sua representatividade na vida de pessoas ligadas direta e indiretamente através de seus programas sociais. O curador Washington Fajardo elegeu instituições que promovem mudanças no seu entorno, para compor a exposição “Juntos”, que contará com 15 projetos criados por ativistas culturais, representantes atuantes da cultura negra e voltados à projetos no espaço público.
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[3] ANÁLISE E CRÍTICA
Processos Vigentes Nos últimos anos tem-se verificado um processo de renovação urbana no bairro da Cidade Nova. Multiplicam-se empreendimentos institucionais de alto padrão e novos edifícios administrativos adentrando o bairro a partir da Av. Presidente Vargas, importante eixo viário na região metropolitana do Rio de Janeiro. A política urbana assumida pela prefeitura é de renovação e limpeza. Acompanhando o partido urbano do Porto Maravilha, que faz intercessão com parte do bairro, a prefeitura assume a Cidade Nova zona administrativo, onde se concentrarão os edifícios administrativos.
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As intervenções atuam setorizando o bairro, valorizando o solo e pressionando a população pobre para fora. Essa atuação ocorre de maneira sutil aos olhos dos moradores, sendo feitas melhorias no calçamento e pavimentação existentes por todo o bairro, sem nenhuma real política de melhorias nas condições de habitação. Quando digo habitação não me refiro a moradia em si, mas as condições do entorno que promovam maior qualidade de vida e fixação da população no local, como áreas de lazer, postos de saúde, mercado popular, condições urbanas para que a economia local e a vitalidade floresçam. As intervenções verificadas atuam em direção oposta à fixação dos grupos socioculturais, mas em direção ao seu êxodo, para que uma classe emergente lentamente se aproprie da memória e cultura local.
CIDADE NOVA: NASCE UM NOVO POLO DE SERVIÇOS DO ESTADO NO BAIRRO Cedae, Centro de Controle da Secretaria de Segurança e Riofarmes ganham instalações na mesma região [9] (propaganda da prefeitura)
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9. Disponível em http://www.rj.gov.br/web/imprensa/exibeconteudo?article-id=493459
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[3] ANÁLISE E CRÍTICA
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Imagens do acervo pessoal
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Mercado imobiliário Uma comparação entre o preço por metro quadrado nos bairros do Centro e Cidade Nova desde 2008 mostram que, paralelamente ao processo de remodelação e valorização da região portuária e centro da cidade, apesar da crise econômica nacional, o valor da terra está elevado. Os empreendedores que investem no bairro têm vantagem sobre os que optam por investir dentro a área do Porto Maravilha, as concessões – CEPAC - não são necessárias. Apesar da proximidade com a área de maior valorização na cidade, esses empresários não tem um custo de investimento tão alto quanto seus vizinhos no porto.
A Cidade Nova, agora mais do que nunca, merece atenção por conta do seu potencial econômico. A sua proximidade com o Centro, facilidade de acesso e servido de infra estrutura básica, fazem da Cidade Nova um bairro muito atraente ao mercado imobiliário. Além disso o bairro é habitado majoritariamente por uma população pobre e em situação habitacional frágil, que ocupa remanescentes de sobrados históricos e sem real propriedade dos imóveis. Começam a surgir, em paralelo com as obras do Porto Maravilha, novos empreendimentos privados e obras públicas de alto padrão, contrastando com uma população residente pobre e de classe média.
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[3] ANÁLISE E CRÍTICA
Caracterização da área de estudo Hoje o bairro tem características contrastantes internamente. Após a implantação de vários investimentos pode-se dividir a Cidade Nova em dois, por uso e classe econômica do empreendimento implantado. Os contrastes são mais fortes entre o Norte da APAC e ao sul da linha da poligonal. Os investimentos ao norte e ao sul da APAC, apesar de diferenciados entre si, convergem para o mesmo fim, contribuindo no processo de limpeza urbana. Existem, ao norte, empreendimentos de alto padrão, e ao sul, dois condomínios do Minha Casa Minha Vida. As implicações desses investimentos serão comentadas adiante mas, antes disto, é necessário mencionar as obras que acontecem dentro da poligonal da APAC e unem essas duas áreas. Por ser uma área de proteção, as intervenções não podem ocorrer de maneira tão abrupta como fora dela. Dito isto, essa área também não funciona exatamente como uma barreira, bloqueando totalmente o processo de renovação. O que adentra na APAC são intervenções de reurbanização, com melhorias de calçamento e asfaltamento. Alguns empreendimentos de maior padrão econômico que o da população local pipocam ao norte, mas demolições e grandes construções não são possíveis. O processo de renovação dentro da APAC acontece de maneira mais sutil, como se as grandes intervenções ao norte fluíssem pelas ruas da área protegida. A gentrificação e segregação sócio espacial aparecem de maneira clara na leitura do espaço fora da APAC. O que acontece dentro da poligonal são obras necessárias à melhoria da qualidade do espaço urbano. Essas melhorias podem ser interpretadas como uma expansão do processo de limpeza, devido ao tipo de investimento que está acontecendo no entorno, e também os que não estão acontecendo. Os investimentos necessários para melhorar a qualidade de vida e promover a fixação dos moradores na área são inexistentes, enquanto os que trabalham para excluir essa população multiplicam-se. Dito isso, não existe crítica quanto a ocorrência obras de melhorias urbanas em si. Estas são obras necessárias à manutenção da cidade e devem acontecer. A breve crítica colocada aqui tem relação à qualidade dessas obras de reforma. As obras de melhoria observadas são basicamente de calçamento e nas praças existentes. O padrão de calçamento adotado é em concreto com faixa piso intertravado decorativo. Nessas obras não foram observadas, por exemplo, implantação de elementos que melhorem a acessibilidade de portadores de necessidades especiais. Nas praças existentes o mesmo padrão “minimalista” foi implementado. Apesar de estarem ocorrendo obras de melhoria, estas são implementadas homogeneizando os espaços, não valorizam as áreas de lazer ou criam um espaço convidativo ao encontro social. Aqui é possível observar a tentativa de incluir elementos de acessibilidade, porém são mal implementados e não funcionam como deveriam.
