Contos para ler antes de dormir
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Catalogação na PubliCação Ballaminut, Sérgio Augusto Alonso Os poetas do meu Canto. / Sérgio Ballaminut. -- São Paulo : PoloBooks, 2012. 142 p. ISBN: 978-85-65943-05-5 1. Poesia. 2. Literatura brasileira. I. Título CDD 808
PoloBooks Rua Antônio das Chagas, 550 - Chácara Santo Antônio 04714-000 - São Paulo - SP Tel.: (11) 3791-2965 / 3034-0066 www.poloprinter.com.br e-mail: atendimento@poloprinter.com.br
paulo sutto
Contos para ler antes de dormir
S達o Paulo 2013
paulo sutto
Índice 3 horas da madrugada......................................................................9 David Hell .......................................................................................13 Pássaros .......................................................................................... 17 A hóstia...........................................................................................22 Gatos do cemitério..........................................................................25 Demônios no banheiro....................................................................29 O último conto ................................................................................31 Encruzilhada....................................................................................36 Noite de chuva................................................................................39 Sugadores de almas........................................................................42 Macumba........................................................................................44 A escadaria......................................................................................47 Amarelinha......................................................................................49 Pecadores ........................................................................................ 53 O mal que habita em mim...............................................................59 A moradora .....................................................................................62 A casa dos horrores ......................................................................... 66 Tranquem as portas dos armários .................................................... 70 Túmulos abandonados....................................................................73 Gatos famintos ................................................................................ 79 Amigo imaginário............................................................................81 O livro maldito ................................................................................85 Túmulos..........................................................................................88 Matadouro ......................................................................................93 Morte cerebral.................................................................................97 Chapeuzinho Vermelho ... de sangue ..............................................99 Odeio ser humano.........................................................................102 O padre .........................................................................................106 O demônio da velha......................................................................110 Sonhos reais .................................................................................. 114 Passos do além .............................................................................. 117 O milharal .....................................................................................122
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contos para ler antes de dormir Espantalhos...................................................................................127 Cortejo fúnebre .............................................................................131 Amor insano..................................................................................134 A capela........................................................................................138 O casarão......................................................................................141 O tatuador.....................................................................................148 Neblina .........................................................................................151 Taxidermia ....................................................................................155 E-mail ...........................................................................................159 Televisão.......................................................................................161 Visita noturna ................................................................................165 Hospital psiquiátrico......................................................................167 O elevador ....................................................................................171 Carne ............................................................................................175 A garota do cemitério....................................................................177 A menina corcunda.......................................................................180 Cuidado com nossas crianças ........................................................183 Olhos ............................................................................................186 O mágico da morte .......................................................................188 A luz ..............................................................................................194 Espíritos........................................................................................197 Noivos ...........................................................................................201 O garoto........................................................................................205 O assassino e a vendedora de flores .............................................. 207 Abertura no tempo........................................................................209 Para o inferno................................................................................212 Dia dos pais..................................................................................215 Tenho Sede...................................................................................220 Encostos ........................................................................................ 223 O atalho ........................................................................................227 Possuída ........................................................................................ 230 A casa ........................................................................................... 233 O corvo .........................................................................................237 O jardineiro ...................................................................................239 O pomar........................................................................................242 Olhos de pavor..............................................................................246 Quaresma...................................................................................... 249 Bailes de carnaval.........................................................................252 Alucinações...................................................................................255 O restaurante.................................................................................258 A árvore na calçada oposta...........................................................260 O quarto .......................................................................................262 Papai Noel.....................................................................................265 Lua cheia ......................................................................................269 A seita ...........................................................................................277
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3 horas da madrugada Muitas vezes acordo na madrugada, me levanto, vou até o banheiro e volto a dormir. O silêncio nesse horário é total. A casa mergulhada na penumbra. Sempre que isso acontece, acabo olhando para o relógio. Talvez por uma questão biológica ou incrível coincidência, a hora que isso acontece é sempre por volta de três horas. Às vezes três em ponto, outras faltando pouco ou passando um pouco. Nunca tinha notado isso, até o dia em que ouvi sons estranhos, como animais rosnando. Confesso que sentia um arrepio toda vez que ouvia esses sons. A partir desse dia, notei que o horário era sempre aproximado. E os sons começaram a se tornar mais audíveis. Rosnados, vozes abafadas, gemidos e gritos bem ao fundo. Comecei então algumas pesquisas. Falei com pessoas ligadas com religiões. Quase ninguém soube me dar alguma explicação plausível, na -ver dade nem sabiam nada sobre o assunto. Até que um padre me disse conhecer alguém que poderia me ajudar. Era um outro padre já bem idoso que vivia em um convento, praticamente isolado e pouco contato tinha com pessoas. Seria difícil falar com ele, mas eu precisava tentar. O padre que me deu a dica, me disse que iria tentar um contato. Depois de muita dificuldade ele conseguiu. Melhor que não tivesse conseguido. Existem coisas que é melhor nunca sabermos. Fui ao encontro do tal padre. Chegando lá, não vou negar que me assustei.
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contos para ler antes de dormir Ele aparentava ser bem mais velho do que era, sua fisionomia mos trava linhas de dor, de quem tinha visto coisas que não deveria ter visto e que não queria compartilhar com mais ninguém. Nos apresentamos e relatei os acontecimentos que me levaram até ali. Ele fixou seus olhos no meu, como se enxergasse minha alma e me perguntou se eu realmente queria e estava preparado para saber o que ele tinha pra me dizer. Afirmei relutante que sim. Apesar do medo que tomou conta de meu ser. Ele se ajeitou em uma cadeira, tão velha quanto ele e começou a narrativa. Me perguntou se eu sabia a que horas Jesus Cristo havia falecido. Sinceramente não sabia, tinha uma ideia de que era à tarde, mas não sabia exato a hora. Sexta feira à nona hora, ou 15 horas no nosso sistema atual. Não entendi o porque da pergunta. Ele fez a conexão, 15 horas, ou 3 da tarde. A que horas você costuma acordar e ouvir os sons? Perguntou. Três da madrugada. Respondi. Vê alguma ligação? Algo familiar? - Ele questionou. E continuou: Os demônios satirizam a hora da morte de Cristo e usam três horas da madrugada para festejarem, para se alegrarem. Aproveitam para andar pelas ruas. Assustam quem por elas andam desavisados e fora de hora. Algumas pessoas são influenciadas por isso e acabam acordando perto dessa hora. E acabam ouvindo coisas. E com o tempo acabam vendo coisas. Os sons que você tem ouvido nada mais são do que demônios expressando seu ódio e todo seu desespero. Se arrastam pelas ruas. Não sei se é o que você esperava ouvir, mas é o que tenho para te dizer. Infelizmente. Com o passar do tempo, vai não somente ouvir mas também ver coisas que sua mente jamais imaginou existir. Agora você sabe o porque estou aqui, isolado e protegido nesse convento.
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paulo sutto Durante muito tempo eu ouvi os sons. E na noite em que comecei a vê-los, não consegui mais dormir, somente depois que vim para cá. Aqui eles não entram. Hoje estou me mudando para o convento e dividindo o quarto com o padre. Há duas noites não durmo. O que eu vi é algo aterrador e não quero mais ver. Tenho medo de dormir. Somente em terreno sagrado. Os demônios são muito além do que imaginávamos. Impossível descrevê-los. São o mal encarnado. São o ódio vivo. Existem. E saem sempre às 3 horas da madrugada. Eu sei disso, eu os ouvi e vi.
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David Hell A súbita ascenção de um reles cantor de happy hour para mega star em menos de um ano era algo que chamava a atenção de toda a mídia. Algo que era inexplicável. Sua música era uma mistureba de rock com todo tipo de música, passando pelo lírico e até erudito, mas algo que me intrigava eram os trechos falados em latim e declamados com uma voz gutural que parecia não ser a dele e sim de um demônio saído das profundezas do inferno. Viajei muitos quilômetros para assistir a um show dele e tentar desvendar o mistério. E além do mais isso renderia uma ótima matéria na revista onde eu escrevia. O difícil seria ele aceitar marcar uma entrevista. Dia do show. Casa lotada. Idade média do público: dezesseis a vinte e cinco anos. A maioria de classe média. A princípio não consegui marcar nada com seus assessores. Nada de entrevistas. Todos acomodados. David Hell, esse era seu nome artístico, nunca teve banda de abertura, somente ele e sua banda no palco, sempre. Muitas luzes e fumaça num mega show. Ele entra no palco. Delírio na plateia. Permaneci em um canto, meio fora daquela massa de jovens deli rantes. Notei algumas pessoas estranhas circulando, achei que fossem se guranças, mas vi que não eram.
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paulo sutto Homens bem altos vestidos de negro com a pele bronzeada e uma expressão do mal no rosto. Circulavam como se não fossem notados, ma verdade eu mesmo ora os via e depois desapareciam. David Hell era carismático. Interagia com o público. O ápice do show eram os trechos falados em latim. A voz gutural arrepiava, causava medo e espanto. Esqueci de comentar que estudei um bom tempo em um colégio de padres e o latim era ensinado, e sendo assim, talvez eu fosse um dos poucos, se não o único a entender o que era falado nesses trechos. Meu medo aumentou muito quando eu entendi o que ele falava após pedir aos jovens que repetissem com ele, o que faziam entusiasticamente. Inocentemente sem saber o que diziam eles ofereciam suas almas ao diabo, num pacto real e válido. Meu corpo se arrepiou por inteiro quando notei que aqueles ho mens que achei serem seguranças na verdade eram anjos, anjos com grandes asas negras que assinalavam cada jovem após ele ter feito o pacto. Olhei para o palco, David Hell parecia estar em transe, com as mãos erguidas com o sinal do demônio, ou o que muitos pensavam ser o símbolo do rock. Seus olhos estavam revirados deixando apenas o branco exposto. Assustador. Medonho. E aquela voz, não, não era ele falando. De repente ele abre os olhos, e me encontra. E continua a falar em latim: - Você é o único aqui que entende Latim. Te espero no camarim após o show. Não tenha medo, você quer uma matéria, terá a matéria. Fiquei paralisado por alguns minutos. O show continuou ainda por umas duas horas. Após isso, um dos seguranças me procurou e me encaminhou até o camarim. Ele estava lá, de costas para a porta. Me cumprimentou sem olhar para mim. Continuou de costas, me pediu para sentar. Me disse que todo sucesso tem um preço. Às vezes um pouco alto. Falou sobre seus fracassos como cantor e como pessoa até o dia em que por brincadeira, invocou os poderes das trevas.
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contos para ler antes de dormir No mesmo dia um homem negro, muito bem vestido o procurou dizendo que tinha uma proposta para ele. Daria todo sucesso que ele procurava, dinheiro, mulheres, fama e tudo mais que ele quisesse. Em troca, sua alma e a alma de outras pessoas. Não acreditando na proposta, ele aceitou e assinou um contrato. Naquela noite teve um sonho, ou pesadelo, onde ele se via no- in ferno e o Deus das Trevas passava a ele todas as instruções e modo de agir. Acordou apavorado e com a triste certeza de que havia feito um pacto real com o demônio. A partir daí todos conheciam a história. E a cada show muitas almas eram entregues ao demônio através do pacto feito em latim que nin guém sabia o que significava, apenas repetiam e diziam sim no final, entregando suas almas. Eu não queria acreditar, mas era real. E ele terminou a entrevista me dizendo: - Essa é a verdade, a dura verdade. Pode escrever exatamente como te contei. Mas, acredita mesmo que no século vinte e um, alguém em sã cons ciência acreditará no que acabei de te contar? - Você queria a matéria? Agora a tem... E fez bem em não repetir as palavras. Fiquei calado o tempo todo, só ouvindo. E senti um arrependimento na sua voz. Nem tanto pela sua alma, mas por ele ter de levar tantas almas junto com a dele. Saí, voltei para minha cidade. Quando o editor da revista me questionou sobre a tal entrevista com David Hell, simplesmente disse que não consegui o ingresso. Afinal ninguém iria acreditar mesmo.
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Pássaros Depois de rodar por muitos quilômetros pela estrada sem cruzar com nenhuma construção ou pessoa, admiti para mim mesmo que estava perdido. O sol estava insuportavelmente quente. Do asfalto via-se levantar um bafo quente e trêmulo. O céu estava azul sem uma nuvem sequer. Eu suava em bicas. Mas ainda estava calmo. Dirigi por mais quarenta e cinco minutos até avistar ao longe um posto de gasolina enfiado no meio daquele deserto. Tive medo de ser uma miragem. Chegando até ele, desci do carro. A impressão que dava era de que há muito tempo ninguém passava por ali. Entrei na pequena e mal cuidada loja de conveniência. Um senhor velho e empoeirado estava sentado imóvel atrás da cai xa registradora ouvindo cowntry num velho rádio. Me cumprimentou sem mesmo se dar ao trabalho de olhar para mim. Perguntei como fazia para chegar até a cidade para onde eu me dirigia. Ele respondeu com um meio sorriso quase assustador; me dizendo que eu estava na estrada certa, mas que ainda faltava muitos quilôme tros para chegar lá. Agradeci, peguei algumas coisas, voltei ao caixa, paguei e saí. Quando eu estava na porta, o velho me chamou. Me virei para ver o que ele queria. Ele continuava lá, imóvel, parecendo um animal empalhado e me disse: - Você vai encontrar na beira da estrada há alguns quilômetros daqui, um vilarejo. Não pare lá, siga em frente. E tome cuidado com pássaros.
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contos para ler antes de dormir Agradeci pelo conselho, caminhei até o carro, entrei e segui viagem. Fiquei pensando no que o velho do posto me disse sobre tomar cuidado com pássaros. Não via nenhum pássaro há horas. E porque eu não deveria parar no vilarejo? Continuei dirigindo sob o sol escaldante. E como ele me disse, há alguns quilômetros adiante um vilarejo foi aparecendo no horizonte. Eram pequenas casas, alguns comércios e uma placa muito convidativa e muito cortês: Sejam bem vindos ao Vilarejo dos pássaros negros. Ignorei totalmente o conselho do velho e entrei no vilarejo, estava com fome e sede. Vi algumas pessoas bem sorridentes caminhando e me cumprimen taram de modo simpático. Entrei em uma lanchonete, as pessoas me olharam com curiosidade. Pedi um lanche e um refrigerante. E as pessoas agora me olhavam de um modo estranho. Confesso que me senti meio sem jeito. Não sorriam mais. Pedi duas garrafas de água, paguei e saí. Ao caminhar para a porta, percebi que todos me acompanhavam com os olhos. Quando me vi fora da lanchonete avistei meu carro, mas aparentemente bem mais distante de onde eu o havia deixado. O estacionamento parecia muito mais amplo. Segui caminhando e sendo observado por olhos curiosos. Caminhei alguns passos e me senti estranho. Tudo ao redor parecia girar e mudar de posição. E quando olhei para cima notei alguns pássaros voando em círculos, a uma altura considerável. Senti uma fraqueza em todo meu corpo e minha visão foi ficando escura até o ponto de não ver mais nada. Apenas ouvia muitas vozes. Mas não conseguia entender nada do que falavam. Quando minha visão voltou ainda um pouco embaçada, eu estava caído no chão quente. Rodeado por pessoas me olhando curiosas. Ao olhar para cima vi os pássaros voado baixo e fazendo sons estridentes. Eu queria gritar por ajuda, mas minha voz não saía. E nem me mexer eu conseguia.
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paulo sutto Os pássaros se aproximando. Eu ali imóvel, senti medo como nunca havia sentido antes. De repente senti uma bicada em meu braço, outra na perna, e mais outras. A dor era terrível. Não via, mas sentia que a cada bicada, um peda ço de carne era arrancado, minha carne. Podia ver os pássaros voando com algo vermelho em seus bicos, algo pingando. Sentia o sangue escorrendo pelos meus braços, pernas e tórax. Para meu desespero senti as bicadas agora em meu rosto. Meus gritos abafados não saíam. Fechei os olhos esperando pelo pior. Uma bicada seca e certeira me furou o olho esquerdo. Quase perdi os sentidos. Tudo parecia vermelho e negro. O barulho dos pássaros era alto demais. E as pessoas continuavam ali, só observando. Ouço uma voz se aproximando. Reconheço a voz, é o velho do posto. Ele enxota as aves. Coloca as mãos sobre minha cabeça e diz: - Eu te avisei não foi. Porque vocês insistem em não aceitar conselhos??? Ele diz algumas palavras em uma língua estranha. Me sinto zonzo novamente e minha cabeça gira sem parar, sinto que vou vomitar. As vozes vão sumindo. Vou voltando para a realidade. Abro os olhos. Estou em pé parado na porta da loja do posto. O velho senhor me olha fixamente nos olhos e me pergunta se estou bem. Digo que sim e me viro para sair. Ele me diz: Não se esqueça meus conselhos ok. Afirmo com a cabeça que não esquecerei. Entro no carro e sigo viagem. Alguns quilômetros à frente, desponta um vilarejo, alguns pássaros voando. Uma placa de boas vindas. Não resisto e dou seta para a direita. As pessoas me sorriem educadamente.... Estou com fome e sede....
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A hóstia Me lembro que quando era criança e ia para a missa com minha mãe, sempre que era a hora de tomarmos a hóstia, ela me dizia que não se podia mordê-la, pois ela se transformaria em sangue, o sangue de Cristo. Cresci com essa visão, e sempre tomava cuidado com ela, deixando -a no céu da boca para que se desmanchasse e não houvesse o perigo de mordê-la. O tempo passou. Me tornei adulto. Deixei de ir à missa. Segui meu rumo. Mudei de cidade. Mas um dia, essa coisa toda me veio à mente. Era domingo. Saí e fui para um lugar onde fazia muito tempo eu não ia mais. Fui até uma igreja. Uma catedral gótica, bem antiga e muito bonita, meio sinistra até. Me sentei e me senti muito sonolento. O padre bem idoso fazia a missa em latim. Hora de tomar o sacramento. Fui para a fila. O som de cantos gregorianos encheram a igreja aumentando o ar gótico e sinistro. Apesar de não me achar digno para tal ato, fechei os olhos, abri a boca e recebi a hóstia. Devagar me dirigi ao banco onde eu estava sentado. Me ajoelhei e orei. Me sentei e fiz o que há muito tempo tinha vontade. Mordi a hóstia. De repente, todas as velas se apagaram e acenderam rapidamente.
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paulo sutto O som de uma revoada de pássaros levantando vôo se fez ouvir com grande eco. Senti um gosto de sangue na boca e algo líquido a encheu. Precisei engolir várias vezes. Tudo ao redor parecia girar. Uma escuridão. O canto gregoriano ficou mais assustador. Todos dirigiram seus olhares acusadores para mim. Tive medo. Olhei para o velho padre que me encarava com olhos vermelhos de fogo. Por trás dele vi um grande vulto vestido de negro com capuz, cru zando o altar. O crucifixo estava de cabeça para baixo. Senti que algo escorria do canto de minha boca. Acordei assustado quando uma senhora de meia idade se sentou ao meu lado esbarrando em meus pés. Tudo fora um sonho, um aviso talvez para que eu não fizesse o que eu queria fazer. Tudo parecia normal. Me levantei e saí. Ao sair me virei para trás e notei que o velho padre me olhava fixamente. Tive um arrepio e saí da igreja. Fui direto para casa. Ao me trocar porém notei uma mancha pequena de sangue em minha camisa branca. Estava fresco. Corri ao banheiro com medo de olhar no espelho e ver o que eu não queria. Nada. Minha boca estava limpa. Nada de anormal. Até hoje não sei de onde viera aquela mancha de sangue fresco.
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Gatos do cemitério Talvez as coisas que vou relatar aqui já tenham sido percebidas por alguns de vocês, mas caso não tenham percebido, na próxima vez que passarem por essa situação se lembrarão de minhas palavras. Pois bem, nunca tive o hábito de frequentar velórios ou enterros, sempre me esquivei o quanto pude desses “eventos”. Mas existem certas ocasiões em que não se pode fugir disso, e foi o que aconteceu quando meu pai faleceu. Apesar de não ser o meu programa favorito, tive de passar a noite lá no velório. Meu pai faleceu no hospital, após mais de uma semana internado na UTI com todos os aparelhos ligados. Sofreu um infarto. Que somado à seus outros problemas e sua idade avançada se complicou ainda mais. Após todo o difícil trabalho de acionar funerária e outros procedi mentos mais, o corpo foi levado ao velório à 01 hora da madrugada. Nos dirigimos para lá, eu, minha mãe, meu irmão e um senhor que nos acompanhou. Estava bem frio naquela noite. Muito frio. As cenas que ficaram gravadas em minha mente jamais se apagarão. Passamos a noite lá, apenas nós. Bem, digo apenas nós de humanos, pois havia por ali alguns gatos que circulavam, entravam nas salas do velório, se aproximavam das pessoas ali presentes. Eram animais dóceis, amigáveis. Achei interessante. Quando o dia foi clareando, notei que havia mais gatos circulando ao redor do velório. Me disseram que viviam por ali. Eram os gatos do cemitério e uma senhora os alimentava.
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paulo sutto Durante o dia, fui andar um pouco pelo cemitério que fica bem em frente ao velório municipal. E lá, para minha surpresa, logo na entrada do cemitério, andando por sobre os túmulos, vi vários outros gatos, de diversas cores, de ta manhos diferentes. Olhavam com um olhar estranho, como que de piedade, de uma certa dor e melancolia. Mas um deles me chamou mais a atenção. Era escuro, não negro, mas acinzentado, bem grande, creio que seria da raça angorá. Me olhou com ar de superioridade, como se fosse uma espécie de líder. Nossos olhares se cruzaram apenas alguns segundos mas foi o suficiente para me arrepiar. O dia passou como o pior dia de minha vida, pois nunca tinha per dido ninguém assim próximo. Os dias se passaram e pela força recebida através das pessoas amigas que passaram pelo velório, senti que deveria também comparecer a velórios de parentes e amigos. E assim o fiz. Um, dois, três e mais vezes compareci. E fui notando que gatos sempre apareciam por lá, mas não eram os mesmos, sempre eram diferentes. Isso começou a me intrigar. Mas não comentei isso com ninguém. Um dia porém, algo que vi me deixou arrepiado totalmente. No velório do pai de um amigo meu, fui dar umas voltas pelo ce mitério para dar uma relaxada, e logo na entrada lá estavam eles. Os gatos do cemitério. Vários a caminhar por entre túmulos, outros deitados à sombra. Todos diferentes, nenhum que estivesse por lá na última vez que fui a um velório. Mas um deles eu reconheci, e ele me olhou fixo nos olhos. Era ele, o gato angorá acinzentado. O mesmo olhar, o mesmo brilho melancólico que vi quando estive lá no falecimento de meu pai. Medo. Foi isso que senti ao cruzar meu olhar com o dele. Era como se ele dissesse: Eu te conheço e em breve você me co nhecerá também. Foi uma questão de segundos e quando desviei meu olhar para outro lado ele desapareceu. Fiquei com aquela cena na cabeça por alguns dias.
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contos para ler antes de dormir Não fazia sentido, porque apenas um gato era o mesmo. Porque? O que ele tinha de diferente dos demais? Uma noite demorei a pegar no sono, e quando peguei no sono, tive um sonho muito estranho. Sonhei com os gatos do cemitério, ou melhor dizendo, com aquele gato especificamente. No sonho ele me disse que os gatos eram as almas das pessoas que morriam e que ficavam por ali para se despedirem de seus entes queridos e para ver quem os visitava pela última vez. Achei que fazia sentido. Mas e ele, porque sempre estava por ali. Ele me disse que era o guardião do caminho, e que sua função era encaminhá-los até seus respectivos túmulos e depois que todos já tinham ido embora, ele encaminhava suas almas para um lugar de descanso. E no sonho me lembro de tê-lo visto encaminhando meu pai logo após todos terem saído do cemitério. Acordei tranquilo e aceitando o sonho como uma explicação real. Muito tempo depois desse estranho sonho me encontro hoje numa situação totalmente estranha. Estou bem de frente ao gato, sim, aquele gato do cemitério, o angorá. Ele está me explicando como será meu dia hoje, que tenho de apro veitar para me despedir, para demonstrar meu amor e para ver as pes soas que vieram prestar sua última homenagem. É estranho como as coisas se encaixam. A propósito quando você for a algum velório, com certeza verá por lá um ou dois gatos, e se ele se aproximar, faça um carinho, afinal você nunca saberá quem ele realmente é ou foi.
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Demônios do banheiro Madrugada. O sono pesado. O frio infernal. O aconchego dos cobertores. Mas a necessidade é maior que tudo isso. Ele deixa seu corpo escorrer pela cama, se agasalha e se arrasta até o banheiro. Sono. Muito sono. Acomodado no vaso, se esquece do frio e do desconforto. O sono vem e se apodera de seu ser. De súbito a luz se apaga. Breu. Negrume total. Imóvel. Consegue ouvir sua respiração. Outro som o incomoda, como se algo se arrastasse de dentro do ralo. Algo como grunhidos e gemidos. E o cheiro insuportável que impreguina o ambiente. Forte. Chegando a arder o nariz. Algo como amônia misturado com éter e enxofre. Continua imóvel, mas sente a presença de alguém a seu lado. Sente uma respiração ofegante a seu lado. Passos leves. Ventos. Ele sente um calor, está transpirando frio. Sua boca está seca. O medo toma conta dele. O sono se foi e deu lugar ao pavor. Nenhuma lua. Nada. Escuridão. Sua cabeça começa a girar. De repente seu cotovelo escapa de cima dos joelhos. A luz volta. Os barulhos se vão. O mau cheiro deixa o ar. Sono. Apenas pegou no sono.
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contos para ler antes de dormir Nada de passos, respiraçþes ou odores. Apenas uns minutos de sono. Bem... Pelo menos foi o que ele pensou quando voltou para a cama, sem perceber que a tampa do ralo estava fora de lugar. Melhor pensar assim...
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O último conto Ele já estava cansado de todos os meses viver a mesma situação crí tica. Trabalhava muito mas o dinheiro nunca era suficiente para pagar todas as contas. Sempre era aquela preocupação de como faria para saldar as dívidas. Sua esposa nunca lhe exigia nada, mas ele tinha plena consciência da situação precária em que vivia. Ele trabalha das 7 da manhã até 19, às vezes até 20 ou 21 horas da noite, naquela gráfica. Seu trabalho como impressor era desgastante, chegava em casa e mal tinha ânimo para tomar um banho e jantar. Estava quebrado. Cansado. E como distração escrevia crônicas, poemas e contos. As vezes publicava uma ou outra no jornal da cidade, mas nunca recebia por isso. Um certo dia, ele chegou ao limite de sua pobreza e viu com muita tristeza que nada havia para alimentar sua família. Nesse dia ele chorou muito, não porque não tinha dinheiro, não chorou por ele, mas pela sua esposa e filhos, pobres crianças inocentes. Ao se deitar, ao orar antes de dormir um sentimento de revolta o dominou, uma mistura de raiva e decepção. Sua revolta era com Deus, com os céus e nesse momento de raiva ele maldisse a tudo e ofereceu a única coisa que ele tinha em troca de riquezas. Ele não sabia exata mente o que estava dizendo e o que poderia acontecer em função disso. Toda ação tem uma reação, assim funciona tudo aqui na nossa vida. Se deitou e dormiu. Um sono perturbado. Pesadelos. Com imagens que o assustaram. Acordou cansado, assustado e com medo. Se lembrou da sua revol ta e das palavras que disse antes de se deitar.
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contos para ler antes de dormir Foi para o trabalho. O dia foi puxado e demorou a passar. Naquele dia não havia trabalho extra a fazer. As 18 horas todos deixaram a gráfica e foram para casa. O caminho até sua casa demorava bem uns 40 minutos que ele percorria a pé todos os dias. Ele se arrastou por ele até que em determinado ponto um carro negro parou a seu lado. Ele continuou caminhando quando ouviu uma voz rouca o chamar pelo nome completo. Ele então se virou e viu que a voz estranha vinha de um homem que ele nunca havia visto. O tal homem estava no banco de trás, usava um terno preto e ócu los escuros, era branco, e fez sinal para que se aproximasse abrindo a porta. Um arrepio passou pelo seu corpo todo. Sentiu um frio percorrer sua espinha. Lembrou-se da sua revolta e suas palavras vieram novamente à sua mente. Como que se estivesse hipnotizado entrou no carro e sentou-se ao lado do tal homem que sorriu de modo estranho e tirou os óculos. Seus olhos eram vermelhos e penetrantes. - Então está mesmo disposto a trocar sua alma pela riqueza meu amigo? Faria mesmo isso? Para isso estou aqui. Quando o homem vestido de negro falou essas palavras, aquele sujeito miserável saiu de seu transe hipnótico. Sentia medo ainda, mas uma visão veio em sua mente, sua esposa e filhos famintos. Sem -di nheiro todo mês. - Sim, estou disposto a isso. O homem de negro soltou uma gargalhada sinistra e ficou imedia tamente sério novamente. - Pois bem, sou editor de livros e sei que você escreve crônicas, -poe mas e outras coisas. A partir de hoje escreverá contos de terror. Vamos publicar seus livros e você ficará rico, muito rico. Após falar isso pegou uma pasta e tirou dela alguns papéis. O con trato, o pacto, o acordo. Passou a ele a folha e um estilete. Ele sabia o que devia fazer. E fez. - Por 25 anos escreverá e será muito famoso no meio literário, seus livros serão lidos pelo mundo todo, mas daqui a 25 anos escreverá seu último conto e o nosso pacto será cumprido. O homem de negro retirou da carteira uma boa quantia em dinhei ro e o entregou. Um adiantamento. A porta do carro então se abriu e ele se despediu com um aperto de mão gelado. O carro partiu e ele ficou ali parado pensando na
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paulo sutto cena toda. Riu um sorriso amarelo cheio de medo e dor. Mas já es tava feito. Ele chegou em casa e relatou que um livreiro havia descoberto seu talento e que a vida deles mudaria. E realmente mudou. A miséria aca bou. Seus livros vendiam muito. Ele saiu da obscuridade para a fama. E o tempo foi passando. Dias, meses e anos. Muito rápido. Toda noite ele escrevia um, dois, três contos de terror. Era como se alguém ditasse para ele. Quando ele lia os livros depois de publicados se assustava com as maldades que escrevia. Ele sabia que não era exatamente escrito por suas mãos e que sua mente não criara aqueles textos, mas os leitores devoravam. Compravam livros e ele se enriquecia dia após dia. 25 anos se passaram. Em uma noite fria quando ele caminhava durante a noite, o mesmo carro negro parou a seu lado. - Entre. Ele ouviu e reconheceu aquela voz rouca e tétrica. Ele sabia para que era aquele encontro. Mas combinado não é caro nem barato. Ele tinha de cumprir o pacto. Entrou e sentou encarando o homem de negro, que estava exata mente como há 25 anos atrás. Ele havia envelhecido como é natural ao ser humano. Mas o homem de negro não. - Pois bem, é chegado o tempo, mais alguns meses e volto para receber minha parte do pacto. Mas antes você terá um trabalho a cumprir. Deverá escrever o último conto. Nele você relatará desde sua vida miserável, passando pela noite em que você se revoltou e até nosso encontro. Tenho certeza que conseguirá escrever cada linha, pois é sua vida. Após isso seu último livro de coletâneas será lançado, eu te levarei e sua família permanecerá bem amparada pelo resto dos dias. Assim foi feito, ele se sentou certa noite e transcreveu tudo o que ocorreu na sua vida, cada detalhe, seus medos, suas dores, seus sentimentos mais sinistros. Explicou que aquele era seu último conto e que o terror maior de sua vida estava prestes a acontecer. Ao amanhecer sua esposa o encontrou pendurado em uma grossa madeira do teto. Seus olhos arregalados e sua língua pendia enorme e roxa de sua boca.
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contos para ler antes de dormir Sobre a mesa o manuscrito do último conto com um bilhete -pe dindo para que sua esposa procurasse a editora para que pudesse ser publicado juntamente com os outros manuscritos que fechavam seu último livro. Aquele era seu último conto. Seu último livro. O pacto foi cobrado. Até hoje seus livros são publicados. E vendem muito. De repente você já tenha lido um deles.
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Encruzilhada Quase meia noite. A estrada era bem escura e as árvores altas produziam sombras que causavam medo. Ainda mais sendo noite de lua cheia. Íamos caminhando a passos largos, eu, minhas irmãs menores, meus pais e meus avós. Era costume de família visitar os sítios vizinhos nos começos de- noi te para conversar, comer bolinhos e beber uma boa cachaça contando histórias e rindo. Mas naquele dia se empolgaram e adentram até umas horas mais altas. Quando notaram já era bem tarde, e lógico que nós, crianças, nem notamos isso, envolvidos em nossas brincadeiras. Se despediram e saímos estrada afora. Fomos caminhando e meus pais e meu avós conversando. De repente me arrepiei ao ouvir sons estranhos. Vozes, o bater de cascos de cavalos, e outros sons se aproximando. Olhei para os outros e notei que também estavam assustados. Paramos ao perceber que estávamos bem em uma encruzilhada e que provavelmente esses cavalos iriam atravessar na nossa frente. Mas para nossa surpresa eles também ficaram parados, apesar de não poder vê-los por causa das árvores que haviam ali. Ficamos ali parados por alguns segundos e nada de algo se apro ximar. Foi quando meu avô quebrou o silêncio e disse: - Eles não vão atravessar na nossa frente e se nós atravessarmos na frente deles seremos pisoteados. Não querem que os vejamos. Vamos dar as mãos e nos virarmos. Não tenham medo e não olhem para trás.
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contos para ler antes de dormir Não sei o que era mais difícil, não ter medo ou não olhar para trás. Obedecemos meu avô e nos viramos. Passo a passo, fomos ouvindo os cavalos se aproximando e atraves sando a encruzilhada. Pareciam ser muitos e junto podia se ouvir outros sons. Vozes numa língua estranha, sons de espadas, correntes se arrastando e um som que me assustou mais foi o barulho de asas, mas não asas normais, mas pelo barulho pesado pareciam ser enormes. Sentíamos até a respiração ofegante dos cavalos, como se estivessem muito próximos de nós. Até o cheiro da poeira dava pra sentir. Depois de alguns minutos que pareceram horas intermináveis o som foi diminuindo e sentimos que haviam todos passado. Meu avô nos disse: - Pronto, podemos ir. Nos viramos e seguimos pela estrada. Nunca nenhum de nós falou ou fez perguntas sobre o assunto. Meu avô faleceu um bom tempo depois do ocorrido. Mas duas coisas nunca consegui entender: Como meu avô sabia como devíamos agir e o que exatamente aconteceu naquele dia. Acho que nunca vou saber...
