PROCESSO DE PROJETO Criatividade e aprendizado pela percepção do ambiente
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Paulo Henrique M. de Melo O r i e n t a d o ra : Danielly Garcia
T ra b a l h o de Conclusão de Curso 1, 2015 Unileste MG – Curso de Arquitetura e Urbanismo
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“A imaginação é mais importante que o conhecimento”. (Albert Einstein)
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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................7 Apresentação dos objetivos da pesquisa...............................................................................................................8 Justificativa da escolha do problema de trabalho...................................................................................................9 2. CONTEXTO HISTÓRICO.................................................................................................................................13 3. PROCESSO DE PROJETO.............................................................................................................................15
Problemas e Soluções..........................................................................................................................................15 Conhecimento e Memória.....................................................................................................................................23 Percepção.............................................................................................................................................................38 Instrumentos perceptivos..................................................................................................................................48 4. Pensamento Criativo e ambiente criativo.........................................................................................................66 5. O ambiente perceptivo e os campos eletromagnéticos...................................................................................87
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6. CONCLUSÃO...................................................................................................................................................89
7. PROPOSTA DE TCC 2.....................................................................................................................................99 8. SEMINÁRIO DE TCC1...................................................................................................................................104 8. REFERÊNCIAS..............................................................................................................................................107
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INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO O tema proposto pra o TCC1 do curso de Arquitetura e Urbanismo do UnilesteMG (Processos de projeto: criatividade e aprendizado pela percepção do ambiente) busca entender o processo mental e sensório ao qual está envolvido o processo criativo e de aprendizado em arquitetura, entendendo que dentro deste processo existem elementos comuns aos quais todos passarão consciente ou inconscientemente. Tendo a questão da percepção como ponto central de todos esses elementos entende-se que o arquiteto como todo ser humano inserido no ambiente troca sensações com o espaço. Onde a percepção pode melhorar os ambientes de criatividade e aprendizado? Como tornar um ambiente perceptivo favorável à criatividade e aprendizado? Para isso é necessário entender o processo mental do arquiteto e tudo o que está atrelado a ele.
Para isso é importante
também que se tenha uma boa definição do que de fato devemos esperar de um Arquiteto. Em meio a muitas definições, acredito que essa seja a mais satisfatória em relação ao que acredito.
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COUTINHO, Evaldo (2011, p. 3), O Arquiteto é um localizador de sentimentos, de preocupações, de lazeres, de tudo o que preenche a vida humana: para cada um desses cometimentos ele estabelece o adequado recinto, sem exclusão dos ensejos, em que reúne na mesma área, sucessos de natureza diferente.
Desta maneira vemos a complexidade e singularidade da arquitetura, dessa forma não devemos nos permitir parar de aprender sobre arquitetura e outros tipos de conhecimento que possam nos enriquecer intelectualmente. Este é talvez o maior motivador dessa pesquisa. Apresentação dos objetivos da pesquisa Este trabalho tem como objetivo o entendimento do processo mental do arquiteto, onde criatividade e aprendizado se manifestam através da percepção, e a percepção se da através da relação de troca com os ambientes. Dessa forma, se faz necessário estudar cognição, percepção, criatividade, ambiente e a relação entre eles.
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Sendo assim a pesquisa abordará conceitos como: conhecimento, cognição, memória, o ambiente e sua influência, criatividade, e principalmente percepção. Julga-se necessário também entender ao longo da história da Arquitetura como eram esses processos citados anteriormente, suas mudanças, influências e contribuições para os dias de hoje de forma a compreender o que já foi estudado e pesquisado anteriormente. A partir desses entendimentos dos termos principais falados anteriormente a pesquisa se desdobrará em uma proposta em que se possa ter uma noção prática com as conclusões feitas pelo estudo. Justificativa da escolha do problema de trabalho O ambiente formal de ensino e de trabalho, bem como os métodos, são cada vez mais debatidos. Entende-se que a arquitetura tem um papel importante nisto, visto que ela tem a função de intervir nos espaços para sua melhoria. A percepção como falada anteriormente é estudo de muitos autores de diversas áreas como: a psicologia, neurociência, neurobiologia, artes e também arquitetura. Autores como Juhani Pallasmaa(2011, 2013) abordam muito a questão do sensório como habilidade primordial aos arquitetos e ao aprendizado. Lúcia
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Santaella e Fayga Ostrower dentre outros trazem a questão da percepção de uma forma muito útil para o entendimento de algo complexo. Porém há outra questão que este estudo busca sobre a percepção, além do que nos fornecesse os autores citados anteriormente. Há no mundo da física um novo entendimento sobre o qual nossos sentidos interagem com o ambiente e vice e versa. Essa nova visão acrescenta as questões mencionadas por esses autores citados, apesar de ter uma abordagem diferente. E será foco também deste estudo. Entendendo que ele pode trazer alguma contribuição para a arquitetura no que diz respeito ao projetar espaços, a percepção sempre importante na arquitetura tem a possibilidade de incorporar esse estudo da física que trata da energia dos ambientes, visto que isso causa um impacto grande na relação do ambiente e o ser humano. Neste trabalho um longo caminho foi percorrido, e para que fosse possível entender o ambiente e sua relação com o processo de projeto houve antes uma busca por saber como a mente pensa, sente, cria para que depois pudesse ser abordado o espaço. De Bono (2011, p.15). “Ver o pensamento como habilidade e não como dom é o primeiro passo para agir de modo a aprimorar essa habilidade.”
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Platão, (1956, p. 128 apud SCHÖN, 2000, p.73) “Mas como procurarás por algo que nem ao menos sabes o que é? Como determinarás que algo que não conheces é o objeto de tua busca?”. Habilidades de resolver questões singulares das quais não se podem esperar respostas prontas e padronizadas. O arquiteto lida com paradoxos, e a resposta pra eles está justamente no processo.
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CONTEXTO HISTÓRICO
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Fonte:MORADO, 2014
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Fonte:MORADO, 2014
PROCESSO DE PROJETO
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3. PROCESSO DE PROJETO Problemas e Soluções Akin (1986 apud FLORIO, 2013, p. 14-15). Problema é quando a situação atual não é a satisfatória, e não sabemos de imediato como mudá-la. Uma situação insatisfatória é chamada de estado do problema, onde toda informação disponível naquele estado caracteriza aquela situação.
É muito comum atualmente se dizer que o processo do arquiteto consiste em resolver problemas. O que é uma verdade, porém soa muito rasa essa definição, pois tendemos a imaginar que toda a arquitetura se passa em resolver problemas e não é bem assim. Primeiro resolver problemas implica em saber resolvê-los que envolve identificá-los, e para isso envolve percepção que por sua vez envolve o sensório ligado a memória e conhecimento. Nesta definição nos aproximamos mais do que é realmente o resolver problemas em arquitetura. Ainda há a questão que resolver problemas soa como algo um tanto lógico e se tratando de arquitetura, os problemas muitas vezes precisam ser resolvidos criativamente, aliás, criatividade será um assunto abordado mais a frente.
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O momento da concepção de um projeto arquitetônico na maioria das vezes é entendido por muitos como um "insight”, quando surge a ideia que irá conceber o projeto. O que não parece ser correto é a interpretação dada a esse momento como inspiração surgida ao acaso. A que tudo indica ele é feito de experiências passadas que formam nosso repertório. Sabemos que o repertório é construído ao longo das experiências vivenciadas, e que é fundamental para criação de novas ideias. Toda vez que temos de resolver uma situação, nossas experiências vividas e aprendidas será nossa base de dados que determinará a capacidade de apresentar maiores possiblidades para um mesmo problema. E isso começa com a relação que temos com os ambientes que habitamos onde determinará uma relação de percepção.
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Wilson Florio concluiu que;
FLORIO,Wilson ( 2013, p.163) Nosso pensamento depende do que aprendemos no passado; conhecimentos e conceitos adquiridos direcionam nossas ações; nosso pensamento é sensível ao meio ambiente físico e aos eventos que nele ocorrem. Como decorrência desses fatos, agimos e reagimos a estímulos internos e externos.
A maior parte das ações que desempenhamos está muito ligada ao modo como percebemos e reagimos a tudo que estamos expostos, isso se aplica também aos fatos passados como concluiu Florio. Lawson também cita a importância dos fatos armazenados na memória por nossas experiências e sua ligação com a geração de hipóteses para resolução de problemas. Lawson (2011, p.151 apud HETSBERGER, 1991) Tudo que é absorvido e registrado por nossa memória soma-se a coleção de ideias armazenadas na memória. Uma espécie de biblioteca que podemos consultar toda
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vez que surge um problema. Assim, essencialmente, quanto mais tivermos visto, experimentado e absorvido, mais pontos de referência teremos para nos ajudar a decidir que direção tomar: nosso quadro de referência se expande.