34
Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
Mapeamento do avanço do processo de gentrificação e renovação urbana.
Novos empreendimentos Ruas recém reurbanizadas ou em processo de reurbanização – calçamento e/ou pavimentação Poligonal APAC
Cidade Nova Limite do Porto Maravilha Praças
35
[3] ANÁLISE E CRÍTICA
Norte da APAC Ao norte da APAC, empreendimento que chama muita atenção é o ECO Sapucaí. Edifício institucional privado e camarote de luxo para o espetáculo do carnaval no Rio de Janeiro. Na imagem de propaganda do empreendimento a ocupação atual da quadra é representada como um grande gramado. Encurralando também a ocupação habitacional atual e um dos poucos elementos culturais do bairro, o circo, instalado entre 2000 e 2005, estão o centro de controle e a Rio Farmes, com enorme estacionamento. Ainda em uma área de fragilidade encontramos mais um grupo de casas de habitação de renda baixa e média uma quadra depois da mencionada anteriormente. Aqui o grande empreendimento pressionando a população residente é o Centro Empresarial Petrobrás, que ocupa mais da metade da quadra. Aqui também melhorias no calçamento e infra estrutura seguem o empreendimento. Logo ao lado, onde ainda existe habitação, a qualidade e quantidade de infra estrutura diminui muito. Nas imagens abaixo o contraste dessa onda de renovação com a ocupação tradicional e desamparada é claro. Nessa quadra já foram demolidas mais casas. A Universidade Petrobrás e o Centro Comercial Boulevard Cidade Nova, que fica em frente à Universidade, foram instalados entre 2008 e 2010. O centro comercial tem restaurantes e bares, ocupando uma área total construída de 2.085 m², adentrando pela APAC e ocupando remanescentes históricos que antes serviam como habitação de renda média e baixa, como o restante da vizinhança. Além dos empreendimentos destacados é possível observar novos bares e restaurantes penetrando a APAC próximos à esses empreendimentos.
I. 31
I. 32
I. 33
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Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
[3] ANÁLISE E CRÍTICA
MINHA CASA MINHA VIDA Ao sul da APAC os condomínios Zé Keti e Ismael Silva atuam de forma diferenciada no processo de gentrificação e segregação sócio espacial. Diferente da maioria dos conjuntos do Minha Casa Minha vida, esses foram alocados em uma área central, com infra estrutura e facilidade de acesso. No lugar do conjunto existia o histórico Complexo Penitenciário da Rua Frei Caneca, demolido em 2010 para dar lugar aos condomínios. Essa área fica aos pés do Morro de São Carlos, onde ainda existem algumas bocas de fumo, tráfico e muita influência da milícia. Por esse contato direto com a violência e tráfico, o terreno não tem real possibilidade de valorização. Surge então o conjunto habitacional como colchão de amortecimento, afastando o bairro do morro e trazendo possibilidades de valorização fundiária. Os condomínios formam uma barreira com o morro, além do antigo muro do presídio, que foi tombado. O espaço que essa comunidade inteira tem para organização de uma associação de moradores, onde unem os bairros da Cidade Nova, Estácio e Catumbi, é a antiga entrada do presídio. Essa construção que fica na entrada dos condomínios e tem o morro como fundo carrega um conteúdo simbólico muito forte, de marginalização. O remanescente tombado tem as palavras “Casa de Correção” gravados no frontão, com todo o morro e os conjuntos habitacionais atrás dele. O bairro é “privilegiado” por esse afastamento da favela e os habitantes do conjunto seguem abandonados pelo poder público.
I. 34
I. 35
I. 36
37
PARTE II [1] Ă rea de estudo [2] Diretrizes [3] Propostas
[1] Área de estudos Definição Caracterização
[1] ÁREA DE ESTUDO
Mapeamento de edificações e usos
1
3 1
2
4
4
5
Delimitação da área de estudo Base satélite
2
5
3
Delimitação da área de estudo e poligonais das APACs no mapa de cheios e vazios
Delimitação da área de estudo e APACs no mapa de usos Base cadastral
Base cadastral 1 2 3 4
Cidade Nova Estácio Catumbi Centro Área de estudo
A área onde se observa maior número de edificações está concentrada no interior das APACs da Cidade Nova e Catumbi, e no Morro de São Carlos. A área institucional e a ocupada pelos condomínios do programa MCMV apresentam espaços vazios e ruptura da malha.
