Recuperando a História de Cordeirópolis

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RECUPERANDO A HISTÓRIA DE CORDEIRÓPOLIS


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Tamiazo, Paulo César Cordeirópolis 1887-2012 : 125 anos de história / Paulo César Tamiazo. -- São Paulo : All Print Editora, 2012. 1. Cordeirópolis (SP) - História I. Título. 12-11907 CDD-981.61 Índices para catálogo sistemático: 1. Cordeirópolis : São Paulo : Estado : História

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Paulo César Tamiazo

RECUPERANDO A HISTÓRIA DE CORDEIRÓPOLIS


CORDEIRÓPOLIS 1887-2012 - 125 ANOS DE HISTÓRIA Copyright © 2012 by Paulo César Tamiazo O conteúdo desta obra é de responsabilidade do autor, proprietário do Direito Autoral. Proibida a venda e reprodução parcial ou total sem autorização.

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Este livro é dedicado a todos os que, por menor que seja o período, viveram por algum tempo no território do Município de Cordeirópolis nos últimos 125 anos e, especialmente, aos pioneiros que fundaram a Capela de Santo Antonio dos Cordeiros. Dedico também esta obra à memória do Prof. José Roberto do Amaral Lapa, o garimpeiro dos cantos e antros de Campinas, cujo trabalho de recuperação da memória sempre me inspirou desde a graduação.



Agradecimentos

Aos meus professores de História que me despertaram para a beleza do ofício: Luiz Carlos Figueiredo, da E.E. “Jamil Abrahão Saad” em Cordeirópolis e Elza Pedrollo Silvestre, do Colégio Acadêmico, em Limeira. À minha família, que, mesmo em momentos de dificuldades, souberam respeitar minhas escolhas, fazendo com que meu trabalho na recuperação da história do Município fosse constante há quase vinte anos. Aos meios de comunicação que divulgam e divulgaram nossos textos e propostas. Às Bibliotecas do IFCH, do Centro de Memória e Biblioteca Central “Cesar Lattes” da UNICAMP, onde pudemos encontrar livros raros que permitiram o início da recuperação da memória da cidade.


Ao Museu Histórico e Pedagógico “Major José Levy Sobrinho”, de Limeira, depositário de importantes documentos para a história de Limeira e Cordeirópolis. Ao Arquivo Público e Histórico “Oscar de Arruda Penteado” de Rio Claro, pelo acervo e pela documentação onde encontramos diversos indícios sobre a cidade. Ao Professor Wilson José Caritá, pesquisador da história de Limeira, pelos momentos em que compartilhamos as instalações do museu em busca das memórias perdidas das duas cidades, ligadas pelos fios invisíveis do tempo.


“Cesse tudo quanto a antiga musa canta/pois um valor mais alto se alevanta” Camões, Lusíadas.



Sumário

Introdução........................................................ 13 A formação (1817-1885)................................... 17 De povoação a distrito (1886-1899)................. 25 Período distrital (1899-1948)........................... 49 O município ..................................................... 79 A mudança da data na bandeira e no brasão do município .................................................... 95 O Bairro do Cascalho..................................... 101



Introdução

Cordeirópolis, 125 anos: um campo de experiências

Em 1847, o senador Vergueiro, então proprietário da fazenda Ibicaba, realizou a primeira tentativa de diminuir a dependência da mão de obra escrava, trazendo imigrantes da Europa para trabalhar em regime de parceria. Neste sistema, o produto da terra seria dividido entre o fazendeiro e o empregado em partes iguais, descontados os gastos feitos na “venda” da propriedade. Em 1884, através do Governo da Província, foi decidida a instalação de dois núcleos coloniais, um em Cascalho, pertencente a Cordeirópolis, e outro em Canas, no Vale do Paraíba. Pela primeira vez em São Paulo, os imigrantes poderiam comprar um lote de terra para sua propriedade e sustento de sua família. Mesmo que este tipo de estabelecimento tivesse sido aplicado na região Sul do país


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sessenta anos antes, o Cascalho foi o primeiro deste gênero no seu Estado. Em 1921 foi iniciado, numa propriedade depois transformada na “Vila Nova Brasília”, o plantio de amoreiras para criação de bichos-da-seda, visando fornecer material para a “Indústria de Seda Nacional” que, como o próprio nome diz, servia para produzir tecidos com o intuito de diminuir a dependência de produtos importados desta natureza. Posteriormente, a empresa foi vendida para a família Matarazzo, constituindo a primeira iniciativa, apoiada pelo Governo Federal, para desenvolvimento do ciclo produtivo dos tecidos de seda nacionais. Em 1931, foi instalada pelo Governo do Estado a “Estação Experimental de Limeira” que, apesar de seu nome, sempre foi sediada em Cordeirópolis, mesmo antes de sua autonomia. Este local foi destinado inicialmente a “fazer experiências necessárias à determinação das melhores variedades de laranjas” para exportação, transformando-se, com o tempo, em um “centro gerador de conhecimento e tecnologia”. Ressaltando a antiguidade da comunidade de Cordeirópolis, queremos destacar que, ao longo dos 125 anos de sua existência, o território do município sempre se pautou por ser um “campo de experiências”, de pioneirismo e inovação. É o momento de conhecer a sua história. Este livro representa o trabalho realizado desde 1993 na recuperação da memória e da história de Cordeirópolis. Parte do seu texto reproduz, de forma modificada, artigos publicados na imprensa local e regional. Gostaríamos de agradecer os jornais A Tribuna, Folha Popular, Jornal Expresso de Cordeirópolis; a Gazeta de Limeira e a Tribuna Popular, de Limeira, a revista Acontece Regional, de Cordeirópolis, o Jornal Regional de Rio


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Claro e a página da internet “Cordero Virtual” que, em diversas fases de nossas pesquisas, puderam divulgar o nosso trabalho. Em diversas fases de nossas pesquisas, a responsabilidade pelas opiniões continua sendo deste autor, agradecendo especialmente à Prefeitura Municipal de Cordeirópolis, na pessoa do seu Prefeito Municipal, Carlos Cezar Tamiazo, e à Chefe de Gabinete, Maria Antonia Zaia Spinelli, pelo apoio a esta edição. Cordeirópolis, outubro de 2012.



A formação (1817-1885)

O início da ocupação do território do atual município de Cordeirópolis se deu com a formação das primeiras grandes propriedades rurais, destinadas ao cultivo de cana para exportação de açúcar e, mais tarde, de café para exportação. Existiam duas formas de apropriação da terra na região, dependendo da posição social do pretendente: para os grandes proprietários, em busca de terras férteis para início de cultura, a requisição de uma carta de sesmaria era o passo para oficialização da posse. A legislação sesmarial, que teve início em 1375 em Portugal, e, com a descoberta do Brasil, foi transferida para cá, concedia terras incultas e despovoadas a quem, te-


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oricamente, provasse ter condições de cultivá-la e provasse sua ocupação. Sesmaria era como a legislação antiga chamava uma porção de terras concedida pelo Governo, que geralmente media 3 x 3 léguas, isto é, um quadrado ou um losango de 6,6km x 6,6km que, com o tempo, poderia ser dividida com quem pedisse uma “rata”. Como um dos requisitos para a oficialização das terras era a prova de utilização, geralmente as datas que encontramos, marcando o período de concessão, não indicam o início do cultivo em si, mas a oficialização de um processo anterior. As sesmarias que depois originaram as principais fazendas da cidade (Morro Azul, Ibicaba, Cascalho, Cordeiro, Santa Maria, São Joaquim), foram concedidas num período que vai de 1817 a 1821, sendo que, no ano seguinte, o sistema foi suspenso, por ordem do Imperador D. Pedro I. A outra forma de apropriação da terra era realizada pelos homens livres e escravos libertos que, numa região onde o centro urbano mais próximo era Piracicaba (elevada a vila-município em 1821), consistia em ocupar terras distantes das sedes das fazendas, evitando ser expulso pelo “legítimo” proprietário da sesmaria, formando um “sítio”, onde era possível cultivar produtos de subsistência. Havia também propriedades que plantavam cana para ser moída no engenho, produzindo açúcar, isto no período açucareiro paulista (fins do século XVIII – primeira metade do século XIX). Podemos afirmar que o território histórico de Cordeiro(polis) – que não compreendia os acréscimos posteriores a 1938, como as fazendas do Bosque, Santa Teresa, São Jerônimo, Santa Bárbara, etc. – se compunha das seguintes sesmarias (ou fazendas): na divisa com o


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que depois se chamou Santa Gertrudes, a fazenda São Joaquim, que tem origem na sesmaria de mesmo nome, concedida à família Godoy em 1818 e que entra no território da cidade até aproximadamente a rua 13 de Maio; a fazenda Ibicaba, que tem origem na sesmaria do Morro Azul, oficializada em 1817; a fazenda Santa Maria que, segundo consta, surgiu da sesmaria da Água Branca, e que ainda não sabemos a quem foi concedida; as fazendas Cordeiro e Cascalho que, pelo menos a partir de 1880 pertenceram aos herdeiros do Barão de Porto Feliz, e, que têm origem na sesmaria concedida aos irmãos Ferraz de Campos, um dos quais se tornou Barão de Cascalho em 1867. As estradas da região, no período compreendido por este capítulo, deviam compreender, basicamente, a estrada do interior, que atualmente é a SP-316; a estrada que ligava a sesmaria da Água Branca à estrada geral (atual rua do Barro Preto); a ligação entre a fazenda Ibicaba e a estrada do interior (rua Toledo Barros), citada em documentos antigos; e a continuação da estrada que vinha de Campinas a Limeira, que seria a atual estrada vicinal para Limeira e sua continuação antiga (a rua Guilherme Krauter), cruzando com a estrada que demandava à São Joaquim, ou Bairro do Ouro Preto. A Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, criou um novo regime de concessão de terras devolutas, isto é, as terras públicas que não eram de uso dos municípios nem dos terrenos da marinha, e de nenhuma outra instituição governamental. Segundo esta lei, somente poderia se adquirir terras através de compra, e não mais de concessão gratuita, como ocorria anteriormente. Além disso, criou-se o Registro de Terras, regulamentado em 1854, que deveria existir em cada paróquia do país. Ali, os proprietários deveriam declarar quais eram as suas terras, como a conseguiram e onde se localizavam.


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Mesmo assim, devido à imprecisão das localizações e a máfé de alguns proprietários, os problemas judiciais continuaram ocorrendo, se estendendo, no nosso caso, até o início deste século, com a questão da divisão judicial da fazenda São Joaquim. Segundo algumas fontes, José Ferraz de Campos, depois barão de Cascalho, além de um grande produtor de café, tinha uma tropa de burros, necessária para levar o café até o porto de Santos. Como apoio para esta tropa deveria existir um rancho, local onde ela seria alimentada e onde se fazia a manutenção dos arreios e de outros apetrechos necessários para a viagem. Supondo que a chamada fazenda Cordeiro pertencesse, àquela época, ao mesmo dono da fazenda Cascalho, podemos propor que este lugar se refira ao que em alguns textos é chamado “Pouso do Cordeiro”. A iniciativa do senador Vergueiro, proprietário da fazenda Ibicaba e morador a partir de 1825, de trazer imigrantes europeus para diminuir a dependência da mão de obra escrava – em 1840, e, com mais intensidade, a partir de 1847 – contratados em regime de parceria, fez com que ele ficasse famoso em todo o país e fosse, até a revolta de Davatz (1856), tomado como exemplo de uma experiência bem sucedida na substituição da força de trabalho cativa. A partir desta época o sistema se manteve, mesmo que sem o mesmo brilho, até ser substituído pela contratação através de pagamento de salário. De qualquer forma, depois da década de 1880, a base dos trabalhadores da fazenda foi de imigrantes italianos ou portugueses, além de alguns nacionais. Visando diminuir o custo de transporte do café, da plantação até o porto, os proprietários rurais de São Paulo


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fizeram gestões para a construção de uma linha ferroviária que ligasse estas duas regiões. Em 1867 foi inaugurada a estrada de ferro Santos-Jundiaí, que ligava Jundiaí ao porto e era conhecida como São Paulo Railway, ou a “Inglesa”. Diante da considerável redução dos custos e do aumento das quantidades embarcadas, os fazendeiros da região se mobilizaram no sentido de criar uma companhia ferroviária que ligasse a região produtora de Campinas à “ponta de trilho” de Jundiaí. Em 1872, chega a Campinas a ferrovia, inaugurada a 11 de agosto. Em maio de 1876, antes mesmo da abertura ao tráfego da estação de Cordeiro, os fazendeiros interessados (e outros prejudicados) utilizaram-se das páginas do jornal “Correio Paulistano” para debater a localização do ramal que deveria servir à região de Araras, já que a expansão da ferrovia se direcionava a Rio Claro. A reclamação principal era que, devido ao poder e à força política do Comendador José Vergueiro, mesmo havendo proprietários que precisavam embarcar mais café na região de onde seria a estação, insistia-se em colocar o ramal na fazenda Ibicaba. Segundo o autor denominado “Um lavrador”, na área de Cordeiro, seriam beneficiados diversos proprietários, como o barão de Três Rios (então dono da fazenda Santa Gertrudes), o barão de Porto Feliz (então proprietário do Cascalho), Ignacio e João Xavier de Negreiros, a viúva de Marcelino de Godoy e filhos (então proprietários da fazenda São Joaquim, uma propriedade de quatro mil alqueires que começava próximo à Igreja Matriz, passando por Santa Gertrudes), Antonio Mendes da Costa (proprietário da fazenda Água Branca, localizada próximo à represa do Barro Preto) e, surpreendentemente, um proprietário chamado “José Cordeiro”, de onde se supõe vir a origem do nome da estação, e, propriamente, da cidade.