Daí se tem uma ideia de que quanto mais se aprende no sentido de absorver por experiências vividas ,mais expandida é a nossa capacidade frente a um problema. Outra questão que se percebe é que projeto não se resolve de imediato, é necessário identificar os problemas e resolvê-lo em ciclos, por tentativa e erro. Inicialmente então, vemos a identificação dos problemas como ponto inicial de todo o processo. Sendo assim, resolver esses problemas de projeto além das experiências aprendidas, passa principalmente pela identificação deles, percebê-los é muito importante. Sendo a percepção de um arquiteto de uma maneira geral um ponto principal que veremos mais a frente. Pallasmaa cita muito bem o processo de testar ideias repetidamente ate que se encontre uma solução. PALLASMAA, Juhani (2013 p.110) Projetar é um processo de retroceder e avançar entre centenas de ideias, no qual soluções parciais e detalhes são repetidamente testados para gradualmente revelar e moldar uma interpretação completa dos milhares de critérios e exigências.
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Na fase inicial do projeto interpretá-lo sempre como um problema/questão a ser resolvido ajuda a criar uma base sólida para seu desenvolvimento, pois a criação de hipóteses ajudará na solução do(s) problema(s). Em arquitetura nos deparamos com diversos problemas e diversas hipóteses de solução dentro de um projeto. Isso mostra o quão complexo ele pode ser. É nessa situação que constatamos a importância da habilidade em identificar e resolver problemas. E como já citamos aqui resolvê-los criativamente, porque as situações virão de formas diferentes e temos que saber responder a essa questões, aprender a responder a padrões inesperados. Lawson exemplifica muito bem essa questão, em um exemplo, onde jogadores de xadrez experientes conseguem rapidamente identificar os padrões de jogo e como resposta visualizar diversas possiblidades e produzir uma estratégia especifica para cada situação nova em questão.
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LAWSON, Bryan (2011, p.131) No seu estudo de xadrez De Groot mostra como os enxadristas experientes “leem” as situações em vez de “raciocinar sobre elas”, como fazem os menos experientes. Assim, os mestres do xadrez conseguem jogar várias partidas ao mesmo tempo, porque cada vez que veem um tabuleiro conseguem reconhecer o padrão de jogo. Esse “modo de perceber”, que é altamente específico, combinado a um sistema de métodos reproduzíveis e disponíveis na memória, produz uma reação rápida e inescrutável, que para o observador não iniciado, parece um relâmpago de gênio intuitivo.
De acordo com Florio (2014) a estratégia normalmente utilizada para resolver problemas é buscar exaustivamente possíveis soluções para o problema proposto até encontrar um caminho que conduza a uma solução que melhor atenda às exigências. Porém dentro desse processo acontecem situações que desviam os caminhos iniciais e trazem outros novos problemas, e o que podemos perceber é que se deve lidar com a incerteza no processo de projeto como algo natural como sugere Juhani Pallasmaa.
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PALLASMAA, Juhani (2013, p.112) Projetar é sempre buscar algo previamente desconhecido, uma exploração em território desconhecido; e o processo de projeto propriamente dito, ou seja, as ações das mãos que procuram, precisa expressar a essência desta jornada mental.
Na resolução de um ou muitos problemas, as diversas hipóteses levantadas para resolvê-los levam a diversas possibilidades, criando uma rede infinita de possíveis maneiras de resolver o mesmo problema. Passando do problema para a criação de ideias. Percepção, memória e criatividade estão diretamente envolvidas e apesar de estarem completamente ligados ao sensório do corpo, trataremos aqui de um assunto por vez para melhorar a compreensão, porém encontraremos em um tema o que está contido no outro visto que são partes de um todo.
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Conhecimento e memória Conhecimento seria possuir consciência e noção sobre algo, ter a informação sobre determinado assunto. Existem diferentes tipos de conhecimento, porém os que seriam mais importantes ressaltar nessa pesquisa são:
Conhecimento científico; é um conhecimento real porque lida com ocorrências ou fatos, constitui um conhecimento contingente, pois suas preposições ou hipóteses têm a sua veracidade ou falsidade comprovada através da experimentação e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico.
Conhecimento empírico ou sensorial Já o conhecimento empírico, é aquele que adquirimos no decorrer da vida, é feito por meio de tentativas e erros num agrupamento de ideias; o conhecimento empírico é aquele que não precisa ter comprovação científica.
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Comparo o conhecimento empírico ou sensorial ao conhecer na ação de Donald Schon em seu livro Educando o profissional reflexivo. SCHON, Donald (1988, p. 31) Usarei a expressão conhecer na ação para referir-me aos tipos de conhecimento que revelamos em nossas ações inteligentes, performances físicas, publicamente observáveis, como andar de bicicleta, ou operações privadas, como a análise instantânea de uma folha de balanço. Nos dois casos o ato de conhecer está na ação.
Juhani Pallasmaa nos tras uma ótima definição sobre conhecimento sensorial também; PALLASMAA, Juhani (2013, p.118) Na opinião de Henry Plotkin, pofessor de psicobiologia, o conhecimento significa mais do que saber de modo consciente palavras ou fatos: “O conhecimento é o estado de um organismo que apresenta uma relação com o mundo". A dançarina e o jogador de futebol "pensam" com seus corpos e suas pernas, o artesão e o escultor, com suas mãos, o compositor, com seus ouvidos. De fato, todo nosso corpo e o nosso sentido
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existencial participam em todos os processos de pensamento. “A dançarina tem ouvidos nos pĂŠs" como afirma Nietzsche.
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Dentro desse contexto falado anteriormente, percebemos que os dois conhecimentos são complementares e necessários, pensar sem agir não é ferramenta de transformação, e em muitas definições, o arquiteto é também um transformador. De espaços e de sentimentos, não se negando aos dados técnicos e nem o contexto das suas ações. Então é possível concluir que o pensar e o agir são partes de um processo que são eficazes juntos em todo processo criativo e de aprendizado, principalmente no processo de produção de arquitetura. Acessamos o conhecimento através da memória. Assim sendo nosso conhecimento depende do que aprendemos e armazenamos na memória. Segundo Dr. Lair Ribeiro o processo de retenção dos fatos na memória se dá da seguinte forma;
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Ainda de acordo com Dr. Lair Ribeiro aprendemos 10 % do que lemos 15% do que ouvimos e 80% do que vivenciamos. O que nos da uma ideia que a maioria dos métodos de aprendizado a que somos submetidos na maior parte dos sistemas de ensino são equivocados. Os sentidos como veremos a seguir, sobre percepção, são fundamentais para conhecimento, memória e consequentemente potencial criativo.
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PALLASMAA, Juhani (2013, p.15) A consciência humana é uma consciência corporificada, e estamos conectados com o mundo por meio de nossos sentidos. Nossas mãos e todo o nosso corpo possuem habilidades e conhecimentos corporificados.
Assim
como
afirma
Juhani
Pallasmaa
possuímos
habilidades
e
conhecimentos
corporificados. Uma mente com registros e vivências, e assim como cérebro possui suas lembranças, a chamada mente do corpo ou a corporeidade da mente, também possui sua memoria. Concluímos então que o conhecimento e a memória não residem somente nas nossas mentes, o corpo em sua experiência vivencial adquire conhecimento corporificado e possui memória. Podemos ver isso neste trecho onde Pallasmaa cita o filósofo Edward S. Casey;
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Edward S. Casey (apud PALLASMAA 2013, p.120) O corpo também faz parte do nosso sistema de memória. O filósofo Edward S Casey que escreveu estudos fenomenológicos pioneiros sobre lugar, memória e imaginação, ressalta o papel do corpo no ato da memorização: “A memória corporal é[...]o centro natural de qualquer relato sensível da lembrança”. Em outro contexto, ele explica melhor sua opinião: “Não há memória sem memória corporal [...] Ao afirmar isso, não quero dizer que sempre que nos lembramos, estamos de fato usando a memória corporal. [...] Na verdade, estou dizendo que não teríamos como lembrar [...] se não tivéssemos a capacidade da memória corporal”. Além disso, há estudos filosóficos recentes, como The Body in the Mind,de Mark Jhonson,e Philosophy in the Flesh, de Jhonson e George Lakoff, que defendem de maneira enfática a natureza corpórea do próprio pensamento.
