A Dimensão Estética – Introdução Lição I Há coisas que nos afectam sensorial e emocionalmente. Um poema, uma paisagem, uma história, um quadro, uma escultura, um arcoiris, uma música, um filme... A esses objectos chamamos objectos estéticos, porque nos chamam à atenção, tocam-nos de alguma forma: agradam-nos ou não, encantam-nos ou não, mas não nos são indiferentes! Quer isto dizer que lhes damos ou não VALOR (estamos num campo axiológico). Claro que cada um de nós sente, interpreta, desfruta (frui) esse objecto de forma distinta. Isto significa que é subjectiva a interpretação / o sentir de um objecto estético. Há pelo menos dois tipos de objecto estético: os naturais, produzidos pela Natureza, e as obras de arte, quando são produção humana.
Nesta imagem temos um poema (criação humana = Obra de Arte) e um luar (criação da Natureza)
Tarefa: Procure mais exemplos de objectos estéticos e identifique-os. Já sabe distinguir se são Obras de Arte ou Criação da Natureza, é fácil! A seguir discuta com colegas se gostam ou não de cada um deles, o que sentem, como interpretam... Vai ser interessante!
Lição II
Conceitos Essenciais Neste tema (unidade) vamos ter que aprender o significado destes e outros conceitos... e saber utilizá-los adequadamente. __________________________________________________
Sensibilidade Fruição Emoção Beleza Gosto Sublime Sentimento estético Prazer estético Contemplação Subjectividade Criação Transfiguração Genialidade
_______________________________________ Tarefa: Procure o significado destes conceitos e tente utilizá-los na discussão da tarefa anterior. Identifique a obra de arte apresentada, autor e título.
Lição III
A Experiência Estética é condicionada por vários factores
Ter maior ou menor sensibilidade estética depende de cada sujeito, isto é de cada "receptor". Quem nunca ouviu música clássica provavelmente dirá que não gosta. Quem nunca foi a uma exposição de pintura, quando olha para um quadro dirá que não lhe diz nada! Quem não está habituado a ler desculpa-se dizendo que não gosta. Se forem ver um filme com um amigo, cada um reparou em pormenores diferentes e interpreta a história de modo distinto. Um pode ter gostado e querer ver novamente, outro pode não ter percebido e valoriza o filme como mau. Ao ouvirmos uma música chinesa ou polaca, não sentimos o mesmo de quando ouvimos hip-hop, rock, jazz, uma balada, pop, ou fado, ou folclore português, ou samba... Porque será?
Questões importantes: Podemos aprender a gostar? Só gostamos do que conhecemos? A experiência estética é universal? A experiência estética é de natureza emocional e subjectiva ou é objectiva? O local onde nascemos, a cultura que apreendemos, a época, as vivências, influenciam a nossa sensibilidade estética? É honesto dizer que não gostamos só porque não conhecemos?
Pintura de Graça Morais ____________________________________________
Reflectir sobre estas questões e tentar dar-lhes resposta, de forma esclarecida, depois de pesquisar, é necessário e muito útil. É esta a tarefa deste passo.
Lição IV
Um Juízo Estético não é um Juízo Cognitivo Perante um objecto estético (uma obra de arte ou um fenómeno da natureza), como somos seres sensíveis (vemos, sentimos, ouvimos, interpretamos...), esse objecto toca-nos, não nos é indiferente... então emitimos um juízo, neste caso estético, um juízo axiológico ou valorativo; dizemos que gostamos ou não, que é horrível ou não, que nos agrada ou não, que preferimos isto e não aquilo...
É fácil perceber que quando dizemos "Gosto de Hip-Hop" não é o mesmo que dizer "Estou com 38º de temperatura" Qual é a diferença? A mesma entre: "Tenho imenso prazer ao ler poesia" e "A capital de Portugal é Lisboa" Pois é... O Juízo de gosto, ou juízo estético exprime um sentimento de agrado ou desagrado, por isso é subjectivo, varia de sujeito para sujeito, é discutível. O Juízo cognitivo expressa uma realidade objectiva, por isso indiscutível, é um juízo de conhecimento e não de gosto. Podemos também chamar-lhe juízo lógico-cognitivo, porque depende da coerência racional. Há Dúvidas? É impossível! É fácil demais entender esta diferença!
