TCC - Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

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ARQUITETURAS DO PORVIR: TRANSPORTE FLUVIAL NA REPRESA BILLINGS

PAULO EDUARDO SCHEUER



AGRADECIMENTOS

Ao professor Francisco Petracco por compartilhar seu conhecimento e experiência durante o desenvolvimento do trabalho

Ao professor Luiz Guilherme Castro pelo rico processo de discussão e desdobramento de ideias durante o desenvolvimento do trabalho Aos professores Júlio Vieira, Lizete Rubano e Celso Minozzi por serem portas para novas leituras da arquitetura e do urbanismo Aos familiares e amigos pelo incentivo e apoio nestes felizes anos de graduação


UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO Paulo Eduardo Scheuer ORIENTADOR PROJETO Prof. Dr. Francisco Lucio Mario Petracco ORIENTADOR MONOGRAFIA Prof. Dr. Luiz Guilherme Rivera de Castro TRABALHO DESENVOLVIDO Terminal fluvial na Represa Billings, São Paulo, SP São Paulo, SP - 1º semestre - 2015


ÍNDICE

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ENSAIOS SOBRE O TERRITÓRIO FRAGMENTADO

14 1. SEGREGAÇÃO SOCIAL NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO 27 2. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL EM ÁREAS DE MANANCIAIS: MUDANÇA DE PARADIGMAS 37 3. A LEITURA DO OCULTO: COTIDIANO E REDES 54 4. ARQUITETURA ABERTA E ESPAÇOS SUPORTE 63 5. HIPÓTESE PROJETUAL: TERMINAL FLUVIAL NA REPRESA BILLINGS 100 CONSIDERAÇÕES FINAIS


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Fonte : Marcos Costa

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ENSAIOS1 SOBRE O TERRITÓRIO FRAGMENTADO


Deslocar o enunciado da abordagem arquitetônica como uma suposta instância provedora de soluções para situações problema à de formuladora de proposições a serem lapidadas e reconfiguradas ao longo de sua existência colocam este trabalho na posição de ensaio1. Trabalho resultante do registro e reflexão de referências acumuladas nos anos de graduação, intenta-se realizar pressupostos cabíveis entre o consolidado e difundido legado da arquitetura moderna, em especial no Brasil, e sua atualização diante de quadros desastrosos no que diz respeito à qualidade de vida da população de camadas de renda mais baixas, em especial a habitante de regiões periféricas das grandes cidades. As áreas de preservação ambiental nas periferias, na maioria localizadas em mananciais junto a sistemas de provisão hídrica - região escolhida para o desenvolvimento do Trabalho Final de Graduação - são um campo propenso a ação. A opção de trabalhar 1. O termo “ensaio” coloca-se no sentido de ser um exercício de desenvolvimento da hipótese trabalhada, como resultado de uma experimentação

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A busca pela compreensão da arquitetura na contemporaneidade - configurada como uma realidade multifacetada - coloca à prova o leque técnico e conceitual do arquiteto e urbanista ao redesenhar seu papel diante de demandas provenientes de diversos agentes, numa realidade permeada por situações desiguais de bem estar social, muitas delas caracterizadas pela extrema pobreza. Um cenário no qual palavras-chave como complexidade e fragmentação dão pistas para a elaboração de hipóteses projetuais capazes de incorporar a legibilidade dos mais diversos tipos de dinâmicas sociais. Neste contexto, o município e a região metropolitana de São Paulo encaixam-se como territórios desafiadores à cartografia de circunstâncias e eventos alimentadores do partido arquitetônico, a fim de torná-lo um código aberto, um suporte coerente, mutável e reconhecível aos seus usuários em meio ao ambiente no qual está implantado.


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sobre territórios marcados pela ocupação informal surgiu da possiblidade destes serem espaços cuja proposta arquitetônica deve estar atenta à uma morfologia urbana desobediente a regulações urbanísticas e legais preestabelecidas, sendo as regiões de mananciais a principal zona de pressão – produzida majoritariamente pela iniciativa de grupos organizados pela sociedade civil ou por loteadores privados. São superfícies cujas categorias tradicionais do planejamento urbano não são aptas a assimilar em sua integridade. Conduzem a proposição de estratégias que enxerguem as microdinâmicas consolidadas por inúmeras redes de relações entre os que habitam comunidades, bairros e regiões em condições com pouca oferta de urbanidade. O cotidiano transforma-se num caminho para o entendimento da cidade real. A hipótese de projeto desenvolvido é um terminal fluvial de passageiros associado a um equipamento público de serviços locais, situado na margem da represa Billings, zona sul do município de São Paulo. O terreno escolhido tem a sua volta grande densidade demográfica e condições de ocupação urbana precárias – algumas em área de risco - devido à baixa oferta de infraestrutura básica e topografia irregular. Situado no distrito de Grajaú, nos bairros Residencial Cocaia e Jardim Sipramar, trata-se de um complexo de edifícios de pequeno porte, cuja programa aborda praça pública, atracadouro e usos flexíveis, segundo a demanda de cada comunidade. Configura-se, assim, como um equipamento institucional coletivo com oferta de serviços e transporte em territórios de alta vulnerabilidade social. Um condensador urbano. Apesar das dificuldades de acesso à região, a proximidade com a água transforma-se no grande potencial do projeto, ao entendê-la como uma efetiva via de ligação entre comunidades lindeiras e o


RIO TAMANDUATEÍ

PRAÇA DA SÉ

MARGINAL PINHEIROS

REPRESA GUARAPIRANGA REPRESA BILLINGS

ÁREA DE INTERVENÇÃO

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Fonte: elaboração própria sobre imagem da NASA

MARGINAL TIETÊ


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centro da cidade, a partir de noção capilar de redes hidroviárias organizadas por rotas em diversos pontos ao longo das margens de rios e represas. Programa complementar pode ser interligado por meio da conexão de barcas especializadas de navegação lacustre em percursos bairro-bairro e bairro-centro, rompendo a organização radiocêntrica comum ao sistema de transportes metropolitano. O trabalho desenvolvido percorre definições conceituais sobre as políticas neoliberais, sob a luz da interpretação de David Harvey e seu impacto nas cidades de países em desenvolvimento. Neste cenário, é analisada a existência de uma dualidade urbana entre a cidade formal e informal (Ermínia Maricato e Flávio Villaça) e a resposta da regulação ambiental à esta condição urbana nas áreas de preservação ambiental localizadas nas represas Billings e Guarapiranga (Elisabeth França, José Maria de Azevedo Marcondes e Violeta Kubusly). A compreensão sociológica e geográfica das dinâmicas sociais presentes na cidade informal e seus referenciais físicos e psicológicos (Milton Santos e Guy Debord); e a indagação por uma arquitetura aberta, contestante de modelos preestabelecidos, que atuam mais como suportes do que objetos programáticos rígidos (Igor Guatelli, Kevin Lynch e Ignasi de Solà-Morales). A seleção dos projetos de estudo de caso – garagem 1111 Lincoln Road, dos arquitetos suíços Herzog & De Meuron, em Miami, nos Estados Unidos; Parc de LaVillete, em Paris, França, do francês Bernard Tschumi, e os Centros Educacionais Unificados CEUs), de Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza, no município de São Paulo - têm como denominador comum sua atuação em contextos urbanos nos quais a heterogeneidade dos agentes sociais e populacionais são correspondentes a uma realidade urbana resultante dos sistemas econômico e informacional contemporâneos, em que a importância


Junto à análise gráfica formal e dos programas compara-se sua oposição ao que a historiografia da arquitetura caracterizou como espaço monofuncional, visão corrente no período de consolidação da arquitetura moderna. Articula-se a esta perspectiva o olhar sob a produção arquitetônica atual, no que diz respeito ao levantamento de hipóteses para uma ação projetual que saiba compreender a realidade do local em que está inserida. Ao tratar de localidade, a pesquisa estende-se ao campo do entendimento macrourbano para uma articulação entre uso e leitura urbana.

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referencial da imagem e a complexidade das condições de uso transformaram-se em desafios às soluções programáticas propostas pelo campo da arquitetura e do urbanismo.


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1. SEGREGAÇÃO SOCIAL NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO


Com pouca ou nenhuma oferta de infraestrutura básica, multiplicaram-se os loteamentos e invasões a áreas públicas e terrenos de baixo valor de mercado próximos às represas Billings e Guarapiranga. Simultaneamente, a política pública nacional para a construção e financiamento de habitações definhava, a exemplo da extinção do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), em 1988. (KUBRUSLY, 2012 e MARCONDES, 1999). A passagem para a década de 1990 assinalou o afastamento ao acesso mínimo a serviços básicos com a emergência de políticas econômicas neoliberais. A maneira pela qual a produção do espaço social incorporou elementos da nova ordem mundial encontra correspondências com o movimento acentuado de ocupação urbana no município de São Paulo e sua região metropolitana, em direção às áreas de mananciais. As mudanças no arranjo das rela-

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O quadro de desigualdade social e submoradia da população de baixa renda numa faixa envoltória ao “centro nervoso” da cidade de São Paulo, concentrada no vetor sudoeste, é em boa parte resultante da reconfiguração macroeconômica pela qual passa o Brasil desde os anos 90. Uma nova ordenação urbana, estabelecida nas três ultimas décadas em razão da reorganização econômica em patamares globalizados, apresentou questões para as frentes até então praticadas pelo planejamento urbano. Nas metrópoles mundiais, sedes dos sistemas de mercados e agentes financeiros transnacionais, reproduzem-se novos padrões urbanos requeridos à operação desta nova lógica (FRANÇA, 2000). Soma-se o vultoso movimento de migração da população rural em direção às grandes áreas urbanas nas décadas de 1970 e 1980, contribuinte da expansão da mancha de ocupação densa e extensiva, motivada pelo aumento do setor produtivo industrial nestes centros.


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Fonte: Marcos Leal

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ções de trabalho, localização dos centros de comando e decisão, e a difusão da tecnologia da informação trouxeram às cidades de países em desenvolvimento novos papeis e significados quanto à posição diante de uma rede de negócios globalizada, pautada pelo setor terciário superior neoliberal (HARVEY, 1996). O avanço tecnológico das comunicações inverteu critérios de localização do parque industrial e administrativo; foram derrubados obstáculos físicos territoriais entre os centros de decisão e produção, o que reforçou a importância das metrópoles como polos de comando transnacionais. Segundo David Harvey “Com a diminuição dos custos e a consequente diminuição das barreiras espaciais à circulação dos bens, pessoas e informação, a importância da qualidade do espaço foi realçada e o vigor da competição interurbana para o desenvolvimento capitalista (investimento, emprego turismo, etc.) foi consideravelmente fortalecido. (...) A distância dos mercados ou matérias-primas tornou-se menos relevante para as decisões locacionais. (...) Pequenas diferenças na mão-de-obra (quantitativa e qualitativa), em infraestrutura e recursos, na regulação governamental e taxação, assumem importância muito maior do que quando o alto custo do transporte criava monopólios “naturais” para a produção local em mercados locais”. (HARVEY, 1996, pgs. 56-57)

Encabeçada pelo advento do pós-fordismo, a agenda de investimentos do Estado foi redirecionada ao converter-se num personagem facilitador à flexibilização do capital financeiro, sob diretrizes do movimento de empresariamento urbano do poder público, a fim de criar um “bom clima de negócios” (HARVEY, 1996). Catalisar investimentos privados para a renovação do ambiente construído tornouse prática prioritária para os administradores públicos em detrimento da melhoria de condições de vida da cidade como um todo, esvaziando a capacidade operativa das ações governamentais.