Habitacional Habitacional/comércio de bairro (borracharias, bares, vendas)
Saúde
Habitacional/comercial
UPP
300
200
0
100
Comercial 1
APAC Cidade Nova
4
MCMV
2
APAC Catumbi
5
Morro de São Carlos
3
Área institucional
Institucional Praças Lazer/cultura
40
Educação Metrô
Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
Mapeamento de fluxos e núcleos de movimento
5 1
4
3 6
2 1
4 3
Intensidade de fluxo de veículos
Intensidade de fluxo de pedestres e núcleos movimento
Base satélite
Base cadastral
Base cadastral
Elementos que se colocam como barreira no fluxo viário e de pedestres, impedindo a vitalidade urbana e econômica: 1 Morro de São Carlos sem conexão com o bairro Muro do antigo presidio 2 Condomínios Zé Keti e Ismael Silva (MCMV) sem conexão com o bairro ou com o morro 3 Subestação Light de energia 4 Área de uso exclusivamente institucional 5 Avenida Presidente Vargas 6 Sambódromo
Dentro da área de estudo, os fluxos mais intensos concentram-se nas vias que fazem a ligação com o bairro do centro em ambos sentidos.
Os núcleos de maior movimento de pedestres estão diretamente ligados a diversidade de usos na área e a permeabilidade da malha urbana.
1 2 3 4
Rua Benedito Hipólito Av Salvador de Sá Rua Hadock Lobo Rua Frei Caneca Núcleo de vitalidade Núcleo de isolamento
300
200
100
Barreiras físicas
0
2
41
[2] Diretrizes Diretrizes gerais Embasamento teรณrico Mapeamento
Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
Diretrizes gerais INTEGRAR a vizinhança, ligando fisicamente as áreas de diferentes usos e classes socioeconômicas e entorno. Essa camada de intervenção se dá na malha viária; CONECTAR diferentes micronúcleos dentro da área de estudo, promovendo uma relação de benefício mútuo nas esferas econômica e social; FIXAR os grupos socioculturais estabelecidos na área para que se preserve a memória e a cultura local - e nacional - e promova um ambiente mais justo e democrático. As diretrizes gerais são reunidas como contra partida ao processo de gentrificação observado no bairro. Fiz o caminho inverso, usando a menor escala como ponto de partida para a estruturação da intervenção em maior escala. O projeto de PHP deu início a tudo, ele incorpora todas as inquietações e é o foco propagador de ideias e diretrizes para as intervenções urbanas. A partir do mapa de identificação e análise da área indicarei a disposição de elementos que, agindo em conjunto, reforcem as ideias da diretriz no meio urbano. Esses elementos estão, em grande parte, contidos no projeto arquitetônico de PHP, a ser apontado posteriormente, e se propagam pelo entorno. Para trabalhar as diretrizes optei por eleger núcleos de intervenção em pontos estratégicos, usando terrenos ociosos e subutilizados em cada núcleo. A partir da integração entre esses núcleos se daria a integração com o bairro, e propagação das diretrizes gerais.
1
4 3
1 2 3 4
2
Habitação de uso misto e rua de pedestres Praça da Apoteose e Centro Comunitário Parque Cultural e praça MCMC Habitação de uso misto e praça da estação de metrô Estácio
I. 37
43
[2] DIRETRIZES
O embasamento teórico das propostas urbanas seguem os “4 fatores geradores da diversidade” segundo Jane Jacobs. Esses fatores são essenciais para um bairro social e economicamente próspero.
1.Duas ou mais funções: Esse fator primário tem um objetivo simples, que é garantir a presença de pessoas que saiam de casa em horários diferentes e com motivos diferentes. Para que as empresas de bens de consumo abram e permaneçam abertas, como bares, mercados e lojas, é necessário pessoas transitando o dia todo. Estabelecimentos precisam de frequentadores. Em um bairro onde existam habitação e trabalhadores variados, por exemplo, o comércio consegue se manter em quantidade e variedade. Sem os trabalhadores ou sem os habitantes boa parte do comércio não sobreviveria. Essa movimentação atrai ainda pessoas de fora que querem aproveitar a vitalidade do local. Isso permite que o comércio prospere e amplie. A distribuição de tempo aqui é importante pois o movimento esporádico não sustenta o comércio. Em uma área como a zona administrativa da Cidade Nova, que existe pouca habitação e muitos edifícios comerciais, os poucos restaurantes existentes lotam nos horários de almoço e final da tarde, porém no restante do dia o movimento cai drasticamente. Esses são comércios que os habitantes não conseguem manter e os trabalhadores também não são suficientes para estimular quantidade ou variedade de serviço. A diversidade é tão importante pois é uma forma de sustentabilidade urbana. É a partir da quantidade e variedade de usos principais que a economia local é impulsionada, gera empregos onde existe habitação e isso influencia diretamente a mobilidade urbana, o tráfego na cidade e a qualidade de vida da população. A tentativa de separar elementos de uso não contribui em nada para a revitalização do local. Isso mata a diversidade e impossibilita real vitalidade, que pode ser obtida com a mescla de usos.
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Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
2. Quadras curtas:
TAMANHO DAS QUADRAS X FLUXO DE PESSOAS E VEÍCULOS
As quadras longas inibem o fluxo de pessoas, que acabam tomando o trajeto mais convenientes ao seu destino cotidiano, contornando as quadras. Essa falta de possibilidade de penetração na vizinhança torna as ruas mais monótonas e economicamente inviáveis a instalação e reprodução de comércios e serviços, já que não há movimento cotidiano que os sustente. Quadras muito longas são economicamente estagnadas pois isolam os trajetos que, havendo maior permeabilidade, se cruzariam naturalmente, negando aos empreendimentos o cruzamento de pedestres necessário para atrair clientes.
