arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis | tfg 2021

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Paula Carolina Salomão Real

ARQUITETURA PÓS PANDEMIA O futuro dos espaços públicos em Heliópolis

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo

Orientador: Prof. Dr. Carlos Leite de Souza

São Paulo 2021



“Arquitetura deve falar de seu tempo e lugar, porém anseia por intemporalidade.“

FRANK GEHRY, 1929



AGRADECIMENTOS

À minha família, pelo apoio, companheirismo, amor e incentivo durante todo o desenvolvimento do trabalho e durante os cinco anos do curso. Aos meus amigos, pela ajuda, companheirismo e palavras de ajuda e incentivo. À todos os meus professores ao longo do meu período acadêmico, que contribuíram para o meu aprendizado ao longo do curso. Ao meu orientador de projeto, Daniel Corsi, pelo apoio, incentivo e todas as orientações e ensinamentos. Ao meu orientador de monografia, Carlos Leite, pela atenção, orientação, incentivo e direcionamento do trabalho. Obrigada!


ABSTRACT

The purpose of this project is to discuss upon the post-pandemic architecture, as well as which will be the future of public spaces in areas with great social vulnerability, considering it is a challenge to keep the social distancing and mental health in those areas, even though there is no public spaces available for the community. Considering Heliópolis’ territory as the subject of this research, the aim was to comprehend the possibilities and predict the future of architecture in public spaces in a post-pandemic context. Through project interventions, the goal was to make viable the social interaction among community members, at the same time that the social distancing was respected. And, therefore, create social public spaces safe to use again. For this purpose, it is presented a proposal for the area that intends to materialize the discussions raised throughout the research, in order to soften the impacts caused by the pandemic, make the area safe and at last, democratize the spaces. Key-words: Pandemic. Public spaces. Vulnerability. Heliópolis. Urban intervention. Democratic spaces. Leisure areas. Social gathering.


RESUMO

O presente trabalho discorre sobre a arquitetura pós pandemia e qual será o futuro dos espaços públicos em áreas de grande vulnerabilidade social, tendo em vista que, por se tratar de um território vulnerável, é um desafio manter o distanciamento social e a saúde mental, mesmo porque não há espaços públicos de lazer disponíveis para a comunidade. Tendo como objeto de análise o território do Heliópolis, procurou-se estudar a área, compreender as possibilidades do local e prever o futuro da arquitetura dos espaços públicos em um cenário de pós pandemia. Por meio das intervenções projetuais, procurou-se tornar viável a interação social entre os membros da comunidade, ao mesmo tempo que o distanciamento social seguro fosse respeitado, e, portanto, criar espaços públicos de convivência e seguros para usufruí-los. Para tal finalidade, é apresentada uma proposta projetual para a área que pretende materializar as discussões e pesquisas levantadas ao longo do trabalho a fim de amenizar os impactos causados pela pandemia, tornar o território seguro e democratizar os espaços da área. Palavras-chave: Pandemia. Espaços públicos. Vulnerabilidade. Heliópolis. Intervenção urbana. Espaços democráticos. Áreas de lazer. Convívio social.


lista de siglas


LISTA DE SIGLAS

AME - Ambulatório Médico de Especialidades BNH - Banco Nacional de Habitação CCCA - Centro Comunitario da Crianca e Adolescente CEI - Centros de Educação Infantil CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CEU - Centro Educacional Unificado EJA - Educação para Jovens e Adultos FJP - Fundação João Pinheiro IAPAS - Instituto de Apoio Operacional e Assistencial IAPI - Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INPS - Institutos do Instituto Nacional de Previdência Social IPVS - Índice Paulista de Vulnerabilidade Social MSP - Município de São Paulo MSTC - Movimento Sem-Teto do Centro OMS - Organização Mundial da Saúde OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PAD - Processo de Articulação e Diálogo PAM - Posto de Atendimento Médico PIB - Produto Interno Bruto PIDESC - Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos PMSP - Prefeitura Municipal de São Paulo PR-IP - Prefeitura do Ipiranga SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo SEADE - Secretaria Executiva de Atenção à Saúde e Desenvolvimento Regional Apêndice

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SEBES - Secretaria Municipal do Bem Estar Social SEHAB - Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo UBS - Unidade Básica de Saúde UNAS - União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região VHP - Vilas de Habitação Provisórias UPP - Unidade de Polícia Pacificadora ZPI - Zona Predominantemente Industrial

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO 2 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Residências pensadas para a pós pandemia. Fonte: Kyle Chayka, 2020. 36 Figura 2 Estilo de trabalho presencial com distanciamento social. Fonte: Kyle Chayka, 2020. 39 Figura 3 Proposta de espaço público aberto seguindo as medidas de distanciamento. Fonte: Kyle Chayka, 2020. 41 Figura 4 Parque Ibirapuera aberto com medidas de distanciamento social. Fonte: Archdaily. 2020. 43 Figura 5 Parque Dominos, em Nova York, reaberto seguindo estratégias de distanciamento.Fonte: Archdaily. 2020. 47 Figura 6 Domos para práticas de atividades físicas ao ar livre, no Canadá. Fonte: Archdaily. 2020. 47 Mapa 1 Déficit habitacional relativo e absoluto por região brasileira. Dados: Fundação João Pinheiro, 2020. Elaboração de autoria própria. 49 Gráfico 1 Componentes do déficit habitacional e suas porcentagens. Dados: Fundação João Pinheiro, 2020. Elaboração de autoria própria. 49 Gráfico 2 Número de áreas irregulares por município. Dados: Instituto Trata Brasil, 2020. Elaboração de autoria própria. 51 Tabela 1 População estimada total e residente em áreas irregulares. Dados: Instituto Trata Brasil, 2020. Elaboração de autoria própria. 52 Gráfico 3 Volumes de água consumido, de esgoto gerado estimado e volume de esgoto tratado das áreas irregulares, em ³/ano. Dados: Instituto Trata Brasil, 2020. Elaboração de autoria própria. 53 Figura 7 Campanha de conscientização do Covid-19 no Rio de Janeiro. Fonte: Voz Apêndice

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da Comunidade, 2020. 56 Figura 8 Faixas e cartazes conscientizam os moradores, no Rio de Janeiro. Fonte: Maré Vive, 2020. 56 Figura 9 Mais de 700 mil cestas básicas foram distribuídas em 300 comunidades em 14 estados brasileiros (BBC Brasil, 2021). Fonte: G10 Favelas via BBC Brasil, 2021. 59 Figura 10 Recebimento de doações pelas áreas vulneráveis. Fonte: UNAS. 63 Figura 11 Cidade de Medellín, na Colômbia. Fonte: Archdaily, 2021. Foto: Milo Miloezger. 65 Figura 12 Sistema de transportes conectando bairros e os integrando com o metrô, em Medellín. Fonte: Archdaily, 2021. Foto: Mariana Morais. 65

CAPÍTULO 3 Mapa 2 Mapa da evolução da periferização ao longo dos anos, de 1950 até 1970. Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1950, 1960 e 1970. 71 Mapa 3 Mapa da evolução da periferização ao longo dos anos, de 1980 até 2000. Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1980, 1991 e 2000. 71 Mapa 4 Mapa dos empregos no setor de serviços. Fonte: PMSP, 2018. 72 Mapa 5 Mapa dos empregos no setor de comércios. Fonte: PMSP, 2018. 72 Mapa 6 Mapa da mobilidade urbana em São Paulo. Fonte: PMSP, 2017. 73 Mapa 7 Mapa da distribuição de equipamentos culturais. Fonte: PMSP, 2018. 73 Mapa 8 Mapa da concentração dos empregos formais. Fonte: RAIS, 2004. 74 Mapa 9 Mapa de domicílios segundo a faixa de renda. Fonte: PMSP, 2000. 75 Mapa 13 Distribuição das favelas no município de São Paulo. Fonte: PMSP, 2017. 79 Mapa 14 Habitantes em favelas, em número de habitantes. Fonte: SEHAB/HABI e IBGE Censos de 1991 e 2000. 80 Mapa 15 Proporção de habitantes em favelas, em porcentagem. Fonte: SEHAB/HABI e IBGE Censos de 1991 e 2000. 81 14

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Figura 13 (à direita) Situação do distrito do Ipiranga dentro da Macrorregião Sul 1 e do município de São Paulo. Base: Google Earth. Elaboração de autoria própria. 88 Mapa 13 Evolução da mancha urbana da Macrorregião Sul 1. Fonte: PMSP, com base no mapa da EMPLASA (2002). Editado pela autora. 90 Mapa 14 Localização dos territórios de vulnerabilidade no distrito do Ipiranga. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria. 91 Gráfico 5 Domicílios particulares permanentes pela quantidade de cômodos. Dados: IBGE, Censo de 2010. Elaboração de autoria própria. 92 Gráfico 6 Domicílios particulares permanentes pela quantidade de dormitórios. Dados: IBGE, Censo de 2010. Elaboração de autoria própria. 93 Gráfico 7 Rendimento mensal da população, em salários mínimos (s.m.). Dados: IBGE, Censo de 2010. Elaboração da autoria própria. 93 Figura 14 Distância do Distrito do Ipiranga até o centro de São Paulo. Base: Google Earth. Elaboração de autoria própria. 95 Figura 15 (à esquerda) Situação de Heliópolis em relação ao distrito do Ipiranga. Elaboração de autoria própria. 96 Figura 16 (à direita)Situação de Heliópolis em relação ao município de São Paulo. Elaboração de autoria própria. 96 Mapa 15 Principais vias e eixos estruturadores do território. Elaboração de autoria própria. 98 Figura 15 Território de Heliópolis em 1940, ainda como posse da famíia Penteado. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria. 101 Figura 16 Território de Heliópolis em 1954, após ser adquirido pelo IAPI. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria. 101 Figura 17 Território de Heliópolis em 1973, após divisão das glebas e em processo de ocupação. Fonte: IGC. Elaboração de autoria própria. 103 Figura 18 Território de Heliópolis em 1977, período de luta dos grileiros pela Apêndice

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disputa de terra. Fonte: IGC. Elaboração de autoria própria. 103 Figura 19 Território de Heliópolis em 1986, logo após a posse pela COHAB. Fonte: IGC. Elaboração de autoria própria. 105 Figura 21 Território de Heliópolis em 2000, já adensada com os novos moradores. Fonte: IGC. Elaboração de autoria própria. 105 Figura 20 Território de Heliópolis dividido em glebas. Fonte: IGC. Elaboração de autoria própria. 105 Figura 22 Território do Heliópolis atualmente Fonte: Google Earth, 2021. Elaboração de autoria própria. 106 Mapa 16 Zoneamento da área. Fonte: PMSP, 2004. 108 Mapa 17 Uso e ocupação do solo. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria. 110 Mapa 18 Mapa de mobilidade. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria. 111 Mapa 19 Mapa de áreas verdes. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria. 113 Mapa 20 Mapeamento da rede de saúde. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria. 114 Mapa 21 Mapeamento da rede de educação. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria. 115 Mapa 22 Mapeamento dos equipamentos culturais. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria. 117 Mapa 23 Mapeamento dos equipamentos esportivos. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria. 118 Mapa 24 Mapa densidade em 1991. Fonte: IBGE Censo de 1991. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 119 Mapa 25 Mapa densidade em 2000. Fonte: IBGE Censo de 2000. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 119 Mapa 26 Mapa densidade em 2010. Fonte: IBGE Censo de 2010. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 119 16

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Mapa 27 Mapa abastecimento de água (em %). Fonte: IBGE Censo de 1991. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 120 Mapa 28 Mapa dabastecimento de água (em %). Fonte: IBGE Censo de 2000. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 120 Mapa 29 Mapa abastecimento de água (em %). Fonte: IBGE Censo de 2010. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 120 Mapa 30 Mapa coleta de lixo (em %). Fonte: IBGE Censo de 1991. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 121 Mapa 31 Mapa coleta de lixo (em %). Fonte: IBGE Censo de 2000. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 121 Mapa 32 Mapa coleta de lixo (em %). Fonte: IBGE Censo de 2010. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 121 Mapa 33 Mapa rede de esgoto (em %). Fonte: IBGE Censo de 1991. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 122 Mapa 34 Mapa rede de esgoto (em %). Fonte: IBGE Censo de 2000. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 122 Mapa 35 Mapa rede de esgoto (em %). Fonte: IBGE Censo de 2010. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017. 122 Mapa 36 Índice Paulista de Vulnerabilidade Social. Fonte: SEADE, 2010. 123 Mapa 37 Agentes mapeados no território. Elaboração de autoria própria.

Apêndice

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CAPÍTULO 4 127 Figura 23 Rua da Mina e suas movimentações. Fonte: Google Street View. 131 Figura 24 Sede do UNAS na Rua da Mina. Fonte: Fonte: Google Street View. 131 Mapa 38 Evolução dos espaços e áreas verdes em Heliópolis ao longo dos anos. Fonte: GETLINGER, 2013. Editado pela autora. 133 Figura 25 Terreno ocioso e murado. Fonte: Google Street View. 135 Figura 26 Terreno ocioso e murado. Fonte: Google Street View. 135 Figura 27 Terreno ocioso, usado como estacionamento. Fonte: Google Street View. 136 Figura 28 Campo de futebol. Fonte: Google Street View. 136 Figura 29 Campo de futebol principal, anexo ao PAM. Fonte: Google Street View. 137 Figura 30 Vista aérea do campo de futebol do PAM. Fonte: Google Street View. 137 Figura 31 Campanha de conscientização da população sobre o Covid-19. Fonte: UNAS, 2020. 140 Gráfico 8 Número de habitantes por domicílio. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria. 141 Gráfico 9 Porcentagens dos domicílios que vivem crianças e idosos. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria. 142 Gráfico 11 Renda média mensal dos domicílios. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria. 142 Gráfico 10 Porcentagem dos habitantes que deixaram de trabalhar. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria. 142 Gráfico 12 Necessidades apontadas pela família. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria. 143 Gráfico 14 Porcentagem dos habitantes que deixaram de trabalhar, por faixa de 18

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renda. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria. 144 Gráfico 13 Porcentagem dos habitantes portadores de doenças pré-existentes. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria. 144 Gráfico 16 Porcentagem e relatos na queda da renda, em famílias com renda inferior a 1 salário mínimo. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria. 145 Gráfico 15 Porcentagem e relatos na queda da renda, em famílias com renda de até 2 salários mínimos. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria. 145 Gráfico 17 Porcentagem e relatos dos sentimentos na pandemia. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria. 147 Figura 32 Diagrama explicativo da intervenção no local. Elaboração de autoria própria. 163 Mapa 39 (à esquerda)Mapeamento das áreas verdes privativas da região. Base

CAPÍTULO 5 Google Earth. Elaboração de autoria própria. 165 Figura 33 Terreno da SABESP, área verde privatizada. Base Google Street View. 165 Figura 34 Terreno do PAM, área verde murada e privatizada. Base Google Street View. 166 Figura 35 Terreno do PAM, área verde murada e privatizada. Base Google Street View. 166 Figura 36 Terreno do AME, área verde murada e privatizada. Base Google Street View. 167 Figura 37 Terreno da Petrobras, área verde murada e privatizada. Base Google Street View. 167 Mapa 40 (à esquerda) Conxões do território por meio de canteiros verdes nas Apêndice

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calçadas. Elaboração de autoria própria. 169 Mapa 41 (à direita) Ampliação das conexões verdes. Elaboração de autoria própria. 169 Figura 38 (à esquerda) Diagrama ilustrando canteiros verdes. Elaboração de autoria própria. 171 Figura 39 (à direita) Diagrama ilustrando as ruas de lazer. Elaboração de autoria própria. 171 Mapa 42 (à esquerda) Intervenções canteiros verdes e ruas de lazer. Elaboração de autoria própria. 171 Mapa 43 (à direita) Ampliação das conexões verdes e ruas de lazer. Elaboração de autoria própria. 171 Mapa 44 (à esquerda) Indicação da rua principal onde ocorrerá a intervenção. Elaboração de autoria própria. 173 Figura 40 (acima) Valorização da avenida principal visando a ativação comercial e um melhor uso do espaço público. Elaboração de autoria própria. 173 Mapa 45 (à esquerda) Indicação das áreas de intervenção. Elaboração de autoria própria. 175 Figura 42 Diagrama Uso 1 do layout proposto para área 1. Elaboração de autoria própria. 175 Figura 41 Layout proposto para área 1. Elaboração de autoria própria. 175 Figura 44 Parque proposto para área 2. Elaboração de autoria própria. 176 Figura 43 Diagrama Uso 2 do layout proposto para área 1. Elaboração de autoria própria. 176 Figura 45 Parque proposto para área 3. Elaboração de autoria própria. 176 Figura 46 Proposta de projeto para área 4. Elaboração de autoria própria. 177 Figura 47 (à esquerda) Indicação do terreno de projeto. Elaboração de autoria própria. 179 20

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 48 (à direita) Ampliação do terreno de projeto e indicações das vistas. Elaboração de autoria própria. 179 Figura 49 Visão 1 do terreno de projeto. Base Google Street View. 180 Figura 50 Visão 2 do terreno de projeto. Base Google Street View. 180 Figura 51 Visão 3 do terreno de projeto. Base Google Street View. 181 Figura 52 Visão 4 do terreno de projeto. Base Google Street View. 181 Figura 53 Topografia do terreno e de seu entorno. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria. 182 Figura 54 Visão aérea do terreno. Base Google Earth. 183 Figura 55 Visão aérea do terreno. Base Google Earth. 183 Figura 56 Croquis iniciais de projeto. Diagramas das volumetrias e esquemas iniciais. Elaboração de autoria própria. 185 Figura 57 Diagrama da esufa. Elaboração de autoria própria. 186 Figura 58 Diagrama do mercado e anexo. Elaboração de autoria própria. 187 Figura 59 Diagrama dos pavilhões. Elaboração de autoria própria. 187 Figura 60 Diagrama explodido das condicionantes do terreno. Elaboração de autoria própria. 188 Figura 61 Diagrama das clareiras presentes no terreno. Elaboração de autoria própria. 191 Figura 62 Diagrama do projeto inserido nas clareiras. Elaboração de autoria própria. 193 Figura 63 Diagrama de fluxos dentro do complexo. Elaboração de autoria própria. 195 Figura 64 Implantação geral do complexo. Elaboração de autoria própria. 196 Figura 65 Implantação ao nível térreo, cota 750. Elaboração de autoria própria. 197 Figura 66 Implantação ao nível térreo, cota 755. Elaboração de autoria própria. 198 Apêndice

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Figura 67 Implantação ao nível térreo, cota 760. Elaboração de autoria própria. 199 Figura 68 (à esquerda) Diagrama em corte da estufa. Elaboração de autoria própria. 200 Figura 69 (à direita) Planta da estufa. Elaboração de autoria própria. 200 Figura 70 (abaixo) Corte A Transversal. Elaboração de autoria própria. 202 Figura 71 (abaixo) Corte B Longitudinal. Elaboração de autoria própria. 204 Figura 72 Ampliação e esquema do caimento das águas pluviais. Elaboração de autoria própria. 206 Figura 73 Ampliação do sistema de claraboias para ventilação da estufa. Elaboração de autoria própria. 206 Figura 74 Diagrama humanizado e indicação da materialidade. Elaboração de autoria própria. 207 Figura 75 Diagrama estrutural da estufa. Elaboração de autoria própria. 208 Figura 76 Visão serial da estufa. Elaboração de autoria própria. 209 Figura 77 Visão serial da estufa. Elaboração de autoria própria. 209 Figura 78 (à esquerda) Diagrama em corte do anexo. Elaboração de autoria própria. 210 Figura 79 (à direita) Planta do anexo. Elaboração de autoria própria. 210 Figura 80 (abaixo) Corte A Longitudinal. Elaboração de autoria própria. 212 Figura 81 (abaixo) Corte B Longitudinal. Elaboração de autoria própria. 214 Figura 82 Ampliação do sistema de escoamento pluvial Elaboração de autoria própria. 216 Figura 83 Diagrama humanizado e indicação da materialidade. Elaboração de autoria própria. 217 Figura 84 Diagrama estrutural do anexo. Elaboração de autoria própria. 22

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218 Figura 85 Visão serial do anexo. Passeio central iluminado. Elaboração de autoria própria. 219 Figura 86 Visão serial do anexo. Deck de contemplação. Elaboração de autoria própria. 219 Figura 87 (à esquerda) Diagrama em corte do mercado. Elaboração de autoria própria. 220 Figura 88 (à direita) Planta do mercado. Elaboração de autoria própria. 220 Figura 89 (abaixo) Corte A Transversal. Elaboração de autoria própria. 222 Figura 90 (acima) Corte B Longitudinal. Elaboração de autoria própria. 224 Figura 91 (abaixo) Corte C Longitudinal. Elaboração de autoria própria. 224 Figura 92 Ampliação da composição da cobertura. Elaboração de autoria própria. 226 Figura 93 Diagrama humanizado e indicação da materialidade. Elaboração de autoria própria. 227 Figura 94 Diagrama estrutural do mercado. Elaboração de autoria própria. 228 Figura 95 Visão serial do mercado. Passeio com canteiro central iluminado. Elaboração de autoria própria. 229 Figura 96 Visão serial do anexo. Passagem entre blocos. Elaboração de autoria própria. 229 Figura 97 Visão serial do mercado. Relação entre o canteiro central e os boxes. Elaboração de autoria própria. 230 Figura 98 (à esquerda) Diagrama em corte dos pavilhões. Elaboração de autoria própria. 232 Figura 99 (à direita) Planta dos pavilhões. Elaboração de autoria própria. 232 Figura 100 (abaixo) Corte A. Elaboração de autoria própria. 234 Apêndice

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Figura 101 (abaixo) Corte B. Elaboração de autoria própria. 236 Figura 102 (abaixo) Corte C. Elaboração de autoria própria. 238 Figura 103 Detalhe da conexão entre calha, platibanda e viga de madeira. Elaboração de autoria própria. 240 Figura 104 Diagrama humanizado e indicação da materialidade. Elaboração de autoria própria. 241 Figura 105 (à esquerda) Diagrama estrutural dos pavilhões. Elaboração de autoria própria. 243 Figura 106 Visão serial dos pavilhões. Cinema. Elaboração de autoria própria. 243 Figura 107 Visão serial dos pavilhões. Área de exercícios ao ar livre. Elaboração de autoria própria. 243 Figura 108 Visão serial dos pavilhões. Área de piquenique. Elaboração de autoria própria. 244 Figura 109 Visão serial dos pavilhões. Área de shows e eventos. Elaboração de autoria própria. 244

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1 2 3

INTRODUÇÃO

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A PANDEMIA E AS MUDANÇAS NO ESPAÇO SOCIAL

33

2.1 A pandemia na arquitetura 2.2 A pandemia nos espaços públicos 2.3 A pandemia nos territórios vulnerabilidade social

35 40 48

de

CONSIDERAÇÕES SOBRE A VULNERABILIDADE EM HELIÓPOLIS 3.1 A desigualdade e a segregação em São Paulo 3.2 As áreas de vulnerabilidade social 3.2.1 O Ipiranga 3.3 Situação e características de Heliópolis 3.4 A formação de um bairro 3.5 Inserção urbana

67 68 78 88 96 100 108


4 5

HELIÓPOLIS E A PANDEMIA

125

4.1 As ações sociais e o uso dos espaços em Heliópolis 4.2 Os problemas da região 4.3 Heliópolis e a pandemia 4.3.1 Entrevista com Buiu do Povo

126

O PROJETO: COMPLEXO HELIÓPOLIS

161

5.1 Intervenção urbana 5.2 Estudo do terreno 5.3 Objeto de Projeto 5.3.1 Estufa 5.3.2 Anexo 5.3.3 Mercado 5.3.4 Pavilhões

162 178 184 200 210 220 232

CONCLUSÃO

247

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

251

132 138 150


01

introdução


INTRODUÇÃO

O tema do trabalho aborda as questões atuais de um cenário de pandemia, buscando analisar e estudar o território e prever os impactos do Covid-19 na arquitetura de espaços públicos em territórios de vulnerabilidade social. Em áreas como o Heliópolis, por possuírem diversos assentamentos irregulares e que, muitas vezes, são habitações de áreas muito pequenas, surge a necessidade de um espaço público. Um local, portanto, onde os moradores possam frequentar com o intuito de expressar suas individualidades, tendo em vista que as habitações se aglomeram de tal forma que os indivíduos se fundem em meio à multidão. Partindo deste contexto, e dada à violência e carência presentes em áreas fragilizadas como a de Heliópolis, torna-se imprescindível a realização do objeto projetual, visando não apenas o lazer, mas a saúde mental dos habitantes. Considerando a falta de espaços públicos na comunidade acima referida, é de se observar a importância da pesquisa do futuro da arquitetura na área urbana. A questão colocada é como estes espaços públicos sobreviverão numa cidade pós pandemia. A arquitetura mostra-se crucial para reestruturação do ambiente urbano e da convivência humana, tendo em conta que o momento atual da pandemia mudará consideravelmente a relação com o espaço público.