“A tarefa da administração urbana consiste, em resumo, em atrair para seu espaço uma produção altamente móvel e flexível e fluxos financeiros e de consumo. A característica especulativa dos investimentos urbanos deriva simplesmente da impossibilidade de prever exatamente que “pacote” terá êxito em um mundo de considerável instabilidade e volatilidade econômica”. (HARVEY, 1996, p. 56)

Com base nos dizeres de Harvey pode-se verificar que a ideia de cidade global toma força, pois, alinhada à pauta econômica externa, influencia fortemente as prioridades e destinações dos montantes de investimentos estatais. Há um intenso reflexo na produção do espaço urbano; setoriza-se a participação social no âmbito das políticas públicas sob o recrudescimento das faixas de menor renda. A ultraespecialização das cidades na área de serviços e atividades financeiras demanda mão-obra com alta qualificação, a fim de torná-la atrativa mundialmente. Para tanto, uma nova rede de infraestrutura urbana é requisitada sobre territórios preexistentes, deslocando centralidades e significados, criando uma crescente de exclusão aos que habitam a periferia. O padrão implementado exacerba a sobreposição de realidades distintas frente à reestruturação produtiva, a exemplo da Região Metropolitana de São Paulo. Parte da construção da cidade anima-se indiferente à porção omitida aos olhos da regulação oficial e segrega o território em duas partes: formal e informal. Luminoso, o

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O corolário de ações baseou-se em medidas pontuais, como incentivos fiscais, parcerias público-privadas, entre outras, restringindo-se muitas vezes ao estímulo à especulação imobiliária sobre determinados territórios para o assentamento do novo aparato técnico-produtivo que emergia. Segundo Harvey, o anseio pelo redesenho do espaço urbano está ligado ao acirramento da lógica de competitividade global.


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ambiente urbano retroalimenta-se de impulsos econômicos concomitantes aos ditames do que este modelo externo considera moderno e pujante. A representação da cidade, mais do que sua conjuntura concreta, regra os critérios de atenção em detrimento das zonas urbanas opacas (SANTOS, 1998). São correntes os esforços para transformar determinadas regiões em setores de interesse imobiliário. Operações urbanas e parcerias com agentes privados avultam montantes de investimentos em busca de um projeto de cidade que aparente a renovação e inovação. O traço se faz no território por meio de políticas concentradas em áreas nobres, de cunho rodoviário e especulativo (MARICATO, 2000). Este processo externo não apenas contempla um ciclo de baixa geração de empregos inversamente proporcional aos investimentos de que demanda como corrobora para a propagação de determinados padrões de ocupação do solo urbano, ao marcar profundamente as diferenças entre a porção da cidade formal, privilegiada e regulada pelo poder público, e outra, periférica e segregada. Ao fomento à abertura de frentes de atuação do mercado nas cidades, segue-se a baixa mobilidade social e o consequente agrave das condições de acesso à terra urbana (MARICATO, 2000). Milton Santos (1998) identificou como um dos atributos da globalização a existência de ordens verticais e horizontais no território, sendo as cidades o local principal de confluência. À primeira, estão associadas forças externas sobrepostas que regimentam o preexistente a partir de estruturações hierárquicas do espaço. Elas alteram a disposição inicial das relações anteriores em função de novos paradigmas que não reconhecem a diversidade de ações e agentes sociais acumulados no processo histórico nos ambientes interferidos. A segunda ordem, por sua, vez, não é imune às verticalidades, mas consegue


“São vetores de uma racionalidade superior e do discurso pragmático dos setores hegemônicos, criando um cotidiano obediente e racional disciplinado. (...) A hierarquia se realiza através de ordens técnicas, financeiras, políticas, condição de funcionamentos do sistema. A informação, sobretudo, a serviço das forças hegemônicas define as novas realidades espaciais. Um incessante processo de entropia desfaz e refaz contornos e conteúdos dos subespaços, a partir das forças dominantes, impondo novos mapas ao mesmo território (...) A homogeneização exige uma integração dependente, referida a um ponto do espaço, dentro ou fora do mesmo país. Nos outros lugares, a incorporação desse anexos e normas externas tem um efeitos desintegrador das solidariedades locais então vigentes, com a perda correlativa da capacidade de gestão da vida social”. (SANTOS, 1998, pgs. 285 e 286)

É importante ressaltar que a reestruturação econômica do final da década de 1980 não alterou o passivo habitacional anterior da metrópole. Em contraponto às ações redistributivas, ela forneceu mais condições para o incremento exponencial da degradação ambiental na RMSP pela ausência de ação social de governos locais, pontuados pela não universalização do acesso à moradia, delegando ao mercado a regulação de preços e oferta do uso e ocupação do solo de forma restrita e especulativa. (MARCONDES, 1999). Segundo dados censitários do IBGE, o crescimento da população favelada entre 1981 e 1991 foi de 7,07%, considerado o período de maior expansão sobre o tecido urbano, taxa acima da evolução da população municipal (1,16% ao ano) (IBGE, 1991).

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manter certa contiguidade contra a homogeneização do lugar; opera de maneira solidária e cooperativa creditando a esta relação uma maneira de sobrevivência em meio ao que vem de fora. O raciocínio de Santos é válido para compreender a segregação espacial da cidade contemporânea globalizada, ao discorrer que as verticalidades


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O desdobramento de padrões de ocupação precária está diretamente relacionado à maneira pela qual a reprodução da força de trabalho nacional ocorreu: cidadania inconclusa, com participação popular restrita; aumentos salariais abaixo da inflação, sem custeio da moradia; carência de financiamento à casa própria em faixas de habitação popular; aumento do desemprego; desindustrialização; entre outros fatores. Para a população urbana, estes reveses tiveram maior peso quando constatada a baixa mobilidade social à época. (MARICATO, 2000; MARCONDES, 1999). A especialização de serviços em determinadas porções da cidade de São Paulo – centro e sudoeste, principalmente ao longo da Marginal Pinheiros - firmou dicotomias no tecido urbano, na forma de ilhas de exclusão social. Maria José de Azevedo Marcondes (1999) define esta dualização econômica e urbana como uma “resultante dos processos de globalização da economia como consequência da estruturação do mercado de trabalho, com o novo tipo de concentração de funções globais que se apresentou” (op. cit., p. 128). O reduzido ingresso na formalidade conduziu ao espraiamento clandestino da metrópole rumo a áreas ambientalmente frágeis, sem valor de grandeza útil aos olhos dos investidores imobiliários, amplificando a abertura de loteamentos distantes de equipamentos públicos e dos bairros centrais, concentradores da maioria das ofertas de emprego. Ao permitir a coexistência entre duas formas urbanas – legal e ilegal –, a cidade convive com a modernidade incompleta, onde o território sofre contínuo processo de exclusão e segregação. Segundo a Ermínia Maricato, esta dualidade atinge também a esfera da regulação urbanística.


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Fonte: Jornal Folha de SĂŁo Paulo 14/09/2014

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“(...) a ocupação ilegal da terra urbana é não só permitida como parte do modelo de desenvolvimento urbano (...) o descolamento entre as matrizes que fundamentaram o planejamento e a legislação urbanos no Brasil e a realidade socioambiental de nossas cidades, em especial o crescimento da ocupação ilegal e das favelas (...)” . (MARICATO, 2000, pgs .147 e 148)

Enquanto a legislação aperfeiçoa-se e normatiza as especificidades da primeira, é incompreensível e generalizada com a segunda, ao não levar em conta complexidade deste tipo de ocupação. Tal indefinição reverberou na expansão das ocupações informais nas áreas de massa vegetal remanescente, com tipologias de assentamento que questionaram a abordagem destes territórios do ponto de vista da regulação urbanística. No dizer de Maria José de Azevedo Marcondes “A fragmentação do espaço, a crise econômica, os conflitos gerados pelo uso do solo, e a proteção de mananciais, colocaram em questão os pressupostos básicos de legislação de mananciais referentes aos objetivos de controle das tendências de crescimento e desenvolvimento da metrópole (...)” (MARCONDES, 1999, p. 130)

Sua morfologia não obedece a nenhum sistema de normas preestabelecidas e ocorre de maneira fragmentada pela iniciativa de grupos organizados pela sociedade civil ou produzido por pequenos indivíduos privados, a exemplo de proprietários de glebas – tendo as regiões de mananciais como principal zona de pressão.

Dessa forma, a abertura de loteamentos clandestinos constituiu-se como uma alternativa viável ao acesso à moradia pela maior parte da população de baixa renda, consolidada em sua maioria por processos de autoconstrução, em conjunto a outras práticas, como as ocupações em áreas vazias e residuais. A sobreposição de infraestruturas urbanas em áreas já bem atendidas e o interesse do


A exclusão urbana traduz-se na ocupação de áreas remanescentes, fora do perímetro de interesse do setor imobiliário, seja pela dificuldade de viabilização de empreendimentos nessas regiões ou pelo alto índice de normas e leis vigentes. Para Maricato (2000), a associação da segregação espacial com a ideia de caos do planejamento urbano é falsa, ao justificar que a mudança na “matriz de planejamento urbano” foi um modelo conscientemente adotado pelo poder público quando inserido na reorganização macroeconômica e política da nova ordem mundial (MARICATO, 2000, pgs. 123 e 144). Um quadro revelador da segregação urbana que, segundo Flavio Villaça, “é um processo necessário à dominação social, econômica e política por meio do espaço” (VILLAÇA, 1998, p. 150) A indefinição fundiária e normatização do uso e ocupação do solo urbano atenderiam, à lógica de interesses privados. “A ineficácia dessa legislação é, de fato, apenas aparente, pois constitui um instrumento fundamental para o exercício arbitrário do poder além de favorecer pequenos interesses corporativos. A ocupação ilegal da terra urbana é não só permitida, como é parte do modelo de desenvolvimento urbano no Brasil (...). Ao lado da detalhada legislação urbanística (flexibilizada pela pequena corrupção, na cidade legal), é promovido um total laissez-faire na cidade ilegal. (...) Tudo depende das circunstâncias e dos interesses envolvidos. É mais frequente que o plano seja aplicado apenas às partes mais privilegiadas da cidade. Tal aplicação segue a lógica da cidadania restrita a alguns”. (MARICATO, 2000, pgs. 147-148).

Neste sentido, cabe mencionar a desconformidade entre conceito e realidade da legislação sobre o espaço construído, mediante a configuração fundiária irregular estabelecida nas áreas de preser-

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mercado pelas áreas nobres – localizadas principalmente no vetor sudoeste – também são fatores contribuintes para a segregação urbana, ao elevarem o valor da terra.