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A arquitetura neste aspecto está envolvida inteiramente no aspecto do conhecimento e da memória corporal. Segundo Pallasmaa é preciso repensar alguns dos fundamentos da percepção e da criação da arquitetura. E se pensarmos que a memória vivencial das pessoas está também no corpo, imaginamos a dimensão que um lugar pode ter de acordo com as sensações que ele pode passar, visto isso até mesmo como estratégia de projeto. Um exemplo, segundo Lair Ribeiro, uma pessoa quando perguntada o endereço aonde mora, essa memória e a resposta vem quase que instantaneamente e se encontra no inconsciente da mente corporal, ou seja, uma memória física relacionada a corporeidade da mente falada antes. E para o arquiteto como ser perceptivo que vivencia esses conceitos também são de extrema importância.
Concluímos então que a memória é conhecimento retido na mente seja a mente do cérebro ou a mente corpórea. Nossa memória também está contida no corpo e nos da à capacidade frente a um problema de acessar uma gama de prováveis soluções, ou transformar essas
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soluções existentes em uma nova solução para um problema inédito ou também uma solução melhor para um problema antigo. Porém para tornar um conhecimento útil, principalmente no processo de projeto, ele não pode ser simplesmente um conhecimento sólido e inerte, deve ser agregado, moldado e estimulado. Enfim deve ser um conhecimento mutável. Ou seja, essa gama de experiência adquirida deve ser base para reorganizar conhecimento adquirido e transformá-lo em novas ideias que serão hipóteses para solucionar velhos ou novos problemas. Conhecimento é poder transformador desde que sucedido por ação. Fayga Ostrower reforça o conceito de memória como base para associações novas gerando novos conhecimentos. OSTROWER, Fayga (2001, p. 19) Surgindo por ordenações, a memória se amplia, o que não exclui especificidade maior. Além de renovar um conteúdo anterior, cada instante relembrado constitui uma situação em si nova e específica. Haveria de incorporar-se ao conteúdo geral da memória e, ao despertá-lo, cada vez o modificaria, se modificaria em repercussões, redelineando-lhe novos contornos com nova carga vivencial.
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Esse é o papel da memória dentro do processo criativo, ela é o conhecimento retido ao longo dos anos em que gera base para um novo conhecimento, gera parâmetro para o novo. Nossa memória por sua vez precisa de estímulos para que esse conhecimento possa ser criação. Nosso pensamento pode ser acionado de formas diferentes, pode ser um simples pensamento contemplativo ou pode ser um pensamento reflexivo. No primeiro estaria simplesmente tendo pensamentos, enquanto no segundo estaria pensando, ou seja, refletindo, raciocinando sobre algo. Sendo assim o que faz certa diferença, seria tanto o acesso a diversas experiências quanto o que fazemos com essa informação. Duas pessoas com acesso aos mesmos conhecimentos se comportarão de forma diferente frente a ele, mais do que deter o conhecimento é necessário e ainda mais importante o que é feito dele. FLORIO, Wilson ( 2014) A qualidade do projeto depende substancialmente de conhecimentos e experiências adquiridas pelo profissional e, sobretudo, de sua capacidade de aplicá-los criativamente em seus projetos. A competência e poder criativo do arquiteto residem
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na sua habilidade de retomar conhecimentos armazenados na memória e aplicá-los em uma nova situação
Assim veremos também qual o papel da percepção no processo de projeto e de aprendizado. Lúcia Santaella nos da um parâmetro de como a percepção é fio condutor tanto da absorção do conhecimento, quanto sua expressão; Gibson, (p.24 apud SANTANELLA, p. 12) Segundo nos informa Gibson, no final do século XVIII, os empiristas ingleses desenvolveram a teoria de que não há outra porta de entrada para o conhecimento humano a não ser a dos sentidos. Ou seja, nossas ideias são aprendidas e não implantadas na mente pela magia de alguma força divina.
Lúcia Santaella e Wilson Flório, assim como outros autores como Bryan Lawson, Juhani Pallasmaa, Fayga Ostrower destacam a importância da atuação da percepção na maneira de absorver e usar o conhecimento.
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Visto a importância do conhecimento prévio e das associações da memória, entende-se também que o processo de projeto deve ser guiado a originalidade na arquitetura, como será abordada a questão da criatividade que depende diretamente das questões de conhecimento e memória falados anteriormente. Mas antes é preciso abordar a percepção, para que se tenha uma ideia geral de todos os principais aspectos envolvidos no processo de projeto.
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3. Percepção A percepção é o modo como vemos, registramos, reagimos e interpretamos às experiências através de nossos sentidos fazendo uma ligação do que está no nosso universo físico para nosso universo mental e sensório. Para Fayga Ostrower a percepção é a elaboração mental das sensações, e segundo Lúcia Santaella seriam os sentidos a porta de entrada da percepção. Para ela a percepção que vai desempenhar o papel de ponte de ligação entre o mundo da linguagem, cérebro e o mundo lá fora. A percepção é onde se inicia o modo como respondemos ao mundo. É ela a porta de entrada para o conhecimento. Nossa expressão no mundo, ou seja, o modo como somos e lidamos com as situações, dependem da nossa percepção. O mundo nos atinge de uma forma, nossos sentidos reagem e então fazemos uma interpretação do que estamos percebendo. Abaixo temos algumas definições de percepção por autores diferentes;
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RIBEIRO, Lair (2103, p.165) Se uma onda eletromagnética não é cor até ser captada pela visão, se uma vibração não é som até ser captada pela audição, e se um composto químico não é cheiro nem sabor até ser detectado pelo bulbo olfativo ou entrar em contato com a língua, nada do que experimentamos como realidade exterior existe realmente até que seja captado e interpretado pelos nossos sentidos.
Ostrower define o que está envolto nesse processo perceptivo OSTROWER, Fayga (1976, p.57) Vejamos, porém, primeiro alguns aspectos da percepção. Ela envolve um tipo de conhecer, que é um apreender o mundo externo junto com o mundo interno, e ainda envolve, concomitantemente, um interpretar aquilo que está sendo apreendido. Tudo se passa ao mesmo tempo. Assim, no que se percebe, se interpreta; no que se apreende, se compreende. Essa compreensão não precisa necessariamente ocorrer de modo intelectual, mas deixa sempre um lastro dentro de nossa experiência.
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A percepção é onde se inicia o modo como respondemos ao mundo. É ela a porta de entrada para o conhecimento. Nossa expressão no mundo, ou seja, o modo como somos e lidamos com as situações, dependem da nossa percepção. O mundo nos atinge de uma forma, nossos sentidos reagem e então fazemos uma interpretação do que estamos percebendo. Da necessidade de investigar as capacidades sensoriais humanas, segundo Lúcia Santanella nasceram as teorias da percepção com os empiristas ingleses, segundo Hagen na contemporaneidade temos três grandes correntes; a dos construtivistas, dos gestaltistas e dos gibisonianos. E mais recentemente a fenomenologia tem tido um destaque principalmente na arquitetura de Juhani Palasma, que aborda os sentidos como um ponto primordial dentro da criação dos espaços. Essa elaboração mental e física das sensações é interpretada de forma individual por cada pessoa, motivada por suas compreensões do mundo, porém com características em comum como afirmou Dr Lair Ribeiro em relação a uma descoberta do século XIX de dois físicos em se livro Inteligência Aplicada.
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RIBEIRO, Lair (2013, p.164) No século XIX, os físicos Ernest Weber e Gustave Theodore Fechner descobriram que o nosso sistema sensorial extrai quatro atributos básicos dos estímulos: modalidade, intensidade, duração e localização. Partindo disso, investigações na área da psicofísica concluíram que a qualidade das percepções difere das características físicas de um estímulo, porque, na interpretação da informação, o sistema sensorial utiliza parte dessas características e das experiências anteriores da pessoa atingida pelo estímulo, resultando um elemento perceptivo único, embora com características em comum.
Como dito anteriormente a percepção depende da interpretação que a mente faz dentro desse processo, chamado na fenomenologia de percepto. Essa interpretação do que se percebe é influenciada diretamente pelo que Fayga Ostrower chama de ser sensível cultural, ou seja, a pessoa inserida em uma determinada cultura constrói a partir dos estímulos e influencias dessa cultura um julgamento próprio que é formado na infância a nível inconsciente. E segue sendo construída ao longo da vida.