... é a fluência de usos e a confluência de trajetos, não a homogeneidade arquitetônica, que fazem as vizinhanças constituírem combinações de usos urbanos, mesmo que essas áreas sejam predominantemente de trabalho ou de moradias. [10] Nos desenhos ao lado, nas quadras muito longas existe somente uma escolha de rota enquanto as quadras curtas proporcionam opções variadas, ou seja, a oferta de pontos viáveis para o comércio cresce consideravelmente, assim como a comodidade de localização (p200). A tese de que a mistura de usos em um bairro pode trazer movimento às ruas de pessoas diferentes, com horários e objetivos diferentes pode ser frustrada pelo desenho de quadras que inibem o fluxo de pessoas.
[10] JABOBS. 2011. Pg. 201
45
[2] DIRETRIZES
3. Necessidade de prédios antigos: Os edifícios antigos, não somente os de valor histórico, mas as construções antigas em geral, tem seu custo mais baixo do que os novos e modernos edifícios. É necessário que uma empresa seja muito lucrativa para que consiga se manter em um novo empreendimento. Além disso é necessário que haja florescimento da diversidade de empreendimentos em uma área, para que as empesas, mesmo as de alta lucratividade, não fiquem isoladas em um ambiente árido. Esse é um tipo de ambiente limitado economicamente. DIRETRIZES
... supermercados e lojas de calçados geralmente se instalam em prédios novos; boas livrarias e antiquários raramente o fazem. Teatros líricos e museus de ate subvencionados instalam-se em prédios novos. Mas os fomentadores informais das artes – estúdios, galerias, lojas de instrumentos musicais e de material artístico, salas dos fundos onde os negócios de fundo de quintal de baixo rendimento, permitem travar uma conversa prolongada –, esses se instalam em prédios antigos. (...) Até mesmo as empresas que consigam financiar novas obras nas cidades precisam de construções antigas na vizinhança. Do contrário, serão uma atração única num ambiente único, bastante limitado economicamente – e portanto com muitas limitações, do ponto de vista funcional, para se tornar movimentados, interessantes e úteis. [11] 4. Necessidade de concentração:
É a concentração que proporciona conforto material ... [12] Em bairros onde a população é dispersa e existe baixa densidade, a única demanda capaz de existir é a da maioria. A diversidade material e cultural não se sustenta em uma área sem demanda real, somente somando a maioria da população e sua demanda comum um comércio é capaz de prosperar, ou apenas se manter aberto. Um bairro deve ter usos principais que se complementem de maneira que promovam uso intenso do solo urbano. Quando esse uso ocupa grande espaço físico, porém poucas pessoas, ele vai contribuir muito pouco ou nada para a vitalidade e diversidade. Não existe medida certa de concentração, “as densidades são muito baixas ou muito altas, quando impedem a diversidade urbana, em vez de promover.” (p.230)
[11] e [12] JABOBS. 2011. Pg. 208 e 221
46
[2] DIRETRIZES
Mapeamento Para integrar os núcleos de intervenção é preciso superar as barreiras físicas na malha urbana e promover a mobilidade dentro e fora do bairro. Busco valorizar a mobilidade de pedestres e ciclistas como estratégia de estimulo ao uso desses tipos de meios de locomoção, promovendo maior sustentabilidade urbana direta e indiretamente.
Ciclovias Base cadastral As ciclovias estão classificadas por tipo de conexão:
300
0
48
100
Arterial - faz a ligação com o centro e bairros dovoutro lado da Av. Presidente Vargas Coletora Local
Novas Vias
Integração dos núcleos
Base cadastral
Novas ruas Novas vias de pedestres Via de pedestre existente
Sobreposição das vias
Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
1 4 3
Para melhorar a conexão entre as diferentes áreas do bairro, a proposta é balancear a ocupação e usos do espaço, que atualmente mantém um bairro fragmentado.
300
100
0
Novo cheios e vazios Base cadastral
2
Novos usos Base cadastral Habitacional Habitacional/comércio de bairro (borracharias, bares, vendas)
Praças
Habitacional/comercial
Educação
Comercial
Metrô
Institucional
UPP
Lazer/cultura Saúde
49
[2] DIRETRIZES
Diretrizes em favor dos grupos socioculturais O processo de fixação dos grupos socioculturais locais consiste na inserção de elementos e equipamentos urbanos que promovam maior qualidade de vida e integração sócio espacial, além da melhoria das condições dos equipamentos e instituições existentes. A população carece de equipamentos como escolas, mercados, oportunidades de trabalho próximo ao local de residência. Além dessas necessidades, a mistura de usos se faz extremamente importante, promovendo vitalidade e real integração socioeconômica. A fixação dessa população, que bate de frente com o processo de gentrificação, é a proposta que amarra todas as camadas de intervenção, em sentido oposto atual ao processo de limpeza urbana, e integração sócio econômica e cultural. Para alcançar esse objetivo farei uso de terrenos ociosos e subutilizados em cada núcleo de intervenção, aplicando equipamentos e intervenções necessárias. O projeto de habitação de PHP engloba grande parte dos elementos propostos para promoção de fixação. Este projeto está localizado no núcleo de intervenção 1 e suas bases serão aplicadas aos demais núcleos.