Introdução

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É fato que a pandemia mudará a arquitetura e é preciso entender e propor novas soluções e maneiras de se relacionar com a cidade. É justamente nos bairros mais vulneráveis que existe a necessidade de um espaço aberto, verde e público, para que os membros da comunidade possam usufruir e se divertir. A saúde mental também é uma das questões que vem sendo discutidas e é muito afetada nos tempos atuais, ainda mais intensificada pela crise gerada pelo surto do vírus. Somando esta questão com a impossibilidade de frequentar os lugares como antigamente, torna-se angustiante e desesperador esse período. O primeiro capítulo abordará a questão da pandemia, apresentando a problemática em questão e focando no contexto arquitetônico, trazendo levantamentos da arquitetura e urbanismo, e territórios vulneráveis, mostrando as áreas que serão mais afetadas pela questão e uma possível tendência a ser seguida nos próximos períodos. O segundo capítulo abordará o território de enfoque, após um contexto da questão da segregação e desigualdade, que ocasionaram o surgimento dos territórios vulneráveis. E assim, trazendo um breve histórico do surgimento de Heliópolis, um panorama geral da sua inserção, além de uma leitura urbana aprofundada do seu entorno e do bairro em questão. O terceiro capítulo abordará graficamente a situação atual do Heliópolis, apresentando mapas, fotos e estudos que demonstram o principal problema enfrentado pela área, além de apresentar o quadro geral da pandemia e seus efeitos no território a partir de uma conversa com um dos líderes comunitários. O quarto capítulo abordará as decisões de projeto e apresentará o objeto arquitetônico desenvolvido: um plano urbano com áreas pontuais de intervenção, e um enfoque principal no complexo 30

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


projetado, um parque que conta com uma área de pavilhões para lazer, uma estufa para produção alimentícia e um mercado voltado para a venda da produção da estufa, como fonte alternativa de renda. Como referencial teórico, os principais autores abordados e cujos trabalhos contribuíram para a elaboração da pesquisa são: Carlos Leite, Daniela Getlinger e Felipe Moreira.

Introdução

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02

a pandemia

e as mudanças no espaço social


2. A PANDEMIA E AS MUDANÇAS NO ESPAÇO SOCIAL

Assim como as epidemias e pandemias que assolaram o mundo no passado, a pandemia atual do coronavírus não será diferente. Este momento delicado que atingiu pessoas globalmente trará consequências diretamente ligadas às áreas da arquitetura, urbanismo e design, como já vêm sido percebidas. A crise que afetou a todos servirá como inspiração para mudar a arquitetura que conhecíamos, com novas técnicas e soluções adotadas para uma adaptação ao novo normal. As pandemias do passado são um bom exemplo de como a cidade e a relação do indivíduo com ela foi alterada. A peste bubônica do século XIV inspirou as melhorias urbanas no Renascimento, dando início à espaços públicos mais amplos e barreiras menos definidas. A febra amarela do século XVII e a cólera do século XIX estimularam o surgimento dos amplos boulevards, sistema de esgoto e encanamento e os primeiros subúrbios. A tuberculose, tifoide, pólio e gripe espanhola incitaram um planejamento urbano, dando uma ênfase maior em superfícies mais esterilizadas (como aço e vidro) e zonas de uso único separadas. (LUBELL, 2020) Segundo Barrozo e Leite (2021), é possível perceber, observando a história, que momentos de crise como este abrem novas portas e novas perspectivas. A história vem nos mostrando que o declínio de uma cidade e sociedade frente à uma crise, é seguido de momentos de reinvenção, onde as cidades se reergueram e se qualificaram, adotando novos padrões e hábitos urbanos. A pandemia e as mudanças no espaço social

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trabalho final de graduação . 2021

“Aproveitemos o poder criativo do momento para desencadear ações de transformação positiva”

(BARROZO; LEITE, 2021) O surto do Covid-19 já está afetando o mundo construído, mudando as antigas noções de normalidade e nos forçando a moldarmo-nos à essa nova realidade. A questão que se coloca é como reestruturar uma cidade, não abolindo totalmente o convívio social, mas ainda assim mantendo a distância segura e recomendada pelos órgãos de saúde pública? Como arquitetos podem contribuir para um novo rumo da arquitetura, e aceitar esse desafio para adaptar-se à nova realidade? O presente capítulo abordará então as mudanças que a pandemia trouxe em três aspectos: na arquitetura, nos espaços públicos e nos territórios de vulnerabilidade social.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


2.1 A PANDEMIA NA ARQUITETURA

Como já vêm sido percebido, a pandemia do Covid-19 já vem surtindo efeito na sociedade e na cidade como um todo. O grande impacto da crise, além do campo financeiro, foi na área da arquitetura. Desde que a quarentena foi imposta pelos governos como medida de segurança pública, a população se trancou dentro de suas casas, receosas e aflitas com essa doença que assolou o mundo. Escritórios, escolas, parques, cinemas, shoppings, restaurantes, tudo foi fechado. A arquitetura do ano passado já não é mais segura, as medidas agora são outras e foi necessário repensar os espaços para uma ocupação adequada e sanitariamente segura. É claro que a pandemia do coronavírus, assim como as demais pandemias passadas, servirá para evoluir a arquitetura e o urbanismo, nos forçando a adotar novas medidas e implementar novas soluções. O efeito que a pandemia causou foi global, fazendo com que todos repensem o novo normal e viva uma nova rotina, o que implica em uma mudança radical de estilo de vida, imposta à toda população mundial. Ainda não se sabe ao certo o que é esse “novo normal”, nem existe uma regra clara para tal, portanto, a arquitetura torna-se crucial para a reestruturação do ambiente urbano e da convivência humana, tendo em vista que o momento atual vivido mudará consideravelmente a relação entre espaço e indivíduo. É possível pensar em duas grandes áreas dentro do campo da A pandemia e as mudanças no espaço social

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arquitetura que serão diretamente afetadas pela pandemia: as residências e os ambientes de trabalho. As mudanças dentro das residências tem sido frequentes nos tempos atuais, onde os espaços íntimos estão ganhando enorme importância. Com uma maior parcela da população dentro de casa, tornou-se prioridade a qualidade e o conforto doméstico, tendo em vista que a crise alterou as necessidades de todos. Segundo Christele Harrouk (2020): “Em nosso confinamento, passamos a repensar de que forma nossas casas, apartamentos e edifícios poderiam ser mais agradáveis: áreas verdes e jardins, coberturas acessíveis, iluminação e ventilação natural eficientes, varandas e terraços generosos, espaços internos aconchegantes e acolhedores etc.”

(HARROUK, 2020)

Figura 1 Residências pensadas para a pós pandemia. Fonte: Kyle Chayka, 2020.

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O conceito de casa passa a ser repensado, uma vez que é necessário adaptarmos nossas necessidades às exigências do período. A casa pós pandemia será projetada pensando intrinsicamente no conforto do morador. Tendo em vista que a quarentena forçou a população a ficar dentro de casa, o ideal é que este ambiente seja o mais agradável possível, pensando também na questão da saúde mental de cada um. “A habitação se torna o lugar central da vida familiar, profissional e social. Além de moradia, passa a ser o lugar do trabalho, do estudo, do lazer, do exercício físico, do relacionamento social.”

(BONDUKI, 2021) A segunda área que sofreu com o impacto da pandemia foram os ambientes de trabalho, e alguns setores foram os mais afetados, como lojas, escritórios, consultórios, etc. Desde o início da crise, milhares de funcionários seguem seus trabalhos em home office, uma tendência mais segura nesse período, e viável em alguns setores. Esse modelo de trabalho adotado, além de ser eficiente, é uma boa medida para manter a segurança sanitária e evitar o contágio de mais pessoas sem necessidade. Além de economizar o tempo gasto com a mobilidade até o local de trabalho, os riscos são muito menores para aqueles que não necessitam utilizar o transporte público até seu serviço. Portanto, o modelo de trabalho remoto torna-se a opção mais viável e segura para o momento atual. (GILLEN, 2020) A curto prazo, será possível ver o distanciamento social no ambiente de trabalho e os desafios trazidos. Há também os desafios do trabalho remoto. A longo prazo será possível ver mudanças mais fundamentais no ambiente de trabalho, o que funciona ou A pandemia e as mudanças no espaço social

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não e qual modelo deverá ser seguido. (GILLEN, 2020) Nichola Gillen (2020), arquiteta e autora, discute as tendências do ambiente corporativo na pós-pandemia, onde os escritórios perceberam que o trabalho pode ser feito remotamente. E então, propõe a questão: por que devemos nos deslocar até o escritório para um trabalho que pode ser feito de casa? A tendência se tornará fazer o trabalho presencial apenas quando necessário, por razões específicas. Os escritórios então, se tornarão uma base comunitária de forma de convivência, pois a melhor forma de comunicação ainda será cara-a-cara, sempre nos incentivando a nos reunir, mas talvez não se sentar em sua mesa de trabalho em fileiras, trabalhando sozinhos. Por fim, é nítido o impacto da pandemia na arquitetura e na vida dos cidadãos. Como diz Lubell (2020), o coronavírus apontou que é possível prever diversos desafios se prestarmos atenção e escutarmos ao que os profissionais têm a dizer. Lubell cita que não podemos esperar até que estejamos esgotados, a arquitetura deve ser proativa, não reativa. A grande questão é saber identificar o conflito e saber quando e como agir nestas situações. A pandemia atingiu o mundo sem aviso prévio, e fomos obrigados a aprender a viver em novas condições, e repensar a vida de antigamente para que seja possível adaptar-se à nova rotina.

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Figura 2 Estilo de trabalho presencial com distanciamento social. Fonte: Kyle Chayka, 2020.

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2.2 A PANDEMIA NOS ESPAÇOS PÚBLICOS

Decorrido mais de um ano após o início da pandemia, avanços e retrocessos em tratamentos para o coronavírus e implementações de lockdowns, a grande maioria dos espaços públicos se encontram fechados ou com taxa reduzida de visitantes. Essa limitação ao espaço público infringe, de certa forma, o direito fundamental de ir e vir de todos os cidadãos, apesar das medidas sanitárias. Porém, a maior limitação que é imposta a nós não é a de não aglomerar, mas sim a de restringir o acesso direto com a natureza. Praças e parques possuem uma função principal de refúgio, esta necessidade que se demonstra fundamental no contexto de pandemia em que o ambiente interno, diversas vezes, se torna monótono e pacato. Frente à atual crise, acaba surgindo a necessidade de sair de casa, seja pela saúde mental, para se exercitar ou para se locomover até o serviço. Ainda há um enorme receio sentido pela maioria da população, pois ainda não há segurança em voltar a frequentar espaços como antes. O simples ato de frequentar um parque ou uma praça, o que, no passado, era uma atividade de lazer e relaxamento, hoje em dia tornou-se pavoroso, pelo fato de todos ficarem vulneráveis ao entrar em contato com outras pessoas. Por esta razão, os espaços públicos abertos como um todo deverão ser reestruturados e repensados, para que seja seguro a volta da rotina.

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“Após oito meses de pandemia, há um temor natural a respeito da volta da ocupação de espaços abertos, havendo receio tanto à aglomeração quanto aos meios necessários para se chegar ao espaço.”

(GARCIA, 2020) Desta maneira, praças, parques e ambientes abertos deixaram de ser frequentados visando um bem maior, uma questão de saúde pública, muito embora são estes locais os responsáveis por trazer reestruturação e equilíbrio mental.

Figura 3 Proposta de espaço público aberto seguindo as medidas de distanciamento. Fonte: Kyle Chayka, 2020.

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Segundo Harrouk (2020), a pandemia provocou um esvaziamento dos espaços, inclusive de parques e praças. Porém, ainda é possível criar soluções que permitam o uso do espaço de maneira segura e saudável, a fim de usufruir das vantagens de estar ao ar livre, como vem propondo diversos arquitetos, urbanistas e designers. “Como as regras e normas de uso do espaço coletivo continuam evoluindo a cada dia, sem sabermos o que pode acontecer amanhã, os espaços públicos mais flexíveis são aqueles com maior potencial, possibilitando diferentes formas de engajamento físico e social.”

(HARROUK, 2020) A grande questão da pandemia é tentar prever soluções cabíveis que tornem o espaço seguro novamente, através de estratégias de design e medidas de distanciamento, seguindo as normas da saúde. O espaço público é indispensável em momentos como este, pois é nas atividades externas que é possível se exercitar, correr, brincar ou simplesmente respirar um ar fresco. Enquanto bares, restaurantes e shoppings ainda são locais onde o risco de contágio é grande, a solução encontrada é a reabertura de praças e parques, que oferecem uma forma de lazer em meio ao caos vivido atualmente. “A praça, portanto, passar a se configurar como uma alternativa mais segura da reocupação dos espaços públicos, tornando-se um lugar da possibilidade de saúde física e mental, seguindo os protocolos de segurança sanitária”

(GARCIA, 2020) 42

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


O refúgio oferecido por praças, parques e locais abertos são um fator importante para aqueles que tiveram sua saúde mental afetada pelas medidas de isolamento e confinamento. Em uma grande área verde, onde o distanciamento social é mais bem controlado, é possível realizar diversas atividades que não são possíveis dentro de casa, e que ajudam tanto fisicamente, quando psicologicamente. Pedro Lira (2020) cita uma grande tendência e valorização destes espaços livres, devido a nossa necessidade de nos reconectarmos com a natureza, praticar esportes ao ar livre e de crianças brincarem e correrem. “Desta forma, esses espaços se confirmam, assim, como nossos principais locais de lazer e de suporte a atividades físicas e até escolares em alguns países.”

(LIRA, 2020)

Figura 4 Parque Ibirapuera aberto com medidas de distanciamento social. Fonte: Archdaily. 2020.

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“A procura por locais para recreação, como parques, praças e áreas livres, tenderá a crescer, ampliando a reivindicação por mais espaços abertos”.

(BONDUKI, 2021) Por outro lado, muitas cidades ainda não estão preparadas para receber esta demanda de necessidade por espaços verdes e amplos, seja por não possuírem área para tal, falta de manutenção ou então de investimento neste setor. Segundo Garcia (2020), é necessário que as praças tenham complexidade para cumprir com sua vocação como espaço salubre e de encontros. Assim, não basta um espaço apenas existir, ele deve fazer sentido para quem as utiliza, relacionar com os equipamentos do entorno e ter diversos usos. Apenas um espaço verde não é o suficiente para atender às demandas da população, é necessário que este possua múltiplas atividades e que tenha uma manutenção constante. De acordo com Queiroz (2021), dentro do contexto da pandemia, a presença de áreas verdes como praças e parques se torna imprescindível e vital para a saúde pública do momento, levando em conta que caminhadas e passeios ao ar livre proporcionam um baixo risco de contágio, além de ser uma forma de manter-se ativo fisicamente durante o isolamento social. Entretanto, em São Paulo, esta possibilidade ainda se apresenta distante para uma grande parcela da população, onde a péssima distribuição das massas vegetais é escancarada como um reflexo da desigualdade social, tornando-se um problema ainda mais urgente e preocupante. (QUEIROZ, 2021) Queiroz (2021) ainda cita que a falta de áreas verdes está 44

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


diretamente ligada à uma questão de problema de saúde pública. De acordo com Leite, urbanista, Coordenador do Núcleo de Urbanismo Social do Insper e professor na FAU-Mackenzie (2021): “Na cidade de São Paulo, doenças decorrentes de poluição estão entre as principais causas de morte. Então é muito relevante ter um bom gradiente verde, como dizemos no urbanismo. E infelizmente os indicadores nos revelam uma distribuição bastante heterogênea e muito ruim para quem mora em regiões periféricas”

A partir do problema, as áreas periféricas privadas das áreas verdes se mobilizaram a fim de criar espaços públicos por conta própria, afirma Leite (2021): “As comunidades que estão mais estruturadas estão montando uma estratégia de mitigação. Paraisópolis é o exemplo máximo. Mas também no Jardim Lapena e na Comunidade da Maré, no RJ, as pessoas estão usando o campo de futebol como espaços de convivência. Pensando em redução de danos, é melhor conviver lá do que em locais fechados e com má ventilação”

Leite (2021) ainda comenta: “O gradiente verde, mais do que nunca, hoje tem que ser visto como elemento de saúde física e mental nas cidades”.

Outra grande questão que a pandemia levanta é a de refletirmos A pandemia e as mudanças no espaço social

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sobre nosso impacto no ambiente. De acordo com dados da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), na estação Cerqueira César a redução de partículas inaláveis chegou aos 50%. Esse resultado se dá pela diminuição do volume de automóveis circulando diariamente pela cidade. Dentre tantos aspectos negativos trazidos com a pandemia, um ponto positivo, estamos poluindo menos o meio ambiente e é visível esta mudança quando vemos notícias de que animais voltaram a frequentar tal espaço quando o mundo entrou em lockdown no início do ano de 2020. De acordo com Pedro Lira (2020): “A limitação à liberdade de ir e vir e socializar que a pandemia provocou, nos trouxe uma oportunidade única de reflexão a sobre o modo como vivemos e da necessidade urgente de reduzir os impactos que provocamos ao meio ambiente. Tal alegação parece não ser novidade, mas foi preciso uma pandemia para que a levássemos a sério.”

(LIRA, 2020) Foi necessário que o mundo inteiro se paralisasse por conta de um vírus para percebermos e nos conscientizarmos sobre nosso impacto no mundo e sobre as nossas reais necessidades. O mundo está passando por transições e somos obrigados a nos reconstruir e nos transformar junto a ele. Este momento serve para repensarmos nossas ações e o impacto que causamos no planeta. É fato que a interação entre indivíduo e espaço mudará, não será a mesma de antigamente. Ainda há muita mudança para ocorrer. Portanto, no futuro cabem espaços mais sustentáveis e verdes, áreas abertas amplas e uma nova relação do pedestre com a cidade. 46

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Figura 5 Parque Dominos, em Nova York, reaberto seguindo estratégias de distanciamento. Fonte: Archdaily. 2020.

Figura 6 Domos para práticas de atividades físicas ao ar livre, no Canadá. Fonte: Archdaily. 2020.

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2.3 A PANDEMIA NOS TERRITÓRIOS DE VULNERABIIDADE SOCIAL O Brasil, sendo um país onde grande parte da sua população não possui moradia ou vive em condições subdesenvolvidas, o déficit de habitação atinge patamares de grande escala, evidenciando a desigualdade social do Brasil. Esse fator é um dos principais que resultam na precarização dos serviços básicos para uma vivência e uma moradia digna. Desta maneira, a Fundação João Pinheiro (FJP) caracteriza o déficit habitacional como um conceito que indica a falta de habitações, ou habitações em condições inadequadas, ou seja, a “falta de moradias e/ou a carência de algum tipo de item que a habitação deveria estar minimamente fornecendo”. Assim, a principal função do levantamento destes dados é dimensionar a quantidade de moradias que não são capazes de atender às necessidades mínimas de vida e salubridade. Segundo os estudos elaborados pela Fundação acima referida entre os anos de 2016 e 2019, o déficit habitacional apresenta tendência de aumento. O déficit mais recente apresentado pela FJP, em 2019, chegou à cerca de 5 milhões e 800 mil. Neste mesmo estudo, é apresentado o déficit por regiões brasileiras, e o Sudeste apresentou insuficiência de cerca de 2 milhões e 200 mil, o maior dentre as demais estudadas.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


domicílios rústicos 11,9%

ônus excessivo com aluguel 51,7%

domicílios improvisados 13,4%

unidades domésticas conviventes déficit 21,5%

domicílios cômodos 1,7%

Gráfico 1 Componentes do déficit habitacional e suas porcentagens. Dados: Fundação João Pinheiro, 2020. Elaboração de autoria própria.

719.638 12,9% 1.778.964 9,2%

472.101 8,4% 2.287.121 7,2%

Mapa 1 Déficit habitacional relativo e absoluto por região brasileira. Dados: Fundação João Pinheiro, 2020. Elaboração de autoria própria.

