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Daniel Herrera e André Constantin - Invernada dos Negros
“Invernada”: tempo de inverno; pastagens que se destinam à criação ou descanso de animais.
O projeto de fotografia e vídeo intitulado Invernada dos Negros, premiado e realizado no âmbito do I Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras (2010), está sendo apresentado ao público desde outubro de 2010, com exposições nas cidades de Campos Novos, Lages e Florianópolis (SC), São Paulo (SP) e Caxias do Sul, Porto Alegre e Antônio Prado (RS), podendo ganhar uma itinerância maior. A mostra é formada por um acervo de imagens documentais e também rituais – pelos suportes da fotografia e do vídeo – dos herdeiros de uma terra e de uma história singular do escravismo no sul do Brasil. Entre os personagens registrados, alguns jamais haviam realizado um retrato fotográfico convencional. No território de Campos Novos, Santa Catarina, um reduto de afro-descendentes mantém viva a memória de escravos herdeiros de uma antiga fazenda do planalto catarinense. O lugar chama-se Corredeira, mas na tradição oral dos moradores da região ainda é a Invernada dos Negros – como ficaram conhecidos os campos e pinhais doados por um fazendeiro aos seus escravos, no ano de 1877. Um território que foi, ao longo de três gerações, disputado e retalhado por interesses econômicos. Despossuídos e dispersos, os herdeiros da Invernada atravessaram um século de anonimato até alcançarem, recentemente, o reconhecimento de sua herança e de sua identidade pela sociedade envolvente. A instalação de imagens é composta por 35 fotografias em preto e branco, com projeção simultânea de um filme documentário. Além do ambiente da mostra, foi produzido um conjunto de peças gráficas: uma série de sete retratos em cartões postais; um catálogo de 32 páginas com imagens da Invernada; cartazes de divulgação e o site do projeto (www.invernadadosnegros.com.br). O projeto Invernada dos Negros tem autoria de André Costantin, roteirista e diretor cinematográfico, e Daniel Herrera, fotógrafo e montador cinematográfico. As datas das mostras e locais estão sendo atualizadas pelo site do projeto – www.invernadadosnegros.com.br. Conceito do projeto O conceito estético do projeto de instalação Invernada dos Negros parte da força da imagem, em especial a força da fotografia, como revelação da cultura, como acervo de memória e ainda como fonte de tomada de consciência ou mesmo de denúncia da realidade. O recorte e a técnica fotográfica escolhidos para o projeto, entretanto, dialogam com a tradição do retrato – na medida em que o retrato fotográfico revela a identidade humana particular e sugere, por uma magia própria da fotografia, também aspectos da vida social do personagem: suas memórias e suas marcas, sua aventura existencial expressa nas linhas do rosto, no olhar.
O registro de ambiência e documental do contexto da Invernada dos Negros foi realizado no suporte audiovisual,
em imagem e som de alta definição, conformando um filme-documentário de abordagem etnográfica que além de revelar a memória coletiva da Invernada, com depoimentos e cenas espontâneas do cotidiano do lugar, também registrou os momentos de captação fotográfica dos personagens – uma proposta de superposição de imagens e de olhares sobre os atores sociais da Invernada.
Tal abordagem decorre da intenção estética de construir imagens ritualizadas dos personagens, como quando uma pessoa se prepara para tirar uma fotografia. Nos trabalhos de documentação, personagens da Invernada foram convidados a fazer um retrato – o retrato dos herdeiros de uma tradição e de uma terra (real e imaginária) que jamais foi feito. Os retratos das faces da Invernada dos Negros dialogam, em parte, com a tradição dos retratos de família e de personagens dos antigos proprietários de fazendas da região dos campos do planalto catarinense – os antigos senhores dos escravos. Eis uma ponte simbólica – entre outras – que o registro fotográfico e documental sugere.
Henrique Pereira 320
Luiz Henrique Pereira – filho Luiz Teodomiro Pereira – Pai
Quarto 320
Luiz Henrique, fotógrafo. Um rapaz emotivo, preocupado. Soube compreender certos zelos de seu pai durante a vida. Uma maior valorização surge da perda física de seu mentor, valor pessoal que este filho registrou naturalmente em sua relação cotidiana com Seu Teodomiro no Cepon [Centro de Pesquisas Oncológicas]. Henrique usou a fotografia para divertir, conversar, rememorar, registrar, criar memórias e amenizar a atmosfera hospitalar, fotografou para si e para seu pai. Luiz Teodomiro, pedreiro. Homem de índole caseira, tranquilo e de poucas palavras na criação dos filhos. Responsável na ação pelo exemplo. Assim os criou e até o final de sua luta pela vida contra o câncer não se abalou ou se entregou, muito pelo contrário, não reclamou, não se contrariou por sua condição. Mais um exemplo, agora de vida, que se estende nesta exposição para além do universo doméstico onde estas histórias se desenrolam. Todos tem ou vivenciam uma relação de pai e de filho. É uma jornada onde cumpre-se um ciclo de vida, e de morte. Um singelo convite à reflexão sobre o amor.
André Paiva artistas nesse projeto.
Coletivo 6x6
O Coletivo 6x6, formado pelos fotógrafos Guilherme Ternes, Marco Giacomelli, Walmor de Oliveira, André Paiva e Álvaro de Azevedo Diaz, apresenta aqui seu trabalho inaugural, uma série sobre o outono em Florianópolis. Essa época foi escolhida porque é aquela em que os habitantes de Florianópolis, nativos ou não, elegem como a melhor do ano. Não há o afluxo invasivo dos turistas, o trânsito implacavelmente engarrafado nem o calor feérico que esvazia a cidade e superpovoa as praias. Para os fotógrafos, esse período do ano revela simplesmente a vida que pulsa na cidade, sem rebuscamentos estereotipados, com sua plácida luz inclinada a
A linguagem eleita foi o preto e branco, que traduz as formas em tons de cinza, branco e preto no formato que empresta nome ao Coletivo, o 6x6, o clássico quadrado das câmeras analógicas de formato médio, equipamento adotado pelos iluminar seus contornos.
O resultado dessa combinação de olhares tão diversos encontra-se hoje aqui nessas imagens em preto e branco com um olhar singular e sobre a nossa cidade.
Álvaro de Azevedo Dias