H i s t ó r i a s q u e n i n g u é m o u v i u
R E T R A T O S D O R Á D I O
H i s t ó r i a s q u e n i n g u é m o u v i u
R e t r a t o s d o r á d i o
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Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes. (...) A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.
Fernando Pessoa
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p r e f á c i o
Paulo Camargo Vivemos tempos velozes. Rápidos até demais. Em uma mesma tela de computador, ou de tablet, e muitas vezes quase ao mesmo tempo, tornouse possível navegar pelas editorias de um jornal europeu, trocar mensagens com um amigo que mora a poucas quadras de sua casa e conversar, por Skype, com o chefe que está no Japão em viagem de negócios. Olho no olho, apesar da distância de milhares de quilômetros que os separa. Nesse mundo pautado pela pressa, e cada vez mais dependente da tecnologia, cinco estudantes de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) decidiram olhar em outra direção. Às vésperas de pegar o diploma e enfrentar a realidade do mercado de trabalho, Gustavo, Lucas, Olívia, Pauline e Thais, talvez movidos pela curiosidade de quem vive na cidade grande, mergulhado em uma realidade na qual elos virtuais muitas vezes
substituem laços presenciais, pegaram um desvio inusitado e original. Embarcaram em direção ao interior do Paraná, à procura de quem encontra no rádio, meio de comunicação ainda essencial na vida de tantos ouvintes ao redor do planeta, informações, entretenimento e companhia. Para registrar os hábitos de escuta dos seus personagens, o quinteto não se contentou em narrar o que viram e ouviram. Apesar de traçar, sob a forma de textos inspirados, os perfis de homens e mulheres do Paraná, a missão era ainda mais ousada. Queriam, também, registrar em fotos o cotidiano, os cenários muito particulares — e sempre bastante ricos — dessas pessoas. Lugares onde o rádio desempenha papel central, seja embalando-os com músicas deste e de outros tempos, ou dandolhes informações sobre o mundo que começa em seus quintais e se estende para além do horizonte.
A jornada os levou a Jaguariaíva, Arapoti, Guarapuava, Terra Roxa, São Mateus do Sul e à Ilha do Amparo, em Paranaguá, no litoral do estado. Nessa grande empreitada jornalística, materializada tanto em palavras quanto por meio de imagens que revelam tanto ou mais do que os perfis textuais, Gustavo, Lucas, Olívia, Pauline e Thais nos apresentam um Paraná múltiplo e profundamente humano, cheio de causos. E também de silêncios. Mediado pelo encantamento de quem se coloca em movimento para vasculhar o mundo com olhos e ouvidos muito atentos, este livro é a materialização da inquietude, curiosidade e perseverança de cinco jovens que desejam viver para contar histórias. Como todo bom jornalista deveria fazer.
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Localizada na regiĂŁo centro-oriental do estado, a 207 km de Curitiba, JaguariaĂva foi fundada em 1823 e hoje possui cerca de 35 mil habitantes.
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C O E L H O
Antônio Pereira é figura fácil em Jaguariaíva, mas poucos o conhecem pelo nome. Coelho, segundo ele próprio, é um apelido óbvio e muito cativante: todos o chamam assim e, por ser um homem espirituoso, não esconde seu sorriso e não se importa nem um pouco com as brincadeiras. Ele trabalha na portaria da grande Matarazzo, indústria que já foi frigorífica, nos anos 1920, hidroelétrica a partir dos anos 1960, e têxtil, entre as décadas de 1970 e 80. Atualmente, o espaço pertence à prefeitura e abriga uma escola, empresas privadas e até uma sala de cinema. Não importa quais as atividades realizadas dos portões para dentro, Coelho desempenha seu trabalho de monitorar quem entra e quem sai, e o faz com primazia, sempre muito simpático e atento. Antes de entrar no campo do trabalho formal, Antônio era vendedor autônomo e foi assim que ficou tão conhecido pela cidade. Levava um carrinho de mão pelas calçadas e vendia diversas coisas. Nessa época, ele lembra que levava um rádio portátil junto
aos produtos e escutava a única emissora da cidade enquanto trabalhava. O gosto pela radiofonia, no entanto, começou antes disso e Coelho o mantém até hoje. “Tem muito programa interessante de ouvir. Eu escuto sempre A Voz do Brasil e o Bom Dia Prefeito, que é local.” Ele explica que nesse horário, Baroni, o prefeito da cidade, fala sobre medidas do governo, entre outras coisas, que Coelho julga necessário serem postas ao público. Como amigo pessoal de Baroni, o porteiro diz que ele o ajuda bastante, principalmente no tratamento da epilepsia, mal do qual Coelho sofre há alguns anos. Tão próximo das autoridades da cidade, ele gosta muito de política e, por ter muitos amigos, até já se candidatou a vereador, mas se “encrencou” com o partido e desistiu da ideia, “pelo menos por enquanto”, ele prenuncia. Na guarita, o rádio entoa a “Suíte n.º1”, do balé Romeu e Julieta, obra do russo Sergei Prokofiev, na performance da Orquestra de Minneapolis. Coelho, que quase nunca saiu de sua cidade natal, aprecia
a música com gosto, reconhecendo que o rádio lhe oferece muito mais do que apenas programas sobre política. Além deles e das músicas, ele costuma ouvir as partidas de futebol aos domingos, e, às vezes, um pouco das missas. Apesar de contrariado, Coelho admite que costuma abaixar o volume do rádio nos programas religiosos. Coelho anda pra lá e pra cá, e junto dele vem um cachorro. Duque é a companhia maior do dono, que vive sozinho, já que não constituiu uma família. Os amigos que Antônio tem, vez ou outra, fazem visitas à portaria, mas em domingos como o de hoje, ele conta somente com o cão e o rádio. O sorriso, desengonçado, não desaparece por completo, mas Coelho parece mais sério. Senta-se fora da guarita e coça a cabeça, olhando para o céu. Nuvens escuras começam a se acumular no plano já muito cinza. O rádio toca uma ópera conhecida e Duque descansa ao pé da cadeira, enquanto Coelho espera pelo tempo, ou pela chuva.
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D O N A L É I A
O coração da “Rádio Jaguariaíva” está nas mãos de dona Léia, que há 28 anos mora no terreno onde se encontram seus transmissores. A poucos passos da varanda, limoeiros. Junto deles, torres e seus cabos de sustentação compõem a paisagem. Em um primeiro momento, dona Léia se apressa e se faz apresentável, depois disso — e apesar de ainda surpresa — começa a se mostrar mais receptiva. Zelar pelo equipamento da rádio da cidade nunca lhe deu motivos para reclamar, mas ela confessa que desde 2010, quando foi instalado um novo transmissor digital, sua rotina se tornou menos cansativa. dona Léia, costumava acordar às quatro e meia da manhã todos os dias para conferir o funcionamento dos aparelhos e, a partir das cinco até 11 da noite, entreouvia a frequência propagada pelas rádios. Com a modernização do equipamento, esta jornada foi reduzida e hoje condiz com os seus 64 anos. Das memórias que dona Léia tem de seu trabalho com a rádio, a mais marcante é das enchentes do
início dos anos 1990, que causaram graves prejuízos por toda a cidade e que inclusive chegaram a tirar a rádio do ar, já que parte dos aparelhos foi danificada. Exceto por esse episódio, seu ambiente de trabalho sempre se confundiu com seu próprio lar. As galinhas no quintal, as roupas limpas penduradas, as flores e cadeiras na varanda são detalhes de seu cotidiano. Muitos anos atrás, morando em Guaratuba, dona Léia levava uma vida bastante diferente e um tanto mais acelerada, até perder seu marido. Ela fala com pesar de quando se viu sozinha com sua filha e não teve outra opção além de ir morar com sua irmã e seu cunhado no interior do estado, na cidade de Jaguariaíva. Em pouco tempo, pôde se recompor, encontrando estabilidade e moradia na “chacrinha da Léia” como o espaço foi apelidado pelo pessoal da “Rádio Jaguariaíva”.
Universidade Federal do Paraná. “Ah! Essa menina já foi muito mais longe que a mãe…” lembra a senhora, segurando o porta-retrato com a foto da formatura de Regina. Como se compartilhasse um segredo, ela conta que Regina realizou o exame de aprovação para a Ordem dos Advogados do Brasil às vésperas do nascimento da filha e, com muito mérito, passou nesta primeira tentativa. É mais que aparente o orgulho que dona Léia sente ao falar da “menina” que criou quase sozinha, e o afeto com que se refere à sua neta é igualmente notável. Cada uma das três gerações da pequena família convive com o rádio à sua maneira. Regina e sua filha gostam de escutar, mas já contam mais com a TV, já a matriarca não nega e nem pode fugir de sua relação íntima com o rádio. Dona Léia depende do rádio e o rádio depende de dona Léia.