618.873 5,6%

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Outro dado da FJP, apresenta a carência por faixa de renda, que por sua vez, apontou que mais de 72% dos domicílios déficit possuíam renda de até um salário mínimo. Sendo assim, é possível concluir que grande parte do déficit habitacional está concentrado em áreas de maior vulnerabilidade social, tornandose imprescindível um olhar mais humano para essas áreas. Assim como a questão da moradia, uma outra agravante que contribui para o déficit é a situação do saneamento. O Instituto Trata Brasil (2020), uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), cita: “A falta de saneamento básico assola milhões de brasileiros, como aponta os últimos dados do SNIS 2013 (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico). Menos da metade dos brasileiros estão conectados às redes de coleta de esgotos e apenas 39% dos esgotos gerados são tratados. Além disso, há mais de 30 milhões sem acesso à água tratada. A carência do saneamento básico atinge a todos, mas é certo que os maiores impactos estão nas famílias de baixa de renda, muitas delas residentes em locais denominados “aglomerados subnormais”, ou simplesmente áreas irregulares.”

(TRATA BRASIL, 2020) Os dados a serem ilustrados a seguir reforçam a forte presença de áreas vulneráveis que não são providas de saneamento básico.

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7 9 13 15 30 38 39 54

santos praia grande suzano são bernardo do campo itaquaquecetuba são vicente carapicuíba guarujá são josé dos campos

145 170 245

osasco campinas são paulo

2073 0

500

1000

1500

2000

2500

Gráfico 2 Número de áreas irregulares por município. Dados: Instituto Trata Brasil, 2020. Elaboração de autoria própria.

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Tabela 1 População estimada total e residente em áreas irregulares. Dados: Instituto Trata Brasil, 2020. Elaboração de autoria própria.

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151.371.927

volume de água consumido

volume estimado de esgoto tratado

121.097.542

volume de esgoto tratado

Gráfico 3 Volumes de água consumido, de esgoto gerado estimado e volume de esgoto tratado das áreas irregulares, em ³/ano. Dados: Instituto Trata Brasil, 2020. Elaboração de 50000000 100000000 150000000 200000000 autoria própria.

10.777.681 0

Conforme demonstrado pelos gráficos acima, observa-se que o maior número de áreas irregulares é encontrado no município de São Paulo (2.073 áreas), e seus habitantes superam 1 milhão e 700 mil. Dentro destas áreas, de 151 milhões de m³ de água consumidos, apenas 10 milhões é esgoto tratado. O PAD (Processo e Articulação de Diagnóstico), cita a questão dos direitos humanos e inicia a discussão de que o direito à saúde tem sido violado nos últimos anos, e este cenário se agrava no período atual da Covid-19. Água potável e saneamento são componentes dos direitos básicos sociais previstos pelo Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), e que não são

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de acesso universal da população brasileira. “O direito à água é explicitado como um dos grandes desafios para toda a humanidade na atualidade”.

(PAD, 2020, p. 26) Segundo o PAD (2020), enfrentar a desigualdade social é fundamental para que sejam assegurados diversos direitos humanos. Ainda sobre as afirmações da PAD (2020), sobre o coronavírus nas áreas vulneráveis: “O coronavírus esfacela as outrora abertas veias da América Latina. “Fique em casa”, “lave as mãos”, “use álcool em gel”. Mas que casa, com que água e que dinheiro? A realidade dos adensamentos é a da coabitação, da falta de água e de saneamento.”

(PAD, 2020, p. 44) Partindo destes estudos, é evidente que grande parte da população brasileira vive em condições subnormais, e é em áreas de maior vulnerabilidade social que se encontram os maiores problemas. É possível perceber que uma porcentagem considerável dessa população sofre com os problemas de saneamento básico, e a questão que se coloca é: como seguir as recomendações de órgãos da saúde, sem ter ao menos uma condição digna de esgoto tratado? E é por este e outros motivos que as comunidades e assentamentos irregulares são os mais afetados pela pandemia que assolou o mundo, tornando-se uma realidade muito peculiar e diferente da população da classe média e alta. 54

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


“Embora seja uma das nações mais urbanizadas do mundo, o Brasil maltrata a parcela maior dos habitantes das urbes, formada exatamente pelos menos favorecidos”

(LEITE; PINTO, 2021) Bonduki (2021) reforça: “Embora já fosse evidente, a pandemia reforçou a necessidade de urbanização e saneamento dos assentamentos precários para garantir a prevenção sanitária das cidades.”

(BONDUKI, 2021) Desta forma, os gestores municipais encontram-se frente à uma agenda emergencial, revelada e escancarada pela pandemia: o conceito de cidades mais inclusivas, tanto social quando ambientalmente. É necessária uma atenção maior aos territórios mais vulneráveis, onde estão aglomeradas milhares de pessoas sem condições dignas de moradia e saneamento básico, além de espaços de lazer a áreas verdes. (LEITE; PINTO, 2021) De acordo com Barrozo e Leite (2021), se faz necessário o uso da tática de urbanismo social, para que os territórios de vulnerabilidade social sejam priorizados a fim de garantir uma vida urbana minimamente qualificada. A pandemia trouxe diversos problemas para as populações globais, também acabou por desvendar os problemas que já existiam e foram acentuados, portanto, sendo necessário uma ação emergencial para os integrantes de comunidades, classe que mais sofreu com os efeitos da pandemia. Se a crise que afetou diretamente o mundo como um todo causou efeitos negativos, já se imagina o quão intensificada a pandemia A pandemia e as mudanças no espaço social

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se deu em territórios de vulnerabilidade social. Além de muitos moradores de comunidades não possuírem a condição sanitária adequada, como citado acima, as medidas de distanciamento social são difíceis de manter quando impostas em um local de alta densidade, como as áreas de vulnerabilidade social.

Figura 7 Campanha de conscientização do Covid-19 no Rio de Janeiro. Fonte: Voz da Comunidade, 2020.

Figura 8 Faixas e cartazes conscientizam os moradores, no Rio de Janeiro. Fonte: Maré Vive, 2020.

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A partir de um webinar apresentado pelo Insper sobre a relação da pandemia e um possível fracasso das cidades, Anthony Ling (2020) cita que, no Brasil, onde temos áreas densas de aglomerações informais, e acrescentado às condições subnormais que grande parte da população é submetida, é difícil seguir as recomendações da OMS, de praticar o isolamento social, distanciamento e lavar as mãos com frequência. Por muitas vezes, em territórios informais, não há ventilação adequada, saneamento básico, condições de uma higiene digna e infraestrutura necessária. Anthony reforça a ideia de que a população vive realidades muito diferentes. São diferenças incomensuráveis que mostram que nem todos tem a mesma oportunidade. Enquanto o mundo inteiro adotou o modelo de trabalho remoto, há pessoas que não são providas dessa oportunidade, necessitam sair de suas casas em busca da renda no final do mês, renda essa que foi prejudicada fortemente pela chegada da pandemia. De acordo com Leite e Pinto (2021), a partir do quadro atual, há uma exigência pela promoção de uma qualificação urbana em nossas cidades, principalmente nos territórios informais e de alta vulnerabilidade social, onde devem ser aportados planos de ação local e da tática do urbanismo social, à exemplo da cidade de Medellín, na Colômbia, e sua tradução brasileira em Recife (programas Compaz e Mais Vida nos Morros) e em São Paulo (Pacto pelas Cidades Justas). Além disso, Vinicius Andrade (2020) discute a pauta de como lidar com a quarentena em ambientes precários e informais. Por muitas vezes, cumprir com o isolamento social recomendado como ordem de saúde pública pode ser um incômodo para aqueles que vivem em residências superlotadas e em condições frágeis, tornando-se uma tortura. Como uma solução para este problema, A pandemia e as mudanças no espaço social

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sem desrespeitar as normas de segurança, Vinicius cita a tática de guerrilha, que consiste no mapeamento dos espaços públicos coletivos das comunidades, estudando as formas de ocupá-los e fazer o uso adequado deles, propondo uma quarentena que contemple um rodízio da ocupação desse espaço. Assim, a ideia de promover espaços públicos, flexíveis, dotados de infraestrutura que possam estar preparados e prontos para receber uma futura crise, além de atender às necessidades da população no momento emergencial do presente. A partir de um webinar apresentado pelo Insper sobre lideranças comunitárias e a operação dos territórios de vulnerabilidade em tempos de Covid-19, foi possível absorver e compreender como têm sido o trabalho de política pública aplicado às favelas e comunidades. De acordo com Carmen Silva (2020), líder do MSTC (Movimento Sem-Teto do Centro) e atuante na área do direito da população à cidade e a moradia, é necessário reivindicar uma política massiva que possa atingir a todos, uma política educacional que fosse efetiva e, principalmente, inclusiva, e não de distanciamento. Carmen cita que existia uma ineficiência da política educacional em São Paulo, existiam programas mas não agregavam a todos. A líder ainda cita que o trabalhador de baixa renda tem o sentimento de pertencimento à cidade e de participação social quando têm todos os documentos em dia e procura participar ativamente das discussões políticas da cidade. A moradia é a porta de entrada para todos os outros direitos, e deve vir seguido de direitos à saúde, educação, e especialmente informação, como diz Carmen Silva (2020). Este movimento atende mais de 6 mil famílias atualmente, com a distribuição de cestas básicas, marmitas, kits de higiene e 58

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máscaras. Além do apoio de instituições financeiras, a população conta com unidades de apoio psicológico que ajudam as famílias e refugiados nesse momento difícil. “Atuamos com a intenção de ser parte do estado, e não a parte do estado”

(SILVA, 2020) O papel de líderes comunitários como organizações sociais é pactuar para ter uma cidade mais inclusiva e mostrar que o reconhecimento de serem uma única origem é o que os faz atuar

Figura 9 Mais de 700 mil cestas básicas foram distribuídas em 300 comunidades em 14 estados brasileiros (BBC Brasil, 2021). Fonte: G10 Favelas via BBC Brasil, 2021.

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com expertise e mais amplamente no território. Ainda sobre o mesmo assunto, Ester Carro (2020), arquiteta e ativista urbana, e presidente da União Educacional e Esportiva do Jardim Colombo, discorre que é um desafio muito grande lidar com a população e a pandemia, mas é um trabalho que vem sendo feito e surtindo bons resultados. A primeira entrega pela comunidade começou com uma pequena mobilização e ofereceu 23 cestas à população. Hoje, com o apoio de cada voluntário e também incentivo das instituições, são entregues 700 cestas por semana. Ester cita que foi um grande desafio lidar com diferentes tipos de pessoas e número de voluntários, e ainda pensar em maneiras de ajudar a população sem causar aglomerações e aumentar o número de contágios. Após algumas tentativas, hoje foi atingido um modelo de entrega eficiente e seguro, e tem apresentado uma boa resposta. Ester comenta ainda que não é apenas o Jardim Colombo que está passando por um momento difícil, e então a organização criou uma rede com outros líderes para dividir as doações recebidas às demais comunidades. Estamos em um período delicado, e não devemos pensar somente em nós mesmos, mas sim ver um cenário global e de ajuda mútua. Em relação às medidas adotadas de prevenção estão: a implementação de uma rádio comunitária que divulga o trabalho e explica o que está acontecendo, além de incentivar a população a ficar em casa; um sistema de produção de máscaras que remunera as costureiras e oferece o produto de graça aos moradores; e o atendimento por telemedicina, que atende o paciente remotamente, diminuindo o contato com a UBS e hospitais. Além disso, estão sendo pensadas ações culturais em alguns pontos da 60

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


comunidade, utilizando da ferramenta de urbanismo tático, o que intervirá nos espaços e ajudará a compactuar com o isolamento e confinamento que foi imposto. Ester Carro (2020) menciona que cerca de 40% da população sabe o que é o vírus e está consciente da importância de permanecer em casa e se prevenir. Ao longo de um webinar da Fundação FEAC sobre habitação e seus enfrentamentos durante a pandemia, outro relato importante é de Thais Caroline de Oliveira, professora e moradora da ocupação Itayu, em Campinas. Thais acredita que a sociedade viu na pandemia uma oportunidade de despertar, surgindo um sentimento mais humano nas pessoas, o que as fizeram enxergar os mais vulneráveis e ajudá-los, pois agora todos estão no mesmo barco. Os moradores de Itayu têm recebido doações, e os líderes da comunidade estão promovendo um trabalho que já havia sendo feito há tempos, o de suporte aos seus moradores. Há trabalho de conscientização, exposição de cartazes para indicar o uso obrigatório da máscara, disponibilização de álcool em gel nas áreas comuns da ocupação, limitação do número de visitantes que cada unidade pode receber e até eventuais visitas para verificar se as famílias estão precisando de algo. Thais ainda cita que quer mudar o jeito que as ocupações são vistas, quer que todos tenham a noção de que os moradores de ocupações não querem nada de graça, apenas o direito à moradia, que deveria ser de todo ser humano. Dentre outras medidas tomadas sobre os territórios vulneráveis frente à pandemia, encontra-se o Projeto Campo Favela, um projeto coordenado por dois professores do Insper, Lars Sanches e André Duarte, que atuou de março de 2020 a janeiro de 2021, e previu A pandemia e as mudanças no espaço social

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trabalho final de graduação . 2021

ajudar os moradores da área vulneráveis em meio à pandemia. A missão foi levar frutas, verduras e legumes de pequenos produtores agrícolas às associações locais e aos moradores das comunidades no Brasil, e desta forma, criar um modelo de ciclo de negócios sustentável na pós-pandemia. Segundo o relato de Carmen Silva (2020) durante um webinar do Insper sobre sobrevivência política e coletiva, as lideranças comunitárias levam assuntos e lutas relevantes que são indispensáveis para o pacto de uma cidade mais equânime, propondo uma participação para todos, e dentro disso, uma qualidade de vida que seja justa a todos. Assim, é indispensável a participação da população, da comunidade, para que haja mudanças eficazes na vida pública de um território. Conforme recente publicação da Cities Alliance (2020), melhorar os territórios vulneráveis é a chave para uma recuperação no contexto pós-pandemico: “Durante a pandemia, em muitas cidades da América Latina, ficou claro que a sociedade civil costuma ser a primeira linha de resposta em assentamentos urbanos precários nos bairros e distritos. Do fortalecimento da solidariedade em vários níveis ao fornecimento de iniciativas econômicas em torno da segurança alimentar e estratégias de prevenção, saneamento e redução da renda - não teria sido possível sem abordagens de baixo para cima. Na verdade, a crise demonstrou que a coordenação e a coprodução de respostas com as pessoas criam soluções e intervenções muito mais eficazes no território”.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


A atuação de líderes comunitários e organizações em territórios informais vem sendo eficiente no combate ao coronavírus, atendendo aos moradores e provendo aquilo que é necessário para a sobrevivência e qualidade de vida da população. Porém, ainda se faz indispensável a elaboração de um planejamento urbano visando uma melhoria no bem-estar de seus habitantes. Para Tomas Alvim (2021) não há outra saída além do investimento nas áreas mais precárias e necessitadas, nestes tempos de pandemia, devendo haver uma priorização do investimento público, mas também partir de uma demanda da sociedade civil. E é essa a pauta colocada pelo Pacto pelas Cidades Justas, a busca pela superação do desequilíbrio que, no final das contas, afeta a vida de todos.

Figura 10 Recebimento de doações pelas áreas vulneráveis. Fonte: UNAS, s.d.

A pandemia e as mudanças no espaço social

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trabalho final de graduação . 2021

“Para reforçar a compreensão do impacto dessa exclusão, vale lembrar que, hoje, a diferença de expectativa de vida entre um morador dos bairros de classe média de São Paulo e o da Cidade Tiradentes é de 23 anos”

(ALVIM, 2021) De acordo com Alvim (2021), reconhecer os graves problemas que afetam os centros urbanos, conjuntamente à consciência, eficiência e prioridade no endereçamento desses desafios permite resultados mais consistentes e transformadores. Desta forma, torna-se indispensável uma atuação conjunta entre o poder público e o setor privado, para que possa haver uma transformação mais efetiva de fato. De acordo com Carlos Leite (2020), enfrentar esses problemas, de maneira propositiva, consistente e contínua, a partir de políticas públicas integradas é o desafio que se impõe às cidades da América Latina e Sul Global. Aqui temos o exemplo da cidade de Medellín, na Colômbia, um modelo de transformação e urbanismo social. Medellín passou da metrópole mais violenta do planeta, na década de 1990, chegando a indicar 400 homicídios por 100 mil habitantes (em São Paulo o indicador é de 13,2) ao título de “cidade mais inovadora do mundo”. Ante o exposto, para que sejam assegurados os direitos humanos de toda a população, é imprescindível um olhar mais sensível e humano aos territórios de grande vulnerabilidade social com intuito de considerá-las parte integrante do todo e merecedora de projetos de qualificação urbana e social.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 11 Cidade de Medellín, na Colômbia. Fonte: Archdaily, 2021. Foto: Milo Miloezger.

Figura 12 Sistema de transportes conectando bairros e os integrando com o metrô, em Medellín. Fonte: Archdaily, 2021. Foto: Mariana Morais.

A pandemia e as mudanças no espaço social

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03

considerações

sobre a vulnerabilidade em Heliópolis


3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A VULNERABILIDADE DE HELIÓPOLIS

Com base em um contexto geral, é possível entender as particularidades do território partindo da escala macro para a micro. A história de como se deu a desigualdade e segregação tão presenta na vida de muitos atualmente reflete diretamente na formação dos assentamos e áreas vulneráveis em São Paulo. É a partir de um breve histórico, a ser relatado a seguir, que nos guia diante da formação das condições de vida que temos hoje. Desta maneira, é possível perceber a influência do movimento segregacionista que ocorreu há décadas atrás e ainda impacta uma grande porcentagem dos brasileiros.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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trabalho final de graduação . 2021

3.1 A DESIGUALDADE E A SEGREGAÇÃO EM SÃO PAULO O tempo que vivemos é fortemente marcado pela “lógica exacerbada do mercado” como diz Jaquier (2018). As cidades dos dias de hoje são voltadas ao consumo e lucro, principalmente em regiões centrais, o que segrega e afasta as classes populares, as levando para as periferias. E é assim que a transformação do centro em um palco de espetáculos, lotado de atividades e voltadas à lógica do consumismo promovem um dinamismo, que ao mesmo tempo contribui para a gentrificação contemporânea desses locais. (JAQUIER, 2018) Para Leite et al. (2018): “A dimensão coletiva do uso da cidade é a sua essência. Todavia, historicamente na contramão, a cidade de São Paulo vem sendo privatizada- ou seja, negada enquanto cidade, a começar por sua superfície. O solo de São Paulo é privado. A terra nua não dá lugar a parques ou equipamentos públicos, mas é tratada como estoque especulativo de riqueza.”

De acordo com Jaquier (2018): “Esse processo de transformação consequentemente desloca as camadas mais populares para locais periurbanos da cidade, pois já não há mais condições

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


ou oportunidades de se viver no centro e pode-se dizer que de certa forma dificulta-se o acesso aos direitos individuais e coletivos que o centro da cidade oferece”.

A desigualdade social que assola a cidade de São Paulo teve início nos anos 30, quando surgiram diversas moradias a fim de alojar setores sociais de baixa e média renda, construídas pela iniciativa privada. (LACERDA, 2020 apud BONDUKI, 1998, p. 43) Em 1942, houve uma intervenção do Estado, que regulamentou as relações entre inquilinos e proprietários, a Lei do Inquilinato. Como consequência do congelamento dos aluguéis estava a escassez de habitação e redução da construção civil voltada à aluguéis, o que provoca o surgimento de outras formas de moradia, através da ocupação em lotes periféricos. (LACERDA, 2020 apud BONDUKI, 1998) Assim, de acordo com Lacerda (2020) [apud Caldeira (2000)], como consequência imediata dessa intervenção está o processo de periferização da população, que agora não possui mais o fácil acesso às moradias nas regiões centrais, por conta da diminuição do mercado de aluguéis, causando uma segregação e a exclusão dessas pessoas de uma infraestrutura urbana. “Na década de 40 então começam a surgir as primeiras favelas em São Paulo, que significavam uma resistência dos inquilinos em deixar as áreas mais centrais e mudar-se para a periferia, onde ficariam longe de seus empregos.”

(LACERDA, 2020 apud BONDUKI, 1998, p. 262)

E foi assim que a segregação teve início, quando na Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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trabalho final de graduação . 2021

região central a classe alta continuava próxima ao centro e das oportunidades, a iniciativa privada não supre a necessidade da construção de habitações populares e a classe baixa é forçada a migrar para bairros periféricos. (LACERDA, 2020 apud BONDUKI, 1998) No mapa à direita é possível notar a periferização da população ao longo dos anos. Quando nos anos 50 a concentração se dava na área central da cidade, a partir de 1960 houve uma polarização, que fez com o que as periferias fossem ocupadas. Até o ano de 2000, a maior parte da população se concentrava em áreas periféricas e uma pequena porção nas áreas centrais. Logo em seguida, os mapas da concentração de comércio, serviços, equipamentos culturais e mobilidade, que mostram mais uma vez que a área central é mais bem atendida que as áreas periféricas, colocando ainda mais em evidência a crescente desigualdade e segregação social.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


A partir desse breve histórico de como a segregação socioespacial aconteceu em São Paulo, é ilustrado nos mapas de 1 a 6 esse processo da região central perdendo sua população enquanto nos bairros periféricos ocorre um acréscimo populacional.

Mapa 2 Mapa da evolução da periferização ao longo dos anos, de 1950 até 1970. Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1950, 1960 e 1970.

17

Mapa 3 Mapa da evolução da periferização dos(IBGE. anos, de 1980 até 2000. Mapas 1 a 6 - Distribuição territorialao da longo população. Fonte: IBGE, Censos Demográficos 1980, 1991 e 2000. Censos Demográficos 1950, 1960, 1970,de 1980,1991 e 2000).

Em contraposição como demonstram os mapas de 7 a 9, a maior oferta de empregos da cidade hoje se concentra na região central e áreas sobre próximas, e é nessa mesmaem região que Considerações a vulnerabilidade Heliópolis tambem está localizada a melhor estrutura de transporte público (mapa 10) e de

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trabalho final de graduação . 2021

Mapa 4 Mapa dos empregos no setor de serviços. Fonte: PMSP, 2018.

72

Mapa 5 Mapa dos empregos no setor de comércios. Fonte: PMSP, 2018.

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Centros Culturais, Casa de Cultura, Espaços Culturais, Galeria de Arte e Museus Município de São Paulo 2013

Distrito Subprefeitura

Municipal Estadual Federal Particular N 0

6

12

18

Quilômetros

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura – SMC; Guia da Folha de São Paulo. Elaboração: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano – SMDU / Departamento de Produção e Análise de Informação – DEINFO.

Mapa 6 Mapa da mobilidade urbana em São Paulo. Fonte: PMSP, 2017.