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vação de recursos naturais. Ainda na década de 1970, o receio do comprometimento de abastecimento hídrico da RMSP motivou as autoridades locais à formulação de regramentos de zoneamento do uso do solo no entorno das áreas de represas e sistemas de provisão de água, por meio das Leis de Proteção dos Mananciais Metropolitanos de São Paulo (Leis Estaduais 898/75 e 1.172/76), cujos dispositivos de planejamento urbano calcavam-se no congelamento e restrição construtiva a extensas áreas da metrópole sem o devido diagnóstico sobre as causas do espraiamento urbano ou iniciativas para suplantar sua expansão. A incongruência das ações governamentais reside, assim, na sua limitação ao campo normativo desconsiderando como dado fundamental o contínuo avanço da mancha urbana. As normativas sobre os espaços habitados pelas faixas mais pobres da população acarretaram na desvalorização do valor dos terrenos e glebas originais, dando margem ao desinteresse de seus proprietários e estimulando a ocupação crescente de loteamentos clandestinos, transformando-se em regiões residuais, sem qualquer assistência de infraestrutura urbana. A falha legal consiste, portanto, numa tentativa dúbia de estabilizar a degradação ambiental ao mesmo tempo que ignora a evolução rumo às áreas avaliadas como imprescindíveis ao fornecimento de água. (MARCONDES, 1999, pgs. 92-109)


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2. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL EM ÁREAS DE MANANCIAIS: MUDANÇA DE PARADIGMAS


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A acentuada desconcentração urbana da Região Metropolitana de São Paulo evidenciada nos anos 1970 contribuiu para que os vetores de pressão se direcionassem às áreas de massa vegetal e reservas hídricas ainda intactas. No mesmo período, era crescente a manifestação de ambientalistas em prol da conscientização pela preservação dos recursos naturais mundiais, simbolizada pela Conferência de Estocolmo, em 1972, na Suécia, organizada pelas Nações Unidas. O evento tratou de forma mais incisiva o envolvimento mundial em objetivos pautados pela busca do desenvolvimento econômico e ecológico sustentável, “incorporando, portanto uma dimensão ambiental às relações políticas e sociais para o gerenciamento dos recursos naturais do planeta”. (KUBRUSLY, 2000, p. 236) Foi nesta conjuntura que dois importantes instrumentos de regulação ambiental foram elaborados na tentativa de conter a expansão urbana. As Leis de Proteção dos Mananciais Metropolitanos de São Paulo (Leis Estaduais 898/75 e 1.172/76) designavam ao poder publico a responsabilidade pelo controle do uso e ocupação do solo e delimitavam por classificações as faixas de áreas de proteção dos mananciais, reservatórios de água e cursos d´água existentes. É importante observar que ambas tratam a produção do espaço urbano do ponto de vista disciplinar, no qual normas, coeficientes de zoneamento e a definição de bacias hidrográficas são um corolário de medidas para a contenção de novas moradias e da deterioração do meio ambiente. A abordagem técnica sobre estes perímetros no esforço de salvaguardá-las como uso predominante rural ou dirigido não foi suficiente para congelar os deslocamentos do crescimento da população e a consequente desigualdade de oferta acessível de lotes e unidades habitacionais centrais. Segundo Violeta Saldanha Kubrusly, a promulgação das leis dos mananciais


O caráter coercitivo da legislação não reconhece como legítimos os novos loteamentos na região dos mananciais e impede a instalação sistemas de esgotamento sanitário, coleta de lixo, fornecimento de energia elétrica, entre outras provisões de infraestrutura urbana. Por não enfrentar causas estruturais, todo o instrumental de regulação incentivava, paradoxalmente, aquilo que se propunha conter. “Surgem, desta combinação perversa de fatores, os loteamentos clandestinos, que parcelam as glebas em lotes urbanos sem nenhuma infraestrutura sanitária (proibida pela legislação) e se fixa nesta região estratégica de produção de água para o abastecimento público, uma população carente, de baixa renda, que constrói suas casas, espraiando a ocupação urbana sem planejamento e lançando esgotos domésticos diretamente nos afluentes e reservatórios”. (KUBRUSLY, 2012, p. 85)

Em 1997, aprimorou-se a leitura sobre a proteção dos mananciais, com a publicação da Lei Estadual 9866/97, na qual o planejamento e a gestão da se balizaram pela unidade da bacia hidrográfica. A lei trouxe mudanças de paradigma ao identificar a necessidade de tratamentos diferentes para cada região e a inserção da recuperação de áreas urbanas na pauta das políticas públicas, por meio de um zoneamento ambiental atrelado à realidade socioeconômica destes territórios. Delimitam-se as Áreas de Proteção e Recuperação de Mananciais (APRMs), sendo que para cada uma delas era prevista lei específica. Nela, os instrumentos de gestão e planejamento seriam definidos por Planos de Desenvolvimento e Proteção Ambiental.

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“(...) apesar da boa intenção cautelar e preventiva, desvalorizou esses terrenos no mercado imobiliário, já que postulava justo o contrário do desejado pelos proprietários: quanto mais próximos estes lotes das margens das represas Guarapiranga e Billings, menos possibilidade de adensamento construtivo havia”. (KUBRUSLY, 2012, p. 85)


Fonte imagens: Relatório Conceitual - Grupo Metrópole Fluvial

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MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO BANHADOS PELO HIDROANEL (ACIMA) E CROQUI ILUSTRANDO O CONCEITO DE CIDADE-CANAL, PROPOSTO PELO GRUPO METRÓPOLE FLUVIAL (À ESQUERDA)


LIMITES MUNICIPAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RESERVATÓRIO BILLINGS

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Fonte: APRM - Billings - Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

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Fonte: Grupo Metrópole Fluvial

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ÁREA DE INTERVENÇÃO

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ESTAÇÕES E LINHAS DE TRANSPORTE FLUVIAL URBANO DE PASSAGEIROS DO HIDROANEL (ACIMA) E ZONEAMENTO PROPOSTO PELA REVISÃO DA LEI DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DA CIDADE DE SÃO PAULO (2015) (À DIREITA)


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Limite subprefeitura

unicípio de São Paulo

Município de São Paulo

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Região metropolitana

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Hidrografia

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Zona Rural

Legenda

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Referência das vias principais

gradouro

Logradouro

Rodoanel ZPR Estação de trem existente ZER Estação de metrô existente Terminal de ônibus existente OU_FariaL_Espraiada_Centro_AguaB Área de Proteção e Recuperação Ambiental Operação Urbana em Curso OU_FariaL_Espraiada_Centro_AguaB (ver Art. 382 da Lei 16.050/14)

doanel

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peração Urbana em Curso er Art. 382 da Lei 16.050/14)

acroárea de Estruturação Metropolitana

EPAM na Especial de Preservação Ambiental

Macroárea de Estruturação Metropolitana

Zonas ÁREA DE INTERVENÇÃO

ZEPAM Zona Especial de Preservação Ambiental

EP na Especial de Preservação

ZEP Zona Especial de Preservação

PDS na de Preservação e esenvolvimento Sustentável

ZPDS Zona de Preservação e Desenvolvimento Sustentável

RA na de Recuperação Ambiental

ZRA Zona de Recuperação Ambiental

EIS-1 na Especial de Interesse Social 1

ZEIS-1 Zona Especial de Interesse Social 1

EIS-2 na Especial de Interesse Social 2

ZEIS-2 Zona Especial de Interesse Social 2

EIS-3 na Especial de Interesse Social 3

ZEIS-3 Zona Especial de Interesse Social 3

EIS-4 na Especial de Interesse Social 4

ZEIS-4 Zona Especial de Interesse Social 4

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ER na Exclusivamente Residencial

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Fonte: Prefeitura do Muncípio de São Paulo

SUBPREFEITURA SOCORRO

ZEIS-5 Zona Especial de Interesse Social 5

Legenda

ZER Zona Exclusivamente Residencial

ZPR ZER OU_FariaL_Espraiada_Centro_Agua OU_FariaL_Espraiada_Centro_Agua

PR na Predominantemente Residencial

ZPR Zona Predominantemente Residencial

M na Mista

ZM Zona Mista

EPEC na Especial de Preservação Cultural

ZEPEC Zona Especial de Preservação Cultural

C na de Centralidade

ZC Zona de Centralidade

Corr na corredor

ZCorr Zona corredor

OE na de Ocupação Especial

ZOE Zona de Ocupação Especial

PI na Predominantemente Industrial

ZPI Zona Predominantemente Industrial

DE na de Desenvolvimento Econômico

ZDE Zona de Desenvolvimento Econômico

EU na Eixo de Transformação Urbana

ZEU Zona Eixo de Transformação Urbana

EUP na Eixo de Transformação Urbana Previsto

ZEUP Zona Eixo de Transformação Urbana Previsto

0

0.50

1

2km

Base cartográfica: PMSP. Mapa Digital de São Paulo, 2004. Projeção UTM/23S. Datum horizontal SAD69. Elaboração: Prefeitura do Município de São Paulo. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano.

N


Fonte: APRM - Billings - Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

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ÁREA DE INTERVENÇÃO

DELIMITAÇÃO DAS SUBÁREAS DE OCUPAÇÃO DIRIGIDA DA LEI ESPECÍFICA DA APRM - BILLINGS

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De acordo com Kubrusly “A nova Lei de Proteção aos Mananciais estabeleceu, portanto, as linhas gerais para assegurar a preservação dos recursos hídricos na região metropolitana de São Paulo, não se omitindo no que diz respeito ao reconhecimento da realidade da ocupação irregular, já consolidada, de moradia para mais de 800 mil habitantes”. (KUBRUSLY, 2000, p. 238)

No final da década de 1990 iniciaram-se os trabalhos para a elaboração da minuta de lei específica da sub-bacia do Guarapiranga, a cargo do Subcomitê da Bacia Hidrográfica Cotia – Guarapiranga, e promulgada em 2006. A bacia da represa Billings receberia também sua lei especifica, em 2009 (Lei Estadual 13.579/09), sob o nome de APRM – Billings. A esfera federal também trata da recuperação do meio ambiente associado ao bem estar da população urbana; a Constituição

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Além de diretrizes e normas ambientais e urbanísticas, precisaram-se os limites da APRM, junto à setorização e grau de intervenção sobre o ambiente preservado e construído. O refinamento jurídico e instrumental soube distinguir áreas urbanizáveis e passiveis de infraestrutura daquelas em situação de risco e, portanto, de inevitável remoção. Entram neste bojo de ação governamental a regulação fundiária de parte dos loteamentos clandestinos, segundo a categoria de uso e ocupação à qual pertencem e a compensação ambiental como contrapartida à permanência da população local. Segundo novos parâmetros de zoneamento há nas APRMs Áreas de Ocupação Dirigida (AOD), com subcategorias e Áreas de Ocupação Restrita (AOR) e Áreas de Recuperação Ambiental (ARA). (op. cit., 2012, pgs. 85-88). Nesta última, áreas degradadas poderiam ser objeto intervenções pontuais de recuperação urbana e ambiental, permitindo, por exemplo, a entrada de profissionais do campo da arquitetura e urbanismo.


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Federal de 1988 e o Estatuto das Cidades (Lei Federal nº 10257/2001) obrigam a elaboração por parte do município de Plano Diretor. O histórico do aperfeiçoamento da legislação reforça a importância da política pública participativa na cidade informal. A construção de parâmetros de ação mais correspondentes com o complexo cenário de atuação urbanística nos territórios conformados por justaposições de glebas parceladas clandestinamente ao longo das décadas somou-se ao desafio da preservação ambiental no meio urbano. A regularização fundiária associada à instituição em grande escala de serviços e equipamentos públicos foi possível graças a marcos normativos decorrentes de uma visão mais acurada de cada comunidade. A eficácia do equilíbrio entre ocupado e preservado passa pela identificação das redes de relações sociais existentes e a maneira pela qual elas compreendem o lugar em que elas habitam.