50
[3] Propostas Núcleo 1 Núcleo 2 Núcleo 3 Núcleo 4
Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
Antes de mencionar cada núcleo e suas propostas de intervenção, é importante lembrar da escola de samba Estácio de Sá, que não está localizada em nenhum núcleo de intervenção. A escola de samba, como já foi dito, une um importante grupo sociocultural, que por uma questão prática, não está incluído em nenhum dos quatro núcleos. Com o Atualmente o espaço ocupado por esse grupo é reduzido, está localizado na Avenida Salvador de Sá, em um terreno estreito. Devido a importância da escola de samba na história local, na vida da população da região e na vitalidade urbana da área, é interessante que o espaço de confraternização seja mais confortável. Convenientemente, ao lado do galpão da escola existe uma grande área ocupada por uma loja de caixas d’água. Esta loja, apesar de ser um comércio formal e elemento gerador de renda, ocupa uma área desproporcionalmente grande como display de caixas e estacionamento. A proposta para esse terreno é que a loja mencionada ocupe outro terreno próximo, usando um espaço significativamente menor, e que a escola de samba possa ser ampliada.
I. 38
I. 39
53
[3] PROPOSTAS
NÚCLEO 1 Habitação de uso misto e rua de pedestres O terreno de 10.800m² está localizado em frente a estação de metrô Praça Onze, entre as ruas Benedito Hipólito e Júlio do Carmo, próximo ao Sambódromo e a Av. Presidente Vargas. O terreno ocupa uma quadra em meio a área onde estão acontecendo as maiores obras de “revitalização” e hoje existe ali o Centro Integrado de Controle e comando do Rio de Janeiro, construído para a Copa do Mundo de 2014. A quadra ocupada pelo CICC, com edifício no centro do terreno e estacionamento no entorno, se isola da vizinhança e contribui para a redução da vitalidade na rua. A rua de pedestres/estacionamento nessa quadra acaba tendo um fluxo muito pequeno de pessoas. Com o aumento de edifícios administrativos e institucionais como a Rio Farmes e o ECO Sapucaí, e mesmo havendo uma estação de metro e ponto de ônibus ali, o fluxo não adentra. A rua se tornou um estacionamento e os pedestres que a acessam estão quase que exclusivamente indo ou voltando da Rio Farmes.
I. 40
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Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
Proposta A proposta para a área é de um conjunto de uso misto, que inclui habitação, comércios e escola. A inserção desse elemento na área é de extrema importância para a preservação da vitalidade urbana. Sua função ali é desacelerar o processo de limpeza urbana e gentrificação que está varrendo a área, trazendo elementos que favoreçam a fixação população em situação habitacional de fragilidade, expostas às remoções fora da poligonal da APAC. Ao adensar a área dessa maneira, integrando usos variados e espaços que promovem o encontro e confraternização de pessoas, é possível fazer uma ponte entre moradores novos e antigos, criando uma relação de vizinhança mais amigável e coesa. A arquitetura do conjunto faz a transição entre área habitacional, de sobrados históricos e habitação de até dois pavimentos, para a área institucional com edifícios de 20 andares. Os dois blocos em formato de L que compõem o conjunto tem gabarito variável – máximo de 34 metros - e deixam generosos vãos no térreo, formando duas praças entre eles além de passagem de pedestres por toda a quadra.
1
4
3
2
ÁREA DE INTERVENÇÃO
AV. PRESIDENTE VARGAS
Av. Presidente Vargas
R. CARMO NETO
R. BENEDITO HIPÓLITO
R. JÚLIO DO CARMO
0
100
50
150
IMPLANTAÇÃO
AV. PRESIDENTE VARGAS
R. CARMO NETO
R. BENEDITO HIPÓLITO
R. JÚLIO DO CARMO
Ciclovia
I. 41
0
Estação de metrô Praça Onze
Rua Júlio do Carmo, trecho de pedestres
50
100
150
Habitação de baixa renda fora da APAC
55
[2] PROPOSTAS
NÚCLEO 2 Praça da Apoteose e Centro Comunitário Este núcleo de intervenção ocupa em parte o bairro da Cidade Nova, parte Catumbi. Os terrenos a serem trabalhados são a Praça da Apoteose, na Cidade Nova, e o terreno da COMLURB, dentro da poligonal da APAC do Catumbi. Esses espaços estão posicionados de frente um para o outro e separados pela rua Frei caneca, que divide também os dois bairros. O terreno da COMLURB pode ser classificado como espaço subutilizado, ele ocupa uma quadra inteira em meio a uma área de intensa vitalidade, com comércio, habitação e instituições usadas no cotidiano da população, como escola e igreja. Hoje o terreno é usado como depósito, com uma construção fixa da COMLURB ao fundo. Do outro lado da rua a Praça da Apoteose ergue seus arcos circundados por grades. A praça não tem importância na vida cotidiana dos moradores, ela é usada somente durante o carnaval e quando ocorrem shows de grande porte, eventos não populares.