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Noite de chuva Há quase uma semana chovia sem parar naquele mês de Janeiro. Na verdade nessa época do ano é perfeitamente normal esse tipo de coisa. Mas naquela noite estava sendo pior, a chuva estava bem pesada e constante. Trovões e relâmpagos causavam medo. As paredes pareciam tre mer. Fui para a janela da sala e fiquei a olhar para fora. Era assustador. A chuva forte, o vento e os relâmpagos. As árvores pareciam vultos sinistros a correrem atrás de alguma coisa. Até aquele dia eu não sentia medo de chuva, pelo contrário, achava até graça. Mas aquele dia tudo mudou. De repente minha avó desceu as escadas apressada com uma lamparina na mão. E me pediu para sair de perto da janela e parar de olhar para fora, pois eu poderia ver o que não queria. Eu sempre passava alguns dias de minhas férias escolares com minha avó. Levei um susto com o modo que ela me falou. E ela ainda me disse que a energia podia acabar a qualquer mo mento, por isso estava com a lamparina. Mal ela terminou a frase e um trovão seguido de um raio cortou o céu trazendo consigo uma total escuridão. A energia se fora. Ainda bem que tínhamos a lamparina. Mas não sei o porque, mas minha avó não acendeu. E quando percebi estava olhando para fora. Não se via nada, só se ouvia o barulho do vento quase arrancando as árvores.
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contos para ler antes de dormir Cheguei bem perto do vidro da janela e o que eu vi, me deixou com as pernas moles. Eu me vi lá fora todo encharcado e com uma expressão de pavor estampado no rosto. E no mesmo instante em que me via lá fora, era como se eu estives se mesmo lá fora e me olhando. E do lado de fora eu via a casa de minha avó, mas completamente diferente da que eu conhecia. Era sombria, quase negra e bem maior do que o normal. Acima da casa vi umas sombras que formavam um vulto sinistro. Para meu desespero esse vulto na verdade era minha avó, mas com semelhanças de uma bruxa, uma cara de mau, seus braços enormes pareciam querer abraçar a casa. Seus olhos vermelhos parecendo brasas incandescentes fitavam o interior da casa. Mais precisamente para onde eu me encontrava. E eu conseguia me ver dentro da casa olhando para fora e com os olhos arregalados e com muito medo estampado no rosto. Estava pálido. Como se estivesse vendo um fantasma. Me vi pegando o celular e ligando para meu pai. Pai venha me buscar. De repente outro trovão faz as paredes tremerem. E como se estivesse voltando de um transe, fui tomado de um susto. Estava em pé olhando para fora mas só havia escuridão e o barulho do vento forte. Me virei e vi minha avó acendendo a lamparina. Ela fixou os olhos em mim e me arrepiei inteiro. Senti um gelo no estômago. Algumas horas depois a energia voltou e meu pai apareceu para me buscar. Não me lembro de tê-lo chamado, e nem ele recebeu telefonema, mas sentiu que devia me buscar. Fui para casa naquela noite. Minha avó faleceu alguns dias depois, exatamente em uma noite chuvosa. Nunca mais voltei àquela casa. Mas as lembranças ainda me assustam nas noites de chuva forte.
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Sugadores de almas Essa é uma narração real e que muitas pessoas podem já ter passa do por experiências parecidas. Quando eu era criança sempre ouvia minha mãe falar sobre uma tal “pisadeira”, que era uma mulher que vivia sobre os telhados das casas e que quando pessoas comiam e iam dormir de estômago cheio ela descia e pisava ou se sentava sobre o estômago da pessoa deixando-a num estado de letargia, ela sentia e ouvia tudo o que se passava ao seu redor mas não conseguia se mover, como se estivesse presa ao corpo. Pois bem, o tempo foi passando, me tornei adulto e para minha surpresa e pavor, comecei a passar por essas experiências. Se alguém já passou por isso saberá do que estou falando. O estranho é que se percebe quando vai acontecer mas não dá pra se evitar. Na verdade cria-se uma certa expectativa e ansiedade para que aconteça. Geralmente quando se está prestes a dormir deitado de bruços. Os olhos ficam pesados de um modo muito rápido e você sabe que não é sono. Você sente e ouve tudo com mais percepção. É uma sensação de desespero, uma necessidade de gritar, de fugir de algo que se aproxima mas que você não sabe o que é. Na verdade essa sensação dura segundos mas que parecem horas. A impressão que se tem é de estar trancado no seu corpo. Não consigo dizer quantas vezes já passei por isso mas relatarei a última experiência que tive. Nas noites de muito calor dormimos com a janela aberta e a cabeceira de minha cama fica bem embaixo dela.
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contos para ler antes de dormir Me deitei como de costume, olhando para o teto e não demorou, senti que a sensação era uma certeza. A imobilidade, o pavor, o de sespero. Tive a plena certeza de que algo lá fora tentava me puxar, ou puxar minha alma. Era como se algo me sugasse. A voz não saia. Tentava me mover mas sem resultado. Tentava emitir sons com a boca para que alguém ouvisse e me salvasse. O medo sempre toma conta de nosso ser nesses momentos. Por fim, alguém me acordou de meu desespero. Alívio. Essa é a sensação que se sente depois. Mas o medo, o desespero e pânico persiste até o amanhecer. E você sabe que eles estão lá. Eles vão voltar. Não sei se é uma “pisadeira” ou se são sugadores de alma.
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Macumba Fim de noite. O dia havia sido péssimo. Não que algum dia de sua vida tenha sido bom de uns tempos para cá. Tudo parecia estar errado. Perdera o emprego. Sua esposa o traíra e o deixara. Se tivesse filhos com certeza teriam aprontado alguma para ele. Acabou se entregando à bebida para afogar as mágoas. E nesse dia não era diferente. Sim, estava bêbado. Na verdade nem se lembrava mais como era estar sóbrio. Saiu do boteco e foi para casa. Morava de favor em um barraco que ficava bem fora do centro da cidade. Quase ninguém circulando pelas ruas. Só ele e as sombras acompanhando-o. Suas pernas teimavam em não obedecer ao resto co corpo, mas ainda assim ele seguia seu caminho. De repente numa encruzilhada deparou com uma cena que não era incomum por ali. Um trabalho de macumba muito bem preparado. Frango assado com farofa, ainda quentinho, vinhos, cachaça e outras iguarias, tudo iluminado por velas coloridas. Ele então fez o que nunca tinha feito, sentou-se defronte ao ban quete e se esbaldou, comeu o frango quase todo, e ingeriu meia garrafa de vinho, e pra finalizar tomou bons goles da cachaça, ficando assim num estado de embriagues ainda pior. Sua cabeça ficou pesada, sentiu o estômago e a cabeça girando em sentido contrário e não mais aguentando o peso do corpo, deitou-se ali mesmo no chão. Mas para sua surpresa era como se o chão sumisse.
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contos para ler antes de dormir Sentiu-se caindo sem parar. Numa escuridão total. A escuridão vai sumindo aos poucos e ele se sente colado ao chão. Um sentimento de medo e terror se apodera dele. Ele nota um vulto se aproximando, fazendo um som assustador, como se rosnasse. Chegou bem perto e ele percebe que seus olhos são vermelhos, de estatura enorme, uma boca cheia de dentes e uma língua repartida como se fosse uma cobra. Tenta se levantar, mas não consegue, está como que fundido ao chão. Tenta gritar mas a voz não sai. O vulto ergue as mãos e deixa à mostra garras enormes. E de sua boca descomunal saí uma voz assustadora: - Só quero o que é meu. Nada mais. - Era seu? Algo lá era seu? Gritou apontando para o despacho. Nãoooooooooo, nãoooooooo, nada era seu ali. - E quero de volta. Quando falou isso, cravou suas garras na barriga causando enorme desespero e dor quase insuportável. O homem viu a criatura tirar de seu estômago, os restos do frango e um líquido que ele deduziu ser o vinho e cachaça. Ele gritava, mas a voz não saia. Tentava se mexer mas era impossível. A criatura ali, rasgando seu corpo, ele sentia o sangue e suas entra nhas se derramando pelo chão. Agora a criatura ria, um riso do mal com dentes enormes e olhos vermelhos. - Aprendeu agora? Não quero seu corpo nojento. - É meu, tudo meu. Ele olhou para o despacho e estava tudo lá. Intacto. O frango, o vinho e a cachaça. Seus olhos ficaram pesados e ele não viu mais nada. Acordou numa cama de hospital dois dias depois. Não demorou para aparecer um enfermeiro e ele questionou: - Como vim parar aqui? O que houve? O enfermeiro olhou bem para ele e disse: - Bem, na verdade era o que gostaríamos de perguntar à você. - O que houve? Só o que sabemos é que te encontram ao lado de um despacho desacordado e com a barriga aberta. Aparentemente algum animal o atacou enquanto dormia. Ele se arrepiou todo e disse ao enfermeiro:
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paulo sutto - Na verdade não sei o que houve, só me lembro de algumas coisas, mas quero esquecer e mesmo que eu conte a você ou a outra pessoa, ninguém acreditaria. O enfermeiro deu de ombros e saiu. - Na verdade eu nem sou enfermeiro, só passei por aqui para pegar o que é meu. Eu só quero o que é meu. Um arrepio misturado com terror tomou conta do corpo daquele paciente deitado naquele leito de hospital. E o “enfermeiro” saiu.
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A escadaria Bem, vou descrever o cenário antes de contar a história. Em minha cidade existem muitas partes altas e baixas, e em deter minado ponto existe um parque na parte bem alta e para se chegar lá faz se necessário o uso de uma escadaria que deve dar pelo menos uns 30 metros. Contam que onde hoje é o parque há muito tempo atrás era um cemitério. A escada é toda iluminada durante a noite não oferecendo perigo. Pois bem, certa noite precisei buscar minha filha que estava fazendo um determinado curso e para encurtar um pouco a caminhada resolvi subir pela tal escada. Chovia. Uma chuva fina, mas chovia. Comecei a subir os degraus e quando estava mais ou menos no meio do percurso comecei ver vultos subindo e descendo ao meu lado. Eram muitas pessoas, uns vestidos de branco subiam e outros vestidos de negro estavam descendo. Usavam um capuz, o que não me deixava ver seus rostos. O mais estranho é que perdi a noção de tempo e espaço. Hora eu parecia subir, outras descer. A escadaria se tornou muito iluminada como se fosse meio dia. Parecendo mais brilhante quando se olhava para o topo dela e uma penumbra sem fim quando se olhava para baixo. E eu caminhava e caminhava e parecia não ter mais fim. Comecei a entrar em desespero mas continuei a subir. Ou descer. Aos poucos os vultos foram diminuindo até que apenas eu conti nuei na escadaria. Parecia uma eternidade o tempo que fiquei subindo e descendo.
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paulo sutto Minha preocupação era com o horário que eu tinha de pegar minha filha no curso. Já devia ter passado muito tempo do final do curso e eu estava muito atrasado. Enfim o último degrau. Alivio. Paz. Me apressei o mais que pude até chegar onde era ministrado o curso. Cheguei lá e não havia mais ninguém pra fora. Me senti frustrado. Mas para minha surpresa vi as pessoas começarem a sair. Cheguei até um pouco adiantado. Minha filha me olhou e me perguntou se eu estava bem. Respondi que sim. Saímos e fomos caminhando. Mas preferi o caminho mais longo. O caminho que não passava pelo meio do parque e muito menos pela escadaria.
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Amarelinha Naquele fim de tarde, já quase noite, tudo parecia tranquilo -na quela pequena cidadezinha encravada entre as montanhas no interior. As pessoas sentadas nas cadeiras, nas calçadas conversando entre vizinhos. O cheiro bom da comida caseira saindo pelas chaminés. Bons tempos onde as preocupações com problemas de cidade grande não existiam e as pessoas não tinham medo de ficarem nas ruas, mesmo com a iluminação suave e por vezes bem fraquinha produzida pela lua. Mas naquele dia, ou melhor, naquele começo de noite a lua já esta va aparecendo e parecia que iluminaria muito aquela rua. Mas nem tudo é como esperamos que seja. E na rua de terra batida, os meninos jogavam bola ou corriam com seus carrinhos de rolimã, disputando corridas a alta velocidade, bem, pelo menos para ele era. As meninas? Sim haviam meninas naquela rua e brincavam anima das também. Bonecas, pulavam corda, passa anel e amarelinha. Na verdade algumas mães não gostavam dessa brincadeira, talvez por terem em suas extremidades as palavras céu e inferno. Mas elas, as meninas gostavam e as mães acabavam por deixar com que todas elas brincassem. E lá estavam elas na maior animação. Pulando, jogando a pedrinha e avançando rumo ao céu ou... ao inferno. Eram todas quase que da mesma idade. Loiras, ruivas, morenas, enfim eram todas belas meninas. A lua já estava alta, mas como era verão, as pessoas continuavam a conversar. E as crianças continuavam a brincar.
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paulo sutto De repente um grito rasga o céu estrelado fazendo com que todas as mães corram para onde as meninas pulavam amarelinha. Marie, a mais loirinha da turma, estava petrificada olhando para o chão. Sua expressão era de pavor, de desespero. A pedrinha que ela jogara estava bem no meio do quadrado riscado no final do “tabuleiro” desenhado no chão de terra batida. Inferno é o que indica a palavra. Segundo o jogo ela devia pular para o inferno e perder o jogo. Todas muitas vezes já caíram nesse “inferno” e saíram do jogo. Mas Marie está ali, parada, olhos arregalados. Chorando, tremendo e com medo. Um medo que ninguém havia visto até agora numa inocente brin cadeira de amarelinha. A mãe dela a abraça e a consola, tentando saber o que houve. Ela não diz nada. Vai para a casa com a mãe. As outras mães voltam para suas conversas e as meninas depois de alguns minutos voltam a brincar animadamente. Jogando a pedrinha e pulando para onde ela indica, umas vão para o céu, outras para o inferno. Risos, conversas e o cheiro bom de comida no ar. Verena está na sua vez, vai jogando e pulando e nem se dá conta de que está indo muito longe e em direção ao inferno. As meninas ficam ali paradas vendo os quadrados com números irem se multiplicando e Verena se afastando cada vez mais. Algo está errado, a brincadeira não é assim. Não. Verena se volta e olha para as meninas. Sorridente e joga a pedra, mais uma vez e mais outra. Ela está longe. Bem longe. Inferno. Ele está lá. E ela joga a pedra bem no centro dele. Um buraco se abre no chão e as meninas percebem que de dentro dele sobe um vapor. Verena olha de novo para as meninas, mas dessa vez não está mais sorrindo. Seu rosto está apavorado, mas mesmo assim ela salta para o buraco aberto no chão. Inferno. Todas as meninas entram em total desespero, gritando e chorando. Do buraco aberto no chão sobe um vapor e gritos podem ser ou vidos.
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contos para ler antes de dormir Gritos de Verena e muitas outras meninas que foram para o inferno. Quando as mães chegam ao local, o desenho feito no chão já re cuou, voltando ao normal, o buraco não existe mais no chão. As meninas ainda então em choque e nem conseguem explicar. Verena nunca mais apareceu. E as meninas nunca mais brincaram de amarelinha. Mas o desenho ainda continua lá. Quase apagado no chão de terra batida. Há quem diga que já viu o inferno se abrir outras vezes e soltar seu vapor e os gritos das meninas. Mas não se sabe se realmente viram isso mesmo.
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Pecadores Minha vida estava realmente no fundo do poço quando tudo isso aconteceu. Estava envolvido com drogas pesadas, morando pratica mente nas ruas junto a pessoas da pior espécie. Havia me afastado de tudo e todos. Para uma pessoa que foi criada em um lar evangélico era o fim, me sentia o pior dos pecadores. Sabia que meu fim estava perto. Chorava muito e estava entrando em depressão. Pensamentos de suicídio vagavam em minha mente o tempo todo. Eu realmente queria morrer. Era só no que eu pensava. Mas tudo mudou um dia. Ao acordar bem de madrugada, ainda meio dormindo vi uns vultos negros andando pela rua e colando car tazes nas paredes. Eram homens altos e vestiam uma capas negras com capuz, sendo impossível ver-lhes o rosto. A princípio achei que fosse apenas minha imaginação ou que estivesse sonhando. Sei lá. Continuei ali, deitado, enrolado em meus cobertores velhos e po dres. Acabei cochilando e por fim acordei de vez. E pensei no sonho que tive com aquelas estranhas criaturas de capas pretas, no sonho uma delas se aproximou de mim e me chamou de pecador imundo. E tirando o capuz me deixou ver seu rosto, na verdade não seu rosto, mas uma máscara muito assustadora que me fez encolher de medo e me disse: - És um pecador imundo. Mas nós podemos expurgar os pecados de sua alma. Podemos te libertar, podemos te trazer de volta à vida. O endereço está no cartaz. E apontou para a parece onde havia muitos deles colado.
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contos para ler antes de dormir Ele se virou e saiu. E acordei apavorado. Senti um alívio ao perceber que era só um sonho, mas quando olhei para a parede do outro lado da rua, senti um frio subir pela minha espinha me arrepiando como se estivesse sido pego por uma rajada de vento gelado. Os cartazes estavam todos lá, colados como no sonho. Muitos. Lembrei-me da frase daquela criatura mascarada do sonho: O -en dereço está no cartaz. Eu não sabia se fora um sonho ou se havia acontecido, mas sabia de uma coisa, o endereço estava no cartaz e eu precisava ir até lá. Era minha última chance. Senti medo do que me esperava, mas me levantei e me dirigi até o outro lado da rua onde estavam os cartazes. Notei que os cartazes foram colados somente no trecho da rua em frente de onde eu dormia, senti que era uma mensagem exclusiva para mim, não sabia de quem e nem porque mas era para mim. Arranquei um dos cartazes e li o endereço. Eu conhecia aquele endereço. No cartaz indicava o horário que deveria comparecer: 21:00 h. Eu tinha o dia todo para perambular e pensar em tudo aquilo. Passei o dia todo ansioso e às 20:00 h eu estava em frente ao local indicado. Era um casa pequena, antiga e aparentemente abandonada. Podia se notar apenas uma luz fraca iluminando seu interior. Estacionado em sua frente havia 3 automóveis de luxo e negros. Sinistro. Não vi movimentação alguma, ninguém chegava ou saia. Fiquei ali parado perto do portão enferrujado pelo tempo. 20:50 h. A porta da casa se abriu e uma pessoa encapuzada saiu e me chamou pelo nome, como se me conhecesse e já me esperasse. Fi quei ali parado por alguns segundos pensando em como me conhecia. Ele me chamou novamente e como se eu estivesse hipnotizado comecei a caminhar até onde ele estava. Subi os degraus que levavam até a porta onde ele estava. Ele estendeu o braço e apertou minha mão de uma maneira estranha. Sua mão era fria, quase gelada. Não consegui ver seu rosto. Pediu para que o seguisse. Para meu espanto a casa que parecia pequena pelo lado de fora, era enorme quando se entrava nela. Me vi em um grande salão totalmente vazio apenas com uma grande mesa no centro. E um móvel que parecia um púlpito de igrejas evangélicas que eu frequentava quando criança junto com meus pais, e que acabei aban donando após a morte deles.
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paulo sutto Quando percebi notei que o salão encontrava-se agora repleto de pessoas, todas com o mesmo traje negro e os capuzes cobrindo-lhes o rosto. E no púlpito, um homem que parecia ser o líder do grupo, sua vesti menta era diferente de todas. Era toda vermelha e ele segura algo que parecia um cetro e não usava o capuz, mas sim uma máscara assustadora. Não sei como descrever mas havia chifres e era de uma cor que parecia chumbo. Esse líder falava algo em uma língua que eu não conhecia e sua voz era gutural, rouca e parecia entrar dentro de meu cérebro. Fiquei ali parado olhando fixamente para a criatura, quando de repente ele fixou seu olhar em mim. Dei 2 passos para trás quando senti que me seguravam pelos braços e o líder gritou me olhando: - Pecador imundo, sabíamos que viria. Quer se ver livre dos pecados? Conhecemos você, cada pecado seu, cada erro, conhecemos sua mente, seus desejos... Podemos expurgar todo o mal de você. Esse é seu desejo? Silêncio total. Senti que todo os olhares estavam voltados para mim. Senti meu coração pulsando mais forte. Minha pressão arterial deve ter ido ao extremo. Achei que fosse ter alguma parada cardíaca. A palavra veio de dentro, parecia vindo do estômago. SIM. Esse é meu desejo. Quando eu disse isso, ele voltou a falar naquela língua estranha e todos repetiam. Me pegaram e me colocaram sobre a mesa que havia no centro do salão olhando para cima com os baços abertos, como se estivesse sendo crucificado. Ao olhar para cima, pude ver uma estátua no teto do salão. Era um cristo crucificado, porém estava de frente para a cruz e de costas para mim. Aquela imagem de deixou totalmente desconfortável, mais do que já estava. Eu não entendia o que estava acontecendo. Tive medo. As vozes agora aumentavam de volume e os homens tiravam os capuzes dei xando ver as máscaras que usavam. Tiraram também as capas deixando à mostra seus corpos marcados por cicatrizes de cortes profundos feitos há pouco tempo. O líder au mentava o volume de sua voz mas não chegava a ser um grito.
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contos para ler antes de dormir Prestando mais atenção pude notar que agora ela falava pausada mente os pecados que eu vinha cometendo há muito tempo em minha vida. Senti que estava amarrado àquela mesa. E para meu espanto pude ver que ganchos como grandes anzóis desciam do teto em minha di reção. Senti um líquido quente sendo despejado em minha boca. Era quente, viscoso e doce. Fui perdendo os sentidos. Minha visão ficando turva. As vozes martelando em minha cabeça. Meus pecados sendo repetidos. Uma fisgada. Depois outra. E mais outra. Eu vi cada gancho pe netrando em minha carne. Rasgando. O sangue escorrendo. E o líder repetindo: - Vamos expurgar todos seus pecados, pecador imundo. Senti que minha carne estava sendo destroçada. Mas a dor era boa. Meus pecados estavam sendo expurgados. A dor era boa. Minha cabeça começou a rodar. Até que não vi mais nada. Dormi e sonhei com meu corpo todo banhado em sangue. Não sei quanto tempo fiquei nesse transe. Horas ou dias talvez. Quando recobrei meus sentidos estava em um pequeno quarto, deitado em uma cama totalmente nu e ao lado, em uma cadeira, uma capa negra com capuz. De repente ouço batidas na porta. Me chamam pelo nome e pedem para que eu coloque a roupa pois é hora de buscarmos novos pecado res para salvá-los. Me sinto limpo e purificado. Vamos buscar novos pecadores. Passamos muito tempo analisando a vida deles. A propósito sabemos que você tem muitos pecados. Não acha que é hora de se livrar deles ????
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O mal que habita em mim Sábado, 4 de Fevereiro de 2012. De uns tempos para cá tenho me sentido assim, digamos estranho. Não sei exatamente como explicar mas é uma sensação estranha. Tentarei de modo claro e simples explicar, espero sinceramente que me entenda. Sempre fui uma pessoa religiosa e seguidora dos mandamentos- en sinados. Bem, pelo menos achava que era. Mas ultimamente tenho evitado o contato com pessoas. O motivo? Simplesmente tenho sentido o desejo de mal a elas. Você também já teve esses desejos? Empurrar velhas para o meio de ruas movimentadas? Estrangular crianças de colo que não param de chorar? Socar a cara de pessoas que não calam a boca dentro de ônibus ou metrô? Pois é isso que tenho sentido, mas numa intensidade bem grande, quase incontrolável. O mal que habita em mim. É um ódio sem motivo, é uma loucura descontrolada. Sinto que algo vive em mim. Um outro ser, um ser obscuro, um ser maligno. O mal que habita em mim. Sinto que não controlo minhas mãos ao escrever essas palavras... Preciso sair... volto logo.
Segunda, 6 de Fevereiro de 2012. Minha cabeça dói, lateja, me sinto péssimo. Não sei exatamente que horas são ou ao menos que dia é hoje.
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contos para ler antes de dormir Minha casa fechada está cheirando a mofo e comida azeda. Está escuro lá fora. Parece que fazem alguns minutos que estava aqui escrevendo algo sobre o mal que habita em mim. Não sei exatamente o que aconteceu enquanto eu dormia, mas receio estar em apuros. Ao olhar minhas mãos me assusto ao notar que estão sujas, parece sangue. É sangue. Tenho medo de saber o que houve, o que eu teria feito. Não sei. Só sei que estou me sentindo bem calmo. Em paz. Acho que vou tomar uma ducha gelada e sair um pouco. Após o banho gelado saio do banheiro e vou até a sala, sobre a mesa a bíblia aberta como se esperasse que eu a lesse. Um versículo marcado me chamou a atenção: “E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; mas não prevale ceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele”. Apocalipse 12:7-9 Ao abrir a porta para sair para a rua, levei um susto. Eu não estava mais em minha rua, em meu bairro ou em minha cidade. E o que quer que tenha acontecido ficou para trás. E novamente os mesmos sentimentos voltaram com mais força. O mal. O mal que habita em mim. Vou para a rua...
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A moradora Na primeira semana em que eu estava morando aqui nessa cida dezinha encravada no meio das montanhas, tudo correu muito bem. A casa que eu alugara era bem pequena e antiga. Na sua frente um jardim bem velho, antigo, com algumas plantas secas e uma pequena estátua bem ao centro. Na verdade aquela estátua me incomodava mais do que deveria. Era uma espécie de anjo, mas sua fisionomia era de maldade. Era uma criança com asas bem pequenas. E lógico, com aparência muito envelhecida. Evitava até olhar para tal objeto. E para ser sincero, não me lembro de tê-la visto lá quando visitei a casa pela primeira vez. Minha intenção ao me mudar para aquela cidade era primeiramen te me reencontrar após alguns infortúnios pelos quais estava passando. Meu filho havia se suicidado e minha esposa me culpava por isso. A situação ficou de tal maneira insustentável que ela me deixou. Não tive mais notícias dela, simplesmente não a encontrei mais numa tarde quando voltei para casa. Entrei em crise, não estava mais conseguindo trabalhar e nada mais. Comecei a passar os dias e as noites pelas ruas, perdi o sentido de tudo. Acabei tomando a decisão de mudar de vida, mudar de cidade, ir para onde nada me lembrasse minha vida passada. Cá estou eu. Me levando pela manhã sem nada para fazer, vou dar uma volta pelas ruas, compro algo para comer. Sento um pouco na praça e converso com pessoas. Nada de interessante.
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contos para ler antes de dormir À noite volto para casa e passo as horas lendo e escrevendo em meu diário. Certa tarde ao voltar para casa, entrar e me virar para fechar o portão, me deparei com algo estranho. Do outro lado da rua bem em frente à minha casa, vi uma menina sentada na calçada, devia ter uns 8 anos e me olhava fixamente. Tinha um olhar melancólico. Triste. E usava uma roupa bem antiga, me fa zendo lembrar antigas fotografias. Isso me incomodou a ponto de sentir um certo arrepio. Dei um sorriso e fiz um aceno. Ela continuou ali, sem expressar nenhuma reação. Quando me distrai fechando o portão, ao voltar meu olhar para a menina, não a vi mais. Simplesmente desapareceu. Outras vezes vivi a mesma experiência. Sempre no começo da -noi te. E escrevi no meu diário todas as sensações dessas experiências. Mas a noite passada foi diferente. Eu chegava em casa, abri o -por tão e quando me virei, ela estava bem de frente ao portão. Em pé, e me olhava com um olhar perdido no tempo. Nunca a tinha visto tão de perto. E para meu espanto, notei a semelhança entre ela e a estátua no meio do jardim que me dava tanto medo. Mas sua fisionomia não tinha aquela aparência de maldade, e nem de bondade. Era uma fisionomia neutra. Notei também que ela era de uma palidez que eu nunca tinha visto em outra pessoa. Ela me disse oi. Demorei a responder. Perdi a voz. Estava realmente apavorado. Depois de um tempo respondi e perguntei se ela morava por perto. Apontando para minha casa, ela respondeu: Sim, eu moro ali. Fiquei confuso. Disse a ela que eu morava ali. A menina então, baixou a cabeça e pude perceber que estava chorando. Fiquei sem saber o que fazer. Minha imaginação voou. E a certeza de que aquela menina não estava viva, tomou posse de meu ser. A chamei e ela olhou para mim, mas agora não era mais a menina, mas sim uma criatura em decomposição. Um cadáver deixando expos tos seus ossos, sua carne podre a se decompor. Dei vários passos para trás, quase caí. Ela olhou novamente para o chão por alguns segundos e depois me olhou de novo. Era novamente a garota.
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paulo sutto E agora tinha um sorriso nos lábios, um tanto assustador. Posso entrar? Ela perguntou me olhando nos olhos. Automaticamente respondi sim. Ela passou pelo portão fechado e por mim como se não existísse mos. Me virei e a vi caminhando para o quintal da casa até desaparecer com uma névoa. Nunca mais a vi. Sempre olho para a calçada quando chego em casa. Mas nunca mais. Algum tempo depois fiquei sabendo que há muitos anos atrás, naquela casa, um crime havia acontecido. Uma menina havia sido assassinada pelos próprios pais, que aban donaram o corpo da filha no quintal e nunca mais foram vistos. E nem o motivo do crime foi descoberto. Ela sempre iria morar lá naquela casa. Apesar de nunca mais a ter visto, comecei a ter pesadelos e acabei me mudando de cidade. E quando eu estava saindo para ir embora, notei que a estátua não estava mais no jardim. Fechei o portão e olhei para o quintal. Pela última vez eu a vi. Ela parecia um pouco mais velha, me acenou e deu um sorriso. Percebi que ela estava bem. Ela morava lá. Somente ela.
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A casa dos horrores Estreia hoje. A Casa dos horrores. Esse anúncio levou muitos jovens e adultos a saírem de casa naque la sexta feira com céu escuro e carregado de nuvens pesadas. A fila formou-se rapidamente em frente ao guichê onde vendiam os ingressos. A cidade era pequena e poucas eram as oportunidades de diver são oferecida, então era preciso aproveitar e terror sempre atraiu o ser humano. O espetáculo todo se passava em um casarão abandonado e com fama de assombrado. Eles montavam toda uma parafernália, com espelhos, atores ma quiados e devidamente ensaiados para provocar o medo e arrancar gritos de terror dos que se arriscavam a entrar na Casa dos horrores. Do lado de fora, os que continuavam na fila podiam ouvir, vindo de dentro da casa, gritos desesperadores, apavorantes, que apesar de os deixarem com muito medo, os deixavam ainda mais com desejo de participar do show. Cada cômodo da casa era um susto, múmias, noivas ensanguen tadas, zumbis que vinham para cima dos que aparentassem estar com mais medo. Enfim, pessoas com problemas cardíacos eram aconselhados a não entrar. Entravam em grupos de cinco ou seis, normalmente nhecidos. co
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paulo sutto E quando saíam, com olhos arregalados, os comentários eram di versos, mas todos eram satisfatórios. Mas um dos cômodos era os mais comentado. O cômodo em que era feito um velório, com um caixão negro, rodeado por pessoas todas vestidas de negro e que choravam muito. O caixão estava lacrado, mas depois de alguns minutos que as pes soas entravam nessa sala, a porta se trancava e podia se ver através da pouca iluminação que algo começava a pingar do caixão. Sangue. Muito sangue. E as pessoas que velavam choram ainda mais, mas continuam imóveis, com cabeças baixas e olhando para o chão. Ouve-se então gemidos vindo de dentro da urna funerária, o que faz com que o grupo de visitantes se apavore e corram para a porta. Trancada. Os gemidos aumentam de intensidade e os choros também. Os visitantes começam a forçar a porta gritando desesperadamente. Quando olham para o tal caixão no centro da sala, gritam mais ainda. Mesmo com a tampa fechada, ele vêem um espectro saindo como uma névoa e desaparecendo ao encontrar o teto. Ao mesmo tempo que as pessoas de negro que velavam o caixão fixam seus olhares em direção ao visitantes. E para o desespero deles notam que não são mais seres vivos mas sim apenas caveiras. Apenas ossos. E que se desintegram imediatamente. Praticamente todos comentam sobre esse quarto quando saem da casa. Devido ao sucesso do show, permanecem abertos até mais da meia noite. Duas horas da madrugada, sai o último grupo e comentam sobre a sala do velório. Sucesso total. No final do expediente, os seguranças que ficaram todo o tempo observando a entrada e saída do público comentam com os artistas sobre a tal sala do velório que causou tanto pavor e desespero aos visitantes e parabenizam-os pelo novo cômodo montado na casa dos horrores. E mais horrorizados ficaram todos eles, quando o responsável por todo o espetáculo, meio sem saber do que eles estão falando os infor ma que nenhum quadro ou cenário novo foi acrescentado.
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contos para ler antes de dormir E que inclusive quando alugaram o casarão para o espetáculo, foram instruídos pelo dono do prédio que no casarão, havia um quarto no final do corredor, que deveria permanecer fechado, mas que nenhu ma outra informação nos seria dada. Essa era a condição para alugarmos o casarão. Todos se olharam sentindo um pavor subir pelos seus corpos. No dia seguinte anunciaram que estavam de partida da cidade. Mas a partir dessa noite, a sala do velório os tem acompanhado onde quer que eles se apresentem. Quem sabe um dia desses eles não apareçam na sua cidade, vai saber...