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3. A LEITURA DO OCULTO: COTIDIANO E REDES


Fonte imagens: EMEF Frei DamiĂŁo

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A visão tecnocrata sobre a cidade ilegal relega sua profundidade. O respaldo de suas medidas na produção do espaço urbano tem nas áreas ambientalmente frágeis, em especial às circunscritas em ocupações nos perímetros das bacias de macrodrenagem, um reflexo imediato que evidencia o descompasso analítico entre um modus operandi próprio do território urbano informal e seu tratamento por atores externos. É neste interim que a legislação específica dá em grande medida o grau de aproximação de suas normas e regulamentos com o espaço sobre o qual atua; o quanto está a serviço da recuperação de áreas consideradas degradadas para promoção da infraestrutura urbana no intuito de abrir caminho para a proposição de hipóteses de intervenção. Passo importante na evolução das políticas públicas sobre o tema, a Lei dos Mananciais incorporou um arcabouço conceitual sobre a cidade real de grande valia. As diferenças entre as leis da década de 1970 e de 1990 retratam um salto na leitura do território. Para Marcondes (1999), o primeiro conjunto de normas caracterizava-se pela “inadequação da legislação com respeito aos dados da realidade sobre a qual se aplica, que pressupõe uma visão de espaço neutro com referência à atuação dos diferentes agentes que interagem nos processos de uso e ocupação do solo”. (MARCONDES, 1999, p. 99) Este espaço não é isento de dinâmicas sociais complexas. Tratar delas é compreender o lugar no qual estão entremeadas. Quais são os significados deste(s) lugar(es) para que cada esfera governamental saiba operar corretamente em conjunto com a sociedade civil? Milton Santos aponta no cotidiano uma porta de entrada para o entendimento dos traços de cada comunidade, ressaltando na proximidade entre os indivíduos de determinado círculo de relações (vizinhança, associação de moradores, origem, região com pautas em comum, etc.) a


Sobre o lugar, Santos diz que, nele “(...) superpõem-se, dialeticamente, o eixo das sucessões, que transmite os tempos externos das escalas superiores e o eixo dos tempos internos, que é o eixo das coexistências, onde tudo se funde, enlaçando, definitivamente, as noções e as realidades de espaço e tempo”. (op. cit., 1998, p. 321)

A vivência local conduz a outra amplitude o nível das relações, que passam a ser delineadas pelas redes de solidariedade. A força delas, segundo o Santos, está vinculada a situações-tipo, uma proveniente de cima, pertencente à economia globalizada e outra, de baixo, de um setor produtivo oriundo de classes de menor renda. “Nos dois, a cidade é um grande sistema, produto da superposição de subsistemas diversos de cooperação, que criam outros tantos sistemas de solidariedade”. (Ibid., p. 323) Os laços existentes entre os que habitam a periferia, convivendo com a falta de urbanidade e acesso restrito à cidadania, convertem-se em acúmulo de interpretações sobre o território, extrapolando a medida física para atingir uma nova dimensão geográfica e temporal: o evento. Ele é um acontecimento que se dá pela interação social entre atores. Segundo Santos (op. cit., 1998, p. 147) para que o evento aconteça é necessária uma ação. Cada ato humano é, antes de consumar-se, uma possibilidade de realização. Ocorre no presente, mas sua duração não é predeterminada. A sucessão de eventos constrói

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grandeza que revela seus trâmites. A distância deixa de restringir-se a convenções de distância para deslocar-se ao campo da contiguidade entre indivíduos, vivendo sob “a intensidade de suas inter-relações” (SANTOS, 1998, p. 318).


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o tempo do individuo e condiciona a compreensão e vínculo com o espaço vivido. A natureza da cada momento tem matrizes diversas. Uma lei, uma ideia, a mobilização de uma comunidade, a abertura de um equipamento ou espaço público, um festival de funk; todas são ações que gestam o evento. A participação coletiva é matéria inerente à existência do evento. Há escalas de abrangência e origem, mas a situação vivenciada é um espaço do porvir, está aberta a experiências sociais sobrepostas, sistêmicas, em fronteiras tênues. Cada situação pode, inclusive, influenciar a guinada ou término da outra. A liga entre os participantes dos eventos passa por numerosa relação de disposições físicas e imateriais entrelaçadas. A distância entre o emprego e a moradia, a autoconstrução como padrão habitacional à maioria da periferia, baixa oferta de equipamentos e serviços são demandas que se confluem com as culturas locais, no que diz respeito à tradição, origem e visão de mundo de cada comunidade. Não há um único ponto de partida para o evento, mas a sobreposição de momentos que resultam numa amálgama de apreensão da totalidade do real. As ditas forças de cima e de baixo não são estanques, entram em colisão continuamente. A cidade global - influenciada pelos ajustes neoliberais adotados na década de 1990 - interfere no local e recondiciona seu significado a todo o momento, atingindo, principalmente, a escala do cotidiano. A combinação espaço-tempo de tantos elementos presentes na realidade transforma-a num ambiente fragmentado, desafiador a uma única maneira de captação. Sobre este âmbito fracionado, Santos discorre dos conceitos de horizontalidade e verticalidade. A contiguidade dos arranjos espaciais


VISITA DO EX-PREFEITO CELSO PITTA À EMEF FREI DAMIÃO, NA DÉCADA DE 1990

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Fonte imagens: EMEF Frei Damião

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Fonte imagens: EMEF Frei Damião

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ENCHENTE E VIA SEM PAVIMENTAÇÃO NA REGIÃO DO JARDIM SIPRAMAR, NA DÉCADA DE 1990


A diferenciação da qualidade das relações define o vertical e horizontal. No primeiro, a interdependência dos agentes regula o elo entre cada um numa hierarquia de arranjos organizacionais das cadeias de produção, distribuição, circulação e consumo. A eficácia de seu funcionamento está associada a um comando de aspecto homogeneizador, seja ele de ordem financeira, técnica ou política. “O que temos hoje são solidariedades organizacionais. As regiões existem porque sobre elas se impões arranjos organizacionais, criadores de uma coesão organizacional baseada em racionalidades de origens distantes, mas que se tornam um dos fundamentos de sua existência e definição” (Ibid, p. 285) A respeito de como a gradação de ordenamentos interfere no território habitado, Santos diz que “A informação, sobretudo a serviço das forças econômicas hegemônicas e a serviço do Estado, é o grande regedor das ações que definem as novas realidades espaciais. Um incessante processo de entropia desfaz e refaz contornos e conteúdos dos subepaços, a partir das forças dominantes, impondo novos mapas ao mesmo território. E o crescente processo de homogeneização se dá através de um processo de hierarquização crescente” (Ibid, p. 285)

Se as verticalidades impelem para a configuração uniforme do território, alheia à diversidade local, as horizontalidades são um instrumento de diagnóstico da multiplicidade de eventos intrínsecos às dinâmicas internas. Certo bairro, região ou lugar com características socioeconômicas similares são um exemplo. Isso não quer dizer que elas não estejam sujeitas à disciplina das verticalidades, mas as incorporam sem que as forças externas desintegrem sua organicidade, o vigor do cotidiano.

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é justaposta ou coexistente a outra gama de pontos descontínuos, porem conectados que “definem um espaço de fluxos reguladores”. (SANTOS, 1998, p. 284)


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“As horizontalidades são tanto o lugar da finalidade imposta de fora de longe e de cima, como o da contrafinalidade, localmente gerada. Elas são o teatro de um cotidiano conforme, mas não obrigatoriamente conformista e, simultaneamente, o lugar da cegueira e da descoberta, da complacência e da revolta” (Ibid., p.286)

Santos vê nas cidades o palco maior dos fenômenos espaço temporais descritos, assimilados pelos seus habitantes na ambiência cotidiana. O valor da experiência do porvir também foi ressaltado pela Internacional Situacionista (IS), movimento de intelectuais fundado por Guy-Ernest Debord, em 1957, crítico ao urbanismo moderno funcionalista e à interpretação historicista das cidades, como um patrimônio a ser congelado na história. No texto Relatório sobre a construção de situações e sobre as condições de organização e de ação da tendência situacionista internacional, o grupo manifesta a importância do indivíduo no processo de significação da cidade ao valorizar a experiência do porvir e da construção de situações por meio de seu cotidiano. A esta ideia, conceituou-se o urbanismo unitário, contrário à setorização das funções urbanas, no qual “(...) opõe-se ao espetáculo passivo, típico de nossa cultura, na qual a organização do espetáculo se estende de forma tanto mais escandalosa visto que o homem pode cada vez mais interferir de novas maneiras. Enquanto hoje as próprias cidades se oferecem como um lamentável espetáculo, um anexo de museu para turistas que passeiam em ônibus envidraçados, o UU vê o meio urbano como um terreno de um jogo do qual se participação”. (DEBORD, 2003, p. 25)

Se Santos identifica nas verticalidades a adoção de ordens hegemônicas e homogeneizadoras, os situacionistas acusavam o urbanismo moderno como o responsável pela banalização da arquitetura e das cidades, através da planificação e racionalidade extremas.


Os situacionistas também consideravam o cotidiano e a vivência denominadores comuns para a construção de situações que consolidam a realidade. A validação da participação do habitante da cidade passava pelo método da psicogeografia, na qual a percepção desloca o indivíduo, antes passivo, para uma nova posição social, ativa e coletivizada, na legitimação da arquitetura e do urbanismo. A mudança se daria pela própria reestruturação do cotidiano, salientando o poder da imagem na representação do urbano para torná-lo algo mais palpável. “Nossa ideia central é a construção de situações, isto é, a construção de ambiências momentâneas da vida, e sua transformação em uma qualidade passional superior. Devemos elaborar uma intervenção ordenada sobre os fatores complexos dos dois grandes componentes que interagem continuamente: o cenário material da vida; e os comportamentos que ele provoca e que o alteram.” (Ibid, p.21)

Tratando das práticas culturais na sociedade de consumo, Michel De Certeau aborda a questão do cotidiano como o meio para a formação de valores do indivíduo. O homem ordinário, segundo o historiador, tem em mãos a possibilidade de inventar seu próprio saber por meio das artes de fazer, estilos de ação que resinificam o lugar e o objeto em função das referências culturais que possui. Esta seria sua maneira de resistir ao imposto por ordens sociais dominantes. Segundo De Certau, para serem legitimados, os produtos culturais devem fazer sentido para as pessoas. A não aceitação deles denunciará um eventual distanciamento entre formuladores e usuário e as politicas culturais dominantes não corresponderem aos anseios desejados, serão limitadas.

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“Se o planejador não pode conhecer as motivações comportamentais daqueles a quem ele vai proporcionar moradia nas melhores condições de equilíbrio nervoso, mais vale integrar desde já o urbanismo no centro das pesquisas criminológicas”. (op. cit., p. 19)


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“A uma produção racionalizada, expansionista além de centralizada, barulhenta e espetacular, corresponde outra produção, qualificada de consumo: esta é astuciosa, é dispersa, mas ao mesmo tempo ela se insinua ubiquamente silenciosa e quase invisível, pois não se faz notar com produtos próprios, mas nas maneiras de empregar os produtos impostos por uma ordem econômica dominante”. (DE CERTEAU, 1994, p.39).