Vindo de sua cozinha é possível escutar as panelas no fogão a cozinhar o almoço e, ao fundo, o som da rádio. Dona Léia vive sozinha desde que sua filha se mudou para Curitiba para cursar Direito na
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R A U S I S Rausis caminha de um lado para o outro da antiga plataforma de trem. Microfone em uma mão, papéis na outra e fones cobrindo os ouvidos. Algumas pessoas se sentam nos bancos ou no chão e o assistem em sua andança. Seu filho auxilia na transmissão, na coleta de dados, na impressão de notas a serem lidas. É o feirão de sábado. Ouvintes dos arredores de Jaguariaíva podem anunciar produtos e serviços, ou pagam R$1,00 para o próprio locutor fazer a propaganda. Hoje Rausis faturou R$10,00. Ele ri com seu filho, mas de alguma forma não parece frustrado com o resultado do programa. Há 55 anos, Antônio começou a trabalhar na AM da cidade. Atualmente, mesmo aposentado, ele não consegue se ver longe dos microfones e garante que é por amor que mantém a tradição do feirão e outros programas que grava por conta própria. Sua primeira experiência na rádio foi como participante da dupla sertaneja Praiano & Praianinho, tocando ao vivo no estúdio da “Rádio Jaguariaíva”, mas Rausis queria trabalhar como radialista e não tardou muito para realizar seu desejo. Começou como assistente de sonoplastia, mas uma série de coincidências o levou até o cargo de diretor da emissora. Rausis substituiu o locutor da
manhã, vez ou outra que este faltou ao trabalho e acabou assumindo a posição. Mais tarde, o mesmo aconteceu, mas foi o diretor da rádio que Antônio substituiu. Rindo entre as palavras e com muita humildade, ele conta que tomou o lugar de seus superiores sem nem mesmo planejar que isso acontecesse. Antônio Rausis é um homem de sorte e parece reconhecer isso em cada história que conta, em cada sorriso que exprime. Com boa vontade estampada em seu rosto, ele abre a sala de antiguidades na sede da rádio e exibe as “velharias” como se fossem troféus. São discos de 78 rotações, válvulas de transmissores analógicos, tudo isso traz boas memórias ao senhor que já está em seus “70 e poucos anos”. Sua mulher, dona Neusa, o aguarda em casa para o almoço. No caminho, ele revela que ela já foi também ajudante na sonoplastia da rádio e brinca que o cargo deve ser abençoado. No quintal de trás um enorme escudo do Corinthians, pintado na parade, chama a atenção. O curioso é que, até então, Rausis havia dito repetidas vezes que torce para o Palmeiras e como se houvesse sido previamente combinado, Neusa sai pela porta da cozinha no exato momento em que o marido tenta explicar a decoração. “Eu sou
palmeirense, mas quem manda na casa é ela”, e os dois caem em risadas divertidas. Ao lado do canil se pode ver um “puxadinho” que foi reservado para o patriarca cultivar sua paixão pela radiofonia. Em meio à bagunça, é possível ver muitos discos, CDs, pendrives… No estúdio, com paredes espumadas e porta própria para isolamento sonoro, Rausis grava programas às sextas e aos domingos. As manhãs de sábado são na plataforma desativada, em frente à Praça Getúlio Vargas. O veterano do rádio confessa que mesmo se quisesse — e realmente não é o caso — ele não conseguiria viver longe de sua profissão. As galinhas cacarejando em uma gaiola no quintal e a hortinha cuidadosamente plantada são para o consumo da família. É possível dizer que Rausis tem tudo que precisa à mão. Sua mulher, filha e neta se aconchegam no sofá enquanto ele conta histórias da era de ouro do rádio, de quando ele recebia postais de cidades distantes e de outros países que captaram a frequência da AM de Jaguariaíva. Saudoso e cheio de altivez, Rausis aparenta estar em um conflito muito pacífico entre voltar no tempo e desfrutar de tudo que já conquistou.
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e m e r s o n
com rádio. Mas ele também faz demonstrações de desagrado em suas críticas e não mede palavras; vai direto ao ponto: “Impossível dizer que sou um ouvinte fiel a alguma rádio. Sou muito infiel, isso sim! Ouço todas elas, falo mal de algumas, não faço questão de agradar muita gente”. De um jeito ou de outro, porém, nota-se que o rapaz é muito bem quisto pela maioria dos responsáveis dentro das emissoras.
A mãe ouve o choro do bebê no quarto ao lado. Em pouco tempo, Vera descobriu o que acalmava seu filho: o som do rádio. Emerson se acostumou assim, sua canção de ninar favorita sempre foi a que estivesse tocando na emissora de melhor sintonia. Hoje, aos 16 anos, não é diferente. Mesmo incomodando a irmã, com quem divide o quarto, o rapaz liga o rádio e escuta até adormecer.
muitos radialistas e estúdios, o fanático começou a avaliar e escrever críticas sobre a programação das emissoras. Sua favorita é a “Jovem Pan” e, por isso, ele se diz um “panático”. Pensativo, ele faz comparações e garante que em nenhuma outra rádio ele foi tão bem tratado quanto na sua preferida. Sem papas na língua, revela: “Na ‘Transamérica’, por exemplo, eu fui muito mal recebido!”
Com o hábito criado desde cedo, Emerson não teve como escapar e se tornou um amante do rádio ainda antes da adolescência. Exibe sua coleção de prêmios que recebeu pela participação em diversas emissoras. Alguns dos presentes ainda estão embalados, outros são usados diariamente pelo menino. São CDs, canecas, camisetas, e adesivos, todos sinais da estreita relação que Emerson cultiva com as rádios da região e seus funcionários.
Não restam dúvidas: Emerson quer trabalhar no rádio e, para isso, tem estudado muito para o vestibular. Ele deseja cursar Jornalismo, ficar ainda mais por dentro do assunto, mas não sabe se quer ser locutor. Prefere pensar em trabalhar na redação ou até mesmo continuar fazendo críticas. O jeito apressado de falar e a empolgação do rapaz permitem deduzir que o assunto é motivo de nervosismo e, em se tratando de uma decisão tão importante, o sentimento é justificado.
Emerson tem todas as rádios salvas no sistema do aparelho da sala. Ele vira o dial e, sem olhar, diz a ordem exata em que aparecem os sinais das emissoras. Ao redor da casa, estão espalhadas gambiarras, engenhocas construídas por ele mesmo para captar melhor as frequências ou para manter os rádios em sintonia. Ele se lembra de inventar todo tipo de solução e perturbar a paz da casa várias vezes atrás de novos sons.
Nas redes sociais, Emerson deixa sua paixão pelo rádio bastante evidente. A foto de capa de sua página do Facebook diz “Eu amo rádio”. Algumas de suas fotos de perfil foram tiradas quando foi recebido nos estúdios e quase todos os itens “curtidos” têm a ver
Não se incomoda com o chiado das rádios, não gosta de assistir TV ou jogar videogame… Como muitos outros jovens de sua idade, Emerson tem um vício, sim, mas o que o torna diferente dos demais é que essa “dependência” pode lhe trazer um futuro
Sabendo da paixão do filho, Vera e Luiz estão acostumados a levá-lo às emissoras de outras cidades quando fazem passeios em família. No caminho, não há muita opção, Emerson vai sintonizando rádios diversas, até que alguém se canse dos chiados e troque por algum CD. Por conhecer pessoalmente
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c I L A E J O Ã O
Cila irrompeu porta adentro na sorveteria da qual ela e seu marido, João, são donos, e o ambiente logo clareou. Antes disso, ele, bastante desconfiado, dava uma informação ou outra sobre o estabelecimento que os dois abriram há cinco anos. Um homem bastante sério e calado, podia ser junto de sua companheira a personificação da lei da física — e também clichê romântico — “os opostos se atraem”. Cila vibra a cada pergunta feita, enquanto João permanece encostado ao balcão, observando. Os dois se casaram em 2005. Ela, dez anos mais velha que ele, parece ter também mais histórias para contar. Quando jovem, Cila se mudou do Rio Grande do Sul para uma fazenda no interior do Paraná e só então entrou em contato com o rádio pela primeira vez. Tinha um daqueles aparelhos grandes como “caixotes” e garante que, se forçasse bem a memória, lembraria-se de histórias muito interessantes com relação ao hábito. “Toda vida fui ‘escutadeira’ de rádio, minha família toda era”. Sua mãe, muito bem humorada, costumava fazer piadas enquanto elas ouviam notícias e radionovelas. Cila contou bem baixinho, talvez tentando evitar que João a escutasse, das
vezes em que sua mãe soltava ‘pum’ e culpava o radialista quando o mau cheiro tomava conta do ambiente. “Mesmo adolescente, eu acreditava que podia ter um homem bem ali, dentro daquela caixa enorme, fazendo essas porcarias!” Ela confessa, rindo delicadamente. Cila reconhece os locutores por suas vozes e tem alguns deles como amigos, mas já não tem o mesmo costume — talvez mania — de antes. Ela admite que a TV ocupa seu tempo cada vez mais e que o conflito entre um meio e outro é tão normal que várias vezes já se pegou assistindo TV com o rádio tocando ao fundo. Seu João também sempre gostou de escutar rádio, mas expressa seu gosto de forma mais singela. A rádio da cidade patrocinava sua sorveteria e durante esse tempo, a freguesia era bem mais assídua. A parceria terminou no ano passado, mas o comerciante e sua mulher continuam ligando para a emissora, pedindo suas músicas sertanejas favoritas e participando de sorteios e promoções.
oferece o chimarrão, dizendo que não pode negar suas raízes. Só então que ela se senta, suas meias ⅞ folgadas deixam à mostra um dos joelhos. De repente, a senhora se debruça sobre seu passado e revela histórias como as do tempo que ela costurava as roupas de um mágico e passou uma temporada viajando com um circo. Ou das várias vezes que foi em excursão para Aparecida, tendo sido vítima de um assalto coletivo em uma dessas viagens. Ela conta que criou sozinha sua filha, hoje advogada, sem entrar em detalhes sobre o pai dela. E, para encerrar a série de breves relatos autobiográficos, deixou escapar ter “atentado contra a própria vida” pouco tempo atrás. Incrivelmente, quanto mais ela compartilha, mais misteriosa e intrigante sua história soa aos ouvidos de completos estranhos. Sabendo pouco sobre o passado dela e nada sobre o dele, é ainda mais difícil entender o que uniu Cila a João. Talvez tenha sido o medo da crescente solidão, ou mesmo o fato de serem tão o avesso um do outro. Ela canta e dança ao som da música no rádio, enquanto ele permanece ao balcão, somente a escutar.
Cila se ausenta e o silêncio retorna, mas em poucos minutos ela vem com cuia e térmica em mãos,
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Emancipado de Jaguariaíva em 1955, o município de Arapoti tem cerca de 27 mil habitantes e está a 249 km de Curitiba.