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Fechem as portas dos armários Quando eu era criança minha mãe sempre falava para mim e meus irmãos nunca deixarmos as portas dos armários abertas, porque nunca sabíamos o que podia sair de dentro deles. É óbvio que isso era uma maneira que ela criou para que nunca deixássemos nenhum armário com a porta aberta pela casa. E ela conseguiu seu intento, pois morríamos de medo do que pode ria sair de dentro de um armário. Pois bem, o tempo passou e nos tornamos adultos. Mas pelo menos para mim o medo não passou, sempre fecho todas as portas de armários, guarda roupas, enfim todas as portas que- en contro abertas, principalmente à noite. Me casei e levei essa mania comigo. Minha esposa acha uma louca mania sem fundamentos e para me contrariar ela adora abrir e deixar abertas as portas. Isso me deixa além de irritado, com muito medo, afinal, nunca sabemos o que pode sair de dentro de um armário, ainda mais à noite. Sendo assim todas as noites faço uma ronda pela casa verificando todos os armários da casa e fechando quando necessário. Certa noite, havíamos nos deitado, após minha ronda habitual. Estava um pouco frio e minha esposa se levantou e foi pegar um edredom no quarto ao lado. Quando ela voltou, perguntei se havia fechado a porta do armário. Ele resmungou algo que entendi como um sim. Ela se virou e dor mimos. Na madrugada, me levantei, fui até a cozinha, abri a geladeira e tomei um copo de água. Ao passar em frente a porta do quarto onde minha esposa havia pego o cobertor senti um calafrio ao notar a porta aberta do armário. Provavelmente ela não o fechara. Arrepiado entrei no quarto e fechei a tal porta.
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contos para ler antes de dormir Retornei para a cama e dormi. Algum tempo depois acordei apavorado ouvindo gritos desespera dos e barulhos vindos da cozinha. Num salto me levantei e saí para o corredor. Ao sair da porta do quarto, a cena que vi me deixou imóvel. Uma criatura desajeitada e feia arrastava minha esposa da cozinha para o quarto de onde ela tirou o cobertor e eu havia fechado a porta do armário. Ela se debatia e gritava desesperada. Fiquei ali parado, imóvel. De repente os olhos da criatura se cruzaram com os meus e tive um medo maior ainda. Seus olhos eram vermelhos, sua boca era nojenta e suja. Rapidamente ele a puxou para dentro do quarto. Quando consegui me mover era tarde demais, ao chegar à porta do quarto, só consegui ver os pés dela sumirem dentro do armário. E seus gritos ecoam dentro de minha mente até hoje. Provavelmente quando eu tranquei a porta, a criatura já havia saído e havia se misturado com as pessoas. Tenho medo de contar essa história e as pessoas me acharem - in sano. Passo horas em frente à essa porta, esperando que ele saia. Afinal, nunca sabemos o que pode sair de dentro de um armário?
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Túmulos abandonados Minha mãe sempre nos falava quando éramos crianças e íamos ao cemitério com ela que não devíamos colocar flores ou mesmo ficar olhando muito para túmulos esquecidos, pois as pessoas falecidas que ali jaziam, poderiam nos acompanhar para casa. Sempre tive medo disso, mas com o passar do tempo, percebi que isso era somente uma lenda. Bem, pelo menos até aquele domingo à tarde. Minha sanidade estava se esvaindo pelos meus dedos. Eu não esta va conseguindo manter uma vida equilibrada desde que minha esposa anunciou que ia me deixar. Eu não conseguia entender o porque, sendo que sempre procurei ser um bom esposo, bom pai e sempre cumpri com minha obrigações. Ela iria embora, isso era fato. Num domingo à tarde, saí totalmente sem rumo. Quando dei por mim estava andando por entre os túmulos de um cemitério que não conhecia e levava nas mãos um grande ramalhete de flores. Só me lembro de que o cemitério era muito grande, cheio de corre dores, tudo muito bem organizado. Eu estava ali andando a esmo. Quando percebo estou em um setor muito antigo do cemitério, onde os túmulos parecem ter sido abando nados há muitos anos e não são mais visitados. Noto assustado que estou em um setor de túmulos infantis, sinto um arrepio tomar conta de meu corpo. As datas nas lápides são muito antigas, do século passado. Nenhuma flor, nenhuma vela, nem sinal de que foi acesa alguma há muito tempo. Apenas solidão e melancolia. Não havia mais ninguém além de mim ali.
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contos para ler antes de dormir Estátuas de anjos infantis enfeitam alguns túmulos. Um deles me chama a atenção. Dois anjinhos barrocos sentados sobre o túmulos abraçados, cho rando. Chego mais perto e com certo esforço consigo ler a lápide. Um casal de irmãos. Falecidos no mesmo dia. Novamente senti meu corpo se arrepiar por inteiro. O que teria acontecido? Acidente? Alguma doença? Ou um possível crime de assassinato? Não tinha como saber. Os anjos sobre o túmulo pareciam me olhar com olhos de tristeza e dor. Depositei ali as flores e acenderia velas caso as tivesse comigo. Minha cabeça começou a rodar. Me senti zonzo. Tudo ao meu redor começou a girar. Não vi mais nada. Quando voltei ao meu estado normal estava em frente ao edifício onde moro e o episódio do cemitério era apenas uma vaga lembrança. Não sabia nem mesmo se havia estado lá. Meu apartamento parecia ter ficado muito maior depois que fiquei sozinho. Chegava a ser assustador o silêncio que ele mergulhava. Mas depois desse estranho domingo, algo começou a acontecer. Comecei a ouvir risos de crianças, conversas, passos correndo de um lado para outro. A princípio senti muito medo, achei que estivesse ficando louco, mas com o passar do tempo fui me acostumando, acabou virando rotina. Às vezes sentia até falta. O tempo foi passando, semanas, depois meses. A “companhia” das crianças me fez esquecer a separação, mas eu queria algo mais, eu queria ver as crianças. A primeira vez que as vi, estavam de costas para mim, tinham uma aparência meio transparente e usavam roupas de uma época muito remota. Os chamei mas não se viraram, ficaram ali parados, imóveis, e começaram a soluçar. Senti um forte cheiro de flores, misturado com cheiro de velas e de corredor de hospital. Fiquei ali parado vendo-os desaparecerem lenta mente. O cheiro de flores foi sumindo e no seu lugar um odor podre de morte infestou o ar. Era quase insuportável, me dava náuseas, o estômago se embru lhava.
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paulo sutto A partir desse dia não mais ouvi as crianças sorrirem. Apenas -al guns soluços de vez em quando. Comecei a sentir medo. Comecei a ter pesadelos e acordava deses perado. As crianças apareciam com mais frequência, mas sempre de costas e depois sumiam se misturando com o papel de parede. E sempre que isso acontecia o odor ficava no ar. Percebi então que no local onde eles apareciam sempre ficava uma mancha escura por alguns dias. A sensação de paz que sentia ao ouvir os risos deram lugar à uma sensação de medo. Sentia que elas estavam sempre ali, me observan do, como se quisessem algo. Eu nunca comentei sobre isso com ninguém, sabia que taxariam de louco e me levariam para algum hospício. Em uma madrugada fria e chuvosa acordei e para meu desespero lá estavam os dois, de frente para a parede oposta à minha cama. Pude ouvir que choravam. Chamei-os. Apesar do medo ter tomado conta de mim, eu sabia que eles iriam se virar e eu não sabia o que iria ver. E isso me assustava. Chamei-os novamente. O menino se virou primeiro. Se eu não estivesse sentado na cama, com certeza teria caído de costas, tão grande foi o susto e o medo que se apoderaram de mim. Ele ficou ali parado a me olhar. Logo a menina também se virou. Eu não queria acreditar no que meus olhos viam. Eles não tinham olhos, apenas as cavidades ensanguentadas de onde corria uma gosma escura. Suas roupas estavam banhadas em sangue fétido. Nas suas gargan tas se via um corte profundo. Ficaram ali me observando com seus olhos cegos. Suas mãos eram magras e brancas. Fechei os olhos na esperança de que quando os abrisse, aquela visão macabra houvesse desaparecido. Abri os olhos, estavam lá, só que agora mais pertos. Gritei, mas senti que nenhum som foi emitido. Senti meu corpo todo tremendo. Tive o maior medo de minha vida. De repente os dois começaram a rir. Riram muito. Eu não sabia o que fazer. Fechei os olhos novamente e comecei a sentir aquele cheiro horrível novamente, o cheiro de quando eles iam embora. Senti um alívio. Abri os olhos. Para meu desespero pude ver de onde vinha o mau cheiro.
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contos para ler antes de dormir Os dois estavam ali ainda, e a menina havia enfiado as mãos na barriga do menino e puxava suas vísceras espalhando pelo chão,- en quanto riam baixinho me olhando, agora com ódio nos olhos. - Quem são vocês? O que vocês querem? Continuaram me olhando com um sorriso no canto da boca. - Somos o mal. Somos seu pior pesadelo. Estávamos adormecidos e você nos trouxe para casa. Matamos nossos pais. Nossos avós e todas as pessoas da casa. Ninguém imaginava que duas crianças fariam isso. Até que um padre apareceu e viu em nós o demônio. E nos matou e nos enterrou. E lá ficamos até alguém nos resgatar. Eu não podia crer naquilo que ouvia. Mas a sensação que sentia me confirmava que era real. Não sei como, mas o demônio estava ali em minha casa, na forma de duas crianças. - Matariam de novo? Seriam gratos pelo resgate? Continuaram ali me olhando, mas algo começou a acontecer. O cheiro se desfez, suas roupas foram ficando limpas e seus olhos reapa receram se tornado azuis. Duas crianças lindas de 8 e 9 anos. Esboçando um sorriso meigo e inocente vieram mebra a çar. Dois dias depois minha ex-esposa e seu namorado foram assassi nados de modo misterioso e por algum criminoso perfeito, que não deixou pistas. Boas crianças.
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Gatos famintos Gatos sempre tiveram uma má fama, sempre foram ligados à bruxarias, maldades, enfim, considerados uns animais sinistros. Pois bem, eis que hoje, tive de sair bem cedo e para minha surpresa, em determinado ponto de uma rua, me deparo com vários gatos. Sim acho que nunca havia visto aquela quantidade de gatos reu nidos. É claro que tive de contá-los. Na verdade nem eram tantos, mas o número total eram sete, bem cabalístico e sinistro também. Eram gatos já adultos, na maioria de cores escuras, apenas uma gata de três cores se destacava entre eles. Ficaram me observando com olhares suspeitos como se eu tivesse visto eles fazendo algo errado. Pareciam tentar me fazer uma certa pressão para que eu tivesse medo. E conseguiram. Foram saindo um de cada canto e se reuniram todos na calçada, e ali ficaram a me olhar e alguns lambendo suas patas como se tivessem acabado de se alimentar. Continuei minha caminhada e os deixei ali, mas ainda os senti me observando enquanto eu seguia pela rua solitária. Quando eu estava já a uma boa distância ouvi algo que me deixou arrepiado. Um miado muito alto e estranho, parecia mais um grito, um grito desesperado. Olhei rapidamente para trás e não vi mais nenhum gato. Haviam voltado para suas alcovas ou sei lá de onde haviam saído. Os dias se passaram, acabei esquecendo esse incidente. Três dias depois, pego o jornal do bairro para ler e uma notícia me despertou a atenção: “Homem morto foi devorado por animais”
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contos para ler antes de dormir Ao ler a matéria, fiquei sabendo que o corpo de um homem havia sido encontrado morto atrás de um muro, e que seu corpo estava sen do devorado por animais. O endereço da ocorrência: a mesma rua onde eu encontrei com os 7gatos. Senti um frio na espinha. Mas nunca comentei com ninguém sobre meu encontro com os bichanos. Até passei naquela mesma rua outras vezes mas nunca mais os vi. E quanto ao homem encontrado morto, nunca foi descoberto se ele foi assassinado, ou se os animais o devoraram ainda vivo.
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Amigo imaginário Até meus 10 anos eu tive um amigo imaginário. O chamava de Hans, confiava muito nele, era mesmo meu melhor amigo, estava comigo em todos os momentos. Achava até que eu não precisava de mais ninguém para ser feliz. Porém um dia tudo mudou, cheguei em casa da escola e minha mãe estava chorando, me sentei ao lado dela, ela me abraçou e me disse que meu pai havia ido embora. Que não voltaria mais. Fiquei sem saber o que fazer, sem chão, eu nunca havia notado nada de diferente, para mim sempre me pareciam felizes. Fiquei ali chorando também sem saber o que fazer para ajudar minha mãe. Depois fui para meu quarto e Hans estava lá. Eu estava muito irritado e descarreguei tudo sobre ele, disse que a culpa era dele por não me deixar ver o que estava acontecendo com meus pais e que eu nunca mais queria vê-lo. Ele não disse nada, ficou ali por uns minutos de cabeça baixa, depois notei que estava chorando. Ele se virou de costas e ficou mais um tempo ali, chorando e emitindo sons estranhos. Tive medo. E mais medo ainda quando ele se virou para mim e pude ver que ele estava chorando sangue. E pela sua boca, nariz e ouvidos vertiam sangue. Ele olhou fixo para meus olhos. Seus olhos estavam vermelhos. Me perguntou se eu tinha certeza disso, de que não queria mais que ele voltasse. Eu afirmei que sim. Fechei os olhos e ele sumiu. Nunca mais o vi. E isso faz mais de 20 anos.
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contos para ler antes de dormir Hoje divido um apartamento com mais uns amigos da faculdade. Tudo ia bem até a semana passada. Meus companheiros começaram a reclamar que ouvem barulhos estranhos no apartamento e até vozes já ouviram. E como eu estudo e faço estágio, quase nem fico em casa. Uma tarde cheguei mais cedo e uma das amigas que divide o apar tamento estava sentada no corredor ao lado da porta com cara de assombrada e parecia ter chorado. Perguntei o que era e ela me disse: Ele está lá dentro. No seu quarto. Diz que é o Hans. Quase cai ao ouvir esse nome. Não podia ser. Não o Hans. Peguei a chave, abri a porta e entrei no apartamento. Um cheio horrível me recebeu. Fui até meu quarto. Era ele. Estava lá parado olhando para a parede. Hans. Chamei. Ele se virou devagar. O que vi era horrível. Sua roupa estava apodrecendo e seu rosto parecia estar se desfazendo. Da pele purulenta escorria pus e a carne estava exposta. Ele sorriu um sorriso que me deu muito medo. Apesar do medo perguntei o que ele queria. Ele se aproximou como se flutuasse de modo muito rápido e me disse que era minha culpa a situação em que ele estava vivendo. Pude sentir o cheiro de carne apodrecendo e o hálito horrível. Ele continuou dizendo que quando eu o mandei embora, eu o ma tei aos poucos. Ainda não era hora dele me deixar, a missão de todo amigo imagi nário vai até a idade de doze anos. Eu só tinha dez. E ele começou a morrer aos poucos. Era a regra. E ele não podia fazer nada. Ele me olhava com raiva, com ódio. Ele me disse que algumas vezes até tentou se aproximar de mim, mas não conseguiu. Começou a andar em círculos ao meu redor e pensei que ele fosse me matar. Eu não sabia o que fazer e perguntei se eu podia fazer algo para consertar meu erro. Ele riu uma risada estridente e assustadora. Não, não havia nada que eu pudesse fazer. A não ser conviver com um amigo imaginário apodreecendo e chei rando a carne podre e morta.
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paulo sutto Por quanto tempo? Ele não soube me dizer, mas eu sabia que seria por muito tempo. Só exigi uma condição. Que apenas eu o visse. A partir desse dia ele me acompanha, uma figura bizarra e desgraçada. Um ser em processo de putrefação. Apenas eu o vejo, mas as pessoas sentem o cheiro e por vezes me pegam conversando com Hans. Acham que estou ficando louco e às vezes nem mesmo eu sei se estou sã ou louco. Conviver com uma criatura dessa forma é algo medonho. Dá medo, dá nojo, mas no fundo sei que a culpa é minha. Esse é meu castigo. Essa é a regra.
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contos para ler antes de dormir
O livro maldito Seu maior prazer: ler livros de terror. Isso o fascinava de tal maneira que era indescritível. Colecionava, tinha centenas deles, e mais que isso, gostava de conhecer seu autor. Conhecer sua história de vida, enfim, era quase uma obsessão. Uma mórbida mania. Uma certa tarde entrou na biblioteca da cidade, coisa que fazia sempre, mas nesse dia algo foi diferente. Como sempre foi para a seção de terror e similares, apesar de co nhecer cada livro, cada prateleira, sempre ia lá. E nesse dia, algo chamou sua atenção. Um livro, sim, um novo livro, porém aparentando bem velho. A capa parecia ser de couro, sem nenhuma inscrição. O cheiro remetia a séculos passados. Retirou-o da prateleira rapidamente e correu para se sentar em uma cadeira de leitura no fundo da sala. Era como se algo o puxasse, o hipnotizasse. O livro parecia ter vida e se fundir com suas mãos. Teve medo, mas não conseguia parar de ler. Eram contos de terror. Com conteúdos impressionantes, como ele nunca tinha visto em ne nhum outro. Era viciante. Leu um conto, dois, três... e nem viu o tempo passar. Lá fora já estava escurecendo e precisava sair pois a bibliotecária já havia feito sinal à todos os que estavam ali. Sem pensar, ele pegou sua ficha de sócio e levou o livro para casa. Não tinha fome nem sono. Ler era só o queria fazer.
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paulo sutto Aos poucos ele foi notando que cada conto era de autoria de uma pessoa e que nenhum daqueles nomes lhe era conhecido. Notou também que no final de cada conto havia uma data e uma localidade diferente. E os contos eram na verdade todos relatos de assassinatos feitos na primeira pessoa. Se arrepiou por inteiro. Até então ele não havia percebido, mas na verdade era um diá rio. Um diário de mortes, com requintes de crueldade que ele jamais tinha lido. Seres possuídos matando, dilacerando corpos, tomando sangue, atrocidades que ele até então só imaginava serem possíveis no campo do imaginário de seus autores preferidos. Mas agora eram reais, eram crimes, eram possessões, era o mal encarnado. O horror tomou conta dele mas já era tarde demais. O último conto que acabara de ler tinha uma data bem recente, e a localidade era exatamente sua cidade. Sim, o crime cometido, havia sido notícia em toda a cidade há 3 semanas atrás. Um crime hediondo sem pista de assassino, que o deixou abalado por alguns dias. Ele sentiu que algo havia se apoderado dele quando pegou o livro nas mãos. Ele sabia que o último assassino de algum modo o conhecia e sabia que ele iria pegar o livro. Agora ele precisava fazer sua parte, escrever o seu conto macabro. Seus sentimentos haviam mudado, sentia o mal correndo junto com seu sangue, sentia ódio na veias. Ele, era ele agora. Tinha de ir embora, pra outra cidade, escrever seu conto e passar o livro adiante. Pegou a namorada e a colocou na moto, como sempre fazia. Mas dessa vez sem destino e sem volta. Precisava cumprir sua parte, escrever seu conto. Foram e pegaram a estrada. Sem destino. ....................
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contos para ler antes de dormir Um mês depois, nova biblioteca, novo dia... Alguém entra e vai direto ao setor de terror. Um livro novo estava lá. Estranho. Imóvel. A capa de couro... Contos de terror...
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paulo sutto
Túmulos Praticamente todas as semanas ele visitava o cemitério. Era um cemitério bem antigo, com muitos túmulos abandonados. Era uma rotina deixar flores no túmulo de sua esposa desde que ela o deixou de modo tão repentino. Ele agora precisava ser pai e mãe ao mesmo tempo. Mas ele dava conta do recado e criava de modo exemplar suas três filhas. Na verdade ele nunca se conformara com a morte da esposa e muitas vezes se pegava chorando e falando com o retrato dela nas mãos. Mas naquela tarde algo aconteceria que mudaria sua vida, ou pelo menos o restante que sobrava dela. Como de costume ele comprou um ramalhete de flores e se dirigiu para o cemitério. E sem saber o porque, colocou as flores no vaso, mas não todas, ficou com duas na mão. Ficou um tempo ali sentado, meditando e depois saiu, mas se sentiu sem rumo e acabou indo para uma parte do cemitério onde ele nunca tinha ido. Era um setor de túmulos bem antigos e abandonados. Parecia que há muitos anos ninguém visitava aquele setor. Ele circulou por ali até que se viu parado em frente à um túmulo muito antigo, completamente abandonado. A placa quase ilegível indicava a data de nascimento e falecimento. Duas crianças, um casal, gêmeos. Sobre o túmulo a estátua de dois anjos corroídos pelo tempo e pelas intempéries da natureza. Automaticamente ele depositou ali as flores que carregava e que se contrastaram com o túmulo negro.
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contos para ler antes de dormir Ao fazer isso ele sentiu um arrepio e um vento gelado passou por seu corpo todo. O que ele não notou foi o espectro de duas crianças sentadas, uma de cada lado do túmulo, esboçando um sorriso enigmático, misturando ingenuidade com maldade. Ele nem sabe como, mas quando percebeu já estava dentro de sua casa, com uma sensação estranha e sem saber muito bem o que teria acontecido. Tomou um banho, jantou com as filhas e foi dormir. Na manhã seguinte, se levantou como de costume e foi para o trabalho. Suas filhas ligaram várias vezes para ele dizendo que estavam com medo pois estavam ouvindo barulhos pela casa como se fossem crian ças rindo e brincando. Ele pediu para que elas fossem para a casa da avó e que ele voltaria mais cedo para resolver o problema. Quando retornou para casa, ela estava vazia. Ele entrou normal mente e sentou-se no sofá por alguns instantes e pôde ouvir claramente risos e vozes infantis. Teve medo. Os sons pareciam vir do quarto, depois da cozinha e sacada. Era como se as “crianças” estivessem correndo pela casa toda. Imediata mente ele se lembrara da tarde anterior e aquele túmulo do casal de gêmeos veio à sua mente. Mas não podia ser, isso era impossível e irreal. Ele fechou os olhos tentando achar uma explicação para aquilo que estava acontecendo e tentando se lembrar dos nomes que estavam escritos na lápide. Ele continuava de olhos fechados até que se lembrou dos nomes. Ele não sabia que efeito poderia ter se ele os chamasse pelos nomes mas precisava arriscar apesar do medo que estava sentindo. Ele precisava fazer isso. Criou coragem e as chamou pelos nomes. - Diogo e Alice. Continuou de olhos fechados. Um silêncio absoluto e doentio to mou conta do ambiente. Pareceu levar horas os minutos que se seguiram. Ele sabia que elas estavam na sua frente. Ele podia sentir isso. Respirou fundo e abriu os olhos e as viu. Sim, duas crianças trajadas com roupas de outra época estavam na sua frente olhando fixamente para ele. O modo como o olhavam causou muito medo, não era um olhar infantil.
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paulo sutto - O que vocês querem? O que fazem aqui? Indagou ele às crianças. Ele tinha medo da resposta. E tinha razão. O menino então contou que eles foram assassinados pelo próprio pai, depois que a mãe também foi assassinada por ele após ter sido pega em adultério no vilarejo onde viviam. E antes que o pai se suicidasse os amaldiçoou para que ficassem vagando sem rumo até o dia que alguém depositasse duas flores sobre o túmulo deles. E esse dia aconteceu. E eles agora viveriam ali com ele e sua família. E quando falaram isso suas fisionomias se transformaram, deixan do transparecer que não estavam brincando. Deixaram se mostrar quem realmente eram. Na verdade ele pôde ver que eles de algum modo fizeram com que o pai matasse a mãe e depois se suicidasse, só não imaginavam que seriam assassinados também. Eles eram espíritos maldosos e sem luz. E passariam a viver com ele naquela casa. Seria a liberdade deles. E ele era o responsável por isso. E eles o chamavam de pai. As crianças ficaram ali paradas. Ele ficou imóvel por um tempo. Sabia que não adiantaria se mudar. Elas iriam junto. Ele pegou o celular e ligou para as filhas. Disse que acontecesse o que acontecesse, que elas não voltassem para casa até que ele resol vesse o problema. Já passava das 10 da noite, mas ele sabia o que precisava fazer. Saiu correndo e foi até o cemitério e como conhecia o vigia notur no, conseguiu entrar e com muito custo conseguiu achar o túmulo e lá estavam as flores que ele depositara na tarde anterior. Elas já estavam murchas e quase se misturando com as cores cinzas do túmulo. Imediatamente ele pegou as flores e jogou longe. Ele sentiu que algo aconteceu nesse momento. Era como se algo o sufocasse. Ele sentiu muito medo. Ele notou que as flores voltaram ter cores vivas e quando voltou a olhar para o túmulo pode ver ali sentadas duas crianças. A expressão delas era de ódio, de dor, de fracasso. Voltou para casa onde passou a noite sozinho. No dia seguinte as filhas retornaram e nunca mais se ouviu nada. Mas por via das dúvidas eles se mudaram para outra casa no outro lado na cidade. Nunca se sabe né.
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Matadouro Aquele era o último trabalho que eu gostaria de fazer na minha vida, mas a necessidade e as bocas que eu tinha que alimentar me levaram a fazer aquilo. Todas as madrugadas ouvindo aqueles gritos de dor e desespero. Aqueles olhares cheios de pavor que pareciam pedir clemência aca bavam comigo. Minha vida não era mais a mesma. Aquele lugar era definitivamente o inferno, um inferno onde todos usavam roupas brancas, pura ironia. Um branco que em poucos minutos ficava todo manchado de ver melho, de sangue que jorrava das jugulares cortadas de animais muitas vezes ainda vivos. Eu não conseguia entender como podíamos fazer essa crueldade. Matar animais que sentiam a mesma dor que sentimos, simplesmente para satisfazer nosso desejo carnal. Era inconcebível tal atitude em um ser humano. Ao passo que os outros trabalhadores mais velhos de emprego estavam acostumados a tal atrocidade. Mas eu não podia deixar meus filhos e esposa passarem fome,- en tão tive de me sujeitar a tal emprego hediondo até encontrar outro. Mas confesso que aquilo estava me levanto ao desespero e à loucura. Quando eu dormia, via aqueles olhares me culpando. Ouvia gritos dos animais e gemidos de dor. Via o sangue jorrando. Acordava desesperado, e mais ainda ficava em saber que aquilo me esperava todo dia. O inferno estava lá. Depois de um tempo, comecei a ouvir outros barulhos estranhos na madrugada, quando estava trabalhando. Comentei com meus colegas de trabalho mas ninguém havia ou vido nada.
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paulo sutto Havia mais alguma coisa lá, além dos trabalhadores e do gado sen do assassinado. Numa madrugada fria, quando todos saíram e foram para o lanche no refeitório, acabei ficando para trás e me vi sozinho no galpão onde havíamos abatido muito gado naquela noite e muito sangue havia jor rado naquele local. Estava me dirigindo ao refeitório e ouvi vozes, grunhidos e gritos. Eram humanos. Eu estava de costas para o local de onde vinham os sons. Senti uma calafrio tomar conta de meu corpo. Tive medo de me virar mas a curiosidade foi mais forte. Me arrepen do até hoje de não ter seguido para o refeitório e não olhado para trás. Eram muitos. Estavam lá. Imundos. Olhos desesperados à procura de sangue. Lambiam o chão. Se acotovelavam uns sobre os outros. De repente todos ao mesmo tempo me encararam. Seus olhos eram as sustadores. Estavam todos lambuzados de sangue. Um sangue já seco. Rapidamente desviaram seus olhos e voltaram ao ato de se servi rem de sangue. Fiquei ali paralisado, apenas olhando. Um deles veio em minha direção, parecia jovem, mas tinha uma fisionomia de dor e desespero. Nunca tive tanto medo em minha vida. Não sabia o que ou quem eram eles. Vampiros? Demônios? ou o quê? Ele se aproximou e me disse, expondo seus dentes sujos de sangue: - Sei que não somos uma visão agradável, mas não fazemos mal a ninguém. Não sei como você nos viu hoje. Todo o tempo estamos por aqui. Precisamos de vida, de sangue quente para nos mantermos. O que somos, você deve estar pensando. Pois bem, somos huma nos que já faleceram e não conseguem se livrar dos desejos carnais e o sangue dos animais supre nossas necessidades. Sim, é horrível essa vida pós morte para nós. Mas enquanto os humanos se alimentarem de animais não huma nos sempre teremos nosso combustível. Não tive palavras para responder qualquer coisa que fosse. Fiquei ali imóvel vendo aquele ser voltar ao bando e continuar a se alimentar de sangue fresco. Aos poucos foram se dissipando como uma névoa. Aos poucos meus colegas foram voltando do refeitório e me questionaram o porque de eu nem ter ido tomar o lanche.
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contos para ler antes de dormir Eu estava em choque, sabia que estavam ali, apenas não os víamos. Comecei a tremer e procurei meu encarregado e me demiti. Voltei para casa pela madrugada afora. Eles estavam lá. O tempo todo. Em todos os matadouros. Nós os alimentávamos. Consegui outro emprego e nunca mais me alimentei de carne e nem minha família. Mas ainda hoje quando relembro essa passagem em minha vida, sinto as mesmas sensações daquela madrugada. E medo. Muito medo. Eles ainda estão lá. Sempre estarão...
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Morte cerebral Bem, infelizmente, ele teve morte cerebral em função do aneurisma que sofreu e não podemos fazer mais nada. Essas foram as palavras que ouvi claramente o médico informando minha família. Não sei descrever o sentimento que tive nesse momen to. Talvez pavor, desespero ou medo, não sei, pois afinal eu já estava morto e assistia tudo como se estivesse acima do teto daquele quarto cheirando morte e formol. Consegui sentir o peso das palavras do médico pesando sobre os olhares de cada pessoa que estava presente. Alguém então criou forças e disse ao médico: Ele é doa dor de órgãos. Sim, eu era. O médico sem expressar nenhum sentimento completou: Sei que o momento é difícil, mas ele salvará vidas e continuará a viver por mais um bom tempo, mesmo que em outros corpos. A família concordou. Trocaram mais algumas palavras com o médico e saí ram. Vi então que me prepararam como se eu fosse passar por nova cirurgia. Só que agora seria para retirarem alguns órgãos e que seriam úteis para outras pessoas que ainda poderiam viver mais. Eu já estava morto. Me levaram ao centro cirúrgico. Continuei olhando, não sabia se queria mesmo ver meu corpo ser aberto e meus órgãos retirados. Mas a curiosidade foi maior. Primeiro foram os rins, seguido de fígado e pulmões. A sensação de ver seu corpo sendo parcialmente destroçado é algo muito estranho, mesmo para quem já está morto e não sente mais nada.
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contos para ler antes de dormir Depois foram retiradas as córneas, medula óssea e coração. Meu enterro foi com caixão lacrado e muito comovente. Todos meus órgãos foram transplantados e bem aceitos por todos os pacientes. Posso dizer que ainda circulo por algumas cidades. Acredito que somente a pessoa que recebeu as córneas não tenha se dado muito bem... Ele sempre reclama que tem visões estranhas... Bem, nem tudo é perfeito. Afinal, ainda continuo vivendo em cada corpo...
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Chapeuzinho Vermelho ... de sangue A floresta já estava ficando escura, mas ela tinha de chegar até a casa da vovó. Os doces precisavam chegar e adoçar a vida da vovó. Se ela tinha medo? Bem, talvez um pouco, mas sabia que o lobo havia sido preso e mandado para algum zoológico por aí. Continuava a caminhada cantarolando e saltitando. Ela agora era uma mocinha. E o lobo não estava mais por ali. Mas... De repente ela ouve passos na floresta. Quem seriam? - Olá. Tem alguém aí? Silêncio. Continuou a caminhar. Mais barulho de passos. Parou de novo e gelou ao ver meio escondido atrás de uma árvore um belo rapaz, todo vestido de preto. Assustou-se. Afinal nunca o tinha visto por ali. Chamou-o. Ele se virou. Era até bonitão e se aproximou. Um galã; pensou ela. Ele perguntou para onde ela estava indo, ela respondeu que ia ver a vovó. E ela viu nele o mesmo olhar do lobo, porém mais malicioso e maldoso. Teve medo e continuou seu caminho. Para seu desespero o rapaz reapareceu em sua frete. Seu sorriso era difícil de resistir.
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contos para ler antes de dormir Disse a ela que sabia um atalho. - De novo não - pensou ela. - Nada de atalhos. Vou pelo caminho certo. Ele insistiu. Ela aceitou. Ele pegou a mão dela. Ela deixou. Quando menos esperava estava dentro da casa do tal moço bonito. Seu olhar malicioso a deixava desconcertada. Ele fixou seu olhar nos olhos dela. Era uma tentação. Era atraída por ele. Não podia resistir. Ela foi se aproximando sem poder se controlar. Ele lá na cadeira sentado. Olhar fixo. Obcecado. Ela se aproximando. Bem perto. De repente ele desvia o olhar. Os punhos dela voam em direção ao seu rosto. Sangue espirra pelo ar. Outro murro. Mais sangue. Mais murros. Sua cabeça tomba para trás. Seu pescoço exposto. Os dentes cravados. O gosto de sangue quente. Escorre pelo canto de sua boca. Dentadas e uma fome saciada. Ela se limpa. E retoma seu caminho. Bem que ela avisou sobre não pegar atalhos. Ele não quis ouvir. Sorte teve o lobo mau que foi preso. Mas a mesma sorte pode não ter a vovozinha.
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Odeio ser humano Ele sempre se deu mal na vida. Só se ferrava. Sua vida era um desfile de desgraças desde seu nascimento até os dias atuais. E em função disso, ele se tornou amargo e revoltado. Sempre resmungando e amaldiçoando cada dia de sua vida. Briguento, rabugento e anti social. Achava sempre que todos estavam contra ele. Os dias iam passando e sua vida sempre a mesma. Ele nunca entendeu o porque disso tudo. E a cada dia atraía mais negatividade para sim. Um dia decepcionado com tudo, já tarde da noite andando por uma rua escura sem rumo, pois não tinha morada, começou a blasfemar: - Odeio ser humano, odeio ser humano. De repente ventos o assustam. Ele para no meio da rua. O medo toma conta de seu ser. Imóvel. Ali parado, sente alguém atrás de si. Se vira bem rápido. Ninguém. Nada. Novamente os ventos. Agora mais fortes. Sua pernas perdem as forças e sente seu corpo se ajoe lhando sem querer. Um som parecido com um grunhido, um gemido ou um urro o deixa mais apavorado ainda. A voz vem sabe-se lá de onde, parece vir das trevas. - Você odeia ser humano? A voz gutural pergunta calmamente. - Você odeia ser humano? Repete juntamente com uma risada -sar cástica. Sua voz não sai. Ele treme. - Responda a pergunta que te fiz...