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OSTROWER, Fayga (1976, p.17) O modo de sentir e de pensar os fenômenos, o próprio modo de sentir-se e pensarse, de vivenciar aspirações, os possíveis êxitos e eventuais insucessos, tudo se molda segundo ideias e hábitos particulares ao contexto social em que se desenvolve o individuo. Os valores culturais vigentes constituem o clima mental para o seu agir. Criam as referências, discriminam as propostas, pois, conquanto os objetivos possam ser de caráter
estritamente
pessoal,
neles
se
elaboram
possibilidades
culturais.
Representando a individualidade subjetiva de cada um, a consciência representa a sua cultura.
A percepção é objeto de estudo em diversas áreas, e na arquitetura tem ganhado força através da fenomenologia e da necessidade de entender melhor como o ambiente afeta o ser humano. A percepção na arquitetura está relacionada tanto capacidade do arquiteto em identificar os problemas, como também de criar soluções, influenciando diretamente no processo de projeto. Está relacionada também a perceber o espaço e o que ele transmite ou
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pode vir a transmitir de acordo com sua intenção e estratégia para cada projeto em sua especificidade. Como dito anteriormente à relação que o ambiente provoca no ser humano. Cada ambiente pode passar uma sensação, o arquiteto por definição é também um localizador de sentimentos, e sua compreensão desses espaços é fundamental, pois essa capacidade irá influenciar diretamente no seu potencial criativo. O arquiteto é um ser perceptivo, Juhani Pallasmaa vê o processo do arquiteto como sensorial, de materiais, texturas, cores. Para ele todos os sentidos devem estar envolvidos e o arquiteto deve empresta-los para sentir cada projeto, como sugere Ostrower ser possível esse processo através da percepção. OSTROWER,Fayga (1977, p22).”Na percepção de si mesmo o homem pode distanciar-se dentro de si e imaginativamente colocar-se no lugar de outra pessoa”. Bernard Tschumi concluiu que arquitetura é um conjunto entre sentir, imaginar e conceitualizar Visto isso percebemos a importância da percepção tanto dentro do processo de projeto para o arquiteto, quando no ambiente construído que desperta sensações nas pessoas.
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Dentro deste contexto vimos que as pessoas são seres perceptivos, os ambientes são lugares que despertam a percepção das pessoas de diferentes formas em diferentes sensações e que a arquitetura tem em seus espaços a função de transmitir sentimentos e sensações através de seus volumes, vazios, da sua disposição, organização ou caos, das suas texturas, espessuras, cores, símbolos, significados e como veremos mais a frente “vibrações de energia”. Para Bryan Lawson a percepção é importante no projeto a partir do momento em que para resolver um problema, se muda o modo como se percebe esse problema, através de conversas, para que se mude a interpretação e tenha outro ponto de vista do problema. Lawson, (2011, p. 57) Isso significa que os projetistas conseguem entender os problemas e ter ideias de soluções com um processo que se assemelha a uma conversa. Um processo que envolve mudar o modo como se percebe a situação conversando.
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E sugere também que a través da percepção que se passam os problemas e soluções do processo de projeto. LAWSON, Bryan, (2011, p.118). ”Os problemas de projeto, assim como as soluções, continuam sendo uma questão de percepção subjetiva.” Por esse motivo, podemos interpretar muita coisa equivocada, o que comprometeria o processo de projeto, ou seja, limitar nossa capacidade de resolvê-lo. Por isso é importante aprender a ver as situações sempre de ângulos diferentes. Pois se eu mudo a minha interpretação de uma realidade, consequentemente mudo minha percepção dessa realidade, o que é extremamente interessante para o processo de projeto, pois partindo desse princípio posso mudar a visão sobre o problema/projeto, mudando a interpretação mudamos a percepção o que nos abre novas possibilidades antes não vistas .E como visto anteriormente a percepção está diretamente ligado ao conhecimento. Segundo Pierce:
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Pierce, (apud SANTANELLA, p. 16). Para Pierce, não há, e nem pode haver separação entre percepção e conhecimento. Segundo ele, todo pensamento lógico, toda cognição entra pela porta da percepção e sai pela porta da ação deliberada. Além disso, a cognição e junto com ela a percepção são inseparáveis das linguagens através das quais o homem pensa, sente, age e se comunica.
Dessa maneira o que o arquiteto percebe é responsável por suas ações, sendo assim o que ele não percebe e não absorve não se traduz no campo das ações. Pensamento reflexivo gera a análise do problema, que se traduzirá no pensamento criativo e do ponto de vista da percepção no processo de projeto, precisamos entender melhor como podemos criar ambientes que a partir da sua arquitetura seja capaz favorecer aprendizado e criatividade.
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INSTRUMENTOS PERCEPTIVOS Desenho Entre o pensar e o agir, o pensar guia a ação que vai determinar um ato de experimentação dentro do processo de projeto, para que essa ação amplie a visão (percepção) sobre o projeto, ou seja, mostre algo que ainda não se viu “espacialize” o raciocínio que antes estava envolto na mente e agora pode ser testado e visto por outros ângulos, criando (permita tomar emprestado de Steven Johnson) "possíveis adjacentes”, que antes no campo da mente não se permitiam ser vistos pelo arquiteto. Cada projeto tem suas particularidades, sendo assim, a necessidade de usar uma ou mais ferramentas que possibilitam uma leitura suficientemente clara do caminho que se deve seguir dentro do projeto arquitetônico varia de acordo com o arquiteto, suas habilidades e preferências, o projeto em questão, enfim não há uma regra e sim muitas possibilidades. Porém as características de cada ferramenta são bem singulares. Essas ferramentas de projeto são uma forma de “espacializar” a ideia uma maneira de percebermos os projetos de outro jeito enxergando novos “possíveis adjacentes”.
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De acordo com Juhani Pallasmaa; o filósofo Martin Heidegger relaciona as mãos diretamente com a capacidade humana de pensar, de acordo com ele todos os nossos sentidos “pensam” e que normalmente supomos que os conhecimentos residam em conceitos verbalizados, e como vimos antes o conhecimento e eu diria também o aprendizado são vivenciados. Como afirma Goldischimt, os desenhos muitas vezes não são somente representações das ideias, eles às vezes assumem a função de pensar e refletir sobre essa ideia. GOLDSCHMIDT, Gabriela (1991). Às vezes, os croquis usados pelos arquitetos são para representar ideias já existentes na mente, mas nem todos funcionam assim. Alguns croquis não seguem as ideias, mas precedem-nas. Em outras palavras, às vezes os arquitetos desenham não apenas para registrar uma ideia, mas para ajudar a concebê-la.
O croqui tem papel importante no que diz respeito à leitura e interpretação das situações de projeto, como dito antes não se resolve o que não se compreende, e o croqui é uma ferramenta de compreensão e percepção em todas as etapas do processo.
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PALLASMAA, Juhani (2013, p. 92) Desenhar é, ao mesmo tempo, um processo de observação e expressão, recepção e doação. Sempre é o resultado de mais outro tipo de perspectiva dupla; um desenho olha simultaneamente para fora e para dentro, para o mundo observado ou imaginado e para própria personalidade e o mundo mental do desenhista.
Quando falamos em percepção, e que a percepção depende do conhecimento, e que se traduz no campo da ação. É justamente essa ação a expressão do que se percebe. Essa ação precisa ser expressa de alguma forma, pois é importante testar as hipóteses de ideias a fim de criar o raciocínio. O croqui é apenas uma dessas formas de trabalhar essas ideias, talvez a mais imediata e que permita manipulação mais rápida a fim de testar as ideias. É claro que não existe uma regra, situações diferentes exigem interpretações diferentes, soluções diferentes e talvez ferramentas diferentes, ou seja, dependo do processo, do projeto e do arquiteto em questão nada impedirá que uma maquete seja o ponto inicial e não um croqui ou qualquer outra ferramenta. Sendo assim o croqui é também uma forma de expressão da ideia.
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PALLASMAA, Juhani, (2013, p.62) Ao trabalhar em um desenho você pode tocar de maneira concreta em todas as bordas e superfícies do objeto projetado por meio da ponta do lápis, que se transforma em uma extensão da ponta de seus dedos. A conexão entre as mãos, olhos e mente existente em um desenho é natural e fluente, como se o lápis fosse uma ponte que mediasse as duas realidades, e o foco pode oscilar constantemente entre o desenho físico e o objeto não existente do espaço mental representado pelo desenho.