Mapa 7 Mapa da distribuição de equipamentos culturais. Fonte: PMSP, 2018.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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trabalho final de graduação . 2021

O mapa abaixo sintetiza o que vem sendo discorrido até o presente momento, as oportunidades de emprego concentradas nas regiões centrais, onde a densidade populacional é menor, em contraste com as poucas oportunidades nas regiões mais Empregos Formais periféricas, onde se concentra a maior parte da população.

Distritos do Município de São Paulo 2004

O mapa de empregos formais

Distritos

expandido da cidade. O centr

Número de Empregos 77.942

nos distritos Sé, República e B

74.047

igualmente importantes. Na su

70.152

Tietê, encontram-se as maiore

66.257

residenciais na Lapa, Barra F

62.362 Distritos

O mapa de empregos formais produz uma imagem de "

Número de Empregos

58.467

Pinheiros, Itaim e Santo Amar

expandido da cidade. O centro ainda mostra uma tendê

77.942

aspecto é nos distritosOutro Sé, República e Brás.interessante Porém, outras áreas

74.047

igualmente importantes. Na sua porção sudoeste e ao l

70.152 50.677

Tietê, encontram-se as maiores concentrações de empr

54.572

66.257

46.782 62.362

58.467 42.887 54.572

38.992 50.677

46.782 35.097 42.887

áreas com baixíssima presenç

de alto residenciaisresidencial na Lapa, Barra Funda, Vilapadrão, Leopoldina co e ao Pinheiros, Itaim e Santo Amaro.

Jardim Paulista e Moema. Os

Outro aspecto interessante é notar que, entre estas "ilha

áreas jápresença mencionadas: áreas com baixíssima de empregos,Pinhei que, na s

residencial de alto padrão, como Pacaembu, Higienópo

dividida entre os espaços prod

Jardim Paulista e Moema. Os Jardins, por exemplo, sep

38.992

tem-se uma enorme concentr áreas já mencionadas: Pinheiros e Itaim. Este fato reve

35.097 27.307

dividida entre os espaços produtivos e as áreas residen

31.202

tem-se uma enorme concentração de empregos do seto

31.202

23.412 27.307

23.412 19.517 19.517

15.622 15.622

11.727 11.727 7.832

7.832 3.937

42 3.937

42

concentração de habitação de

concentração habitação de alto padrão. O de mapa é importante

para mo

Mapa Mapa para damostrar que estes espaços, O mapa é8importante empregos do setor produtivo) concentração dos empregos do setor produtivo) e consumo (ocupação res riqueza, aparecem empregos formais. riqueza, aparecem juntos se considera ajuntos totalidadese da c c confundem. Há 2004. uma disputa entre ambos pela localizaç Fonte: RAIS, confundem. Há uma disputa e

infra-estrutura, equipamentos e serviços disponíveis na

infra-estrutura, equipamentos uso produtivo avança e o residencial só existe em funçã

outras, o uso industrial está se enfraquecendo e a tendê

uso produtivo avança e o resi

empreendimentos residenciais.

outras, o uso industrial está se

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego. Relação Anual de Informações Sociais - Rais. Nota: Realizado com Philcarto - http://perso.club-internet.fr/philgeo.

empreendimentos residenciai0


Distribuição Distribuição dede Domicílios, Domicílios, segundo segundo Faixa Faixa dede Renda Renda Município Município dede São São Paulo Paulo 2000 2000

Domicílios Domicílios com com renda renda domiciliar domiciliar de de atéaté 3 salários 3 salários mínimos mínimos

Domicílios Domicílios com com renda renda domiciliar domiciliar de de 20 20 ou mais ou mais salários salários mínimos mínimos

Distritos Distritos

EmEm % da % da Área Área de de Ponderação Ponderação - AEDS - AEDS AtéAté 10,00 10,00 De De 10,01 10,01 a 20,00 a 20,00 De De 20,01 20,01 a 30,00 a 30,00 De De 30,01 30,01 a 45,00 a 45,00 De De 45,01 45,01 a mais a mais 0

0

6

6

12

12

18

18

N

N

Quilômetros Quilômetros

Fonte: Fonte: IBGE.IBGE. Censo Censo Demográfico Demográfico 2000.2000. Projeção Projeção Estatística Estatística da Amostra. da Amostra. Elaboração: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano – SMDU / Elaboração: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano – SMDU / Departamento de Produção e Análise de Informação – DEINFO. Departamento de Produção e Análise de Informação – DEINFO. As porcentagens indicam a relação domicílios de determinada Nota:Nota: As porcentagens indicam a relação entreentre domicílios de determinada de renda e o número total de domicílios permanentes, ambas as variáveis faixa faixa de renda e o número total de domicílios permanentes, ambas as variáveis referentes a cada uma456 dasÁreas 456 Áreas de Ponderação referentes a cada uma das de Ponderação da Amostra da Amostra do Censo do Censo IBGE/2000 definidas para o Município dePaulo. São Paulo. IBGE/2000 definidas para o Município de São

Mapa 9 Mapa de domicílios segundo a faixa de renda. Fonte: PMSP, 2000.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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trabalho final de graduação . 2021

Por fim, os últimos mapas demonstram o grande contraste entre as regiões. Onde a maior parte da população de baixa renda, que recebe abaixo de 3 salários-mínimos se localiza nas periferias, enquanto uma pequena porção da classe média e alta, que recebe mais de 20 salários mínimos, estão concentradas nas regiões centrais. De acordo com a afirmação do PAD (2020), a pandemia do Covid-19 escancarou as desigualdades que já eram presentes no país. Como desdobramentos do efeito da pandemia cresce o número da população sem renda e que tiveram suas pequenas empresas fechadas. Ainda segundo o PAD (2020): “As Nações Unidas alertaram (em julho de 2020) que o Brasil deve terminar 2020 com 9,5% de sua população na condição de extrema pobreza, aumentando drasticamente as previsões de taxa de 6% em 2019. A entidade estima que a pobreza também aumentará, passando para 26,5% da população”.

(PAD, 2020, p. 7) Assim, o modelo de desigualdade e segregação acompanha a história da criação das cidades desde o início, gerando um território centralizado e segregado. O contexto da cidade de São Paulo apresenta então esses contrastes, uma alta concentração de renda para poucos, e um déficit habitacional para muitos.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis



trabalho final de graduação . 2021

3.2 AS ÁREAS DE VULNERABILIDADE SOCIAL

Apresentado um breve contexto histórico sobre como se formou o conceito de segregação que vivemos hoje e, consequentemente, as áreas de vulnerabilidade, é possível adentrar no território e notar as características dessas áreas. De acordo com o mapa 13, é possível perceber a distribuição das favelas no município de São Paulo, e nota-se uma evidente concentração desses assentamentos em regiões mais periféricas, resultado da contínua segregação e desigualdade social. De acordo com Jaquier apud Caldana (2018): “O que se fez nos últimos anos foi o investimento em uma única solução: comprar terra barata, longe do centro da cidade, para fazer casas baratas e vende-las de maneira subsidiada para a população que não tem acesso a moradia.”

(JAQUIER, 2018, p. 25 apud CALDANA, 2018) Assim, a solução do governo é mover a população às áreas periféricas, concentrando-a nas regiões mais distantes do centro da cidade, o que iniciou o processo de formação das favelas.

78

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Distribuição das Favelas Município de São Paulo 2017

PERUS

JACANA TREMEMBE

FREGUESIA BRASILANDIA PIRITUBA JARAGUA

SANTANA TUCURUVI SAO MIGUEL CASA VERDE CACHOEIRINHA

ITAIM PAULISTA

VILA MARIA VILA GUILHERME PENHA

LAPA SE

ERMELINO MATARAZZO

MOOCA

GUAIANASES ARICANDUVA FORMOSA CARRAO

PINHEIROS BUTANTA

ITAQUERA CIDADE

VILA PRUDENTE

TIRADENTES

SAPOPEMBA

VILA MARIANA

SAO MATEUS IPIRANGA

CAMPO LIMPO SANTO AMARO

CIDADE ADEMAR

M’BOI MIRIM

CAPELA DO SOCORRO

Favelas Distrito Prefeituras Regionais

PARELHEIROS

Mapa 13 Distribuição das favelas no município de São Paulo. Fonte: PMSP, 2017.

0

5

10

Quilômetros

15

>

Fonte: Secretaria Municipal de Habitação Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento - SMUL Coordenadoria de Produção e Análise de Informação – Geoinfo .

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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trabalho final de graduação . 2021

População Moradora em Distritos do Município de Sã 1991 e 2000 Habitantes em Favelas

1991

2000

Distritos Número de habitantes Sem favelas De 1 a 4.000 De 4.001 a 12.000 De 12.001 a 25.000 De 25.001 a 40.000 40.001 e mais

Mapa 14 Habitantes em favelas, em número de habitantes. Fonte: SEHAB/HABI e IBGE Censos de 1991 e 2000.

80

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


MUNICÍPIO

PAS EM MA MÁTICA SÉRIE TE

ação Moradora em Favelas tos do Município de São Paulo 1991 e 2000

DINÂMICA

URBANA

Proporção de Habitantes em Favelas 1991

2000

Distritos Em % Sem favelas De 0,01 a 5,00 De 5,01 a 10,00 De 10,01 a 20,00 De 20,01 a 30,00 30,01 e mais

Mapa 15 Proporção de habitantes em favelas, em porcentagem. Fonte: SEHAB/HABI e IBGE Censos de 1991 e 2000.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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De acordo com as definições do HabitaSampa (s.d.), há 4 categorias de habitação que categorizam esse alto déficit habitacional: as favelas, os núcleos urbanizados, os loteamentos irregulares e os cortiços. Essas categorias fazem parte do grupo nomeado como aglomerações subnormais, nome dado pelo IBGE para fins de identificação e conhecimento das condições da população brasileira. As favelas são caracterizadas por seus assentamentos precários, fruto das ocupações espontâneas de maneira não ordenada, sem um planejamento prévio de definição de lotes, arruamento, áreas públicas ou particulares e sem infraestrutura suficiente. Há predominância de moradias autoconstruídas e elevado grau de precariedade, constituindo-se de famílias de baixa renda em situação vulnerável. Atualmente, estima-se pela Secretaria cerca de 391.500 domicílios em favelas em São Paulo. (HABITASAMPA, s.d.) Os núcleos urbanizados são favelas, mas dotadas de infraestrutura de água, esgoto, iluminação, drenagem e coleta de lixo. Entretanto, não são regularizadas legalmente ainda. A Secretaria estima cerca de 60.800 famílias morando em núcleos em São Paulo. (HABITASAMPA, s.d.) Os loteamentos irregulares são caracterizados por assentamentos ocupados a partir da iniciativa de um agente promotor ou comercializador, sem a devida aprovação de órgãos públicos previamente. Ou quando aprovados, ou em processo de aprovação, são implantados desacordando-se com a legislação e projeto aprovado. São estimados pela Secretaria 389.100 loteamentos irregulares em São Paulo. (HABITASAMPA, s.d.)

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


“Do ponto de vista das condições urbanas, os loteamentos irregulares ocupados majoritariamente por população de baixa renda sofrem com algum tipo de desconformidade, como a largura das ruas, tamanho mínimo dos lotes, largura de calçadas e implantação de infraestrutura urbana, que configuram uma paisagem árida em que predomina o espaço construído, com alta densidade construtiva, carente de arborização e de espaços livres e de uso comum.”

(HABITASAMPA, s.d.) Por fim, os cortiços são caracterizados por assentamentos irregulares, como habitações coletivas de aluguel. Muitas vezes apresentam alta densidade de ocupação, circulação e infraestrutura precária, compartilham instalações sanitárias entre diversos cômodos, acesso e uso comum dos espaços não edificados e valores de aluguel muito altos. A grande maioria da concentração desse tipo de moradia se dá nas áreas centrais do município. A Secretaria ainda estima cerca de 1.400 cortiços cadastrados, apenas nas subprefeituras da Mooca e Sé. (HABITASAMPA) O gráfico a seguir (gráfico 4) ilustra a quantidade de cada categoria cadastrada pela prefeitura.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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1.732

favelas

435

núcleos urbanizados

2.000

loteamentos irregulares

1.479

cortiços

0

500

1000

1500

2000

Gráfico 4 Número de cadastros de cada categoria dos aglomerados subnormais. Fonte: Habitasampa, 2016. Elaboração de autoria própria.

De acordo com um levantamento da Fundação João Pinheiro (2015), foram registradas 6,3 milhões de famílias em déficit, ao passo que 7,9 milhões de imóveis permanecem vazios. Como afirmou o geógrafo inglês David Harvey, durante sua passagem pelo Brasil em 2018: “A cidade virou o território da acumulação dos lucros. Os prédios são andares, mas poderiam ser moedas empilhadas. O direito de uma cidade construída para se morar, com a habitação decente, com um meio ambiente preservado, com a qualidade de vida, nunca poderá ser feito por ações relacionadas ao mercado”

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Juntamente ao dado do alto déficit habitacional na cidade de São Paulo, encontra-se o dado de que há 1.098 imóveis vazios, a grande maioria localizados no centro da cidade. De acordo com Jaquier (2018): “Logo, tais locais se tornam alvo de ocupações para famílias de baixa renda quando não há uma relação entre a política urbana e a política habitacional de uma cidade, e não apenas por que elas necessitam de um teto, mas também para ter acesso às oportunidades e serviços da cidade (fator também visto no aparecimento de algumas favelas e núcleos)”.

(JAQUIER, 2018, p. 26) A partir de dados apresentados pela Fundação João Pinheiro (2018), destaca-se a grande quantidade de domicílios vagos. O que coloca em evidência a contradição entre o alto número do déficit habitacional e o grande números de imóveis ociosos na cidade de São Paulo. “Já no Estado de São Paulo totalizam-se 1.414.083 domicílios vagos, sendo 1.336.162 em área urbana. Destes, 595.691 domicílios localizam-se somente na RMSP, correspondendo a 44,58%”

(GIANNELLA, 2020, p. 59 apud FJP, 2018) Assim, nota-se um desequilíbrio do uso do solo, e consequentemente do desenvolvimento urbano. É bastante comum em cidades de países em desenvolvimento que as regiões Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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trabalho final de graduação . 2021

periféricas apresentem alta densidade e carência de infraestrutura urbana, enquanto as áreas centrais apresentam baixa densidade e dotadas de infraestrutura. (GIANNELLA, 2020 apud LEITE, 2018) Bernardo, Bertolotto e Dias (2020) afirmam: “Eu penso direito à cidade como uma cidade construída para se morar, com meio ambiente preservado e qualidade de vida. Isso nunca poderá ser feito por ações relacionadas ao mercado.”

Conclui-se que, como consequência de uma devasta segregação, hoje milhões de pessoas sofrem esses impactos. Para haver um devido direito à cidade de todos os moradores, é necessária uma democratização do espaço, onde as periferias são incluídas nos projetos urbanos.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis



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3.2.1 O IPIRANGA

Em um estudo geral, o distrito do Ipiranga se localiza dentro da Macrorregião Sul 1, juntamente com os distritos de Vila Mariana e Jabaquara. Como característica geral, a macrorregião é uma das mais valorizadas da cidade, possuindo grande diversificação de atividades, concentração de investimentos ao setor terciário, além de equipamentos públicos de esporte, lazer e saúde, e infraestrutura de transporte público. Apesar disso, apresenta um forte contraste, que são os assentamentos habitacionais que apresentam situações de vulnerabilidade social e ambiental, localizados em áreas frágeis da região. (PMSP, 2016) A Macrorregião Sul 1 possui 100% de taxa de urbanização. Em relação aos indicadores sociais, possui uma taxa de Índice de Desenvolvimento Humano igual ou superior ao índice do município (0,8). Em questão do Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS), têm destaque a subprefeitura do Jabaquara e Ipiranga (9,7% e 10,7%), superior à da macrorregião (7,1%). Por esse motivo, possui ocorrência significativa de assentamentos precários, apresentando 11,9% em percentual de domicílios em favelas, índice superior ao apurado no MSP (10,8%). (PMSP, 2016) Desta forma, a região em que o Ipiranga está inserido é bastante privilegiada em questão de urbanização, porém, ainda conta com uma significativa presença de vulnerabilidade. No mapa 13, vemos a evolução da mancha urbana da região, desde 1914 e chegando ao que está estabelecido hoje em dia. 88

Figura 13 (à direita) Situação do distrito do Ipiranga dentro da Macrorregião Sul 1 e do município de São Paulo. Base: Google Earth. Elaboração de autoria própria.

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis



trabalho final de graduação . 2021

Partindo de um contexto geral sobre as desigualdades e a segregação que acompanham a cidade de São Paulo, e uma breve situação da inserção urbana, é possível adentrar no território de estudo e notar as consequências da cidade polarizada em bairros periféricos. Dando início por uma base geral, entramos no estudo do distrito do Ipiranga (onde está localizado Heliópolis). No mapa 14 (à direita), é possível notar as áreas de vulnerabilidade social. Admite-se que há uma maior concentração desses assentamentos nas porções sul e central do distrito, os locais mais afastados do centro da cidade. 1914 1914

1929 1929

1949 1949

1962 1962

1980 1980

2002 2002

Mapa 13 Evolução da mancha urbana da Macrorregião Sul 1. Fonte: PMSP, com base no mapa da EMPLASA (2002). Editado pela autora. Evolução da Mancha Urbana. Fonte: Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (EMPLASA, 2002) Evolução da Mancha Urbana. Fonte: Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (EMPLASA, 2002)

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Mapa 14 Localização dos territórios de vulnerabilidade no distrito do Ipiranga. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria.

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2000 1000

8000 4000

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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Logo abaixo, são apresentados alguns dados do Censo de 2010 analisando o distrito do Ipiranga, em especial as áreas de aglomerados subnormais. A partir desta análise, é possível listar e notar as condições que a população está sujeita, por exemplo falta de emprego, salários baixos e alta densidade dentro das moradias (que frequentemente são áreas muito pequenas).

8 cômodos 725 domicílios 7 cômodos 661 domicílios

1 cômodo 41 domicílios

6 cômodos 1.545 domicílios

2 cômodos 2.086 domicílios

5 cômodos 3.246 domicílios

3 cômodos 4.273 domicílios

4 cômodos 3.231 domicílios

Gráfico 5 Domicílios particulares permanentes pela quantidade de cômodos. Dados: IBGE, Censo de 2010. Elaboração de autoria própria.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Gráfico 6 Domicílios particulares permanentes 3 cômodos 1.344 domicílios pela quantidade de dormitórios. Dados: IBGE, Censo de 2010. Elaboração de autoria própria.

4 cômodos 327 domicílios

1 dormitório 8.430 domicílios

2 cômodos 5.707 domicílios

até 1 s.m. 6.703

sem rendimento 15.790

1 a 2 s.m. 16.887

mais de 20 s.m. 15 10 a 20 s.m. 271 3 a 5 s.m. 399

2 a 3 s.m. 2.834

Gráfico 7 Rendimento mensal da população, em salários mínimos (s.m.). Dados: IBGE, Censo de 2010. Elaboração da autoria própria.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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trabalho final de graduação . 2021

A partir da pesquisa realizada pelo IBGE para o Censo de 2010 no município do Ipiranga apresentada e ilustrada pelos gráficos anteriores, é possível perceber que, cerca de 53 mil habitantes residem em áreas de aglomerados subnormais. Dessas 53 mil pessoas, cerca de 15.800 possuem domicílio particulares permanentes, que variam entre 3, 4 e 5 cômodos, e 1 ou 2 dormitórios. Ainda sobre a pesquisa, a grande maioria da população residente em áreas de aglomerados subnormais no Ipiranga possui renda mensal de até 2 salários-mínimos (16.600 pessoas). O segundo maior dado da tabela é a renda de até 1 salário-mínimo (6.000 pessoas). Assim, é evidente a situação e condição que essa população vive, e conclui-se que, como consequência da segregação que existe em São Paulo, os bairros periféricos são o que mais sofrem os impactos. São milhares de pessoas vivendo em condições insalubres (habitações pequenas) e sem uma condição digna de empregos (salários baixos). O distrito do Ipiranga está localizado em uma região privilegiada, em comparação com os demais distritos. O raio de distância entre a área de estudo e o centro da cidade é de aproximadamente 15 km, como vemos no mapa ao lado. Por fim, percebe-se que a desigualdade e segregação social que vem acompanhando o município ocasionam regiões insalubres para a vida cotidiana, o que pode ser percebido pelo alto número de favelas e assentamentos irregulares. Como por exemplo uma das maiores favelas de São Paulo, o Heliópolis, área de grande vulnerabilidade e objeto de estudo da pesquisa.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


m cia 5 k tân e 1 dis a d ad

xim ro ap

Figura 14 Distância do Distrito do Ipiranga até o centro de São Paulo. Base: Google Earth. Elaboração de autoria própria.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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3.2 SITUAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DE HELIÓPOLIS Localizado entre dois subdistritos, do Sacomã e do Ipiranga, na zona Sul de São Paulo, Heliópolis não possui sua própria subprefeitura e está à mercê da gestão da subprefeitura do Ipiranga, que muitas vezes não confere visibilidade adequada à região. O território pertencente ao Heliópolis possui atualmente cerca de 1 milhão de metros quadrados. Segundo dados da Prefeitura Regional do Ipiranga (2017), a comunidade do Heliópolis possui 180 mil habitantes (o que equivale a 39% da população do território da PR-IP), 18 mil imóveis e 3 mil estabelecimentos comerciais. Figura 15 (à esquerda) Situação de Heliópolis em relação ao distrito do Ipiranga. Elaboração de autoria própria.

Figura 16 (à direita) Situação de Heliópolis em relação ao município de São Paulo. Elaboração de autoria própria.

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são cae

tano do

sul

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Mapa 15 Principais vias e eixos estruturadores do território. Elaboração de autoria própria.

2000

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De acordo com o mapa 15 (à esquerda), é possível perceber as principais vias, que se tornam os grandes eixos estruturadores da região, e palco de onde tudo acontece. Contemplada entre a Avenida Almirante Delamare e Estrada das Lágrimas, Heliópolis faz divisa com São Caetano do Sul pela Av. Guido Aliberti e a Estrada das Lágrimas, além da presença do Rio Ribeirão dos Meninos. Segundo dados do IBGE, são 125 mil habitantes, sendo 92% da população de origem nordestina, com 53% na faixa etária de 0 a 25 anos. Segundo dados da Prefeitura da cidade de São Paulo, Heliópolis possui hoje 18.080 imóveis (a maior parte dos barracos se transformaram em construções de alvenaria), 75% do bairro já tem infraestrutura urbana. (UNAS, 2020) A região caracteriza-se principalmente pelos comércios locais e atividades que ocorrem ali, além das ações comunitárias que lutam em prol do bem da comunidade, que é um dos grandes fortes de Heliópolis. “Foi o percurso histórico de luta pela permanência na área e por melhores condições de vida aos moradores, que lapidou a organização dessa comunidade, onde existem atualmente, 34 associações comunitárias. Heliópolis é considerada a favela mais organizada em relação à luta por melhores condições e nas questões sociais”.