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contos para ler antes de dormir - Quem é você? É a única coisa que ele consegue dizer. - Só posso te dizer que não sou humano como você. Sou trevas, sou ódio, sou dor, sofrimento, Legião é meu nome. Ando pela terra semeando as guerras e dores, sou o pecado e as dores. - Não, você não existe, é fruto de minha imaginação, ele diz, con seguindo se levantar e se virar rapidamente, apesar do terror que toma conta de seu ser. Nada, não vê nada. Apenas ouve uma gargalhada insana e tene brosa. - Afinal você ainda não me respondeu. - Você odeia ser humano? Responda. A voz agora parecia mais irritada. - Quem é você? Ou o que é você? Apareça. Novamente a risada demoníaca se ouviu. Cada parte de seu corpo se arrepiou. - Responda e me mostrarei a você. Você odeia ser humano? Os ventos voltaram e quase o jogaram ao chão. O medo tomou conta de seu corpo se tornando em sentimentos de pânico e terror. - Simmmmm, eu odeio ser humano. Odeio ser humano. Novamente a risada, mórbida e cheia de prazer agora. - Estou aqui, bem atrás de você infeliz. Respire fundo e me encare. Seu coração disparou, teve muito medo, o maior medo de sua vida. Virou-se de súbito. Um grito de desespero saiu de sua boca. Seus olhos arregalados não acreditavam no que viam. Bem na sua frente uma criatura horrenda como ele nunca tinha visto. Quase impossível descrevê-la. Enorme, com muitos olhos de um vermelho sangue, de sua boca saia uma língua partida ao meio, juntamente com uma gosma. Sua cabeça parecia ser cheia de feridas cheias de pus e pedaços de carne podre aparecendo. De suas mão pendiam dedos apodrecidos e seu cheiro queimava as suas narinas. Ao ver tal criatura, caiu de costas. - Olhe bem para mim. Lhe pareço asqueroso? Nojento? Monstru oso? Pois é assim que você passará a ser de hoje em diante. Já que você odiava ser humano. Não mais será humano a partir de hoje. - Nãooooooooo, nãooooooooooo...
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paulo sutto Ele sentiu seu corpo se deformando e assumindo as formas monstruosas da criatura, que agora já estava com seu corpo humano. O sorriso no rosto da criatura, agora humanizada, metia medo. Ele olhou para suas mãos, horríveis. O desespero o tomou por completo. Ele pediu. Agora não era mais ser humano. Era uma criatura monstruosa. Até o dia que encontrasse outro ser humano que pronunciasse as palavras, aquelas malditas palavras: ODEIO SER HUMANO. Ele olhou e à sua frente um ser humano caminhava se distanciando devagar na madrugada. Viu apenas quando esse ser humano virou-se para olhá-lo, como se dissesse adeus, com um sorriso insano no rosto.
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O padre Eram nove da noite quando o jovem padre recebeu um telefonema o chamando para expulsar um suposto demônio que se apossara do corpo de uma jovem em um bairro afastado e de má reputação. A voz do outro lado da linha parecia calma mas desesperada ao mesmo tempo. Ele sentiu um frio subir por sua espinha. Sabia que estava estudan do para isso mas não se sentia preparado ainda. Imediatamente ligou para o padre Davis, seu mentor e protetor com quem estava aprendendo todos os segredos do exorcismo. Uma voz fraca atendeu ao telefone. Era Davis dizendo que estava impossibilitado de acompanha-lo, pois estava acamado e um pouco mal. Sem mesmo dar chance dele falar o padre Davis desligou. Nada restava a não ser se dirigir ao local para onde fora chamado. Ajoelhou-se, rezou e depois pegou a bíblia, o rosário e a água benta. Nunca havia sentido o medo como sentia naquela hora. Mas era seu chamado, sua obrigação. Entrou no carro e dirigiu pelas ruas quase desertas e neblinadas. Depois de uns vinte minutos chegou ao endereço, e foi recebido por uma senhora, provavelmente a que havia ligado. A casa era bem velha, um sobrado. Após conversar com a senhora, ela disse que sua filha estava no quarto no andar superior. O padre subiu sozinho. Entrou. A garota estava sentada na cama com as pernas estendidas e a cabeça abaixada. Ao notar que o padre entrara no quarto ela imediatamente olhou para ele e deu uma risada e disse: - Veio rápido padre. Estou te esperando. Vai me mandar embora. Seguido de um riso sarcástico.
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paulo sutto - A propósito acabei de vir da casa do padre Davis, pobre homem. Você acha mesmo que falou com ele agora há pouco? Não. Foi comigo padre. Você é muito jovem, inexperiente, ingênuo... A porta se fechou atrás do padre. Ele ficou ali parado. O corpo da jovem se jogou para trás e começou a levitar. Uma fumaça saía debaixo da cama. De repente ela é jogada de volta para cama. O padre pega a bíblia e tenta achar as passagens certas para realizar o exorcismo. Outra risada enche o quarto. Ele vê um vulto saindo da jovem e se materializando à sua frente. Sente medo mas se mantêm ali firme. Segura a bíblia com uma das mãos e com a outra joga água benta. O demônio se vira de costas para ele numa atitude de deboche e começa a falar: - Você acha mesmo que vai conseguir me mandar embora? Acha que tem esse poder meu querido? Acha que o poder do filho do ho mem está contigo e com sua igreja? Imagens começam a aparecer na parede como se fosse um telão. -Olhe, disse o demônio. Essa é a sua igreja. A igreja prostituta de toda a terra. Que matou milhares em nome de Deus, que esteve ao lado de Hitler. E que não salvou os judeus. A igreja que sempre escondeu os pecados de seus líderes. A sua igreja é nojenta. Você acha que a conhece? Risos ecoavam pelo quarto. As imagens mostravam toda a trajetória da igreja, toda sua imundí cie desde a sua fundação. - Imundos, é o que vocês são. O padre tremia. O pavor tomava conta de seu corpo. sua fé se extin guiu em segundos. Em poucos minutos ele teve certeza de tudo o que duvidava sua vida toda. Ele jogou água benta, mas nenhum efeito. O demônio ria. - Veja, não me faz nada. Nada. Você é um ingênuo. Te enganaram a vida toda. Você não pode lutar contra o que está em vocês. Vocês são os demônios. Vocês são como nós. Aceite isso. Na cama a jovem permanecia imóvel. O padre não sabia o que fazer. Ajoelhou-se e começou a rezar o pai nosso. O demônio veio caminhando até onde ele estava. Ele continuava de olhos fechados e ajoelhado rezando.
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contos para ler antes de dormir Calmamente o demônio se apossou de seu corpo. Ele abriu os olhos. O quarto parecia calmo. A jovem voltou a si. A mãe da jovem entrou no quarto, abraçou a filha e agradeceu ao padre. Ele saiu. Já era madrugada alta. Foi para casa. No dia seguinte recebeu a notícia de que o padre Davis havia falecido às vinte horas da noite anterior mas que tentaram avisá-lo mas seu telefone estava fora de serviço. -Padre Davis eram um bom homem. Um bom homem.
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O demônio da velha O casal que morava nos fundos de minha casa sempre aprontava umas badernas em finais de semana. Começava com uma festinha, um churrasco com amigos e no final da noite depois que todos iam embora e o álcool já estava acima do limite, acabava sempre em brigas. Já estava virando rotina. Mas no último final de semana foi bem diferente. Foi a pior cena que já vi em minha vida. O som rolou solto até altas horas acompanhado de muito riso, farra e bagunça. Mas depois que os amigos se foram, por incrível que pudesse parecer tudo estava em silêncio. Aliás um silêncio até assustador. Aproveitei e fui dormir. Não demorou muito o barulho começou. A princípio um bate boca. Depois gritos dela e o som de coisas sendo jogadas contra paredes. O cachorro começou a latir violentamente como se algo mais estivesse acontecendo. Ao lado de meu quarto fica o corredor que dá acesso à casa deles. Pude ouvir claramente alguma coisa se arrastando por ele. E em seguida os gritos desesperados da moça. Ela gritava muito, como eu nunca tinha ouvido. Eram gritos intercalados com choro. Dei um pulo da cama quando ouvi os gritos do rapaz. Eram apavo rados e misturados com pedidos de socorro. Saí correndo para ver o que estava havendo. No início do corredor ao lado do pequeno portão há um inter ruptor que acende a lâmpada que ilumina o corredor. Após o clique uma luz fraca se acendeu e a cena que vi realmente me deixou de boca aberta. Em toda minha vida nada tinha me assustado mais do que aquilo.
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contos para ler antes de dormir Apesar da iluminação fraca pude ver ao fundo do corredor a jovem encostada á parede como se estivesse crucificada, mas estava suspensa do chão, há uns oitenta centímetros de altura. Ela chorava desesperadamente. Mas o pior estava vindo em minha direção. Era o marido sendo arrastado pelo chão, como se uma força o puxasse pelos pés, mas nada se via, apenas seu corpo se debatendo pelo chão aos gritos. Ao chegar bem perto de onde eu estava, não sei o que o estava puxando, mas o soltou e o pegou pelos cabelos e o puxou no sentido contrário. Fiquei ali parado, sem saber o que fazer. O medo tomou conta de meu corpo. Quando a jovem no fim do corredor me viu, gritou desesperada mente por ajuda. E quanto mais ela gritava, mais alto seu corpo ficava do chão. Eu não sabia o que fazer, ou se corria de volta para minha casa. Chamar a polícia? Chamar um padre? E a coisa continuava a arrastar o rapaz que já estava todo machu cado. De repente ao meu lado uma velha senhora aparece e quase me mata de susto. Era uma vizinha da rua, bem idosa e de costumes estranhos. Uns diziam que era bruxa ou coisa parecida. Na verdade a maioria das pessoas tinha medo dela. Ela ficou ali olhando a cena toda e rindo com o canto da boca como se aquilo fosse engraçado. De repente ela fica séria, e quando o rapaz é arrastado novamente para perto de nós ela começa a falar umas palavras em uma língua estranha. Tudo parece ficar calmo. A jovem escorre pela parede até o chão e o rapaz fica estatelado no chão todo esfolado. A velha continua a falar palavras estranhas como se estivesse repre endendo alguém que somente ela via. Virou-se e continuou a conversar e seguiu para sua casa. Do outro lado da rua. A jovem ficou lá sentada no chão e o marido no início do corredor. Resolvi então chamar a polícia e uma ambulância. Quando chegaram tentaram conversar com o casal que parecia estar em choque.
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paulo sutto Me perguntaram se eu vira o que havia acontecido e eu disse que sim, mas que eles provavelmente não acreditariam se eu lhes contasse. Na verdade nem eu mesmo estava acreditando. A velha tinha demônios de estimação. Eu não podia contar isso à polícia. Não mesmo. Deixe que o casal contasse quando voltassem a si. Depois disso, acabei me mudando para outro bairro e perdi contato com eles. Mas foi uma madrugada assustadora. Com certeza.
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Sonhos reais Madrugada. A estrada de terra estava bem escura. A noite era sem lua. Só trevas. Amigos caminhavam de volta para casa. Riam e se divertiam após o baile no sítio vizinho. Não que fossem corajosos, mas era mais para espantar o medo. Qualquer barulho os deixava alertas. Naquela noite o caminho parecia mais longo. Um barulho ma mata os assusta. As moças se agarram aos rapazes, que escondem o medo. Seguem. Com medo. Apressam os passos. Novamente o ruído. Parecem passos, som de gravetos se quebrando. Andam mais rápido. O barulho os segue. Correm. Percebem o som de algo correndo pelo mato. Mais rápido que eles. De repente salta do mato e pára bem na frente deles. A respiração pára. O medo vai ao máximo. Vêem algo que jamais imaginariam ver. Uma criatura inimaginável. Um ser semelhante a um lobo, meio em pé, meio acocorado. Peludo, olhos arregalados e vermelhos. Eles tentam correr. Nem todos tem a mesma sorte. Ele salta sobre um deles. O derruba. Gritos de desespero e dor. Urros. Pavor ecoando dentro da madrugada escura. Os dentes rasgando a carne. Ainda vivo.
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paulo sutto Gritos de desespero e dor cortam a mata. Até se calar e dar lugar a grunhidos, gemidos e barulho de denta das. A criatura satisfeita, deixa no local apenas restos de algo que já foi um humano. Acorda assustado e molhado em suor. Toda noite esse sonho o atormenta. Há muitos anos. Desde a adolescência. Vai até a cozinha, acende a luz. Procura um copo. Tem sede. Sente um gosto estranho de sangue. Olha para a borda do copo. Ele não acredita, mas é sangue. Na borda do copo. Quase todas as noites sonhos desse tipo. Mas nunca ele acordou com o gosto do sangue na boca. Não só o gosto, mas o sangue também. E ele sabe que a partir de agora as coisas são diferentes. Não são mais sonhos. Não apenas sonhos.
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Passos do além Desde quando me conheço por gente, esses passos me perseguem. Me lembro de quando eu ia para escola, o medo a me acompanhar pelas ruas, onde o som daqueles passos me seguiam. Eu sempre tive medo de olhar para trás, sabia que não veria nin guém, mas sentia que alguém ou algo me seguia. Eram sempre os mesmos, era de homem, pelo barulho aparentava ser uma pessoa pesada, eram passos firmes, fortes e mantinham sempre a mesma distância. Sempre. Durante algum tempo, uns 6 ou 7 anos não ouvi mais os passos. Que alívio poder caminhar e saber que está sozinho. Livre. Sem ser perseguido. Mas... Como tudo o que é bom dura pouco, há uma semana quando vol tava para casa após o trabalho, passando por uma rua escura e cheia de becos, eis que começo novamente a ouvir os passos, a princípio pensei ser alguma pessoa que também seguia pelo mesmo caminho que eu. Não me preocupei e segui em frente. Porém, após algum tempo e vários metros caminhados, apurei meus ouvidos e tive a certeza de que eram os mesmos passos que me acompanharam durante tanto tempo. O medo que senti quando jovem voltou a tomar conta de meu ser. Andei mais rápido, apesar de saber que ele também apressaria seus passos. Eu sabia que não havia como fugir, a não ser para dentro de minha casa. Não sei se comentei isso, mas o som dos passos sempre me se guiam até a porta de minha casa, sempre foi assim. Talvez ele ficasse sentado do lado de fora, pois era só eu sair e voltava a ouvir os passos.
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paulo sutto Frequentei psicólogos e psiquiatras, passei tempos internado em hospitais psiquiátricos, mas nada disso resolveu o problema. E agora depois de um bom tempo, os passos estavam de volta. Ou seria algo de minha cabeça? Apenas eu ouvia. Eu sabia que isso iria me levar à loucura. Há 3 noites atrás, para meu desespero, notei que os passos agora não eram apenas de uma pessoa, haviam mais deles, homens e mu lheres, talvez até crianças. Afinal o que eles queriam comigo? Tenho passado quase todo o tempo fechado em meu apartamento. Só saio quando extremamente necessário. Posso senti-los lá fora. Ouço algumas vozes agora também. Falam o tempo todo. Sei que estão me espionando o tempo todo, posso ver seus vultos pela janela. Vou acabar ficando louco, vou perder o resto de sanidade que me resta. Agora eles batem na porta. Faz uma semana que não saiu do apartamento, não aguento mais comer pizza. Amanhã vou sair, vou enfrentar meus medos, meus fantasmas e vou sair. Eles não existem, os passos e vozes estão dentro de minha cabeça. Sim, isso, são só uma fantasia criada em meu subconsciente. Essa noite eu dormi muito bem, nenhum barulho no corredor, nenhuma voz.... Vou sair. Já está na hora. 10:00 h da manhã e um sol bonito lá fora. Crio coragem e abro a porta ainda tremendo e com o coração disparado. Saio no corredor. Olho para os dois lados. O corredor está vazio, como eu esperava, Começo a andar em direção às escadas. De repente ouço vozes e passos. Mas o som que ouço são de muitos passos. E as vozes? parece uma multidão falando ao mesmo tempo. Risos, choros e gemidos. Me arrepio inteiro. São apenas imaginação. Nada está lá. Não exis te nada.
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contos para ler antes de dormir Mas preciso me virar para confirmar que não há ninguém atrás de mim. Me viro lentamente. O medo tomando conta de mim. Estou suando frio. O que vejo me deixa em estado de choque. Meus olhos nunca vi ram uma criatura como aquela. Era uma aberração com uma série de pés e uma cabeça enorme com muitas bocas falando ao mesmo tempo, e muitos olhos a me olharem. O medo que senti é inexplicável. Fiquei ali parado vendo a criatura horrenda caminhando para pero de mim, seus olhos fixos me olhando. Eu parecia hipnotizado. A criatura se aproximando cada vez mais. De repente consigo me mexer e sigo andando de costas até encon trar a escada e me desequilibrar, caindo vários lances até me espatifar no chão. E para meu espanto a criatura continuou caminhando e descendo as escadas. Comecei a gritar, mas minha voz parecia não sair. O ser esboçou um sorriso assustador. Quando percebi que ele se jogava sobre mim tomando impulso do alto da escada, gritei novamente. Nesse instante apareceram algumas pessoas que devem ter ouvido o barulho que fiz ao cair da escada. Quando olhei para o topo da escada não vi mais nada. Apenas eu estava lá, estendido no chão e alguns vizinhos tentando me ajudar. O que era aquilo? O que queria de mim? Para onde foi? Infelizmente, ou felizmente não tenho as respostas. Fui socorrido e levado para o hospital. Há um bom tempo não tenho ouvido nada. Estou internado nesse hospital de primeira classe. Tenho acompanhamento médico. Enfim, estou bem. Apenas não tenho muito interesse em sair para passear pelas ruas da cidade... Aqui estou em segurança. Por falar nisso, vou para meu quarto, é hora do descanso da tarde. Aliás, acho que todos foram para seus quartos, tudo está vazio aqui. Enfermagem? Enfermagem... Enfermeiro? É você? Caminhando atrás de mim? É você?
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O milharal O que vou relatar agora se passou há muito tempo atrás, quando eu ainda era bem jovem, acho que tinha entre nove e dez anos. Meus avós e alguns tios viviam em uma fazenda, e nas minhas férias, sempre era para lá que eu ia. Passava alguns dia com meus primos e outros amigos. Mas nesse ano algo muito estranho aconteceu e as sensações ainda me arrepiam. A casa de meus avós ficava um pouco afastada das outras construções, bem próximo ao milharal. Da janela de meu quarto podia-se ver toda a extensão da plantação de milhos que nessa época estavam mais altos do que eu. Durante o dia o vento fazia um grande barulho ao balançar as folhas do milho, e muitas vezes me pegava parado ali simplesmente a olhar e ouvir esse som, que ao mesmo tempo me assustava e também me atraía. Porém em uma noite bem quente em que deixei a janela aberta, logo após todos terem pegado no sono, acho que só eu ainda não havia dormido, e que se pode ouvir qualquer som, por mais baixo que seja, ouvi algo muito estranho. Apesar do ar estar parado e abafado, sem vento algum, o milharal começou a fazer o mesmo som de quando fortes ventos o açoitavam. Estremeci na cama, mas fiquei imóvel, não tive coragem de me levantar e fechar a janela. O som que vinha do milharal deve ter durado cerca de uns 10 minutos, voltando tudo ao perfeito silêncio após. Depois de um bom tempo acabei caindo no sono e acordando com o bom cheiro de pão caseiro, bolos e outras guloseimas que minha avó havia preparado. Quando cheguei na sala onde tomávamos o desjejum, todos meus primos e outros parentes já estavam lá.
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contos para ler antes de dormir Sempre era uma animação quando todos se reuniam. Era domingo e todos iam para a igreja no centro da cidade. Olhei para meu avô e comentei sobre o barulho que havia ouvido no milharal durante a noite. Ele me olhou assustado e todos pararam de comer, conversar ou rir e me olharam de uma só vez. Senti um grande susto e fiquei sem entender o porque disso. Meu avô disse que devia ser o vento e desviou a conversa. E todos voltaram a fazer o que estavam fazendo, mas notei que sem o mesmo entusiasmo. Notei também que meu avô e minha avó ficaram se olhando por um bom tempo. Simplesmente não entendi. O dia transcorreu normal, sem nenhuma novidade. Confesso que senti um certo medo ao cair da noite, imaginei nova mente o vento no milharal durante a noite. Mas nada aconteceu, e deixei a janela fechada apesar do calor que estava fazendo. Os dias se passaram e não toquei mais no assunto e meus avós também não me perguntaram nada. Até que em uma noite quando todos dormiam acordei assustado, havia tido um pesadelo. Sonhei que uma força invisível me arrastava para o milharal e por mais que eu gritasse ninguém ouvia. E eu ia me adentrando cada vez mais no milharal e imagens assustadoras vinham diante de meus olhos. E o vento era forte fazendo um barulho quase ensurdecedor. Ao acordar assustado e molhado em suor notei que a janela estava aberta, sendo que eu havia fechado antes de me deitar. Não me atrevi a me levantar para fechá-la, e pensei que talvez eu tivesse pensado em fechá-la e não o tenha feito. Para meu desespero o barulho do vento no milharal começou me deixando apavorado. Senti muito medo e um arrepio tomou conta de meu corpo. Mas agora o pavor era ainda pior, pois além do som do vento havia outros sons... Vozes. Vozes desesperadas gritando por ajuda. As vozes iam e vinham, sumindo ao vento. Parecia ser mais de uma pessoa, e eram vozes de crian ças. Aparentemente de meninos. Permaneci imóvel em minha cama, sem coragem sequer de olhar para a janela.
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paulo sutto O tempo me pareceu parar e as horas que faltavam para o dia nas cer pareceram uma eternidade. Nunca em minha vida senti tanto medo. Na manhã seguinte eu estava com uma aparência péssima em -fun ção da noite mal dormida. Meus avós me perguntaram se acontecera algo. A princípio tive medo de falar sobre o assunto. Eles me questionaram se tinha a ver com o milharal e então relatei o ocorrido. Para meu espanto dessa vez eles não mostraram reação alguma, como se já esperassem por isso. Isso me deixou digamos, desconfortável. Mas não comentaram nada, apenas me ouviram. Naquela tarde, ao entrar na sala ouvi meu avô falando com meu pai sobre mim, que era melhor que eu voltasse para casa, pois “ele” havia voltado ao milharal. Sem que meu avô me notasse fui para meu quarto e ali fiquei até que meus avós entraram e me disseram que meus pais haviam ligado e que haviam marcado umas atividades em um parque e gostariam que eu voltasse para ir com eles. Apesar de saber que a verdade não era essa, senti um alívio e nem questionei nada. Arrumei minhas coisas e voltei para casa. Antes de sair do quarto fui até a janela e dei mais uma olhada para o milharal. Silencioso, imóvel e imponente. De repente uma rajada de vento fez com que o milharal emitesse um som parecido com um uivo de desespero. Voltando em seguida para sua inércia. Virei-me e saí. Meus avós me levaram até a rodoviária onde tomei um ônibus para minha casa. Não sei se existe alguma ligação, mas meus avós faleceram no ano seguinte. E foram as duas últimas vezes que voltei à fazenda. Nos dois velórios. E foi só então que notei algo que sempre me passou despercebido. O milharal estava lá. Em qualquer época do ano ele estava sempre lá e não somente quando eu estava de férias. Eu nunca soube exatamente o que houve naquele verão. E para falar a verdade acho que não quero saber. Mas acredito que não havia algo ou alguém no milharal, mas todo o mal era o milharal.
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Espantalhos Me lembro que toda vez que ia visitar meus avós quando criança, quando íamos chegando ao sítio onde moravam, eu já ficava apavo rado pois sabia que eles estavam lá, espalhados pelo meio das plan tações. Pareciam me olhar como se eu tivesse culpa, como se eu tivesse colocado eles ali, tomando chuva e sol. Eles me davam muito medo, quase beirando o pavor. Sabia que sempre estariam lá. Os espantalhos do sítio. Mas isso foi há muito tempo, eu ainda era um garoto e meus avós eram bem ativos ainda, sempre trabalhando no sítio. O tempo passou, me tornei adulto e meus avós se tornaram simpá ticos velhinhos e contrataram pessoas para cuidarem do sítio. Hoje eles passam o tempo vendo TV e aguardando a morte chegar. Me mudei de cidade e poucas vezes fui visitá-los. Essa noite acordei assustado e desesperado. Tive um pesadelo horrível. Sonhei que o espantalho saia do milha ral e me perseguia, e eu era ainda criança no sonho. Era como se meus temores de infância tivessem se tornado reali dade. Ao acordar tudo parecia tão real. O medo, o desespero de ser per seguido por um espantalho era assustador demais. Eu sabia que ele queria me matar, não sabia porque, mas sentia isso. Não consegui mais dormir o resto da madrugada pensando no sonho. Imaginei meus avós lá no sítio e aqueles espantalhos na plantação. Por mais absurdo e bizarro que a ideia pudesse parecer, isso me assustou.
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paulo sutto Pela manhã, me levantei e mesmo sem ter noção do que estava fa zendo, quando dei por mim já estava no carro me dirigindo para onde meus avós moravam. Era automático, como se algo me atraísse para lá. Sentia um arrepio toda vez que o pesadelo voltava à minha mente. Depois de algumas horas dirigindo, cheguei ao ponto onde eu deveria pegar uma estrada de terra que levava a uma região onde ficava o sítio deles. Logo comecei a avistar várias silhuetas de espantalhos em várias outras propriedades pelas quais passei. Estavam lá, imóveis, como se vigiassem tudo o que ocorria por ali. Após um bom tempo por essa estrada cheguei ao sítio de meus avós. Tudo estava como quando eu ainda era garoto, as plantações, o portão de acesso, as velhas árvores, tudo estava lá. E eles também. Me aproximei da casa, estacionei em frente. Achei estranho não ter visto nenhuma pessoa trabalhando aquele horário. Senti uma sensação estranha ao descer do carro e me aproximar da casa. As portas e janelas estavam abertas. Ao subir os degraus que da vam para a varanda novamente senti a estranha sensação, uma mistu ra de medo com susto, um desejo de dar meia volta e sair dali. Chamei por eles mas ninguém respondeu. Entrei. A TV ligada e ambos sentados no sofá de costas para quem entra na sala. Achei estranho. Tive medo. Um cheiro de carne podre no ar. Um peso no ar. Fui me aproximando devagar. Quando os vi, minhas pernas me deixam sem amparo e quase vou ao chão. Era difícil acreditar no que meus olhos viam. Meu estômago revirou e achei que fosse vomitar. Ali sentados estavam dois espantalhos. Um casal na verdade. Suas mãos de palha seguravam uma faca e estavam sujas de sangue. Imediatamente me veio à mente a imagem dos espantalhos que vi na plantação quando me dirigia para a casa. Eu não queria acreditar no que minha imaginação me mostrava. Era impossível, era algo bizarro e grotesco. Mas de repente notei uma mancha de sangue no chão, como se algo tivesse sido arrastado da sala para fora. Algo ou alguém. Sai correndo e tropeçando nos móveis. Precisava me certificar de que minha imaginação estava errada. Corri até o carro e dirigi até à estrada onde avistei os espantalhos. Estacionei e corri desesperadamente em direção aos espantalhos.
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contos para ler antes de dormir Quando me aproximei vi algo que nunca imaginei ver em minha vida. Os espantalhos eram meus avós. Estavam lá, com as barrigas abertas e suas entranhas escorrendo até o chão. Seus olhos haviam sido arrancados ou comidos pelas aves. Suas mão foram arrancadas e trocadas por palhas. O pesadelo tinha se tornado realidade. Fiquei ali parado sem saber o que fazer nem sei por quanto tempo. Fui até a delegacia da cidade e relatei toda a história. Os policiais que me atenderam se entreolharam e me pediram que voltasse para minha cidade que eles resolveriam o caso. Fiquei trans tornado com essa atitude. Eles disseram que não havia nada que eu pudesse fazer ali. E de repente me senti totalmente estranho e como se estivesse dopado, me despedi deles e me dirigi ao carro. Voltei para minha casa. Só me lembro de estar estacionando o -car ro em frente à minha casa. Não sei se isso tudo foi real ou um pesadelo. E não pretendo voltar lá par descobrir. Só sei que meu carro estava muito sujo de poeira e que havia palhas enroscadas no para choques. E às vezes ainda sonho com os espantalhos, mas no sonho eles sempre estão indo embora para algum lugar. Ainda tenho medo deles.
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Cortejo fúnebre Cidades pequenas do interior sempre tem muitas lendas e folclore. E na minúscula cidade de Florbela não era diferente e a mais co nhecida lenda era a do cortejo fúnebre da sexta feira de toda terceira semana de cada mês. Contava-se que entre as 23 horas e meia noite desse dia, não era bom ficar fora de casa, pois um cortejo fúnebre sempre passava pela rua principal que cortava a cidade. E sempre nesse dia, todos se recolhiam e fechavam todas portas e janelas. Alguns diziam ouvir choro, gemidos e lamentos. E talvez por coin cidência toda sexta feira da terceira semana a lua se negava a apa recer. Mas nem todos acreditavam em lendas, principalmente os mais jovens. Irreverentes beirando a rebeldia. Se arriscavam. Mas existia um detalhe interessante que orientava para que, caso alguma pessoa estivesse na rua nesse determinado dia, o dia do cortejo fúnebre e o visse vindo pela rua, deveria abaixar a cabeça até que o cortejo passasse e não se ouvisse mais nenhum som. Agosto. Terceira sexta feira. A tarde se vai e a noite vem. Está quen te. As pessoas pelas ruas, conversam, brincam, se divertem. A noite se adentra. Pouco a pouco vão sumindo das ruas as pessoas. Portas e janelas se fecham. Alguns jovens continuam a conversar. Preferem não acatar aos con selhos dos mais velhos. 23:30 horas e a noite parece ficar ainda mais escura.
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contos para ler antes de dormir De repente avistam adentrando à rua um grupo de pessoas... um arrepio toma conta de cada um deles. Medo e curiosidade. Abaixam a cabeça e continuam imóveis. Um deles sussurra: Não olhem, não se movam. O som de lamento, choro e dor vai ficando cada vez mais audível. O medo aumenta. Sentem que estão bem próximos agora. Estão exatamente em frente a eles. Estão parados... O medo vira pavor. Os olhos continuam cerrados. Menos um par, que não resistindo à curiosidade, se abriu e, ao olhar para frente, cruza diretamente com outro par de olhos, fixos aos dele. Um pavor gélido toma conta de seu corpo, mas ele não consegue desviar sua atenção. O que ele vê o deixa amendrontado como nunca. Quatro homens altos vestidos de preto seguram um caixão, três de les olham para o chão, mas um deles continua olhando fixamente em seus olhos, como se sugasse sua alma, seu espírito. Após alguns segundos que parecem ter sido uma eternidade, eles continuam a andar. O som vai ficando cada vez mais longe até desa parecer. O garoto curioso continua com os olhos fixos no nada, e os outros levantam suas cabeças e nem notam que alguém tinha olhado e visto o cortejo passar. Setembro. Terceira sexta feira. Os garotos estão lá na rua para ver o cortejo passar. Todos menos um. Na verdade ele está vendo o cortejo, só que de outro ângulo. E torcendo para que pelo menos um de seus amigos seja curioso o bastante para olhar o cortejo e trocar de lugar com ele.
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Amor insano Ele tinha 10 e ela 8 quando se conheceram. Ela sempre morou naquela cidade. No mesmo bairro. Sempre mui to alegre junto com seus 3 irmãos. Sempre foram muito abastados. O pai empresário. A mãe profes sora. Família exemplar, descendentes de italianos. No ano de 1973 a família dele se mudou para a mesma rua. Vieram de outra cidade que ela nunca conseguia se lembrar o nome. Ele era filho único, magro demais para a idade, olhos azuis, cabelos bem pretos. Seu pai um homem de ideias inovadoras, sempre na vanguarda, hábil, esperto e muito extrovertido. Falava muito sobre todos os assuntos. Nunca se soube exatamente se tinha alguma formação acadêmica. Sua mãe era uma pessoa muito bonita e agitada, acompanhando em tudo e apoiando as ideias de seu marido, a quem ela chamava de “gênio”. Quando ela o viu pela primeira vez na escola ficou encantada, se é que aos 8 anos já se encanta com um menino novo, mas ela ficou de boca aberta. Nunca tinha visto um menino assim, bonito, simpático, algo nele prendia atenção dela. Ela não sabia o que era, mas era um sentimento novo. E como crianças normais dessa idade e naquela época, somente se olharam. Ela toda sem jeito falou com a mãe sobre ele. Ele mais sem jeito ainda devido à sua timidez, também contou à mãe.
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contos para ler antes de dormir Mal podiam esperar o dia amanhecer para se verem na escola. Muitos dias se olhando, mas já sabiam que algo estava acontecendo em suas mentes e corações. Um dia enfim se falaram no recreio. Nunca se lembraram sobre o que falaram. Se tornaram amigos, depois muito amigos e depois muito mais que amigos. Nisso se passaram 5 anos, não podiam namorar pois os pais jamais permitiriam. Mas sabiam que se amavam sim. De um modo muito bonito. E ela sempre dizia a ele que o coração dela seria dele para sempre. Um dia, a notícia que ela conta a ele o desmonta. Ele sente seu mundo desmoronando, perde o chão e o prumo. Sua família vai se mudar. Não uma pequena mudança, mas uma grande mudança. Vão para outro estado, bem distante. Seu pai comprou uma empresa e decidiu mudar completamente os rumos de sua vida e da família. E ela, obviamente tem de acompanhá-los. Ele não sabe se chora ali mesmo na frente dela. Perdeu a voz. Ficou branco. Por fim abraçou-a como nunca fizera. E uma frase que ela sempre repetia veio à sua mente. “Meu coração sempre será seu.” A partir daí, os dias foram ficando cinzas, até se escurecerem. Continuaram fazendo as mesmas coisas que faziam. Escola. Brincadeiras. Risadas. Mas no íntimo um sofrimento insu portável O pior dia de suas vidas chegou. Sem escola. Sem brincadeiras e sem risadas. O caminhão saindo com todos os móveis. O carro seguindo atrás. Apenas um abraço e um beijo no rosto. E um aceno através do vidro traseiro. A dor. A raiva. O medo. Os dias se passaram. Cresceram. Cada um com sua vida. 1995. Muito tempo se passou. 22 anos.