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z e l ã o
Um locutor de rádio que conhece seus ouvintes pelas vozes, sabe onde a maior parte deles mora e o tipo de música que gostam. Esse é Zelão, uma figura cativante, bem-humorada e polêmica de Arapoti. José Adão é seu nome verdadeiro, mas há muitos anos que responde pelo apelido. Seu jeito descontraído e engraçado cativa de forma singular quem escuta, em especial as mulheres. “Eu hoje estou sossegado, com minha mulher, mas essa profissão já me rendeu muita história maluca pra contar”. Zelão brinca que não sabe como conquista tantas mulheres, garante que só pode ser a voz, mas fala de um jeito que parece admitir que a lábia, e até mesmo certo status o ajudam bastante no tratamento das moças da região. O locutor é uma espécie de Don Juan do rádio e não nega a fama. Tem seis filhos e um a caminho. Quantas mães estão envolvidas na grande família não se sabe. Aos 47 anos, José é casado com uma menina de 20. Ele mostra fotos dela com ar levemente orgulhoso e ri ao constatar que tem quase a idade do avô de seu
próximo filho. “Que que eu vou fazer? As mulheres corriam atrás de mim, a maioria era ouvinte que vinha aqui na rádio e tudo… Mas agora com a minha novinha eu me aquietei, chega de brincadeira.” Ele parece mais sério por um momento, mas logo torna a rir e contar seus causos antigos. De suas histórias, a mais impressionante é sobre como ele entrou para a radiofonia. Zelão foi por muito tempo um pirata, um procurado da Polícia Federal. Em 2005, ele fez uma permuta interessante e que lhe rendeu quase todas as histórias que conta agora. Ele consertou o carro de um amigo — trabalhava com mecânica na época — e em troca recebeu um transmissor de rádio. No entanto, sempre que pensava em fazer alguma coisa com o aparelho, Zelão era tomado por uma timidez da qual nem se lembra mais atualmente. Cada vez que pegava o microfone ficava mudo e desistia da ideia de se comunicar. Com o tempo e sem que ele ao menos soubesse o porquê, todo esse constrangimento passou e de repente, Zelão era um dos radialistas mais conhecidos da região. Pouquíssimas pessoas sabiam
que a rádio era pirata, seus ouvintes eram muito fiéis e participativos. Durante o final de semana, enquanto as outras emissoras tinham programações fracas e sem muita interação com o público, o pirata agitava as horas da pequena cidade do interior. Além do sertanejo “de lei”, para agradar os ouvintes, Zelão procurava sempre ler e comentar notícias que retirava da Internet. Recebia em média 600 mensagens de ouvintes pedindo músicas e comentários, elogiando o programa e, claro, procurando se encontrar com a voz mais famosa da região. Mas essa vida bandida era cansativa. José Adão se mudou de casa algumas vezes “fugindo” da Polícia, e mesmo nessas condições atuou por quase sete anos na ilegalidade. Sabendo que o dono da AM de Arapoti se frustrava por perder comerciais e ouvintes para um pirata, ele resolveu se render e procurar emprego na emissora formal. Desde 2012 leva uma vida mais calma e discreta, mas sua voz terá sempre o trinado do Don Juan das rádios.
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e l i a s p a s c o a l
15 relógios abertos sobre a mesa. Seis outros pendurados nas paredes, marcando horas inexatas, ponteiros, cucos, caixas de madeira... A sala de estar da casa de Elias Pascoal mais parece um enigma de Lewis Carroll. Alguns cabelos brancos não escondem sua idade, mas é fato que ele aparenta mais jovem do que é, talvez seja por tanto mexer com as horas. A porta da casa já estava aberta. A luz do sol entrando pela janela da sala é absorvida pelo rosto franzido e um pouco cansado. Fora a estranha quantidade de relógios espalhados, há também um constante ir e vir de pessoas, com tábuas e ferramentas responsáveis pelas obras sendo executadas ao redor da casa. Pascoal senta tranquilo, seu caráter receptivo e atencioso transparece e cumprimenta quem passa pela sala. Um homem estudado, polido, começa a contar sobre seu grande interesse pelos diversos meios de comunicação. Elias estudou Publicidade, e com isso teve acesso a áreas que muito lhe interessaram, como a radiofonia. “Nunca fui e não sou bom ouvinte de rádio, mas sempre gostei de como a comunicação é feita por meio dele.” Essa afirmação
pareceu contradizer o resto dos relatos, pois mesmo sem muito hábito de escutar, o curioso adquiriu a concessão da AM de Arapoti em 1995. Em seis meses a rádio estava montada e funcionando. Elias se lembra de ter se divertido bastante e de ter se sentido ainda mais próximo de sua cidade e dos moradores enquanto era dono da rádio. Na realidade, ele se sentia mais próximo do mundo todo já que na rádio era possível captar a frequência de emissoras de outros cantos do planeta. O publicitário procurava entender de onde vinha o sinal e escrevia cartas para os radialistas que compreendia. Mas a história não durou muito e, segundo Pascoal, burocracias e desentendimentos políticos impossibilitaram que ele continuasse no ramo. As lembranças do tempo da rádio são — em grande parte — boas e renderam um novo hobby ao estudioso. Elias começou a colecionar aparelhos antigos de rádio. Abrindo caminho para a pequena casa que faz de depósito ele conta que possui o que acredita ser um dos “caixotes” mais antigos do Brasil. É um Philips — teria vindo para o Brasil com imigrantes europeus — e Pascoal garante que a antiguidade
ainda funciona. Ele pluga na tomada, os chiados começam, a luz acende bem fraca, com o ajuste no dial, se pode ouvir uma música sertaneja conhecida e a satisfação se faz visível no rosto do colecionador. Da mesma forma funciona sua fixação por relógios. Os mecanismos, as engrenagens, a funcionalidade são elementos que fascinam Pascoal e sua excentricidade. Em sua defesa — se é que é preciso se defender de seus hobbies — ele explica em um argumento justo e muito bem colocado que mesmo aos 56 anos, ele não tem vontade de parar de estudar e ampliar seus conhecimentos sobre essas duas invenções tão importantes para a história da humanidade. Mesmo sem a boa vontade para ouvir rádio, Elias Pascoal é figura marcante no meio. Expressa sua paixão por comunicar-se de modo peculiar e assim preserva uma história importante, seja contando suas experiências da época em que esteve diretamente envolvido com a radiofonia, ou mantendo sua coleção de antiguidades.
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Polo de desenvolvimento de regi達o centro-sul paranaense, a cidade de Guarapuava tem 190 mil habitantes e fica a 252 km de Curitiba.
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D O N A M A R I A
A sede da rádio “Cacique 760 AM” fica em uma das ruas mais movimentadas de Guarapuava. Cravada no centro da cidade, a rádio apresenta uma programação variada, pautada pelo gosto popular. A emissora toca desde música caipira aos sucessos do sertanejo universitário, além de ser conhecida pelas promoções e notícias sobre Guarapuava. Os locutores e funcionários da rádio recebem o carinho de muitos ouvintes, mas existe uma admiradora especial: dona Maria é o exemplo perfeito da relação tão próxima que a rádio mantém com seu público. Toda semana, a senhora de 73 anos caminha até a sede da rádio levando doce de abóbora, bolos e outros quitutes que prepara com esmero para todos os funcionários da emissora. Maria de Lourdes Rocha foi casada durante 46 anos com um caminhoneiro, que cruzava todo o Brasil dentro da boleia. A senhora encontrou no rádio a companhia necessária para aliviar as saudades do marido enquanto acompanhava o crescimento dos filhos. A aposentada transmitiu sua paixão
por escutar aos seus descendentes, educou três gerações sob a batuta do rádio. O hábito contagiou até suas sete bisnetas, que unem o costume iniciado pela matriarca à intimidade com a tecnologia típica dos jovens — ouvem rádio pelo computador, pedem músicas aos locutores via SMS e participam de quase todas as promoções realizadas pelas rádios da região. O gosto das meninas pelo rádio foi o que estreitou as relações entre a família e a “Rádio Cacique”. Quando uma delas ganhou um sorteio, toda família se reuniu para ir retirar o prêmio e conhecer os locutores que ouviam diariamente. De lá pra cá, todas elas são consideradas boas amigas daqueles que trabalham na “Cacique AM”. O radialista gaúcho, Joacir Rolim, um dos apresentadores mais populares da emissora faz piadas sobre a matriarca da família no ar e sempre manda recado para suas meninas, que acompanham a bisavó em seus “passeios” pela rádio.
que transmite ao vivo o que acontece dentro dos estúdios no site da emissora. Quando se interessa por alguém que está no programa da hora, pede para alguma das bisnetas abrirem a página para que ela possa ver quem é o convidado. Pela casa estão espalhados alguns rádios, há aparelhos modernos e também rádios de pilha, além do computador. O rádio que permanece ligado por mais tempo fica na cozinha, discreto sobre uma prateleira repleta de produtos enlatados. Dali, dona Maria consegue ouvir a programação enquanto cozinha ou estende as roupas no varal. Sua casa está sempre cheia com seus filhos, netos e bisnetos que vêm visitar e passar um tempo com a matriarca. O barulho de gente ecoa por todos os cômodos, que têm cortinas no lugar de portas. Nesta casa, muito se cozinha, muito se costura e muito se ouve. A rotina da família segue assim, sempre embalada pela programação da “Rádio Cacique”.
Dona Maria não se contenta em apenas ouvir, gosta também de assistir aos programas da rádio Cacique,
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J O Ã O E O S N I
Seguindo pela BR 277 sentido centro do estado, nos arredores de Guarapuava, existe um pequeno município chamado Pinhão. Passando por uma das muitas estradas de chão que dividem a região, saltam aos olhos vistosas fazendas de criação de cavalos, cultivo de soja e outras atividades rurais. Neste lugar existe uma fazenda que, diferente das demais, não possui nenhum sinal de identificação. Não há portal, caixa de correio ou número postal — só se reconhece a propriedade pela existência de uma casa de cachorro e seu morador, um simpático vira-lata branco do tamanho de um São-Bernardo.