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Garantindo, pelo governo, a possibilidade de aumentar as tarifas até o limite de retorno de 7% sobre o capital, e contando com a desistência da “Companhia Inglesa” do privilégio de zona que tinha sobre a região, a ferrovia foi expandida, sendo aberta ao tráfego em 30 de junho. Em 11 de agosto de 1876 as estações de Limeira, Cordeiro e Rio Claro foram inauguradas oficialmente. Durante o período de construção, cogitou-se construir a linha de bitola larga em direção a Araras, com um ramal de bitola estreita para Rio Claro, mas, no fim, pela racionalidade do traçado, foi construído o ramal principal até esta cidade, mantendo o ramal secundário até Araras, que terminava em Descalvado. Na década de 1870 surgiram colônias nas propriedades do barão de Porto Feliz, Cândido José de Ferraz, filho do barão de Cascalho. Domingos José Nogueira Jaguaribe, depois casado com uma filha de Cândido, era um imigrantista e abolicionista, nascido no Ceará, filho do visconde de Jaguaribe, tendo sido vereador e deputado provincial no período do Império. Escreveu livros defendendo a utilização da mão de obra estrangeira, criticando a escravidão e apoiando o abolicionismo, além de fazer propaganda das colônias de seu sogro. As boas relações que ele tinha com a administração provincial foram decisivas na criação do Núcleo Colonial de Cascalho. Segundo nos informa o Correio Paulistano, em suas edições disponibilizadas pela internet, em 25 de dezembro de 1879 tivemos conhecimento que, naquela semana, teriam sido criadas agências dos Correios em diversas localidades, especialmente a de Cordeiro que, naquela época, deveria servir à estação ferroviária da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, já que, comprovadamente, neste momento, ainda não estava iniciada a povoação.


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O problema da substituição da força de trabalho na agricultura, com a crise da escravidão durante a década de 1880, preocupou fazendeiros e políticos em São Paulo. A tendência majoritária na Assembleia Legislativa Provincial era a de considerar a imigração europeia como solução para a falta de mão de obra iminente, com o advento da lei abolicionista parcial e as revoltas que pipocavam por todo o país. Em 1884, o governo provincial promulgou a Lei nº 29, de 28 de março, que subvencionava a imigração para São Paulo, com o pagamento antecipado de passagens para o trabalhador pelo Governo de São Paulo, custo que deveria ser reembolsado posteriormente. No projeto, existia um artigo que autorizava a criação de cinco núcleos coloniais próximos a estradas de ferro ou rios navegáveis. Nesta lei se encontram as duas estratégias mais comuns para a atração de imigrantes para São Paulo: A primeira consistia em atrair o imigrante com a perspectiva de um emprego garantido, na lavoura, onde, ao final de seu contrato, o lavrador teria um pecúlio acumulado e, se quisesse, poderia ir para a cidade mais próxima trabalhar no comércio ou prestar serviços. A segunda defendia que, para fixar o imigrante à terra, era necessário dar-lhe um lote onde ele pudesse plantar. É essa concepção que tinha um dos autores do projeto inicial, o deputado Antonio Prado. A sua aprovação teve como consequência à criação do Núcleo Colonial do Cascalho, fator de desenvolvimento da região situada em torno da Estação de Cordeiro, origem da nossa cidade.



De povoação a distrito (1886-1899)

Uma das maiores questões relacionadas à cidade é justamente a sua data de fundação. Cordeirópolis não foi, como Campinas e Piracicaba, um local em que os moradores – dispersos em pequenas propriedades e geralmente posseiros –, por intervenção do governo da então Capitania de São Paulo, foram autorizados a se mudar para povoações especialmente fundadas por seus emissários. É por este motivo que sabemos com precisão a data de fundação e aniversário da cidade de Campinas (14 de julho) e de Piracicaba (1º de agosto). Ainda não se precisou a data de fundação do município de Cordeirópolis, mas temos algumas pistas: o Almanaque para o Estado de São Paulo 1891 diz que as edificações do município datam de 1884, e neste mesmo ano temos indícios de que desembarcaram na estação de


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Cordeiro quatro pessoas com passagem paga pelo Governo da Província; apesar disso, o documento mais antigo com relação à ocupação da parte urbana é uma escritura de 30 de março de 1886. Antes de considerar e descobrir o documento que comprova a existência da povoação de Cordeiro, fixando a sua data de surgimento como 29 de janeiro de 1887, teria se conservado esta escritura, onde se vendia um lote de terra na rua 7 de Setembro, na então Capela de Santo Antonio dos Cordeiros. O que está garantido é que, nesta data, um componente da família Barbosa Guimarães passava uma escritura particular a Francisco Pierrotti e outro, de terras “de sua propriedade, regularmente divididas em ruas e quarteirões”. Desde aquela época, e dez anos mais tarde, os proprietários e adquirentes de terrenos na povoação situados entre a divisa incerta de Santa Gertrudes e a rua 13 de Maio descobriram que não eram, na verdade, donos de nada, porque a fazenda São Joaquim, envolvida em disputas judiciais compreendia, também, as terras que eles tinham adquirido anteriormente. O texto mais usado quando se fala em “histórico” do município diz que foi “pouco antes de 1887” o início da povoação, porque em 23 de fevereiro do mesmo ano chegou à Câmara Municipal de Limeira um abaixo-assinado dos moradores da capela dos Cordeiros com o intuito de fazer com que o Governo da Província retornasse o local para Limeira, de onde foi tirado em 1880 (e reposto em 1890). Em 1885, tinha aparecido outro abaixo-assinado, desta vez dos moradores do Núcleo Colonial do Cascalho, pedindo para que se fizesse a mesma coisa e, neste ano, não há, pelo menos pelo que se percebe, indício de agrupamento ou reivindicação dos habitantes de Cordeiro, se é que já existia.


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Na edição de 14 de março de 1886, uma pequena nota comprova a existência de uma espécie de registro de nascimento do principal e mais antigo templo católico do município. Diz a nota anônima no jornal Correio Paulistano: “Foram inaugurados, a 9 do corrente, na estação de Cordeiros, linha férrea Paulista, os trabalhos de construção de uma capela que será erigida sob a invocação de Santo Antonio.” Comprova-se, desta forma, o período onde teve início a Igreja Matriz de Santo Antonio. O desenvolvimento de Cordeiro sempre foi muito lento, em diversos aspectos. A conformação do núcleo urbano, desenhado provavelmente entre 1885-7, não se modificou durante muito tempo: a rua Nova da Paz, atual Guilherme Krauter, não fazia parte do grupo de ruas (re)nomeadas em 23 de junho de 1890. A relação dos logradouros públicos apresenta os seguintes nomes: rua da Boa Esperança (depois Carlos Gomes); rua do Visconde do Rio Branco; rua Sete de Setembro; rua Aurora (depois Santos Dumont); rua Arminda (depois José Bonifácio); rua 25 de Março (depois Saldanha Marinho); rua 13 de Maio (antiga rua Augusta); rua do Comércio (antiga rua da Estação e rua José Vergueiro, depois rua Capitão Manoel de Toledo Barros); rua da Liberdade (antiga rua do Príncipe e depois Siqueira Campos) e praça Antonio Bento (depois praça Francisco Orlando Stocco). O Largo da Matriz passou a se chamar Praça João Pessoa depois de 1930 e, quarenta anos depois, Praça Comendador Jamil Abrahão Saad. Entre agosto de 1883 e junho de 1885, oito pessoas, com passagens pagas pela Hospedaria do Imigrante, lugar onde eram abrigadas até que fossem contratadas por algum fazendeiro, tiveram como destino final a estação de Cordeiro, antes de aportarem os trabalhadores enviados para o Núcleo do Cascalho.


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A Lei nº 96, de 21 de abril de 1880, transferiu para Rio Claro o território das fazendas Cordeiro e Cascalho, e, como vemos, quando o Núcleo foi criado e a povoação surgiu, ambos pertenciam a esta cidade. Um documento fundamental para compreender o período inicial da cidade é o relato de Evaristo José Rodrigues, publicado pela Prefeitura Municipal em 1995. A povoação de Cordeiro surgiu num período em que se buscavam soluções para resolver o problema da mão de obra, devido ao iminente fim da escravidão, onde as fugas e revoltas eram cada vez mais frequentes. A aglomeração urbana surgiu numa parte de terra localizada entre propriedades agrícolas estabelecidas, como as fazendas Cascalho, Ibicaba, São Joaquim, entre outras de menor expressão. Como não podia deixar de ser, o modo de viver era rústico e precário. Segundo o memorialista, diversas vezes citado, Evaristo José Rodrigues, as casas de tijolo só começaram a ser feitas depois da Abolição. A importância e a representatividade dessas fazendas estão expressas nas palavras do memorialista Evaristo José Rodrigues: “grandes fazendas de café, com densa população escrava e livre, que havia nos arredores, tão importantes eram algumas delas (...)” Poderia haver utilização de mão de obra livre e escrava simultaneamente, como percebemos numa comunicação relatada pelo chefe de polícia ao presidente da província de São Paulo: “Limeira – Na noite de 23 para 24 de junho, foi assassinado na Fazenda Ibicaba (...) o escravo Theodoro, pertencente à mesma. O seu assassino, Angelo de Tal, italiano e empregado na referida fazenda, conseguio evadir-se.” A povoação surgiu próxima a estradas e os indícios de formação do agrupamento urbano são posteriores à


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implantação da ferrovia. Como indicou Evaristo na revista: a povoação surgiu “à beira das estradas que faziam a ligação para as fazendas e cidades de Limeira e Rio Claro”. Apesar de não falar sobre a relação da população escrava com a livre, dentro das fazendas, por seu texto se concentrar no aspecto urbano, Evaristo dá dois exemplos de relações sociais entre os cativos (urbanos e rurais) e seus senhores. No relato, vemos que o castigo era uma prática comum a todos os senhores e representantes da classe dominante: “Dizem as más línguas que isto resulta dos maus-tratos que deram aos seus escravos, porém no meu entender, neles se cumpre o adágio que diz: pai rico, filhos pobres.” Em seu relato, Evaristo aponta que “entre seus escravos havia um preto alto e simpático chamado Ciperio, que não se cansava de agradar-me trazendo-me todos os dias um jacá de jabuticabas apanhadas no mato virgem situado no caminho do Ibicaba”. O Correio Paulistano destaca a passagem da família imperial pela estação de Cordeiro, numa época em que a povoação já estava começando a ser ocupada. Em 5 de novembro de 1886 o jornal cita a passagem do imperador D. Pedro II pela região. A reportagem inicia falando da passagem pela estação de Descalvado, seguindo em direção a Araras, onde foi recebida pelo fazendeiro José de Lacerda Guimarães. Depois de pernoitar na cidade, a família imperial visitou alguns locais da cidade, seguindo viagem no dia seguinte, em direção a Jundiaí, tendo o trem parado em Cordeiro, Limeira e Campinas, “a velocidade sempre de mais de 60 km por hora”. A edição de 14 de novembro de 1886 descreveu o itinerário do imperador e de sua comitiva em mais uma de


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suas viagens. Desta vez, no dia 8 de novembro, após uma viagem de 30 minutos entre Rio Claro e Cordeiro, os imperadores desembarcaram com destino à fazenda Ibicaba, para um almoço. Segundo o jornal, havia duzentos homens, moradores na vizinhança, a cavalo, com estandartes de diversas nacionalidades para recebê-los. Destacou-se que a fazenda continha 1.700 alqueires, cerca de 1,2 milhão de pés de café, com grande pomar, horta e casa de banho, com duas novas plantações, a “Tetéa” e a “Puranga”, perfazendo, no total, 270 colonos maiores e menores de nacionalidades diversas, 320 escravos adultos, 136 crianças escravas e 27 libertos. Terminada a visita à fazenda, suas majestades retornaram a São Paulo. Já destacamos há algum tempo que, em vista dos problemas causados por fugas e rebeliões de escravos, especialmente pela ação dos caifases, que providenciavam a libertação dos negros, a maioria dos proprietários que ainda tinha estes vínculos manifestava na imprensa suas medidas, para que a abolição, em tramitação no Parlamento brasileiro, fosse apressada. Antes das medidas tomadas pelos municípios em libertar os escravos sem que a legislação nacional fosse aprovada, o proprietário, e considerado o fundador de Cordeirópolis, Manoel Barbosa Guimarães comunicou, na edição do Correio Paulistano de 20 de janeiro de 1888, que teria libertado seus 17 escravos. Em comparação com a fazenda Ibicaba, percebe-se que Guimarães era um pequeno proprietário, tendo aproveitado para lotear seu sítio visando a formação da cidade. Logo adiante, Evaristo comenta o que normalmente acontecia, isto é, as atitudes que eram toleradas: “Aos (...) escravos e empregados (...), no comum, eram tratados a