A capacidade de imaginar também está no desnho Juhani Pallasmaa define o processo de Alvar Aalto com os croquis mostrando exatamente essa interação do que se percebe, imagina e expressa no processo de projeto. PAALASMAA, Juhani, (2013, p.77) Os croquis de Alvar Aalto mostram de maneira concreta a não linearidade do processo de projeto e o aspecto essencial da alternância entre várias escalas e aspectos de um projeto que são similares à confissão de Renzo Piano. Além da fluidez de seu processo de criação, os croquis soltos de Aalto também demostram a colaboração contínua entre olhos, mãos e mente.
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O desenho dentro do processo representa uma conexão importante da percepção do arquiteto e suas ideias. Donald Schön descrevia esse ato como uma forma de conversar com as próprias ideias, ou seja, um método de raciocínio. Bryan Lawson partilha da mesma opinião quando diz que os desenhos revelam problemas e permitem ao projetista ver situações insatisfatórias. Schön, (2000, apud LAWSON, 2011, p. 246) Na opinião de Schön os desenhos fazem parte do processo mental de pensar no projeto. Segundo o seu ponto de vista, o projetista realiza o ato de desenhar não para se comunicar com os outros, mas para seguir uma linha de pensamento. Conforme se desenvolve, a imagem do desenho permite ao projetista “ver” novas possibilidades ou problemas.
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Figura 1: Álvaro Siza, O Arquiteto Esboçando.
Fonte Pallasmaa, As mãos inteligentes.
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Vemos também que o desenho pode ser usado como processo de concepção, da mesma forma que ajuda a testar e refletir sobre uma ideia, ele pode nos fazer ver ideias antes não vistas, é como se o processo se invertesse, da mente para o papel, do papel para mente. Como sugere Anna Paula Silva Gouveia Forghieri, (apud GOUVEIA) Forghieri também coloca que pensar não significa representar-se algo, ou seja, conceituar através de características relacionadas, mas implica em emissão de juízos através de diálogos, que consiste na forma de pensamento discursivo. Assim, também se pode dizer que o desenho não é só representação, mas uma forma de pensar.
Bryan Lawson relata que Schön e Wings(1992) desenho como
descreveram essas ideias vindas do
“descoberta inesperada” e ainda cita um trabalho de pesquisa com
projetistas de Suwa e Twersky sobre o desenho no processo de projeto. Swa,Twersky (1997 apud LAWSON, 2011, p. 259)
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O seu trabalho indica claramente que os projetistas reagem às propriedades geométricas dos desenhos enquanto os desenvolvem e, a partir daí, conseguem “ver” outras ideias que não tinham antes de começar a desenhar.
Dessa maneira vemos que o desenho é dentro do processo de projeto, como chamaram Schön e Wings descrito por Lawson uma “interface perceptiva” ou poderia ser também chamado “ferramenta perceptiva”.
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Diagrama O diagrama, expressa uma forma de representação e entendimento do projeto pelo arquiteto. Nos últimos tempos o uso de diagramas na arquitetura tem sido crescente. Assim como acontece com os desenhos, os diagramas também atuam como ferramentas de percepção. Eles podem contribuir para a visualização de aspectos importantes do projeto, contribuindo também no processo e surgem muitas vezes como ferramentas de estudo de dados, informações sobre o projeto que ajudam a entendê-lo e ver as possibilidades. Kim (2006 apud MORADO, 2014 on line) Descreve algumas definições da função do diagrama no processo de projeto do livro Activity Diagrams:
Manuel Gauza, arquiteto espanhol do escritório Actar, afirma estar interessado em combinar e processar layers de informações referentes ao contexto tanto local e social quanto global e cultural, gerando uma arquitetura diagramática assentada em
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mapas de relações estratégicas e trajetórias cartográficas. Assim, o diagrama, para o arquiteto, é materialização de informações e movimentos e não a especulação de ideias e gestos.
Ian+, escritório italiano, entende o diagrama em seu processo projetual como oportunidade de explorar relações e experienciar processos. É um mapa capaz de documentar um número infinito de trajetórias, tornando-se uma máquina de ações sintéticas (diagnóstico e leitura) e produtivas (resposta). Ou, em outras palavras, um sistema de organização de informações.
nArchitects, escritório americano, revela o que seja diagrama dentro de três estágios: generativo (como um mecanismo que produz novos conceitos arquitetônicos); comunicativo (como um veículo para esclarecer, redimensionar e editar conceitos); e, operacional (como plano de ação). Diagramar torna-se um processo contínuo, desde o projeto até a construção, informado por e informando decisões espaciais específicas.
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Nesta última definição vemos um mapeamento que torna muito claro o que o diagrama representa em termos de ferramenta perceptiva baseado em geração comunicação e ação.a partir dessa definição do escritório nArchitects é possível mapear e exemplificar de uma forma mais resumida e objetiva o diagrama dentro do processo de projeto.
Generativo: que gera a ideia, que produz um conceito arquitetônico:
Comunicativo: Para que seja possível comunicar a ideia a fim de percebê-la e ajustála.
O escritório de arquitetura BIG (Bjarke Ingels Group) tem um processo interessante em relação aos diagramas;
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Figura 1 - Village of Women Sports
Fonte: BIG (Bjarke Ingels Group), 2014
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Fonte: BIG (Bjarke Ingels Group) , 2014
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Se o desenho que Donald Schön descrevia era uma forma de reflexão e diálogo com o projeto, o diagrama seria um sistema que organiza e visualiza as informações, ajuda o arquiteto a compreender as ideias que foram criadas.
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Maquete A maquete permite despertar na nossa percepção uma nova sensação, considerando que para percebê-la e trabalhar com ela outros sentidos são ativados. Em processo de projeto em arquitetura como vimos é necessário externar a ideia que se teve de alguma forma, expressar a ideia que foi trabalhada no campo da mente e transmiti-la de alguma forma para o meio físico a fim de que essas ideias criadas ganhem vida e possam ser enxergadas de outras formas. Pallasmaa traça um paralelo entre desenho e maquete e sua importância e define bem a essência da maquete no processo de projeto. PALLASMAA, Juhani (2013, p. 13) O desenho a mão e o modelo físico colocam o arquiteto em contato direto com o objeto e o espaço. Compreender pelo toque é imprescindível para a plena compreensão da posição de objetos no espaço.
O processo é extremamente enriquecido quando se externa aquilo que se pensa seja pela fala, escrita, desenhos, maquetes, ou seja, a linguagem representativa do que surgiu na
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mente como ideia é uma forma de trabalha-la, lapida-la para que ela se desenvolva. A maquete permite uma manipulação dos volumes propostos de uma forma que os outros instrumentos perceptivos aqui citados não alcançam, ela nos da à possibilidade de refletir sobre o comportamento daquele volume dentro do espaço, sua relação com entorno, com as pessoas e as intenções de projeto do ponto de vista do volume. A maquete também como os outros instrumentos, produz um processo de reflexão das ideias. Vemos abaixo como o arquiteto Antoni Gaudi citado por Palasma, criava e experimentava através dos volumes, fazendo dele parte importante do seu processo de projeto. Palasmaa (2013, p. 80) Antoni Gaudi estudava suas estruturas de arquitetura com modelos suspensos. As fotografias dos modelos eram posicionadas de cabeça para baixo, para que o arquiteto examinasse as estruturas reais que atuariam submetidas à compressão .
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Modelo de Estudo para a igreja da Col么nia Guell Antoni Gaudi
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PENSAMENTO CRIATIVO E AMBIENTE CRIATIVO
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Pensamento Criativo e ambiente criativo Segundo afirmam pesquisas e estudos no campo da neurociência, a mente em termos de habilidades cognitivas se divide em dois hemisférios, o direito e o esquerdo. O esquerdo é responsável pelas decisões que envolvem lógica e razão, enquanto o direito é responsável pelas decisões baseadas em emoção e criatividade.
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Dentro do pensamento, temos duas formas básicas de como o pensamento se comporta em relação a criar soluções. Uma em que a mente se encontra na maior parte do tempo, os pensamentos são divagações e vem à mente como é seu funcionamento normal em um estado em que não há nenhum esforço mental em alguma atividade, seria um pensamento automatizado, alheio a um raciocínio, seja ele lógico ou criativo. O segundo é o pensamento da reflexão ou o pensamento reflexivo, onde diante de uma situação não satisfatória se entende que é preciso pensar sobre ela, refletir e colocar o cérebro para pensar. É o que sugere Steven Johnson ao citar a teoria que Thatcher e outros pesquisadores acreditavam.