A rotina que desconhece finais de semana ou feriados tem um belo pano de fundo: colinas e bosques que também presenteiam quem chega com sons de inúmeros pássaros e água corrente, um local de trabalho livre dos ruídos da cidade grande. Apenas um rádio toca continuamente, baixinho e distante, como se fizesse parte do som ambiente. Companheiro diário e indispensável, o dial do radinho de pilha percorre estações para agradar a ambos, variando entre música sertaneja e moda de viola, clássicos gauchescos, programas religiosos e as notícias sobre o mundo que parece tão distante dali.
As terras ficam sob os cuidados de dois homens, Osni Sebastião de Moraes e João Maria Marques. A dupla toma conta da horta, de um pequeno lago e dos pinheiros e pés de laranja espalhados pela fazenda, que eles dizem pertencer a um “figurão” da justiça nacional. A criação dos animais da propriedade também fica a cargo dos dois. Com botas de borracha gastas pelo trabalho pesado do dia a dia, camisetas largas e um semblante tranquilo que faria jus a um monge, eles recebem um ocasional visitante com toda cordialidade. João usa um boné para se proteger do sol, enquanto Osni prefere um chapéu de palha.
João Maria é o mais falante da dupla. Enquanto conta a trajetória de sua vida, aproveita para divagar sobre os mais diversos assuntos, da economia do Brasil às técnicas de planejamento familiar. Ele remonta sua árvore genealógica numerosa, 20 irmãos, “hoje somos oito, eu acho. Os outros 14 não vingaram”. João lembra que quando menino, em pleno auge da era de ouro do rádio no Brasil, costumava caminhar mais de cinco quilômetros nos fins de tarde para ouvir as novelas na casa do vizinho mais próximo, seu Antônio. As mulheres em volta duvidavam que houvesse homens cantando dentro de uma caixa tão pequena, conta ele às gargalhadas.
O colega Osni não se lembra de muitos detalhes da presença do rádio em sua juventude, mas o antigo hábito de acordar todas as manhãs na companhia de seus radialistas favoritos resiste à passagem dos anos. Quando jovem, ele animava as festas da região tocando pandeiro e sanfona, mas lamenta nunca ter tido a oportunidade de tocar no rádio. Por vezes, a única visita que João Maria e Osni recebem na fazenda é a do dono, que vem lhes pagar os salários. Com as respectivas famílias vivendo em outras cidades e filhos e netos espalhados pelo Brasil, os dois senhores dividem uma casa muito bem dividida: duas cozinhas, dois fogões a lenha, dois banheiros, dois quartos e três rádios. Só em caso de extrema necessidade a dupla é levada a caminhar até a cidade, seja por motivos familiares ou pela falta de algum produto que não possa ser substituído ou improvisado por alguma ferramenta que tenham. Caso contrário, eles estarão sempre ali.
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Terra Roxa — cujo nome nasceu de uma confusão entre os colonos italianos que falavam da “terra rossa” (terra vermelha) — possui cerca de 17 mil habitantes e está situada no extremo-oeste do Paraná, na fronteira com o Paraguai, a 628 km de Curitiba.
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A P A R E C I D A E J O Ã O
“Que é que vocês querem com a minha véia?”, brincou seu João, entrando pela cortina que cobre a porta dos fundos da peixaria. dona Aparecida já contava sobre a vida dos dois quando seu marido quis entrar na conversa. Abraçados, eles parecem um casal de jovens, dando a impressão de que um amor como aquele os preserva na mesma harmonia de quando se casaram, há 39 anos. João é pescador e, com a ajuda de sua esposa, mantém a peixaria Rainha, no mesmo terreno onde moram. Talvez por isso seja fácil se sentir em casa naquele ambiente. As roupas folgadas e os chinelos são sinal de conforto e não de desleixo. A prontidão e a hospitalidade, comuns nas cidades do interior, são como enfeites na sala de estar; Aparecida e João os exibem com gosto. Poucos minutos de conversa e o casal passa ao seu canto preferido no terreno, deixando a peixaria aos cuidados do neto e do irmão de dona Aparecida. O papel de parede do cômodo são gaiolas. Dentro de cada uma delas, há dois pássaros, canários em sua maioria. João os exibe com cuidado. Parece se divertir no viveiro, aponta gaiolas com pequenos
ninhos e conta como os pássaros se alimentam. Lá fora, Aparecida mostra duas aves silvestres, que não deviam estar na gaiola, explicando que como foram criadas assim, não teriam chance se fossem soltas em seu habitat natural. Em meio a esse cenário, é possível notar um discreto figurante, repousando sobre uma cadeira suja atrás da porta do viveiro. Um rádio, igualmente sujo, chia baixinho uma canção ininteligível. Seu João aumenta o volume, dá uns toques e, sem muito esforço, sintoniza melhor a transmissão. Toca o sertanejo de costume, Aparecida brinca com os cachorros e começa a contar sobre seu apreço pelo rádio. Mesmo tendo TV em casa, ela gosta mais de escutar os programas de emissoras como a “Vale Verde” ou a “Pantanal”. “Imaginar as situações é muito mais emocionante”. A senhora lembra-se de um aparelho antigo que tinha quando adolescente, mas logo exibe outro mais novo, que costuma deixar junto do balcão na peixaria. O rádio é peça-chave na vida do casal há muito tempo. Quase todos os dias pela manhã, João e Aparecida escutam o programa do padre Reginaldo
Manzotti. A tradição é mantida por motivos que vão além da religiosidade. Por meio do rádio, os dois se encontram e se entendem. No entanto e sem muita surpresa, o hábito não passou adiante na família. O neto do casal não gosta de ouvir rádio. Prefere a TV e os videogames, mas admite que às vezes escuta com os avós. Aparecida retorna à porta da peixaria e se senta na cadeira ao lado de seu irmão, Antônio, que vive com o casal desde o falecimento do pai. Ele também ouve rádio, sabe dos horários de alguns programas e das emissoras que os transmitem, mas não fala tanto quanto a irmã mais nova, e logo o assunto se converte em um passeio pelas memórias de seu João e Aparecida. “Por dois anos, ela me judiou, mas eu insisti e ela aceitou casar”, ele confessa, enquanto sua esposa ri com gosto. Aos 59 anos os dois demonstram pleno contentamento no simples fato de estarem juntos. Com o rádio sobre a cadeira no viveiro, João e Aparecida não precisam de muito para entrar em sintonia.
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J O S I A N E
Josiane mostra um álbum de fotos do filho de dez anos, “um guri grande e gordo, nem aparenta a idade que tem”, diz a mãe orgulhosa. Esse elogio extravagante diz muito sobre a personalidade da balconista de 33 anos, uma figura tão singular quanto sua relação com o rádio. A paixão pelo rádio vem da adolescência, época em que Josiane e a irmã, Adriana, costumavam mandar cartas perfumadas aos seus locutores favoritos. Querendo saber que rosto tinham as vozes que as seduziam pelo rádio, as duas planejavam fugas e faziam uma cruzada pelas emissoras da região. Ela conta que chegou a conhecer seis radialistas, mas saiu decepcionada de alguns encontros. Rindo espontaneamente, ela questiona, “como é que pode? Umas vozes tão bonitas em uns homens tão feios”. Josi desfia um rosário de histórias inusitadas, se atropela com as palavras, tamanho o entusiasmo em narrar os causos de sua vida. Conta da vez que conheceu um namorado pelo rádio. Logo depois de se separar do marido, voltou a acompanhar os programas de rádio que marcaram sua adolescência. E foi em uma dessas madrugadas em que ouvia o Ilha
My Love, programa romântico da “Ilha FM”, que a voz de Daniel lhe chamou a atenção. Ela anotou o número do moço e logo tentou contato. De sua parte, Daniel diz que só atendeu ao telefonema de Josiane porque ela foi a única pretendente que não ligou à cobrar. Em três meses, eles já estavam morando juntos. Coincidência ou não, Josiane já conhecia a família do rapaz, que também morava na Bela Vista, distrito rural da cidade de Guaíra. A união durou um ano e meio e desde a separação, Josi vive com o filho em Terra Roxa. Há poucos anos, Josiane trocou definitivamente a televisão pelo rádio depois de ser diagnosticada com depressão. Ela conta que relatos dos noticiários de TV a deixam perturbada, “fico pensando naquelas notícias horríveis por dias” e, por isso, só ouve música ou então programas humorísticos ou de variedades. Nos lugares onde trabalha, se não há um rádio ligado durante o expediente, bate o pé até que um aparelho seja instalado. Um dos programas favoritos de Josi é o Música da Minha Vida, em que ouvintes mandam cartas contando sobre a relação da música com algum momento marcante. As cartas
são lidas em tom melodramático enquanto a canção escolhida toca ao fundo. A casa da comerciante é modesta, mas ela não se acanha, “eu lá vou ter vergonha do que é meu?” e dá uma risada sonora. O riso, alto e estridente, é uma de suas características mais marcantes. Josiane mostra os cômodos de sua casa enquanto fala de seus planos para o futuro. Recentemente, ela voltou às carteiras escolares para concluir o ensino médio. Toda noite, Josi deixa o filho aos cuidados da vizinha e parte em busca do diploma. “É muito ruim ir de moto até o colégio no frio, mas preciso dar uma vida melhor pro meu filho”. A motocicleta azul é seu xodó. Josiane não usa outro meio de transporte, o balanço das quatro rodas lhe causa enjoos. Ela lamenta não poder percorrer longas distâncias com o veículo. Rindose, sugere: “eu devia trabalhar como motoboy”. O jeitinho amalucado de Josi não deixa dúvidas de que parte dela ainda conta com o espírito aventureiro da adolescente que corria atrás de radialistas.