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bofetada, puxão de orelhas e pontapés dados pelo patrão (...), hábito que prevaleceu por muitos anos (...) depois do 13 de Maio de 1888”. O relato sobre a sociedade da povoação recém-constituída apresenta, também, mais um modo de inserção dos escravos na vida urbana: a realização de uma feira de “escravos artesãos da redondeza, em certo dia da semana (...) que atraía muita gente para comprar e vender artefatos de madeira e doutros materiais”. Resta saber se os escravos eram de senhores rurais ou urbanos, pois a autonomia de comprar e vender só poderia haver quando a pessoa era senhora de si mesma (já não seria escravo) ou quando os seus senhores dessem autorização para tanto; esses escravos poderiam ser de um e prestar serviço a outro, ou das propriedades rurais em volta. A confiar no texto, o vínculo que eles tinham com a povoação era devido aos seus senhores os utilizarem nos seus misteres; com o fim dos liames, acabaram-se os compromissos. Como apontou Evaristo: “e tendo sido abolida a escravidão acabou-se a feira”. O memorialista destaca em seu texto as “recreações do povoado”: bailes, circo, dramas e zarzuela (espécie de ópera cômica, na qual se declama e se canta). Com relação ao entrudo, que originalmente começou como diversão dos negros, a sua única lembrança é que ele vendia “laranjinhas de cera cheias de água perfumada”, na época das festas. Pode ser um caso de influência dos costumes da “Capital”, e a própria repercussão que isto causa, ou ainda, talvez alguns escravos que vieram para Cordeiro teriam estado no Rio na mesma época. A historiografia contemporânea, com algumas exceções, consagrou a explicação de que os imigrantes foram


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trazidos para o Brasil devido à “escassez de braços”, decorrente do declínio da escravidão (leis emancipatórias parciais, fugas, rebeliões, etc.), para manter as fazendas estabelecidas e proporcionar a expansão dos cafezais no interior de São Paulo. No relato, o autor fala sobre a situação dos trabalhadores livres e escravos na povoação de Cordeiro e nos arredores do Núcleo Colonial de Cascalho: “no regime da escravidão (...) era fácil a mão de obra (...)”. Nas fazendas da região, os escravos já não eram a maioria dos trabalhadores: na Ibicaba, a utilização conjunta do imigrante e do escravo já foi citada por um relato de 1883, que menciona “poucos colonos, todos alemães, que ainda se encontram em sua propriedade” e “os escravos da fazenda eram menos bem vestidos do que os do Conde de Três Rios”. No Estado de S. Paulo de 9 de fevereiro de 1889 destaca-se a participação do então deputado Prudente de Morais, que, como vimos, era apoiado por influentes fazendeiros locais, encaminhando representação dos moradores de Cordeiro e Cascalho, pedindo o retorno dos bairros para sua cidade de origem. Como soubemos anteriormente, mesmo que o projeto tenha sido aprovado pela Assembleia Legislativa, ele foi vetado pelo então presidente da província, sob alegação de inconveniência. Na verdade, a sua aprovação iria contrariar os interesses dos líderes políticos de Rio Claro, situação que só foi revertida com a mudança do regime, quando Prudente de Morais, ao assumir a presidência do Estado, expediu decreto realizando o retorno. Por essa época, o Cascalho já era núcleo, e anteriormente o Dr. Jaguaribe já tinha criado colônias na base da locação de serviços. Se existiam nacionais livres, estes


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poderiam ser posseiros ou pequenos proprietários, absorvidos pelo fazendeiro ou que desalojados de suas terras pelas “arrematações”, consequentes das “divisões judiciais” das fazendas, destacadas das sesmarias do início do século. Evaristo Rodrigues, no seu relato, dá indicações de que seu tempo era dividido entre atividades urbanas e rurais. A sua vinda para o Brasil foi devida à ação de “um agente de imigração, do governo brasileiro, propondo a devolução do dinheiro das passagens”. O pagamento da passagem foi o início do chamado “período de imigração subvencionada” (1884-1927), criado pela Lei nº 28, de 29 de março, que dispôs, de passagem, sobre a criação de Núcleos Coloniais. Estes núcleos compunham-se de fazendas retalhadas e vendidas a imigrantes, com o objetivo de tentar proporcionar a sua fixação no país, através da perspectiva de se tornarem proprietários e alcançarem uma vida digna. A família de Evaristo foi atraída pelo oferecimento d’ “a posse gratuita dum lote de terreno de área de um alqueire, desmembrado da fazenda do Cascalho”. Somente os lotes suburbanos, dentre os quais está o terreno do cemitério daquele bairro, têm uma medida equivalente (26.838 m2). Devido à epidemia de febre amarela e à falência de uma casa bancária, Evaristo perde sua mãe e seu primo, e diz que “o terreno que nos foi dado ao imigrar ao Brasil, que agora tinha sido promovido à categoria de sítio, foi vendido, como também as casas do povoado”. No final do século XIX, a região, e, por extensão, todo o chamado “Oeste” paulista, sofreu com as sucessivas epidemias de doenças infectocontagiosas. As fontes locais também dão conta da passagem das epidemias durante o século XIX: “A Limeira foi visitada já por epidemias de


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febre amarela. A primeira em 1889, das outras em 1890, 1892 e 1894.” A notícia da existência de um clima insalubre no Brasil contribuiria para afastar os imigrantes e por isto, os manuais para os trabalhadores que chegavam minimizavam o problema, dando recomendações aos italianos e indicando a origem, medicação e medidas preventivas. “Para a cura da febre amarela, o manual recomendava ‘a pólvora do quinino, de 150 a 200 gramas por dia, o sulfato de quinino, de 1 a 2 gramas por dia (...)’.” Depois de ter aparecido em 1889 e 1890/91 em Campinas (e também na região), “em 1892 a epidemia retornou à cidade com maior força e difundiu-se por Rio Claro e Limeira”. Segundo o texto, a doença se alastrou pela entrada de novos contingentes de trabalhadores, que era uma população “renovada e não imune”. A amplitude da epidemia pode ser confirmada pelo relato de Evaristo Rodrigues: “Neste mesmo ano de 1892, a mortandade de febre amarela foi tão grande que a maioria dos defuntos era enterrada envolvida apenas num lençol (...)”. O enterramento, antes de ser problema de higiene pública, misturava um costume antigo e uma questão de ordem prática. Com relação a Cordeiro, o memorialista afirma: “Aos anjinhos eram enterrados debaixo do Campanário da Capela de Cordeiro, e os adultos seguiam de carroça ou de rede para Limeira, já que não havia no povoado Cartório de Registro Civil para os assentos, inclusive os de nascimento e casamento”. A justificativa que ele dá, neste caso, não é a ausência de um cemitério, mas de um lugar que oficializasse esses acontecimentos.


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Quanto a Cascalho, o pedido de um cemitério e uma igreja foi feito em 1893, mesmo que o próprio Bispado de São Paulo tivesse, anteriormente, solicitado a mesma autorização, e documentos oficiais garantem a destinação de metade do lote suburbano nº 58 para o primeiro e da terra já reservada para a segunda. Quando o distrito de paz foi criado, com o consequente funcionamento da repartição desejada pelo memorialista, e antes que o cemitério do distrito fosse implantado, os enterros continuaram a ser feitos em Limeira, e próximo ao fim do século, ainda em Cascalho, mas somente para os originários daquela povoação. O caos provocado pela doença é expresso nas palavras do memorialista: “em Limeira, a polícia recrutava nas ruas a quem encontrasse, para abrir covas para sepultar os cadáveres, e até mesmo os coveiros, médicos e farmacêuticos eram ceifados pelo alfanje da morte.” A incerteza do modo de prevenção, de contágio e de profilaxia da doença acabava fazendo com que a cura fosse pior que a moléstia. No ano de 1896, em Rio Claro, apareceu um surto epidêmico de febre amarela, e houve conflitos entre a inspetoria sanitária, a intendência e outros por causa da ocultação dos doentes. Segundo uma autora dedicada ao estudo da saúde pública, Maria Alice Rosa Ribeiro: “Havia curandeiros intervindo nos cuidados dos doentes nos domicílios.” No caso de Cordeiro, vemos que um médico, de formação “científica”, acabou por utilizar os recursos dos curandeiros: “e um dos médicos, mais observador, considerando a realidade, resolveu curar os seus doentes com água de flores de laranjeira e lençóis molhados sobre o ventre, quando começou a fazer curas maravilhosas.”


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Com o fim da epidemia, o farmacêutico de Cordeiro, Affonso O’Flaherty, solicita à Câmara de Limeira o pagamento das despesas feitas com os indigentes. Depois da febre amarela, veio ainda a epidemia de varíola, que segundo as Atas da Câmara Municipal de Limeira, consultadas na década de 1990, estaria extinta em dezembro de 1892. O poder público começou a pensar no “saneamento” de Cordeiro, ideia que não teve resultados práticos no período anterior ao século XX. Em janeiro do ano seguinte, o Dr. João Pedro de Saboia pede o ressarcimento de despesas de mesma natureza. Várias vozes se levantam contra ele, devido ao seu tratamento “não científico”. Evaristo recorda assim o fato: “Este médico chamava-se João Pedro de Saboia e por isso foi perseguido por seus colegas.” Mesmo assim, foi aprovado o ressarcimento das despesas. A febre amarela voltaria à cidade de Limeira entre março e maio de 1894, e outra vez entre 1895 e 1896. O Correio Paulistano destacou, na sua edição de 30 de abril de 1892, que teriam sido visitadas por uma comissão sanitária as cidades de Limeira, Rio Claro, Campinas, Santos e os “pequenos povoados” de Cordeiro e Porto Ferreira, ressaltando, mais uma vez, a antiguidade da povoação, que comprovadamente tem mais de 120 anos por esta passagem. O texto de Evaristo José Rodrigues afirma: “O número de alemães predominava entre os primeiros habitantes do povoado”. Havia elementos de origem germânica, entre outros, nas redondezas, como já foi dito para as fazendas Ibicaba e Cascalho. A sua presença pode ser deduzida do fato que a povoação era “(...) para muita gente, o Eldorado da época”, e Evaristo Rodrigues conta, em seu relato, também sobre


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a música “da moda” tocada pelas bandas formadas pelos fundadores de escolas particulares: “Naqueles dias, estava em moda a música (marcha) ‘Marchamos para o Mato Grosso’, escrita como um desabafo dos militares à opressão do Governo Imperial, que como degredo, para aquela província distante, mandava todos os oficiais do Exército que manifestassem ideias republicanas.” Em junho de 1887, Deodoro da Fonseca foi eleito presidente do Clube Militar, destinado a defender os interesses da classe. Em outubro, solicitou do ministro da Guerra que os soldados não fossem mais obrigados a caçar escravos fugidos, o que foi recusado; o exército, mesmo assim, decidiu não capturar mais os fugitivos. Nesse tempo, houve uma crise política e o primeiroministro João Alfredo mandou Deodoro para Mato Grosso, para acalmarem-se os ânimos, depois que a classe militar pediu punição para uma agressão cometida contra um oficial da Marinha. Com a queda do ministério e com a polêmica chegando ao ápice, o novo presidente do Conselho de Ministros chama Deodoro de Mato Grosso, que, mais tarde, iria promover o levante que derrubou o Império. O memorialista Evaristo José Rodrigues conta que “pouco tempo antes, de tudo quanto acabo de relatar, com a presença do nosso Imperador, deu-se a inauguração da luz elétrica de Rio Claro”. Segundo a bibliografia, Rio Claro foi a segunda cidade do Brasil a possuir luz elétrica. Em 17 de agosto de 1884, a Câmara Municipal assinou contrato com Real & Portella, que comprometeu-se a colocar dez lâmpadas de arco voltaico sobre postes de dez metros, “funcionando todas as noites quando não houvesse luar”. Na inauguração, citada por que ocorreu em 7 de setembro de 1885, “as lâmpadas (...) queimaram uma a uma”.