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paulo sutto Ela estudou, se formou. Tinha um escritório de arquitetura no cen tro da cidade. Estava feliz. Noiva. Ele se fechou na sua timidez. Nunca se recuperou. Triste. Uma tristeza mórbida o consumia. Há 8 anos ele abandonou a pequena cidade e foi em busca da pessoa que o deixou tão triste. Andou por todo canto, atrás de cada pista. Até chegar naquela grande cidade. O mesmo nome. Ele a viu entrar e sair várias vezes do escritório. Era ela. Seu coração quase parava ao vê-la. Terça feira. 15:00 h. Ela esta sozinha. Tem de ser hoje. Agora. Ele entra. Ninguém além dela. Ao vê-lo, surpresa, susto, alegria, uma mistura de sentimentos. O mesmo sorriso que ele viu no seu primeiro dia de escola. Ele a olha como se não acreditasse. Ao olhar seu dedo o susto. Um aliança. Noiva? Ela confirma. A mesma sensação de dor e ódio o consome como quando ele a viu partir. Ele olha fixo para ela com o olhar perdido no nada. Abraça e lhe sussurra ao ouvido: - Vim buscar uma coisa que você me disse que sempre seria meu. O medo toma conta dela. A dor. O silêncio. Ele sai levando nas mãos algo que ela lhe prometera mas que não lhe pertencia mais. Caído no carpete do escritório, um corpo, apenas um corpo inerte sem vida. E sem o coração. Fora arrancado brutalmente. Ela o prometeu e ele veio buscar. Sabendo que não seria dele não aceitou que fosse de outro. O amor virou insanidade.
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A capela Havia uma estrada escura rodeada de árvores altas. Cheia de pedregulhos. Era bem longa e reta. Uma capelinha antiga e abandonada. O cheiro de vela e flores era sentido por algumas pes soas que por ali passavam. À noite poucos se aventuravam a caminhar por ela. Diziam que ouviam gritos e gemidos quando se aproximavam da tal capela. Outros viam o claro de velas dançando ao vento e que ali o céu sempre estava negro. E o cheiro era forte, fétido de enxofre, cheiro de sangue. Cheiro de morte. A capela era muito antiga e a lenda também... Conta-se que naquela capela havia um padre que caiu em tentação e se envolveu com uma menina muito jovem. Uma garota adotada por um casal sem filhos. Muitas pessoas viviam naquelas redondezas. E todos gostavam do padre. Nunca, em nenhum momento iriam imaginar o que se passava naquela capela. Ele entrou numa viagem insana. Prometeu muita coisa à menina que sabia que jamais poderia cumprir. A bem da verdade, ela era muito mais manipuladora do que ele podia imaginar. O envolveu vagarosamente, a cada dia, a cada gesto e palavra. Ele nem percebeu onde estava entrando e o que o esperava. Os pais adotivos da garota nunca imaginaram nada. Eram inocen tes. Eram puros.
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paulo sutto Numa tarde, ela vai até a capela. O seduz. O convence que se amam... E como a carne é fraca, ele cai. Fim de tarde, ela se vai. Ele fica arrasado. Pecou contra os céus. Ele precisa fugir. Precisa de perdão. Antes de fugir, ele vai até a casa da família. Precisa do perdão. Noite. Entra na casa. Para sua surpresa ela está sozinha com um sorriso enigmático. Ela o seduz novamente. Ele se desespera. Tenta lutar contra aquilo, mas é mais forte. Caí novamente. Chora copiosamente. Sente todas as dores da alma. Ela olha para ele, e diz: - Acabou. O inferno o espera. E começa a rasgar seu vestido e grita desesperadamente, e se agita. Ele nem sabe o que está acontecendo. Olha pela janela e vê saindo da mata ao redor da casa pessoas com tochas. Ela sai correndo e gritando para fora. Os homens se aproximando com as tochas e armas. Ele sai na soleira da porta. Olha apavorado. Ela está conversando com o pai, que estava à frente do populacho, e aponta para ele. Em instantes avançam sobre ele. O agarram e arrastam. O destino: a capela. Ela fica olhando maleficamente. O sacrificam sem dó. O mataram sobre o altar de modo hediondo tamanho foi o ódio que a menina despertou em cada um deles. Essa é a lenda. Dizem que os gemidos e gritos são do padre, e o cheiro de enxofre é da menina. Menina que segundo a lenda nunca mais foi vista após aquela noite.
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O casarão O velho casarão permanecia ali, imponente, mas abandonado há muito tempo. Contrastava com as construções modernas. Seu portão estava tão enferrujado quanto o corrimão que acompanhava a longa escadaria que dava acesso à sala de entrada que ficava no segundo andar. Havia algo de sinistro e misterioso nele. Suas janelas de madeira sempre estavam fechadas e já mostravam sinais de podridão. Na -fa chada, uma data mostrava sua idade. Fora construído em 1932. Mas eu não tinha noção da data em que fora fechado. Na verdade, sempre me sentia desconfortável ao passar por ele e sempre evitava passar pela calçada onde ele repousava, guardando seus segredos. Uma escola de informática se estabeleceu bem próximo do casarão e acabei tendo que fazer um curso de reciclagem e, consequentemente, eu tinha de passar toda noite defronte ao tal casarão. Eu evitava olhá-lo, mas algo me fazia fixar os olhos nele. E percebia que não havia nada de estranho: ele estava lá, imóvel, escuro e -per turbador. Numa quinta-feira chuvosa, ao sair do curso, tive minha visão atra ída por algo estranho e assustador. Uma luz fraca vinha da janela, que agora estava semi aberta. Olhei ao redor e notei que mais ninguém estava na rua, apenas eu. Tudo estava apagado, inclusive o prédio de onde eu acabara de sair após o curso. Não conseguindo controlar meus passos, eu me aproximei do por tão e ele se abriu, como se me esperasse. Entrei. E, como se flutuasse, rapidamente me vi no topo da escada. Vi a porta aberta. Dentro estava parcialmente escuro, apenas uma fraca luz que parecia vir de uma vela ou lampião.
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paulo sutto Entrei e estremeci ao ouvir a porta se fechando logo após minha passagem. Na sala, alguns móveis cobertos por tecidos pareciam fantasmas. Eu me dirigi até a janela que vi da rua, e que estava semi-aberta. Olhei para fora. Não acreditei no que vi. Tudo estava mudado. Era como se eu -ti vesse viajado no tempo. Uma paisagem do ano de 1940, aproximada mente. Ouvi alguns gemidos assustadores. De dor, de angústia. Saí da sala e procurei encontrar a pessoa que emitia aqueles sons. Apesar do medo, comecei a percorrer a casa, escura e estranha. Havia muitos cômodos, o casarão parecia ainda maior por dentro. Entrei por um corredor, de onde se podia ver várias portas em ambos os lados. Uma delas estava aberta, deixando sair uma fraca luminosidade e também os sons que me assustaram. Ao entrar, eu me deparei com uma cena que meus olhos nunca mais esqueceram. Dois corpos pendiam pendurados a uma viga do telhado. Um casal. Suas roupas já estavam podres. No canto do quarto uma garota sentada, abraçada aos joelhos, estava me olhando fixamente, com olhos que me causaram uma sensação de medo, de pavor e, ao mesmo tempo, de piedade. Fiquei ali por alguns segundos, parado, tentando assimilar a cena. Ao me aproximar da garota notei que ela estava sentada numa poça de sangue. E tinha um cheiro horrível. Ela mantinha seu olhar fixo em mim, como se me hipnotizasse. Gelei... Antes que eu pudesse ter qualquer tipo de reação, além dos tremores que pareciam me atingir até os ossos, a garota se dobrou para frente e vomitou um jorro vermelho vivo sobre o linóleo, engrossando a poça viscosa que a cercava. Meus joelhos ameaçaram me derrubar, mas eu sabia que, caso me deixasse envolver pela atmosfera sobrenatural do casarão, de duas, uma: ou eu ficaria louco de pedra, ou eu iria morrer - ter um infarto, ou qualquer coisa que um homem da minha idade e da minha condição física tivesse, sob circunstâncias como essa que se apresentava. Apesar do pavor que a cena me inspirava, havia também a- im pressão de que eu estava ali por algum motivo crucial. Afinal, eu fôra atraído. E, como todo bom cristão, eu acreditava em Deus. No Diabo.
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contos para ler antes de dormir E nas forças e coisas que habitam o véu entre o Céu e a Terra. Portanto, eu acreditava que havia uma razão para que eu estivesse presenciando aquele horror. A garota terminou de expelir mais uma gorfada sangrenta e, sem se dar ao trabalho de se limpar, firmou aquele olhar ambíguo na minha direção. Seu queixo branco – aliás, toda ela era tão branca quanto uma folha de papel -, manchado por trilhas de cor carmim, movia-se rapidamente, para cima e para baixo, formulando as palavras que penetraram na minha cabeça como tapas no meu rosto: - Eles não aguentaram, não aguentaram e se mataram, mas não foi minha culpa. Eu disse que não era minha culpa, mas eles não acreditaram em mim e agora eu fico aqui, para sempre... Ela soltou os joelhos, apoiou-se sobre as mãos e, dobrando o tron co para frente, despejou um rio fétido de sangue negro aos meus pés. Havia pedaços de carne se mexendo pelo meio, rastejando, feito les mas gordas. Meu coração batia na garganta, tornando difícil respirar. A corda que prendia os suicidas balançava suavemente e enquanto a garota apontava para os dois, a face inchada e coberta de larvas do homem ficou bem diante dos meus olhos lacrimejantes. Dei um passo para trás involuntariamente, escorreguei na poça de sangue e, ao cair, quebrei um dos pulsos. A dor me fez trincar os den tes, mas não foi tão forte quanto a vertigem que me dominou. Um toque frio no meu ombro e um bafo indescritível no lado do meu rosto, fizeram-me despencar numa espiral de imagens fugazes. - A culpa não foi minha - ouvi a garota soluçar, levando-me à origem de toda a sua desgraça. Minha cabeça começou a rodar. Vi luzes coloridas. Ouvi gritos e vo zes se perdendo no ar. De repente senti que estava caindo num abismo sem fim. Até me estatelar no chão, frio e úmido. A escuridão era total, mas mesmo assim sentia uma presença a meu lado. Era ela, a garota do casarão. Senti sua mão gelada pegando a minha e me puxando. Acompa nhei. Andamos calados por um bom tempo até visualizarmos uma pequena luz fraca a uma certa distância. Andamos mais um pouco até chegarmos na luz. Pude ver o que gostaria de não ter visto. A garota era apenas restos de um corpo. Seu rosto desfigurado, sua carne caiam dos ossos. Ela estava morta há muito tempo. A luz vinha de uma porta semi aberta. Entramos. Me apavorei ao notar que estávamos novamente no quarto do casarão. Porém, os -cor pos não mais estavam pendurados.
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paulo sutto E a garota aos poucos foi voltando ao normal. Novamente reconhe ci a garota do quarto. Ela me disse: Olha. Obedeci e dirigi meu olhar para onde ela apontava. Para uma parede branca. Imagens apareciam como se projetadas. Era uma casa, o casarão onde entrei, mas estava bem mais conservado. Para meu espanto, me vi entrando em um quarto e minha esposa estava comigo. A garota insistia em dizer que não teve culpa. As imagens se embaralharam, uma confusão em minha mente. Tive medo. Vi nesse instante a garota entrando também no quarto, mas junto dela um vulto a seguia. Ela sorria, mas um sorriso assustador, demoníaco, perverso e frio. Minha esposa se agarrou em mim. O vulto era o demo. A garota era minha filha. Em que época? Há muito tempo. Nas imagens projetadas na parede pude ver o desespero estampa do em meu rosto e de minha esposa. A garota veio até nós, uma corda pendeu das vigas do telhado. Ficamos ali imóveis. Sentimos ela colocando a corda em nossos pescoços mas nada pudemos fazer. O vulto negro tinha os olhos vermelhos, ficou ali vendo tudo. Senti o nó apertando minha garganta. O ar ficando escasso. O fim. Olhei para minha esposa e vi que já estava morta. A garota se encolheu num canto da cômodo e ficou ali olhando. Eu não tive culpa. Foi ele. Ele me prometeu muitas coisas e disse que vocês iriam atrapalhar tudo. As imagens foram ficando fracas até desaparecerem. Eu estava molhado de suor e tremendo. Olhei para a garota, ali no canto chorando. Eu não tive culpa, ela repetia. Ela estava morta, estava no inferno. Senti que queria que a perdo asse. Ou nunca sairia de lá. Fechei os olhos e desejei muito nunca ter olhado para o casarão. Já não sabia mais se estava vivo ou morto. O que era real e o que era pesadelo. Ela olhou dentro de meus olhos, pude ver seus olhos vermelhos, mas não eram de chorar, eram de maldade. Eu não tive culpa. Não tive. Foi ele.
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contos para ler antes de dormir Nesse instante pude ver o vulto se aproximando e ficando ao lado dela. Ela era dele agora. Eu não podia fazer nada. Fechei os olhos e comecei a repetir para mim mesmo que estava vivo. Pude ouvir a garota gritando, agora com ódio e com a voz rouca e animalesca. Eu não tive culpa. Eu não tive... Antes que ela terminasse a frase gritei ainda de olhos fechados: - Teve culpa sim, você é a culpada, não te perdôo. Quero minha vida de volta. Volte para o inferno que é o seu lugar. Você quis assim. Você fez um acordo. Cumpra sua parte. Ela urrava com ódio. Não tive culpaaaaa. Tudo ficou escuro. Me senti caindo novamente. Gritos, vozes, choro, ranger de dentes... Quando voltei a minha realidade estava sentado em um banco em uma praça, do outro lado da rua, em frente ao casarão. Estava novo como se estivesse recém construído. Da sacada uma linda mulher me acenou com uma criança nos braços. Minha esposa e minha filha. Eu segurava um jornal nas mãos. Olhei para a data. 01 de Dezembro de 1932.
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O tatuador Clarissa sempre teve loucura para fazer uma tatuagem. Ficava- en cantada vendo as revistas de rock de seu pai, os caras das bandas todos tatuados. Seu pai também tinha umas, mas como ela só tinha 14 anos, não conseguia convencer seu pai a deixar fazer uma. Ela nunca entendia, mas ele sempre dizia que havia um perigo que ninguém sabia explicar. O tempo passou, 16, 17 e 18. Maioridade. O pai cede aos pedidos de Clarissa. Sábado de manhã, eles vão até um tatuador bem conhecido. Adrenalina. Uma sensação inexplicável, um misto de emoções toma conta de Clarissa. Medo, alegria, frio, uma sensação de que não deveria fazer, mas o desejo de fazer é maior. O tatuador pergunta se ela já sabe qual imagem quer fazer e que parte do corpo. Ela diz que não sabe ainda a imagem, mas quer a tatua gem no antebraço esquerdo. Enquanto ele continua tatuando um rapaz que já possui várias, -en trega a ela uma pasta com imagens para que ela escolha alguma. Folheia com as mãos já trêmulas junto ao pai. Um vampiro. A escolha está feita. O tatuador pergunta se ela tem certeza disso. Afirma que sim. Tatuagem terminada. Trabalho perfeito. Parece quase real. Valeu cada centavo. O tatuador lhe explica os procedimentos a serem tomados e diz a ela que qualquer coisa estranha que aconteça com a tatuagem, para ela ligar para ele. Ela não entendeu a recomendação e nem deu muita atenção.
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contos para ler antes de dormir Mas quando olhou para a pasta das imagens, estranhamente notou que a imagem do vampiro não estava mais lá. Quando o tatuador percebeu seu olhar de espanto, fechou a pasta e disse que ele sempre tira as imagens feitas da pasta para que todos tenham uma tatuagem exclusiva. Encantada, maravilhada com a tatuagem, pai e filha saem e vão para casa. Conversam, passam na sorveteria, vão ao shopping, com pram livros sobre vampiros, um dos assuntos preferidos de Clarissa. Uma semana se passa. Nada de “estranho” aconteceu com a tatuagem. Numa noite, Clarissa sente algo estranho, um formigamento na parte tatuada, algo incômodo, desagradável, mas não comenta com ninguém. Foi dormir, acordou, normal. Outra noite, antes de dormir, a mesma sensação de formigamento, como se o vampiro tatuado quisesse sair de sua pele, como se tivesse vida, ela se assusta, mas está com muito sono. Adormece. Na madrugada, acorda, mas muito sonolenta vai à cozinha tomar água. Abre a geladeira, ainda quase dormindo, e quando leva a mão para pegar a garrafa de água leva um susto, seu braço está limpo, sem a tatuagem. Um grito acorda seu pai que desce correndo para a cozinha. Ela olha novamente e a tatuagem está lá. Foi sua imaginação e sono pregando uma peça. Na noite seguinte, a mesma sensação. Na madrugada ela acorda assustada e acende a luz, olha o braço, nada, limpo. Um medo e deses pero toma conta de Clarissa. De repente um vulto, uma sombra entra pela janela aberta, acompanhado de um forte vento. A luz se apaga sozinha. Ela sente uma presença bem próxima dela, uma respiração forte e o formigamento volta com mais intensidade. A luz volta a se acender, ela olha para o braço, normal, seu vampiro voltou, está lá. Mas Clarissa nunca tinha notado na sua tatuagem aquele fio verme lho que escorria dos lábios de seu vampiro. E vai até a cozinha tomar um copo de água. Sente um gosto estranho na boca, um gosto doce, um sabor que ela nunca tinha sentido.
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paulo sutto Após tomar a água, deposita o copo dentro da pia abrindo a tornei ra, e nem nota a mancha vermelha que ficou na borda e se vai com a água corrente. E não era batom. E seu vampiro havia voltado e estava em seu braço. Quase real. Ou seria real.
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Neblina Há uns dias atrás tive de sair bem cedo para acompanhar minha filha até o ponto de ônibus pois ela precisava estar mais cedo na -fa culdade. Eram cinco horas da manhã, e como havia chovido na noite anterior, acompanhado da chegada de uma frente fria, havia uma neblina bastante intensa por conta disso. Nesse horário as ruas estão desertas, quase todas as pessoas ainda dormem. Como já disse, a neblina era densa, dando para se ver apenas uns metros à frente e outros às costas. O trecho da caminhada era curto, em no máximo quinze minutos chegamos até o ponto. Estava bem frio aquela madrugada. Esperamos uns dez minutos até o ônibus surgir no meio da neblina e encostar no meio fio. Entrei rapidamente para colocar a bolsa dela no corredor e saí em seguida. Nos despedimos com um beijo, o ônibus saiu devagar e sumiu novamente na neblina. Retomei o caminho de volta. Coloquei as mãos nos bolsos para me proteger do frio. Enxergava poucos metros à minha frente. Notei algo estranho. Normalmente os cães latem e avançam quan do pessoas passam pela rua, principalmente na madrugada, mas não sei se devido ao frio tudo estava silencioso. Um silêncio quase assustador. E havia sim cães nas casas daquela rua. Caminhei por algum tempo e notei que depois que eu havia passa do é que os cães começavam a latir e avançar.
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paulo sutto Mas latiam demonstrando medo, e quando avançavam faziam com ódio. Mas não era minha presença que causava essas atitudes dos cães, mas sim alguém que vinha após mim. Olhei para trás mas devido à neblina não consegui ver ninguém. E os cães latiam ferozmente. Por uns instantes parei, para ver se a pessoa se aproximava, mas nada. Notei porém que a pessoa, ou o que fosse, que me acompanhava também havia parado, pois os cães continuavam a latir e a avançar. Senti um medo e um arrepio, que não era apenas de frio. Continuei a andar, um pouco mais rápido agora. E para meu de sespero, a pessoa ou fosse lá o que fosse também apressou os passos. Comecei a ouvir passos, e eram mais de uma pessoa a caminhar. Olhei novamente para trás, porém sem parar de caminhar. A neblina ainda era densa, mas me pareceu ver uns vultos, cami nhando, pareciam duas ou três pessoas. Continuei a caminhar. A distância que percorri quando fiz o per curso contrário levando minha filha ao ponto de ônibus parecia bem curta. Aumentei mais ainda minhas passadas. Continuavam a me seguir. A rua era um declive suave, mas que ajudava muito a caminhada. Cheguei até uma esquina onde eu deveria virar à esquerda e logo estava em casa. Um alívio preencheu meu ser. Senti que ainda me acompanhavam pelos latidos dos cães em fúria. A neblina continuava intensa. Mais alguns metros e estaria em casa. Minha respiração estava ofegante e meus pulmões estavam no -li mite. Enfim, abri o portão de casa e entrei rapidamente. Eu sabia que iriam passar ai em frente de minha casa. Apesar do medo que me dominava e minhas pernas que insistiam em tremer, fiquei ali parado segurando a maçaneta da porta da sala e olhando para a rua. Os cães latiam, cada vez mais próximos de minha casa. Por fim a cachorrinha que temos em casa e que fica no quintal, começou a latir e a avançar. Eles estavam bem ali na frente de minha casa. E senti que ficaram parados ali por alguns minutos. Consegui sentir eles me olhando, mas a neblina não me deixou vê-los. Fiquei ali, imóvel, sem conseguir expressar reação.
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contos para ler antes de dormir Aos poucos minha cachorrinha foi parando de avançar e de latir. Deu uma choramingada e voltou para sua casinha. Eles haviam ido embora. Nas próximas casas vizinhas da minha, os cães começavam a latir e a avançar. Entrei em casa, voltei para minha cama, ainda faltavam uns minu tos para meu horário de levantar. Fiquei ali, pensando na cena singular pela qual havia passado. Nunca comentei com ninguém sobre isso. E também nunca consegui entender o que realmente aconteceu. De uma coisa tenho certeza. Não eram pessoas, pelo menos não pessoas vivas. Acredito que muitas coisas nunca saberemos com certeza nessa vida.
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Taxidermia Taxidermia ou a arte de embalsamar animais é um processo mile nar, e seu início remonta aos egípcios há mais de 2.500 AC. Uma arte que passa de pai para filho. Ou de avô para neto, depen dendo do caso. John sempre teve orgulho de seu avô. Passava horas na oficina com ele. Se encantava a cada etapa do processo. Desde o momento em que o animal era encontrado morto até o acabamento final. Ele aprendeu com o avô que nunca se matava um animal para depois empalhá-lo. A morte tinha de ser natural. Seu avô era mestre nessa arte. Já havia trabalhado para museus, para universidades, e com todo tipo de animais, desde pequenas aves até animais de grande porte. Era o herói de John. O Sr. Harris, o avô de John era realizado em seu trabalho, porém algo não o deixava feliz. Era o descaso que seu filho Júnior dava à sua arte. Nunca se interessou e ainda zombava de seu trabalho. Era um pro blema. Júnior sempre causou problemas, logo aos 13 anos apresentou pro blemas com álcool e depois com drogas. Na escola era o garoto problema, em casa não era diferente. Por três vezes estragou trabalhos do Sr. Harris. Mas no seu neto John, o Sr. Harris via a perpetuação de sua arte, e ele se empenhava em ensinar cada detalhe do processo a John, que se aplicava e devotava roda sua vida no aprendizado. Seu avô sempre o lembrava que a técnica servia para todos os -ani mais, grandes e pequenos, do ar ou da água.
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contos para ler antes de dormir Aprendeu a tirar a pele, a tirar as partes internas, a preparar solu ções para conservar a pele. Aprendeu a usar a serra para os casos onde os ossos precisavam ser serrados. Era um aluno exemplar. Mas sofria a mesma dificuldade de seu avô. Seu pai o atormentava sempre que podia. Sua mãe falecera quando ele tinha 6 anos, e ele viveu desde então com os avós. Júnior, o pai, viveu sozinho, tendo como companhia as bebidas, drogas e as prostitutas que sempre o acompanhavam. E vez ou ou outra aparecia para visitá-lo. Raramente sóbrio. Toda vez que aparecia causava problemas, implicava com os ani mais que estavam sendo empalhados, e se dessem uma chance ele destruiria alguns. Sempre foi assim. Sr. Harris nunca soube o porque dele ter tanto ódio pela taxidermia. Mas nada pode fazer para que Júmior gostasse da arte. Enfim, a vida na oficina de taxidermia continuava como sempre. John agora já deixara a teoria e partira para a prática ajudando seu avô. E se saindo muito bem. Seu avô ficava admirado com o desempenho do neto, e isso era bom, afinal ele já estava com a idade avançando e sabia agora que teria um substituto. John agora já estava com 19 anos. Um profissional taxidermista. Um dia recebem a notícia de que Júnior falecera. John não soube definir o sentimento que teve naquela hora. Um sentimento de frieza tomou seu coração. Era como se mais um animal acabasse de perder a vida. Ele sabia que seu pai detestava a taxidermia. Mas ainda assim -pen sou em fazer algo por ele. Junto com seu avô foram até o necrotério, pegaram o corpo do pai e o levaram para prepar o funeral. Durante o serviço funerário, algumas pessoas perguntaram o -por que do caixão estar lacrado, e simplesmente responderam que era um desejo de seu pai. Ninguém imaginaria que ali só estavam suas vísceras e outras-par tes desnecessárias para um bom trabalho de taxidermia. O corpo de Júnior estava lá no fundo da oficina junto a outros ani mais passando pelo processo de secagem para depois ser totalmente preenchido com palha e outros materiais.
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paulo sutto Depois de alguns meses de trabalho Júnior permanecia sentado de forma bem ereta, e com braços cruzados sobre o colo a observar seu pai e filho exercerem a arte que ele tanto detestava. Seu rosto imóvel e com olhar fixo parecia saber que seu fim seria aquele. Talvez a obra máxima de avô e neto. Eles apenas sentiam por não poder exibi-lo ao público.
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E-mail Ela era super animada, popular, de alto astral. Toda a turma tinha o maior carinho por ela. Sempre feliz, alegre e animada... Apesar de ter perdido a mãe quando tinha doze anos. Tudo ia bem até o dia que ela começou a mudar, ficar triste, depri mida. Falava pouco e sempre estava no cemitério. Passava boa parte do dia lá, sentada no túmulo da mãe. Os dias foram passando e nada, ninguém a fazia voltar a ser feliz. Numa tarde de sexta feira todos os amigos que ela tinha em sua lista de contato de e-mail receberam uma mensagem estranha de apenas uma linha: Estou indo me encontrar com minha mãe. Todos estranharam pois há muitos meses ela havia se desligado da net e celulares e todo tipo de contato. Os amigos que a tinham como amigo no facebook também recebe ram a mesma mensagem. No mesmo dia logo no início da noite ela foi encontrada morta em seu quarto. A família ficou desconsolada, não conseguiam entender. E nem os amigos. Hora aproximada do falecimento: 9:00 hs Hora do envio dos e-mails e mensagem no facebook: 15:00 hs. Ninguém soube como ou porque, mas ela foi se encontrar com a mãe.
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Televisão Muitas vezes assistimos filmes de terror ou lemos livros e sentimos medo. Mas nada é comparado ao que você sente quando realmente vive a situação. Certa dia, comum em minha vida, nada de novo aconteceu, pelo menos até aquela hora da madrugada. Fiquei assistindo aos programas na TV, mudando de canal, tentan do achar algo que prestasse, o que é raro hoje em dia na TV aberta. Por fim, acabei encontrando um canal exibindo um filme bem antigo e acabei por assisti-lo na falta de coisa melhor. Lá pelas duas da madrugada o filme terminou e junto com ele minha disposição para continuar ali vendo a TV. Meio sonolento, procurei pelo controle que jazia jogado em algum canto do sofá, ou em outro canto da sala. Ao encontrá-lo aperto o botão POWER, o aparelho se apaga todo, juntamente com meus olhos cansados. Me arrepio inteiro ao ouvir novamente sons vindos do aparelho desligado. Penso ter apoiado a mão sobre o controle e talvez ligado a TV novamente. Pego o controle e novamente clico o POWER mas nada acontece. Fico ali paralisado de medo, sim, isso é fora da normalidade. Tento me enganar achando que é um defeito no controle. Clico várias vezes, inutilmente. A televisão continua lá, ligada, despejando imagens e sons. Ainda tento controlar meu medo. Me levanto, trêmulo. Caminho até a tomada e a arranco num puxão, na esperança de que o silêncio tome conta e a TV se desligue.
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contos para ler antes de dormir Puxo o fio. Silêncio. Apenas 8 ou 10 segundos de silêncio. Ainda estou abaixado quando ouço novamente vozes e música pre enchendo toda a sala. Confesso que nesse momento o desespero toma conta de todo meu ser. E fico gelado. E se pudesse me ver no espelho com certeza veria uma pessoa totalmente sem cor. Lá fora só a escuridão e o silêncio mórbido e gelado. Gelado como estava meu sangue e coração. Volto e me sento no sofá. Imóvel. Assistindo à programação. Assistindo a uma TV que nem à tomada está mais conectada. A cena é bizarra. Assustadora. Surreal. Mas é real e está acontecendo e estou eu ali, sentado e imóvel. Consigo ouvir as batidas de meu coração. Sinto que o medo se embola em meu estômago e sobe até minha garganta. Sinto que meus olhos estão se embaçando e vou chorar. Não sei como descrever o sentimento de pavor e desespero nessa hora. Sinto o suor escorrendo pelo meu rosto e minhas costas já enchar cadas. Meu coração parece que vai estourar a caixa toráxica e saltar no tapete da sala. De repente, acordo num pulo, minha respiração ofegante, suado e desesperado. A televisão continua lá. Ligada. Olhando para mim. Me desafiando. Estou com o controle na mão mas tenho medo de apertar o POWER. Tenho medo do que pode acontecer. Continuo ali sentado por quase meia hora. Crio coragem e dou um clique. A imagem some. Fica o silêncio e a escuridão. Mais tranquilo me arrasto até a cozinha, tomo um copo de água e vou dormir. Na manhã seguinte, acordo normalmente. Saio pra rua. Vou tomar um café no barzinho da esquina. Hoje não tô a fim de fazer nada.
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paulo sutto Dou umas voltas pelas ruas e volto pra casa. Penso no sonho que tive e das sensações tão reais. Volto pra casa. Me jogo no sofá e ligo a televisão. Nada, só uma tela preta e muda. Clico novamente. Nada. Verifico as pilhas do controle. Tudo ok. A tomada. Penso na tomada e me arrepio. É a última coisa que vou ver e tenho medo do que vou encontrar. Um vento gelado passa pela sala quando confirmo o que mais tinha medo. A tomada está fora de seu lugar, jogada no chão. Volto pro sofá e fico lá olhando para a tela negra e muda. E ela olha para dentro de minha alma. Fico ali, esperando que ela me mostre o que ela quer que eu veja.
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Visita noturna Todas as noites minha mãe depois que nos deitávamos, eu e meus irmãos, ela entrada no quarto pra ver se estava tudo bem. Havia uma cortina de tecido florido na porta. Uma noite, me lembro bem da figura dela aparecendo na cortina entreaberta e nos observando. Eu estava acordado ainda. Mas a sensação foi estranha. Um arrepio tomou conta de meu corpo sonolento. Notei que ela saiu, fechando a cortina atrás de si. Não sei bem o porquê, mas no mesmo instante perguntei: - Mãe, a senhora esteve aqui no quarto agora? Silêncio... Repeti a pergunta. Percebi que a acordei e ainda sonolenta me respondeu. - Não filho, não estive aí agora não. Boa noite. Novamente o arrepio e o medo. Fechei os olhos apavorado e dormi. Nunca soube se alguém me visitou ou se tive uma visão. ......
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Hospital psiquiátrico Quando eu era bem mais jovem, há um bom tempo atrás, trabalhei em um hospital psiquiátrico aqui em minha cidade. Não que essa profissão me encantasse, mas eu precisava de um emprego e foi o que eu encontrei na época. Na verdade trabalhei pouco mais de um ano lá, mas o que eu vi nas noites em que eu dava plantão, permanecem em minha mente até hoje. Sempre preferi os plantões noturnos por serem mais sossegados e por ter um extra no salário. Mas com o tempo percebi o porquê dos outros funcionários não gostarem desse horário. Eu entrava às 22 horas e ficava até às 06 da manhã. Até a meia noite tudo era tranquilo, mas depois, quando todos os pacientes já estavam recolhidos em seus quartos, era que o problema começava. Nós, a equipe de enfermagem, íamos para o posto para fazer relatórios e preparar medicações. E não eram incomum ouvirmos vozes, passos, às vezes até alguns gritos abafados. Percebi então que meus companheiros de trabalho nem se preocupavam com isso. Comecei a pensar que era coisa de minha cabeça e que nada da quilo era real, e também não comentava nada, temendo que rissem de minha cara. Confesso que sempre me arrepiava ao ouvir essas manifestações. Numa noite fui escalado para fazer uma visita de rotina aos quar tos para conferir se tudo estava certo, se todos estavam acomodados, enfim.
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contos para ler antes de dormir Um frio tomou conta de meu corpo, mas aceitei a tarefa sem pro blemas. Ficamos dentro do posto, fizemos o que tinha de ser feito. E lá pelas 2 horas, entendi que precisava fazer a “ronda”. Já tinha ouvido muitos sons naquela noite e me assustado muito. O posto da enfermagem ficava no fim do corredor, e os quartos preenchiam as duas laterais, apenas iluminado por uma lâmpada ama relada bem no meio do corredor. Levantei-me e fui abrindo a porta de cada quarto. Devagar para não fazer barulho e acordar algum paciente. Aparentemente nada de anormal. Mas ao sair de um dos quartos, algo me deixou gelado e imóvel. Bem no meio do corredor. Ele estava lá. Era alto, cabelos e barbas longas, as roupas do hospital apodrecen do em seu corpo e no pescoço uma corda. Seus pés não tocavam o chão, e a corda estava presa em nada. Fiquei ali parado, sem ação, tremendo e sentindo o pior de todos os medos. Atrás dessa figura sinistra vi outras pessoas circulando, saindo e entrando nos quartos, algumas gemendo, se arrastando, outras gri tando. Tudo parecia uma imagem em preto e branco de televisores antigos e mal sintonizados. Acho que fiquei por alguns segundos vendo essa cena, até que senti uma mão tocar em meu ombro, o que me fez dar um salto e voltar á realidade. Era minha colega de trabalho. Me perguntou se estava tudo bem. Respondi que sim. Ela olhava para o mesmo corredor que eu, mas aparentemente não via nada de diferente, apenas um corredor. Perguntei se ela via ou ouvia algo estranho naquele lugar. Ela de morou um pouco para responder, e depois me disse que sim, mas que com o passar do tempo, tudo passava a fazer parte da rotina e não incomodava mais. Essa minha colega tinha o olhar bem cansado e sofrido. Ela me perguntou se eu queria mesmo conviver com aquilo tudo, todas as noites de meu trabalho.