I. 42
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Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
Proposta 1
4 3
2
ÁREA DE INTERVENÇÃO
AV. TRINTA E UM DE MARÇO
Hoje a associação de moradores, que compreende os bairros da Cidade Nova, Catumbi e Estácio, tem sua cede no arco do antigo presídio da rua Frei caneca, no acesso aos condomínios do MCMC. O espaço para essa associação é pequeno e não atende às necessidades da população. A região carece de um espaço para a comunidade, com associação, ambientes destinados à atividades educativas e recreativas e espaços que atendam as demandas da comunidade. O terreno da COMLURB será, portanto, destinado a um centro comunitário e associação de moradores. Respeitando o Decreto 10040/1991, que determina o gabarito máximo de 12m de altura, a proposta é de uma construção em fita com 12m e afastamento a partir da rua Frei Caneca, com área livre no térreo. Apesar da necessidade de cercamento do terreno, por uma questão de administração, serão indicados acessos com aberturas generosas. Afim de não isolar o projeto da rua, o cercamento será feito por gradeamento, de maneira que a visibilidade não seja comprometida. Esta área livre tem diversos usos em potencial, desde aulas ao ar livre até comércio de ambulantes em dias de show na praça da apoteose. Alguns desses usos têm, inclusive, a possibilidade de gerar renda para a comunidade. Um dos usos com grande potencial de geração de renda acontece durante o carnaval. Seguindo o exemplo da vizinhança, o centro comunitário pode se transformar em camarote para o espetáculo, sendo as salas da edificação alugadas e o térreo livre aberto para vendedores e ambulantes.
0
100
50
150
R. JOÃO VENTURA
I. 43
AV. TRINTA E UM DE MARÇO
R. DOS COQUEIROS
R. CAROLINA REIDNER
IMPLANTAÇÃO
Ciclovia 0
50 100 150
57
[3] PROPOSTAS
NÚCLEO 3 Parque Cultural e Praça MCMV Os terrenos no núcleo de intervenção 3 estão no bairro do Estácio, no Morro de São Carlos e no conjunto habitacional MCMV. Essas áreas de intervenção, apesar de interligadas serão divididas em dois, a primeira é a praça central do conjunto. Esta praça, atualmente sem uso, é um amplo gramado com mais de 4.000m² com proposta de implantação de uma clínica da família pela prefeitura do Rio de Janeiro. A segunda área é composta por terrenos vazios no Morro de São Carlos, arás do conjunto, existe ali apenas um campo de terra bastante utilizado, e um terreno estreito na rua Frei Caneca. Esses terrenos, somados, formam uma área de aproximadamente 22.000m² contendo boa parte do muro tombado do antigo presídio. A área não tem conexão com o conjunto habitacional ou com a rua Frei Caneca, para acessar o bairro é necessário dar a volta pela rua Estácio de Sá ou pela Lavaquiel Biosque, contornando os condomínios.
I. 44
58
I. 45
Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
Proposta Na praça central a proposta é seguir com o plano da prefeitura do Rio de Janeiro, já aprovado pelos moradores dos condomínios MCMV, de uma clinica da família. Em resposta às solicitações, também criar um espaço de feira formalizada em frente à clinica da família. Existe a necessidade tanto de integrar fisicamente o morro com o bairro, como de transcender o simbolismo do muro do antigo presídio que se soma ao portal tombado, na entrada principal do conjunto, que tem as palavras “casa de correção” gravadas no frontão. Para isso, nos terrenos vazios atrás dos condomínios, será criado um grande parque e complexo de função educacional e cultural, que promovam uma imagem positiva de cultura e contemporaneidade dentro da favela. Essa nova paisagem de fundo trabalha aproximando asfalto e favela. Os equipamentos culturais de grande porte teriam o poder de atrair visitantes de outros pontos da cidade, além de servir a população local, desconstruindo a ideia de que para desenvolver e modernizar é necessário afastar a população marginalizada.
1
4
3
2
ÁREA DE INTERVENÇÃO
IMPLANTAÇÃO
ACESSO DE PEDESTRES
5 1
4 0
3
50
100
150
Parque Cultural Ciclovia Transporte público novo Transporte público existente
1 2 3 4 5
2
0
50
100
150
Clinica da Família Centro Esportivo Biblioteca Galeria e Cinema Teatro
59
[3] PROPOSTAS
O parque tem cinco blocos espalhados, fazendo a descida até o nível da rua Frei Caneca. Existem duas ligações principais com o bairro, uma através da praça do MCMV, acesso de veículos, e outra pela lateral do conjunto, caminho de pedestres, em um terreno vazio da união, que será incorporado ao parque. As ciclovias também fazem esse percurso principal, tornando os caminhos mais convidativos e acessíveis.
Parque Cultural Ciclovia Transporte público novo Transporte público existente
I. 46
1 2 3 4 5
Clinica da Família Centro Esportivo Biblioteca Galeria e Cinema Teatro
3 4
2
1
46
5
Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
Referência [1] SITUAÇÃO
Parque biblioteca fernando botero G ateliers architecture Localizado na comunidade de san crisóbal, na parte ocidental dos morros da cidade de medelin, colômbia, o projeto faz parte de um plano de desenvolvimento orientado para revitalizar o centro urbano mediante a introdução de equipamentos culturais e serviços, que contribuam para satisfazer as necessidades mais urgentes de uma população predominantemente de baixa renda e marginalizada por políticas de inversão social.