A sobreposição de significados pela prática cotidiana das redes também é notada por De Certau, quando diferencia o lugar do espaço. O lugar, de caráter estático, é uma ordem, um local físico projetado e construído onde os elementos estão organizados e coexistem sem significado. “(...) uma configuração instantânea de posições. Implica uma relação de estabilidade” (1994, p. 173). A apropriação do lugar como um suporte o emaranhado de significados que ele pode conter ocorre numa espécie de jogo de percursos intermitentes, dado pelo ato de caminhar, em que os passos “tecem os lugares” e propiciam a dimensão real do espaço, este sim um meio animado e suscetível à alterações simbólicas continuas. “O ato de caminhar está para o sistema urbano como a enunciação (o speech act) está para a língua ou para os enunciados proferidos. Vendo as coisas no nível mais elementar, ele tem como efeito uma tríplice função “enunciativa”: é um processo de apropriação do sistema topográfico pelo pedestre (assim como o locutor se apropria e assume a língua); é uma realização espacial do lugar (assim como o ato da palavra é uma realização sonora da língua); enfim, implica relações entre posições diferenciadas, ou seja, contratos pragmáticos sob a forma de movimentos (assim como a enunciação verbal é “alocução”, coloca o outro em face do locutor e põe em jogo contratos entre colocutores). O ato de caminhar parece portanto encontrar uma primeira definição como espaço de enunciação”. (DE CERTEAU, 1994, p.177).

Valorar o cotidiano como uma estratégia de leitura da metrópole tem grande mérito ao inverter a noção moderna da arquitetura e do urbanismo como saber responsável pela organização da socie-


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Fonte imagens: acervo próprio

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CENTRO DE CONVIVÊNCIA SANTA DOROTÉIA, UM DOS PRINCIPAIS LOCAIS DE LAZER E EDUCAÇÃO DA REGIÃO


Fonte imagens: acervo próprio

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MARGEM DO BRAÇO DO BORORÉ, ÁREA DE INTERVENÇÃO DO PROJETO TRABALHADO, E RUA DANIEL ALOMIA, UMA DAS VIAS DE ACESSO AO TERMINAL FLUVIAL PROPOSTO


A paisagem também desempenha papel social. O ambiente conhecido por seus nomes e familiar a todos oferece material para as lembranças e símbolos comuns que unem o grupo e permitem que seus membros se comuniquem entre si. (LYNCH, 1997, p. 143)

A tangibilidade experimentada no dia a dia das pessoas (pedestre, morador, grupo social) fornece informações às instâncias governamentais e a corpos técnicos que vão além do material disponível em estatísticas e nas cartografias oficiais. Ao focar a volatilidade dos momentos construídos a cada instante pelos habitantes e a imprevisibilidade da duração deles, pode-se dizer que Santos, os situacionistas e De Certau mantêm dialogo por manifestarem a relevância das dinâmicas sociais invisíveis, que fogem aos olhos da análise da racionalidade técnica. O invisível e o efêmero são, assim, componentes fragmentados no espaço e tempo propulsores de estratégias projetuais no campo da intervenção urbana nas extensas áreas de moradia precária dos mananciais da RMSP. Aliar este refinamento teórico sobre as preexistências, desde a escala do pedestre até a identificação de certas relações compartilhadas entre grupos sociais podem aliar-se na formulação de regulações urbanísticas atentas aos pormenores da vida cotidiana e também ao projeto de edificações.

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dade civil em prol da racionalidade dos fluxos de seus organismos produtivos – raciocínio que se revela desatualizado quando confrontado com a complexidade da cidade informal. É possível traçar paralelo os dizeres de Kevin Lynch, do ponto de vista formal, ao dizer que


MAPA AFETIVO, ILUSTRANDO O PENSAMENTO SITUACIONISTA

Fonte: Editora Casa da Palavra/Guy Debord

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4. ARQUITETURA ABERTA E ESPAÇOS SUPORTE


“(...) é a forma mais genuína da condição dispersa da pós-modernidade, e quando se toma essa condição hibrida como ponto de partida quando se resiste à tentação da unidade, identidade e metafisica, recorre-se a mecanismos que recompõem certa totalidade, múltipla e fragmentária, como mosaico, a colagem, a montagem, a ensambladura ou a sobreposição; potencializa-se a complexidade geral e a individualização de cada parte”. (MONTANER, 2009, p. 148)

O caos ou a dispersão, ao mesmo tempo em que enriquece as características de cada parte, não deixa de estar associado a uma logica sistêmica que, quando em contato, contribui para o entendimento global do espaço. De que maneira transpor estes fenômenos mutantes às metodologias da arquitetura aparentemente estáticas e predefinidas, como programa e partido do edifício? Alguns projetos emblemáticos da arquitetura contemporânea indagaram estas convenções realocando-as sob outras operações, sem que a autoria do desenho e a necessidade de atender demandas colocadas deixassem de ser funcionais. São hipóteses projetuais e de

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A complexidade das ocupações características ao longo da linha de mananciais das represas Billings e Guarapiranga engloba questões a respeito da relevância de dinâmicas locais para uma primeira aproximação nestes territórios e as hipóteses de intervenção conseguintes. O diagnóstico sobre o espaço a ser trabalhado passa por classificações formais (tipologias, configuração do tecido urbano, uso e ocupação do solo), assim como pelo levantamento das nuances que delineiam as identidades e fluxos entre os pontos de interesse dos moradores em todas as escalas. Josep Maria Montaner (2009)assinala que a combinação destas peças detectadas de uma realidade “caracterizada pela dispersão e pela diferença, pela soma e pela sobreposição e pelo choque entre peças” resultarão na legibilidade da linguagem arquitetônica no entorno. Sobre a fragmentação, Montaner afirma que


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análise que permitem redefinições programáticas contínuas em resposta à multiplicidade dos usuários que recebem no decorrer do tempo. Eles têm como ponto de contato a presença em contextos urbanos heterogêneos em que a importância referencial da imagem e a complexidade das condições de uso transformaram-se em desafios aos profissionais envolvidos. Estes projetos admitem a flexibilidade dos ambientes, contêm simbolismo e materialidade em seus partidos ao designarem às suas partes constituintes (programa, lajes, circulações, acessos) uma condição simbólica de referência imagética a quem experimenta suas espacialidades. Subordinam suas soluções construtivas à possibilidade de ser um suporte para atividades inúmeras. O Parc de La Villette, maior parque de Paris, construído no 19º Arrondissement. de autoria de Bernard Tschumi em 1982, destaca-se pela influência do desconstrutivismo por ter em seus 25 hectares três equipamentos culturais uma estratégia de ocupação de criação do território calcada nos princípios filosóficos de Jacques Derrida. Linhas, superfícies e pontos transformam-se em programas complementares e percursos numa sobreposição abstrata e geométrica sore o solo existente. A tensão gerada entre as disjunções e aproximações com o retrospecto histórico da capital francesa produziu um parque que pretende representar o século 21. O caráter de suporte se dá principalmente nos pontos (chamados de folies), transformando-se em atrativos que induzem os usuários a ler o que os rodeia de forma subjetiva e em constante descoberta do espaço. (TSCHUMI, 2010, pgs. 189-190)


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Fonte imagens: Bernard Tschumi Architects

ESTRATÉGIA PROJETUAL DE BERNARD TSCHUMI PARA O PARC DE LA VILLETTE, EM PARIS, COM SOBREPOSIÇÃO DE PROGRAMAS, LINHAS, SUPERFÍCIES E PONTOS


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A subjetividade pretendida tem correlato com o questionamento sobre a unidade do projeto. Tschumi afirma que, pela lógica pensada, “esse projeto não tem começo nem fim” e que “a ideia de ordem é permanentemente questionada, desafiada e levada ao extremo”. (op. cit., pgs. 189-190) “São antes operações, compostas por repetições, distorções, sobre-imposições etc. Apesar de possuírem uma logica interna própria – seu pluralismo não é destituído de objetos -, é impossível descrever tais operações unicamente com relação transformações internas ou sequenciais. (...) os fatos quase nunca se conectam e as relações de conflito são cuidadosamente preservadas em detrimento da síntese ou da totalidade. O projeto nunca se realiza, assim como as fronteiras nunca são definidas”. (op. cit., 2010, pgs. 189-190)

A maneira como estas arquiteturas são ocupadas numa escala de tempo de variadas dimensões é outro item a ressaltar. O reflexo de uma cidade em espaços coletivos abertos à ressignificação é caminho para oscilações de inúmeras matizes. Uma praça, por exemplo, em sintonia ao partido do suporte tem em sua essência uma espécie de código aberto à condição urbana. A liquidez dos significados da garagem para veículos Lincoln Road, de Herzog & De Meuron, em Miami, nos Estados Unidos, é tamanha que em suas lajes é possível verificar além da utilidade primária do edifício - abrigar veículos – moradias, eventos, comercialização de produtos, entre outros, como uma espécie de condensador de atividades. São estratégias arquitetônicas que situam o espaço não mais como um processo finito, finalizado em concepção pelos seus autores e dali em diante subordinante aos que usufruírem do programa pensado. Conteste à rigidez da relação função-forma, sistemas arquitetônicos que incorporam a possibilidade do devir como uma via de apreensão e significação possibilitam a extrapolação da vivência do espaço dado a priori para sujeitá-lo a outras leituras. Até mesmo caráter estético da obra arquitetônica, a


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Fonte: Herzog & de Meuron Architects

1111 LINCOLN ROAD, PROJETO DE HERZOG & DE MEURON

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Fonte: Nelson Garrid


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princípio a cargo do autor, mas que, quando suplantada, transforma-se num “suporte que permite a expressão artística não apenas de quem a concebe, mas também a quemrecebe e a usa; o exercício deixa de ser apenas visual para transformar-se em fonte fecunda de experimentações” (GUATELLI, 2013, p. 18) Igor Guatelli defende que o porvir carrega a força da desestabilidade das convenções espaciais, ao dizer que “Ao contrário do modus operandi fundamentado na concepção de um “correto” espaço regido por prescrições programáticas convencionais e pré-determinações de usos que o garantem como lugar “pronto para-ser-utilizado”, e onde toda a possibilidade de experimentação parece canalizada na construção de gramaticas formal-compositivas “harmônicas”, a instabilidade e indefinição do espaço surgem como via de crítica ao imperativo categórico do ótico compositivo, à perenidade de formas monumentais e paradigmáticas e ao desejo de suas invioláveis permanências no tempo” (op. cit., p. 16)

A congestão que o projeto arquitetônico pode vir a ser também é descrita por Saskia Sassen, ao descrever sobre os conceitos de Ignasi-Solà Morales, no prefácio de seu livro, Territorios, publicação na qual cunha-se o termo arquitetura líquida. Em maior escala, a cidade é o receptáculo da gama de situações propiciadas pelas vias de comunicação da economia globalizada, sendo um “evento que captura la interseccion de lo urbano y lo arquitectónico”. (SASSEN, 2002, p.10) A resultante formal e espacial do edifício ampara o entroncamento de fluxos das redes de pessoas, informações e objetos, sujeitando o sucesso da força catalisadora do projeto a capacidade de absorver as praticas fragmentarias.


A eficácia dos sistemas arquitetônicos e de sua relação com o entorno está condicionada à extrapolação dos aspectos formais e físicos. Segundo Sassen, a arquitetura líquida é aquela que carrega em sua gênese a ênfase ao cruzamento de tempos e das trocas, expandindo a experiência do espaço a interpretações do porvir, desprendidas da rigidez de um programa, por exemplo, para conferir certa liberdade ao seu usufruto e significação. Ela deve “presentar la ‘experiencia cinestésica’ de los flujos em las dinâmicas metropolitanas em términos no-visuales, de la deriva que se aparta de la programacion y de la regulacion preestabelecida para experimentar otros eventos, otras representaciones” (op. cit., p.13) O contínuo contato entre eventos que os espaços configurados como suporte realizam, reforça a ideia de que um ambiente propício à tensão entre seus participantes torna-se um dos papeis fundamentais da arquitetura contemporânea. Ao delinear o fragmentado campo de trabalho ao qual o arquiteto e urbanista está sujeito na atualidade, pode-se dizer que Montaner, Sassen e Guatelli dissipam os limites do partido proposto; quanto mais imprevisibilidades forem capazes de conter, maiores as possibilidades das rotas de colisão entre momentos nos tempos diversos de seus usuários, sendo a arquitetura, então, um texto aberto (GUATELLI, 2013) a situações futuras.