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paulo sutto Pensei bem, e decidi que não. Trabalhei mais um mês e saí. Deixei os fantasmas do corredor. Se você tem alguma dúvida sobre esses fatos, pode conversar com pessoas que trabalham na área de enfermagem e eles confirmarão o que estou dizendo, alguns com menos e outros com mais detalhes. Mas isso é real.
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O elevador Nunca gostei e nem tinha interesse em morar em apartamento e muito menos com elevadores que sempre me deixavam apavorado. Toda vez que eu entrava em um ficava imaginando aquela caixa travando no meio da subida e ficando ali por várias horas, até conseguirem fazer voltar a funcionar. Mas como nem tudo é como a gente quer e por necessidade, acabei tendo de morar em um apartamento no oitavo andar de um edifício bastante velho e encravado em um canto de uma rua escura e num bairro um tanto quanto complicado. Os outros moradores do prédio eram todos estranhos, não falavam com ninguém, não sorriam e todos saíam somente o necessário e logo voltavam e se trancavam dentro de casa. Ia pro trabalho, voltava e me enclausurava no meu apartamento. Algumas vezes ouvi barulhos estranhos no corredor, parecia pessoas discutindo, gritando e correndo. Certa vez tive a impressão de ouvir até tiros, mas quando eu saía para fora, estava tudo quieto sem uma pessoa sequer no corredor. Mas um fato ocorrido em determinado dia me fez abandonar o edifício o mais rápido que pude. Naquele dia eu voltei um pouco mais tarde para casa, deviam ser quase dez da noite. Cheguei, cumprimentei o porteiro, ele retribuiu com um grunhido quase inaudível, me disse para tomar cuidado, pois era sexta feira. Não entendi nada e também não queria entender. O que eu queria era tomar uma ducha e cair de cara na cama desmaiado. A semana havia sido cansativa. Entrei no elevador e apertei o oito, a caixa de aço deu um sola vanco e começou a subir, parou no primeiro, a porta se abriu, mas o corredor estava vazio.
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paulo sutto O mesmo acontecendo no segundo, terceiro, quarto... enfim em todos. Aquilo me deixou assustado, confesso. Apenas os corredores escuros com uma fraca iluminação no final. E pior, eu tinha a sensação de que pessoas estavam se acomodan do dentro do elevador a cada parada que ele fazia, mas eu sabia que isso era impossível. Eu estava sozinho. Por fim cheguei ao oitavo andar. A porta que abriu em todos os andares agora cismou de travar. De repente, e para meu desespero, de fora vinham muitos barulhos, realmente assustadores. Pessoas correndo, gritando, um desespero total. Parecia uma guerra, gritos, gemidos, muitas pessoas falando ao mesmo tempo e por fim o som de tiros sendo disparados. Me encostei na parte do fundo do elevador e fiquei ali acocorado. De repente a porta se abriu com muita força e olhei para fora. A cena era terrível. Pessoas caídas pelo chão. Havia sangue, muito sangue no piso e pelas paredes. No fim do corredor um homem bem alto segurava um rifle e atirava nas pessoas. Atrás dele um vulto enorme de olhos vermelhos falava algo em seus ouvidos. Das pessoas caídas pude ver saírem vultos como sombras e tentarem vir para onde eu estava. Tive muito medo quando percebi isso e que o vulto atrás do -ho mem com o rifle fixou seu olhar em mim. Fiquei ali agachado e com os olhos fechados. Foi quando ouvi a porta do elevador se fechando com muita força. Continue ali até que, como se fosse mágica, todos os barulhos cessaram. Apesar do medo, fique ali imóvel até sentir que tudo estava em paz. A porta se abriu, só o corredor escuro me esperava. Saí e me dirigi ao meu apartamento. Não consegui dormir naquela noite. Na manhã seguinte eu já estava procurando uma nova casa para morar. E conversando com o porteiro descobri o porque dele ter me avisa do para tomar cuidado. E fiquei sabendo que um anos após o edifício ser inaugurado, um morador; após uma briga com sua esposa e após saber que havia sido traído, armou uma emboscada para ela e seu amante.
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contos para ler antes de dormir No corredor ele assassinou a tiros a esposa, o amante e mais seis pessoas que saíram para ver o que estava acontecendo, inclusive crian ças e depois atirou contra a própria cabeça. E sempre aquela cena se repete a cada data do ocorrido. Sempre. São almas penadas, sem rumo, buscando paz. E que na verdade algumas dessas almas ainda vivem no edifício e que não se sabe exatamente quem eram os vivos e quem eram as almas penadas a circular por aquele corredor. Dois dias depois eu estava me mudando.
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Carne Abri a porta e peguei no congelador aquele pote plástico hermeticamente fechado que lá estava há alguns dias já. Retirei a carne e coloquei para descongelar em uma água morna. Enquanto isso me sentei na cadeira, e fiquei observando. Minha mente então viajou até aquele dia cinza e frio de começo de inverno. Quando nos encontramos. Ela parecia apaixonada, seus olhos -ver des eram lindos. Seus lábios, sua voz, enfim, tudo me deixava embria gado. Mas eu não podia deixar que esse sentimento tomasse conta de mim. Não era para isso que eu havia ido até lá. Ela falava muito, talvez para disfarçar sua timidez. Sentir o calor de sua mão foi algo surpreendente para mim. E rapidamente coloquei minhas mãos nos bolsos. O sorriso dela era algo incomum. Quase não consegui fazer o que precisava ser feito. Mas era necessário. Ao voltarmos para casa, sugeri que passássemos em minha casa. E aí foi onde tudo aconteceu. Entramos e fomos para a cozinha. Eu disse que ia ao banheiro e logo voltei com um pano embebido em formol. Não foi difícil me aproximar dela e deixá-la desacordada. O resto do processo foi bem fácil. Ainda sinto sua carne sendo cortada cirurgicamente, cada pedaço. Sua fisionomia parecia de uma princesa dormindo. Além do formol apliquei outras drogas, não queria que ela sentisse dor alguma. Nem mesmo quando enfiei o punhal em seu coração. Parece loucura isso, não? Mas o que nesse mundo não é uma loucura?
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contos para ler antes de dormir Me diga você. São os instintos que precisam ser saciados. Não sei por quanto tempo terei carne na geladeira. Não sei quando terei de me mudar e sair à caça de uma nova vítima. Mas por uns dias estou tranquilo. Bem tranquilo. A propósito, aceitaria jantar comigo um dia desses? Sei fazer uma carne de panela ótima. Hummmmm, muito boa mesmo.
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A garota do cemitério Desde que seus pais morreram naquele acidente em que somente ela sobreviveu, Clara passou a frequentar cemitérios. Começou por aquele onde sua família foi sepultada. Passava horas sentada no túmulo, conversando com pessoas que ninguém nunca via. Às vezes ria, às vezes chorava. Depois passou a ficar mais tempo, a visitar outros túmulos. Fez amizade com os funcionários que acabavam trancando os -por tões no final da tarde e fazendo de conta que não a viam ficar lá dentro. Muitas vezes ela dormia lá. E quando os homens do cemitério, que era como ela chamava os funcionários chegavam, ela já estava acorda e esperando por eles no portão. Começou então a visitar outros cemitérios, mas sempre voltava para dormir junto com sua família. O tempo passou e certo dia ela notou quando estava saindo, um jovem muito bonito entrando com flores vivas nas mãos. Seus olhares se cruzaram. Um sorriso discreto. Ela saiu e só voltou bem à tarde. Novamente o jovem saindo, sem as flores mas com o mesmo sorriso. Novo dia, novo encontro. Nova troca de olhares. Novo sorriso. Vários dias se passaram assim, até que um dia ela o cumprimentou e perguntou se podia acompanhá-lo até o túmulo que ele visitava. Ele permitiu. Era um túmulo já bem antigo, sem vasos e já quase não se conseguia ler as inscrições.
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contos para ler antes de dormir Ela perguntou quem estava lá. Ele relutou em dizer. Ela entendeu e não insistiu. Ele olhou para ela com os olhos já prontos para chorar, mas se gurou. Disse então que ele estava ali, já há muitos anos. E que um dia a vira sentada sobre seu túmulo e deixando algumas flores. E sem que ela notasse, ele estava bem ao lado dela e seus olhos se cruzaram. E nesse dia ele se apaixonara. E a partir daí, todos os dias ele tentava ser visto por ela. Até que numa manhã o que ele tanto esperava aconteceu. Seus olhares se cruzaram novamente e ela o viu. E nesse dia ela também se apaixonou por ele. E mesmo em planos diferentes foram correspondidos. E até hoje ela sempre está pelo cemitério. Todos a vêem sozinha, andando e conversando, rindo e chorando. Acham que ela enlouqueceu de vez. Mas Clara sabe que não está sozinha. E sabe que um dia estará no mesmo plano que seus pais. E de seu amor eterno. Um dia... E ela espera ansiosa por esse dia...
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A menina corcunda Quando ela nasceu, seus pais se assustaram ao ver a deformidade que se apresentava em suas costas. Mas a amaram da mesma forma que amaram aos outros filhos. Mas mesmo assim sabiam que ela enfrentaria muitas brincadeiras de mal gosto com o decorrer do tempo. Quando foi para a idade escolar foi a pior fase. As crianças não foram ensinadas a conviver com diferenças. Quase todos os dias ela voltava chorando para casa. Parecia que as maldades das outras crianças não tinham medidas. Com o passar do tempo ela foi se fechando em seu mundo, fala va muito pouco, tinha um olhar perdido no tempo e quase nenhuma amizade. Ela foi crescendo juntamente com o ódio acumulado em seu coração. Até que uma certa tarde, na saída da escola alguns garotos começaram a zuar com ela. Ela continuou caminhando de cabeça baixa. Os garotos a seguiam, falando coisas que a feriam. Ela mudou de caminho, e eles continuaram seguindo-a. Eles nem notaram que estavam fazendo outro caminho, totalmente diferente do normal. De repente percebem estar num beco sem saída. A menina corcunda então se abaixa abraçando seus joelhos e deixando a corcunda mais saliente ainda. Os garotos sentem medo, um calafrio os invade quando o tempo muda e nuvens escuras tomam conta do céu, até então bem claro e com sol. Eles tentam correr mas se sentem paralisados, grudados ao chão.
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contos para ler antes de dormir Tentam gritar mas a voz não saí. Medo. A menina corcunda então sente algo forçando sua blusa nas costas. Sente medo. Os garotos olham apavorados ao verem algo rasgando a blusa da menina e tomando forma. São asas, seria ela um anjo? Não, as asas são negras, e enormes, como as de um morcego. Quando a menina corcunda se vira com seus olhos vermelhos e garras afiadas no lugar das unhas, eles sentem que será o fim deles. Num pulo, ela levanta vôo e salta sobre eles. Ataque fatal, usando as garras e as asas como armas mortais. Pedaços de carne e ossos voam como folhas de papel. Nenhum grito. Apenas sangue, muito sangue espalhado pela rua. A vingança foi feita, todo seu ódio foi colocado para fora. Ela dá mais um vôo e volta para o chão. Ela se abaixa, abraça os joelhos e sente as asas voltando ao normal. Agora é apenas uma menina corcunda novamente. Ela pega seus cadernos e sai do beco, tomando novamente o ca minho para casa. Agora ela já sabe como se defender.
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Cuidado com nossas crianças Minha mãe morava em um pacato condomínio de classe média. Um ótimo lugar. Um belo domingo fui visitá-la e me deparei com uma placa no meio do jardim com os seguintes dizeres: Cuidado com nossas crianças. Confesso que achei estranho a colocação do texto, mas entendi perfeitamente que devíamos tomar cuidado com as crianças que ficavam circulando por ali muitas vezes sem prestar a devida atenção. Achei até muito válido essa orientação, uma vez que por estarmos dentro de um condomínio, muitas vezes não prestamos muita atenção ao movimento. Certa vez fui jantar na casa de minha mãe e acabei me estendendo nas conversas e quando dei por mim já passava da meia noite e o papo estava bem animado ainda. Mas me levantei e disse que precisava mesmo ir pra casa, pois no outro dia eu tinha muito trabalho pela frente. Ela insistiu para que eu dormisse lá, pois ainda mantinha meu quar to arrumado como sempre. O convite era tentador mas não pude aceitar. Ela se mostrou muito preocupada, mas achei que fosse pelo horário. Me despedi e sai. Entrei no carro e por um momento pensei ter visto algumas crianças andando pela rua. Me assustei e quando olhei novamente não vi mais nada. Apenas a rua vazia. O céu parecia muito mais escuro do que os outros dias. Não havia lua. Dirigi alguns metros até sair do alcance da visão de minha mãe que ficou no portão. Logo após uma curva, para meu espanto, três crianças, duas meni nas e um menino estavam bem no meio da rua, paradas ali.
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contos para ler antes de dormir Pareciam hipnotizadas. Quase que zumbis com roupas antigas, cabelos espatifados e olhos avermelhados a me olhar. Senti medo. Tive de parar o carro pois não saiam da rua. Quando parei, senti algo batendo no porta malas, olhei e vi mais crianças lá. Apavorado, quando me viro novamente para a frente, mais crian ças estão sob o capô do carro, paradas em pé. E outras me olhavam pelo vidro fechado. Agora eram muitas. O desespero estava tomando conta de mim. Dou um pulo ao ouvir meu celular tocando. Minha mãe perguntan do se está tudo bem. Eu fiquei sem voz, não sabia o que dizer. Ela me disse: - Cuidado com nossas crianças. Cuidado. - Feche os olhos e faça uma oração. Faça isso. Nesse momento eu sabia que ela sabia o que estava acontecendo. Foi muito difícil fechar os olhos, mas eu precisava fazer isso. Com um pavor me dominando e vendo o número de crianças aumentando fechei os olhos e orei. Nesse momento senti que algo horrível acontecia fora do carro. Ouvi ventos, uivos, gritos e senti um calor intenso. Continuei orando. E só parei de orar quando senti que tudo havia voltado ao normal. Mas ainda assim tive medo de abrir os olhos e ainda vê-los todos ali. Senti forte odor de flores e uma paz. Abri os olhos e tudo estava normal. A lua no céu. Estrelas e as ruas desertas. Liguei o carro, fiz o contorno e peguei a rua que dava saída do condomínio. Passei em frente à casa de minha mãe. Ela não estava mais no portão. Mas via a luz de seu quarto se apagar me dando boa noite. Continuei indo ver minha mãe, mas nunca mais fui embora após a meia noite. E agora entendi o porque daquela placa. Até porque só depois percebi que naquele condomínio não havia nenhuma criança. Pelo menos durante o período diurno.
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Olhos Quando ele viu aqueles olhos, se encantou. Verdes, brilhantes como nenhum outro. Apaixonou-se. Mas a dona dos olhos jamais poderia ser dele. Era uma freira de vinte anos. Raramente ela saía do convento. E quando saía, era acompanhada. Seus dias eram imaginando aquele olhar. Um dia se encontram. Ela saiu sozinha. Ele a aborda e fala de seus sentimentos. Ela fica triste por ele. Mas diz que não poderia ser dele jamais, pois tinha feito os votos. Ele então fala que se apaixonara por seus olhos verdes. Ela se vira e leva as mãos ao rosto. Ao se virar novamente para ele. Um susto e um passo atrás. Nas mãos em forma de concha dois olhos verdes e lindos. Ela está de olhos fechados. Meus olhos posso te dar. Ela diz. Ele estende as mãos e com medo mas com carinho pega os olhos. Ela o olha e ele então vê que ela já está com olhos mais verde e vivos ainda. Ele se arrepende por querer algo que não podia ter. Ela o beija no rosto e se vai. Nunca mais a viu.
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O mágico da morte Como num passe de mágica a cidade acordou e lá estava bem no centro da praça aquele trailer, era todo colorido e tinha um pequeno palco montado a seu lado. Um grande cartaz de madeira ao seu lado indicava de modo curioso que ali naquela cidade estaria durante uma semana a presença de um verdadeiro espetáculo de magia sem truques. Kalled, o mágico real. Era assim que o cartaz o apresentava infor mando que ele rodava o mundo desde os primórdios da terra. O horário do espetáculo era 21:00 horas. Ninguém foi visto no trai ler. Ninguém entrou ou saiu de lá durante todo o dia. Isso deixava as pessoas curiosas e de certa forma desconfortáveis. Quem era esse Kalled afinal. Mistério e magia sempre atraiu as pessoas. E ao cair da noite, muitas pessoas já se aglomeravam na praça, em frente ao palco, cada um tentando reservar um bom lugar. 20 horas. As luzes do trailer se acendem, mas ninguém sai. Um burburinho se forma na multidão curiosa, ansiosa e com certo medo até. 20:45 horas. O palco se ilumina e as cortinas se abrem. Totalmente vazio. Silêncio total. Os minutos se arrastam. Ninguém se atreve a falar. Uma música de fundo começa a tocar. É uma música mística, su ave, vinda de algum lugar que as pessoas não conseguem identificar mas que parece preencher toda a praça e até a cidade. Parecia vir do além. Um arrepio tomou conta de cada pessoa na praça. 21 horas. O som da música aumenta. Uma nuvem de fumaça se forma no palco deixando impossível ver qualquer coisa.
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paulo sutto A música vai ficando mais suave e a fumaça vai se dissipando. E lá está ele. Kalled. Como se estivessem hipnotizados, todos o aplaudem. Ele se apresenta e anuncia o maior espetáculo de magia que aquela cidade já viu. Kalled, o mágico. Um homem bem alto e magro. Vestindo uma roupa que parecia ter saído do século passado. Tinha um grande cava nhaque com uma trança. Sua pele era de uma palidez mórbida. Após se apresentar sem expressar nenhuma reação, ele anuncia sua assistente de palco. Mirella era seu nome. Uma jovem aparentando 18 anos. Ruiva e com pele tão ou mais branca do que a de Kalled. Não disse sequer uma palavra, mas brindou o público com um sorriso extremamente cativante, mas ao mesmo tempo misterioso e sinistro. Após muitos números impressionantes que deixou toda a plateia estarrecida com mágicas que realmente não poderiam ser truques. Era impossível. Kalled anuncia o espetáculo final. Uma grande caixa de vidro apa rece no palco. Ao lado, cinco espadas. O público fica de boca aberta. Mirella sorri e entra na caixa. Kalled fecha a porta e vira a caixa deixando Mirella de costas para o público. Ele informa que é melhor que não vejam a expressão de dor no rosto dela. E pela primeira vez sorri para o público. Um sorriso assustador. Antes de usar as espadas ele demonstra como todas estão afiadas, cortando alguns pedaços de carne com elas. As pessoas começam a sentir medo nesse momento. A caixa começa a levitar. Kalled enfia a primeira espada. Mirella se contrai, e Kalled força para que a espada entre em sua coxa. O sangue escorre e começa a pingar pelo fundo caixa. Depois outra espada e mais outra, até que sobra apenas uma. Mirella está de cabeça baixa e sangrando muito. Kalled anuncia que a última espada será no coração. Mirella nesse momento ergue a cabeça e recebe a última espada. A cabeça tomba para a frente novamente. Silêncio total. Kalled agradece. E quando ele vai novamente girar a caixa para que o público possa ver Mirella de frente, uma nuvem de fumaça toma conta do palco. Não se vê nada. Quando a fumaça se dissipa, a caixa está totalmente vazia e limpa, sem sinal de sangue.
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contos para ler antes de dormir Mirella está nos braços de Kalled. Ambos sorrindo. Um sorriso triste e mórbido. Transmitindo uma dor que somente eles podiam entender. Agradecem. A nuvem de fumaça se forma novamente e ambos de saparecem. Cada pessoa ali presente sabia que aquilo que acabaram de ver não era truque, era magia, era sobrenatural. Mas não se atreviam a comentar. Aos poucos foram saindo e se dirigindo para suas casas. Apenas eu fiquei ali parado, tentando entender o que eu tinha visto naquela noite. De repente notei que a luz de dentro do trailer se acendeu. Era como se estivesse me chamado. Me virei para ir embora, mas ao caminhar me vi em frente a porta do trailer que se abriu lentamente. Entrei. Somente Kalled estava lá, ainda com seu traje estranho. Me sorriu. Me convidou a sentar. Notei que o trailer era formado por um sala apenas, e fiquei curioso para saber sobre Mirella. Como se ele adivinhasse meus pensamentos, seus olhos se enche ram d’água e me perguntou se eu queria mesmo saber sobre ela. Respondi que sim. Ele então me relatou que há muito tempo atrás, se encantara com magia e sonhava em ser mágico, não um fazedor de truques, mas um mágico com poderes. Desafiou os céus e inferno para ter esses poderes. E conseguiu. Mas isso teve um preço muito alto. Mirella foi o preço. Sua amada Mirella. Um pacto com o mestre das mágicas, Lúcifer. O poder lhe seria dado em troca de uma vida. Ele não imaginava que seria a vida de Mirella. Tudo ia bem, seus poderes assustavam as pessoas, todos tentando descobrir seus truques, sem resultados. Ele desafiava a todos. Um dia sonhou que ele matava Mirella no espetáculo das espadas. Acordou assustado. Teve um dia ruim. Não teve coragem de contar o sonho para Mi rella. Naquela noite, no número das espadas ele matou Mirella em fren te ao público. Todas as vezes que apresentava o número ela estava de frente para as pessoas e sorria quando ele enfiava as espadas, mas nessa noite, ele a virou de costas. Se revoltou contra Lúcifer por ter levado Mirella. Mas foi lembrado sobre o pacto e sobre o pagamento, a vida de uma pessoa, Mirella era essa pessoa.
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paulo sutto Ele não teve argumentos. Mas pediu então para que Mirella pudes se ficar sendo sua assistente eterna. E seu desejo foi concedido com a condição de que ele também, após sua morte permanecesse na terra apresentando seu espetáculo tétrico e cruel. Kalled então passou a conviver com esse castigo, assassinar todas as noites sua amada Mirella. Até que um dia não suportando mais essa vida, usou a mesma espada que matou Mirella e tirou sua própria vida. Ele foi para o inferno e nunca se encontrou com Mirella que só aparece no palco e desaparece após o show. Esse é seu maior castigo. Para toda a eternidade. Lágrimas escorriam pelo seu rosto velho e pálido. Nesse momento Mirella apareceu ao lado dele e pelo seu olhar e sorriso, pude sentir que ela o perdoara, mas isso não mudava o pacto feito. Mas ela o amava como sempre amou. Senti um arrepio. Fechei os olhos. Senti Kalled me abraçar e a névoa de fumaça nos envolveu. Abri os olhos e estava sozinho no meio da praça. Era madrugada. Voltei para minha casa e nunca comentei isso com ninguém. E também nunca ouvi nenhum comentário sobre o show de má gica. Às vezes fico imaginando se realmente aconteceu, e quando sinto isso, sinto a presença de Kalled e Mirella a meu lado. E sei com certeza que realmente aconteceu. E sei que Kalled e Mirella se apresentam todas as noites pelo mundo afora. E se amam apesar de tudo.
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contos para ler antes de dormir
A luz - Essa noite não conseguimos dormir lá em casa. Fez muito barulho no telhado. A noite toda. ............ - E as luzes? Vocês viram as luzes na noite passada? ......... - Sim, nós vimos sim, está cada vez pior, acho que vamos nos mudar... - Bem, nós vamos ficar. Até já nos acostumamos. Esse era o diálogo que sempre ouvia quando era criança, entre meus pais e alguns vizinhos. Mas como crianças, tínhamos o sono pesado e nunca ouvíamos nada. O tempo passou, alguns vizinhos se mudaram e minha família ficou lá. Até então eu nunca ouvira nada e muito menos vira alguma luz. Pelo menos até aquela noite. Eu já estava com 16 anos e morávamos na mesma casa, era uma espécie de chácara, onde haviam várias casas, mas a maioria estava vazia, pois as pessoas tinham medo de morar lá. Diziam que era um lugar assombrado. Às vezes ficávamos até tarde da noite sentados na varanda conver sando e contando causos. Certa noite, meu pai que já era um senhor bem idoso, pediu para que entrássemos, que não era bom ficarmos fora até tarde. Disse que poderíamos ver coisas que não eram boas. Isso é claro que aumentou mais nossa curiosidade e ficamos até mais tarde. No fundo da chácara havia um grande tronco cortado de um ipê que fora um dia uma árvore enorme.
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paulo sutto Já passava da meia noite e estávamos ali fora quando de repente tivemos nossa atenção voltada para o tal tronco. Uma grande luz se formava sobre ele e foi subindo como uma nuvem de fogo e se mo vendo lentamente até chegar e parar sobre o telhado de uma das casas da chácara. Uma das poucas casas que estava sendo habitada. Eu e meus amigos nos olhamos, mas estávamos apavorados de mais para comentar alguma coisa. A luz foi se esparramando sobre a casa até tomar conta dela e se infiltrar pelo telhado. Após isso, alguns sons estranhos e assustadores passaram a ser ouvidos por todos nós. Os sons eram abafados, mas pareciam rezas, conjurações e encan tamentos. Risos e algumas vezes umas vozes guturais. Pancadas nas paredes. Todo esse barulho durou aproximadamente uns 20 minutos. Após isso a luz novamente se formou sobre a casa, como se fosse saindo pelas frestas das telhas. E foi se dirigindo lentamente em direção ao velho tronco. Às vezes a luz parava e ficava alguns segundos, como se soubesse que estava sendo observada por nós. Quando estava pousada bem sobre o tronco foi sumindo lentamen te como se fosse uma névoa. Sentimos um vento gelado passando por cada um de nós e nos lembramos do que meu pai havia dito e fomos todos apavorados para dentro de nossas casas. Na manhã seguinte comentei com meu pai sobre o ocorrido. Ele não se mostrou surpreso, como se já estivesse acostumado com esses eventos noturnos. Só disse para não abusarmos e que o a pessoa que vivia naquela casa, sobre a qual a luz se derramou era praticamente surda. Mas que ele já estava acostumado com os sons e com a tal luz. Mas que não tinha uma explicação para me dar. Sabia somente que a luz habitava aquele lugar e junto com a luz, alguns seres que com certeza não eram do bem. E eu e meus amigos nunca mais ficamos até tarde da noite na varanda das casas.
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contos para ler antes de dormir
Espíritos Esse conto é um relato real, os nome da igreja e das pessoas foram trocados, e foi escrito na primeira pessoa. Eu já estava há 8 meses fazendo trabalho missionário na pequena cidade de Vargem Negra e estávamos trabalhando duro, as pessoas não queriam ouvir falar sobre religião, sobre Deus ou nada relacionado ao assunto. Eu e minha companheira estávamos meio desanimadas naquele fim de tarde. Havíamos andado muito aquele dia. Nossos pés estavam doen do e já íamos de volta para nossa casa que ficava no outro lado da cidade. Como a cidade era bem pequena e quase nem passava ônibus, resolvemos ir caminhando mesmo, assim podíamos aproveitar e de repente fazer algum contato com pessoas e dessa maneira, talvez - en contrar uma alma disposta a ouvir o que tínhamos a ensinar. Caminhamos por um bom tempo e quando percebemos estávamos em uma rua que não conhecíamos. Era uma rua estreita e escura, um tanto quanto assustadora até. Percebi que minha companheira estava com medo, e se aproximou mais de mim. De repente uma casa chamou nossa atenção, era como se ela estivesse se destacando na paisagem. A impressão que tivemos era de que ela queria que fossemos até ela e que entrássemos nela. Não trocamos uma palavra sobre esse sentimento, mas como se estivéssemos sendo arrastadas para lá, contra nossa vontade, nossas pernas nos levavam para lá. Mecanicamente nós paramos em frente à casa, e batemos palmas.
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paulo sutto A casa era bem antiga, velha e de dentro dela saíram dois homens já de meia idade, ficaram ali parados a nos olhar, como se fôssemos alguma coisa ruim. A sensação que tivemos foi horrível, só conseguimos perguntar pelas esposas deles, se elas estavam em casa e que gostaríamos de falar com elas. Eles ficaram nos olhando fixamente de um modo que nos arrepiou de medo. E depois de um tempo, nos disseram que não haviam mais nin guém na casa e que moravam sozinhos. Nos despedimos e saímos, segurando a vontade de sair correndo. Alguns passos à frente minha companheira me perguntou se eu tinha sentido o mesmo que ela sentiu. E eu confirmei que sim. Logo depois chegamos em casa, entramos e fomos para a cozinha. O dia havia sido ruim demais. Tomamos um copo de água cada uma e colocamos algo para co zinhar. Ao nos dirigirmos para nosso quarto, e passarmos de frente ao banheiro, quase morri de susto. Notei que os dois homens que encontramos estavam lá. Parados, imóveis. Não sei como, mas nos seguiram. Estavam nos esperando. Minha companheira já estava quase chorando. Tentei acalmá-la. Pedi para que se sentasse na cama ao meu lado e segurasse a bíblia com força contra seu coração e eu fiz o mesmo. Pudemos ouvir que eles caminhavam em direção a nosso quarto. O medo que sentimos era enorme. Senti a bíblia queimando meu peito, um calor enorme. Mas o medo continuava. Os passos se aproximando. Sentíamos que eles queriam nos fazer mal. Oramos pedindo proteção. E continuávamos com a bíblia apertada contra nossos corações. Tudo parecia escuro ao nosso redor. E de repente tudo foi voltando ao normal. Sentimos uma paz e segurança. No dia seguinte entramos em contato como nosso líder que nos orientou a nem passarmos mais por aquela rua. O que fizemos de bom grado. Queríamos esquecer aque le dia e aquela sensação.
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contos para ler antes de dormir Um bom tempo depois, uma irmã nos pediu que fôssemos com ela até a casa de uma amiga que gostaria de conhecer sobre nossa igreja. Ficamos felizes com isso. Porém quando ela nos informou o endereço, ficamos geladas. Era na mesma rua em que passamos por aquele medo, e que fomos instruídas a não irmos mais. Mas apesar do medo, e levando em consideração que era uma pes soa amiga da pessoa que já era da igreja, resolvemos ir até. A irmã nos acompanhou, fizemos a visita, e a pessoa se mostrou bastante interessada. Logo após a visita feita, nos despedimos e fomos embora. Ao passarmos em frente à tal casa onde encontramos os dois ho mens, perguntamos à nossa amiga sobre eles, se ela conhecia os dois homens que moravam ali. Ela nos olhou espantada e nos disse que havia mais de 20 anos que ninguém vivia ali. Eu e minha companheira nos olhamos e sentimos um arrepio gela do subindo por nossos corpos. Fomos até nossa casa e nunca falamos a ninguém a respeito dessa experiência. Isso ocorreu há mais de 15 anos, mas os sentimentos continuam bem vivos na nossa memória.
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paulo sutto
Noivos Era a última noite daquele acampamento de carnaval, na verdade era mais um retiro espiritual com um grupo de jovens moças evan gélicas. Tudo correu muito bem, se divertiram, aprenderam e cresceram es piritualmente. Nenhum incidente, nada que pudesse ser negativo. Nada. Bem... nada até que por volta das 21 horas quando um grito de desespero veio do meio do pomar que ficava bem ao lado de onde as barracas estavam armadas. Todas as moças e os líderes correram para o local de onde veio o desesperador grito. Pararam apavorados ao encontrarem lá, em estado de choque, umas das moças ali caída de costas com os olhos arregalados e branca como uma vela. Ela estava vestida de noiva e com o vestido todo -en sanguentado. E ela falava sem parar: - Ela estava lá. Ela estava lá. Lá. E tremia muito. O pânico estava estampado em seus olhos. Ninguém sabia explicar o que havia acontecido. Imediatamente a levaram ao hospital mais próximo. A moça estava em choque e precisou ficar internada em observação. Na mesma noite, todos os participantes do retiro voltaram para casa. As meninas estavam apavoradas sem saber o que teria acontecido... No dia seguinte a jovem estava melhor mas ainda sem condições de conversar de modo coerente. Os líderes e familiares se reuniram em volta de sua cama no hospi tal, deram as mãos e começaram a orar por ela. De repente, em um pulo ela se senta na cama em uma crise de choro e aos gritos volta a repetir a frase:
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contos para ler antes de dormir - Ela estava lá. Eu a vi... lá, estava lá... Assustados todos abrem os olhos. O medo toma conta de todos. Aos poucos a moça se acalma e começa a relatar o que teria acon tecido: “Muitos conhecem a lenda da noiva do pomar, um dia me conta ram que naquele pomar bem próximo de onde estávamos, há um bom tempo atrás, houve um assassinato horrível, uma jovem fora assassina da brutalmente pelo próprio noivo. Uma fofoca foi espalhada dizendo que ela o traía, e ele sem querer saber se era verdade ou não a assassinou a facadas. Mas antes de tal brutalidade, a fez vestir seu vestido de noiva e abusou dela após já estar morta, totalmente dilacerada pelos golpes de faca. Nesse momento de insanidade, ali deitado com sua noiva, aos prantos ele olhou para o céu negro e viu sua noiva, com seu vestido branco de uma alvura que ele nunca havia visto antes. E ela pairava no ar e falava que o perdoa va, mas que havia morrido virgem. O rapaz ficou louco e passou o resto de seus dias vagando de um lado para outro, até que um dia após uns 19 anos do ocorrido, tirou sua própria vida se pendurando em uma árvore próxima de onde cometera o crime. Conta a lenda que algumas pessoas viram quando uma moça vestida de branco apareceu e retirou o corpo dependurado e o deitou no chão e ficou ali com ele por um bom tempo e depois sumiram no ar. Essa é a lenda.” Então, tive a ideia de me vestir de noiva e aparecer do meio do pomar e assustar as meninas. Quando eu estava me preparando já vestida de noiva, ouvi um barulho atrás de mim, mas vindo do alto, me virei e ela estava lá, toda de branco, mas seu olhar era de ódio, de fúria. Tive muito medo. Mas fiquei travada, não podia me mexer. Ela se aproximou bem perto, até senti seu hálito podre. Ela me disse: - Por quê? Por quê quer me imitar? Quer morrer como eu morri? Quer ter seu nome sujo? Acha isso bom? Se você quer assim, assim será. - Quando me disse isso, seu vestido foi ficando todo sujo de sangue e o meu também. - Senti todas as dores dela. Foi horrível... - Ela começou a chorar desesperadamente... - Eu vi e vivi toda a cena de seu assassinato.