JOHNSON, Steven (2010, p.88) O modo de sincronia de fase é aquele em que o cérebro executa um plano ou hábito estabelecido, enquanto o modo de caos é aquele em que ele assimila novas informações e explora estratégias para responder a situações alteradas.
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Para Lair Ribeiro você está pensando quando usa uma ou mais funções mentais para o desenvolvimento de uma ideia e está tendo pensamentos quando essa função se processa sozinha De acordo com os dois autores, somando os dois raciocínios, o pensar é o modo de sincronia de fase e o pensamento é o modo de caos. Donald Schon nos descreve esse pensar; SCHON, Donald (2000, p.34) A reflexão gera o experimento imediato. Pensamos um pouco e experimentamos novas ações com o objetivo de explorar os fenômenos recém-observados, testar nossas compreensões experimentais acerca deles, ou afirmar as ações que tenhamos inventado para mudar as coisas para melhor.
Os dois modos de pensar fazem parte de um processo integrado, porém a maioria das pessoas usa somente a fase de pensamento espontâneo e não desenvolvem de fato uma capacidade criativa e reflexiva de resolver problemas.
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Esse modo mais ativo de pensamento foi chamado por Fayga Ostrower de tensão psíquica. Segundo ela um acúmulo energético necessário para levar a efeito qualquer ação humana e se faria sentir em repercussões psíquicas. Algo que alimente o pensamento criador. Para entendermos melhor eu comparo esse estado ao que Lair Ribeiro chamou de “equilibração”. De acordo com Ribeiro; RIBEIRO, Lair (2013, p.126) Na equilibração, acontece o que muito apropriadamente podemos chamar de "crescimento da inteligência". Equilibração, na visão construtivista, caracteriza-se quando uma pessoa se depara com uma situação desafiadora e seu repertório de modelos não dispõe de elementos suficientes para solucioná-los. Isso a coloca em um estado de perturbação e desequilíbrio momentâneo e a faz buscar solução para o problema, em cujo processo suas estruturas mentais se reorganizam e se ampliam, permitindo maior compreensão da realidade. Depois disso, a pessoa retoma seu equilíbrio muito mais inteligente!
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O potencial criativo surge de todo esse processo mental de pensamento, obviamente atrelado a tudo que falamos aqui até agora, veremos agora como outras condições são necessárias a ele. Segundo Lawson, LAWSON, Bryan (2011, p.122) “É de se esperar que o processo de projeto exija o mais alto nível de pensamento criativo”. Quando se fala em criatividade, a palavra e seu significado soam para maioria como uma ação despretensiosa e sem responsabilidades, e vista como algum dom exclusivo a área das artes, onde criações espontâneas e geniais acontecem sem maior esforço. E esquecem que ser criativo ou pensar criativamente, ou ainda agir criativamente esconde todo um processo por trás, como vimos aqui anteriormente que envolve percepção, memória, pensamento, experiência, ambiente e etc. Muito dessa crença talvez seja em relação aos sistemas educacionais que temos em que se prioriza a parte racional em detrimento da parte criativa, enquanto as duas deveriam ser estimuladas juntas. Para Fayga Ostrower; OSTROWER, Fayga (1976 p36)
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O vicio de considerar que a criatividade só existe nas artes, deforma toda a realidade humana. Constitui uma maneira de encobrir a precariedade de condições criativas em outras áreas de atuação humana.
E Mueller reforça a ideia que podemos resolver problemas de lógica de forma criativa e usar lógica em coisas subjetivas; Mueller (apud LAWSON p. 135) Muitos tipos de problema, até em disciplinas aparentemente lógicas como a engenharia, podem ser resolvidos de forma criativa e imaginosa. Sem dúvida, a arte pode ser lógica e ter uma estrutura bem desenvolvida.
Então o pensamento criativo é o agente formador de ideias, baseado no conhecimento e memória e iniciado pela percepção. Como vimos anteriormente a percepção é o início desse processo cognitivo e está relacionada ao o modo como cada um sente e interpreta o
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universo físico. Concluímos então que a geração de ideias para um problema se da pelo pensamento criativo. De acordo com Fayga Ostrower;
OSTROWER, Fayga, (1977, p.9) Criar é basicamente formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse “novo” de novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender, e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar.
Criar como vimos é uma capacidade também de analisar, reordenar e principalmente de compreender para que possamos fazer escolhas entre as ideias dando significado a elas. Entendido isso partimos para a questão das ideias que são um produto do criar, é necessário entender como elas podem surgir.
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A partir disso entendemos que as ideias em nossa mente possuem um caminho, uma trajetória descrita por alguns autores como Lawson e Johnson, que depende de uma série de fatores como hábitos e o ambiente. Com relação ao seu surgimento as ideias inicialmente são inspiradas por nosso conhecimento, memória e percepção, a partir daí essas ideias precisam ser trabalhadas. Johnson defende que as melhores ideias surgem como ideias menores que parecem não ter grande importância e precisam de tempo e ambiente necessário para que possam se tornar um palpite poderoso. Esse período em que a ideia passa adormecida Johnson chamou de intuição lenta. É o tempo necessário para que ela amadureça e se torne realmente útil. Segundo Johnson
no seu estudo as ideias mais
construtivas e originais nasciam de longo tempo de trabalho e incubação da ideia como no caso da teoria da revolução de Darwin em que ele trabalhou longo tempo de sua vida. Bryan Lawson sugere algo bem similar, segundo ele após o período de trabalho duro intenso e deliberado, frequentemente se segue o período mais relaxado de “incubação”. Lawson ainda cita um conselho de (Whitfield, 1975) “Tenho certeza de que, do ponto de vista criativo é importante ter uma ou duas linhas de pensamento diferentes para seguir. Não muitas, mas só para a gente poder descansar uma delas na cabeça e trabalhar a outra”.
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As ideias resultantes do pensamento criativo se apresentam como possíveis soluções para os problemas. Essas ideias se tornam hipóteses para uma possível solução, que pode se desdobrar em outras possíveis soluções as quais Steven Johnson chamou de “possível adjacente”, uma espécie de ramificação das ideias que te levam a outros possíveis caminhos.
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PALLASMAA, Juhani (2013, p.111) Na arquitetura, uma revelação criativa raramente é uma descoberta instantânea que poderia revelar toda uma entidade em sua resolução completa e definitiva em um único instante, ela também não é um processo linear de dedução lógica. Na maioria das vezes, o processo parte de uma ideia inicial que é desenvolvida durante algum tempo, mas logo o conceito se ramifica em novos caminhos, e este padrão de trajetórias cruzadas se torna cada vez mais denso por meio do próprio processo.
Ainda segundo Steven Johnson uma boa ideia sempre surge da colisão entre dois palpites menores, formando os possíveis adjacentes falados antes. Segundo Johnson os limites do possível adjacente se alargam à medida que os exploramos, cada combinação introduz novas combinações. Moulton, (apud, LAWSON 2011, p. 146) Pensar é um processo cerebral difícil. Não se deve imaginar que esses problemas se resolvam sem muito pensamento. É preciso esgotar-se. A coisa tem de ser observada
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na mente e regirada várias vezes, de um jeito meio tridimensional. E, quando passamos por esse processo, podemos deixar o computador da mente, ou seja lá o que for, zumbindo ao fundo enquanto a gente escolhe outro problema.
Normalmente a maioria das pessoas imagina que o surgimento de boas ideias está ligado a momentos repentinos de estalo imediato, onde subitamente se tem uma ideia sobre algo. O que esconde todo processo de memória e vivências faladas anteriormente e também o trabalho favorável ao aparecimento dessas ideias fica oculto. Quando na verdade essas ideias e o favorecimento de outras devem ser trabalhados com insistência como vemos a seguir quando Johnson cita um processo pessoal de Darwin trabalhando com suas ideias; JHOHNSON, Steven (2010, p.72) Podemos rastrear a evolução das ideias de Darwin com tamanha precisão porque ele se dedicava a uma prática rigorosa de manter cadernos em que citava outras fontes, improvisava novas ideias, questionava e rejeitava pistas falsas, desenhava diagramas e de maneira geral, deixava a mente divagar na página. Podemos acompanhar a evolução das ideias de Darwin porque um nível básico a plataforma do caderno cria um espaço de cultivo para intuições lentas.