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“El domínio de lo construído, por no mencionar el de las interconexiones, vá más ajja de la arquitectura. El transporte, las telecomunicaciones, ele almanje, los espacios naturales en el interior de las ciudades, los espacios abertos de entretenimento, todos ejjos son partes centrales de la experiencia urbana (...)” (op. cit., p. 9)


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“O estudo reflexivo que propomos não parte do sujeito, do homem, contemporâneo, tampouco do objeto, a arquitetura. Nossa reflexão se concentra no ponto de contato entre ambos, em um processo de interação-tensãosujeito-objeto que está além do ótico e em como esta interação-tensão pode reverberar agenciamentos outros, relativos ao valor do espaço e suas intermináveis finalidade em arquitetura” (GUATELLI, 2013, p. 19)

Diante deste cenário de inversões de padrões, de hipóteses de desregulamentação normativa, como definir uma metodologia apropriada cedente ao desdobramento do porvir? Segundo Igor Guatelli, o papel do arquiteto “residiria tentativa de promover uma interaçãoarticulação entre o definido e o indefinido”. (op. cit., p. 33). O palco do indefinido está situado justamente entre o espaços dados, sendo eles “(...) catalisadores, motivadores dessas ações dos usuários, desses eventos, desses acontecimentos inesperados que surgiriam e permaneceriam sempre em processo, transitórios, jamais se firmando como atividade dominante que pudesse se transformar em convecção de uso, e onde o programa não seria determinado pelo arquiteto, mas mutável, estaria sempre sendo solicitado e conformado por essas ações. (op. cit., 2013, p. 33)


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5. HIPÓTESE PROJETUAL TERMINAL FLUVIAL NA REPRESA BILLINGS


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VISTA GERAL DO TERMINAL FLUVIAL DESENVOLVIDO

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Quanto ao projeto arquitetônico desenvolvido – terminal fluvial de barcas associado à equipamento público -, parte-se da ideia de um conjunto de proposições que poderia ser aplicado a outras situações análogas. A aproximação se deu por consulta prévia à legislação, dados e bases oficiais, complementada pelo contato com a comunidade do entorno, em entrevistas e registros da uma organização filantrópica local, Centro de Convivência Santa Dorotéia e às escolas Municipais de Ensino Eundamental Frei Damião e Infantil João Cândido, no intuito de transcorrer o processo de trabalho de maneira horizontal e coletiva, guardadas as limitações de prazo e abrangência possíveis no universo estudado, e as próprias limitações inerentes a um trabalho de cunho acadêmico. A ideia deste primeiro diagnóstico era verificar quais hipóteses poderiam ser levantadas para que o edifício proposto seja legível à população que o rodeia. A coleta de informações foi gravada e acompanhada pelo registro de um mapa afetivo dos entrevistados no qual foram indicados pontos de encontro e as centralidades pertencentes ao cotidiano da região, como feiras livres, festas populares, centro comercial, trajetos e também a própria relação do imaginário dos moradores com a represa Billings. Destas visitas, partiu-se para a concepção conceitual da rede de terminais e a distribuição de cada um deles com base no extenso levantamento realizado pelo Grupo Metrópole Fluvial, que pertence ao Laboratório de Projeto do Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU USP, coordenado pelos arquitetos Alexandre Delijaicov, André Takiya e Milton Braga. O trabalho aprofunda propostas para a utilização


O local também sofre com a indefinição fundiária e de atuação de políticas públicas, uma vez que a proximidade com uma das principais reservas de abastecimento de água potável da capital paulista impede legalmente que o poder público urbanize por completo a comunidade. A malha urbana é fruto de loteamento irregular surgido nas décadas de 1970 e 1980. Próximo à foz de um

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da água como meio de transporte de cargas, dejetos e passageiros, aproveitando o imenso potencial hídrico característico o conjunto de rios e represas da RMSP, orientando-se principalmente pelos eixos das marginais Pinheiros e Tietê, pelo rio Tamanduateí e pelas represas Guarapiranga e Billings. A proposta, em caráter preliminar, mas com detalhados estudos de viabilidade para diversos modais de transporte lacustre indica, em um de seus tópicos, a localização de terminais para transporte de passageiros por embarcações rasas para movimentarem-se em trajetos com calado de baixa profundidade, indicando inclusive a tipologia recomendada (GMF, 2011). O terminal trabalhado encontra-se numa posição complementar à rede desenhada pelo grupo de pesquisa, por estar situado num contexto urbano com peculiaridades diversas que passaram a ser interessantes como desafio projetual e de zoneamento. Situado no distrito de Grajaú, nos bairro Residencial Cocaia e Jardim Sipramar, no extremo sul de São Paulo, é caracterizado pelo difícil acesso em razão de sua posição geográfica limítrofe à represa Billings e às poucas vias de acesso aos bairros centrais, polarizadores da oferta de emprego na cidade. O território urbano é conformado pela hegemonia de residências de baixo padrão – algumas em áreas de risco – e escassez de infraestrutura urbana. O meio de transporte coletivo mais acessível é o ônibus, em poucas linhas locais e com frequências pouco favoráveis à população.


Fonte: acervo prรณprio


MAPA AFETIVO PRODUZIDO POR MORADORES DA REGIÃO


Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

BRAÇO DO BORORÉ

ÁREA DE INTERVENÇÃO Fonte: Arquivo de Fotografias Aéreas. Ambos (1 e 2) do Departamento de Geografia. Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo / Laboratório de Aerofotogeografia e Sensoriamento Remoto.

70

CORPO CENTRAL

ÁREA DA PENÍNSULA DO COCAIA E DO BRAÇO DO BORORÉ, NA REPRESA BILLINGS, ZONA SUL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, EM 1962 (À ESQUERDA), E EM 2010 (À DIREITA)


LINHA DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA

BRAÇO DO BORORÉ CENTRO COMERCIAL CEU NAVEGANTES

VIA PRINCIPAL LINHAS DE ÔNIBUS

ÁREA DE INTERVENÇÃO

AV. DONA BELMIRA MARIN

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

71

Fonte: Elaboração própria sobre imagem de satélite de BASE Aerofotogrametria e Projetos S.A.

CORPO CENTRAL


72 Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

córrego local que corta o bairro de Jardim Sipramar e das escolas citadas, o equipamento proposto aqui integra um conjunto de estratégias que configuram o plano urbano proposto para esta região. PLANO URBANO E PARQUE LINEAR Com base na legislação da Lei de Mananciais propõe-se a utilização de mecanismos do zoneamento ambiental para recuperar uma grande gleba de massa vegetal de mata Atlântica em relevo acentuado, atualmente ocupada por pequenas chácaras, para a desapropriação destes lotes seguida pela unificação a fim de criar-se um parque urbano de pequeno porte, complementado por um centro de educação ambiental e caminhos por passarelas aéreas que permitam a contemplação da massa arbórea e da paisagem próxima. Outro recurso sugerido é o da remoção parcial de moradias próximas ao córrego do loteamento escolhido, sendo retiradas somente as habitações consideradas de risco ou interferentes na preservação da nascente deste afluente da represa, que seriam realocadas, como se verá a seguir. Quanto à maneira de ler o tecido urbano existente, o projeto para o parque La Villette, de Bernard Tschumi, foi de grande valia na abordagem sobre o território preexistente. Bastante fragmentado devido à junção do viário de cada loteamento produzido, pretendeu-se estabelecer uma estratégia de ajustes entre ligações consideradas importantes tanto do ponto de vista da circulação de veículos e das linhas de ônibus municipais, como daqueles registrados nos diálogos feitos com a comunidade local. O resultado final foi a interligação entre três níveis de cotas – parque, várzea, bairro – por meio da requalificação do passeio público e da unificação entre estas situações urbanas díspares.


TERMINAL FLUVIAL Inserido neste arranjo urbano, a concepção do projeto do terminal fluvial passa pela adoção de sistemas racionalizados de construção e montagem dos componentes que conformam o conjunto de edificações, ao pretender generalizar o transporte fluvial aos habitantes da cidade de São Paulo, bem como de sua região metropolitana. Neste sentido, a implantação estabelece-se numa lógica flexível, na qual a disposição de uma malha de modular de 5x5m organiza as dimensões gerais e facilita o arranjo dos blocos a fim de criar um espaço público de convívio. Por se tratar de um programa expansível, ajustável, e até mesmo subtraído, caso não seja necessária a retirada de algum volume, a concepção estrutural guia-se pela viabilidade

73 Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

Sobre estas ligações, foram distribuídos nos entroncamentos e esquinas com a malha atual pavilhões de pequeno porte onde poderiam ser instalados programas locais, a exemplo de sanitários, bancas, posto de informações, ponto de ônibus, entre outros. Por fim, a escala do pedestre foi aprimorada pelo alargamento das calçadas, inclusão de ciclovias, passarelas para vencer desníveis e escadarias, além da ampliação da calha do córrego, hoje canalizado à ceu aberto, até a nascente, próxima às escolas públicas, onde haveria uma pequena escola de práticas náuticas, como canoagem e remo. A proposta decorrente destas abordagens pretendeu equilibrar a manutenção das relações sociais reconhecidas durante a visita a campo com a preservação ambiental, pontuada por medidas de caráter emergencial, como a transferência dos moradores em áreas vulneráveis para unidades habitacionais dentro dos limites do bairro, prevista em lotes vazios identificados.


Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

74

PLANO MACROURBANO | SISTEMA TRANSPORTE POR BALSAS - REPRESA BILLINGS

ESCADAS E PASSARELAS DE INTERLIGAÇÃO ENTRE O PARQUE E O CENTRO COMERCIAL DO BAIRRO

EQUIPAMENTOS DE APOIO AO PARQUE (BAR, SANITÁRIOS, POSTO INFORMAÇÕES)

ESCOLA DE REMO E AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE DA ESCOLA LOCAL

ACESSOS AO PARQUE CONECTADOS COM O VIÁRIO LOCAL

1/10 TERMINAL FLUVIAL METROPOLITANO

TERMINAL FLUVIAL LOCAL

ESTAÇÃO TREM CPTM

UNIDADES HABITACIONAIS PARA MORADORES REMOVIDOS DAS ÁREAS DE VÁRZEA LIGAÇÕES PROPOSTAS

EDIFÍCIOS REMOVIDOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

MIRANTE

TERMINAL

EQUIPAMENTOS

PEDESTRES

VEÍCULOS

LINHA ESTRUTURAL

LINHA LOCAL


00000

1/5000 CORREDOR ÔNIBUS

DISTRIBUIÇÃO PROGRAMA DISTRUBUIÇÃO PROGRAMA

TERMINAL

LINHA ESTRUTURAL

LINHA LOCAL

ÁREAS VERDES E ÁGUA

LINHA CIRCULAR

CORREDOR PDE 2014

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

75

PLANO REGIONAL TERMINAIS LOCAIS | PENÍNSULA DO COCAIA -GRAJAÚ


Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

76

PLANO URBANO | PARQUE LINEAR COCAIA

ALARGAMENTO DO CÓRREGO LOCAL E CRIAÇÃO DE PRAIA URBANA E ESPAÇOS DE LAZER

REPRESA BILLINGS MIRANTE

TERMINAL HIDROVIÁRIO, DE ÔNIBUS E EQUIPAMENTOS DE SERVIÇOS PÚBLICOS

CICLOVIA E AMPLIAÇÃO DAS CALÇADAS

PARQUE URBANO E REGENERAÇÃO VEGETAÇÃO NATIVA EXISTENTE

RECUPERAÇÃO DA MASSA VEGETAL DAS MARGENS DA REPRESA

ESCALA 1/2000


ESCADAS E PASSARELAS DE INTERLIGAÇÃO ENTRE O PARQUE E O CENTRO COMERCIAL DO BAIRRO

EQUIPAMENTOS DE APOIO AO PARQUE (BAR, SANITÁRIOS, POSTO INFORMAÇÕES)

ESCOLA DE REMO E AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE DA ESCOLA LOCAL

ACESSOS AO PARQUE CONECTADOS COM O VIÁRIO LOCAL

UNIDADES HABITACIONAIS PARA MORADORES REMOVIDOS DAS ÁREAS DE VÁRZEA

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

77

PLANO

EDIFÍC

CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

MIRANTE


TERMINAL

78

MIRANTE

EQUIPAMENTOS

TERMINAL HIDROVIÁRIO, DE ÔNIBUS E PASSARELA EQUIPAMENTOS DE SERVIÇOS PÚBLICOS

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

METÁLICA AÉREA

PEDESTRES

ELEVADOR ACESSO PARQUE

VEÍCULOS

RUA LOCAL PISO PERMEÁVEL

MORADIAS EXISTENTES PRESERVADAS

RUA PARQUE LINEA CICLOVIA, CALÇADA E PISO PERMEÁVEL

CICLOVIA E AMPLIAÇÃO DAS CALÇADAS

PARQUE URBANO E REGENERAÇÃO VEGETAÇÃO NATIVA EXISTENTE

DRENAGEM RECUPERAÇÃO DA MASSA VEGETAL DAS MARGENS DA REPRESA

CORTE URBANO TRECHO CÓRREGO | ESCALA 1/500

CORTE URBANO TRECHO CÓRREGO

ESCALA 1/2000

CICLOVIA

REPRESA BILLINGS

CORTE URBANO | ESCALA 1/750

VIÁRIO LOCAL MARGEM DO PARQUE

PASSARELA AÉREA

MIRANTE


ALARGAMENTO CALHA CÓRREGO

PASSARELA TRANSPOSIÇÃO CÓRREGO

ESCOLA DE REMO E AMPLIAÇÃO DA EQUIPAMENTOS CAPACIDADE DA ESCOLA LOCAL DE APOIO EM PATAMAR

ESCADA DE ARTICULAÇÃO ENTRE COTAS

ACESSOS AO PARQUE CONECTADOS COM O VIÁRIO LOCAL

UNIDADES HABITACIONAIS PARA MORADORES REMOVIDOS DAS ÁREAS DE VÁRZEA

CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

CÓRREGO

ACESSO PARQUE

MIRANTE

MORADIAS EXISTENTES

VIÁRIO LOCAL E CICLOVIA PAQUE LINEAR

EQUIPAMENTOS DE LAZER

CÓRREGO

PASSARELA

ESCADA

79

EQUIPAMENTOS DE APOIO E ÁREAS DE LAZER PARQUE

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

AR A

EQUIPAMENTOS DE APOIO AO PARQUE (BAR, SANITÁRIOS, POSTO INFORMAÇÕES)


Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

80

de execução em larga escala e fácil transporte de seus componentes, sejam eles metálicos, pré-fabricados ou moldados in loco. Apesar das dificuldades de acesso à região, a proximidade com a água transforma-se no grande potencial do projeto, ao entendê-la como uma efetiva via de ligação entre comunidades lindeiras e o centro da cidade, a partir de noção capilar de redes hidroviárias organizadas por rotas em diversos pontos ao longo das margens de rios e represas. Programas complementares podem ser a interligação por meio da conexão de barcas especializadas de navegação lacustre em percursos bairro-bairro e bairro-centro, rompendo a organização radiocêntrica comum ao sistema de transportes metropolitano. A implantação e a relação entre os volumes estabelecem-se numa disposição que poderá ser alterada segundo cada condição topográfica. A fim de condicionar as perspectivas do pedestre em direção à paisagem de maior interesse - a represa - e, ao mesmo tempo, encontrar um arranjo que possibilitasse a criação de uma praça pública e o escoamento dos passageiros, os volumes foram distribuídos perpendicularmente à margem, obedecendo a retícula de 5x5m a partir de seu ponto de contato com o viário local. No trajeto oposto, à medida que as barcas aproximam-se das plataformas de desembarque, o enquadramento criado pelo conjunto valoriza a massa vegetal preservada existente no bairro.

IMPLANTAÇÃO LINEAR

MODULARIDADE E COMBINAÇÃO ENTRE VOLUMES

IMPLANTAÇÕES VARIADAS SEGUNDO DEMANDAS LOCAIS


81 PROGRAMA PAVILHÃO A irregularidade topográfica das margens da represa Billings e a escassez de vazios para a implantação de novas construções conduziram à opção por uma edificação que se estruturasse sobre a água, a partir de poucos pontos de contato com o solo. Outra condicionante foi a necessidade de preservar ao máximo as condições naturais preexistentes e evitar grandes movimentações de terra. De caráter pavilhonar, dois pilares de concreto de seção circular partem do fundo da represa até o primeiro pavimento. Estes dois elementos de apoio obedecem à modulação de 1,25 metros, considerada adequada à escala do objeto e coerente com o sistema construtivo adotado. Eles distanciam-se em 25m por uma viga metálica “I” longitudinal, que, por sua vez, sustenta vigas secundárias dispostas no sistema “espinha de peixe”. Outras duas vigas metálicas geram balanços de 5 metros em cada um dos lados do pavilhão.

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

Por se tratar de um sistema construtivo que permita expansão, ajustes e até mesmo a retirada de determinados programas, a concepção estrutural encontra similaridades com os Centros Educacionais Unificados (CEUs), implantados a partir de 2003 pela prefeitura de São Paulo em regiões periféricas como estratégia para levar equipamentos de ensino, cultura e esporte. Com ressalvas à implantação destes complexos – disposição das peças enrijecida pelo terreno compromete a relação entre o interior e a malha urbana – a rapidez com que podem ser construídos em larga escala é seu maior mérito, além do programa, como política pública.


A B

82 Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

S MUL

DE ACESSOS

A

PRAÇA FL

B

PLANTA 2º PAVIMENTO | ESCALA 1/750

PLATAFORMA TERMINAL

CIRCULAÇÃO

PLATAFORMA FLUTUANTE

A PLANTA 4ºTÉRREO| PAVIMENTO | ESCALA ESCALA 1/750 1/750 PROGRAMA

A

VISTAS

B A | 1/750 CORTE

S MUL


ECK COMÉRCIO PRAÇA ATERRO

LUTUANTE

B

ES

E

D

C

TRAD

TERMINAL ÔNIBUS

A E

D

MIRANTE

A

CENTRO COMUNITÁRIO

E

SALA LTIUSO

A

OCAI PLANTAA D3ºO CPAVIMENTO | ESCALA 1/750

ACESSO TERMINAL

C

L

CENTRO COMUNITÁRIO

A A

B

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

E

E

D

B

83

A

CENTRO COMUNITÁRIO

C

SALA LTIUSO

P


Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

84

ISOMÉTRICA PAVILHÃO MULTIUSO

PLANTA 2º PAVIMENTO | ESCALA 1/750 PLANTA TÉRREO| ESCALA 1/750

ISOMÉTRICA PAVILHÃO MULTIUSO ISOMÉTRICA PAVILHÃO MULTIUSO

CORTE CORTE CC | ESCALA 1/750

CORTE C |CESCALA 1/750 CORTE | ESCALA 1/750

A A

M

PLANTA 4º PAVIMENTO |PASSARELA ESCALA 1/750 METÁLICA AÉREA

ELEVADOR ACESSO PARQUE

B

PASSARELA PASSARELA METÁLICA AÉREA METÁLICA AÉREA

ELEVADOR ELEVADO ACESSO PARQUE ACESSO PARQU

CORTE D| 1/750

CORTE D|D| 1/750 CORTE 1/750

PLANTA | ESCALA 1/750 CORTE A2º| PAVIMENTO 1/750

BRISE EM TELA METÁLICA FIXADA NO REQUADRO MODULAÇÃO 1,25m RUFO METÁLICO PARA ARREMATE DA COBERTURA TELHA TERMOACÚSTICA "SANDUÍCHE" (TELHA + ISOLANTE + TELHA) VENEZIANA TRANSLÚCIDA PARA VENTILAÇÃO CRUZADA MODULAÇÃO 1,25m RUFO METÁLICO PARA VEDAÇÃO DA COBERTURA CALHA METÁLICA MONTANTE VERTICAL 4X8cm PARA APOIO DA TELHA VIGA METÁLICA "I" GALVANIZADA VAZADA PARA ESTRUTURAÇÃO DOS FECHAMENTOS 15x30cm VIGA METÁLICA "I" GALVANIZADA 15x30cm ESTRUTURA METÁLICA "T" PARA APOIO DAS VIGAS DA COBERTURA CHUMBADA NO PISO LAJE ALVEOLAR EM CONCRETO PRÉ-FABRICADO MODULAÇÃO 1,25x2,50m PERFIL METÁLICO "C" PARA APOIO DA TELHA VIGA METÁLICA SECUNDÁRIA FIXADA NO PILAR DE CONCRETO 40X20cm REVESTIMENTO PISO EM RESINA EPOXI

CORTE E | 1/750

A

VIGA METÁLICA "I" SECUNDÁRIA FIXADA NA VIGA PRINCIPAL BRISE EM TELA METÁLICABRISE EM TELA METÁLICA 40X20cm FIXADA NO REQUADRO FIXADA NO REQUADRO VIGA METÁLICA "I" PRINCIPAL MODULAÇÃO 1,25m MODULAÇÃO 1,25m FIXADA NO PILAR DE CONCRETO 80X20cm RUFO METÁLICO RUFO METÁLICO DE SEÇÃO CIRCULAR PARA ARREMATEPILAR DA COBERTURA PARA ARREMATE DA COBERTURA Ø80cm TELHA TERMOACÚSTICA "SANDUÍCHE" TELHA TERMOACÚSTICA DESCIDA A.P. EMBUTIDA "SANDUÍCHE" (TELHA +EM ISOLANTE + TELHA) (TELHA + ISOLANTE + TELHA) NICHO VERTICAL NO PILAR

CORTE URBANO TRECHO CÓRREGO | ESCALA 1/750 VENEZIANA VIGA TRANSLÚCIDA PARA 15x20cm "I" GALVANIZADA VENEZIANA TRANSLÚCIDA PARA

VENTILAÇÃO CRUZADA PARA FIXAÇÃO DO BRISE E VENTILAÇÃO CRUZADA MODULAÇÃO 1,25m DA LAJE ARREMATE MODULAÇÃO 1,25m PROJEÇÃO FUNDAÇÃO PILAR RUFO METÁLICO PARA RUFO METÁLICO PARA VEDAÇÃO DA COBERTURA MONTANTEVEDAÇÃO METÁLICODA COBERTURA