(GETLINGER, 2013, p. 189)

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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trabalho final de graduação . 2021

3.3 A FORMAÇÃO DE UM BAIRRO

Até 1942, o território correspondente à atual comunidade do Heliópolis (gleba de aproximadamente 3 milhões de metros quadrados) era de posse da família Penteado, onde construíram 36 casas em lotes de áreas variadas, formando o conjunto Residencial Vila Heliópolis. Estas residências foram construídas próximas ao tecido da cidade, ao passo que o restante da gleba era destinado à uma grande fazenda frutífera. No ano de 1942, o território foi adquirido pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários – IAPI, liderado por Conde Sílvio Álvares Penteado e outros, a fim de construir habitação para seus associados. Porém, de acordo com Moreira [2017 apud Amaral 1991, p. 31], o Instituto nunca chegou a construí-las de fato. Em 1966, o decreto de lei nº72 unificou diversos Institutos do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), incluindo a gleba, que passou para a posse do Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS). A partir de então, o IAPAS parcelou o território em diversas glebas menores, e vendeu aproximadamente 425 mil metros quadrados para a Petrobrás, em 1967, e 540 mil metros quadrados para a SABESP, em 1968. (MOREIRA, 2017) Poucos anos mais tarde, em 1969, o IAPAS foi responsável pela construção do Hospital Heliópolis e o Posto de Assistência Médica – PAM. Entretanto, não construiu as unidades habitacionais que havia planejado, deixando boa parte do terreno ociosa. É neste contexto, entre 1971 e 1972, sob comando do prefeito 100

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Figura 15 Território de Heliópolis em 1940, ainda como posse da famíia Penteado. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria.

Figura 16 Território de Heliópolis em 1954, após ser adquirido pelo IAPI. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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José Carlos Figueiredo Ferraz, que a Secretaria do Bem Estar Social da Prefeitura Municipal de São Paulo (SEBES) desapropriou a favelas de Vila Prudente, transferindo 153 famílias para Vilas de Habitação Provisória (VHP), construídas em Heliópolis. Anos mais tarde, novos alojamentos foram construídos para abrigar as 60 famílias desalojadas da favela Vergueiro. (MOREIRA, 2017) A partir da instalação desses alojamentos provisórios, surgem autoconstruções nas suas proximidades, de novos moradores, inclusive de famílias de operários que trabalhavam nas obras do Hospital Heliópolis e PAM. Essas ocupações formaram o primeiro núcleo da gleba que posteriormente passou a se chamar Heliópolis. (MOREIRA, 2017) “Outro fator fundamental para a densa ocupação de Heliópolis foi sua localização. Desde as primeiras ocupações, Heliópolis já estava em um contexto urbano privilegiado, relativamente próxima ao centro da cidade (aproximadamente 8km), a duas estações ferroviárias, a um eixo industrial importante no país e com boa rede de infraestrutura e serviços diversificados no entorno”.

(MOREIRA apud AMARAL, 1991, p.34) Essa nova forma de ocupação espontânea despertou uma nova: a grilagem. Ao final dos anos 70, segundo Amaral (1991, p.32), os grileiros passaram a disputar terras, violentamente, com os novos ocupantes que chegavam, demarcando e vendendo lotes, e fazendo um controle da ocupação dentro de Heliópolis. Assim como cita Moreira [2017, p. 37 apud Amaral, 1991], o clima 102

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Figura 17 Território de Heliópolis em 1973, após divisão das glebas e em processo de ocupação. Fonte: IGC. Elaboração de autoria própria.

Figura 18 Território de Heliópolis em 1977, período de luta dos grileiros pela disputa de terra. Fonte: IGC. Elaboração de autoria própria.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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era de violência entre as famílias que ocupavam e os grileiros, de modo que “quando o IAPAS se deu conta, a ocupação da gleba já era uma realidade, ou seja, o grande responsável pela criação e desenvolvimento da favela Heliópolis foi o poder público, que deixou a propriedade abandonada para alojamentos provisórios que ao longo do tempo foram se tornando permanentes”. Nesse mesmo período no final dos anos 70, o IAPAS decide sobre ações de reintegração de posse contra os grileiros e demais ocupantes. Tais ações implicaram na organização dos moradores na luta por resistir a elas e exigir a instalação de serviços de água e luz, até então incipientes. Partindo de uma intensa reivindicação popular dos moradores, em 1984 foi atingido uma articulação entre a prefeitura de São Paulo, o IAPAS e a BNH, promovendo a transferência da gleba de Heliópolis para o BNH, que então foi comprada pela a Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB), possibilitando a construção de moradias para a população de baixa renda. Desta maneira, a COHAB segregou a área total em glebas, as nomeando de forma genérica, de ‘A’ até ‘N’. A população, por sua vez, identifica cada parte do território por suas características locais. A transferência do território para a gestão da COHAB atraiu novos moradores. Assim, em 1991, Heliópolis já era uma das maiores favelas da cidade, abrigando cerca de 40mil pessoas em quase 10 mil domicílios (MOREIRA, 2017) De acordo com os dados do censo de 2010, Heliópolis tinha 65mil pessoas vivendo em cerca de 19 mil domicílios, dos quais, segundo dados da COHAB e SEHAB, mais de 7 mil (correspondente à quase 40%) foram construídos e promovidos pelo Estado. Em 2006 a comunidade ganhou estatuto de bairro, e então foi 104

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 19 Território de Heliópolis em 1986, logo após a posse pela COHAB. Fonte: IGC. Elaboração de autoria própria.

Figura 20 Território de Heliópolis dividido em glebas. Fonte: IGC. Elaboração de autoria própria.

Figura 21 Território de Heliópolis em 2000, já adensada com os novos moradores. Fonte: IGC. Elaboração de autoria própria.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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Figura 22 Território do Heliópolis atualmente Fonte: Google Earth, 2021. Elaboração de autoria própria.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


renomeada para Cidade Nova Heliópolis. Desta forma, Heliópolis deixou de ser a maior favela, e passou a ser considerada uma região devidamente urbanizada, quase como uma cidade dentro da metrópole de São Paulo, possuindo uma organização que muitas cidades não têm. (GETLINGER, 2013, p.189) “[...] A ocupação em Heliópolis foi marcada por duas características: uma intensa luta de seus moradores, seja contra o Estado ou contra os grileiros, para permanecer no local; e uma forte relação com o Estado que, se num primeiro momento reservou a terra e foi conivente com a ocupação irregular dos grileiros e das famílias de baixa renda, em outro, passou a ser um importante agente promotor da ocupação”

(MOREIRA, 2017, p.39) Segundo da Luz (2010 apud Sampaio 1991, p. 42), um outro fator que contribuiu para esse rápido adensamento é o fato da favela de Heliópolis estar localizada “próxima a uma área industrial, da via Anchieta e da Juntas Provisórias, bem como distante apenas 8 km do centro da cidade” “Heliópolis é considerada a favela mais organizada em relação à luta por melhores condições de vida e nas questões sociais. [...] Contém inúmeras ONGs, diversas práticas criativas e micro empreendimentos”.

(GETLINGER, 2013, p. 189) Segundo Sampaio (1991), “um improviso da prefeitura que resultou em uma favela gigantesca.” Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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3.4 INSERÇÃO URBANA

O presente capítulo visa analisar a situação de Heliópolis inserido em sua base urbana, levando em conta uma análise sócio territorial, urbana e de infraestrutura da região. O mapa 16 mostra inicialmente a divisão do zoneamento da região, apresentando predominância de zonas mistas e de estruturação urbana. No entorno imediato de Heliópolis há uma grande predominância de ZPI (Zona Predominantemente Industrial) e de interesse social.

Mapa 16 Zoneamento da área. Fonte: PMSP, 2004.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


A partir do mapa de uso e ocupação do solo (mapa 17), é perceptível a predominância de áreas industriais, com uma significativa presença de armazéns, galpões e estabelecimentos de uso misto, além da grande área dedicada à habitações. Em relação aos transportes, o mapa 18 ilustra um acesso expressivo ao transporte público e mobilidade urbana em Heliópolis. É possível observar em seu entorno duas estações de trem (São Caetano e Tamanduateí), duas estações de metrô (Sacomã e Tamanduateí), o Terminal Sacomã (com linhas municipais e intermunicipais) e o Expresso Tiradentes, conectando a região ao terminal Parque Dom Pedro II. As principais vias em Heliópolis são a Estrada das Lágrimas, a Rua Cônego Xavier e a Av. Almirante Delamare. São por essas vias que passam os transportes públicos, tendo em vista que não existe a possibilidade de passar dentro da favela pois as ruas são estreitas, com carros frequentemente estacionados na calçada.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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Mapa 17 Uso e ocupação do solo. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria.

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Mapa 18 Mapa de mobilidade. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria.

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Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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No mapa 19 é possível ver o mapeamento das áreas verdes na região e suas proximidades, levando a conclusão de que não há oferta desses espaços à população. O parque mais próximo da favela é o Parque da Independência, mas só se conecta a ela por meio do transporte público. Também é possível notar a presença de três grandes áreas de massas de vegetação no território de Heliópolis, que são o AME Heliópolis, o PAM, a região da Petrobras e a área da Sabesp. Desta forma, conclui-se que não há espaços públicos de áreas verdes para uso da população. A partir do mapa de equipamentos de saúde (mapa 20), percebese uma distribuição não homogênea no território. Entretanto, em Heliópolis vemos a presença de ambulatórios especializados, hospital, emergência, diagnóstico e saúde mental, em uma parcela bem distribuída no perímetro. Os equipamentos de educação são bem distribuídos e atendem toda à comunidade, como ilustra o mapa 21, podendo citar que Heliópolis está inserido em uma rede educacional consolidada. Há diversas redes de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio. No entanto, percebe-se uma falta de Ensinos Técnicos (localizado apenas na porção sul da região), Centro de Educação Unificado (são mapeados o CEU Heliópolis e o CEU Meninos, ambos localizados na porção sul, quase fronteira de Heliópolis) e redes de Ensino de Jovens e Adultos (EJA).

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Mapa 19 Mapa de áreas verdes. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria.

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Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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Mapa 20 Mapeamento da rede de saúde. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria.

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Mapa 21 Mapeamento da rede de educação. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria.

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No mapa de cultura (mapa 22), é possível perceber a falta desses equipamentos, tanto dentro de Heliópolis, como em seu entorno. Vemos o mapeamento de apenas um equipamento cultural, que se localiza na porção sudoeste da região. Outros equipamentos próximos são bibliotecas e teatros/cinemas/shows Ao observar o mapa de equipamentos esportivos (mapa 23), vemos uma grande concentração de clubes de comunidades, ocorrendo mais ao entorno de Heliópolis. A presença dos campos comunitários está diretamente relacionada ao escape laboral. Por não existirem muitos equipamentos de lazer, a comunidade se volta para a prática de esportes, por ser uma alternativa mais acessível para os moradores dessa área vulnerável. A partir da análise dos mapas anteriores, é possível perceber que a inserção urbana de Heliópolis se dá de maneira privilegiada, em comparação com as demais favelas da cidade. É atendido por trens, metrôs, ônibus, possui uma densa rede de educação e é dotado de equipamentos culturais e esportivos, mesmo que minimamente. Como já comentado, a implantação de infraestrutura básica no Heliópolis foi fruto de muita luta e resistência dos habitantes. Entretanto, ainda hoje não foi alcançado o acesso universal à rede de esgoto. (MOREIRA, 2017)

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Mapa 22 Mapeamento dos equipamentos culturais. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria.

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Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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Mapa 23 Mapeamento dos equipamentos esportivos. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria.

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Os mapas a seguir levam em conta a questão da infraestrutura urbana, com base nos dados dos Censos de 1991, 2000 e 2010, e do Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (Fundação SEADE), a fim de oferecer uma análise comparativa ao longo dessas décadas e notar a evolução do território. Os mapas 24, 25 e 26 apresentam a densidade habitacional de Heliópolis. É possível perceber um crescente adensamento na porção norte, das glebas F e N, entre os anos de 2000 e 2010. Em contradição, o entorno de Heliópolis vem sofrendo com o processo de desadensamento. mais de 1.200 hab

de 600 à 1.200

de 300 à 600

1991

1000 0

2000

4000 2000

de 75 à 300

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2010

4000 2000

até 75

1000 0

4000 2000

Mapa 24 Mapa densidade Mapa 25 Mapa densidade Mapa 26 Mapa densidade em 1991. Fonte: IBGE Censo em 2000. Fonte: IBGE Censo em 2010. Fonte: IBGE Censo de 1991. Elaboração de autoria de 2000. Elaboração de autoria de 2010. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de própria. Baseado nos mapas de própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017, p. 52. MOREIRA, 2017, p. 52. MOREIRA, 2017, p. 53.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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Os mapas 27, 28 e 29 apresentam o abastecimento da rede de água, que demonstra o grande avanço ao longo dos anos.

mais de 95%

de 90% a 95%

de 80% a 90%

1991

1000 0

Mapa 27 Mapa abastecimento de água (em %). Fonte: IBGE Censo de 1991. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017, p. 54.

120

até 50%

2000

4000 2000

de 50% a 80%

1000 0

2010

4000 2000

Mapa 28 Mapa dabastecimento de água (em %). Fonte: IBGE Censo de 2000. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017, p. 54.

1000 0

4000 2000

Mapa 29 Mapa abastecimento de água (em %). Fonte: IBGE Censo de 2010. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017, p. 55.

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Os mapas 30, 31 e 32 apresentam o abastecimento da coleta de lixo na região, em porcentagem. Assim, ambos os fatores, tanto a rede de água quando a coleta estão presentes quase integralmente pelo território.

mais de 90%

de 80% a 90%

1991

1000 0

até 70%

2000

4000 2000

de 70% a 80%

1000 0

2010

4000 2000

1000 0

4000 2000

Mapa 30 Mapa coleta de lixo Mapa 31 Mapa coleta de lixo Mapa 32 Mapa coleta de lixo (em %). Fonte: IBGE Censo de (em %). Fonte: IBGE Censo de (em %). Fonte: IBGE Censo de 1991. Elaboração de autoria 2000. Elaboração de autoria 2010. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de própria. Baseado nos mapas de própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017, p. 58. MOREIRA, 2017, p. 58. MOREIRA, 2017, p. 59.

Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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trabalho final de graduação . 2021

Os mapas 33, 34 e 35 mostram o abastecimento da rede de esgoto na região. Apesar de apresentar uma significativa melhora ao longo dos anos, ainda está abaixo da média do seu entorno. mais de 90%

de 70% a 90%

de 40% a 70%

1991

1000 0

Mapa 33 Mapa rede de esgoto (em %). Fonte: IBGE Censo de 1991. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017, p. 56.

1000 0

2010

4000 2000

Mapa 34 Mapa rede de esgoto (em %). Fonte: IBGE Censo de 2000. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017, p. 56.

1000 0

4000 2000

Mapa 35 Mapa rede de esgoto (em %). Fonte: IBGE Censo de 2010. Elaboração de autoria própria. Baseado nos mapas de MOREIRA, 2017, p. 57.

O mapa de IPVS (Índice Paulista de Vulnerabilidade Social) de 2010, ilustrado no mapa 36, indica a espacialidade das áreas de maior vulnerabilidade social, além da desigualdade que existe no Estado de São Paulo. A partir do mapa, é possível perceber grande diversidade se situações, áreas entre os grupos 3 e 6 (vulnerabilidade baixa e 122

até 10%

2000

4000 2000

de 10% a 40%

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


muito alta), sendo a maior parte do território com a concentração de grupos 4 e 5 (vulnerabilidade média e alta).

muito alta - grupo 6 alta - grupo 5

Mapa 36 Índice Paulista de Vulnerabilidade Social. Fonte: SEADE, 2010.

média - grupo 4 baixa - grupo 3 muito baixa - grupo 2 baixíssima - grupo 1 sem informação

Baseando-se nos mapas de infraestrutura, podemos perceber que a área é bem atendida, em questão de abastecimento de água, rede de coleta de lixo e rede de esgoto, apesar de não ser um acesso universal no território ainda. Entretanto, os altos índices de vulnerabilidade indicados pelo último mapa ainda nos mostram o real problema em Heliópolis: suas áreas vulneráveis e a falta dos espaços públicos, verdes e de lazer. Tais pontos serão vistos mais aprofundados no próximo capítulo. Distritos Apesar disso, num panorama geral, a área possui grandes privilégios se comparada com as demais áreas vulneráveis que estão presentes no município de São Paulo. Considerações sobre a vulnerabilidade em Heliópolis

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Grupos de Vulne


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heliópolis

e a pandemia


4 HELIÓPOLIS E A PANDEMIA

Analisado todo contexto urbano e histórico da região, vê-se essencial uma análise territorial do panorama atual de Heliópolis. Veremos neste capítulo que o Heliópolis é constituído de sua comunidade, seus habitantes, suas entidades e suas ações comunitárias, além do seu atual contexto no período da pandemia.

Heliópolis e a pandemia

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trabalho final de graduação . 2021

4.1 AS AÇÕES SOCIAIS E O USO DO ESPAÇO EM HELIÓPOLIS Como já vimos, Heliópolis foi constituído a partir de suas lutas históricas em busca de direitos e posse de terra. Dessa forma, o território se tornou solidário e reconhecido por sua organização e ações sociais que ali ocorrem, como ilustra o mapa a seguir. Uma das entidades que promovem ações sociais e participativas em Heliópolis é a UNAS (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região). A UNAS é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 1978, que tem por objetivo lutar pelo direito à moradia e posse de terra de seus moradores (UNAS, 2020) De acordo com a definição do trabalho pela própria instituição: “[...] Buscamos parcerias com o poder público, a iniciativa privada e organizações sociais, garantindo o suporte à Implementação de projetos, programas e serviços de forma abrangente nas áreas de educação, cultura, assistência social, esporte, juventude, empreendedorismo, direitos humanos e movimentos de base”.

(UNAS, 2020) Atuando no território há mais de 40 anos, o UNAS impacta cerca de 10 mil pessoas por mês, através de 52 projetos sociais. (UNAS) Soares (2010) cita que, devido às articulações de lideranças, grande parte dos moradores está presente e participam 126

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


sul tano do são cae Mapa 37 Agentes mapeados no território. Elaboração de autoria própria.

1000 0

4000 2000

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ativamente das ações que são propostas pela UNAS. Desta forma, é possível refletir sobre uma apropriação do espaço público pela comunidade, por meio da entidade. É justamente no espaço público que as lideranças, conjuntamente dos moradores, planejam esses espaços, incluindo práticas de diferentes grupos sociais, baseadas na realidade e necessidade da comunidade, o que reflete uma construção social de formato participativo na paisagem. O que ocorre é uma grande participação dos moradores em conjunto às ações do UNAS, criando um ambiente de organização e luta pelo bem da comunidade. “São atores sociais que constroem a paisagem de Heliópolis cotidianamente.”

(SOARES, 2010, p. 58) “As formas de organização popular que aconteceram em Heliópolis durante os anos 80 e 90 nos mostram hoje os resultados alcançados através dos equipamentos sociais conquistados e da participação, apontando para caminhos que essa comunidade ainda percorrerá.”

(SOARES, 2010, p. 46) Através da intensa participação da população e da entidade sobre o território, é possível criar uma relação com o local, percebendo uma afinidade das pessoas com o lugar, de uma forma mais ativa e solidária. (SOARES, 2010) “A dinâmica estabelecida pelos moradores com a paisagem muitas vezes contribui na relação com o lugar nos aspectos positivos ou negativos, ou seja,

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


percebemos que as pessoas que têm afinidade com o Heliópolis, são pessoas que tem afetividade com o lugar de uma forma mais ativa, cooperativa e até solidária.”

(SOARES, 2010, p. 47) Além da ação comunitária, outro grande fator importante dentro de Heliópolis é a movimentação e agitação de suas ruas, sempre com bastante atividade acontecendo em todo seu perímetro. “A circulação é intensa, as pessoas estão a pé, de bicicleta, de carro, de moto, de ônibus, de lotação, intenso sem parar, nas ruas sem arborização de Heliópolis”.

(SOARES, 2010, p. 55) É possível perceber também o uso misto do espaço, residências, serviços e comércio. Existem cerca de 3 mil estabelecimentos de comércio na região (IBGE, 2010), são padarias, açougues, peixarias, postos de gasolina, pet shop, lanchonetes, etc. Segundo Soares (2010), muitos comércios são extensões do lar dos seus donos, que moram no fundo ou na parte superior do estabelecimento. Juntamente com o som alto das lojas, motos e ônibus, mostram a intensa vida em Heliópolis. Também são encontrados diversos comércios informais pelas ruas de Heliópolis, que são os vendedores ambulantes que se espalham pela comunidade. Esses estabelecimentos (que são carrocinhas ou barracas) instalam-se em frente de algum comércio consolidado, ou então em esquinas, saída de vielas e casas. Heliópolis e a pandemia

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(SOARES, 2010, p. 58) Ainda sobre Soares (2010), as ruas de Heliópolis ganham intensa movimentação após o horário comercial, moradores em frente às suas casas, crianças voltam das escolas, meninos saem com suas motos. E é assim que a vida urbana se constitui dentro da região, com grande intensidade e fluxos. “O intenso movimento nas ruas de Heliópolis é uma maneira de apropriação que contribui de forma expressiva para uma qualificação da rua nos seus diversos usos. É na rua que há os momentos de convivência, os moradores se encontram, trocam informações, havendo uma mistura social”.

(SOARES, 2010, p. 61) A rua é o lugar onde tudo acontece, onde se dá toda a intensidade de Heliópolis, por seus comércios, atividades, e ações de agentes. Por exemplo, a Rua Paraíba é vista como um pequeno centro em Heliópolis, por apresentar uma movimentação constante de pessoas, tanto durante o dia, quanto à noite. (SOARES, 2010) Segundo um levantamento feito por Soares (2010), a Rua da Mina é um local de muita atividade, que se encontra sempre lotada, com concentração de vários equipamentos sociais. Como por exemplo, a sede do UNAS (União de Núcleos, Associações e Moradores de Heliópolis), quadra poliesportiva, o Centro da Criança e Centro do Adolescente Mina (CCCA), o Centro de Educação Infantil Mina (CEI), o Telecentro e a Biblioteca Comunitária Heliópolis, além de bares, lanchonetes, e diversos 130

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


outros comércios estabelecidos desde 1978. Por fim, é possível notar o intenso movimento no espaço urbano, seja de dia pelos comércios e trabalhos, ou de noite com os bares pequenos e pancadões. A grande característica da região é exatamente a forte presença de entidades atuando no território e uma vida dinâmica de seus moradores.