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Desta inconsistência de informações, depreende-se que ou as lâmpadas falharam depois da “solenidade inaugural”, ou o fiasco não chegou ao conhecimento, ou não se fixou na memória de Evaristo Rodrigues. Segundo a mesma publicação, a primeira hidrelétrica foi inaugurada em 15 de novembro de 1895, mas sofreu um acidente que a inutilizou por mais de cinco anos. Desde 1887 foram feitos pedidos para que Cordeiro voltasse a pertencer a Limeira; um ofício enviado à Assembleia Legislativa em janeiro de 1889 foi acolhido e transformado em projeto de lei, aprovado em 23 de março e vetado em 10 de abril, com a alegação de que seria inconveniente mexer nas divisas dos municípios. Com a mudança para o regime republicano o pedido foi atendido, sendo expedido o Decreto nº 39, que restaurou as antigas divisas. Como já apontamos recentemente, a primeira escola criada pelo Governo do Estado teve sua existência legalizada a partir da Lei nº 4, de 6 de fevereiro de 1889. O Correio Paulistano destaca o abaixo assinado pelo qual os habitantes do bairro solicitaram estes serviços, como a nomeação do primeiro professor. A edição de 17 de fevereiro de 1887 registrou a apresentação, pelo deputado Aquilino do Amaral, de projeto de lei, baseado em representação dos moradores de Cordeiro, visando a criação de uma escola masculina: a comprovação dos 125 anos documentados de nossa cidade. Em 29 de julho de 1890, o mesmo jornal registrou o pedido de licença do Luiz Guilherme Savoy do cargo que ocupava de “professor público” do bairro dos Cordeiros, município de Limeira. Conforme já sabemos, a escola vaga a partir da licença de seu titular foi transformada em mista. A edição do dia 4 de janeiro de 1891 registrou a abertura de concurso para provimento das cadeiras vagas


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em todo o Estado, consignando a “escola mixta” de Cordeiro para ser ocupada por uma professora. Em 8 de abril do mesmo ano, foi publicada a nomeação da professora Adelina Isabel de Almeida para esta classe. No período em que o Cascalho foi criado, estavam em voga duas correntes que discutiam o papel do imigrante no Brasil: os que defendiam a utilização do imigrante como mão de obra exclusivamente para as fazendas de café e os que achavam que ele deveria ser proprietário de um lote de terra, condição suficiente para que não apenas chegasse, ajuntasse algum dinheiro e voltasse para sua terra. No caso de Cascalho, o que vemos muitas vezes durante sua história é o trabalhador dono de um pedaço de terra ser arregimentado para ajudar na colheita de café em fazendas próximas, exatamente como se fazia na Itália, no caso dos “braçais”. Num primeiro momento, os pequenos proprietários, pequenos arrendatários ou meeiros constituem o contingente que irá imigrar para o Brasil. No caso de Cascalho, isso seria voltar às origens, isto é, voltar a ser pequeno proprietário, e, caso houvesse progresso, acarretaria na compra de uma propriedade maior para utilização e sustento de toda a família. Um dos motivos da saída de pessoas do Cascalho foi, justamente, o pequeno tamanho dos lotes. Individualmente, estes não sustentariam os filhos, fazendo-os buscar outras oportunidades de trabalho, seja nas fazendas, seja em cidades da região, onde a industrialização tivesse começado. As famílias da região do Vêneto contavam com doze ou até quinze integrantes ao todo, geralmente aptos ao trabalho e que viviam do pequeno núcleo de terra que os


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pertencia. A alimentação consistia basicamente de polenta e, nas mesas mais fartas, havia peixe, ovo, salame, verduras e raramente carne. Quanto às casas, situação que não iriam encontrar tão diferente no Brasil, eram “casebres baixos, cheios de frestas, caindo aos pedaços, que deixavam transparecer, pelos buracos (...) a mais triste miséria”. Além destes problemas, somava-se a falta de higiene, que certamente, foi transferida para o Brasil. Na Itália as doenças mais comuns eram a pelagra, a escrófula, o raquitismo e a bronquite. Aqui passaram a sofrer com epidemias de febre amarela, tifo e varíola, entre outras, além da gripe espanhola, de 1918. Os emigrantes da região do Vêneto, lugar de onde veio a maioria dos imigrantes do Cascalho, são aqueles que não saem com a esperança de voltar, e se desfazem de tudo, de seus animais e dos parcos utensílios domésticos; partem depois da colheita do trigo, no outono, entre setembro e novembro. Pela descrição do panorama da Itália pré-emigração, podemos ver que aqueles que foram enviados aos núcleos coloniais, em grande medida, reproduziram as condições que já tinham em sua cidade natal, quanto à estrutura familiar e ao tamanho da propriedade. Os problemas decorrentes da insuficiência da terra, somados aos problemas típicos do Brasil, como doenças tropicais, inadaptação e relacionamento com grandes proprietários rurais vizinhos, fizeram com que a história das famílias italianas, não só do Cascalho, mas de todas que se dirigiram a núcleos ou fazendas, seja marcada pelo sacrifício, pela união e pela luta em torno de seu autossustento, buscando em outro país todas as condições que não podiam alcançar em sua terra.


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O Núcleo Colonial do Cascalho (NCC), o primeiro criado pelo Governo Provincial, obedecia ao critério legal de estar localizado próximo à estrada de ferro, a Cia. Paulista, para evitar, como já tinha acontecido com outros de iniciativa federal, as dificuldades de comunicação e escoamento de produtos. O projeto inicial previa a formação de uma povoação, no meio de um ambiente de grandes fazendas, onde a mão de obra livre fosse utilizada na sua totalidade. Ela estava dividida em lotes urbanos, com área aproximada de 3.000 m2, lotes suburbanos com área de 10.000m2, e lotes rurais, de mais ou menos 100.000 m2. A ideia era formar um centro urbano onde se concentrassem as atividades de comércio e residenciais dos colonos, uma área de chácaras e outra de cultivos de subsistência. As primeiras famílias a se instalarem no Núcleo eram da Europa Setentrional. A primeira família italiana a ser incluída nas estatísticas é a Maronese, entre 1887 e 1889. Os habitantes do Cascalho, mesmo depois de sua emancipação, em 1893, sempre tiveram problemas com o grande proprietário rural da região na época, José Quinteiro. A legislação dizia que, quando um imigrante não pagasse o seu lote em dia, esgotados todos os modos de cobrança, ele seria leiloado, e o valor apurado revertido na quitação de sua dívida, o que aconteceu em 1897. Os colonos em dificuldade pediam à administração um prazo maior para pagar suas dívidas, argumentando que, se assim ela não procedesse, contribuiria para que o Cascalho se tornasse terra de um dono só. Dois anos depois, colonos do Cascalho reclamaram contra o fechamento de um caminho pelo proprietário, mas a Câmara de Limeira considerou a reclamação improcedente, dizen-


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do que a estrada não era de uso público, mas um caminho particular. O processo de apropriação da terra em volta do Núcleo, através de ações judiciais ou de outros procedimentos, culminou com a adjudicação destas propriedades à firma Quinteiro e Cia., que, posteriormente, as dividiu e vendeu a imigrantes que trabalhavam nas fazendas próximas. A partir disso, o quadro fundiário normalizou-se. As grandes fazendas da região deveriam usar dois tipos de mão de obra, escrava e imigrante, como podemos perceber em uma citação da época: “na fazenda Ibicaba; na noite de 23 para 24 de junho de 1885, foi assassinado o escravo chamado Theodoro por Ângelo de Tal, italiano e empregado na mesma fazenda”. O importante depoimento de Evaristo Rodrigues dá conta da existência de uma feira de escravos artífices, próxima à estação de Cordeiro e, já em 1883, existem indícios de que os caifases, grupos que promoviam fugas de escravos das fazendas e os abrigavam em quilombos, como os de Cubatão e de Jabaquara, estiveram por ali. Interessante é reparar que uma das praças da cidade, que abriga a Prefeitura Municipal e a antiga Câmara, até pouco tempo se chamava Antonio Bento. Este nome foi adotado em 1890 e homenageava Antonio Bento de Souza Castro (1843-1898), jornalista e advogado, que fazia propaganda abolicionista através do jornal Redenção e era chefe dos caifases. Em 5 de fevereiro de 1888, foram declarados livres os escravos do município de Rio Claro (do qual Cordeiro naquele momento fazia parte), fato ocorrido em datas próximas nas cidades vizinhas, como Araras e Limeira. Já em 1883 foram destacados pela administração provincial


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os “sintomas de insurreição de escravos na fazenda do tenente-coronel Mendes Costa”. Evaristo José Rodrigues, autor das memórias publicadas pela Prefeitura Municipal em 1995, diz que, com a abolição da escravatura, aquela feira, onde eram vendidos artigos de madeira, acabou. Disse também que, com o avanço dos trilhos da Paulista para além de São Carlos, muitas pessoas saíram de Cordeiro em busca de outro lugar para exercer suas atividades. Neste contexto, outro problema era a saúde. As Atas da Câmara de Limeira mencionam um relatório que indicava que o município, do qual Cordeiro fazia parte, tinha sido atingido pelas grandes epidemias de 1889, 1890, 1892 e 1894. Casos isolados de febre amarela, reportados em dezembro de 1895, evoluíram para mais uma epidemia em 1896. Medidas paliativas foram adotadas, mas o problema principal, que era criar um sistema de abastecimento de água potável para a cidade, não foi resolvido até a primeira metade do século XX. Não foi só a febre amarela que atacou a região. Em dezembro de 1892, um relatório conta que uma epidemia de varíola tinha sido debelada. Em 1894, há indicações de casos de tifo em Cascalho. A precariedade das condições da povoação pode ser atestada através de um pedido, feito pelo subdelegado de Cordeiro à Câmara Municipal de Limeira, em agosto de 1891, onde ele solicita um relógio para controlar o turno dos guardas. A fazenda São Joaquim, como todas as terras derivadas de diversas formas de apropriação (posse, doação, herança, venda), gerou, no ano de 1887, a primeira divisão judicial, assim como outras fazendas foram objeto


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de contestação (o que pode ser visto em documentos referidos em escrituras de compra e venda do Tabelionato de Notas e Protesto da Comarca de Cordeirópolis, como o sítio das Perobas, 1898, e o Sítio São José, ou Cordeiro, em 1893). As partes envolvidas na divisão de 1887 não chegaram a um acordo, pois o processo foi remetido ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, antiga Relação. É pela falta de dados nesta peça judiciária, e pela influência direta que a segunda divisão judicial da referida propriedade rural teve na determinação do acesso à propriedade na povoação de Cordeiro e seus entornos, que vamos considerar o período que começa em 1896 e se encerra, pelo menos nos documentos pesquisados, em 1942 como a última escritura em que a firma Joaquim Pereira & Cia. figura como outorgante. Após mais de dez anos de sua fundação, e mesmo no contexto que destacamos, a povoação experimentou algum progresso. Em 20 de junho de 1899 o deputado Cândido Motta apresentou o projeto de lei nº 80, elevando a distrito de paz aquilo que era, naquele momento, designado por “distrito policial de Cordeiro”. Acompanhava a proposta um abaixo assinado, com 165 assinaturas, liderados pelos negociantes e proprietários José Firmino Bueno, Levy & Cia., Antonio Ferreira Gaio, Augusto Simões Subtil e Vita & Orrico, seguindo-se após as assinaturas dos cidadãos, dentre elas: Pedro Battistela, intitulando-se proprietário de uma fábrica de cerveja, Batista Stocco, Manoel Ferreira das Neves, Giacomo Frattini, Carlos Steinmeyer, farmacêutico, João Lucke, negociante, Augusto Lucke, cervejeiro, Braz Marotta, o médico do local, José Tella, sapateiro, Eugenio Betanho, “José Levi”, uma professora da escola pública existente, Maria das Dores Cor-


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rêa e os fazendeiros Onofre e Antonio Camargo Neves, proprietários na região da Água Branca. O abaixo-assinado destacava os motivos pelos quais a povoação deveria ser elevada a distrito, dizendo que ela era constituída de “142 casas cobertas de telhas, com cinco padarias, dois açougues, uma serraria a vapor, três fábricas de aguardente, duas de cerveja, duas farmácias, duas alfaiatarias, dois restaurantes, hotel, funilaria, barbearia, bilhar, marcenaria, além de importantes casas de comércio de secos e molhados, ferragens, fazendas e roupas feitas”. Demonstrando a riqueza da povoação, eram citadas as fazendas situadas em seus limites: Ibicaba, de Levy e Irmão; Santo Antonio e Saltinho, de Antonio Monteiro dos Santos, Bosque, de Vianna & Irmão, Santana, da Baronesa de Jundiaí (...), Santo Antonio, de Reginaldo de Moraes Salles, Botafogo, de Francisco de Campos Ferraz, Santa Teresa, do Dr. Portela, Boa Vista, do Dr. Fabio Ramos, Boa Vista, do Comendador José Ferraz de Sampaio, além de outras sem proprietários conhecidos: Matão, Barreiro, Catingueiro, Palmeira, Santa Maria e Jardim, citando, por fim, o “ex-Núcleo Colonial de Cascalho”. Antes de decidir pela sua aprovação, foram consultadas as autoridades constituídas no município de Limeira, que, naquele tempo, eram a Câmara Municipal, já que não existia ainda o cargo de prefeito, e o juiz da comarca. A resposta do Legislativo limeirense, assinada pelo seu presidente, Manoel de Toledo Barros, justamente homenageado na antiga rua do Comércio e que, atualmente, passa em frente da Prefeitura, era de que “o distrito policial de Cordeiros está em condições de ser elevado a distrito de paz”. Assinaram em conjunto os vereadores Dr. Epiphanio Prado, vice-presidente, Candido Pereira Gustavo, intendente (antecessor do prefeito), Francisco Sergio