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Segundo Johnson, Darwin estava sempre relendo suas anotações, descobrindo novas implicações. Suas ideias se formam como uma espécie de dueto entre o cérebro pensante do presente e todas as observações passadas registrada no papel. Essa era maneira como Darwin trabalhava seus “possíveis adjacentes”, É evidente também a importância de transitarmos por outras áreas que não sejam a nossa, visto o poder que associações com outras áreas de atuação podem despertar poderosos insights dentro da nossa área de atuação. JOHNSON, Steven (2010, p.144) O movimento de um campo para outro nos força a abordar barreiras intelectuais a partir de novos ângulos, ou a tomar ferramentas emprestadas de uma disciplina para resolver problemas em outras.
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JOHNSON, Steven (2010, p.126) Parte importante da genialidade de Gutenberg, portanto, não está em conceber uma tecnologia inteiramente nova a partir do zero, mas em tomar emprestada uma tecnologia madura de um campo inteiramente diferente e usá-la para resolver um problema de outra natureza.
Isso é o que Johnson chama de “exaptação”, recombinar ideias de outros lugares de outras experiências que inspiram resolver problemas da própria área de atuação. Com relação aos ambientes o estudo de Johnson mostra a influencia deles nos ambientes de ideias mais propensos ao surgimento delas. Johnson sugere que o ambiente tem o poder de estimular ou suprimir processos criativos e de solução de problemas; Como vimos anteriormente o funcionamento do cérebro é composto por dois hemisférios que administram habilidades diferentes. A integração cerebral é necessária, pois como vimos anteriormente, andar de bicicleta é uma atividade a qual não esquecemos porque ha
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um aprendizado com os dois lados do cérebro e não com apenas o lado esquerdo como acontece na maioria das escolas do ensino básico ou até mesmo em universidades. A integração cerebral pode ser estimulada pelo ambiente através de sons, símbolos, cores. JOHNSON, Steven (2010, p.19) Alguns ambientes sufocam novas ideias; outros parecem gerá-las sem esforço. A cidade e a web foram motores da inovação desse tipo porque, por razões históricas complexas, ambas são ambientes poderosamente propícios à criação, a difusão e à adoção de boas ideias. Nenhum dos dois é perfeito, de maneira alguma. Mas tanto a cidade quanto a web possuem um inegável histórico em matéria de geração de inovação. Da mesma maneira, as “miríades de pequeninos arquitetos” do recife de coral de Darvin criam um ambiente em que a inovação biológica pode florescer. A ideia de Darwin que transformou o mundo desdobrou-se dentro de seu cérebro, mas pense em todos os ambientes e todas as ferramentas de que ele precisou para construí-la: um navio, um arquipélago, um caderno, uma biblioteca, um recife de coral. Nosso pensamento moldam os espaços que habitamos, e os espaços retribuem de volta.
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Se acompanharmos a histórias contadas para algumas ideias da humanidade, veremos através dos relatos que o momento em que essa ideia vem (como visto antes é precedido de muito trabalho) é um período em que se está mais relaxado e o ambiente fora do local de trabalho fora dos padrões de trabalho intenso e busca pela solução desejada para os problemas. A neurociência explica de forma bem clara porque isso ocorre, segundo os neurocientistas o maior potencial cerebral, ou seja, a porta de entrada para as ideias está no inconsciente humano, porém a porta de entrada para o inconsciente só acontece em um nível de relaxamento maior o que muitas vezes não acontece no ambiente de trabalho intenso devido à tensão da busca por resultados. Nosso consciente é 1 % e nosso inconsciente 99%, porém o maior potencial do pensamento criativo está no inconsciente e o acesso a ele se dar em um nível de relaxamento, talvez isso explique muitas histórias as quais se tem uma grande ideia em um sonho ou no banho, ou em uma conversa com amigos. Como vemos no exemplo citado por Lawson; LAWSON, Bryan (2011, p.143)
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Esse momento de “heureca”, como se costuma dizer, parece bem característico dos grandes momentos criativos. Todos já ouvimos dize que Arquimedes pulou do banho gritando “Heureca!” quando resolveu um problema no qual vinha trabalhando havia algum tempo. Outros, como Helmhotz e Hadamard, descrevem situações parecidas, e este último afirma ter acordado com soluções que não estavam na sua cabeça antes de dormir. Mais conhecido é o relato do famoso químico Friedrich von Kekule, que descobriu a estrutura em anel da molécula de benzeno quando estava semiadormecido diante da lareira.
O que todos eles tinham em comum nesse momento, é que estavam em ambientes fora do trabalho em que lhes permitia um momento mais relaxado da mente em que podiam acessar a parte inconsciente da mente. Apesar desses momentos onde a ideia pode surgir ser um momento de desaceleração, os momentos em que elas acontecem segundo Johnson raramente se dão solitariamente. Ele cita frequentemente em seu livro como os ambientes que permitem trocas de ideias favorecem o surgimento de novas ideias. Neste estudo de 1990 do psicologo Kevin Dunbar que registrou as atividades em alguns dos mais importantes laboratórios de biologia
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molécula Johnson conclui que o mais importante para as ideias acontecia fora do trabalho, num momento de descontração similar aos cientistas citados anteriormente, porém surgida em conversas informais. JOHNSON, Steven (2010, p.54) No caso da ciência como a biologia molecular, temos em nossas cabeças a imagem do cientista sozinho no laboratório, curvado sobre um microscópio, que se depara com um novo achado importante. Mas o estudo de Dunbar mostrou que esses estalos solitários eram algo raro. Na verdade, na maioria das ideias importantes vinha á tona durante reuniões regulares no laboratório, em que cerca de uma dúzia de pesquisadores se encontrava e, de maneira informal, apresentava e discutia seu trabalho mais recente. Ao observar o mapa da formação de ideias criado por Dunbar, você veria que o ponto de partida da inovação não era o microscópio. Era a mesa de reunião
Ainda segundo Johnson Edward Lioyd ou William Unwin donos de cafés possuíam ambientes de inovação não porque eram seus objetivos, pois eram comerciantes
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empenhados em faturar, porém permitiu-se observar uma característica em seus estabelecimentos segundo Johnson. JOHNSON, Steven (2010, p.156) Os espaços criados por Lloyd e Unwin revelaram ter esta propriedade incomum: faziam as pessoas pensar de maneira diferente, porque geravam um ambiente em que diversos tipos de pensamento podiam colidir e se recombinar de maneira produtiva.
Assim vemos a influência que os espaços podem ter para ambientes criativos sejam eles de trabalho, sejam eles de ensino e também de aprendizado. E apesar de haver uma tendência aos espaços fora do ambiente de trabalho oferecer mais essas características, segundo Johnson alguns grandes inovadores da historia conseguiram construir um ambiente de café interdisciplinar dentro de suas próprias rotinas de trabalho, como vimos anteriormente no estudo de Dunbar sobre o espaço criativo. Johnson reforça essa ideia ao citar o sociólogo Ray Oldenburg dizendo que esses espaços compartilhados tomam a forma de um espaço
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público do mundo real ao qual Oldenburg chamou de “o terceiro lugar”, que seria um ambiente conectivo distinto do mundo mais insular da casa ou do trabalho. O ambiente criativo segundo Steven Johnson deve favorecer a “serendipidade” (“Serendipity” cunhada pelo romancista inglês Horace Walpole em uma carta escrita em 1754, a palavra provém de um conto de fadas persa intitulado “Os três príncipes de Serendip”, cujos protagonistas estavam sempre descobrindo por acidente coisas que não procuravam, segundo a estória não se chega a Serendip indo para lá é necessário se perder), possível adjacente, intuição lenta. Em relação ao ambiente temos duas influências com relação a importância para criatividade, temos o cultivo de certos hábitos que tem efeito direto sobre o potencial criativo, a relação disso com o ambiente que
está em vivenciar
situações fora do ambiente de trabalho, que tragam novas maneiras de olhar uma ideia criando uma nova como discutido anteriormente sobre o pensamento. O fato é que esses hábitos que alimentam a “serendipdade”, possível adjacente, intuição lenta, estão tanto dentro quanto fora do ambiente em questão.