Figura 23 Rua da Mina e suas movimentações. Fonte: Google Street View.

Figura 24 Sede do UNAS na Rua da Mina. Fonte: Fonte: Google Street View.

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4.2 OS PROBLEMAS DA REGIÃO

Um dos principais problemas que Heliópolis enfrenta é sua falta de espaços públicos e equipamentos de lazer, ainda muito escassos na região. Como cita Cláudia Soares (2010), Heliópolis possuía mais de 20 quadras de futebol antes da década de 70, mas hoje as áreas verdes e livres são quase inexistentes. Quando existem, estão dentro de espaços privados e conjuntos habitacionais ou em equipamentos públicos, no caso do PAM (Posto de Assistência Médica), da quadra do Hospital Heliópolis ou da Escola Municipal Presidente Campos Salles. Soares (2010) ainda cita em sua pesquisa, a respeito de onde estão localizadas as áreas verdes na região: “aqui em Heliópolis somente nos espaços internos dos prédios, nas glebas G e A, no pátio Heliópolis e em algumas escolas”

(SOARES, 2010, p. 60) A partir do mapa a seguir é possível perceber a evolução dos espaços verdes em Heliópolis, que teve uma tendência a diminuir ao longo dos anos, e atualmente constituem-se de pequenas porções arbóreas.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


1940

1954

1973

1981

1989

1994

2004

2009

Mapa 38 Evolução dos espaços e áreas verdes em Heliópolis ao longo dos anos. Fonte: GETLINGER, 2013. Editado pela autora.

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Soares (2010) ainda cita em sua pesquisa que, ao acompanhar os moradores em suas atividades ao longo das semanas, foi possível perceber que não há equipamentos de lazer suficientes que atendam toda a comunidade, que deve alternar os espaços existentes. Além disso, não se encontram árvores nas calçadas, o que evidencia ainda mais a ausência de arborização urbana. E por fim, quando enfim uma área livre surge, logo é apropriada por moradores que constroem anexos de suas casas, invadindo o espaço público e impossibilitando o uso do mesmo para outros fins. “Tem-se observado ações dos moradores voltadas à alteração dos projetos originais, quer seja por meio da realização de obras nos edifícios construídos, (anexando-se pequenas construções, criando aberturas não existentes originalmente), quer no uso inadequado dos espaços coletivos e públicos. Aqui, há uma tendência de apropriação privada destas áreas, fechando-as e revelando-se uma dificuldade de manutenção e gestão, o que tem colocado ao projeto uma triste perspectiva: a da redução da dimensão do coletivo e público no espaço da habitação social”.

(SOARES, 2010, p.61 apud RUBANO, 2008) A falta de espaços verdes, públicos e de lazer é um ponto importante a ser levantado no presente trabalho, tendo em vista que no presente momento de pandemia, esses locais são considerados pontos de escape e muito importantes para contribuir para a saúde mental dos indivíduos. 134

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 25 Terreno ocioso e murado. Fonte: Google Street View.

Figura 26 Terreno ocioso e murado. Fonte: Google Street View.

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Figura 27 Terreno ocioso, usado como estacionamento. Fonte: Google Street View.

Figura 28 Campo de futebol. Fonte: Google Street View.

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Figura 29 Campo de futebol principal, anexo ao PAM. Fonte: Google Street View.

Figura 30 Vista aérea do campo de futebol do PAM. Fonte: Google Street View.

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4.3 HELIÓPOLIS E A PANDEMIA

Após mapear as ações que acontecem em Heliópolis e listar a maneira que essas entidades atuam no território, é imprescindível citar a questão da pandemia que ocorre atualmente e impacta milhões de pessoas em todo o mundo. A grande questão do trabalho visa um olhar mais aprofundado sobre a questão da pandemia em territórios de alta vulnerabilidade social. Além da indagação sobre como esses territórios enfrentam esse momento delicado. Portanto, propõe-se a pergunta: como Heliópolis está lidando com a pandemia e quais os efeitos causados na comunidade? Uma das ações que vem sendo movimentadas em Heliópolis neste momento de crise é o incentivo à doações. O UNAS criou a campanha “Heliópolis no Combate ao Coronavírus” que tem por intuito garantir o acesso à alimentos e itens de higiene aos moradores de Heliópolis e comunidades periféricas de seu entorno. A ação teve início em março de 2020, e em mais de 200 dias de pandemia, já distribuiu 40.924 cestas básicas, além de 228.225 itens de higiene e limpeza, 395.940 máscaras de proteção e 1.921 botijões de gás, segundo dados do UNAS de abril à maio de 2020. A presidenta do UNAS, Antônia Cleide Alves, explica: “[...] criamos pontos de distribuição espalhados pela favela, são 8 núcleos que recebem e fazem as entregas em Heliópolis e 3 núcleos que recebem e dividem as doações nas comunidades da região”

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Por isso, a solidariedade e união entre as pessoas é crucial para o enfrentamento desse momento de pandemia. Uma ação conjunta do Bradesco, Itaú e Santander, com a concepção do Instituto BEI, criou o projeto “Heróis Usam Máscara”, que já produziu 174 mil máscaras de pano, distribuídas em Heliópolis e região desde abril de 2020. O projeto reuniu costureiras da comunidade, as remunerando para fabricação de máscaras de proteção ao Covid-19, que são distribuídas por ações de entrega pelas ruas da comunidade. Segundo Cleide, presidente do UNAS: “A ideia é fazer uma verdadeira operação de salvar vidas, pra gente proteger o outro e se proteger também. Estamos nos antecipando para salvar a nossa população porque o impacto do coronavírus em uma periferia é muito grande por conta da geografia do nosso espaço. Queremos fazer a prevenção para evitar a multiplicação dos casos”

O UNAS ainda explica que o projeto conta com 64 costureiras que trabalham 8h por dia por uma remuneração de R$100,00 ao fim do dia. Cinquenta delas trabalham de casa, e as demais 14 trabalham em uma carreta no CEU Heliópolis, por não possuírem máquina de costura. O projeto gera renda para as costureiras ao mesmo tempo que ajuda sua comunidade à prevenção contra o Covid-19. Além disso, no início da quarentena, em março de 2020, segundo a Subprefeitura Ipiranga já foram confirmadas 53 mortes por Covid-19 no distrito do Ipiranga. Tal fato preocupou a UNAS e Heliópolis e a pandemia

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a UBS Sacomã, que promoveram uma ação de conscientização aos moradores, os alertando sobre o real risco da doença. (UNAS, 2020) “As favelas têm sofrido com a subnotificação, pois não há testagem aos casos suspeitos, o que dificulta saber real dimensão do número de casos e os impactos nas populações periféricas.”

(UNAS, 2020)

Figura 31 Campanha de conscientização da população sobre o Covid-19. Fonte: UNAS, 2020.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


O site do UNAS (2020) também cita que as famílias com menor renda são as mais afetadas pela crise do Covid-19. “Ao menos 80% das famílias que vivem com até dois salários mínimos por mês, afirmam ter perdido renda nesse período.”

(UNAS, 2020) Abaixo são mostradas as primeiras pesquisas sobre o impacto do Coronavírus no Heliópolis, realizado pelo UNAS, em parceria com o Instituto Construção e o Open Society Foundation.

uma pessoa 5%

5% 14%

duas pessoas 14%

26% 29%

três pessoas 26% quatro pessoas 29%

16%

cinco pessoas 16%

Gráfico 8 Número de habitantes por domicílio. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria.

10%

+ de cinco pessoas 10%

0

5

10

15

20

25

30

Heliópolis e a pandemia

141


trabalho final de graduação . 2021 60

80 70

50

60 40

50 30

40 30

20 10 0

54%

19%

domicílios que vivem domicílios que vivem crianças com menos idosos com mais de 60 de 9 anos anos 54% 19%

Gráfico 9 Porcentagens dos domicílios que vivem crianças e idosos. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria.

20 10 0

65%

68%

deixaram de trabalhar já tiveram perdas após orientações no rendimento mensal de isolamento

Gráfico 10 Porcentagem dos habitantes que deixaram de trabalhar. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria. mais de R$10.451 1 domicílio

entre R$5.226 e R$10.450 9 domicílios

não respondeu 11 domicílios

entre R$3.136 e R$5.225 59 domicílios

menos de R$1.045 130 domicílios

63% tem renda

Gráfico 11 Renda média mensal dos domicílios. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria.

142

entre R$2.091 e R$3.135 111 domicílios

mensal de até 2 salários mínimos

entre R$1.046 e R$2.090 193 domicílios

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


19%

dinheiro/trabalho

15%

alimentos menos de R$1.045 130 domicílios

7%

álcool gel/máscaras

4%

produtos de higiene

entre R$1.04612 e R$2.090 Gráfico Necessidades 193 domicílios

apontadas pela família. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria.

5% 3%

mais informações solidariedade entre as pessoas

0

5

10

15

20

Os dados acima apontam que o maior percentual vive com quatro pessoas dentro de casa, e possuem em média uma renda mensal de até 2 salários mínimos. Com os efeitos da pandemia, houve um significativo impacto na renda dessas famílias, onde a maioria sofreu perdas, seja por queda de renda ou isenção. Os próximos dados apontam a mesma pesquisa realizada alguns meses após a primeira.

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5%

bronquite

15%

diabetes

18%

asma

27%

hipertenso

0

5

10

15

20

25

30

Gráfico 13 Porcentagem dos habitantes portadores de doenças pré-existentes. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria.

250

200

150

100

50

Gráfico 14 Porcentagem dos habitantes que deixaram de trabalhar, por faixa de renda. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria.

144

0

famílias até 1 s.m. 93%

famílias até 1 s.m. 52%

famílias até 2 s.m. 59%

amostra geral 65%

deixaram de trabalhar após orientações de isolamento

famílias até 2 s.m. 80%

amostra geral 68%

já tiveram perdas no rendimento mensal

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


“a nossa renda ainda nao foi afetada” 20%

“a nossa renda caiu um pouco” 24%

“agora não temos mais renda” 26% “a nossa renda diminuiu bastante, mas ainda temos uma pequena renda” 29%

Gráfico 15 Porcentagem e relatos na queda da renda, em famílias com renda de até 2 salários mínimos. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria.

“a nossa renda ainda nao foi afetada” 7%

“a nossa renda caiu um pouco” 24%

“a nossa renda diminuiu bastante, mas ainda temos uma pequena renda” 23%

“a nossa renda caiu um pouco” 24%

“agora não temos maisPorcentagem renda” Gráfico 16 26% e relatos na queda da renda, em famílias com renda inferior a 1 salário mínimo. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria.

“agora não temos mais renda” 46%

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De acordo com a pesquisa: “Quanto menor a renda, maior o impacto... Essa constatação reforça a necessidade de políticas públicas que garantam uma renda emergencial”.

(UNAS, 2020) A UNAS (2020) ressalta que a mortalidade do Covid-19 em regiões periféricas é de até 10 vezes maior que outros bairros da cidade. Por este fato, é urgente que o Governo e a Prefeitura atuem em uma agenda emergencial e prioritária nas regiões vulneráveis. Como declara Antonia Cleide, presidenta do UNAS (2020): “Durante esses 70 dias, nós também estivemos expostos aos riscos do contágio do novo coronavírus, em visitas às famílias, nas ações de conscientização, durante as doações, mas diante da gravidade da situação, diante da fome, não poderíamos ficar parados! Então desde o dia 22 de Março, estamos pelas ruas, becos e vielas da comunidade, trabalhando para ajudar que mais precisa. Essa pandemia só escancarou ainda mais as mazelas e desigualdades que nós moradores de favela vivemos”

Em relação à outra ação do combate à pandemia, a comunidade também se uniu para mapear as vítimas de Covid, devido à falta de dados da prefeitura sobre o vírus na favela. Outra questão que a pandemia trouxe, foi a maior valorização da saúde mental. O período de quarentena foi responsável por inúmeros casos de estresse e depressão na população, 146

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


especialmente naquelas que vivem em comunidades. Segundo um estudo realizado pelo UNAS, partindo de uma entrevista com moradores de Heliópolis, 86% da população diz se sentir deprimida nessa época de crise pandêmica. Os entrevistados relataram sentimentos como depressão, ansiedade, palpitação no coração e angústia.

90%

não são capazes de desfrutar das suas atividades normais

69%

sentem-se agoniados e tensos

64%

não são capazes de concentrar-se direito

Gráfico 17 Porcentagem e relatos dos sentimentos na pandemia. Fonte: UNAS, 2020. Elaboração de autoria própria.

62%

preocupações o fizeram perder o sono tem sonhado mais ultimamente

36% 0

20

40

60

80

100

A pandemia afetou diretamente a saúde mental de milhões de pessoas, de fato. Seja pelo isolamento social, pelo medo da doença ou pela questão financeira que foi afetada, onde o desemprego tomou conta do cenário mundial. De acordo com Elena Wesley (2020): “A impossibilidade de circular pela favela, que é —segundo o psicólogo — um espaço de convivência e troca que corrobora para a identidade dos jovens, também contribuiu para o aumento de casos ligados à ansiedade e depressão”

Heliópolis e a pandemia

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trabalho final de graduação . 2021

De acordo com uma fala de Ana Paula Wickert (2020), arquiteta e urbanista, com mestrado em arquitetura pela UFBA, e Secretária de Planejamento de Passo Fundo desde 2013: “Mesmo durante a epidemia, a possibilidade de realizar uma atividade física em espaço aberto, respeitando o distanciamento social indicado, exige áreas verdes amplas, onde as pessoas possam caminhar, correr ou andar de bicicleta sem se aproximar. E é justamente nos bairros mais vulneráveis, que nos ressentimos destas áreas.”

Levantados os dados sobre a influência da pandemia em Heliópolis, é colocada a questão de como solucionar, ou ao menos amenizar esses impactos tão presentes que afetam a comunidade como um todo. Enfim, é de suma importância a intervenção do objeto projetual do território, sendo que este repensa uma solução primordial para os referidos espaços públicos localizados em Heliópolis, oferecendo desta forma lugares para lazer, subsídio próprio e criando uma alternativa de renda.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis



trabalho final de graduação . 2021

4.3.1 ENTREVISTA COM BUIU DO POVO

A fim de trazer um maior embasamento para a pesquisa, foi realizada uma entrevista com Nazareno Antônio da Silva, mais conhecido como Buiu do Povo, líder comunitário de Heliópolis. Buiu conta qual seu papel e sua função como líder dentro da comunidade de Heliópolis, além de trazer um pouco da história do território. Também comenta sobre esse tempo de pandemia dentro da região e o que tem sido feito para amenizar a situação. E por fim, Buiu conta um pouco sobre como imagina que seria uma cidade num contexto pós pandêmico. Nome: Nazareno Antônio da Silva. Idade: 37 anos. Ocupação: Líder comunitário em Heliópolis. Paula: Você poderia falar um pouco mais sobre você e o que você faz em Heliópolis?

Buiu: Meu nome é Nazareno Antônio da Silva, mas eu sou mais conhecido como Buiu do Povo, apelido desde menino, desde criança. Eu estou em Heliópolis desde 1985. Eu cheguei aqui com 2 anos idade de Pernambuco junto com a minha a minha mãe em busca de sobrevivência, e a gente foi se constituindo aqui em Heliópolis. A minha mãe também era uma liderança na época aqui, com o direito a ter água, ter luz, esgoto, tudo. Eu estou contando bem do início da história de Heliópolis, na sua ocupação que foi de 1978 para 1979. A gente chegou bem no início mesmo, quando as coisas ainda estava se caminhando, naquela época Heliópolis tinha cerca de 3 mil famílias. Hoje nós estamos falando em 220 mil 150

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


moradores e mais de 43 mil famílias. Heliópolis tem as suas particularidades, é um bairro que mostra muitos desafios, porque de fato a gente não é incluído no orçamento da cidade. Então tem essa disputa de narrativas como outras comunidades também, sobretudo de Heliópolis. Eu fui aluno do CCA (Centro de Juventude) há 30 anos atrás e lá me constitui liderança, peguei o tino que minha mãe já tinha nessa luta por ter água por ter luz e fui me encostando na liderança e fiquei à frente de vários projetos aqui, durante 20 anos na linha de frente da articulação política, porque eu tenho dito e sempre falei que: a sociedade civil organizada não pode estar descolada do poder público porque quem tem o poder de resolver as coisas é o poder público, a sociedade civil tem o poder de reivindicar, de brigar, de incentivar projetos ao poder público na área de políticas públicas mas ela não tem como resolver esse problema. Ela não tem condição de resolver esse problema sozinha porque não tem orçamento, sobretudo Heliópolis que nem uma subprefeitura tem. Nós estamos numa subprefeitura que é o Ipiranga, que é uma subprefeitura para 600 mil moradores e que pega dois bairros nobres daqui. Então geralmente a subprefeitura não prioriza o bairro nobre e fica por último, isso é uma luta grande que a gente tem pela frente. Hoje eu continuo na liderança. Eu não estou mais de uma organização que pertenci durante 20 anos, mas continua a liderança, continua o diálogo com o poder público, que eu acho que é a porta de entrada e de saída é dialogar. Esse radicalismo vai levar nós a lugar nenhum, extremo tanto de um lado como o outro não faz bem para a comunidade, não faz bem para a sociedade. Eu me considero de centro, nem esquerda radical nem direita extremista, eu sou do centro. O que foi importante pelo povo, Heliópolis e a pandemia

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trabalho final de graduação . 2021

eu estou junto. Foi assim que eu sempre dialoguei com todos os prefeitos que passaram por São Paulo. Os prefeitos passam e os problemas ficam, e Heliópolis não pode ser refém de política partidária. Eu sempre trabalhei com essa situação apesar de eu ter meu partido, apesar de eu ter sido candidato duas vezes já. Mas enquanto liderança avalio que Heliópolis não pode ser correia de transmissão nem curral eleitoral de partido, e quem ganha eleição tem que dialogar para resolver os problemas do povo. Paula: Como está acontecendo a pandemia, e como vocês estão lidando e o que tem sido feito em Heliópolis?

Buiu: Aqui tem um movimento muito organizado. Heliópolis é uma vitrine. Então todo empresário quer ajudar por vários motivos. Um por dó, outro porque acha que vai pro céu se der cesta básica. Mas eu dizia que quando estava nessa organização, tinha uns críticos lá. Essa organização sempre teve muita relação com o empresariado. Então muitos projetos da organização são financiado pela Ambev, pelo Facebook, pela Coca-Cola, pela Unilever e tinha alguns diretores muito “esquerdalha”, essa esquerda louca que achava que não pode ter dinheiro do capitalismo para financiar os projetos, eu quero o dinheiro do capitalismo mesmo, mesmo não pensando igual a ele mesmo divergindo da política que estabelece. O mundo foi criado há 500 anos sendo capitalista e nós não vamos mudar esse mundo em cinco ou dez anos, é uma conjuntura que nós não temos gestão nisso. Eu dizia o seguinte: se o capitalismo é ruim, devolve o dinheiro que vocês pegam dele. Eu quero ver como sobrevive uma organização sem dinheiro, só com discurso só com saliva. E é isso que eu tenho falado. Heliópolis é uma vitrine. É óbvio que todas as empresas querem colocar sua marca aqui, por bem ou por mal. Um dia eu perguntei pro diretor da Ambev se não era 152

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


contradição a Ambev apoiar um projeto de redução do consumo de bebida alcoólica aqui. Ele me disse que eles têm pesquisa que diz que quanto mais os jovens começarem a ter esse controle do consumo alcoólico mais eles vão beber na vida, então eles vão ganhar dinheiro. Olha a lógica perversa, mas não tem condições, se querem fazer um projeto de redução de bebida alcoólica quem vende bebida, mas eles têm toda uma lógica estrutural de saúde e tudo mais que ele sabe que se ele preservar o cliente dele, o cliente vai beber em vez de 20 anos vai beber 30. Então ele vai ter lucro. É uma coisa louca que o mercado inventa, e que a gente não tem esse entendimento. Mas enfim, se tratando de Heliópolis, lá tem a CUFA, a Central Única das Favelas. A CUFA nasceu no Rio de Janeiro e hoje está estourada em vários estados do Brasil, em vários municípios e nessa pandemia eles cresceram muito. Luciano Huck tem ajudado muito eles, esses empresários grandes têm ajudado. Hoje no pronto socorro de Heliópolis, parte é a CUFA, e parte é outra entidade, então há um conjunto de articulações que se unificam hoje por conta da fome, porque os movimentos são todos brigados. Eu tenho dito a sociedade civil é muito dividida, os políticos são divididos, a Igreja é dividida, tudo é dividido. Por isso que a gente sofre tanto. “A minha associação é melhor do que a sua”. Na periferia também tem muito disso, não é só em Heliópolis. E quanto mais a gente se divide mais importante é para quem dirige o país, para quem dirige o nosso governo, quer ver o povo se dividido e brigando entre si. Então Heliópolis está nesse patamar. Com tudo isso que está acontecendo em Heliópolis, ainda tem muita gente passando necessidades. Imagine, são 200 mil habitantes e 23 mil famílias, é muita gente, é muita gente vivendo na linha da miséria da pobreza, perda de emprego, comércio Heliópolis e a pandemia

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trabalho final de graduação . 2021

fechado por conta das medidas que o governo tem que tomar, algumas medidas eu acho coerentes. Eu acho que é importante porque a economia nós podemos recuperar, quem está morrendo a gente não pode. As pessoas ainda estão brincando com essa coisa do Covid. Eu digo às pessoas quase como um todo: não é porque é o pobre, porque a culpa sempre vem pro pobre, que a periferia continua fazendo baile funk mas a alta classe também continua fazendo o cassino, baladas em Santo Amato, região nobre. É assim, classificam a periferia como se a periferia fosse o resultado dos problemas do Brasil. E não é, a periferia é resultado das soluções. O PIB da periferia é um PIB muito alto. Heliópolis deixa de arrecadar com impostos 788 milhões por ano. Nós somos a quarta no Brasil. A primeira é Rio das Pedras no Rio de Janeiro, segundo a Casa Amarela em Recife, a terceira é Paraisópolis, quarta é Heliópolis e quinta é Brasília Teimosa, que é uma comunidade muito pobre também que existe ali nos arredores do Palácio do Planalto, inclusive uma comunidade muito carente. Então a periferia deixa bilhões no nosso orçamento do país e ela não é vista, e o que a gente tem mais incentivado nesse momento, com toda essa dificuldade, é para as pessoas não perderem a fé, não perderem a esperança e se cuidar. Cuidar do outro, cuidar da avó, cuidar dos mais idosos, dos que têm algum tipo de doença crônica, porque esses são os mais afetados. E agora tem essa coisa de esperança que não tinha. Agora estamos vendo o bebê falecendo de Covid. Então não é mais sinal vermelho agora. Agora as pessoas entendem que nós estamos num colapso e que governo nenhum vai resolver esse colapso sem a colaboração de cada um de nós da sociedade, dos moradores que residem nessa cidade e que residem nessa comunidade, que não é uma comunidade pequena é a segunda 154

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


maior do Brasil. Paula: Você acha que é importante ter um espaço aberto, espaço verde, um espaço de lazer para as pessoas, que seja seguro de frequentar, pensando no bem-estar psicológico dos moradores nesse período de quarentena?