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de Toledo, Theodoro Kuhl, e Antonio Custodio de Oliveira, sendo contrário o capitão Angelo Piscitelli, deixando de votar Daniel Baptista de Oliveira. A resposta do Judiciário, chefiado pelo juiz Gastão de Souza Mesquita, frisou que “Cordeiro não tem movimento forense que exija a sua elevação a distrito”, além de “estar tão próximo de Limeira”. Ainda mais, alegou que “dificilmente se conseguirá em Cordeiros pessoal apto para os cargos de juiz de paz, fato que se observa atualmente no preenchimento dos cargos policiais”. Apesar das manifestações divergentes, a Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados manifestou-se favorável à aprovação do projeto, no dia 17 de julho, sendo o projeto aprovado em 19, 20 e 21 de julho, nas três votações necessárias, sendo encaminhado ao Senado Estadual no dia seguinte. No Senado, o projeto foi aprovado pela Comissão de Justiça em 27 de julho, e nas outras votações nos dias seguintes, sendo a “redação final”, de 1º de agosto, aprovada no dia 4, sexta-feira. Na segunda-feira 7 de agosto foi assinada a lei, pelo então presidente do Estado, o Coronel Fernando Prestes de Albuquerque, que foi publicada no Diário Oficial do Estado no dia 22. A partir disto, estava aberto o caminho para a criação do cartório de registro civil e de notas, que seria instalado em novembro do mesmo ano. Em decorrência desta mudança, foram realizadas em 30 de outubro de 1899 as eleições para os cargos de juiz de paz, definindo a partir daquele momento as autoridades legalmente constituídas do distrito. É fato que desde pelo menos 1883, já existia uma subdelegacia de polícia na região em volta da estação, mas foi só a partir de 1899 que o então distrito passou a ter


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um local para as transações imobiliárias e oficialização dos nascimentos de seus habitantes e um juiz de paz, que, no início, servia para julgar pequenas causas de um valor limitado. Como já vimos insistindo, um erro tipográfico no texto enviado pela cidade à Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de autoria do então Vice-Prefeito Bento Avelino Lordello, em 1957, fez com que perdurasse uma incorreção por quase 40 anos. A questão é que, de um modo ou de outro, os moradores envolvidos com o cartório ou outras repartições públicas, desde o início do século e até sua metade, tinham conhecimento de que o distrito fora criado no penúltimo ano do século XIX. Em 1948-9, todos aqueles de uma forma ou de outra relacionados com as estruturas político-administrativas sabiam que a cidade tinha sido elevada a distrito de paz cinquenta anos antes, e não em 1889. Foi o erro da Enciclopédia, repetido ano após ano, até sua correção, que contribuiu para esse desserviço à história de Cordeirópolis. Os próprios emancipadores, em seu manifesto de 18 de março de 1948, diziam que Cordeirópolis era um “Distrito de Paz criado pela Lei nº. 645, de 7 de agosto de 1899, portanto há 49 anos (...)”. Mas o jornal que o publicou, na sua edição de 13 de junho de 1989, mesmo vendo no manifesto a data correta, continuou a considerar 1989 como o “Primeiro Centenário de Cordeiro”, insistindo no erro de 32 anos antes. Os políticos da cidade já emancipada tinham certeza com relação à data. Em 6 de agosto de 1949 foi apresentado um documento, de autoria dos vereadores Jamil


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Abrahão Saad e Pedro Antonio Hespanhol para que constasse em ata a passagem do cincoentenario (sic) de criação do Distrito de Cordeirópolis, que iria transcorrer no dia seguinte. Apesar disso, quando a Prefeitura Municipal, em 1967, decidiu criar um brasão e uma bandeira para o município, não encontrou nenhuma outra fonte para subsidiar sua feitura, a não ser o famoso artigo do Prof. Bento, contribuindo, mais uma vez, para a manutenção do erro. Textos escritos entre 1974 e 1987 continuaram repetindo a data de 1889. Somente em 1993, através de um projeto de autoria da Câmara Municipal, com justificativa deste autor, transformado na Lei Municipal nº. 1793, de 20 de outubro, o problema foi resolvido, e, a partir deste momento, recuperou-se uma parte da memória da cidade, com a justa colocação, nos seus símbolos, da verdadeira data de sua elevação a distrito, primeiro passo em busca da emancipação ou “independência” da cidade, como diziam os jornais da época; ou seja, o direito de se autogovernar. Mais tarde, em 2009, as datas da criação do distrito e do município passaram a figurar nas leis, decretos e portarias do Poder Executivo, por projeto de iniciativa legislativa, e com a colaboração deste autor. Recentemente, com a liberação de documentos arquivados e digitalizados pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, pudemos ter acesso aos originais da representação dos moradores de Cordeiro e do processo que levou à criação do distrito.


Período distrital (1899-1948)

Com a criação do distrito, é instalado o juízo de paz, meses depois da lei autorizadora. Instalado o cartório de Notas, os proprietários tiveram mais facilidade em legalizar suas transmissões, apesar da instabilidade do quadro fundiário. Em 1902, é resolvida a divisão judicial da Fazenda São Joaquim, que causará problemas ao ordenamento urbano do distrito até a década de 1940. No ano seguinte, através de um acordo com a Central Elétrica de Rio Claro, é estendida a energia elétrica do distrito, mas não a Cascalho, que só a terá em 1913. Importante é lembrar outro relato oral, publicado em jornal da cidade há algum tempo, dizendo que o núcleo urbano de Cordeiro oferecia, em certo tempo, como oferta de emprego, somente as fábricas de fogos, o que


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atesta o total predomínio do meio rural, representado pelas fazendas de café, que empregavam majoritariamente mão de obra imigrante e de seus descendentes, e pelos sitiantes que cuidavam de pequenas propriedades, que tiveram origem no fracionamento de antigas fazendas com produção de café decrescente ou antieconômica, como a Santa Maria. Nesta categoria também estão os proprietários, sucessores ou descendentes, daqueles que obtiveram, do Governo do Estado, a titularidade definitiva das terras que compunham o antigo Núcleo Colonial de Cascalho, objeto de outro artigo, que compreendia o período em que estava sob a jurisdição da administração provincial/estadual. Apesar de os relatos disponíveis atestarem, em um período dado, as fábricas de fogos como única alternativa para quem quisesse ficar no distrito e não trabalhar a terra, outras possíveis ocupações urbanas, já mais sujeitas aos humores da administração, eram a ferrovia, representada pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CPEF) e empregos públicos em nível municipal (estabelecimentos públicos subordinados à Prefeitura de Limeira), estadual (coletoria, cartório) e federal (correios, coletoria). Estas coletorias (estações arrecadadoras de impostos) funcionaram, segundo referências, até praticamente a metade da década de 60, no caso da Federal, e igualmente até a metade da de 80, no caso da Estadual. A partir do fechamento destas repartições, todos os casos passaram a ser tratados em Limeira. O desenvolvimento da povoação, no setor religioso, também foi importante. Fato é que, em 1901, a capela de Santo Antonio do Cordeiro, que começou a ser construida em março de 1886, foi elevada a freguesia ou paróquia. Isso significa que, a partir desta data, ela contaria com um


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padre residente e suas rendas não seriam mais destinadas a outra paróquia, como acontecia até aquela data. Não conseguimos saber, até agora, se existiam templos ou casas de outras religiões, ou como elas eram tratadas pelo catolicismo. Já tínhamos conhecimento, através de publicação da antiga CESP, sobre o início da energia elétrica em Cordeiro no ano de 1903, mas poucas informações, além desta, foram conseguidas. O Correio Paulistano de 24 de julho daquele ano informou, nas notícias de Limeira, o início do funcionamento da força e da luz no distrito em 15 de agosto. Apesar das grandes epidemias de febre amarela, tifo ou varíola terem acontecido principalmente no final do século anterior, existem indícios que, em 1905, houve casos de tifo em Cascalho, sem indicação das medidas adotadas ou da extensão da doença. Em 1906, foi aprovada uma lei estadual que criava o cargo de subprefeito, em cada distrito de paz, vinculado e nomeado diretamente pelo prefeito. No caso de Cordeiro, suspeitamos que o primeiro titular deste cargo tenha tomado posse do primeiro prefeito de Limeira, primeiro governante municipal que adotou este nome. Geralmente, até a década de 1930, a escolha deveria recair ou no Capitão Joaquim Manoel Pereira ou no Coronel José Levy. A subprefeitura de Cordeiro funcionou, até 1942, na rua Saldanha Marinho, nº1, esquina da rua Visconde do Rio Branco, quando foi transferida para o atual prédio, na Praça Francisco Orlando Stocco, antiga Praça Antonio Bento. Encontramos indícios da presença de comerciantes de origem libanesa no distrito, no início do século, como Abrahão Mussi e Elias Abrahão. Com o passar do tempo,


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diminuem os registros e, salvo o último, não podemos afirmar qual o destino que tomaram e se sua família se fixou no distrito. Em 1911, com o provável crescimento da demanda, é criada uma escola masculina e uma feminina, anexadas às já existentes. Segundo a legislação da época, quando uma escola atingisse certo número de alunos, que frequentavam as escolas isoladas, estas seriam agrupadas num estabelecimento único e coordenadas nas chamadas Escolas Reunidas, o que aconteceu em 1913 em Cordeiro. Em Cascalho, as Reunidas só foram surgir dez anos mais tarde. A delegacia e cadeia do distrito, de que já tínhamos informações nada animadoras no fim do século XIX, parecem ter despertado a atenção dos dirigentes da época. Em 1912 é doada uma área de terra na esquina das ruas Santos Dumont e Visconde do Rio Branco para a construção de um “posto policial” que logo é posto em funcionamento. A construção do antigo viaduto sobre os trilhos da ferrovia, na rua Toledo Barros, foi realizada, segundo memórias que se contam até hoje, em função de um acidente que teria causado repercussão na cidade, chegando até a administração da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CPEF), que teria acatado a solicitação, concluindo-se as obras entre os anos de 1915 e 1917. A reportagem do Estado de S. Paulo de 17 de maio de 1912 atestou o acontecimento de mais um desastre, onde o trem que saía de Rio Claro às 9 da manhã atingiu uma carroça que atravessava a estrada “no local da passagem de Cascalho para a vila, guiada por um moço e que conduzia uma velha”, onde o carroceiro morreu imediatamente e a senhora teve as pernas decepadas. O correspondente informava que este não era o primeiro acidente ocorrido no


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local e pedia-se que a Paulista colocasse uma cancela ou fizesse uma “passagem inferior”. Em 1914, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro anuncia a construção do viaduto sobre seus trilhos, que foi substituído pelo atual em 2006. Em 19 de janeiro de 1912, o jornal Estado de São Paulo, destacou, por seu correspondente, que achavam-se vagas, isto é, sem professor, em “todas as escolas do sexo masculino”, fossem do Estado ou do município, destacando um curso noturno mantido pela “Sociedade Operaria Internacional” e a escola particular mantida pela professora Emilia Reginato, certamente esposa do então escrivão do Cartório de Registro Civil e Tabelião de Notas, José Reginato. Também foi destacada a situação de abandono das ruas de Cordeiro, uma vez que todas necessitavam de limpeza. Como foi dito anteriormente, desde 1913 foram tomadas atitudes visando à construção de uma sede própria para as Escolas Reunidas de Cordeiro. Em uma publicação da Secretaria de Educação do Estado, vemos que o projeto que resultou no prédio antigo da atual Escola “Levy” foi feito no mesmo ano, mas só inaugurado em 1924. No ano em que essa escola foi posta em funcionamento, o redator de um jornal de Limeira reclamava que a obra já estava pronta, esperando somente a inauguração oficial. Pelo que vimos, ela não ocorreu, e os alunos foram transferidos para seu prédio durante este ano letivo, sem nenhuma outra menção especial. Até agora, conseguimos indicações da existência de escolas estaduais e municipais no distrito, quando, em 1906, em 7 de outubro, um jornal de Limeira indicava que “a escola estadual masculina funcionava sob a direção do Sr. Durval Barros” e que o secretário da Câmara e diretor


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de um jornal tinha visitado “as escolas municipais e estaduais” de Cordeiro. No início da povoação, antes da criação da primeira escola pública, alguns “abnegados”, segundo Evaristo José Rodrigues, abriram escolas particulares para atender aos que pudessem frequentá-las, mas, com a sua mudança, ou com uma crise financeira, o estabelecimento seria fechado. É o que conta o memorialista no texto que se tornou clássico sobre Cordeiro; os regentes foram, nestes casos, familiares dos que montaram a escola, como “D. Anninhas, irmã do Snr. Alfredo Martins” e a filha e a mãe de Custódio Gomes da Silva. A baixa frequência de mulheres na escola pública mista de Cordeiro no período 1891-1894 pode ter influenciado o governo estadual na transformação da antiga escola mista em duas escolas masculinas (Lei nº 373 de 03 de setembro de 1895). Com a recente iniciativa da Assembleia Legislativa, pudemos encontrar, finalmente, a Lei nº 4, de 6 de fevereiro de 1889, que criou uma escola do sexo masculino no “bairro de Cordeiros”, então município de Rio Claro. Supõe-se que, pela sua densidade populacional, os bairros da fazenda Velha, São Jerônimo e Cascalho, tenham motivado a criação de classes, pois, pela Lei nº. 378, de 4 do mesmo mês, o Estado cria escolas masculinas e femininas nos bairros citados. É bom lembrar que, três anos antes, pela Lei nº 101, o Estado tinha criado uma escola masculina na fazenda Velha. Não temos como definir se havia qualquer tipo de revisão regular no quadro de escolas, conforme a necessidade de cada local, mas sabemos que o Conselho de Instru-