I. 48
I. 49
I. 47
61
[3] PROPOSTAS
Referência [2] Parques da SABESP Levisky Arquitetos O parque implantado em 2013 está localizado em São Paulo, requalificando as áreas localizadas no Butantã, Cangaíba e Mooca. “A obra é constituída por três projetos desenvolvidos de modo integrado para a Sabesp com o objetivo principal de transformar áreas até então limitadas a cumprir a função de reservatórios de água (armazenamento e distribuição) em espaços de uso público, dedicados a estimular a conscientização ambiental, convivência social, lazer, prática de esportes, educação ambiental e cultura. ” A intervenção urbanística “contempla a criação de "Museus Abertos da Água" para a aproximação com a comunidade, por meio de rotas lúdicas sobre o ciclo das águas.” I. 50
46
Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
Reservatório Parque Cangaíba
Reservatório Parque Mooca
I. 51
I. 53
I. 52
I. 54
Reservatório Parque Butantã
I. 55
Disponível em www.archdaily.com.br/br/780300/parques-da-sabesp-levisky-arquitetos
63
[3] PROPOSTAS
NÚCLEO 4 Habitação de uso misto e Praça da estação Estácio A proposta do núcleo 4 inclui um terreno de 950m² que atualmente é usado como estacionamento, e a praça da estação de metrô Estácio. Este núcleo de intervenção está em meio à área administrativa do bairro, em situação de ocupação próxima ao núcleo 1, porém sem nenhum uso habitacional e vitalidade urbana muito reduzida. Apesar da praça do metrô ser um amplo espaço equipado com um pequeno skate park, quadras e pista de corrida, e ser usada por moradores do entorno, esse movimento não é constante nem muito intenso. A vitalidade que vem do outro dado das ruas Joaquim Palhares e Estácio de Sá, vai diminuindo em direção à Av. Presidente Vargas, da área onde existe muita habitação e comércio para a área onde predominam os edifícios administrativos e nenhuma habitação.
I. 56
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Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
Proposta A proposta para o terreno do estacionamento é de um edifício de uso misto com comércios no térreo e grande quantidade de habitação, como a proposta para o núcleo 1, que concentra 602 unidades de apartamentos. Ainda tendo como referência o projeto do núcleo 1, a implantação desta construção mantém a quadra aberta e configura uma praça “interna”, para onde o comércio pode expandir com mesas e cadeiras, formando um tipo de praça de alimentação ao ar livre. Esse uso traria mais movimento para a área e uso da praça da estação de metrô. Além da área comercial, que beneficiaria a população que trabalha nos edifícios do entorno, esta é uma ótima possibilidade de moradia para quem trabalha na área. A praça da estação Estácio deve ser valorizada com a criação de um espaço onde seja possível gerar renda e fomentar o movimento de pessoas, reunindo moradores e trabalhadores. Com essa finalidade a área mais próxima do novo edifício fica destinada a ocorrência de feiras. Esse é um tipo de comércio que grande parte da população local pode se apropriar de maneira efetiva, tanto como vendedores como consumidores. A integração da área é feita através do uso de ruas e acessos de pedestres novos e existentes, somado à introdução de ciclovias. O estacionamento nessa área deve ser como no núcleo 1, com vagas no entorno da quadra ou no subsolo, caso necessário.
1
4 3
2
ÁREA DE INTERVENÇÃO
AV. PRESIDENTE VARGAS
IMPLANTAÇÃO
PRAÇA IRMÃOS BERNADELI R. MADRE TEREZA DE CALCUTÁ
TRAVESSA GUEDES
R. MACHADO COELHO
R. AFONSO CAVALCANTI
0
50
100
150
R. HÉLIO BELTRÃO
R. SANTA MARIA
R. ESTÁCIO DE SÁ
Ciclovia Acessos 0
50
100
150
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[3] PROPOSTAS
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Linamagalhaes7. Semana Tensa Introduz Nova Política de “Remoções Relâmpago” Em Favelas do Rio. Disponível em: <https://derechoalaciudadflacso.wordpress.com/author/linamagalhaes7/>
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Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
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Iconografia I.1_https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/1f/f3/f2/1ff3f2cfde68c520996f7b22e02dec0a.jpg I.2_http://pre.univesp.br/as-reformas-do-rio-de-janeiro-no-inicio-do-seculo-xx#.V-Vvg_ArKUk I.3_https://historiadorio.wordpress.com/2012/11/07/historia-avenida-presidente-vargas/ I.4_http://salacristinageo.blogspot.com.br/2014/03/bota-abaixo-historia-da-reforma-urbana.html I.5_ Rio Maravilha por Lucas Faulhaber. https://issuu.com/lucas.faulhaber/docs/tfg_lucasfaulhaber I.6_ Vila Autódromo por Yasuyoshi Chiba. http://brasil.elpais.com/brasil/2016/03/09/politica/1457483606_611233.html I.7_Vila Autódromo por Kátia Carvalho. http://rioonwatch.org.br/?p=14535 I.8_Canal do Mangue. http://diariodorio.com/wp-content/uploads/2015/05/Canal-do-Mangue.jpg I.9_Canal do Mangue, por Augusto Malta (c. 1920). http://www.albertodesampaio.com.br/wp-content/uploads/2015/12/Canal-do-Mangue-por-AugustoMalta-c.-1920.jpg I.10_Praça XV de Novembro, por Augusto Malta (c. 1907). http://www.albertodesampaio.com.br/wp-content/uploads/2015/12/Pra%C3%A7a-XV-deNovembro-por-Augusto-Malta-c.-1907.jpg I.11_ Demolições para abertura da Av. Pres. Vargas. http://og.infg.com.br/in/13817184-f72-082/FT1086A/demolicoes.jpg