Buiu: Eu acho que todas as iniciativas, todas sem exceção, que trabalham a mente que trabalham o cérebro, que trabalham o corpo são importantes. A gente também não está pensando nisso, deixar as pessoas em casa com essas medidas. Só que as pessoas em casa, a maioria delas de Heliópolis mora num quarto e cozinha que mal cabe ela e geralmente tem filhos que crescem em más condições. Quando se vê uma retranca dessa, uma recaída dessa, o cara não está preparado. Como que ele deixa o filho dez dias em casa num quarto cozinha, é insalubre não tem condições humanas e as pessoas estão ficando doentes. A criança está adoecendo, o pai está adoecendo, a mãe está adoecendo. O professor já está doente faz anos, então precisa nem falar. Os professores desse país sofrem muito com tudo. Eu tenho dito da opção de buscar aquela coisa do cano de escape, que mexe com o emocional das pessoas. Mexe com o contato com a terra, que é tudo de bom para nossas crianças sobretudo. O poder público investe muito pouco nessa coisa do meio ambiente. Um pessoal de Paraisópolis fez um telhado verde, que está na moda, e fizeram aqui em Heliópolis. Então existe uma horta comunitária inaugurada há poucos dias, em cima de uma sede de uma organização. É uma coisa fantástica, mas precisa ser pra fora não pode ser pra dentro né. Quando bota numa associação fica uma coisa de gueto sabe. Por isso que eu acho que a maioria dos equipamentos tem que ser em espaço público, porque não importa se você é de organização A ou B. Você vai ter acesso. Quando é de organização A ou B aí as políticas da organização Heliópolis e a pandemia

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trabalho final de graduação . 2021

são os instrumentos que a organização usa pra quem usa o espaço sob a regra deles e a tutela deles. Então eu tenho dito que o poder público precisa tomar frente de projetos. Óbvio que a participação da sociedade civil sempre será fundamental. Eu nasci disso e acredito muito nessa coisa que quem vai mudar esse país são três setores: a sociedade civil organizada, o poder público e os empresários comprometidos com a transformação do país e com a educação, sobretudo. Então esse projeto teu é um projeto muito viável. O projeto que trabalha a mente, que trabalha o cérebro, e que produz sobretudo uma coisa que a sociedade em si precisa precisar utilizar mais. Paula: O que você acha que vai mudar na sociedade daqui para frente? Você acha que quando tudo isso acabar a vida vai voltar ao normal? Ou vai ficar alguma coisa e vai mudar algo nas pessoas e no jeito que elas lidam umas com as outras e com o espaço em si?

Buiu: Eu acho que nós vamos ter um desafio, que é um desafio do país, é um desafio do mundo inclusive, não é só no Brasil. Sobretudo de como a gente recupera não só a economia, porque a gente fica falando muito em números, e vidas não se recuperam. Ou seja, quem se foi e ainda vai. Infelizmente por conta do atraso em tudo que esse país teve na compra de vacinas, compra de insumos. Ter uma coisa, faltar outra porque não se preparou, porque brincou com uma coisa que é grave que é sério, e que a OMS já vem alertando há muito tempo no combate ao Covid já há um ano e meio e não toma providência. O nosso país não tomou providências. E assim nós vamos ter um desafio grande. Primeiro o psicológico também. Nós vamos ter muita gente doente. Nós vamos ter muita gente que perdeu o emprego e outros que já estavam desempregados, mas que também criaram uma alternativa de 156

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


sobreviver e que também quebrou, que são os empreendedores que esse mercado tem fomentado muito ao longo dos anos. A gente acha que as pessoas podem empreender e tem que deixar de ser escravo, tem que deixar de ser empregado do outro. Para isso ela tem que criar o próprio negócio. Ela precisa saber como administrar o seu próprio negócio. Como que trata bem os seus clientes, porque quem sustenta o comércio são os clientes. Eu tenho dito que Heliópolis é um mercado muito pulsante comercial, só perde para Paraisópolis. Paraisópolis não tem casa térrea, é tudo comercio. Tem cerca de quase 7 mil comércios, 70 por cento da população de Paraisópolis vive da renda de Paraisópolis, do que do que gira em torno de Paraisópolis. É uma coisa impressionante chegar lá e não tem casa térrea, não existe, é tudo primeiro andar, segundo andar, porque o térreo é comércio. Heliópolis também um pouco, mas em Heliópolis a maioria é residência. Mas também tem 5.800 comércios. Heliópolis é uma coisa muito forte, não é qualquer comunidade. De vez em quando eu pergunto se estão abrindo uma outra uma ou outra, e abre e tem mercado, é uma coisa impressionante né. A gente fala não vai vender nada e vem um atrás do outro porque a nossa população é muito consumista. A periferia é um mercado muito consumidor, que compra mesmo, que gosta de coisa boa mesmo e merece ter coisa boa mesmo e trabalha para isso. Com esse raciocínio nós vamos ter três problemas graves: Primeiro essa coisa do emprego. Segundo essa questão de que as pessoas vão estar doentes. Terceiro, essa coisa da educação, como que nós vamos retomar isso. Eu acho que nós demos um passo atrás. O governo também não está preparado para isso. Tem país que conseguiu manter as aulas presenciais. Se tivesse organizado com certeza teria que reduzir o número de crianças, Heliópolis e a pandemia

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trabalho final de graduação . 2021

óbvio, como foi feito 35% só da capacidade, mas não teria interrupção de aulas. E pior ainda, além de ter interrupção de aulas, nós não temos ensino remoto, não está instituído, e quando é instituído não atinge a nossa faixa aqui na periferia, porque em grande a internet ainda não é boa. E a maioria do povo ainda não tem. É uma ilusão a gente achar que todo mundo na favela tem internet no celular. Então nós vamos ter que criar neste país um ambiente que seja acolhedor para as pessoas e que dê condições às pessoas voltarem a sonhar. Passando essa pandemia não vai ser fácil estruturar esse país do ponto de vista psicológico e nem econômico. Nós vamos ter muita gente esperançosa, como nós já temos, mas vamos ter muito mais miseráveis e muito mais gente passando fome, uma coisa que a gente jamais imaginaria que no século 21 a gente voltasse a ter. Esses dias estava lendo a matéria tão preocupado com essa coisa de saquear os comércios, isso aconteceu no governo do Fernando Henrique e que foi um colapso que teve do apagão e tudo mais, e as pessoas tiveram uma dificuldade grande, aqui caminha-se para isso e aí marginaliza o povo que roubou, e roubou porque quis. Esse país é muito desleal ainda com quem é pequeno e muito desleal com o público que tem menos condições sociais. Pra terminar, Ruy Ohtake me convidou para um seminário internacional no Rio de Janeiro, que discutiu o modelo de mobilidade urbana do mundo. Ruy falou “você vai porque o que eu construí em Heliópolis foram vocês, eu só desenhei, mas quem escolhei o que era melhor para lá foram vocês”. E eu sempre disse isso, que quem tem que escolher os projetos que são melhores pro Heliópolis é quem mora e quem vive lá. O poder público às vezes traz tudo de cabeça para baixo, uns projetos bonitos até. 158

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Mas o bonito deles não é bonito para mim, não é o ideal para as pessoas que moram aqui. Então foi essa parceria que a gente fez. O Ruy me levou para ir no Complexo do Alemão falar da Polícia Pacificadora, botou muito dinheiro que revitalizou o Rio e botou aquelas UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). Então naquele dia eu falei “isso aqui pra inglês ver”, foi para delimitar o território, daqui pra cá você continua fazendo o que quer e daqui pra lá não. Tanto que não deu certo esse modelo de política pacificadora, porque não reformou escola que existia há 100 anos, não reformou o modelo de saúde, não deu condições para a molecada jogar o esporte, para fazer cultura. Nós precisamos também pensar que tipo de projeto é importante ter. Heliópolis virou um laboratório de pesquisa, um laboratório de experiência, tudo que se imagina. É importante isso agora, que quem vem aqui beber da água da fonte de Heliópolis também precisa ter sua contribuição e não necessariamente a contribuição em dinheiro. A contribuição pode ser um projeto social. A contribuição pode ser parceria. A contribuição pode vir aqui, ficar uma semana no equipamento, ajudando nossa meninada a desenvolver essa arquitetura que é tudo de moderno no mundo. Tem gente que enxerga o arquiteto como se fosse uma pessoa qualquer. Eu acho que a arquitetura tem um poder de transformação. Principalmente esses arquiteto como você que ficam pensando saídas, não ficam só nessa coisa de autoconstrução, de desenhar prédios, desenhar viaduto. Mas que sai desse mundo tradicional. Eu acho que é isso que nós precisamos.

Heliópolis e a pandemia

159


05

complexo

heliópolis


5 OBJETO DE PROJETO: COMPLEXO HELIÓPOLIS

O último capítulo visa ilustrar as soluções adotadas para a região, com enfoque na qualificação e melhoria dos espaços em Heliópolis. A partir de uma breve introdução sobre as intervenções urbanas no território e uma maior atenção ao objeto de projeto, é possível observar as áreas de fragilidade e como estas podem ser melhoradas.

Complexo Heliópolis

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trabalho final de graduação . 2021

5.1 INTERVENÇÃO URBANA

O presente capítulo dará início aos estudos e intervenções da qualificação do território como um todo, começando por intervenções de macro escala, até chegar à escala do projeto (micro escala). Frente a isso, lidamos com três diferentes escalas: a primeira sendo a escala da rua, onde foram propostas corredores e canteiros verdes, além de ruas de lazer, com o intuito de conectar o território entre si, criando conexões verdes e interligando as áreas de intervenção com as principais vias estruturadoras: Avenida Almirante Delamare e Estrada das Lágrimas. A segunda escala é a escala do lote, onde foram propostos parques e praças visando criar áreas de respiros urbanos em meio à cidade, estas também estão conectadas pelos canteiros e corredores verdes. E por fim, a escala do objeto projetual, que trará de maneira aprofundada o desenvolvimento de um complexo contentemplando um esquema produtivo, um esquema de renda e venda, e áreas multiuso de lazer.

162

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


NT

intervenção macro

ÇÃO DO PR EN OE V ER

TO

ÁR E A D E I

DE

T

PROJ ET O

IN

ÃO URBANA ENÇ V ER

intervenção micro

Figura 32 Diagrama explicativo da intervenção no local. Elaboração de autoria própria.

escala da rua

conectar o território, criar eixos articuladores e interligar as áreas de intervenção com as principais vias estruturadoras: Estrada das Lágrimas e Av. Almirante Delamare

escala do lote

criar respiros urbanos no território, trazendo mais áreas verdes, livres e espaços públicos de lazer

Complexo Heliópolis

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petrobras pam posto de atendimento médico

ame ambulatório médico de especialidades

sabesp

1000 0

164

4000 2000

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


As áreas verdes que existem atualmente no território pertencem a intituições privadas e não são objeto de espaço público para seus habitantes. O mapa 39 (à esquerda) indica as atuais massas arbóreas e densa vegetação em áreas muradas, que não dão acesso à população. Desta forma, ressalta-se a enorme carência por espaços verdes dedicados ao lazer da população.

Mapa 39 (à esquerda) Mapeamento das áreas verdes privativas da região. Base Google Earth. Elaboração de autoria própria.

Figura 33 Terreno da SABESP, área verde privatizada. Base Google Street View.

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Figura 34 Terreno do PAM, área verde murada e privatizada. Base Google Street View.

Figura 35 Terreno do PAM, área verde murada e privatizada. Base Google Street View.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 36 Terreno do AME, área verde murada e privatizada. Base Google Street View.

Figura 37 Terreno da Petrobras, área verde murada e privatizada. Base Google Street View.

Complexo Heliópolis

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trabalho final de graduação . 2021

1 conexão da estrada das lágrimas até o objeto de projeto

canteiros verdes principais vias conexões entre as áreas por meio dos canteiros verdes

2 conexão entre as principais vias por meio dos canteiros verdes 3 conexão entre ruas intermediárias dos canteiros até as intervenções urbanas

1 estrada das lágrimas

av. almirante delamare

2 3

1000 0

168

4000 2000

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


O mapa 40 (à esquerda) ilustra a primeira das intervenções urbanas, na escala da rua, que são a criação de caminhos e canteiros verdes que interligam o teritório. A prinicipal ideia é criar conexões, tanto das vias intermediárias entre si, como das vias estruturais: Avenida Almirante Delamare e Estrada das Lágrimas. A partir dos canteiros verdes, foi possível conectar as ruas e criar um percurso e pequenos respiros na mancha urbana. Os canteiros não se caracterizam apenas por jardins, mas sim como intervenções de ativação do espaço de percursos de diferentes naturezas. Através de tal intervenção os espaços ganham caracterização e ativam-se. ruas se conectam por meio de canteiros nas vias, criando um percurso e pequenos respiros

Mapa 40 (à esquerda) Conxões do território por meio de canteiros verdes nas calçadas. Elaboração de autoria própria.

Mapa 41 (à direita) Ampliação das conexões verdes. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis

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canteiros verdes ruas de lazer

1000 0

170

4000 2000

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Além dos canteiros verdes, foram criadas ruas de lazer intermediárias, visando um espaço democrático e livre em determinados dias e horários.

Figura 38 (à esquerda) Diagrama ilustrando canteiros verdes. Elaboração de autoria própria. Figura 39 (à direita) Diagrama ilustrando as ruas de lazer. Elaboração de autoria própria.

conexões verdes

ruas de lazer

Mapa 42 (à esquerda) Intervenções canteiros verdes e ruas de lazer. Elaboração de autoria própria.

Mapa 43 (à direita) Ampliação das conexões verdes e ruas de lazer. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis

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corredor verde e valorização da via principal

av. almirante delamare

1000 0

172

4000 2000

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


canteiro calçada

canteiro central

bancos ciclofaixa comércio móvel faixa exclusiva ônibus

Mapa 44 (à esquerda) Indicação da rua principal onde ocorrerá a intervenção. Elaboração de autoria própria.

Figura 40 (acima) Valorização da avenida principal visando a ativação comercial e um melhor uso do espaço público. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis

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1

2 4

3

1000 0

174

4000 2000

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O mapa à esquerda mostra as áreas de intervenções pontuais do território, cada uma delas responsável por promover melhorias ao espaço público e urbano. A área 1 (figura 41) traz a proposta de uma praça flexível, pensada com um layout fixo mas que tem a possibilidade de adaptar-se a diversos cenários, como por exemplo transformá-la em uma extensão de bares e lanchonetes, ou então ser utilizada como espaço livre para práticas de atividades físicas e ao ar livre, como ilustram as figuras 42 e 43, respectivamente.

Figura 41 Layout proposto para área 1. Elaboração de autoria própria.

Figura 42 Diagrama Uso 1 do layout proposto para área 1. Elaboração de autoria própria.

Mapa 45 (à esquerda) Indicação das áreas de intervenção. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis

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Figura 43 Diagrama Uso 2 do layout proposto para área 1. Elaboração de autoria própria.

Figura 44 Parque proposto para área 2. Elaboração de autoria própria.

Figura 45 Parque proposto para área 3. Elaboração de autoria própria.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


As áreas 2 e 3 (figuras 44 e 45) são áreas dedicadas ao respiro urbano, portanto trazem espaços verdes e públicos para a região. Essas praças trazem um caráter ambiental, visando trazer o verde para dentro da cidade. A área 2 (figura 44) apresenta um parque de permanências e de contemplação. A área 3 (figura 45) apresenta um parque linear que atravessa o território, se conectando à via principal, Avenida Almirante Delamare. Por fim, a última área de intervenção é o foco principal do trabalho e onde estão concentradas as propostas para a qualificação da região num contexto de pós pandemia, como ilustra a figura 46 abaixo. O complexo criado leva em conta a ideia de sugerir um ambiente que sobreviva à crises como esta atual do Covid-19. Este é composto por três principais projetos: uma estufa, ligada à produção alimentar; um mercado, ligado à geração de renda; e pavilhões de usos múltiplos.

Figura 46 Proposta de projeto para área 4. Elaboração de autoria própria.

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5.2 ESTUDO DO TERRENO

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


O terreno escolhido é pertencente à Petrobras. Sua área contempla uma densa vegetação, além de uma massa arbórea considerável. A partir da análise do território, foi possível perceber que uma grande parcela da vegetação existente em Heliópolis não é aberta à todos. Nesse contexto, viu-se a potencialidade de transformar o terreno subutilizado atualmente em um parque aberto à toda comunidade. Diante as fotos, é possível observar a situação urbana: um terreno que possui grande potencial e bastante massa arbórea fechado por muros e impedindo sua conexão com o restante da cidade e com os habitantes da região.

Figura 47 (à esquerda) Indicação do terreno de projeto. Elaboração de autoria própria.

Figura 48 (à direita) Ampliação do terreno de projeto e indicações das vistas. Elaboração de autoria própria.

4 3

2 1

Complexo Heliópolis

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1

Figura 49 Visão 1 do terreno de projeto. Base Google Street View.

2

Figura 50 Visão 2 do terreno de projeto. Base Google Street View.

180

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


3

Figura 51 Visão 3 do terreno de projeto. Base Google Street View.

4

Figura 52 Visão 4 do terreno de projeto. Base Google Street View.

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Dentro deste contexto, o terreno localiza-se na via principal de Heliópolis: Avenida Almirante Delamare, que após a itervenção urbana, torna-se mais apropriada e adequada para receber o objeto de projeto principal. O terreno possui aproximadamente 173.200m², abringando árvores de diversos portes que criam clareiras em sua área. Além disso, a topografia do terreno varia em seis níveis, de cinco em cinco metros, iniciando na porção nordeste pelo seu nível mais baixo, até a porção sul e sudoeste, apresentando seu nível mais alto, como é possível perceber na topografia da imagem abaixo (figura 53).

730

735 740

755

750 755

755 760

182

750

750

745

Figura 53 Topografia do terreno e de seu entorno. Fonte: GeoSampa. Elaboração de autoria própria.

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Abaixo, estão ilustradas algumas imagens aéreas do terreno, para um melhor entendimento da área e de seu contexto com o entorno.

Figura 54 Visão aérea do terreno. Base Google Earth.

Figura 55 Visão aérea do terreno. Base Google Earth.

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5.3 OBJETO DE PROJETO

Após um breve contexto da situação do território e das intervenções urbanas propostas, inicia-se a análise do objeto projetual. O projeto tem caráter de cunho econômico, social e ambiental, e assim, visa promover a ideia de um convívio social dentro de um ambiente seguro e que seja resposável por alavancar a economia local. Inicialmente, o projeto seria um centro comunitário, juntamente do mercado e unidades de horta, como ilustram os croquis da figura 56 (à direita). Ao longo do desenvolvimento, viu-se a necessidade de transformar o espaço público dentro do próprio terreno. Assim, o objeto final consiste em uma estufa, um mercado e seu anexo, e pavilhões livres de usos múltiplos considerando o lazer da população.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


cobertura metálica unidades de apoio psicológico e saúde mental espaço lúdico

59,00 m 37,00 m

2,50 m

mercado/stands gastronômicos salas de workshops oficinas

espaço convivência

2,50 m

2,50 m

unidades da horta comunitária

12,50 m

5,00 m

dimensões dos passeios públicos respeitam o distanciamento social de no mínimo 1,5m entre transeuntes

cada unidade da horta comunitária é individual, onde é possível plantar seus produtos e vendê-los no mercado/feira

Figura 56 Croquis iniciais de projeto. Diagramas das volumetrias e esquemas iniciais. Elaboração de autoria própria.

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O conceito do projeto caracteriza-se por espaços ativadores unificados por uma marquise, criando uma cadeia de funcionamento. Portanto, os três projetos cumprem sua função e desencadeiam a próxima. A estufa é responsável pela produção do alimento, servindo tanto para subsídio próprio, como para venda. O mercado é responsável por gerar renda para a população, uma vez que o que é produzido na estufa pode ser vendido no mercado, alavancando a economia. Além disso, os resíduos orgânicos restantes são separados no mercado e levados de volta para a estufa, sendo usados para compostagem. E por fim, os pavilhões de lazer, que são responsáveis por trazer usos e atividades diversas para a região.

Figura 57 Diagrama da esufa. Elaboração de autoria própria.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 58 Diagrama do mercado e anexo. Elaboração de autoria própria.

Figura 59 Diagrama dos pavilhões. Elaboração de autoria própria.

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marquise de conexão entre os edifícios

clareiras vegetação existente topografia do terreno +755 +750 +745 +740 +735 +730

Figura 60 Diagrama explodido das condicionantes do terreno. Elaboração de autoria própria.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


O diagrama à esquerda ilustra a condição do terreno e a inserção do objeto de projeto. A partir das curvas topográficas e das clareiras criadas pela vegetação existente, inseriu-se o projeto nos vazios entre as massas arbóreas.

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Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 61 Diagrama das clareiras presentes no terreno. Elaboração de autoria própria.

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Figura 62 Diagrama do projeto inserido nas clareiras. Elaboração de autoria própria.

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veículos - se veículos - público passeio pedestres

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erviço

Figura 63 Diagrama de fluxos dentro do complexo. Elaboração de autoria própria.

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ciclofaixas canteiros verdes

vias com canteiros verdes ciclofaixas Figura 64 Implantação geral do 10 40de autoria complexo. Elaboração própria. 0 20 80

196

250 0

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500


1 anexo

1

Figura 65 Implantação ao nível térreo, cota 750. Elaboração de autoria própria.

250 0

500

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3 4 1 anexo 2 mercado 3 pavilhões 4 estufa 5 gestão administrativa 6 chegada pedestres 7 chegada veículos 8 estacionamento 9 carga/descarga Figura 66 Implantação ao nível térreo, cota 755. Elaboração de autoria própria.

5 6

2 9

8

1

7 6

250

0

198

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500


3 4 1 anexo 2 mercado 3 pavilhões 4 estufa 5 gestão administrativa 6 chegada pedestres 7 chegada veículos 8 estacionamento 9 carga/descarga Figura 67 Implantação ao nível térreo, cota 760. Elaboração de autoria própria.