EM PERFIL CALHARETANGULAR METÁLICA 5X6cmCALHA METÁLICA PARA ESTRUTURAÇÃO DO BRISE MONTANTE VERTICAL 4X8cm VERTICAL 4X8cm PERFIL "C"MONTANTE DE FIXAÇÃO PARA APOIO DA TELHA PARA APOIO DA TELHA DA PLACA CIMENTÍCIA VIGA METÁLICA "I" GALVANIZADA VAZADA "I" PARA VIGA METÁLICA GALVANIZADA VAZADA PARA ESTRUTURAÇÃO DOS FECHAMENTOS ESTRUTURAÇÃO DOS FECHAMENTOS 15x30cm 15x30cm

ARQUITETURA E URBANISMO MACKENZIE -PLANTA TFGII - PAULO EDUARDO SCHEU 4º PAVIMENTO | ESCALA 1/750 VIGA METÁLICA "I" GALVANIZADA VIGA METÁLICA "I" GALVANIZADA 15x30cm 15x30cm

ESTRUTURA METÁLICA "T"ESTRUTURA PARA APOIOMETÁLICA DAS "T" PARA APOIO DAS VIGAS DA COBERTURA CHUMBADA PISO VIGAS DA NO COBERTURA CHUMBADA NO PISO

LAJE ALVEOLAR EM LAJE ALVEOLAR EM CONCRETO PRÉ-FABRICADO CONCRETO PRÉ-FABRICADO MODULAÇÃO 1,25x2,50m MODULAÇÃO 1,25x2,50m

PERFIL METÁLICO "C" PARA PERFIL METÁLICO "C" PARA APOIO DA TELHA APOIO DA TELHA VIGA METÁLICA SECUNDÁRIA VIGAFIXADA METÁLICA SECUNDÁRIA FIXADA NO PILAR DE CONCRETO NO PILAR DE CONCRETO 40X20cm 40X20cm REVESTIMENTO PISO EM RESINA EPOXI

CORTE E |E1/750 CORTE | 1/750

CORTE E

REVESTIMENTO PISO EM RESINA EPOXI

VIGA METÁLICA "I" SECUNDÁRIA VIGA METÁLICA "I" SECUNDÁRIA FIXADA NA VIGA PRINCIPAL FIXADA NA VIGA PRINCIPAL 40X20cm 40X20cm VIGA METÁLICA "I" PRINCIPAL VIGA METÁLICA "I" PRINCIPAL FIXADA NO PILAR DE CONCRETO FIXADA NO PILAR DE CONCRETO 80X20cm 80X20cm PILAR DE SEÇÃO CIRCULAR PILAR DE SEÇÃO CIRCULAR Ø80cm Ø80cm DESCIDA A.P. EMBUTIDA DESCIDA A.P. EMBUTIDA EM NICHO VERTICAL NO PILAR EM NICHO VERTICAL NO PILAR

CORTE URBANO TRECHO CÓRREGO | ESCALA 1/750 CORTE URBANO TRECHO CÓRREGO | ESCALA 1/7 CORTE B | 1/750 CORTE B VIGA "I" GALVANIZADA 15x20cm VIGA "I" GALVANIZADA 15x20cm PARA FIXAÇÃO DO BRISE E PARA FIXAÇÃO DO BRISE E ARREMATE DA LAJE ARREMATE DA LAJE PROJEÇÃO FUNDAÇÃO PILAR PROJEÇÃO FUNDAÇÃO PILAR

MONTANTE METÁLICO MONTANTE METÁLICO EM PERFIL RETANGULAR 5X6cm EM PERFIL RETANGULAR 5X6cm PARA ESTRUTURAÇÃO DOPARA BRISE ESTRUTURAÇÃO DO BRISE PERFIL "C" DE FIXAÇÃO DA PLACA CIMENTÍCIA

PERFIL "C" DE FIXAÇÃO DA PLACA CIMENTÍCIA

ARQUITETURA TFGII EDUARDO SCHEU ARQUITETURAE EURBANISMO URBANISMOMACKENZIE MACKENZIE- TERMINAL - TFGII- PAULO - PAULO EDUARDO SCHE FLUVIAL DE PASSAGE


CENTRO COMUNITÁRIO

A 85

A A

CENTRO COMUNITÁRIO

E

MIRANTE

CENTRO COMUNITÁRIO

B

A

E

D

C

PLANTA 3º PAVIMENTO | ESCALA 1/750

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

SALA MULTIUSO

EE

DD

CC

PLANTA 3º PAVIMENTO | ESCALA 1/750

A MIRANTE

EIROS E EQUIPAMENTO PÚBLICO NA REPRESA BILLINGS - FACULDADE DE A


DETALHE PAVILHĂƒO MULTIUSO

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

86


ISOMÉTRICA PAVILHÃO MULTIUSO Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

87


Fonte: PMSP

88 Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

UNIDADES DO CENTRO EDUCACIONAL UNIFICADO (CEU), CONSTRUÍDO EM REGIÕES PERIFÉRICAS DA CIDADE DE SÃO PAULO


Não há definição rígida do programa e o layout pode ser alterado de forma livre por divisórias retráteis internas, sem interferência das instalações hidráulicas, locadas nas duas extremidades. Os fechamentos são constituídos por placas cimentícias e caixilharia piso teto para permitir o máximo de insolação e ventilação internas – item que recebe contribuição zenital na cobertura ao longo de todo seu eixo principal. A proteção contra os raios solares diretos visa expressar unidade da linguagem do pavilhão com os demais volumes, configurando-se como uma segunda pele em quebra-sóis em chapa metálica perfurada, fixadas em estrutura metálica. EDIFÍCIO DE SERVIÇOS PÚBLICOS Situado sobre um pequeno aterro em extensão à superfície da calçada, este bloco constitui-se por lajes de concreto moldadas in loco e sustentadas por pilares de seção circular, em três pavimentos. Optou-se por adotar uma planta de 150 metros quadrados - metragem considerada adequada para programas comunitários em pequena escala (centro de saúde, creche, oficina de capacitação profissional). A expressão formal segue a linguagem do pavilhão:

89 Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

A linha mestra criada pela viga principal ordena o desenho final da planta: simétrica e longitudinal. Alonga-se em direção à represa e reforça a relação respeitosa com a água. O pano de laje acomoda-se na espinha por meio de lajes alveolares de concreto pré-fabricado. A estruturação geral do bloco no pavimento superior se dá por pórticos metálicos transversais interligados por vigas metálicas no sentido oposto e travados por cabos tensionados, garantindo a estabilidade geral do conjunto.


90 Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

caixilharia em vidro e alumínio em todo o pé-direito e proteção solar com brises em chapa perfurada. Está situado no eixo longitudinal do pavilhão e interliga-se com ele por meio de passarelas metálicas externas engastadas nas duas edificações externamente, numa longa barra que também conecta-se com as caixas de circulação, em estrutura metálica, soltas dos volumes. A verticalidade deste bloco intenciona criar um referencial na paisagem urbana, além de servir como suporte para a comunicação visual para a identificação de cada estação. De certa forma, pode-se entendê-lo como um farol em meio à represa - um marco, na linguagem de Kevin Lynch (1997). ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS, PLATAFORMA DE EMBARQUE E VAZIO CENTRAL O arranjo do conjunto está organizado a partir de um vazio central, constituído por um pequeno aterro em extensão à calçada. O piso térreo logo abaixo da projeção do pavilhão é fixo e está estruturado nos dois pilares principais, também em madeira, em sistema similar ao que ocorre no andar superior. Do lado oposto do pavilhão e do edifício de serviços estão localizados um terminal urbano de pequeno porte para linhas circulares e os acessos ao embarque e desembarque das barcas. Entendidos como linhas de passagem, o percurso até a calçada é pontuado por blocos de menor escala que abrigam programas locais, tais quais bancas de jornal, feiras livres, entre outros. Da mesma forma, um pequeno pavilhão horizontal alonga-se a partir do volume de serviços até quase tocar a rua próxima, a fim de criar ali o ponto de contato do conjunto com a cidade, numa espécie de esquina. A conexão entre os dois conjuntos lineares é realizada por um deque de madeira flutuante. Têm-se dessa maneira, dois sistemas de piso fixo e um móvel, interligados a partir do vazio de uma praça pública assentada sobre o aterro.


A amarração entre os blocos se dá numa estrutura metálica elevada em grelha que percorre transversal e longitudinalmente os principais eixos do conjunto, como um pergolado, criando áreas de sombreamento para os usuários dos modais e permanência para aqueles que utilizam a praça pública. A cobertura apoia-se em pilares metálicos distanciados pela modulação do grid geral de 5 metros, e configura-se uma estrutura que articula os volumes, sem tocá-los. A proposta formal do edifício pretende constituir um elemento referencial aos moradores da região, seja em soluções cromáticas, luminotécnicas ou pela própria intersecção de eventos, um condensador urbano de situações.

91 Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

Cobertura metálica


VIÁRIO LOCAL MARGEM DO PARQUE

PASSARELA AÉREA

MIRANTE

ACESSO PARQUE

MORADIAS EXISTENTES

VIÁRIO LOCAL E CICLOVIA PAQUE LINEAR

EQUIPAMENTOS DE LAZER

P

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

92

CICLOVIA

CÓRREGO REPRESA BILLINGS

CORTE URBANO | ESCALA 1/750

TERMINAL FLUVIAL DE PASSAGEIROS E EQUIPAMENTO PÚBLICO NA REPRESA BILLINGS - FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO MACKENZIE


PASSARELA METÁLICA AÉREA

PEDESTRES

ELEVADOR ACESSO PARQUE

VEÍCULOS

RUA LOCAL PISO PERMEÁVEL

MORADIAS EXISTENTES PRESERVADAS

RUA PARQUE LINEAR CICLOVIA, CALÇADA E PISO PERMEÁVEL

EQUIPAMENTOS DE APOIO E ÁREAS DE LAZER PARQUE

ALARGAMENTO CALHA CÓRREGO

PASSARELA TRANSPOSIÇÃO CÓRREGO

ESCADA DE ARTICULAÇÃO ENTRE COTAS

EQUIPAMENTOS DE APOIO EM PATAMAR

93

ESCADA

EQUIPAMENTOS

DRENAGEM

CÓRREGO

CORTE URBANO TRECHO CÓRREGO | ESCALA 1/500

E - TFGII - PAULO EDUARDO SCHEUER - 31007392 - AT2 BANCA DE AVALIAÇÃO - ORIENTADOR: PROF. DR. FRANCISCO PETRACCO

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

PASSARELA

TERMINAL


Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

94


Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

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DETALHE EDIFÍCIO SERVIÇOS PÚBLICOS

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

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DETALHE TERMINAL ÔNIBUS E COBERTURA PRAÇA

Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

97

Fonte: Grupo Metrópole Fluvial

MODELOS DE EMBARCAÇÕES PARA TRANSPORTE DE PASSAGEIROS PROPOSTOS PELO GRUPO METRÓPOLE FLUVIAL


Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

98


Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

99


Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

100

CONSIDERAÇÕES FINAIS


101 Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

A hipótese desenvolvida no Trabalho Final de Graduação configura-se como um experimento que busca incorporar o conjunto dos conceitos examinados na interpretação da cidade, da ação urbanística e do projeto numa realidade múltipla, fragmentada e desafiadora ao olhar do arquiteto e urbanista contemporâneo.


102 Arquiteturas do porvir: transporte fluvial na represa Billings

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