I.12_ Pavimentação da Av. Pres. Vargas. http://og.infg.com.br/in/13858154-8fc-73c/FT1086A/420/2014-748073225-2014090228594.jpg_20140902-2.jpg I.13_ Vila Mimosa por Claudia Rangel. http://www.overmundo.com.br/uploads/banco/multiplas/12397413514_img045.jpg I.14_ Vila Mimosa 1992. http://www.swissinfo.ch/blob/5934028/e524a5209d93df015b0ae3a6d7a5bd6b/sriimg20070606-7898239-0-data.jpg I.15_ Conjunto MCMV Ismael Silva, Estácio, acervo Pessoal. I.16_ Rua Aníbal Benévolo, Cidade Nova, google street view. I.17_ Av. Salvador de Sá, Cidade Nova, acervo pessoal. I.18_ Rua Ulysses Guimarães, Cidade Nova. http://ri.scsa.com.br/images/img_slide2.jpg
I.19_ Rua Carmo Neto, Cidade Nova, acervo pessoal. I.20_ Rua Salvador de Sá, Cidade Nova, acervo pessoal. I.21_ Ismael Silva, fundador da Deixa Falar na festa da Nossa Senhora da Penha. <http://extra.globo.com/incoming/3703865-ee8-bdd/w640h360PROP/ismael.jpg I.22_ Circo Social Crescer e Viver. http://crescereviver.org.br/escola-de-circo/programa-de-circo-social/ I.23_ Circo Social Crescer e Viver. http://crescereviver.org.br/escola-de-circo/programa-de-circo-social/ I.24_ Cidade Nova por Ignácio Ferreira. http://www.rj.gov.br/web/imprensa/exibeconteudo?article-id=493459 I.25_ Rua Júlio do Carmo, Cidade Nova, acervo pessoal. I.26_ Rua Carmo Neto, Cidade Nova, acervo pessoal. I.27 _ Rua Carmo Neto, Cidade Nova, acervo pessoal.
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Cidade Nova: segregação, gentrificação e memória
I.28_ Rua Carmo Neto, esquina com Rua Benedito Hipólito, Cidade Nova, acervo pessoal. I.29_ Gráficos de valor de terra por bairro. http://www.zap.com.br/imoveis/fipe-zap-b/ I.30_ Gráficos de valor de terra por bairro. http://www.zap.com.br/imoveis/fipe-zap-b/ I.31_ Rua Júlio do Carmo, Cidade Nova, acervo pessoal. I.32_ Rua Júlio do Carmo, Cidade Nova, acervo pessoal. I.33_ Rua Carmo Neto, Cidade Nova, acervo pessoal. I.34_ Presídio da Frei Caneca. http://blogdoimovel.blogspot.com.br/2009/11/e-o-presidio-virou-casa-popular.html I.35_ Portal tombado do Presídio da Rua Frei Caneca, google street view. I.36_ Conjunto M CMV na Rua Frei Caneca, acervo pessoal. I.37_ Eco Sapucaí, de Raul Lopez. https://farm6.staticflickr.com/5554/14231999374_dfc871daf9_h.jpg I.38_ Av. Salvador de Sá, google street view. I.39 _ Av. Salvador de Sá, google street view. I.40_ Montagem com imagens da Rua Carmo Neto do google street view. I.41_ Vista aérea da Cidade Nova do Google Earth. I.42_ Montagem com imagens da Rua Frei Caneca do google street view. I.43_ Vista aérea do Catumbi, Rua Frei Caneca, do Google Earth. I.44_ Vista parcial do Complexo do São Carlos, Estácio. http://www.panoramio.com/photo/53443422 I.45_ Muro remanescente do Presídio Frei Caneca, por Allan Caetano Ramos. http://mapio.net/pic/p-49382141/ I.46_ Vista aérea do conjunto MCMV, Estácio, do Google Earth. I.47_ Parque Biblioteca Fernando Botero. www.archdaily.com.br/br/01-78071/parque-biblioteca-fernando-botero-g-ateliers-architecture I.48_ Parque Biblioteca Fernando Botero. www.archdaily.com.br/br/01-78071/parque-biblioteca-fernando-botero-g-ateliers-architecture I.49_ Parque Biblioteca Fernando Botero. www.archdaily.com.br/br/01-78071/parque-biblioteca-fernando-botero-g-ateliers-architecture I.50_ Parques da SABESP. www.archdaily.com.br/br/780300/parques-da-sabesp-levisky-arquitetos I.51_ Parques da SABESP. www.archdaily.com.br/br/780300/parques-da-sabesp-levisky-arquitetos I.52_ Parques da SABESP. www.archdaily.com.br/br/780300/parques-da-sabesp-levisky-arquitetos I.53_ Parques da SABESP. www.archdaily.com.br/br/780300/parques-da-sabesp-levisky-arquitetos I.54_ Parques da SABESP. www.archdaily.com.br/br/780300/parques-da-sabesp-levisky-arquitetos I.55_ Parques da SABESP. www.archdaily.com.br/br/780300/parques-da-sabesp-levisky-arquitetos I.56_ Cidade Nova. http://www.rio.rj.gov.br/web/portaldoservidor/exibeconteudo?id=4845972 I.57_ Vista aérea da praça da estação de metrô Estácio e entorno, Cidade Nova, do Google Earth.
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