Lição V
A Obra de Arte é Fruto da Criação Artística Pelo que já dissemos anteriormente não há obra de arte sem criação, sem o criador, neste caso um ser humano com essa capacidade de criar, de transfigurar o real, de nos apresentar um objecto novo, diferente, único... Assim, temos o artista, o criador, que através de um processo criativo complexo, consegue produzir a dita obra de arte. Como é que isso acontece? É difícil descrever esse processo. Os próprios artistas têm dificuldade em expressar como ou porquê! Há partes conscientes e explicáveis e outras inconscientes e de difícil explicação e compreensão. Uma escultura, um poema, uma melodia, nascem de um conjunto de factores que afectaram o seu criador, tocaram-no, foram o pretexto, a alavanca, mas não são suficientes para compreender a obra na sua totalidade! Não é um processo meramente lógico, coerente, racional, objectivo, exactamente porque se trata de criação, transformação do real.
Picasso - O Guitarrista
O artista é um ser humano; as suas obras são o reflexo das suas vivências, do seu tempo, das suas preocupações, dos seus desejos, das suas frustrações, enfim, de tudo o que o rodeia! Na Mediateca temos um filme, da pintora Graça Morais, que pode ajudar a compreender este processo de criação. Vamos visualizar esse filme? Pelo que já foi dito, temos que concluir que a obra de arte não é uma cópia da realidade, é antes uma transfiguração dessa realidade.
Lição VI
1º a Acção, depois a Criação, por último a Contemplação No Princípio há a Acção. Significa que o artista, o criador, primeiro Vê, Observa, Interpreta, Entende, o que o rodeia... Só depois CRIA! A Criação não surge do nada, surge de toda a circunstância que envolve o artista (que é um ser humano), sofre por isso influências do que está à sua volta, de carácter: social, cultural, emocional, temporal, vivências pessoais, personalidade, talento, capacidades, preferências, hábitos... Só depois acontece o acto criativo, onde razão e sentimento, consciente e inconsciente fazem parte do processo criativo, transfigurando a realidade conhecida, objectiva, transposta para a obra de arte. Assim, o resultado desse processo criativo é a Obra de Arte. A Obra de Arte, depois de concluída e dada ao público é um objecto autónomo, vale por si mesma, não é o real, mas uma representação do real, por isso transmite emoção, transmite as mais variadas mensagens (é polissémica, diz-se por isso que é uma obra aberta, porque sugere múltiplos significados), provoca sentimentos, provoca o juízo estético. A Obra de Arte é a concretização do impulso criativo do artista, é a expressão concreta do talento e da criatividade do criador, é por isso um objecto único, original, raro, resultado do talento, imaginação, técnica, emoção e subjectividade/perspectiva do artista. É através da Obra de Arte que o artista encontra a sua forma de comunicar com o mundo, de intervir!!! Por isso, a Arte é também comunicação.
Salvador Dali, Persistência da Memória
Completar o Triângulo: Artista / Obra de Arte / Espectador Mas falta aqui algo que complete o "triângulo": O Espectador (o receptor) da obra! O Espectador é quem desfruta da Obra de Arte; quem interpreta, quem enuncia o juízo estético, quem avalia a obra. Com espírito aberto e atento, o espectador recria a obra, contempla-a, frui, de forma subjectiva, encontra ou não ali mensagens que descodifica, segundo as suas experiências pessoais, os seus conhecimentos, a sua sensibilidade e disponibilidade para "ler", recriar, as mensagens possíveis que a obra pode transmitir. Então a Arte é também COMUNICAÇÃO!
O Grito, Munch
Guernica, Picasso