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ção Pública, vinculado à Intendência (depois Prefeitura), tinha poder legal para sugerir a criação de classes. Quatro anos depois, pela Lei nº. 613, de 26 de maio de 1899, a segunda escola masculina da estação de Cordeiro (o distrito de paz só seria criado em agosto do mesmo ano) foi convertida em feminina. Foi uma surpreendente reviravolta, pois a extinção da escola mista, anos antes, certamente tinha sido motivada pela ausência continuada de alunado feminino. Subitamente, a expansão do ensino na sede do distrito cessou. Nos anos seguintes, foram criadas escolas nos locais que anteriormente já contavam com este melhoramento, mas não se situavam na sede. Seja porque a cidade não conseguiu atrair mais pessoas, ou o incremento populacional das fazendas fosse considerável, a Lei nº. 891, de 11 de novembro de 1903 cria uma escola preliminar masculina na fazenda Velha; e a Lei nº. 1120, de 28 de dezembro de 1907, cria uma escola mista em São Jerônimo, supostamente anexa àquelas criadas doze anos antes. Mesmo o bairro do Cascalho, emancipado em dezembro de 1893, ganha, pela Lei nº. 1182, de 30 de novembro de 1909, uma escola “mista”, que, após permanecer vaga por um curto período de tempo, é convertida em masculina, pela Lei nº. 1367, de 28 de dezembro de 1912. Dois anos antes, pela Lei nº. 1241, de 23 de dezembro de 1910, são criadas para a fazenda Ibicaba uma escola masculina e outra feminina. Os anos próximos à década de 1910 representaram uma expansão quantitativa no ensino primário local. O distrito de Cordeiro ganha, pela Lei nº. 1258, de 29 de setembro de 1911, mais duas escolas preliminares, uma masculina e uma feminina, agregando-se às existentes, em


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um prédio alugado, com as condições precárias que foram relembradas por contemporâneos. Entre 1917 e 1921, o orçamento do Estado consignou, explicitamente, verbas para a construção ou adaptação de um edifício para as Escolas Reunidas de Cordeiro. O orçamento para 1917, fixado pela Lei nº. 1529, de 28 de dezembro de 1916, consignou, na rubrica destinada a “obras públicas em geral” a quantia de Rs. 15 contos de réis para “construção ou adaptação de um edifício destinado às Escolas Reunidas de Cordeiros”. A literatura consigna a presença de um projeto, elaborado pela Secretaria de Educação, já em 1913, para a construção do edifício próprio das “Reunidas”. A administração local já tinha se empenhado e conseguiu a doação, para o Estado, do terreno onde se acham construídas as atuais Escolas Municipal e Estadual “Cel. José Levy”. Os orçamentos posteriores continuaram a consignar, em seu texto, recursos para as Reunidas: supondo que, entre 1917 e 1919 a construção tivesse se efetivado, podemos entender o que diz o § 9º do artigo 4º da Lei nº. 1636, de 31 de dezembro de 1918, que fixava o orçamento do Estado para 1919: “Para concluir as obras das escolas do districto de Cordeiro, município de Limeira”. Pode-se, igualmente, supor que o crescimento da população urbana foi considerável neste período, ou que uma demanda altamente reprimida foi finalmente atendida: pela Lei nº. 1724, de 30 de dezembro de 1919, o governo cria mais duas escolas distritais, em Cordeiro, não tendo se definido se iriam se juntar às reunidas ou formar um estabelecimento separado. Depoimentos informam que a construção do prédio das Reunidas foi lenta: a obra tinha ficado muito tempo parada, e a sua inauguração chegou a ser pedida,


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por um grupo de pessoas, ao então presidente do Estado, Washington Luiz, quando da inauguração da estrada de rodagem de São Paulo a Ribeirão Preto. É inegável que, dois anos depois, em 1920, pela lei orçamentária de 1921 (Lei nº. 1759, de 29 de dezembro), foi reservada uma verba de 15 contos de réis para “construção do edifício destinado às escolas reunidas de Cordeiro, no município de Limeira”. Graças à preciosa informação, preservada na biblioteca pública do município, pudemos procurar, na fonte, o ato que determinou a criação do Grupo Escolar de Cordeiro, e tentar entender o que aconteceu neste interregno. Definido o dia 22 de janeiro de 1925 como a data da conversão em “Grupo Escolar” das antigas “escolas reunidas”, pudemos entender, finalmente, a situação das escolas de ensino primário naquele momento. No Diário Official de 24 de janeiro de 1925 consta a publicação de um decreto convertendo em Grupo Escolar as escolas reunidas (denominação em letra minúscula, que pode denotar o caráter comum ou menos importante, ao contrário do primeiro) de Cordeiro, que se compunha de: 1ª e 2ª masculinas, 1ª, 2ª e 3ª femininas, e uma mista. O importante é verificar a presença de uma escola mista que, pelo menos na legislação consultada, não aparece como criada entre 1890 e 1917, talvez tendo sido convertida em data não descoberta até o momento. O mais significativo é enumerar, acompanhando o decreto, o nome dos professores que seriam nomeados para o futuro Grupo Escolar: “Antonio Perches Lordello, D. Elisa Corrêa Borges, Martha J. Couto, Beatriz Penna Filha e Aita Bemtivegna, todos das escolas reunidas locaes, sendo a última interina; D. Elisa da Costa Souto, das escolas reunidas de Redempção; D. Edith Rabello


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Teixeira e Amália Malheiro, substitutas effectivas do 1º Grupo Escolar da Mooca, desta Capital”. Aos conhecedores da história e da memória regionais, não devem soar estranhos os nomes do Prof. Antonio Perches Lordello, primo do antigo professor, vereador, viceprefeito e líder político do movimento emancipador de 1934, Bento Avelino Lordello, que lecionou entre 1921 e 1952; Aita Bentivegna, que na época ainda não era casada com o ex-vereador e líder político Moacyr Dias, chefe de família numerosa e antiga no município; e Amália Malheiro, removida de seu posto na capital do Estado para o local onde veio a conhecer seu marido, o farmacêutico José Moreira, e que ainda está na lembrança dos habitantes mais antigos do antigo distrito. Sabe-se que os limites historicamente determinados do centro de Cordeiro foram definidos quando de seu estabelecimento, e que, no período anterior à segunda metade do século XX, eram limitados deste modo: a oeste, a propriedade de Antonio Manoel Pereira, que casando, já velho, com Marietta Crozatti, no loteamento realizado por ela, surgiu a vila Santo Antonio (década de 50); a leste, como fronteira natural, a estrada de ferro da Cia. Paulista, e a face oeste, terras da família Pereira (Joaquim Manoel Pereira), e no extremo, a face deste do Núcleo Colonial do Cascalho (1885-1893). A vila Barbosa teve partes dos Machioni em alguns lotes; ao norte, propriedades da família Pereira, que quando transmitidas por venda foram depois loteadas gerando a vila Nossa Senhora Aparecida. Na linha da rua do Barro Preto, além da vila dos Pinheiros, da mesma família, um loteamento recente definiu o urbano nas franjas da antiga fazenda Santo Antonio (1908-1942). Ao sul, o loteamento municipal Jardim Bela Vista, de 1968, adentrou, por intervenção do poder público, nos domínios históricos da


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fazenda Ibicaba. Depois de ser cortada pela Rodovia Washington Luiz, esta teve uma parte parcelada no setor em que foi atravessada pelo prolongamento da rua José Moreira. A divisa sul apresenta os seguintes detalhes: o “loteamento dos irmãos Neves” era um fundo de residência da rua Toledo Barros; a parte da rua 13 de Maio após a 7 de Setembro abrigou, em tempos antigos, a fábrica de fogos do Sr. Baroni, comprada depois pela Policítrica de Lordello & Cia. e parcelada; o estádio era parte da fazenda Ibicaba; a vila Lydia era parte da fazenda São Francisco; a parte irregular de fundo grande dos Stocco e posteriormente Coletta, era considerada urbana; a parte da família Simões, parcelada formando a segunda seção da rua José Moreira, era uma pequena propriedade nas franjas da fazenda Ibicaba. Um mapa construído de memória, que foi reproduzido e está na sede da Prefeitura Municipal, descreve, no início do século XX, as ocupações existentes em Cordeiro: a estação da Companhia Paulista, origem da vila e do município, anexando à sua estrutura tradicional (as suas ruínas parecem ser da estação reformada na década de 1920) o armazém, estrutura importante em se tratando de embarque e desembarque de café e outras mercadorias agrícolas. O então distrito de Cordeiro, oficialmente denominado de “Villa do Cordeiro”, surgiu no cruzamento de diversas estradas: para Araras, Rio Claro, conhecida como “estrada de rodagem estadual”, e Cascalho, estas duas fazendo parte atualmente da atual SP-316. Neste lado da cidade é de se notar, primeiramente, o que ele chama de “máquina de arroz”, que, pela localização, coincide com o benefício da família Machione;


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pela época indicada, poderia ser a “fecularia Pereira”, da tradicional família proprietária, chefiada pelo Capitão Joaquim Manoel Pereira. O caráter autossuficiente da Companhia Paulista de Estradas de Ferro é dado por três pontos: a existência de uma “roda d’água” que deveria abastecê-la a sua colônia de moradia dos trabalhadores e a antiga represa, situada na margem direita do ramal desativado que conduzia a Araras e que, segundo o memorialista, “abastecia a Estação, rua Siqueira Campos e Cantagalo”. Vale afirmar que as casas da rua Siqueira Campos, situadas entre as ruas Visconde do Rio Branco e 7 de Setembro, apesar de não estarem assinaladas no mapa, realmente compradas pela ferrovia no início da década de 1910 por uma família Duarte que, posteriormente, mudou-se para Campinas. Desta mesma família, segundo relatos orais, devem provir as terras onde se situam hoje a Prefeitura e a Câmara Municipal, procedência ainda não confirmada. Assinalado pelas lembranças do memorialista, o casarão situado na rua do Barro Preto (antigo Largo da Estação), recentemente restauraado - e que os mais antigos conhecem como “armazém do Fratini” -, é chamado de “o primeiro armazém” , o que denota uma existência muito anterior às próprias lembranças do Sr. Meneghin e de seu pai, conforme divulgado por um jornal local. Suponho que possa se tratar, sem certeza manifesta, do “armazém de José e Simão Levy”, que teria sido aberto provavelmente em 1891. Outro fato assinalado é a presença da família Pereira: a “casa do Pereira”, situada provavelmente acima da atual avenida Vilson Diório, compreendendo o que os antigos chamavam de “vila do Cássio”, era acompanhada de outra


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“casa do Pereira”, situada acima da rua Nova da Paz, atualmente chamada de Guilherme Krauter, e que, a conferir pelas nossas pesquisas, se refere à propriedade de Antonio Manoel Pereira, que posteriormente casou-se com D. Marieta Crozatti, loteadora da vila Santo Antonio. Na rua Toledo Barros está indicada a “casa da dona Mariquinha Pereira”, que, segundo indícios, pertenceu também à esposa de Antonio Manoel. Ao lado da chamada “colônia do Cantagalo” é indicada a presença de “uma Santa Cruz”, que, à primeira vista, parece se tratar da capela situada na esquina da rua Flamínio Levy e da avenida Vilson Diório (Rodovia SP-316), reformada tempos atrás, que parece ter origem em devoções particulares e e que possui outros exemplos que se encontram em todo o território do município, assim como na região próxima à vila Primavera. Vamos agora passar para o núcleo urbano da vila, chamando a atenção primeiramente para a grande concentração de estabelecimentos de comércio e serviços na rua Toledo Barros, originalmente chamada de rua da Estação, depois mudando para rua do Comércio e, a partir de 1901, Rua Capitão Manoel de Toledo Barros, nome que a população tratou de abreviar pelo costume. A rua que começa em frente daquilo que ele denominou “um botequim [que] hoje seria um bar”, antes da construção do prédio da administração municipal, era aberta ao tráfego, mas não encontramos nenhum indício, até agora, de que ela tivesse um nome específico ou que fosse continuação da rua da Liberdade, nome da rua Siqueira Campos até 1930. Segundo a descrição do memorialista, nesta rua encontravam-se dois hotéis, cuja identidade de seus proprietários se desconhece. A esquina das ruas Carlos Gomes e


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Toledo Barros, em tempos mais tardios, abrigou um hotel, onde hoje se encontra um bar. É importante a sua descrição, mesmo que não se consiga saber com certeza a data em que funcionou, de uma “po[u]sada de Boiadeiro”, indicando o tráfego constante de carroças com produtos agrícolas e de juntas de bois, que, segundo relatos, seriam embarcados na estação. O que podemos inferir, a partir do mapa “traçado de memória”, é que, com o movimento de pessoas e veículos de tração animal a partir do “portão [da] fazenda Ibicaba” até a estação e a estrada de rodagem estadual, os comerciantes e os “prestadores de serviços”, como hoje se diria, se concentraram na rua que abrigou as construções mais antigas da cidade, datadas de 1890, como, por exemplo, os armazéns das famílias Merola, cujo componente foi, em 1948, subdelegado do distrito; Aguiar, parecendo se referir a algum dos descendentes de João Gomes de Aguiar ou até de Cristiano Gomes de Aguiar, autoridade da vila em certo período e dos Fonseca, possivelmente relacionados a Laurentino Fonseca, que mais tarde se estabeleceria com uma casa de conserto de implementos agrícolas. Além destes, apareciam, sem especial denominação, mais três armazéns, além da “sorveteria do Mesquita”, da qual não há maiores dados, e da farmácia, que, se não era de José Moreira, pelo menos parece se localizar onde tradicionalmente morou o farmacêutico da cidade e sua esposa, a Profª. Amália Malheiro Moreira, que dá nome a uma de nossas escolas municipais. Um estabelecimento curioso é o por ele chamado “fábrica de ‘guaiera’ de palha”, que, deveria ser uma espécie de colar feito de fibras, usado junto com os arreios e outros apetrechos em cavalos.