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paulo sutto - Na verdade estou semi morta, ela me disse que só me daria tempo para contar a história e depois me levaria para junto dela e do noivo... As pessoas ao redor estavam apavoradas com a história. Seria- ver dade? A lenda sim, dela todos tinham ouvido falar. A moça voltou a se deitar, se encolheu numa posição fetal e dormiu. Dormiu para não mais acordar. Apesar de estar muito bem de saúde... Teria mesmo ido se juntar aos noivos da lenda?
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contos para ler antes de dormir
O garoto Naquela tarde saí do trabalho apressado pois tinha um compromis so importante e não podia me atrasar. Peguei a avenida que passa em frente à empresa onde trabalho e segui a pé. Apesar de ser quase 18 horas o sol ainda estava alto por ser horário de verão. Após caminhar alguns metros notei um garoto vindo em minha direção, algo nele me chamou a atenção, ele carregava duas mochilas tipo escolar e tinha um olhar estranho, um olhar que me causava medo. Aparentemente tinha olheiras e vinha direto ao meu encontro, olhando fixamente para a frente e não parecia que iria mudar seu rumo, nem para a direita e nem para a esquerda. Eu também continuava a caminhar em linha reta, diretamente em direção ao garoto. Algo não me deixava desviar. A sensação era de que eu havia perdido o controle sobre meu corpo. Agora o garoto fixara os olhos nos meus e estávamos bem próximos. De repente tudo pareceu ficar escuro. E a cada passo nos aproximá vamos mais. Muito próximos. Fechei os olhos quando percebi que íamos nos chocar. Ao abrir os olhos, senti que nos encontrávamos, mas foi como se o garoto me atravessasse numa fração de segundos. Levei um choque. Notei que estava agora com as duas mochilas penduradas, uma em cada ombro, e que caminhava olhando em linha reta. Olhei para trás e não vi mais o garoto. Só algumas pessoas a ca minhar. Não entendi o que estava acontecendo, mas percebi que as pessoas que vinham caminhando ao meu encontro se desviavam de mim, apa rentando medo nos olhos. Olhei novamente para trás e ele estava lá. O garoto. E tinha um sorriso maquiavélico nos lábios. Só então pude ver quão assustador ele
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paulo sutto era. Para meu desespero pude vê-lo tomando minha forma e continuar sorrindo e virar as costas e seguir seu caminho. Foi então que percebi que ele havia trocado de corpo comigo e agora eu era o garoto com olhar maligno e com as mochilas na costas. Por isso as pessoas se desviavam e sentiam medo. Continuo vagando pelas grandes avenidas até aprender a fixar meu olhar em alguém desavisado e continuar esse ciclo até me encontrar novamente e poder entrar em meu verdadeiro corpo. Portanto ao caminhar por uma avenida e avistar um garoto com duas mochilas e olhar sinistro, desvie seu olhar, ou continue encaran do-o caso queria passar pela experiência que tenho passado por todos esses anos. A escolha é sua...
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O assassino e a vendedora Estou desde as 3:40 acordado. Já andei pela casa toda e sai para a rua para ver se encontrava alguém que pudesse me ajudar. Ninguém. Só a lua a me vigiar e a penumbra a me seguir. O sentimento de ódio me consome a cada dia. Preciso fazer alguma coisa. O sol me incomoda. Me arde a pele e me sega os olhos. Preciso de ajuda. Preciso de alguém. Alguma pessoa que eu possa cortar, sentir a lâmina da faca entrando e rasgando a carne. Sentir o medo estampado nos olhos. Ver o sangue correndo. O cheiro da morte. O barulho dos ossos sendo quebrados. Tem sido assim desde há muitos anos. Desde que matei minha prima. Ela era muito linda, mas não havia mais ninguém em casa. E eu precisava muito satisfazer meu ego. Sim. Foi uma pena, ela era lida, sim, muito linda. E eu sabia como ela gostava de mim. Depois disso nunca mais parei. Sempre tive cobertura para meus atos. É bom quando se tem muito dinheiro. Mas hoje estou aqui. Sozinho. E meus instintos me matando. Tro cadilho infame. Vou me retirar para meu quarto. Escuro e frio. Vou fechar as janelas. Mas olha só. O que vejo vindo em direção à minha humilde casa. Uma jovem vendedora de flores.
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paulo sutto Acho que o dia não está de todo perdido. Está batendo. Vou descer e atendê-la. - Entre querida. Flores? - Que maravilha. Vieram mesmo a calhar. - Vou ficar com todas elas. Entre. Entre Quando seus olhares se cruzaram e ela tirou do meio das flores um punhal afiado, ele soube que seria seu fim e que realmente as flores vieram realmente a calhar. Logo depois a vendedora de flores, saiu e foi caminhando pela rua. Ela tinha outros cliente para visitar. E muitas flores ainda para entregar.
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Abertura no tempo Toda vez que eu entrava no banheiro de minha casa algo estranho acontecia desde que troquei a lâmpada e coloquei uma dessas moder nas, que diziam ser mais econômicas. Eu entrava e já batia no interruptor e trancava a porta, mas a luz não acendia imediatamente me deixando por alguns segundos em total escuridão. Mas coisa de segundos. E por fim acabei me acostuman do com isso. Mas numa noite, a cena não foi bem assim. Como de costume, entrei, toquei no interruptor e tranquei a porta mas a luz não se acendeu em segundos. Rapidamente tentei abrir a porta, mas para minha surpresa e espanto não consegui, parecia estar trancada por fora. Enquanto tentava abrir a porta senti um tranco como se estivesse dentro de um elevador, e depois senti que o banheiro onde eu entrava todos os dias estava descendo a uma velocidade assustadora. E tudo era uma escuridão só. Me encostei na parede e fiquei ali. A sensação que tive não consigo expor em palavras. De repente senti um tranco e notei que o “elevador” havia parado. Meu medo e dúvida era onde exatamente havia parado. Ouvi acima de minha cabeça barulhos de cabos de aço rangindo. Tateei procurando pelo interruptor sem esperanças de que acendes se. Mas para minha surpresa, acendeu. Tive medo de abrir a porta e do que estava lá fora. Mas não podia ficar ali dentro do banheiro pelo resto da vida e a porta não se abriria sozinha. Criei coragem e trêmulo puxei a maçaneta e a porta se abriu. O que eu vi me deixou travado ali. Meus pés não saiam do chão.
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paulo sutto À minha frente um grande corredor branco se estendia a não sei quantos metros. Era todo branco e cheio de portas. Pude imaginar que aquilo era um hospital. Senti medo. Aquele cheiro de produto de limpeza barato misturado com cheiro de sangue e de morte. Segurei no batente da porta de meu banheiro que havia se trans formado em elevador e agora era um quarto de hospital. Um hospital muito antigo, a notar pelos móveis e toda a decoração. Fiquei ali parado bem no meio do corredor. O medo me paralisou. De repente para meu desespero vejo pessoas vestidas de branco saindo de um quarto e empurrando uma maca. Sobre a mesma, um corpo coberto com um lençol branco. Um cadáver com certeza. Duas mulheres e dois homens, todos ves tidos de branco vinham em minha direção. Pararam bem próximos de mim e me perguntaram: - Quer vê-la pela última vez? Dei dois passos para trás. Eles se aproximaram. Corri de volta para meu quarto, elevador, banheiro ou fosse lá o que fosse. Apavorado, entrei e fechei a porta. Acendi a luz, que como sempre não obedeceu ao comando de imediato. Desesperado e tentando acordar daquele pesadelo, me agachei e abracei meus joelhos ficando nessa posição por algum tempo. Senti na total escuridão que o “elevador” se movia como se estives se subindo em alta velocidade até parar com um tranco seco. A luz se acendeu. A porta de destrancou sozinha. Apesar do medo, abri a porta e saí. Estava em casa. Mas algo estava diferente. Algo havia mudado. Fui até a janela da sala. Olhei para fora. Tudo normal. Olhei para o relógio. Estava marcando 21:00 h. Estranho. Muito estranho. Quando me levantei para ir tomar banho eram apenas 18:00 h. Onde eu estive durante essas três horas? Eu nunca soube. Três horas.
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contos para ler antes de dormir
Para o inferno Todas as noites ele acordava desesperado e suando frio. Aquele sonho o acompanhava. Ele a via flutuando e vindo para seu quarto no vigésimo quinto andar. Seu rosto todo machucado, na verdade destroçado e ensanguen tado. Sua roupa rasgada e suja, uma sujeira mesclada com manchas de sangue seco. Ela o encarava e sorria para ele e dizia que o amava ainda. Ainda. Ele sabia o que o sonho significava e isso o apavorava ainda mais. Tinha medo. Sua vida virou um inferno. Ele evitava dormir à noite, pois sabia que ela viria. Mas uma noite foi diferente. Ele sonhou e acordou. Apavorado, como de costume se sentou na cama. E como se algo o levasse a fazer isso, se levantou e foi para a sa cada. Era madrugada. Acendeu um cigarro. Ficou ali por alguns minutos. Quando se virou para entrar sentiu um vento gelado. Era ela e ele sabia. E não estava sonhando agora. Ela estava lá. Flutuando. - Não te amo mais. Ele ouviu ela dizer. - Eu me livrei de você. Ela continuou. - O que você quer??? Ele gritou apavorado. - Justiça. Ela disse. Ele criou coragem e se virou. Lá estava ela. Como nos pesadelos. Deformada. Ensanguentada. - Você foi a culpada. Foi você.
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paulo sutto - Não. Nãooo. Você me jogou. E não vamos nos encontrar. Sabe porque? Porque eu fui assassinada. Eu queria viver. Eu fui ao purgató rio pagar meus pecados. E você? Seu covarde. Você vai para o inferno. Para onde vão os assassinos e suicidas. E foi se aproximando dele. Sua roupa foi ficando branca e seus ferimentos foram desapare cendo. Ele foi se aproximando da sacada. Os olhos dela foram mudando de cor. Estavam agora vermelhos. O ódio estampado no rosto. Ele estava acuado e apavorado. Sem saída se jogou do décimo quinto andar. Seu corpo ficou estendido no chão por algumas horas, mas sua alma já estava perdida nas trevas exteriores, onde havia prantos e -ran ger de dentes. Para onde vão os assassinos e suicidas. Da sacada do décimo quinto andar um vulto branco observava. Imóvel e com um sorriso de vingança nos lábios.
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contos para ler antes de dormir
Dia dos Pais O calor é intenso naquela cela onde ele se encontra sozinho por motivos de segurança. São 15:00 h de um domingo, um domingo especial, é dia dos pais. Ele continua lá sentado no fundo da cela, as mãos segurando a cabeça. O remorso não o afeta, mas sim o desespero por ter sido pego. O plano era perfeito. Não sabia o que dera errado. Sua foto estampada nos jornais abaixo das letras que o chamavam de monstro. “Pai manda matar a filha de 18 anos na semana dos dia dos pais”. Uma notícia horrível de se ler, mas era a verdade. Ele, o monstro estava ali. Frio, insano, sem sentimentos e sem alma. Se o colocassem junto aos outros presos, já estaria morto a essa hora. Um seguro milionário, esse foi o motivo que o levou a mandar matar a filha. R$ 500,00. O valor pago. O valor de uma vida. Não, o valor de uma vida que ele mesmo gerou. Agora estava ali. Não tinha mais nada. Nem filha, nem dinheiro e nem a ajuda do demônio que entrou em seu coração e agora o jogou ali. Diz o ditado que o demônio ajuda a fazer mas não ajuda a esconder. De repente ele cai em si e sua mente insana volta à realidade e tudo vem na sua mente. O desespero toma conta dele. Se levanta e começa a gritar e chorar. Se joga contra as paredes. Ninguém vem em seu socorro. Todos odeiam o monstro que matou a filha. E é dia dos pais.
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paulo sutto De repente tudo fica escuro. E gelado. Ele vê um vulto se aproximando na escuridão. Se encolhe e fica ali num canto. Para seu desespero é a filha. A filha que ele mandou matar com 6 tiros. Ele se apavora e tenta gritar. A voz não sai. Ela se aproxima e o chama de pai. Ele chora copiosamente. Sua filha. Na sua frente. Sua filha que era uma moça linda, agora está desfigurada, ensanguentada. Ele pode ver as marcas dos tiros. No rosto, e pelo corpo. Sua roupa toda ensanguentada. Ela fixa o olhar nele e diz com voz meiga: - Eu te amo pai. Porque fez isso? - Pai, eu sofri muito, mas nem tanto pelos ferimentos, mas sim por saber depois que você mandou fazer isso comigo. - Porque pai? Porque? Ele queria morrer naquela hora, mas não morreu. Diante de seus olhos toda a cena se passou. Ele saindo com o carro em alta velocidade. Ela apavorada. E o matador saindo do mato na beira da estrada e já disparando contra ela. Depois ele a viu caída no chão agonizando. Demorou a morrer e ficou ali sofrendo. Quando sua voz saiu só conseguiu pedir perdão aos prantos. A filha olha para ele e diz: - Sim, eu te perdôo sim. Mas meu perdão não pode te tirar do lugar para onde deverás ir. - Não posso fazer nada quanto a isso. Mesmo que eu queira. Ele continuou ali chorando encostado à parede. Quando ele conseguiu olhar para ela, viu que as marcas de tiros e todo o sangue foi desaparecendo, sua filha foi ficando novamente linda. - Pai, te perdêo sim. Por isso vim te ver, precisava fazer isso. - Mas agora vou embora. Eles vem te buscar e não posso ver o que farão com você, mas ainda te amo pai. Ela deu um beijo no rosto dele e foi desaparecendo na escuridão.
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contos para ler antes de dormir Ele ficou ali desesperado. Quem seriam “eles”? De repente ele começa a ouvir vozes, rosnados, gritos de dor e desespero. E uma densa fumaça toma conta da sela. Dois vultos aparecem, usam um capuz negro sujo cobrindo seus rostos. Agarram-no violentamente pelos braços e o arrastam. O jogam na parede com força fazendo-o gemer. Mas ele nota que não está mais na cela. Está ao ar livre, jogado contra uma muralha de pedra. Não conhece o lugar, mas é feio, muito feio. Está em uma monta nha bem alta. E os vultos que agora são quatro, se aproximam com marretas e cravos nas mãos. Não. Ele não quer acreditar mas sabe o que vai ser feito com ele. O seguram e o viram de cabeça para baixo, ele agora percebe que está sem roupas. Ele grita, mas de nada adianta. Com o canto dos olhos ele vê um vulto que levanta a marreta e seus sentidos se perdem ao sentir o primeiro cravo rasgando suas mãos, depois a outra e depois os pés. A dor é insuportável. Ele desmaia e volta a si várias vezes. Até que nota que ninguém mais está a seu redor e o sol está alto. O calor é insuportável. Aves voam bem alto. São corvos. Comedores de carne. Aos poucos eles vão se aproximando. Descendo e fazendo barulhos estridentes. A primeira bicada arranca-lhe pedaços de carne. O sangue escorre. E daí seguem-se uma bicada atrás da outra. Mas ele continua vivo até seus ossos aparecerem. Ele sabe que aquele seu tormento é merecido. Ele é o monstro que matou a filha na semana do dia dos pais. E ela o amava.
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Tenho Sede O barulho no galão de água durante a madrugada me deixava -in trigado. Sabem aquele barulho típico de quando você pega um copo de água direto no galão de água e faz um som de bolhas? Pois é, esse era o som que sempre eu ouvia, mas o que me incomo dava era o horário, na madrugada. Se ninguém estava tomando água, de onde vinha o barulho?????? Comecei a prestar atenção e descobri algumas coisas interessantes. Não era todo dia que isso acontecia. Somente às sextas feiras. E sempre perto das três horas da manhã. Minha curiosidade aguçou mais ainda. Numa sexta feira tomei a decisão de descobrir o mistério. Confesso que senti um certo medo do desconhecido. Estava disposto a passar a noite acordado. E foi o que eu fiz. Peguei um livro e me sentei em uma cadeira lá na cozinha. Meia noite, tudo tranquilo. Uma, duas horas e nada. O sono chegando. E o medo também. Duas e quarenta e cinco. De repente. Blurb blurpppp, blurp. Me levantei num pulo. Fixei meu olhar para o galão. A torneira se abriu. A água caia mas não chegava ao chão. Senti um medo tomar conta de mim. Arrepiei. A água evaporava. Havia alguém ali. Um ser invisível. Tomei coragem e perguntei: -Quem é você? Como se levasse um susto, a torneira se fechou. Senti que ele ou ela me olhava. Um frio tomou conta de meu corpo todo.
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contos para ler antes de dormir Eu não vi nada. Nenhum vulto. Mas o que eu ouvi me deixou extremamente apavorado. Não a frase em si, mas o tom de voz, o modo como cada palavra era pronunciada. Senti naquela voz uma dor sem tamanho, quase um desespero. Era uma voz feminina aparentando ser de uma pessoa bem jovem, quase criança. - Tenho sede, tenho muita sede. Fiquei calado por alguns segundos e sem mesmo perceber respondi: - Pode ficar à vontade. Beba. Mate a sede. Senti que ela me agradeceu com um olhar meigo. E depois disso, se foi. Mas toda sexta feira de madrugada ela volta e mata a sede. Nunca mais questionei isso. Durmo tranquilo.
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Encostos Bares. Muitas pessoas acreditam que são ambientes favoráveis para que espíritos maus tomem posse de corpos de pessoas já alteradas pelo álcool e que geralmente as desgraças causadas por bêbados tenham influência não só da bebida mas também desses espíritos que por ali ficam e “encostam” nos frequentadores. Mas isso são teorias, nada confirmado. E Maria acreditava nisso piamente, talvez porque com o passar do tempo ela tenha convivido com esse tipo de coisa, pois Cláudio, o marido era pessoa exemplar, ótimo marido, pessoa trabalhadora, carinhoso e atencioso. Esse era o Cláudio durante a semana, mas na sexta feira tinha por costume após o trabalho, parar em um boteco com amigos do trabalho. Maria nunca reclamou disso, pois achava que era uma distração merecida após uma semana de trabalho duro. Porém de uns meses para cá, Maria notou algo estranho, toda vez que Cláudio parava no tal boteco, chegava em casa estranho. Não bêbado, pois nunca foi de beber muito. Chegava sóbrio porém alterado. Ele não olhava diretamente para ela, era agressivo, não conversava com os filhos como fazia normalmente. Se ela perguntasse algo, respondia brutamente. E isso estava piorando. Mas no sábado ele acordava normal. E a semana transcorria como sempre. E chegava a sexta e Maria já sabia como seria. Cláudio começou a chegar cada vez mais tarde em casa toda sexta feira.
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contos para ler antes de dormir E no sábado começou a ir para o boteco. Maria preocupada, procurou uma “benzedeira” que pudesse aju dá-la. Encosto. A “benzedeira” foi taxativa. Seu marido pegou um encos to no boteco. Maria ficou assustada e com medo. A “benzedeira” deu a ela um rosário e disse que ela deveria recebê -lo segurando-o toda sexta feira quando ele chegasse do boteco. Foi o que ela fez. Naquela sexta feira, quando Cláudio chegou, ela o esperou no portão segurando o rosário, mas sem que ele notasse. Para surpresa e desespero de Maria. Cláudio relutou em entrar, parecia estar com medo. Mas na mesma hora ele se transformou, se tornando agressivo e perguntando com uma voz estranha o que ela tinha nas mãos. Assustada ela deixou o rosário cair no chão, Cláudio a agarra pelo braço e a arrasta para dentro da casa. Ela tenta reagir mas Cláudio é mais forte e a espanca, ela não o reconhece nesse momento, sua fisionomia se transforma, sua voz está alterada. Ele avança sobre ela, dessa vez ela corre, apesar de ferida. Entra na cozinha. Pega uma faca. Cláudio entra e fica parado na porta da cozinha olhando para ela. Maria desesperada e trêmula, grita para que ele se afaste. Cláudio olha para ela, com olhos de dor, de medo, de piedade, mas isso só por alguns segundos. Maria nota então um vulto, uma sombra, uma névoa entrando na cozinha e tomando posse do corpo de Cláudio que novamente se transforma e parte para cima dela. Ela se defende, Cláudio se desequilibra e tomba sobra pia. Quando Cláudio se vira e olha para Maria, o desespero toma conta dela. Cláudio está com olhos vermelhos, seu rosto desfigurado. Ela pode ver ódio no olhar dele. Ele pega uma faca. E Maria não pensa duas vezes. Vai pra cima dele. Uma, duas, três... perde a conta de quantas vezes enterrou a faca em Cláudio, o homem tão bom que ela amava. Agora ali morto, inerte e ela com seu sangue nas mãos. Ela se afasta, com a respiração ofegante. O que ela vê a deixa ainda mais assustada e com medo. Uma névoa saindo pela boca de Cláudio e circulando pela cozinha, como se procurasse outro corpo para se alojar.
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paulo sutto Maria fica imóvel e vê aquilo se aproximando dela. Ela sabe que não pode fazer nada contra isso. Vai se agachando e começando a chorar. Fica ali encolhida até sentir que está sendo possuída por algo. O encosto. Ela agora é a hospedeira. Deixa o corpo de Cláudio ali sobre a pia. Deixa ali sua vida. E Maria vai lentamente caminhando pelas ruas escuras. Para onde vai Maria?? Para o boteco.
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O atalho Quando eu era jovem e estudava à noite, eu morava em um sítio que ficava já no perímetro urbano, porém para eu chegar até minha casa eu precisava fazer dois caminhos, ou eu pegava um trecho de rodovia ou eu pegava um atalho que passava por dentro de vários terrenos atravessando pomares e na beirada de um grande lago. Optei pelo atalho, por ser mais seguro. Me lembro que eu deixava uma lanterna escondida no rancho de uma casa por onde eu entrava e ia cortando por outros terrenos. Agora me ocorreu uma dúvida, o porque eu não levava essa lanter na na bolsa para a escola, mas deixei isso para lá. E naquela época eu tinha 14 anos acho, e era incrível a escuridão daquele caminho. As árvores do pomar pareciam enormes e assusta doras e do lado do lago havia enormes pés de bambus que balança vam ao vento parecendo tomarem formas de gigantes que pareciam que iam me devorar. Quando eu me adentrava por aquele caminho já era sempre passa do das 23:00 h e confesso que sentia muito medo. Eu respirava fundo e me infiltrava pela escuridão, apesar da fraca lanterna. Meu olhar estava sempre fixo no caminho por onde eu tinha de passar, sempre evitando olhar para os lados e a velocidade com que eu percorria o percurso era recorde. Mas em uma noite escura e sem lua, eram as piores noites para se passar por aquele caminho, minha lanterna começou a falhar e apagou por completo quando eu estava no meio do trajeto. Fiquei apavorado. Para voltar seria pior, tive de tomar coragem e seguir em frente. E na escuridão, cada sombra parecia ter vida e cada barulho parecia ser alguém ou alguma coisa. Acelerei os passos.
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paulo sutto Parecia ouvir vozes e passos, mesmo olhando para a frente à minha volta parecia que vultos corriam e ria me vendo ali apavorado. Quando cheguei à beira do lago os bambus pareciam mesmo terem vida própria. E olhei para o lago e vi nitidamente algo mergulhando nele. Na verdade ouvi muitos barulhos na água. E a sensação que tive era de que o tal atalho estava sendo muito mais demorado do que o de costume. Eu já estava quase correndo quando atravessei todo o atalho e che guei em minha casa. Minha mãe me esperava e se assustou quando me viu chegando pálido e quase sem fôlego. Eu disse que tive de atravessar o atalho pelo escuro mesmo, pois minha lanterna havia falhado e que talvez a pilha estivesse descarre gada. Ela me disse que não era possível isso, pois havia colocado pilhas novas naquela manhã. Quando liguei a lanterna para mostrar a ela, para minha surpresa, o clarão que saiu do bocal da lanterna era muito superior aos dos dias anteriores. Quase joguei a lanterna no chão. Entrei apavorado e fiquei o final daquela semana sem ir para a escola.
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Possuída Passo os dias aqui nessa escuridão e ouvindo gritos, lamentos e gemidos de dor e angústia sem fim. Perdi a noção do tempo e nem sei mais quando morri ou como foi minha morte. Só sei que em algum ponto de minha vida, eu abri meu corpo e demônios se apossaram dele. Entravam e saíam quando queriam e faziam as maiores atrocida des. Em função disso, às vezes me questiono se mereço estar aqui nes se inferno, literalmente falando. Enquanto eu estava na terra habitando meu corpo mortal, passei meus dias envolvida em muitas desgraças, mas depois de minha morte e meu sofrimento descobri o porque de tudo. Relatarei apenas alguns episódios para que você entenda um pouco do que quero dizer, apesar de que nada mais adianta eu tentar explicar. Mas vamos lá. Na adolescência sempre tive muitos problemas, ouvia vozes, vultos me acompanhavam, tinha medo das pessoas, parecia que todas me perseguiam. Aos 22 anos tive lapso e não me lembro do que houve, apenas que quando voltei a mim, estava em minha sala e para meu espanto, havia ali 3 homens que eu não conhecia. Estavam... como posso dizer, mortos? Estavam mortos e estraçalha dos, desfigurados. A sala estava toda ensanguentada. Eu estava ensanguentada. Não me lembrava de nada. Tentei gritar mas o som não saiu. Vultos corriam pela sala e um cheiro horrível tomava conta do ambiente. Fiquei ali anestesiada e imóvel, como se estivesse fora do corpo. Me pareceu ver a mim mesma flutuando pelo cômodo.
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paulo sutto Quando voltei à realidade, liguei para a polícia. A cena onde me en contrava, mesmo sabendo que a suspeita principal recairia sobre mim. Minha cabeça doía muito. Fiquei ali sentada até os policiais che garem e após todos os procedimentos me encaminharem à delegacia. De repente comecei a ver os vultos ao redor da viatura em movi mentos. Eles riam. Perdi os sentidos. E numa cena louca, estava como se voando sobre a viatura, e vi quando “eu” que estava ainda no banco traseiro da viatura, tirou um objeto cortante e cravou no pescoço do policial que estava ao volante. Mas não era exatamente eu. Ele perdeu o controle do veículo fazendo com que capotasse várias vezes. E por incrível que pareça tive forças e controle para assassinar tam bém o parceiro dele. De repente senti que descia rapidamente e entrava novamente em meu corpo desacordado mas sem ferimentos. Fui julgada, culpada e passei o resto de meus dias em um manicô mio judicial. Os vultos me acompanharam e me levaram a cometer muitas atrocidades no período que permaneci internada. Até que numa noite muito fria, cansada de ser objeto para demô nios que me usaram a vida toda, tirei minha própria vida. Só fui encontrada na manhã seguinte. Sei que os demônios se apossaram de outros corpos e continuaram a fazer maldades. Por isso estou aqui. É escuro demais, é frio, fétido. Não tem como sair daqui. Ouço gritos o tempo todo. Vejo as cenas horrendas pelas quais pas sei na vida. Vivo com os demônios esperando minha vez de possuir outros cor pos também. Assim é o inferno. Assim é.
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A casa Desde que nos mudamos para aquela casa, alguma coisa aconte ceu. Minha esposa começou a me dizer que a casa era estranha, que tinha uma negatividade no ar e que ela gostaria de se mudar. Apesar de também sentir isso algumas vezes nunca admiti. Mas algumas coisas realmente aconteciam e que não eram, diga mos assim, normais. Várias vezes durante a madrugada eu acordava e ouvia barulhos no forro da casa, pareciam vozes, sussurros, coisas batendo ou se - ar rastando. E pareciam que notavam que eu estava ouvindo e silenciavam-se. Um certo dia quando saímos e deixamos nosso filho sozinho em casa, ao chegarmos algumas horas depois, o encontramos sentado na calçada com expressão de medo no rosto, e disse que havia visto vultos pela casa. Entramos e não havia nada. Nada. Esse evento não mais ocorreu. E com muito mais frequência ficávamos doentes nessa casa. E minha esposa sempre acusava a casa. E eu sempre dizia que não. Mas na verdade eu sentia que ela tinha razão. Havia algum proble ma com a casa. Certa noite ao nos deitarmos minha esposa me olhou apavorada e me perguntou: - Você viu aquilo no banheiro? - O que tem lá? Respondi. - Vá lá e veja. No teto, uma mancha vermelha, a casa está sangrando. Confesso que me arrepiei ao ouvir isso e ver o pavor estampado no rosto dela. Fui até o banheiro e olhei, não vi nada. Tudo normal.
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paulo sutto Voltei ao quarto. Ela já havia dormido. Agarrada ao travesseiro. Achei que essa história de casa estava deixando minha esposa- lou ca e sugeri que procurasse um médico. Por alguns dias ela parou de falar sobre o assunto. Mas 2 meses depois ela me disse que a casa havia voltado a sangrar e que ela estava com medo. Medo do que a casa queria fazer com ela. Naquela noite tive um pesadelo terrível, via a casa se fechando e trancando dentro de si minha esposa que gritava desesperada por minha ajuda. No sonho eu ficava ali paralisado, sem reação, apenas vendo minha esposa ser arrastada para dentro aos gritos. Da janela da casa saia uma fumaça espessa e escura. E junto um cheiro de corredor de hospital, um cheiro de morte. E das paredes da casa começava a escorrer um líquido vermelho escuro. Sangue. Os gritos paravam e a porta se abria deixando minha esposa cair desfalecida e extremamente pálida no chão. A casa sugara seu sangue todo. A partir desse dia, quase todas as noites esse sonho me perseguiu por um bom tempo Até que um dia ao voltar do trabalho e chegar em casa, fiquei sur preso ao ver minha esposa sentada na escada que dava para a entrada da sala. Ela estava muito bonita e com um sorriso diferente no rosto. Quando eu me aproximava, notei que a casa estava se afastando cada vez mais. Ela se levantou e foi entrando. Quando de repente vi que ela foi puxada e me olhou com o medo e desespero no rosto. Ela gritou por ajuda. Mas eu não podia alcançá-la. Gritei seu nome mas foi em vão. O pesadelo estava acontecendo. A casa a sugara. As paredes estavam ficando vermelhas, manchadas de sangue. O cheiro e a fumaça no ar. De repente a casa tomou forma de um rosto demoníaco e parecia me encarar. Senti o medo tomar conta de meu ser. Aqueles olhos enormes e vermelhos a me fitar. E como no pesadelo, a porta de entrada se abriu e minha esposa caiu lentamente. Pálida, branca como vela. Morta. Sem sangue algum. Corri para ela mas já não tinha mais vida.
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contos para ler antes de dormir A casa a matou deixando marcas como se fossem facadas. A cena nunca mais saiu de minha mente. Passo noites em claro tentando entender o que foi aquilo, o que aconteceu. Me arrependo de não ter dado ouvidos à ela. Se tivéssemos nos mudado ela ainda estaria viva. Ainda estaria comigo. E eu não estaria aqui preso nesse hospício com outros assassinos e doentes mentais. Mas afinal eu a matei. Quando não ouvi o que ela me dizia. Eu mereço estar aqui.
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O corvo Desde sua infância, quando se conheceu por gente vinha notando algo estranho. Toda vez que alguém falecia ele tinha um sonho estranho noites antes. No sonho ele sempre via um corvo que vinha voando e se acomodava sobre a casa da vítima, e ficava ali desde a tarde e só sai voando depois da meia noite. E todas as vezes que sonhava, uma pessoa que morava na casa falecia. Foi assim com sua bisavó, com dois primos, seus tios e outros tantos que viviam naquele vilarejo. Em seus sonhos o corvo sempre o olhava fixamente antes de sair como se o desafiasse a enfrentá-lo. Ele fixava os olhos no corvo que voava triunfante. Sempre. Seus pais se foram também. Sempre teve medo de sonhar com o corvo sobre sua casa, pois só ele residia lá agora. Mas ele sabia que esse dia chegaria. E chegou. Mas o sonho foi diferente. Quando o corvo cravou os olhos nos seus, ele gritou antes que ele levantasse vôo: - Você é a morte? Porque aparece em meus sonhos? Porque? Porque? Que te fiz? O corvo abaixou as asas, e mesmo sem falar transmitiu a resposta: -Sim sou, e porque demorou tanto pra me perguntar isso?
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contos para ler antes de dormir Estou cansada e preciso passar meu cargo a você. Esperava por esse dia. E se transformou em uma pomba e levantou vôo. E ele agora estava sobre outro telhado. Olhando fixamente para outra pessoa. Sabia que muito tempo levaria até alguém falar com ele. Tinha de ser assim.
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O jardineiro Ele sempre foi muito tímido e diferente. Não se enturmava facil mente. Tinha problemas de relacionamentos. Era um garoto problema. O tempo foi passando e aparentemente ele melhorou. Aprendeu jardinagem com seu avô e isso o distraía. Se tornou mestre em esculturas com plantas, conseguia fazer tudo. Animais, aves, castelos e outras coisas. Era essa sua terapia. Seus pais sofreram um grave acidente e faleceram. Ele ficou sozinho e se fechou no casarão onde viveu com os pais. Nunca mais saiu para exercer sua função de jardineiro. Mas o jardim na frente do casarão era todo cheio de esculturas. Ali era seu mundo e sua vida. Poucas vezes se podia vê-lo nos jardins. Falar com ele então era impossível. Mas nunca fazia mal a ninguém. Algumas pessoas zuavam com ele. Mas ele nem ligava e nem respondia nada. Saía de casa somente para fazer algumas compras essenciais e logo voltava. Havia uma gangue de moleques que só faziam coisas erradas, e perturbavam a vizinhança. Eram seis. Vândalos, desocupados e dro gados. Resolveram certo dia que a vítima seria o jardineiro. A maldade: cortarem as cabeças das aves esculpidas nas plantas do jardineiro. Combinaram e numa noite de lua cheia colocaram o plano em prá tica. Pularam o muro e deceparam todas as esculturas.