5 6

2 9

8

1

7 6 0

250 500

Complexo Heliópolis

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5.3.1 ESTUFA

A estufa comtempla-se em duas unidades idênticas, abrigando canteiros elevados e uma área de depósito. Além disso, exitem duas hortas externas, para cultivo a céu aberto das plantas e hortaliças.

Figura 68 (à esquerda) Diagrama em corte da estufa. Elaboração de autoria própria.

Figura 69 (à direita) Planta da estufa. Elaboração de autoria própria.

200

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


1

2

1 espaço canteiros elevados 2 depósito 3 hortas ar livre

3

12,00 6,00

6,00

4

5

6

B

4,00

A

B

8,80

6,00

4,00

6,00

4,00

C

3

D 4,00

10,00

4,00

C

D 4,00

+755,66

4,00

4,00

32,00

E

E

2

F 4,00

1

4,00

F

2

G 4,00

A

4,00

G

A

4,00

H

4,00

H

1

4,00

I

I

4,00

J +754,98

3

+754,95 17,60

B

7,70

K


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Casa estufa possui um conjunto de quatro claraboias a cada 1,30 metros. Desta forma, é garantida a iluminação necessária, assim como sua devida ventilação. Figura 70 (abaixo) Corte A Transversal. Elaboração de autoria própria.

1

2

0

202

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Complexo Heliópolis | Estufa

203


trabalho final de graduação . 2021 Figura 71 (abaixo) Corte B Longitudinal. Elaboração de autoria própria.

0

204

1

2

4

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Complexo Heliópolis | Estufa

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O escoamento pluvial se faz pela captação da água da chuva por calhas metálicas. As calhas estão ligadas à um tubo PVC, que direciona a água para um reservatório subterrâneo, podendo ser reutilizada para outros fins, como por exemplo a irrigação das hortas externas e dos canteiros internos. Os principais materiais utilizados são o aço, presente nos pilares e estrutura das claraboias, além do suporte dos canteiros elevados; a madeira, presente no restante da estrutura e no revestimento dos canteiros; o concreto, utilizado no piso e nos canteiros; e por fim o policarbonato, que encontra-se no fechamento de todo o espaço das estufas.

calha metálica Figura 72 Ampliação e esquema do caimento das águas pluviais. Elaboração de autoria própria.

206

Figura 73 Ampliação do sistema de claraboias para ventilação da estufa. Elaboração de autoria própria.

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 74 Diagrama humanizado e indicação da materialidade. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis | Estufa

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Abaixo estão ilustradas em forma de diagrama a estrutura de cada unidade de estufa e suas respectivas peças utilizadas. E por fim, as figuras à direita mostram as perspectivas de ambientação desses espaços.

cumeeira fechamento policarbonato claraboia - ventilação da estufa

calha lateral

calha central

treliça madeira terças madeira pilar metálico

Figura 75 Diagrama estrutural da estufa. Elaboração de autoria própria.

208

caibros madeira fechamento frontal em policarbonato

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 76 Visão serial da estufa. Elaboração de autoria própria.

Figura 77 Visão serial da estufa. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis | Estufa

209


trabalho final de graduação . 2021

5.3.2 ANEXO

O anexo contempla-se como um pavilhão intermediário. Um espaço fluido e livre que serve como praça de alimentação do mercado. Sua disposição em planta pode ser mudada facilmente, removendo as mesas e cadeiras, e transformando o espaço em um uso múltiplo. Constutui-se ainda uma área de deck de contemplação, uma cafeteria e um espaço de exposições.

Figura 78 (à esquerda) Diagrama em corte do anexo. Elaboração de autoria própria.

Figura 79 (à direita) Planta do anexo. Elaboração de autoria própria.

210

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


1 praça alimentação 2 deck contemplação 3 cafeteria 4 espaço exposições 5 banheiros 6 fraldário 7 depósito

1

2

3

4

5

6

B

45,00 9,00

9,0

9,0

9,0

9,00

A

7

7,50

7 6

5

7,50

B

7,50

A

37,52

C A

D 7,50

1 2

E

+751,25

4

7,50

3 F

F

B


trabalho final de graduação . 2021

Em seu corte transversal, ilustrado abaixo, é possível perceber o núcleo de passagem, constituído de uma cobertura elevada 1m acima das demais. O núcleo permite uma vasta iluminação natural para dentro do ambiente, uma vez que sua cobertura é feita em vidro. Figura 80 (abaixo) Corte A Longitudinal. Elaboração de autoria própria.

0

2

4

1

212

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Além disso, o núcleo de passagem elevado cria uma dinâmica visual de alturas ao nível do observador, os diferentes pés direitos criam diferentes ambientações.

Complexo Heliópolis | Anexo

213


trabalho final de graduação . 2021

Figura 81 (abaixo) Corte B Longitudinal. Elaboração de autoria própria.

0

2 1

214

4

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Complexo Heliópolis | Anexo

215


trabalho final de graduação . 2021

O escoamento pluvial do anexo segue a mesma lógica da estufa, e dos demais projetos, levando a água para uma calha, um tubo PVC e por fim ao reservatório subterrâneo, que sustenta todo o edfício. Os principais materiais utilizados são o aço, presente nos pilares e vigas que sustentam as coberturas de vidro; a madeira, nas vigas principais; o concreto, no piso e nas paredes; e o vidro nas coberturas, responsável por trazer iluminação natural ao espaço.

caminho da água pluvial calha tubo pvc reservatório subterrâneo

reservatório subterrâneo

Figura 82 Ampliação do sistema de escoamento pluvial Elaboração de autoria própria.

216

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 83 Diagrama humanizado e indicação da materialidade. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis | Anexo

217


trabalho final de graduação . 2021

cobertura em vidro 2cm

estrutura metálica da cobertura vigas madeira perfil metálico suporte para cobertura elevada viga madeira transversal cobertura vidro vigas metálicas suporte cobertura

vigas madeira

deck contemplação

pilar metálico

vegetação

laje em concreto

218

Figura 84 Diagrama estrutural do anexo. viga madeira Elaboração de autoria longitudinal própria.

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 85 Visão serial do anexo. Passeio central iluminado. Elaboração de autoria própria.

Figura 86 Visão serial do anexo. Deck de contemplação. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis | Anexo

219


trabalho final de graduação . 2021

5.3.3 MERCADO

O mercado é responsável por movimentar a economia e é um dos projetos âncoras do complexo. Contemplado entre duas unidades idênticas de diferença de 1 metro de disnível entre elas e conectadas por uma rampa, o mercado atende à comunidade gerando empregos e renda para seus habitantes.

Figura 87 (à esquerda) Diagrama em corte do mercado. Elaboração de autoria própria.

Figura 88 (à direita) Planta do mercado. Elaboração de autoria própria.

220

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

A

87,00 7,50

7,50

7,50 F

F

7,50 F

12,00

7,50

F

7,50 F

F

7,50

7,50

7,50 F

A

F

7,50

F

7,50

B

7

11

9

12 13 11

7,50

C

10

8

+755,00

3

4

F

F

F

F

F

F

F

F

F

F

F

F

F

F

F

F

C

2

12,00

1

B

D

E

2,80

2,80

+754,00

2,31

54,00

C

7,50

7,50

7,50

12,00

14

+754,00

B

+755,00

F

6

7,50

5 F

F

F

F

A

1 passeio central 2 box mercado 3 depósito individual 4 copa individual 5 almoxarifado 6 banheiros 7 armário resíduos

8 compostagem 9 depósito geral 10 depósito refrigerado 11 vestiários 12 casa de gás 13 casa de bombas 14 reservatório

F

F

F

F

G


trabalho final de graduação . 2021

No corte transversal abaixo é possível perceber que a passagem entre os boxes é elevada das demais, criando novamente a questão da dinâmica das alturas para o observador. As coberturas de passagem possuem também uma abertura zenital, que ilumina logo acima dos canteiros, presentes em cada uma das unidades. Figura 89 (abaixo) Corte A Transversal. Elaboração de autoria própria.

2

0

4

1

222

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Os canteiros centrais criam um clima agradável para o passeio da população, trazendo essa conexão ainda mais forte com o entorno de massa arbórea onde o projeto se insere.

Complexo Heliópolis | Mercado

223


trabalho final de graduação . 2021

2

0

4

1

Figura 90 (acima) Corte B Longitudinal. Elaboração de autoria própria.

Figura 91 (abaixo) Corte C Longitudinal. Elaboração de autoria própria.

2

0

4

1

224

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Complexo Heliópolis | Mercado

225


trabalho final de graduação . 2021

O escoamento pluvial segue a mesma lógica em todos os projetos. Há calhas metálicas na cobertura que levam a água ao reservatório subterrâneo. Além disso, outro elemento presente nos projetos é a cobertura TPO (termoplástica de poliolefina). Uma cobertura de estrutura em madeira que possui uma membrana impermeabilizante. A cor dessa membrana é a mesma em todos os projetos, criando uma linguagem de padronização entre eles. Os principais materiais utilizados são o aço, presente nos pilares e vigas dos boxes; a madeira, nas vigas principais; o concreto, no piso e nas paredes; e o vidro nas coberturas, responsável por trazer iluminação natural ao espaço. MEMBRANA IMPERMEABILIZANTE 1mm

PLACA OSB 6cm

CALÇO 2cm

ISOLAMENTO TERMOACÚSTICO 1cm

BARREIRA DE VAPOR 10cm

PLACA OSB 6cm

Figura 92 Ampliação da composição da cobertura. Elaboração de autoria Detalhe própria.

- Borda infinita Escala: 1:5

VIGA MADEIRA

226

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis PERFIL DE AÇO ATIRANTADO NA VIGA DE MADEIRA SUPERIOR


Figura 93 Diagrama humanizado e indicação da materialidade. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis | Mercado

227


trabalho final de graduação . 2021

viga metálica cobertura vidro

cobertura TPO (termoplástica de poliolefina) i=1% viga madeira secundária viga madeira principal

viga metálica boxes pilar metálico cobertura TPO (termoplástica de poliolefina) i=1%

228

Figura 94 Diagrama estrutural do mercado. Elaboração de autoria própria.

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 95 Visão serial do mercado. Passeio com canteiro central iluminado. Elaboração de autoria própria.

Figura 96 Visão serial do anexo. Passagem entre blocos. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis | Mercado

229


trabalho final de graduação . 2021

Figura 97 Visão serial do mercado. Relação entre o canteiro central e os boxes. Elaboração de autoria própria.

230

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Complexo Heliópolis | Mercado

231


trabalho final de graduação . 2021

5.3.4 PAVILHÕES

O último dos projetos são os pavilhões. Os pavilhões tem a função de trazer um espaço público e de lazer para a população residente do território de Heliópolis. A partir de diversos pavilhões procurou-se criar um ambiente flexível que se adapta-se a diversos usos. Contemplam um cinema, uma área de shows e eventos, espaços para prática de exercícios e atividades ao ar livre, um espaço para crianças e uma área de piquenique.

Figura 98 (à esquerda) Diagrama em corte dos pavilhões. Elaboração de autoria própria.

Figura 99 (à direita) Planta dos pavilhões. Elaboração de autoria própria.

232

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


1 pavilhões de chegada 2 piquenique 3 cinema 4 deck contemplação 5 shows e eventos

6 atividades ar livre 7 espaço crianças 8 banheiros 9 fraldário 10 depósito 13

14

15

16

17

18

19

20

B

A

12,

6,00

6,00

6,00

6,00

6,00

5,19

7,50

7,50

A 6,00

H

10

+753,11

6,00

15,05

I

4

+753,59

5

6,00

J B +753,00

6

K

+755,07

6,00

7

+755,05 +754,69

6,00

L

+754,50 6,00

M

N

7,00

6,00

C

+756,15

8

2

O

3

7,00

D

6,00

8

2,80

E

P

9

5,73

10

F

Q

+756,15

9,00

9,00

1 C

C

G

R 7,50

2,82

6,59

6,59

6,59

6,59

2,41

7,50

7,50

B

A

7,50

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11


trabalho final de graduação . 2021

O corte abaixo passa no cinema, ilustrando sua relação com as alturas e com o deck localizado logo ao final do cinema. O deck de contemplação é um espaço aberto com bancos, servindo como um mirante para o entorno rico em vegetação. Figura 100 (abaixo) Corte A. Elaboração de autoria própria.

2

0

4

1

234

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Além disso, o corte mostra um dos recortes da coberturas para abrigar uma cobertura de vidro, trazendo uma iluminação natural zenital para o espaço.

Complexo Heliópolis | Pavilhões

235


trabalho final de graduação . 2021

O corte B passa no pavilhão de shows e eventos, no playground para as crianças e na área de piquenique. Os diversos pavilhões possuem diferença de nível, fazendo juz à topografia do terreno, e indicando diferentes níveis para diferentes usos. Figura 101 (abaixo) Corte B. Elaboração de autoria própria.

236

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


2

0

4

1

Complexo Heliópolis | Pavilhões

237


trabalho final de graduação . 2021

O último corte mostra a diferença nas alturas dos pavilhões de chegada. Além disso, há também a presença de recortes para criar áreas de iluminação para dentro dos pavilhões.

Figura 102 (abaixo) Corte C. Elaboração de autoria própria.

2

0

4

1

238

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Complexo Heliópolis | Pavilhões

239


trabalho final de graduação . 2021

O escoamento pluvial também é feito por meio de calhas e um reservatório subterrâneo, além da presença da cobertura TPO, unificando os projetos. Os principais materiais utilizados são o aço, presente nos pilares e e vigas de sustentação das coberturas de vidro; a madeira, nas vigas principais; o concreto, no piso e nas paredes; e o vidro nas coberturas.

PLACA OSB 6cm

MANTA IMPERMEABILIZANTE 1mm

PLATIBANDA EM VISTA

PLATIBANDA MLC 5x30cm

CALÇO 2cm ISOLAMENTO TERMOACÚSTICO 1cm

BARREIRA DE VAPOR 10cm

PINGADEIRA

PLACA OSB 6cm

TABEIRA MLC 30x5cm

BARROTE MLC 10x30cm ° 13 4, 10

VIGA MLC

Figura 103 Detalhe da conexão entre calha, platibanda e viga de madeira. Elaboração de autoria 2própria.

240

Detalhe - Borda infinita Escala: 1:20

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


Figura 104 Diagrama humanizado e indicação da materialidade. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis | Pavilhões

241


trabalho final de graduação . 2021

O diagrama a serguir ilustra a estrutura e as indicações de cada peça utilizadas na elaboração da arquitetura dos pavilhões.

3 cobertura de vidro cobertura TPO (termoplástica de poliolefina) i=1%

2

vigas metálicas sustentação da cobertura

4

1 5 6

passagem coberta + rampa de acesso

vigas madeira secundárias pavilhões 1,2,3,4 vigas madeira secundárias vigas metálicas áreas molhadas pilar metálico deck contemplação

242

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis

vigas madeira principais pavilhões 5 e 6


Figura 105 (à esquerda) Diagrama estrutural dos pavilhões. Elaboração de autoria própria.

Figura 106 Visão serial dos pavilhões. Cinema. Elaboração de autoria própria.

Figura 107 Visão serial dos pavilhões. Área de exercícios ao ar livre. Elaboração de autoria própria.

Complexo Heliópolis | Pavilhões

243


trabalho final de graduação . 2021

Figura 108 Visão serial dos pavilhões. Área de piquenique. Elaboração de autoria própria.

Figura 109 Visão serial dos pavilhões. Área de shows e eventos. Elaboração de autoria própria.

244

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis



conclusões


CONCLUSÕES

O presente trabalho teve por objetivo estudar os impactos da pandemia do Covid-19 nas cidades, sociedade e na arquitetura e urbanismo, com enfoque principal nas áreas mais vulneráveis da cidade. Apesar da crise vivida atualmente, haverá diversas tendências a serem seguidas quando esse período acabar, e cada uma delas implicando diretamente no modo como nos relacionamos com o espaço. Conforme estudo realizado através de pesquisas, foi possível observar e analisar os territórios de vulnerabilidade social e o impacto causado pela pandemia. Através de históricos de desigualdade social e análises aprofundadas, é evidente perceber que as áreas mais vulneráveis necessitam de ações efetivas que tragam resultados palpáveis e as insiram na sociedade. O propósito do presente estudo visou captar os problemas existentes e pontos possíveis de falhas no território e buscar maneiras e soluções para amenizá-los. É então que surge a ideia de uma quadra autossuficiente, dando enfoque nas áreas e pontos fragilizados do Heliópolis. Uma tendência trazida pela pandemia é a opção por locais mais abertos, por áreas verdes e de respiro da cidade. Após esse período, praças, parques e espaços públicos serão mais valorizados, ganhando uma nova força, fazendo com que o futuro pós pandêmico foque na ideia de cidades mais abertas e democráticas, livre para todos os seus habitantes, sem discriminação. A proposta do projeto teve por objetivo a qualificação geral da Conclusões

247


trabalho final de graduação . 2021

área a partir de intervenções pontuais que conectam o território como um todo. Uma das áreas de enfoque foi a solução para lidar com o mundo pós pandemia, prevendo um projeto que prepare a cidade para futuras possíveis crises que poderão vir a ocorrer, as deixando mais bem amparadas frente às situações. A criação de um sistema de cadeia implica a ideia de criar um ambiente autossustentável, que sobreviverá em tempos de crise, como o tempo atual da pandemia do Covid-19. Os três projetos integrados serão capazes de resolver três problemas em um só lugar, e assim, o manter em funcionamento independentemente da situação global. A questão das estufas, hortas e produção de alimentos poderá servir tanto para consumo próprio dos moradores da área, quanto para fonte de renda deles, a partir do pressuposto de vender o que é produzido na horta no mercado (segunda proposta de projeto). Assim, há uma geração de fonte de renda alternativa para momentos de crise, onde não há o impacto tão direto da economia quanto existe em diversas outras áreas de empregos. E por fim, a última proposta de projeto é o refúgio dos habitantes. Um local ao ar livre, que garante o distanciamento social a partir de diversas técnicas aplicadas para inovar os equipamentos e tornar seus usos seguros. Além disso, a população ganha um espaço público de lazer, algo que carece atualmente no território do Heliópolis. Conclui-se que, o futuro de locais de vulnerabilidade social encontra-se no emprego de políticas que aprimorem a qualidade de vida da população. Pelo fato destes territórios serem um dos mais afetados pela pandemia, deverá ser o mais priorizado neste momento, garantindo amenizar as consequências que a pandemia do Covid-19 trouxe. Desta forma, a tendência é que se criem 248

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


espaços mais autossuficientes, e que funcionem por si só sem necessitar de agentes externos, a ideia de uma pequena cidade autossustentável. Certamente não é possível prever o futuro das cidades, mas podemos especular algumas ideias e identificar padrões e tendências que serão seguidas daqui para frente. A pandemia apenas escancarou e intensificou o que já era um problema: a desigualdade social. É certo que as áreas de vulnerabilidade social são as mais afetadas pela crise, e muitas vezes são também as mais negligenciadas. Nosso olhar deve-se voltar para uma política que contemple a todos, indistintamente.

Conclusões

249


referências bibliográficas


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A casa caiu: Como fica o direito à moradia em uma época que o doce lar virou ativo financeiro. UOL. Disponível em: <https://tab.uol.com.br/edicao/casacidade/#cover> Acesso em: mar. de 2021. ALBUQUERQUE, Flávia. Pesquisa expõe impacto da covid-19 na favela de Heliópolis, em SP. São Paulo: 5 de outubro de 2020. Disponível em: <https:// agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-10/pesquisa-expoe-impacto-dacovid-19-entre-moradores-de-heliopolis-em-s>. Acesso em: 19 mar. 2021. ALMEIDA, Mariana; CHUCRE, Fernando. São Paulo: Plano de Bairro do Jardim Lapena e Projetos de Intervenção Urbana – PIU. [S.I.]: Insper, 16 de março de 2021. 1 vídeo (1h51min) [Webinar]. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=Qi1bwgNL2Kw&t=1s. Acesso em 19 de mar. de 2021. ANDRADE, Vinicius; LING, Anthony. Pandemia: o fracasso das cidades? [S.I.]: Insper, 4 de maio de 2020. 1 vídeo (1h12min) [Webinar]. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=08acRrTrMEg. Acesso em 11 de mar. de 2021. ASSAD, Fernando; DE OLIVEIRA, Thais Caroline Venâncio; DUPRAT, Carla; PEREIRA, Jonatha; RESENDE, Jair. Habitação: desafios e oportunidades e as lições da pandemia. [S.I.]: Fundação FEAC, 25 de agosto de 2020. 1 vídeo (1h12min) [Webinar]. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6LJuD3hkbgo. Acesso em 11 de mar. de 2021.

Referências bibliográficas

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trabalho final de graduação . 2021

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252

Arquitetura pós pandemia: o futuro dos espaços públicos em Heliópolis


CUNHA, Francisco; RESTREPO, Gustavo; RISSO, Melina; SILVA, Carmen. A consolidação: sobrevivência política e comunitária. [S.I.]: Insper, 2 de setembro de 2020. 1 vídeo (1h43min) [Webinar]. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?time_continue=1871&v=T-tBtwznnyM&feature=emb_logo. Acesso em 11 de mar. de 2021. ESTEBAN, Paloma. Madrid ‘ficha’ a la Fundación Norman Foster, a Ezquiaga y a un ingeniero de Silicon Valley. El Confidencial, 2020. Disponível em: <https:// www.elconfidencial.com/espana/2020-04-28/madrid-comite-expertos-ezquiagafundacion-norman-foster-ingeniero-silicon-valley_2568923/>. Acesso em: 1 de set. de 2020. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. FJP divulga resultados atualizados do déficit habitacional e inadequações de moradias no Brasil do período de 2016 a 2019 por meio de nova metodologia. Fundação João Pinheiro. Disponível em: < http://novosite.fjp.mg.gov.br/deficit-habitacional-no-brasil-apresenta-tendenciade-aumento/> Acesso em: mar. de 2021. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. FJP Minas Gerais, c2019. Página inicial. Disponível em: <http://novosite.fjp.mg.gov.br/>. Acesso em: 12 de mar. de 2021. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Diretoria de Estatística e Informações. Metodologia do deficit habitacional e da inadequação de domicílios no Brasil: 2016 - 2019. Belo Horizonte: FJP, 2021. 71 p. Relatório. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Diretoria de Estatística e Informações. Déficit habitacional no Brasil: 2016 - 2019. Belo Horizonte: FJP, 2021. 140 p. Relatório. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Diretoria de Estatística e Informações. Inadequação de domicílios no Brasil: 2016 - 2019. Belo Horizonte: FJP, 2021. Referências bibliográficas

253


trabalho final de graduação . 2021

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