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Na rua 13 de Maio, encontramos uma boa concentração de estabelecimentos, como “uma fábrica de cerveja”, que supomos ser da família Lucke, na esquina da rua Carlos Gomes. Do outro lado da rua, mais “um armazém” sem identificação, e que, mais tarde, sediou a Cooperativa de Consumo, um supermercado, atualmente ocupado por uma drogaria. No meio do quarteirão, está citada a presença do “aço[u]gue do Carandina”, tradicional família da cidade e que, até tempos atrás, ainda tinha a mesma ocupação. Durante os últimos anos, diversos estabelecimentos comerciais ocuparam este prédio. Nesta mesma esquina, em frente à fábrica de cerveja, encontrava-se o casarão que sediou, por muitos anos, a “loja e armazém do Saad” , peça importante de nosso patrimônio histórico-arquitetônico, até ser demolido no início de 2005. Já foi detectada uma presença sensível de comerciantes de origem libanesa no distrito, especialmente no início do século anterior, e talvez isso represente a única família que realmente fincou raízes em nossa cidade, e que tem os seus descendentes morando aqui até hoje. Nesta rua, como se nota, continua a aglomeração de casas comerciais e de serviços, com destaque para a “oficina dos Moreira e Negro”. Quanto ao primeiro, não podemos afirmar, neste momento, quem seja, mas ao segundo, temos veementes indícios de se tratar de Giocondo Negro, da profissão de “funileiro”, cuja família mudou-se para Limeira na segunda metade do século passado. . A definição desta profissão, segundo o dicionário, é que se tratava de um “fabricante ou vendedor de funis”, ou ainda “aquele que faz ou repara objetos de folha de flandres ou folha de lata, tais como utensílios ou vasilhames de cozinha”. Com os elementos que temos, não podemos


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garantir que a definição se refira também ao profissional que faz reparação em pintura de veículos, pois não se sabe com segurança quantos automóveis havia na cidade em dado período. Em complemento, verificamos a existência de mais dois armazéns, de propriedade das famílias Panhoca e Teixeira, além de outro sem identificação do proprietário. Aproximadamente, até aqui, o território descrito não fazia parte da fazenda São Joaquim, cuja divisão judicial causou transtornos aos habitantes do distrito entre 1902 e 1942, devido às questões jurídicas que sobrevieram ao seu fracionamento. Chegamos agora a um ponto interessante da história ainda não desenvolvida da cidade, especificamente sobre as fábricas de fogos de artifício. No final da desta rua, que acaba atualmente no Estádio Municipal “Dr. Huberto Levy”, existiu uma das fábricas de fogos que operaram durante o primeiro terço do século, que é a dos Baroni. Junto com a fábrica de Francisco e de Calogero Chinnici, era a mais importante do distrito, sendo, segundo relatos, a única opção de trabalho para quem não aderisse à lavoura, especialmente durante a década de 1920. Além destas fábricas, havia mais duasuma das quais, segundo relatos, deveria pertencer a Alvarenga Freire & Cia. Em certo tempo, os Chinnici se associaram a Mariano del Gigante para explorar o ramo, e este construiu uma soberba residência, demolida e substituída por uma galeria, na esquina das ruas 7 de Setembro e Santos Dumont, indicada no mapa pela sua utilização posterior, quando foi vendida para a família Carandina, que nela montou um armazém. Encontram-se, em documentos pesquisados, diversas referências a contratos entre profissionais chamados


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“mestres pirotécnicos” e os proprietários destas firmas, para a fabricação de artefatos explosivos. Encontram-se também contratos de representação, para venda para as cidades próximas. Sabe-se que um dos principais industriais era o da já citada família Chinnici, que antes de se mudar para Leme, manteve um estabelecimento de produção de fogos de artifício, segundo consta, na estrada que ligava Cordeiro a Cascalho, em terreno próximo às Vilas Barbosa e Pereira. Temos indícios, igualmente, de ter existido outra fábrica no canto da rua 13 de Maio, que acaba no Estádio Municipal “Dr. Huberto Levy”, que pertenceria à família Baroni, de Campinas e de São Paulo. O seu antigo terreno foi, posteriormente, comprado pela firma “Policítrica”, que o loteou, com compromisso firmado com o poder público municipal, de continuar a rua até o fim de sua propriedade. Outro personagem a ser confirmado é Mariano del Giganti, que em certa oportunidade montou sociedade com um dos Chinnici, numa indústria de mesmo objetivo. A “marca” de Mariano na cidade é uma residência, segundo consta, construída por ele, na esquina das ruas 7 de setembro e Santos Dumont, de relevante importância histórica, demolida para dar lugar a uma galeria comercial. Relatos orais contam que a fábrica de Baroni teria explodido e vitimado diversas pessoas, mas não foi achado até o momento nenhum documento ou notícia de jornal que confirme ou desminta essa informação. Entre as ruas 13 de Maio e Saldanha Marinho vamos encontrar três estabelecimentos realmente significativos para a época, que são: o cartório de registro civil que, pelo menos durante a década de 1910, situou-se efetivamente na rua Carlos Gomes; o coreto da praça, do qual


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não temos nenhuma informação sobre sua construção, e a Igreja Matriz de Santo Antonio, por ele definida simplesmente como “uma capela de Santo Antonio”, denotando, certamente, a pouca diferença entre a igreja matriz, na configuração anterior à construída entre 1906 e 1909, e as outras capelas do distrito ou do município. Não sabemos, até o momento, como era a igreja antes da construção da torre, em 1935, pois as fotografias disponíveis não esclarecem o assunto. Inclusive, “Capela de Santo Antonio dos Cordeiros” era o nome oficial da povoação, quando foi loteada em 1886. Um ponto importante, e que pode relativizar a cronologia utilizada pelo memorialista é ter sido indicada a cadeia do distrito, como situada entre as ruas Visconde do Rio Branco e Saldanha Marinho, atualmente o calçadão. Pelos documentos que temos, a construção do “posto policial”, como é chamado pelo Estado de São Paulo, começou em 1912 e deve ter terminado em 1915. Sendo assim, podemos dizer que a memória publicada do senhor Antonio Reynaldo Meneghin captou a transição entre a antiga e histórica cadeia e o novo “posto policial”, um dos poucos lugares do município com abastecimento de água encanada, problema que atravessa a história da cidade e que vem sendo atacado pelos sucessivos governantes municipais. Outro ponto em que relativiza a cronologia do relato do memorialista é a indicação de “uma escola” na rua Visconde do Rio Branco, entre as ruas Saldanha Marinho e José Bonifácio. Como foi visto, o Grupo Escolar de Cordeiro (1925), a atual Escola Municipal “Coronel José Levy”, passou a funcionar em sede própria, no local indicado no mapa, em 1924, apesar de o seu projeto já estar pronto na Secretaria de Obras Públicas do Estado desde 1913.


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Antes daquela data, segundo relatos, o prédio das “Escolas Reunidas de Cordeiro” funcionava na esquina das ruas 7 de Setembro e Toledo Barros, possivelmente num local próximo ao indicado como “sorveteria do Mesquita”. Em direção ao oeste, vemos que começam a rarear os edifícios de interesse ou de lembrança pelo memorialista: na rua Saldanha Marinho encontramos uma “loja e armazém” o grupo escolar e a “casa da tia Mazira Generoso”, da qual não temos indícios. O mapa “traçado de memória” a partir das recordações do Sr. Antonio Reynaldo Meneghin publicado em um jornal local, tem uma reprodução que se encontra atualmente no Paço Municipal. No espaço situado entre as ruas José Bonifácio, Santos Dumont e Visconde do Rio Branco, a quantidade de residências deve aumentar, em proporção à diminuição dos estabelecimentos comerciais e de serviços. Aí encontramos “uma padaria” que, por não ser necessariamente voltada aos que estavam de passagem, situava-se certamente junto à residência do profissional, próximo à escola. Vemos também a presença de “um armazém [do] Magrin”,. Indicada como “um armazém do Gambarot[t]o”, estava a propriedade de Luiz Gambarotto, situada em frente ao posto policial, cadeia e delegacia, e que é atualmente uma das grandes questões não resolvidas sobre a ocupação urbana, constituindo-se num grande terreno desocupado encravado no centro da cidade, com alto valor imobiliário. Já nos subúrbios do distrito, então, encontramos “um armazém do (E)Stoc[c]o”, durante muito tempo de propriedade de Amadeu Stocco e que, em 1965, foi comprado pela família Coletta e se transformou no atual supermercado situado na rua 7 de Setembro, entre as ruas José Bonifácio, José Moreira e Santos Dumont.


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Pelo mapa traçado pelas memórias, o que chama mais a atenção é a ausência da localização do cinema, conhecido como Cine Paulista, que, pelo menos desde 1913 já se encontrava funcionando na rua Sete de setembro, entre as ruas Toledo Barros e Siqueira Campos. Quanto às outras referências, encontramos “a casa de máquinas da estação”, complemento do traçado urbano, estrutura marcante de quem vivia a cidade e precisava dela; “o sítio dos Darós”, designativo de um local, onde possivelmente, em seu trabalho, se deslocou muito, talvez por significar o limite extremo da “urbanização” do distrito; a estrada do Garrido, que, em outras fontes, é designada por “estrada municipal para Rio Claro”, e que, por passar na propriedade de José Antonio Garrido ficou assim conhecida. Este Garrido, através de apelação junto ao Tribunal de Justiça do Estado, conseguiu anular a arrematação que a firma “Joaquim Pereira & Cia.” tinha feito de parte da fazenda São Joaquim, compreendendo quase todo o núcleo urbano do distrito. A “estrada da Boiada”, se não se referir à estrada municipal de Cordeirópolis a Limeira, pode indicar a chamada “estrada do boiadeiro”, uma estrada municipal que realmente servia para tráfego de juntas de bois. Ainda há uma citação de um “armazém da Estrada” que estava situado na Estrada do Interior, ou estrada de rodagem estadual, atualmente SP-316, e que, à primeira vista, parece ser o da família Feola. Nada podemos dizer disso, neste momento, com certeza. Finalmente, encontramos a única referência da paisagem natural, que é o Ribeirão Tatu e uma simples “passagem em cima da linha”, situada na intersecção da estrada estadual com o caminho que ia às propriedades dos


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Pereira. Note-se que nada se fala sobre a ponte feita pela Companhia Paulista, iniciada em 1914 e encerrada provavelmente em 1917, e que passa por cima dos seus trilhos. Um último ponto do relato do Sr. Meneghin indica o caráter de “encrave” que o distrito de Cordeiro tinha, por estar situado num “mar” de grandes fazendas: “uma vala que fazia divisa da fazenda e da Villa”. Isso denota a pouca diferenciação que o urbano e o rural tinham, nesta região, na época considerada. Esta situação só começou a ser modificada a partir de 1940, com os primeiros loteamentos urbanos e de 1960, com os loteamentos resultantes de antigas propriedades agrícolas consolidadas, como a vila Nossa Senhora Aparecida (1965) e Jardim Bela Vista (1968). No início da década de 20, as autoridades locais demonstraram interesse em formar, no território do distrito, um estabelecimento que fosse plantado de amoreiras, para criação de bicho-da-seda. Apesar de toda a dedicação do poder público local, e das complicadas negociações entre a Indústria de Seda Nacional, que adquiriu a gleba de terra, os vendedores e os representantes da administração do distrito, isto não representou a criação de uma indústria de seda, o que só ocorreria mais de dez anos depois. A busca de culturas alternativas para o café, devido a crises de superprodução e outros motivos, no distrito de Cordeiro, resultou em duas experiências: o cultivo das amoreiras para criação de bicho-da-seda e a expansão da citricultura. Apesar disso, a criação da Estação Experimental de Citricultura, atual Centro APTA Citros Sylvio Moreira, não visava beneficiar o distrito. Em março de 1920, assinaram uma escritura de contrato para formação de viveiros de mudas de amoreiras os


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Srs. Arthur Meissner, que declarou residir em Santa Gertrudes, e Emil Schlaepfer, morador da Capital. Estimando o valor dos investimentos em 15 contos de reis, projetaram para o período de 10 de março de 1920 a 15 de junho de 1921 a realização desta atividade. Ao mesmo tempo, foi assinada a primeira escritura de compromisso para compra de áreas de terras, dentro da zona urbana de Cordeiro, para que o experimento pudesse ser realizado. Devido à insegurança jurídica existente na área da propriedade da terra no local, as negociações e tratativas duraram muito mais tempo do que o esperado. Os compromissos foram renovados e ampliados durante todo o ano de 1921, chegando o último a ser realizado em junho de 1922, quando finalmente foi fundada a “S.A. Indústria de Seda Nacional”, em Campinas. Os objetivos da empresa eram, em primeiro lugar, favorecer o desenvolvimento da cultura do bicho-da-seda, fornecendo aos cultivadores todas as instruções necessárias e financiando-os, se fosse o caso, além de fiar, torcer e tingir fios de seda, explorando indústrias afins. De João e Augusto Lucke e suas mulheres, compraram um terreno de 10 alqueires, além de três casas situadas na rua Carlos Gomes. Por Joaquim Manoel Pereira foram vendidas casas na rua Toledo Barros, até a rua 13 de Maio; de Luiz Buzatto, compraram uma casa na rua Carlos Gomes; de Jacob Pagotto, uma casa com frente pela mesma rua; da firma “Joaquim Pereira & Cia.”, 13.826 m2 de terra, sendo 5.582 m2 no quarteirão até a rua 13 de Maio e 8.244 m2 no quarteirão da Rua Santos Dumont; de Adolpho Lucke e sua mulher, compraram um terreno na rua Carlos Gomes e de João Turi, uma casa à mesma rua, esquina da rua José Bonifácio.