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V A R I a D O
Marcos se apruma ao volante, os acordes da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, ecoam pela cabine: começou A Voz do Brasil. O programa lhe faz companhia, distrai, e vez ou outra o ajudou a permanecer acordado pela estrada. Há uma pequena TV acima do painel, mas é impossível dirigir e prestar atenção às imagens ao mesmo tempo. Mas não é só por isso que o caminhoneiro prefere o rádio. Há pouco menos de 25 anos o então jovem frentista sonhava com as estradas e os lugares sobre os quais motoristas de todas as partes do país lhe contavam. Variado, como gosta de ser chamado, não tem outra explicação para o que o levou para o asfalto; foi a mais genuína curiosidade. Ele conta da época em que começou e como era tão ingênuo, até mesmo medroso. “Mas caminhão é pior que droga, não tem como largar”, e assim Variado, hoje aos 50 anos, ainda não tirou as mãos do volante. Rapidamente ele fez o cálculo e se surpreendeu com o resultado, com o número de anos que já está na estrada. Marcos pergunta se está velho, mas é evidente que não. É provável que seus olhos e seu
sorriso tenham sido sempre do jeito que ele os exibe hoje. Os cabelos já são um pouco grisalhos mas o boné trata de escondê-los, talvez sem essa intenção. É aniversário de sua mãe, dona Maria, ele fez uma ligação rápida para lhe desejar um feliz dia e dar parabéns. Com um tom irreverente e ao mesmo tempo respeitoso, ele lembra que ela se preocupava muito no início de sua carreira, mesmo porque seus irmãos também já se aventuravam pelas estradas. Mas ele torna a dizer o quão viciante é o trabalho e admite que, para tranquilizar a mãe, sempre dirigiu com muito cuidado. Dois, sete, 19 e 24, são as idades de seus quatro filhos. Variado foi casado por algum tempo, mas, por causa de sua profissão — costumava passar entre 20 e 40 dias fora de casa — a união não deu muito certo. Com sua nova namorada teve o filho mais novo, mas pensando na criação dos outros três, ainda vive com a ex-mulher em Umuarama . Suas unhas bem cortadas, como ele mesmo aponta, são sinais dos cuidados da nova companheira, mas o caminhoneiro explica, “Eu não sou bichona não!” Afirmação que foi
seguida por uma sonora gargalhada, evidenciando seu tom de brincadeira. Com o pé na estrada, Variado deixa seu espírito jocoso de lado. Revela que não utiliza o PX, sistema de rádio de uso comum entre caminhoneiros, justamente por conta dos vários motoristas que não levam a sério e fazem muita farra, principalmente durante a noite. Marcos desliga o equipamento e encontra nas FMs informação e entretenimento que lhe agradam. Seu locutor favorito é o Nego da “Radio T”, uma figura “fora do comum” que conduz programas humorísticos. Além destes, o sertanejo “de verdade” faz parte de seu caminho que hoje é traçado somente dentro do estado do Paraná. Ao longo dos anos em que percorria todos os outros estados do país, A Voz do Brasil foi o único programa que podia escutar não importa onde estivesse. O hábito permaneceu e o levou por quase todo lugar. Marcos ficou devendo visitas ao Acre, a Roraima, ao Amapá e ao Amazonas, mas diz que deixou saudades — e talvez um filho — no Piauí.
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I S R A E L E L A U R A
O pó de cimento acumulado junto às rugas em seus olhos azuis permitia deduzir que seu Israel não tirou a tarde para descansar. Seu relógio desperta antes das cinco todas as manhãs durante a semana, mas mesmo aos sábados ele sempre encontra algo que precisa de conserto, de um jeitinho aqui ou ali. Seus braços não negam trabalho algum e seu sorriso inibido não dispensa uma boa conversa.
e revela um pouco de nostalgia. Esses passeios se tornaram raros desde que tiveram o primeiro filho, mas nenhum dos dois perdeu o hábito de escutar música e nem o apreço pelo bom e velho sertanejo.
Há simplicidade e uma certa pureza em seu jeito de falar e sua personalidade assertiva permeia cada frase. “Minha muié é nota dez”, Israel exclama apresentando dona Laura, com quem é casado há 26 anos. Os dois têm ares dispostos e genuinamente solícitos, apesar de ser ela quem mais fala. Explica que seu marido é um tanto acanhado e não gosta muito de sair em fotografias, mas que é bom contador de histórias.
Um rádio portátil na mesa de canto da pequena sala capta os sinais de emissoras distantes, ou nem tanto. Dona Laura não se incomoda muito com o chiado. Ela costuma escutar todo tipo de programa, desde as orações e bênçãos do padre Reginaldo Manzotti, até as piadas e causos contados por Juca Bala, locutor de uma de suas rádios preferidas. Seu Israel não vê valor na televisão; para ele, seu rádio cumpre muito bem o papel de deixá-lo informado e de disfarçar o silêncio que o cerca. Rindo, lembra-se dos programas de comédia que escuta pela manhã e à tarde, e confessa que já teve vontade de ligar e participar de alguns programas, mas nunca o fez.
Quando jovens, Israel e Laura costumavam se aventurar e viajar muito. Uma vez, há algum tempo, partiram com uma excursão ao encontro de Amado Batista, o aclamado cantor romântico e, ao lembrarse da ocasião, dona Laura abre um largo sorriso
Para ouvir música, notícias ou as missas, seu Israel e dona Laura conhecem as rádios ao toque do dial e sabem quase de cor o arranjo das programações e os radialistas responsáveis. Apesar de ter visto o rosto de poucos deles, as vozes, como garante dona
Laura, são facilmente reconhecíveis. Ela também assiste novelas na TV à noite, mas quando se trata de notícias, ela prefere o rádio, que dá espaço à imaginação e, sem dúvida, emociona muito mais do que a maneira rasa com que as histórias são tratadas na televisão. Os dois papagaios domesticados do casal gargalham no quintal. Seu Israel e dona Laura, sentados na varanda, compartilham risos e lembranças de quando seus filhos eram apenas crianças. Israel conta dos sucessos de sua filha, agora na universidade, e em uma mescla de orgulho e humildade, revela quanto de seu trabalho e esforço é dedicado a essa nova etapa na vida da família. “Pra nós, não tem nada melhor que ver os filhos fazendo o que eles gostam.” O entardecer em Terra Roxa promete uma noite tranquila, ao som das modas de viola no rádio. Para seu Israel e dona Laura o dia seguinte será como quase todos os outros: trabalho na roça, comida no fogão e conversa na varanda.
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R E G I N A L D O
Uma voz profunda diz “bom dia”. Poderia ser do locutor de uma rádio, ou até do galã de uma radionovela, mas a voz é de Reginaldo cuja mão está estendida oferecendo um aperto firme. Um homem de poucas palavras e certa polidez, caminha devagar até chegar ao curral onde estão algumas vacas das quais ele cuida. Reginaldo trata de gado desde que era “bem piá” e gosta tanto dos bichos quanto se pode gostar de cachorros ou gatos domesticados.
com outras pessoas. Um certo mistério envolveu o assunto por um instante, mas logo se dissipou com a chegada de Rafael. O filho mais velho tem o porte e a seriedade do pai, mas contrasta tão completamente no modo de se vestir, que talvez não se pudesse dizer que o rapaz faz parte do cenário da fazenda, do curral… Sua voz também se distingue da de Reginaldo, não que ele estivesse muito disposto a falar — dois sinais evidentes de sua puberdade.
pertencem a ele. Na realidade, faz pouco tempo que ele sua família voltaram para Terra Roxa. Explica que nasceu na cidade, se mudou quando ainda muito jovem e, com a voz um pouco mais pesada, revela que o motivo do retorno foi a cunhada ter sido diagnosticada com leucemia, em 2007. Quando tocou neste assunto, o homem, antes sisudo, foi tomado por expressões brandas que denunciaram seu lado sensível.
Ele chama uma das filhas, Thaís. A pele morena, os cabelos crespos presos, o tipo esguio. Atendeu o pai com prontidão e correu para ligar o rádio. Acima dos ordenhadores, as duas caixas anunciaram o início da sequência de modas de viola e Reginaldo sorriu. Devagar, sua outra filha se aproximou. Tainara tem os mesmos olhos sinceros de sua irmã, mas estes se disfarçam por trás dos óculos. Ela abraça o pai, a outra corre e faz o mesmo. “Logo aparece meu menino”, anuncia o patriarca, como se ansioso por mostrar a família — quase — completa.
A música tocando alto movimenta as vacas para lá e para cá e o cuidador garante que elas gostam do som do rádio. Ele distribui ração para os bichos e continua falando de sua rotina. Minutos depois das quatro da manhã ele acorda e se prepara para tratar do gado. Antes mesmo de começar a trabalhar, liga o rádio e, sem muita preferência por nenhuma programação, escuta o que estiver tocando. “Mas bom mesmo é a moda de viola, isso sim é coisa boa”, ele afirma como se houvesse subentendida uma crítica às outras músicas transmitidas atualmente.
Reginaldo faz pose para a câmera. Ele podia ter nascido para galã do rádio ou do cinema. Abrindo o tacho de leite, aumentando o volume do rádio, ele exibe a desenvoltura de quem foi ensaiado. Quando posto a pensar sobre a possibilidade de participar ou trabalhar no rádio, ele só acena que não com a cabeça. “Né não… Eu gosto mesmo é disso aqui”, afirmou com certeza, gesticulando com um braço como se abraçasse toda a fazenda, as vacas, as terras vizinhas, toda a cidade, todo o campo seu remanso e seu silêncio.
A esposa de Reginaldo está em casa, mas ele explica que ela não costuma sair muito para conversar
Há aproximadamente quatro meses que Reginaldo trabalha e mora nessas terras, mas elas não
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r o b e r t ã o
Muita gente na cidade já o conhece como um ouvinte fiel. Seus colegas de trabalho dizem não ter escolha. Robertão não larga seu aparelho de rádio por nada e, muitas vezes, pede para todos largarem as ferramentas, pararem com a barulheira na construção para que ele possa ouvir um programa, uma música ou notícia.
chiado entre uma música e outra. Na casa em que Robertão está trabalhando atualmente, ele arranjou uma verdadeira gambiarra para garantir que seu aparelho não caia do alto do segundo andar. Por entre as vigas de ferro, o rádio está posicionado e permanece preso por um arame. “Engenharia de ponta”, explica o pedreiro.