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O AMBIENTE PERCEPTIVO E OS CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS
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O ambiente perceptivo e os campos eletromagnéticos O ambiente perceptivo criativo é um ambiente que nos permite fazer associações com outras ideias, favorece a percepção, o conhecimento, o aprendizado. Com relação às ideias vimos a importância de um processo de cultivá-las, tanto quanto trabalhar ao extremo nelas, a necessidade de estar sempre em contatos com outras áreas fora
da própria área de
atuação. Por outro lado temos o espaço físico aquele em que delimita as proximidades, as distâncias, as cores, as luzes e pode influenciar os sentidos de forma a favorecer o ambiente que se quer criar. Dessa forma esse trabalho pretendeu trazer uma investigação de tudo que está relacionado a este processo criativo. Porém a proposta de tcc vai se ater ao que está ao alcance da criação de um espaço propulsor de bom aprendizado. Sendo assim nos deparamos com alguns questionamentos. Como facilitar o pensamento criativo e o aprendizado através da percepção? Como criar um ambiente de aprendizado e criatividade perceptivos e vivenciais? O ambiente é um instrumento perceptivo, como seria esse ambiente perceptivo criativo para o aprendizado?
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Para isso esse estudo que tem seu foco voltado ao fenômeno da percepção, onde se entende ser o centro de todo o processo de projeto, pois está ligada a todos os itens aqui estudados, levou a um novo paradigma de percepção. Não que as teorias perceptivas aqui discutidas tenham de ser descartadas, mas somadas a esse novo conceito de percepção ao qual trataremos nesse capitulo. Até aqui sabemos que vivemos em um mundo constituído de matéria, rígida e previsível em relação aos fenômenos físicos. O modo como nosso corpo reage ao esse meio físico era tratado até então como um fenômeno perceptivo do corpo sensório, e que esse dependia da interpretação que cada um faz dos fenômenos ocorridos. O que é bem verdade, na teoria perceptiva de Pierce através da fenomenologia ele nos mostrou que os objetos mesmo que estáticos e sem movimento impõem sobre nós alguma ação e nós reagimos mesmo que de forma inconsciente. Porém no livro de Lucia Santaella podemos ver uma citação de Gibson onde ele parece ter consciência mesmo que um pouco vaga sobre a teoria quântica e seu papel na percepção.
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Gibson (apud SANTAELLA 1988, p.26). Assumiu-se que o processo de organização ocorre no cérebro, presumivelmente no córtex, sendo concebido como um processo num campo, análogo ao campo visual ele mesmo, e sendo as partes do campo (o contorno da forma e seu fundo) unidas ou separadas por forças de atração similares a forças eletromagnéticas. Uma forma percebida, nessa teoria, é uma forma cerebral. As imagens retinianas produzem excitações isoladas. Apenas quando são projetadas no córtex é que o campo de forças começa a operar entre elas e, apenas então, elas se unem numa Gestalt. As causa da organização sensorial devem ser buscadas naquilo que é por vezes, chamado de teoria de campo.
Visto isso esse estudo propõe uma visão complementar da percepção através da física quântica, para isso primeiro precisamos entender o que é a física quântica. A teoria quântica ao contrario da física clássica que estudamos na escola acredita e comprova que o mundo na sua menor dimensão não é constituído por matéria e sim por energia, energia essa que permite uma interação entre tudo o que compõe o ambiente em que vivemos inclusive nós mesmos. A física quântica surgiu de uma falha da chamada física
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clássica ao explicar fenômenos que ocorrem numa escala menor que um átomo. A palavra “quântica” está relacionada a quantizar que quer dizer dividir em quantidades. A física quântica nos mostra que a energia não se comporta sempre com uma onda, como sugeria a física clássica, se comporta como pacotes de energia denominados quantum mas também pode se comportar como onda. A partícula carrega uma energia proporcional à onda. Visto isso à teoria que um pouco mais complexa é basicamente nu o universo e composto em sua menor parte por energia. Sendo assim qual o papel dessa energia nos ambientes que vivemos? O dr Victor Mattos descreve bem o papel dessa interação das energias no ambiente em sua abordagem sobre medicina quântica. MATTOS, Victor (2010, p.31) Como seres humanos, somos parte de um todo universal com o qual interagimos, nele influindo e dele sofrendo influências, na maioria das vezes, inconscientemente, ou seja, sem que tais influências sejam percebidas pelos sentidos, mas que atuando sobre mentes celulares, nelas suscitam o afloramento de registros informatizados de
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respostas consequentes. Algumas destas respostas, por exemplo, podem resultar no aumento ou alteração das funções e rendimentos psicofísicos bem como de automatismos psicofísicos. De vez em quando tais microestímulos podem resultar em respostas exageradas, inteiramente fora do comum e quase incompreensíveis. É o que acontece, por exemplo, quando encontramos uma pessoa que apresenta uma extraordinária capacidade para resolver complicados problemas matemáticos "de memória", sem usa lápis e papel; ou que se mostra capaz de tocar piano com perfeição uma música que ouviu apenas uma vez; ou que consegue memorizar longos trechos literários após uma só leitura, etc. Na maioria das vezes, tais indivíduos são tidos como "gênios" e podem impressionar a pessoas comuns, que não compreendem a natureza de tais fenômenos. Na verdade, essas pessoas sofreram estímulos decorrentes de interferência externa que, interiorizados agiram sobre micromecanismos celulares ou intracelulares, modificando reações bioquímicas intrínsecas e complexas o bastante para produzir "rendimentos anormais" .
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A partir daí temos uma ideia mesmo que um pouco discreta devido a complexidade do assunto de como existe um tipo de percepção do ambiente que não está a nível consciente, mas ainda assim exerce influencia sobre nos. MATTOS, Victor (2010, p.26) Vivemos sobre a influência de ritmos frequências de diversas naturezas e potencias. A criação e a manutenção da vida tal qual a conhecemos depende da estabilidade de ritmos frequências que se manifestam primeiro externamente e em seguida internamente em todos os organismos vivos.
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CONCLUSテグ
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Conclusão A grande questão que restou após esse trabalho e se o maior entendimento desses itens estudados e a introdução da nova teoria quântica de percepção podem agregar algum valor aos espaços projetado pela arquitetura. Para isso veremos a proposta de TCC 2 a seguir o qual responder essa pergunta com uma intervenção no espaço arquitetônico se faz ne necessário.
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PROPOSTA DE TCC 2
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Proposta de TCC 2 A proposta de TCC2 através dos assuntos aqui abordados pretende intervir em algum espaço de aprendizado e criatividade de maneira que possa melhorar este espaço a partir do que foi aqui apresentado e estudado. Será constituído de um projeto de intervenção neste espaço já consolidado e que seja possível de intervir. A fim de responder as questões levantadas anteriormente Como facilitar o pensamento criativo e o aprendizado através da percepção? Como criar um ambiente de aprendizado e criatividade perceptivos e vivenciais? O ambiente é um instrumento perceptivo, como seria esse ambiente perceptivo criativo para o aprendizado? E trazer alguma contribuição para o processo de projeto afim de que ele se enriqueça com mais um elemento considerável se assim ocorrer. Método: Intervenção no Espaço existente para criação de ambiente favorável ao aprendizado e criatividade através de;
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Percepção- Integração Cerebral (Cor, formas), Geometria do Sentimento, Campos Eletromagnéticos (Luz, Cor,
Materiais, som, vegetação), espaço físico(dimensões,
organização do espaço, disposição mobiliário), criação do terceiro lugar ou já existente (Ambiente entre casa e trabalho). Local de intervenção: Bloco E da Unileste, sala de aula E 107
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SEMINÁRIO DE TCC 1
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Seminário de TCC 1 O seminário de TCC 1 foi proposto para a semana integrada do CAU, com o objetivo de promover um debate sobre os principais termos da pesquisa abordados no trabalho. A ideia inicial era que os professores participassem junto aos alunos para que o debate ganhasse mais densidade perante a experiência que eles poderiam trazer para a conversa. Porém não foi possível, mas foi produtivo mesmo que em menor escala, apesar da maioria dos alunos presentes serem das engenharias. O que de certo ponto não foi tão produtivo quanto o esperado, pois os alunos não se sentiam confortáveis em fazer perguntas nem tampouco falar suas opiniões. Os assuntos de arquitetura pareciam deixá-los desconfortáveis para opinar sobre algo. Mas ainda sim foi possível absorver pontos positivos, pois a necessidade de aprender mais sobre meu próprio tema para poder falar aos outros trouxe de algum modo um crescimento.
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REFERÊNCIAS
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Florio Arquitetura revista, vol. 7, N. 2, p. 16
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