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contos para ler antes de dormir Eram aves, anjos, animais e pessoas. Estavam agora todos sem cabeça. Ao ouvirem um barulho correram para os fundos do casarão. Quase morreram de susto ao verem um outro jardim nos fundos, mas com seres demoníacos, gárgulas, monstros alados e outras -aber rações. Mas apesar do medo e do susto, não perderam tempo, deceparam todos e fugiram na escuridão. Amanheceu. Quando o jardineiro viu seu trabalho e sua vida sem cabeças, ficou chocado, mas não tomou nenhuma atitude, manteve-se calmo. Ele sabia quem eram. Ele sabia. Garotos, são apenas garotos. No dia seguinte algo terrível ocorreu na pequena cidade. Jogados na praça amanheceram seis corpos de garotos, amontoa dos e... sem as cabeças. Uma cena dantesca, apavorante e aterradora. Todos foram ver tamanha barbárie. Todos se perguntavam quem poderia ter feito aquilo. Era obra de um demônio. Não acreditavam que um ser humano faria aquilo. Até o jardineiro, que passava por ali vindo de uma mercearia, parou para ver o que acontecia. Quase desmaiou ao ver a cena. Teve de ser socorrido com copo de água com açúcar. Os corpos foram recolhidos mas as cabeças simplesmente desapa receram. Ao chegar ao casarão, o jardineiro olhou para suas esculturas que ficavam na frente do casarão sem cabeças e entrou cabisbaixo. Voltou com suas ferramentas e as podou deixando sem formas humanas ou de aves ou animais. Apenas árvores e arbustos, é o que eram agora. Apenas isso. Olhou para elas com ar de tristeza e foi para o jardim dos fundos. Olhou para as esculturas e sorriu, sentindo-se feliz como se tivesse terminado uma obra prima perfeita. Alguns ainda estavam sem cabeças e prontas para serem remodela das, mas haviam seis delas que estavam perfeitas. Haviam perdido as cabeças sim, mas haviam ganhado novas, e perfeitas.
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paulo sutto Como ele nunca conseguiria modelar. E isso o deixava satisfeito. Nunca, nunca ninguém conheceu o jardim dos fundos do casarão... E as cabeças dos jovens assassinados também nunca foram encon tradas.
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contos para ler antes de dormir
O pomar Ele sempre gostou de fazer caminhadas, principalmente entre bosques e florestas Era período de férias e resolveu viajar até a pequena cidade do interior onde viviam seus avós. Quase cinco horas de ônibus mas as paisagens valiam a pena, plan tações, rios, vales e riachos. E muito verde e ar puro. Há 3 anos não conseguia tirar férias e voltar a ver os avós. Estava ansioso. Foi recebido na pequena rodoviária com festa e alegria. Beijos e abraços. Seu avô, apesar da idade, ainda dirigia muito bem, e foram conver sando até chegarem ao sítio onde moravam. No segundo dia das férias resolveu sair para caminhar pelas trilhas que ele conhecia tão bem desde seus tempos de infância. A princípio tudo lhe pareceu familiar, mas depois de meia hora de caminhada, tudo pareceu ficar diferente. As árvores pareceram bem maiores, mais escuras e assustadoras, e a trilha parecia se estreitar a cada passo. Em pouco tempo notou que estava completamente perdido. O tempo foi passando bem rápido, e começou a escurecer. Não se desesperou, tentou voltar, sem êxito. Sentiu fome. Notou algumas árvores frutíferas, porém não conseguiu definir que frutas eram, mas viu que estavam maduras e exalavam um cheiro mui to bom. Dava para ver que algumas haviam sido bicadas por aves, indi cando portanto que não eram venenosas, e como sentia fome, colheu uma, sentou-se junto ao tronco e saboreou-a, sentindo sua polpa macia e suculenta de um sabor único.
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paulo sutto Estranhamente sentiu um sono profundo e inesperado, que não conseguiu controlar. Dormiu. Ao abrir os olhos, viu-se em amplo pomar com árvores carregadas de frutas. Aproximando-se notou com espanto o estranho formato das frutas, eram fetos. Fetos vivos, se movendo, algumas frutas apresentavam rachaduras, de onde vertia um líquido viscoso, transparente e mesclado com algo que parecia sangue. Seu estômago deu um nó ao notar que a fruta que havia acabado de comer era uma delas e ainda estava segurando em sua mão agora lambuzada com aquela gosma. Jogou imediatamente ao chão. Ao redor dos troncos notou um líquido negro. Viu algumas pessoas com amplos chapéus e com estranhos regado res de onde saiam pequenas mangueiras e seguiam até se introduzirem nas costas dos “jardineiros”, bem na região lombar. Pela distância em que se encontrava, não coseguia definir exata mente o que eram aquelas coisas. Aproximou-se. Abriu a boca mas nenhum som saiu. Estava paralisado ao ver que o líquido que caia dos regadores era sangue, sangue que saia direto do corpo das pessoas que carregavam os regadores. Imobilizado, assustado e em pânico tentou se virar e correr. Foi visto pelos “jardineiros” que o olharam fixamente. Foi quando ele notou que eram deformados, sem bocas e sem olhos, apenas dois buracos negros onde deveria existir olhos. Muitos outros surgiram, agarraram-no. Abriram uma cova onde enfiaram seus pés, cobrindo com terra e regando com sangue até sentir que seus pés estavam molhados com o líquido quente. Ele sentiu seus pés se enraizarem ao solo. Suas pernas e braços se transformando em tronco e galhos. Não conseguia gritar ou se mover. Sentiu flores e folhas surgirem. As flores se transformando e gerando frutas. Frutas fetos. Desesperado, viu pessoas colhendo frutas, a dor ao ser arrancada. Um gemido mudo. Uma dor sufocada. A noite, o dia, a noite e o dia novamente.
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contos para ler antes de dormir Sente alguém segurando seu galho e balançando. Ouve alguém o chamando pelo nome. Acorda e está sentado junto ao tronco. À sua frente seus avós olhando para ele pacientemente. - Estamos te procurando há 3 dias. Vamos para casa, venha. Ele nota que a fruta com algumas mordidas ainda está em sua mão de onde sai algumas larvas . Joga ao chão e se levanta. Para ele parece ter se passado apenas alguns minutos. - Vamos, e não fique comendo frutas que você não conhece. Po dem fazer mal. Era a voz de sua avó olhando para seu avô. Ele acompanha seus avós. Ao olhar para trás, vê o pomar e os “jardineiros” com seus regado res e grandes chapéus. Acenam para ele. Ele nota também uma cova vazia...
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paulo sutto
Olhos de pavor 3 dias sem dormir. Olhos arregalados cheios de pavor. Andando de um lado para o outro. Assustado. Agitado. Apavorado. A enfermagem já havia administrado todos os medicamentos recomendados pelos médicos e nenhum efeito surtia. A pequena vila ficava encravada no meio da mata, apenas dois -en fermeiros cuidavam dos casos de doenças que apareciam raramente. E pelo fone recebiam as instruções que o único médico da cidade passava e que visitava o posto médico uma vez a cada quinze dias. Quando o paciente que ocupava um dos três quartos do posto foi encontrado andando pela mata desesperado e chorando era exata mente o dia após a visita do médico e do falecimento de uma jovem de modo estranho. Caminhando sem parar o paciente ora ria, ora chorava, ou dava gritos assustadores. Falava baixinho, quase um sussurro. Andando. Andando. Sem comer, sem dormir e sem parar de andar. De súbito pára no centro do quarto, chama os enfermeiros e come ça a falar desconexamente. Voltava para casa... tarde, 17 ou 18 horas. Barulho, gemidos, grunhidos, rosnados... Tive medo, andando... continuei... trilha, de repente... o barulho parou... Se levanta rápido, num salto, se encosta na parede como se tentasse se defender.
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contos para ler antes de dormir Volta a andar sem parar, chora, ri, grita. Após muitas voltas com o pavor estampado no rosto, volta ao cen tro e se senta. Novamente narração desconexa O que vi... não consigo tirar da mente... Animalescamente um homem, vestido de branco, mas todo ensan guentado... À sua frente um corpo dilacerado... vísceras, nu, banhado em sangue... Intestinos e órgãos espalhados... Nas mãos do homem de branco pedaços de carne... Sua boca lambuzada de vermelho... escorrendo... Ele rosnando... grunhindo... Um estalar de galho seco me trai e me delata... Num movimento brusco... um olhar se cruza com o meu... Demoníaco... com ódio... vermelhos... Através do olhar uma mensagem... Será o próximo... viu o que não devia... Mas hoje não... Grita e se levanta correndo para a parede... Volta a andar sem parar. No dia seguinte ligam para o médico e informam que o caso é grave e que ele precisa vir antes. Ele concorda. 14:00 h. O médico chega. Um senhor magro, bem alto, com olheiras e mãos finas e dedos esguios. Ao vê-lo o paciente se desespera mais ainda. Grita. Chora. Corre para a parede e volta a andar novamente. O médico entra no quarto calmamente, se aproxima dele. Olho no olho. Pavor e desespero. - Eu disse que você seria o próximo, mas que não seria aquele dia. Encostado à parede, ele vai se deixando escorregar até ficar acoco rado abraçado aos joelhos. Sem choro, sem gritos e sem reação. O médico se dirige aos enfermeiros: - Coloquem camisa de força. Precisa de tratamento no hospital da cidade. Vou levá-lo antes que seja tarde. Ainda bem que me chamaram. E olhando ao paciente: - Hoje é seu dia...
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Quaresma Sua mãe sempre falou que na época da quaresma, o inferno abre suas portas e tudo de ruim está à solta. Ela nunca acreditou nisso. Sempre foi rebelde. Sempre enfrentou os conselhos de sua mãe batendo de frente e fazendo exatamente o contrário. Gostava de desafiar. Sua mãe seguia à risca todos os costumes católicos. Ela ria. Numa sexta feira resolveu junto com uns amigos fazere um baile de garagem. Naquela cidadela de interior foi uma heresia total. A mãe esbravejou, gritou e quase a trancou para não sair. Mas sabia que de nada adiantaria isso. E o baile aconteceu como combinado, poucos jovens se arriscaram a participar. Muita dança, muita bebida e muita farra. Uma festa diríamos, exatamente como o diabo gosta. Nem notaram que a hora entrava madrugada adentro. Quando se deram por si já passava das duas da madrugada. Cada jovem foi para seu canto. Ela morava um pouco mais distante mas disse que iria sozinha sem problemas. Rua estreita com poucas casas, terrenos baldios, construções inaca badas e cães andando a esmo. Ela nota que de vez em quando um rajada de vento passa por ela arrepiando seu corpo todo. Ela parece ver vultos correndo por entre as construções e pelos terrenos baldios. Ela sente um medo se apoderar dela quando ouve um som a acom panhar. Ela conhecia aquele som. Da sua infância.
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contos para ler antes de dormir Um som típico de um triciclo que seu primo tinha quando criança. E fazia um rangido de algo que se esfregava com falta de óleo. Medo de se virar para olhar. O priminho. Não podia ser. Ela parava e o som parava também Seu priminho havia sido assassinado pela própria mãe que se suicidara depois. Três vezes ela parou e o som também. O desespero tomava conta dela e os vultos a circularem pareciam agora uma multidão. Fazendo sons estranhos, grunhidos, pequenos gritos, sussurros e gemidos. Ela parada, suas pernas travadas. Silêncio. De repente o som recomeça e se aproxima. Ela consegue andar a passos acelerados. A impressão é de que será atropelada pelo triciclo. Ela para novamente, mas dessa vez o som continua, se aproximan do mais e mais. Ela tem medo de olhar. Mais perto. O medo a deixa travada, imóvel, tenta gritar mas a voz não sai. De repente ao seu lado. O triciclo com uma criança. Ela tem medo de olhar mas sabe que é seu primo. Ele pedala e sai devagar. Bem devagar. Ela continua ali, travada, sem ação vendo os vultos correndo de lá para cá. Seu coração acelerado, parecendo querer sair pela boca. Para seu desespero ela vê a criança parar, se virar e olhar para ela. Ele está sorrindo e olhando para ela. Seu medo aumenta. A criança está com olhos arrancados, somente as cavidades com um líquido negro escorrendo. Continua sorrindo, mas aos poucos vai se desfigurando, se sua boca toma formas anormais, grande e assustadora. E com uma voz gutural lhe dirige as palavras que ela nunca mais esqueceria: - Menina tola, porque desprezas os conselhos de sua mãe? Estamos todos soltos sim. Estamos fazendo nossa festa. Mas não vamos te fazer mal dessa vez. Pela sua mãe, que está acordada até agora ajoelhada e rezando por você. Mas na próxima vez poderá não ter tanta sorte. Ela só se lembra de ser encontrada no outro dia deitada na calçada em posição fetal, tremendo de frio e medo. Ficou em trauma por alguns dias, sem dizer uma palavra. Quando se recuperou abraçou sua mãe e disse: - Você sabe o que aconteceu não sabe? Me perdoe.
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paulo sutto - Sim, eu sei o que aconteceu sim, e te perdôo sim. Eu sabia que você precisava ver para acreditar neles. - Sim, eu os vi e os senti. Agora sei. Existem coisas que são assim. Precisamos sentir e ver.
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contos para ler antes de dormir
Bailes de carnaval Carnaval é coisa do capeta. Sempre ela ouvia sua avó dizer isso. E como sempre ela ria, achando graça das crendices dos mais ve lhos. Sempre frequentava os bailes de salão na pequena cidade onde morava. Mas nesse ano foi diferente. Por ser uma cidade no circuito turístico, nessa época sempre ficava lotada de turistas, que obviamente estavam nos bailes. Foi logo no primeiro dia que o conheceu, alto, magro, muito bem apessoado, com um perfume amadeirado. Ele estava com uma fantasia muito exótica. Algo que lembrava um vampiro, mas muito mais elegante, uma capa negra, e a roupa toda negra também, com detalhes vermelhos. Sua pele era muito branca, mas notava-se que não era maquiagem e nem suas olheiras. Ele se aproximou dela e se apresentaram. Ficaram a noite toda juntos. Riram, se divertiram, dançaram, pula ram e tomaram algumas bebidas. Fim de baile, ele a levou pra casa em um carro que ela nunca tinha visto antes. Muito luxuoso. Ela estranhou, ele não sorria, sempre inflexível mantendo a mesma seriedade. Noite seguinte, lá estava ele, seu coração disparou. Mesma rotina, divertiram-se, ele a leva pra casa e some na penum bra da madrugada. Terceira noite, mesma coisa, e isso a deixa curiosa. Última noite, ela está ansiosa. Chega ao salão e lá está ele.
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paulo sutto Dançam e brincam. Ela nota que ele está sempre com a mesma fantasia. Ou teria várias iguais? Ele diz que é a última noite que se encontrarão, e que depois vai partir. Ela diz que quer ir com ele. Tem certeza, ele diz. Sim tenho. A moça responde. Ok, se prepare então. Ela se assusta. Olhe bem para meus pés. Até então ela não tinha nem sequer olhado para os pés dele. Ela gela, quase desmaia, mas sente as mãos fortes a segurarem com força. Ela sente que é tarde demais, já fez sua escolha. Apavorada continua olhando para os pés dele. Que na verdade não são pés, e sim cascos. E não fazem parte da fantasia, são reais. Ela tenta se soltar, mas não pode mais, ela pediu aquilo. E ainda olhando para o chão começa a notar que muitos homens naquela sala tem os pés como os dele. E ao olhar para as outras moças dançando nota nelas o mesmo pavor estampado no rosto, o mesmo desespero, o mesmo medo. Ela percebeu então que sua avó, já falecida tinha toda razão. Carnaval é coisa do capeta. Mas ela descobriu isso um pouco tarde, assim como as outras ga rotas do baile.
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Alucinações Ele sempre os via. De enormes olhos a olharem para ele. Com a boca nojenta e babando. Com a pele áspera e fétida. Sempre estavam por perto a observarem seus movimentos. Ninguém nunca acreditava nele, desde o tempo de infância, quan do alguns dos monstros se sentavam a seu lado na escola. Às vezes roubavam-lhe o lanche, batiam nele. Ele sempre teve medo. Muito medo. O acompanhavam quando se tornou adolescente, Apareciam bem menos é verdade, mas ainda o vigiavam. Ele já não comentava com mais ninguém para não ser ridicularizado. Por um tempo sumiram, deixaram de aparecer. Um mês, dois meses. Nada. Nenhum deles apareceu. Até que numa tarde voltando para casa, sentiu que estava sendo observado. Eles voltaram, só podia ser. Estavam lá, nas ruas, nas lojas, nos bares, em todo lugar. Correu, sem saber para onde ir. Para casa? Sim. Mas não o observavam mais, passavam por ele como se nem existisse. Entrou correndo em casa. Apavorado. Pálido e tremendo. Olhou na sala e viu um deles assistindo TV. E lá estavam eles na TV. Correu para cozinha, sua mãe de costas na pia prepara o jantar. Ele a chama, ela se vira. O desespero toma conta dele e um grito de pavor toma conta da casa. Uma criatura de grandes olhos tomou o lugar de sua mãe.
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paulo sutto Ele sobe as escadas correndo e cruza com mais duas criaturas menores, seus irmãos, sim só podia ser. Ele entra em seu quarto apavorado, tem medo de tocar seu rosto e de se olhar no espelho. Tem medo de ser uma criatura de olhos enor mes e pele áspera. Ele respira fundo, toma coragem e leva as mãos ao rosto de leve. Normal. Alívio. Ainda com medo se olha no espelho. Aparentemente normal. A não ser pela impressão de que seu rosto está meio torto, meio que caindo. Ele tenta não acreditar no que vê, mas sim, seu rosto está fora do lugar. Ele sabe o que significa, mas não quer crer. Grita e chora desesperadamente. Ele também é uma criatura de olhos enormes. Só tem de tomar coragem e tirar a máscara humana que cobre seu rosto. Ele leva as mãos ao rosto e tenta puxar, de repente, uma escuridão, a sensação de estar caindo dentro do nada. Ouve vozes, gritos, dor, medo, em queda livre... Parece não ter fim. Caindo e caindo. Acorda com sua mãe o chamando desesperada com seus gritos. Respira aliviado. Sua mãe sai do quarto. Ele se levanta e se prepara para escola. Sai para a rua e vê no outro lado da rua uma criatura de olhos enormes a observá-lo, um caminhão passa em sua frente e a criatura desaparece. Alucinações? Ele prefere acreditar que sejam e segue para a escola.
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O restaurante Ali era servido o melhor filé da cidade. A melhor propaganda era o boca a boca. De quinta a domingo sempre lotado. Havia sido inaugurado há 3 meses mas era sucesso total. Seus donos? Quase ninguém conhecia. Apenas alguns gerentes comandavam tudo. Todos jovens, educados e sempre bem apresentáveis. Os funcionários seguiam a mesma linha. Jovens, bonitos e de educação sem igual. Isso cativava as pessoas, juntamente com todo o ambiente. Mas o que atraia os fregueses mesmo era a carne. Sempre macia, no ponto, com sabor único. Na verdade serviam muitos tipos exóticos. O negócio crescia, ia de vento em popa. Uma vez ao mês os gerentes viajavam. Iam se reunir com os donos e receber instruções. Os funcionários eram quase uma família. E o salário era ótimo. Todos da família almejavam um filho seu trabalhando no “Carne Sagrada”. Mas o que ninguém percebia ou não queriam perceber; era que as compras do restaurante sempre chegavam na madrugada. As carnes nunca vinham em peças, sempre já embaladas. Os donos nunca apareceram no local. Qual seria o mistério? Onde estava o segredo de tamanho sucesso? Mas todos estavam comendo e saboreando a melhor carne. Todos estavam satisfeitos e isso era o que importava. Até que um dia estampado no jornal. Página policial. Presa quadrilha que assassinava indigentes e andarilhos.
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paulo sutto A quadrilha tinha um diferencial: Desossava as partes, por assim dizer, mais carnudas. Coxas, glúteos, panturrilhas e bíceps. Restava apenas uma ossada com restos de carnes que eram desovados numa mata para serem devorados por lobos e coiotes. Todas as pessoas ficaram chocadas. Mas a vida continuou. Até que os gerentes do “Carne Sagrada” não foram mais chamados para as reuniões mensais. As entregas de carnes deixaram de ser cumpridas. Até que um dia fechou as portas por falta de carne, seu prato prin cipal. E descobriram que o segredo estava mesmo na carne.
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A árvore da calçada oposta Sentado na sua calçada ele sempre ficava. Altas horas. Noites de calor. Poucas pessoas circulavam por ali. Alguns amigos às vezes apareciam e se sentavam, trocavam -pala vras, riam e acabavam indo pra casa. Era um rotina. Mas naquela noite seria diferente. Ele saiu, sentou-se na calçada e ficou ali sem nada para fazer. A noite estava escura. Havia uma árvore na calçada oposta e um pouco acima de onde costuma se sentar. Ele nunca havia notado o tanto que ela crescera. Seus galhos tocavam a fiação elétrica. Aquela noite seria diferente. Mas ele não tinha a mínima noção disso. As horas foram passando. Ele lá, sentado, pensamentos ao vento. Vento que começou a balançar a alta árvore. Um detalhe. Ele notou que a grande árvore se agitava ao vento. Mas somente ela, as outras permaneciam imóveis. Como que assustadas. Com medo. Ele se assusta, a árvore parece aumentar de tamanho. E balança muito ao vento inexistente. Sente medo, mas continua imóvel sentado na calçada. De repente, luzes aparecem por entre as folhas. Não. Não são luzes, são olhos que brilham como luzes. Vários pares de olhos aparecem e ficam a olhar para ele. Imóvel como as outras árvores e com o mesmo medo estampado no rosto. Ele sente que os olhares se aproximam dele, como se a árvore estivesse chegando mais perto.
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paulo sutto A luz aumenta e de modo assustador o suga para o interior das folhagens. A árvore volta à sua posição normal, os olhos de luzes se apagam devagar. Sem vento para a balançar. O dia amanhece e somente a árvore está lá. E o cara da calçada nunca mais apareceu nas noites de verão. Bem, na verdade ele só mudou de calçada. Ainda está lá, sempre está lá.
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O quarto Essa é uma história real. E posso afirmar isso, pois eu a vivi. O ano era 1978 ou 79 não me recordo ao certo. Morávamos eu e minha família que era composta de meus pais, uma irmã e um irmão, todos mais velhos que eu. A casa em que morávamos tinha 2 quartos pequenos, sendo que eu e meu irmão dormíamos em um e meus pais e minha irmã dormiam em outro. E obviamente ficava um pouco desconfortável em função do tama nho do cômodo, conforme já comentei. Nossa casa ficava num espécie de chácara, mas bem próximo do perímetro urbano da cidade. Havia outras casas na referida chácara, inclusive o dono do imóvel também morava lá. O lugar era bem tranquilo e havia outros garotos e garotas de mi nha idade por lá. Pois bem, meus pais então conversaram com o dono do imóvel sobre a possibilidade de se construir um novo quarto, visto que anexo à casa havia uma espécie de rancho que outrora serviria para alguma coisa, mas que no momento estava desativado. Tornando-se então fácil para se adaptar um novo quarto à casa. O dono do imóvel, muito gente boa disse que sim, que poderia construir um novo quarto. Fizeram-se as alterações necessárias e foi aberto uma porta no quarto de meus pais dando acesso ao novo quarto que seria usado por minha irmã. Os móveis usados por ela foram então transferidos para o novo quarto, cama e uma cômoda. Havia também na parede duas saliências tipo uns pilares, e que serviram para uma estante improvisada onde, com o consentimento
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paulo sutto de minha irmã, coloquei uma coleção de gibis e outras coisas minhas. Sendo assim, tudo bem arrumadinho, minha irmã passou a dormiu nesse quarto. Por bem pouco tempo... Meus pais e irmãos sempre trabalharam fora. Eu ficava sozinho. Sempre gostei de ler e meus gibis e livros eram meus amigos. E como já comentei, levei meus gibis e livros para o quarto. E sem pre estava por lá, lendo, arrumando, enfim. Bem pouco tempo depois comecei a me sentir estranho no quarto. Uma sensação ruim, um mal estar. Toda vez que entrava lá, sentia a presença de alguém, como se esti vesse entrando no quarto de alguém sem pedir licença. Sim, a sensação era real, eu nunca estava sozinho naquele quarto, um medo tomava conta de mim e simplesmente não conseguia ficar no quarto. Um medo que me arrepiava o corpo todo. Percebi então que minha irmã também não estava se sentindo bem no novo quarto. As mesmas sensações que eu sentia ela também-sen tia, só que era pior ainda, pois ela dormia no quarto. Sim, digo dormia, porque em poucos dias ela também voltou para o quarto de meus pais. Eu já havia retirado minhas coisas do quarto. O quarto ficou vazio. A porta de acesso foi fechada novamente. Não sei explicar o que foi aquilo, mas algo habitava aquele quarto. Passado algum tempo nos mudamos daquela casa. Nunca falei com minha irmã sobre esse assunto. Mas até hoje sinto arrepios quando me lembro. Quando me lembro do quarto e das sensações que senti quando adentrava-o. E não quero saber quem ou o que estava lá. E se continua lá.
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Papai Noel Hoje é dia 24 de dezembro, já são 23 horas. Minha casa como sempre está vazia, apenas eu e como companhia uma garrafa de whisky pela metade. Estou aqui no sofá. Todo ano é a mesma coisa. As lembranças vem e me atormentam. Ainda estou usando essa ridícula roupa vermelha, quente como o inferno. Me vem à mente o rosto daquelas criancinhas que me procuraram durante os últimos dias na minha “casinha” instalada no centro da praça central. Infelizes. Pobres crianças. Acreditando em Papai Noel. Vivendo nes sa cidade desgraçada. A maioria dos pais viciados em crack e as mães se prostituindo pelas ruas. Papai Noel. Um dia eu também acreditei nele. Há muito tempo atrás. Mas a realidade entrou em minha vida muito cedo e descobri que tudo isso era mentira. Meus pais foram assassinados porque deviam a traficantes. Fui jogado na rua. Me viciei. Me vendi. E nada de Papai Noel. Dentro de meu ser só raiva e ódio. De tudo e de todos. Até que um dia algo aconteceu. Voltava para casa depois de mais um dia de bebedeira. Ao entrar em casa, senti um cheiro forte me invadir as narinas. Um cheiro repugnante. Sentado no sofá da sala, o mesmo que me encontro hoje, estava um ser estranho. Alto, vestindo um terno preto e fumando um charuto.
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paulo sutto Fixou seus olhos em mim. Gelei. E fiquei ali imóvel. Como ele entrou ali? O que queria comigo? Nunca havia visto tal criatura. Me chamou pelo nome e disse que tinha uma missão para mim. - Não me interessa. Respondi. Ele insistiu para que o ouvisse. Aceitei. Me sentei de frente para o tal elemento e fiquei ouvindo o que ele queria. - Uma criança por ano. Só isso. Ele me falou e deu uma risada- in sana. Te levo para onde eu escolher e você me pega uma criança. Em troca te dou tudo o que você quiser. - Tudo? Respondi. - Sim. Tudo. Pense e volto amanhã. Aceitei. Aceitei mas não consegui cumprir o pacto. Impossível. Perdi tudo. Sempre fui um infeliz. Um bêbado, mas isso nunca faria. Onde eu teria mais contato com crianças? Vestido de Papai Noel. Sei que hoje ele vem para prestarmos conta do combinado. Tomo mais um gole da garrafa. E outro mais. Quero ficar anestesiado para quando ele chegar. Sinto seu cheiro. Ouço seus passos. Batidas na porta. Está aberta. Grito do sofá. Continuo sentado esperando meu fim. Ele entra. Fica parado em minha frente. Infeliz. Diz. E me olha com desprezo. - Nem vou te levar. Você já tem seu próprio inferno aqui.Seus dias restantes aqui na terra serão piores que se eu te levasse ao inferno. Me olhou nos olhos e por incrível que pareça, acho que sentiu pena de mim, se é que o diabo consegue sentir isso. Comecei a chorar e abaixei a cabeça. Quando a levantei ele já não estava mais lá. Só tenho mais um gole na garrafa. Minha letra está quase ilegível. Sobre a mesa uma arma descansa esperando o momento de ser usada. Ele sabia que iria me fazer tomar essa decisão por conta própria. Meu inferno é aqui ou em qualquer outro lugar onde eu esteja. Vou tomar o resto do whisky. Posso senti-lo aqui na sala.
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contos para ler antes de dormir Vou cumprir a minha parte do pacto. Vou-me embora. Esta carta foi encontrada no dia 25 de dezembro pelos vizinhos quando foram levar um almoço especial para o Papai Noel. Junto à carta havia uma garrafa vazia, uma arma descarregada e no sofá apenas a roupa toda suja de sangue. Nunca mais o encontraram, mas algumas pessoas dizem vê-lo- cir culando na época de natal pela praça da cidade. Feliz Natal.
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Lua cheia Era sexta feira. A estrada estava deserta. A van lotada ia a uma velocidade alta. O som ambiente embalava o sono dos passageiros que nem imaginavam o que estava por acon tecer. Já eram 23 horas. E quase todos já dormiam. O dia havia sido cansativo. Nos dois lados da pista se viam extensas plantações de cana recém plantadas. Se ouvia apenas o som dos pneus colados ao asfalto. Assim se passaram mais 40 minutos e ainda faltava muito para che garem em casa. A lua estava alta e enorme. Dourada e dona da noite. Lua cheia. O som dos pneus no asfalto. De repente um grito quebra o silêncio. Um uivo aterrador. Gritos. Desespero. O motorista se apavora, se perde na direção e sai da pista entrando pelo canavial. Gritos se misturam aos uivos e grunhidos. Um mistura de sons apavorantes. Choro. Horror. Tecidos sendo rasgados. Dentadas. A escuridão. Somente a luz da lua a iluminar o pânico e a dor. Garras rasgam rostos. O olho vermelho a atacar. Algumas pessoas desmaiam de dor, outras de medo. O coração falha. A cena é dantesca. Um ser peludo com garras e dentes afiados. Atacando, mordendo, destroçando, uivando e matando sem dó. O cheiro de sangue, de carne dilacerada e os olhares apavorados. Tudo isso lhe dá prazer, o deixa com mais fúria.
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contos para ler antes de dormir O gosto da carne e de sangue escorrendo pela boca. Quente e espesso. Uma, duas, três... até que todos os passageiros estejam mortos. A lua assiste a tudo, imóvel, insensível, apenas se deleita com o horror. A noite vira madrugada. A van jogada no meio do canavial não atrai a atenção de ninguém. Até porque quase ninguém passaria por ali até o sol nascer. Lobos e coiotes aproveitam e fazem sua ceia. Acabam de estraçalhar o que restou. Braços, pernas e rostos fazem parte do cardápio da noite. Um banquete. Um vulto assiste a tudo, satisfeito, saciado e oculto nas trevas. Dois dias depois a van é encontrada. Quem viu a cena jamais se esquecerá. Corpos em decomposição totalmente estraçalhados. O cheiro é insuportável. A causa da acidente? O motorista havia dormido ao volante, saído da pista e capotado causando a morte de todos os passageiros que foram atacados por lobos e coiotes, comuns na região. Não se deram ao trabalho de se fazer autopsias em função do esta do em que se encontravam os corpos. Não conseguiram perceber que o sangue deles havia sido sugado. E não notaram que faltava um passageiro. Vocês devem estar se perguntando como eu sei de todos esses detalhes. Bem, digamos que eu estava lá e vi tudo de um ângulo diferente. A propósito, hoje é sexta feira e de acordo com meu calendário é lua cheia. Estou do outro lado do país, embarcando em outra van, e por falar nisso, me parece que sobrou um lugar vazio. Quer viajar com a gente?
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paulo sutto
A seita Quando os agentes do FBI chegaram no local o que encontraram era assustador. Atrás do altar um corpo, pregado de costas em uma cruz, com o coração arrancado. Seu rosto de lado expressava serenidade e não dor e nem deses pero. O sangue escorria das feridas de suas mãos até o chão. Aparentemente estava ali havia um ou dois dias. No povoado, ninguém admitia ser membro da tal seita, e também diziam não conhecer nenhum membro. O curioso era que o povoado era bem pequeno, alguém deveria ser ou conhecer algum membro. O crucificado; segundo informações do líder do povoado era o pas tor e fundador da seita. Mas quem seriam os membros? Qual a filosofia da seita? Em que acreditavam? “Eu darei minha vida por vocês”, essa era a frase que estava escrita em letras grandes acima do altar. Uma pista? Talvez. Óbvio que haviam feito um pacto de silêncio e sangue. Todos nega vam, mas todos sabiam de algo. O silêncio era o pacto. Sem pistas. Sem suspeitos. Uma ligação no meio da madrugada: - Todos são um e um são todos. - Ele deu a vida por nós. - Seu coração está conosco.
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contos para ler antes de dormir Silêncio. Desligou. Frases vagas jogadas no ar. Uma voz feminina e com medo. O Líder local não colaborava com nada. Arquivar o caso. Desistir. Esse era o plano. Essa era a isca. Partiriam, mas voltariam. Dois dias depois, por volta de 23:30 h. Se aproximam da igreja onde o pastor fora assassinado. Luzes, orações e gritos de medo. Cercam o prédio. Armas nas mãos. Invadem. O susto e a surpresa. - Todos deitados no chão - é o grito de ordem. - Sem movimentos bruscos. No altar uma jovem dopada. Braços abertos. O líder local ocupava o lugar do líder. Todos aparentavam estar drogados ou em uma espécie de transe. Apenas o líder foi detido. O pastor crucificado fez todos seus seguidores crer que ele daria a vida pela salvação de cada um deles. E agora ele estava muito doente. Um câncer o consumia. Ele mesmo sugeriu que o crucificassem e dividissem seu coração entre todos e assim o fizeram. Cada um comeu uma fatia crua para que ele pudesse estar com eles para sempre. A garota no altar era a pessoa que havia feito a ligação e dado a pista pelo celular. O líder do povoado havia assumido a seita, mas não com o mesmo ideal do antigo pastor. Ele mudou a frase sobre o altar: “Vocês darão a vida por mim”. Talvez com o passar dos anos um novo líder se levantasse para guiá-los. Talvez...
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Sesaraya