Roberto Domingos Nogueira não se lembra de nenhuma época de sua vida em que não tivesse o hábito de escutar rádio. Seu físico grandalhão, o rosto sincero, as mãos ásperas do trabalho que faz. Tudo funciona melhor ao som do sertanejo de raiz, ou dos hits flashback transmitidos pelas ondas AM ou FM. Aos 44 anos, parece um menino, empolgado ao falar sobre seus programas favoritos.
“Semana passada um caiu, quebrou, foi que foi uma tristeza.” Ele lamenta muito mais o valor sentimental da perda do que o fato de ter que comprar outro novo. Esse seu lado emotivo fica mais evidente quando ele conta de seu programa favorito, que se chama Pedras Preciosas. Robertão confessa já ter chorado inúmeras vezes ao escutar as histórias tristes de outros ouvintes. O contraste entre seu porte bruto e seu rosto de expressões fáceis é tal qual o que se percebe entre suas mãos calejadas e o seu sorriso compassivo: Roberto é um homem sensível.
Em sua adolescência, Robertão começou a trabalhar como ajudante de pedreiro, sabia que levava jeito e não quis mais saber de outra profissão. Até hoje, para começar uma obra, ele se certifica de que pode carregar seu radinho com ele e que os companheiros de construção não se incomodam com o ocasional
Desde muito cedo, todos os dias ele escuta os mesmos programas. Gosta de ouvir o padre Reginaldo Manzotti, sabe a programação de cor,
aumenta o volume quando suas músicas favoritas tocam, leva o rádio de volta pra casa e continua a escutar lá também. Não concorda em chamar o hábito de vício; mais sutil, prefere dizer que é mania. Seus colegas na construção não têm costume ou não gostam muito de ouvir rádio. Brincam, chamando-o de chato. Às vezes, ele é inflexível por determinar a trilha sonora ambiente todos os dias, mas, às gargalhadas, todos parecem admitir que não se incomodam tanto assim e, por isso, aceitam a mania de Robertão, sujeito fácil de agradar. Com simplicidade e um tom também brincalhão, ele reconhece a tolerância dos amigos. Ajeitando o chapéu de palha na cabeça, ele pede licença, agradece pela conversa, mas precisa voltar ao trabalho. O sol bate forte e revela mais de seu rosto. Agora o que se pode ver são traços mais maduros, talvez até resistentes. Robertão e seu rádio retomam suas tarefas. O aparelho, por entre as vigas, dá corda às engrenagens. Robertão, balde e pá na mão, constrói a casa.
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D O N A N E U S A
Num pedaço esquecido do oeste paranaense, uma criança sintoniza o único aparelho de rádio de sua casa. De dentro da caixinha, ao invés de música, surge uma voz rascante que narra com discurso inflamado as ocorrências policiais da região. As histórias de crimes e violência encantavam a pequena Neusa, que ouvia atenta os relatos de assassinatos, roubos, brigas e outros conflitos de desfecho trágico que lhe chegavam pelas ondas do rádio. Os dramas cotidianos da cidade grande tornavam menos pacata a vida da menina no sítio da família Lázaro. De lá pra cá, a vida de Neusa mudou muito. Hoje, aos 47 anos, a faxineira vive em uma casa modesta na periferia de Terra Roxa. Dividia o espaço com o pai, que morreu de câncer recentemente. No terreno também mora o irmão mais novo, “aquele pinguço que nunca para em casa”, segundo ela mesma descreve com um misto de humor e resignação. Desde a morte do pai, ela dedica seus cuidados a uma horda de cães e gatos. Os animais foram chegando aos poucos, muitos ainda filhotes, com problemas de desnutrição e outras doenças. Neusa acolheu a todos eles por não entender “como podem fazer mal a bichinhos tão indefesos?” Há ainda o “bebê”, um
vira-lata cor de caramelo que foi o primeiro cachorro adotado por ela e recebe tratamento especial. Ela abre um sorriso e tenta — sem sucesso — justificar o porquê de se interessar tanto por programas policiais. Hoje, como em todas as manhãs, Neusa já escutou a ronda policial na região pelo programa do radialista Paulo Roberto. O rádio divide espaço com a TV, que só é ligada para exibir filmes e noticiários — dona Neusa detesta novelas. Suas preferências como telespectadora são as mesmas de ouvinte: é fã de José Luiz Datena e Marcelo Resende, veteranos do jornalismo policial na televisão. Mesmo depois de tantos anos acompanhando esses programas, a doméstica não deixa de se impressionar com as tragédias da vida real. Ela lembra e questiona sobre o caso mais recente que a deixou abalada, aquele do menino Marcelo, acusado de assassinar os pais, policiais militares em São Paulo. Também na capital paulista vivem os dois filhos e o casal de netos de dona Neusa.
todo o carinho. A faxineira também não deixa de acolher novos habitantes em seu quintal e cuida para que eles não briguem ou fujam. Apesar da dedicação, Neusa admite que os animais não vivem muito, por conta da falta de vermífugos e vacinas virais que a renda como diarista não pode pagar. Mais uma vez, a morte lhe dá as caras. Após bons minutos de conversa, ela deixa escapar que planeja se mudar em breve, mas não para acompanhar o crescimento dos netos na capital paulista, como seria previsível. A felicidade de Neusa Lázaro está bem mais perto, exatamente a 37 quilômetros de sua cidade natal, na vizinha Palotina. A generosidade da faxineira não permite que qualquer visitante saia de mãos vazias. “Levem essas bananas pra comer na volta”, diz enquanto oferece um punhado de frutos maduros. Dona Neusa se despede com uma penca de bananas, sete gatos, oito cachorros e uma história que não cabe nesse breve relato.
Os cães e gatos são suas únicas companhias desde a perda do pai e a mudança dos filhos. A rotina de trabalho estafante não impede que ela os trate com
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A Ilha do Amparo é uma comunidade de pescadores localizada na Baía de Paranaguá, no litoral paranaense. A região fica a cerca de 90 km de Curitiba.
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M A R I A D O R O S Á R I O
O rosto de expressão dura chama atenção contra a parede de cor clara onde estão penduradas tarrafas volumosas. Não é difícil presumir que a casa pertence a um pescador e o que se pode concluir em seguida é que dona Maria do Rosário é esposa dele. Ela não faz movimentos bruscos, fala baixo e por entre os dentes, mas ao mesmo tempo, não se incomoda em ter câmeras apontadas em sua direção. Sem declarar se é timidez ou amargura, Maria se reduz ao padrão lacônico. Respostas curtas, objetivas, contrariando o que se espera de uma senhora de 65 anos ansiosa por contar histórias e prosear. Mas em momento nenhum se pode dizer que ela estava sendo mal-educada: seu jeito retraído ao mesmo tempo convidava e se mostrava disposto, algo maternal. Dona Maria tem sete filhos, “sete, cinco homi e duas muié. Já são tudo casado.” Um ou outro mora na cidade, o resto segue levando a vida na Ilha do Amparo. A família é grande; uma das netas de Maria teve um filho aos 15 anos, fato que a senhora espontaneamente relaciona a uma notícia que ouviu
no rádio há pouco tempo. Ela contou o caso da jovem de 16 anos que fugiu de casa em Paranaguá, transtornou toda a família e se deu por achada na casa de um amigo em Curitiba, dias depois. A partir desse relato, Maria revela sua paixão pela radiofonia e, com isso, se mostra um pouco menos acanhada. Desde “miudinha”, quando se mudou de Guaraqueçaba para a Ilha do Amparo, Maria do Rosário se lembra de escutar rádio. Sempre esteve ligada à programação católica e em noticiários. Não parece ser muito fã de música, não menciona nenhum cantor ou estilo musical que mais lhe agrade, sempre torna a falar sobre notícias, casos de crimes que escutou por meio das transmissões. “Me informo sobre as tragédias que estão acontecendo por aí nas cidades, no mundo…”. Dona Maria sintoniza a rádio “Difusora de Paranaguá” desde muito cedo de manhã e várias vezes só desliga o aparelho antes de dormir. Nem ela sabe ao certo a razão, mas nunca pensou em fazer parte de nenhum programa, fazer ligações para emissoras, pedir música ou participar de promoções. Talvez pelo seu caráter
pouco comunicativo, talvez por não ver muita graça e interesse nessa possibilidade, ou até mesmo por ter a comunicação um tanto limitada devido a sua localização geográfica. Vai depressa buscar seu rádio e o exibe de forma mais extrovertida que antes. Explica que esse é o que funciona na luz e, apoiando-o sobre a mesa, vai buscar o outro, que funciona com pilhas. Nesse momento, Maria recebe bem o elogio feito à sua casa e calcula rápido que tem mais de 50 anos que ela mora ali; a casa era dos pais, depois passou para ela, seu marido e os sete filhos que vieram em seguida. Sem perguntas, dona Maria do Rosário se senta novamente, posando conforme lhe é pedido. Ela só resmunga baixinho do frio que tem feito e que talvez tivesse sido melhor que seu filho viesse posar e conversar em seu lugar, afirmando que ele é mais estudado, e provavelmente saberia responder melhor às perguntas.
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E D I N É I A
Um menino de pele bronzeada corre daqui para lá, chamando atenção, como se quisesse mostrar algo importante. Seguindo-o, é possível avistar uma família — três meninas adolescentes, duas mulheres e outros dois menininhos — da qual a criança parece ser parte. A mãe chama: “Ezequiel! Vem já!” O garoto com nome de profeta corre e se esconde atrás dela. Edinéia tem outros três filhos, todos eles com nomes bíblicos. O caminho até sua casa é de terra molhada pela chuva. No quintal, os cachorros brincam entre algumas bugigangas espalhadas pelo mato. Aos pés dos degraus da varanda, Edinéia descalça os chinelos, mas insiste que seus visitantes não precisam fazer o mesmo, o aconchego da sala combina com a dona da casa, agradável e acolhedora. Outras duas crianças disparam pelo corredor, em direção à sala, são Ezequias, o mais novo de Edinéia, e sua prima, mas se acanham ao perceber os desconhecidos e correm de volta para o quarto. Um grande aparelho de som se destaca entre os outros objetos do cômodo principal da pequena casa. Edinéia explica que não costuma ouvir
emissoras “comuns”, que só escuta as evangélicas, que transmitem hinos, devocionais e testemunhos de outros ouvintes. Mesmo antes de se converter, ainda moça já escutava rádio, pois na casa de seus avós, onde morou a maior parte de sua juventude, não havia televisão. Aos 15, quando entrou para a Assembleia de Deus, passou a escutar as rádios gospel e se identificou muito com as mensagens transmitidas e com os radialistas responsáveis. Seu marido, também muito cristão, é líder dos jovens da igreja que a família frequenta. Ao chegar em casa, ele abraça a mulher e vai depressa brincar com o filho. Edinéia conta que ele também tem apreço pelo rádio e pela programação gospel das emissoras. Apontando para o rack no canto da sala, ela ri um pouco ao explicar a gambiarra que ele fez para que o aparelho, já um pouco antigo, captasse melhor a frequência das rádios da região. Na Ilha do Amparo, o sinal de rádio é surpreendentemente bom e se tem acesso a todas as rádios, mas mesmo assim, na casa de Edinéia, só se ouve o que tem a ver com a “Palavra”. “É bom
louvar junto, poder falar com Deus no conforto de casa.” Hoje mesmo ela ligou o rádio bem cedinho, mas suspeita que um dos filhos deve ter desligado, explicando que eles não herdaram o hábito dela. O que a dona de casa mais gosta é de quando outros ouvintes ligam para dar testemunhos de fé. Entusiasmada e tomada por certo mistério, ela conta de um episódio que escutou no rádio e lhe deixou muito emocionada, o caso de uma jovem que “recebeu um livramento do Senhor”. Dois anjos caracterizados como homens, vestidos em ternos brancos foram vistos ao lado da menina que acreditava caminhar sozinha por uma rua escura. O modo como Edinéia conta a história leva a crer como ela crê, faz pensar que os mensageiros de Deus são parte incontestável de sua realidade. Como as ondas de rádio, conduzidas por longas distâncias e captadas pelo aparelho na sala de sua casa, a operação divina não pode ser vista, mas pela ciência ou pela fé, há certeza nas duas.
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e d v a l
Edval não se lembra do que o levou a ser pescador. Talvez o fato de ter nascido na Ilha do Amparo — onde a pesca é a principal atividade desenvolvida pelos homens - tenha sido decisivo, talvez ele nunca tenha tido outra escolha. Desde sua adolescência ele sai muito cedo, remando seu barco, sozinho. Hoje aos 55 anos, ele aparenta ter mais idade, culpa do sol, do sal, da maresia que consome tudo que toca. Ernest Hemingway poderia ter se inspirado nele para escrever seu romance O Velho e o Mar. A solidão de Edval, o pouco que tem para falar, as marcas que denunciam os longos anos de trabalho são traços óbvios da vida simples que leva o pescador. Na Ilha, todos se conhecem e sabem onde cada um mora. Mas, no caso de Edval, ele é conhecido por um motivo peculiar. Muitas pessoas lembram-se dele pelo seu gosto por escutar rádio, dizem que seu aparelho está sempre ligado e não é mentira. Ao entrar na pequena casa de madeira, ouve-se uma música famosa tocando ao fundo. “Temos todo tempo do mundo”, Renato Russo canta e Edval acena com
a cabeça, mostrando que concorda. Em seu quarto, mal cabem a cama, a TV e o rádio em cima de um banco. Ele diz que é todo o conforto que precisa. O resto da casa está vazio, um pouco de louça na pia, comida de gato espalhada pelo chão e só. O céu nublado impediu que Edval saísse para pescar e, em dias como esse, ele fica em casa, escutando músicas e programas policiais no rádio. Roberto e Erasmo Carlos, José Augusto, estão entre os preferidos do pescador, mas ele também gosta de coisa atual. Nos dias em que trabalha, ele liga seu aparelho bem cedo e sintoniza logo na “Ilha do Mel FM”. Às cinco da manhã, começa um programa destinado aos pescadores. Celso, o locutor, dá detalhes sobre a previsão do tempo e as condições do vento, e há também um momento reservado para que os ouvintes se manifestem, façam perguntas e compartilhem o que sabem sobre a pesca daquele dia. Um gato se aproxima da porta e mia baixinho. Seu olho e orelha esquerdos estão sangrando. Edval
supõe que o bichano tenha se engalfinhado com outros — mais uma vez. Ele conta que tem mais dois filhotes, uma se chama Pretinha, o outro não tem nome ainda. Não demonstra muito carinho pelos bichos, diz que gosta de tê-los por perto por serem bons caçadores de ratos e cobras. Da janela do casebre se pode ver o barco de canela preta do qual Edval fala com orgulho. É um dos poucos a remo na ilha e o senhor se orgulha disso também. Ele lamenta não poder levar seu rádio junto para o mar. Conta algumas histórias de bons dias de pesca e garante que não é conto de pescador. Mostra alguns sorrisos modestos, mas no momento seguinte parece se esquecer por que estava sorrindo. Ele aponta para a casa onde seu pai mora com outra parte da família, mas não revela a razão da escolha por morar sozinho. Edval não se casou, não teve filhos e não tem muitos amigos, mas encontra nas vozes do rádio a companhia que precisa. No mar ou na terra, sob chuva ou sol, o pescador se contenta em confiar naquilo que a natureza lhe oferece.
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Fundada em 1908, a cidade de São Mateus do Sul é considerada uma das maiores colônias de imigração polonesa no Paraná. Situada na região sudeste do estado, São Mateus do Sul tem por volta de 41 mil habitantes e está a 152 km de Curitiba.
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l u c a s e j o e l s o n
“Mamãe!” Lucas exclama ao microfone em seu tom brincalhão e facilmente reconhecível. Não há em São Mateus do Sul locutor mais popular que ele, fato admitido inclusive por outros radialistas da cidade. A “Difusora do Xisto”, AM cuja programação é dirigida por Lucas, tem ouvintes fiéis desde seu surgimento, há pouco mais de 30 anos, isso porque os bordões e brincadeiras do veterano continuam a entreter o público. A tradição da rádio é notória, já esteve em evidência nos jornais locais e até em noticiários nacionais. Lucas Silveira, que é irmão do fundador da Difusora, foi peça fundamental para tamanho prestígio. Aos 18 anos, resolveu se mudar de Rio do Sul, em Santa Catarina, para São Mateus do Sul, no Paraná, para ajudar seu irmão na coordenação da emissora. “O rádio é um vício, o contato que ele proporciona com as pessoas é outro”. Lucas costuma dizer que seu trabalho se encarrega de encurtar distâncias e aproximar pessoas, e isso é percebido com clareza pelos moradores de São Mateus. No programa Bom Dia São Mateus, a interação com o ouvinte é o destaque principal. Durante a gravação, o telefone não para de tocar e há um frequente ir e vir na sede da emissora. Lucas anuncia o início
do jogo “Música Misteriosa”, Jorge, o coordenador de sonoplastia, ajuda informando os nomes dos participantes com papéis posicionados no vidro do estúdio. O locutor emposta a voz e fala com Benedita, Maria, Jaqueline, mas a ganhadora dos prêmios é a Lindamir. Em outros momentos do programa, os ouvintes anunciam produtos à venda, festas que acontecem na cidade, parabenizam aniversariantes e fazem reclamações. “Teve até gente fazendo cobrança de aluguel no ar. Aqui tem de tudo!” Lucas garante. “Difusora é o povo e o povo é Difusora”. O slogan encerra o programa do sábado, mas o trabalho não acabou. Nesse momento, chegam outros apresentadores da rádio e entre eles está Joelson Luiz, uma figura simpática e falante, que também decide contar sua história. Aos 23 anos, começou a trabalhar na emissora e hoje, aos 48, diz se sentir parte de uma família. O radialista tem baixa visão nos dois olhos, mas isso não atrapalha seu trabalho de forma alguma.
o conhecesse pessoalmente, desistiria de sair com ele. Mas a história de amor que começou pelo rádio existe até hoje, ao vivo e em cores. “Ela entrou pro vício do rádio também. É locutora comigo aqui.” Joelson e Lucas se unem no estúdio, “para gravar qualquer coisa”, e fazem muitas piadas. Lucas despluga seu microfone para fazer comentários engraçados e faz gestos com as mãos; Joelson, menos efusivo, imita vozes conhecidas e dá risadas discretas. Os dois parecem se divertir genuinamente, mesmo trabalhando na hora do almoço de um sábado. Saber a medida entre descontração e seriedade, compromisso e diversão foi o que trouxe tanto sucesso à equipe da “Difusora do Xisto”. Percebe-se em cada um a boa vontade em fazer trabalho, e é com isso que se encarregam de mudar a rotina e até mesmo as vidas dos seus ouvintes.
Poucos anos depois de começar na rádio, Joelson passou a receber ligações constantes de uma certa ouvinte. Ele conta a história com um sorriso largo no rosto. Mal sabia o radialista que a jovem se tornaria sua esposa; ele pensava que, quando ela
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g r i l o e c h i c o p u t a
Os dois taxistas descansam a poucos metros de seus carros. O terminal rodoviário de São Mateus do Sul, onde eles fazem ponto, está quase deserto, mesmo ao fim da tarde de sábado. Grilo, fumando um cigarro, Chico comendo uma manga, os dois não parecem ter pressa alguma. Na verdade, “pressa” não parece constar no vocabulário deles. Jogando conversa fora, rindo de um e de outro, eles permanecem ali, aguardando um chamado. “Tem dias que a gente não tem nenhum passageiro.” Por trás dos óculos escuros, Francisco não se incomoda muito com a falta de trabalho. Aos 65 anos e com experiência em outras áreas profissionais, o táxi é para ele quase como um passatempo. E de tanto passar o tempo, já se foram 37 anos desde que começou e, há pouco menos de 30 anos, ele adquiriu o hábito de escutar rádio em seu carro, enquanto dirige ou nos momentos livres que tem no ponto. Grilo, cujo nome verdadeiro é João, que é uma figura menos expansiva que o colega, até então, não havia falado muito. Mesmo acanhado, ele resolve contar que seu hábito de escutar rádio também é antigo, mas não tem relação com seu trabalho como taxista. Grilo costumava trabalhar nas lavouras de tabaco
da região — ainda o faz durante parte da semana — e começou a gostar de rádio assim que a primeira emissora chegou à cidade.
era comum que fizesse corridas levando várias das meninas que ali trabalhavam para suas respectivas casas, ao fim do expediente.
A rádio de São Mateus do Sul traz detalhes sobre tudo que acontece nos arredores. Sem ao menos mudar o tom frívolo de sua voz, Chico se recorda de três casos de taxistas que foram assassinados quase seguidamente. Ele diz que, na época, o plantão policial na emissora local alertava sobre ocorrências suspeitas e dava um pouco mais de segurança para os motoristas. Ele muda de assunto bruscamente e revela que gosta mesmo é de ouvir música caipira, “mas o Grilo é mais dos gauchescos”.
Risadinhas continuam a ecoar enquanto Chico Puta confessa outros segredos, como sobre o shampoo que usa para tingir os cabelos — inclusive aplicou um pouco do produto hoje — e sobre a “colinha” escondida no parassol do carro, que indica onde estão os radares de velocidade nas estradas da região. De repente, um toque estridente em seu celular silencia as risadas. Se aprumando com intenção de levantar, Chico pede que seus sapatos não sejam fotografados. Apontando para a praça do outro lado da rua, ele explica que encontrou os calçados em uma lixeira ali perto, mas apesar disso, eles são muito confortáveis e estão entre os seus preferidos.
Os dois amigos conversam tranquilamente, lembrando-se do período em que o radialista mais popular de São Mateus esteve doente e de como toda a cidade andava mais triste durante esse tempo. Rapidamente, o tom da prosa muda. Um deles torna a falar sobre os apelidos que os taxistas inventam um para o outro e, então, Grilo deixa escapar o pseudônimo de seu colega. Chico Puta, às gargalhadas, tenta explicar como passou a ser conhecido dessa forma. Por muito tempo, ele teve seu ponto de táxi em frente a uma casa noturna e
Chico Puta precisa atender ao chamado e, sem pressa, ele anda até o carro, lamentando ter de encerrar a conversa. Grilo permanece sentado, apaga o segundo cigarro e brinca com as moedas que tem nas mãos. Como se as conversas e risadas dos dois fossem inteiramente responsáveis por dar vida ao lugar, o terminal volta a sua apatia natural.
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f o t o g r a f i a s
9 Lucas Gualberto
55 Lucas Gualberto
78 - 80 Pauline Féo
10 Olívia D’Agnoluzzo
56 Gustavo Magalhães
82 Thais Reis Oliveira / Pauline Féo
12 - 13 Gustavo Magalhães
57 Lucas Gualberto
83 Thais Reis Oliveira
14 - 16 Olívia D’Agnoluzzo
58 Gustavo Magalhães
84 - 86 Pauline Féo
17 Olívia D’Agnoluzzo / Gustavo Magalhães
59 Lucas Gualberto
87 - 88 Thais Reis Oliveira
18 - 20 Olívia D’Agnoluzzo
61 Pauline Féo
90 Pauline Féo
22 Gustavo Magalhães / Gustavo Magalhães
62 Thais Reis Oliveira
92 Thais Reis Oliveira / Thais Reis Oliveira
23 Olívia D’Agnoluzzo
64 Thais Reis Oliveira / Pauline Féo
93 - 96 Gustavo Magalhães
24 - 30 Olívia D’Agnoluzzo
65 Thais Reis Oliveira / Pauline Féo
97 Pauline Féo
31 - 32 Gustavo Magalhães
66 Thais Reis Oliveira
98 – 107 Gustavo Magalhães
34 Olívia D’Agnoluzzo / Olívia D’Agnoluzzo
67 Thais Reis Oliveira
109 - 116 Olívia D’Agnoluzzo
35 Gustavo Magalhães / Olívia D’Agnoluzzo
69 Pauline Féo / Thais Reis Oliveira
118 Thais Reis Oliveira / Thais Reis Oliveira
37 - 38 Lucas Gualberto
70 Pauline Féo
119 Olívia D’Agnoluzzo
40 - 47 Olívia D’Agnoluzzo
72 - 73 Thais Reis Oliveira
120 Thais Reis Oliveira
49 - 52 Lucas Gualberto
74 - 76 Pauline Féo
121 Olívia D’Agnoluzzo
53 Gustavo Magalhães / Lucas Gualberto
77 Thais Reis Oliveira / Thais Reis Oliveira
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a g r a d e c i m e n t o s
Não seríamos capazes de realizar este projeto sem a ajuda de algumas pessoas que foram fundamentais ao longo do nosso processo de produção. Agradecemos primeiramente ao nosso orientador, Paulo Camargo, que nos mostrou os melhores caminhos desde a ideia inicial até a publicação deste livro. Agradecemos também ao Luan Campos cujo senso estético e disposição foram cruciais para a melhor apresentação do nosso projeto. Nos mais de 2.700 quilômetros que percorremos por todo o Paraná para encontrar as histórias que dão vida à esta obra, foram fundamentais o apoio de Luciana e Newton Vilela, Cynara Moura Jorge, Fátima e Valdir Rosa, Joacir Rolim, Leonardo Vilela, João Gualberto D’Agnoluzzo, Marilene e Ronaldo Reis Oliveira, e Ronaldo Reis Oliveira Filho que nos cederam seu tempo, disposição e hospitalidade para nos ajudar a explorar as cidades que visitamos. Às pessoas que, mesmo sem nos conhecer, nos receberam em suas casas e dividiram conosco
sua intimidade e as histórias de suas vidas: Antônio Rausis, Léia Alves, Marcio e Carla Priscila Schimiguel, José Adão, Samuel Siqueira, Maria de Lourdes Rocha, Osni Sebastião de Moraes, João Maria Marques, Elias Pascoal Nunes, Antônio Pereira, Paulo Marcos, Regina Pomim, João e Sila Chagas, Ana Lúcia Santana, Emerson Luiz da Silva, Francisco da Rosa, Aparecida e João Sacheto, Roberto Nogueira, Antônio Bitencourt, Hélio dos Santos, Israel Emídio e Laura Vieira, Neusa Lázaro, Josiane Correa, Reginaldo, Marcos Joaquim de Abreu, Osmaiu Pereira, Romildo dos Santos, Maria do Rosário, Ednéia Pereira, Edival, Hélio Alves, Cleverson Daniel, Lucas Silveira, Joelson Luiz, Ednei Cruz, Francisco Gawlik, João Wilson Orloski.
Luciana Moura Jorge Vilela, Sônia Rosa, Maithê Rosa, Octávio Acácio Rosa, Nímia Féo Pereira, Levi Marcos Pereira, Joaquim Inácio Silveira da Mota, Bruna Romansini, Juliana Caputo, Helen Kaliski, Tiago Maia, Márcia Maria Rosa, Teresinha Cecília Rosa, Suzana Maria Rosa, Cristina Rosa Niehues, Ingeborg Schwarz, Celina Molli Mayer, Marina Willrich, Mariana Siqueira, Marina Soares, Carolina Lang Martins, Danile, Dionete e Luciano Pedrozo, Beatriz Roland, Diego Reeberg, Lucas Poletto, João Gualberto D’Agnoluzzo, Vanessa Nogueira, Laís Féo, Osvaldo Luiz Rivello de Carvalho, Max Schadegg, Beatriz Zanelatto, Renato Saltori, Antônio Rogério Mota, Elisa Molli, Elisa Maria Amaral, Guilherme Zuchetti.
Aos nossos apoiadores do Catarse, que possibilitaram a finalização e impressão das cópias piloto do livro: Suzana Féo Pereira, Nathalie Féo Pereira Antunes, Edemar José Gualberto da Silva, Wanessa Siewert, Daniel Silva, Ronaldo Reis Oliveira, Marilene Soares da Silva Oliveira, Newton Vilela Junior,
Por fim, agradecemos aos nossos pais, amigos e amores cujo apoio, compreensão e paciência foram essenciais para que conseguíssemos levar adiante esta ideia e concluir este projeto.
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f i c h a T É C N I C A
Prefácio
Textos
Capa e projeto gráfico
Paulo Camargo
Pauline Féo Coelho, Dona Léia, Rausis, Emerson, Sila e João, Zelão, Elias Pascoal, Aparecida e João, Variado, Israel e Laura, Reginaldo, Robertão, Maria do Rosário, Edinéia, Edval, Lucas e Joelson, Grilo e Chico Puta.
Luan Campos
Pesquisa e entrevistas Gustavo Magalhães Lucas Gualberto da Silva Olívia D’Agnoluzzo Pauline Féo
Lucas Gualberto da Silva Dona Léia, Dona Maria, João Maria e Osni.
Revisão Ricardo Freire
Thaís Reis Oliveira Dona Maria, João Maria e Osni, Josiane, Variado, Neusa.
Thaís Reis Oliveira
Edição de Imagens Fotografias
Gustavo Magalhães
Gustavo Magalhães
Olívia D’agnoluzzo
Lucas Gualberto da Silva
Thaís Reis Oliveira
Olívia D’Agnoluzzo Pauline Féo
Orientação do projeto
Thaís Reis Oliveira
Paulo Camargo
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Este livro foi composto em DIN e Novecento e impresso em papel Couchê 150 g/m² na gráfica Tecnicópias.
O L Í V I A D ’ A G N O L U Z Z O P A U L I N E F É O T H A I S R E I S O L I V E I R A
H i s t ó r i a s q u e n i n g u é m o u v i u
L U C A S G U A L B E R T O
R E T R A T O S D O R Á D I O
G U S T A V O M A G A L H Ã E S