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Durante a década de 1920 e na década seguinte, a S.A. Indústrias de Seda Nacional recebeu subsídios e isenção de impostos de importação. A produção de casulos no país aumentou de nove toneladas, em 1923, para seiscentas, em 1934 e o número de tecelagens de seda foi crescendo rapidamente neste período, subindo de doze em 1922 para 37 em 1929. Entre 1922, a empresa criou estruturas, chamadas Inspetoria Agrícola, Instituto de Sericicultura e de Tecnologia Sérica, cujas atividades práticas foram absorvidas pelo Estado de São Paulo em 1935, com a criação da 3ª Seção do Departamento de Indústria Animal da Secretaria Estadual da Agricultura, encerrando a ação da iniciativa privada neste assunto. As pesquisas realizadas pela indústria eram expostas em uma publicação gratuita, encerrada coincidentemente no mesmo ano. A Indústria de Seda Nacional foi beneficiada, pelo Governo do Estado, em 1924 e 1929, com subvenções e investimentos na propaganda da sericicultura, e pelo Governo Federal, de 1923 a 1932. Mesmo assim, a parte mais custosa e importante, a pesquisa, foi incorporada pelo Governo do Estado, transformando em funcionários públicos os antigos empregados, encampando os institutos e as estações experimentais então existentes. Mesmo que o Estado tenha se aparelhado para a produção de tecidos de seda natural para exportação, a produção de casulos caiu, a partir de 1934. Este fracasso foi atribuído à falta de abrangência da ação governamental, ao pequeno número de pessoas trabalhando, à facilidade de outras culturas e ao baixo preço pago pela indústria pelos casulos produzidos. Ainda assim, a Prefeitura de Limeira, aproveitando-se do exercício do mandato da então deputada Maria Tereza


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Silveira de Barros Camargo, doou, em 1936, uma área para a criação da “Estação Experimental de Sericicultura”. Na análise do projeto, foi destacado que “não só em Limeira, mas numa grande área territorial, de que se destacam Cordeiro e Cascalho, se cuida, de há muito, e devotadamente, da cultura dos bichos-da-seda”. Ampliando a ação do Estado, em 1941 foi criado o “Serviço de Sericicultura”: a medida foi justificada pelo fato de que ela seria “nada mais do que o prosseguimento da salutar campanha iniciada, com apoio oficial, pelo Secretário Estadual e Ministro da Agricultura”, naquele momento o Interventor Federal no Estado de São Paulo, Fernando Costa, destacando que as plantações se destinavam ao fornecimento de “folhas às famílias pobres que, não possuindo terra, desejem dedicar-se à criação do bichoda-seda”. A insuficiência da iniciativa da Seda Nacional, apontada com a criação deste Serviço, foi comprovada com a edição do Decreto-Lei nº 13.170, de 31 de dezembro de 1942, onde foram comprados (e não desapropriados) o Instituto de Sericicultura, a Inspetoria Agrícola de Campinas e as Estações Sericícolas de Cordeiro, Cosmópolis e Piracicaba, de propriedade de Francisco Matarazzo Júnior, herdeiro do fundador das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM). A mudança das regiões de produção do bicho-da-seda para as regiões da Alta Paulista e Noroeste, nos anos seguintes, fizeram com que estas instalações ficassem abandonadas. Ficou consagrado o ano de 1928 como o início das atividades da Estação Experimental de Limeira, criada pelo Secretário de Agricultura do Estado, que depois se tornaria Interventor Federal, Fernando Costa, atendendo ao apelo de Navarro de Andrade, criador dos hortos flo-


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restais e introdutor da cultura do eucalipto, reconhecido especialmente em Rio Claro. Mesmo assim, o Decreto nº 4.919, de 3 de março de 1931, que levou a assinatura do então Secretário da Agricultura, Navarro de Andrade, criou um Serviço de Citricultura, com o objetivo de fazer as experiências necessárias à determinação das melhores variedades de laranjas, estudar e aconselhar aos citricultores os processos e meios mais convenientes para a formação dos pomares, estudar e indicar os melhores meios para o beneficiamento, acondicionamento e transporte das laranjas destinadas à exportação, fiscalizar os pomares e a exportação das laranjas, expedir “certificado de exportação”, fazer o registro dos exportadores, a avaliação das safras e o levantamento estatístico anual da produção, fiscalizar os “packing-houses” e promover a organização de cooperativas de produtores de laranjas, subordinando as estações existentes (Campinas, Limeira e Sorocaba) a esta repartição. Em seguida, foi emitido o Decreto nº 5.150, de 6 de agosto de 1931, desapropriando uma área de terras de 29 alqueires para “instalação da Subestação Experimental de Citricultura” de Limeira. Somente com a mudança de suas divisas, no fim da década de 30, que as propriedades próximas da atual Via Anhanguera passaram a pertencer ao distrito, como a fazenda do Bosque, Santa Teresa, São Jerônimo e outras, incluindo a área desapropriada para instalação deste estabelecimento. O Decreto nº 6.820, de 29 de novembro de 1934 autorizou o Governo do Estado a adquirir, para o desenvolvimento dos serviços da Estação Experimental de Limeira, de João Antonio Denadai, uma gleba de terras com benfeitorias, tendo área de 187.356 m2.


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Em 1944, durante o governo do interventor Fernando Costa, foi emitido o Decreto-Lei nº 14.053, de 23 de junho, que declarou de utilidade pública, mediante desapropriação, uma área de terreno, situada no município de Limeira, necessária à ampliação da Estação Experimental, composta de glebas de propriedade de José Paiola, com áreas de 470.200 m² e 44.340 m2, além de uma gleba de terras pertencente a Luiz Maroneze, com 398.000 m2. A crise de 1929, causada pela quebra da bolsa de Nova York, e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, fizeram com que o panorama político do país e, consequentemente, da região, se alterasse. Desde 1927, já existiam divisões internas no Partido Republicano Paulista de Limeira, e a crise econômica, aliada à nova realidade imposta pela Revolução de 1930, fizeram com que novos grupos políticos aparecessem. Pudemos perceber nas pesquisas realizadas que, ao iniciar-se a década de 30, a sociedade encontrava-se melhor estruturada, mais orgânica, inclusive, segundo depoimentos, chegando a existir representantes dos principais partidos paulistas no pequeno período democrático de 1933-1937: o Partido Republicano Paulista e o Partido Constitucionalista, antigo Partido Democrático. As circunstâncias políticas favoráveis e o grau de organicidade da sociedade permitiram, em 1934, a criação da “Aliança Autonomista”, que visava criar o município de Cordeiro, emancipando-o de Limeira. Por motivos a serem apurados, não foi aprovada a separação, e assim a aliança fracassou nos seus objetivos. Segundo depoimentos, a iniciativa contava com o apoio da deputada da região de Limeira, Maria Thereza Silveira de Barros Camargo. Por essa época, encontramos indícios da existência das primeiras tentativas de industrialização, com a “Fioseda”,


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empresa de beneficiamento de fios, de iniciativa de um dos pioneiros da industrialização local, Francisco Orlando Stocco. De acordo com depoimentos, junto com as policítricas, pequenas indústrias que produziam óleo de laranja, o pequeno parque industrial de Cordeiro, até a sua emancipação, resumia-se em indústria de fiação e tecelagem para produção de seda e, posteriormente, seda sintética. No período compreendido entre o início do século e a década de 30, havia somente indústrias de fogos de artifício, além de representantes do setor terciário da economia no território do distrito. Com o tempo, e devido, talvez, a acidentes, todas elas fecharam e, pelo que se sabe, até agora, nada se achou que possa contar sua história. Apesar da crise do café e do aparecimento de indústrias, a cidade não se expandiu além do centro original até meados da década de 40. A expansão dos loteamentos da vila Pereira e da vila Barbosa significaram, antes de tudo, uma alternativa para a crescente demanda para a habitação urbana, certamente de trabalhadores vindos do campo para a cidade, e iniciando, desta forma assimum processo de urbanização tardio e muito lento, que vai marcar a história do distrito, depois município, até hoje. Antes desse momento, temos como indícios da criação de moradias, destinadas exclusivamente a operários fabris, das chamadas “casas do Jafet”, na rua Guilherme Krauter, e das próprias “casas do Krauter”, na mesma rua, esquina com a Sete de Setembro. Em 1943 foi realizado um plebiscito destinado a renomear lugares que tivessem nomes iguais, como Cordeiro, por exemplo, em virtude do poder de agenda que exerceu o Conselho Nacional de Geografia, antecessor do IBGE.


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Nessa oportunidade, o professor Prof. Bento Avelino Lordello, sugeriu o atual nome de Cordeirópolis para substituir o original, conseguindo vencer outras sugestões, como Jupiá, Itapema, Citrópolis, denominação oficializada em novembro do mesmo ano. A imprensa de Limeira, inclusive, sugeriu a “recuperação” do nome original de “Tatuiby” para renomear o distrito, inspirando-se nas determinações da legislação federal em vigor, que incentivava o uso de toponímias indígenas. Durante os anos de 1939 e 1945, o mundo se envolveu na Segunda Guerra Mundial, tendo por um lado os EUA, a então URSS, a Inglaterra e a França e, do outro lado, a Itália, no regime fascista, a Alemanha, no regime nazista, e o Japão. O Brasil teve discreta participação, com a Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviada para a Itália, nos períodos finais da guerra, como um corpo auxiliar dos Estados Unidos. Com o final do conflito, os militares que participaram do evento retornaram a seus lares, e receberam as homenagens por sua luta. No prédio do Paço Municipal encontra-se uma placa em homenagem ao Sargento Nilo Boldrini, natural da cidade, que combateu na Segunda Guerra Mundial. Com o fim da guerra, que conduziu à redemocratização do país, as circunstâncias políticas favoráveis permitiram o surgimento de um novo movimento emancipador, em 18 de março, visando criar, agora, o município de Cordeirópolis. Cordeirópolis não tinha como crescer, isto é, expandir o núcleo urbano, pois estava cercada de fazendas produtivas e poderosas; só com a decadência do regime agroexportador e a demanda por habitação é que a cidade ultrapassou seus limites históricos (até a estrada de Araras e até a Washington Luiz).


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O seu núcleo urbano servia como apoio à estação, cujo movimento fazia circular as riquezas, e a população não se fixava; a entrada dependia das fazendas e a saída ocorria pelos mais diversos motivos: insuficiência da terra para o sustento dos filhos, ausência de oportunidade de emprego, ausência de estabelecimentos de ensino (ginásio, curso comercial, faculdades). A povoação, apesar disso, sediava repartições que marcavam a presença do Estado nos seus diversos níveis: coletorias (federal e estadual), subprefeitura, cartório de registro civil e de notas, contando com energia elétrica cem anos antes de muitos locais em algumas partes do Brasil.



O município

O PSP (Partido Social Progressista), de Adhemar de Barros, governador do Estado, comandou o processo de emancipação, tendo como líder Jamil Abrahão Saad. Apesar disso, venceu a eleição Aristeu Marcicano, do PSD, candidato do partido do prefeito de Limeira e do seu líder na Câmara, Bento Avelino Lordello. Lordello não teve participação no movimento emancipador de 1948, por ser chefiado por partido antagônico. O candidato do PSP era Huberto Levy, proprietário da fazenda Ibicaba e descendente do grande chefe político local da Primeira República, o Coronel José Levy. Apesar de toda a tradição da família e de uma campanha intensiva, o partido de Aristeu conseguiu cooptar os eleitores com uma tática mais silenciosa, o que causou surpresa.


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O ano de 1948 começou particularmente agitado. Quando a Prefeitura Municipal de Limeira indicou Paulo Mauro Merola para ser subprefeito de Cordeirópolis, a representação do distrito se desentendeu. Por serem de partidos políticos rivais, Jamil Abrahão Saad, vereador pelo PSP, se insurgiu contra o nome indicado pelo prefeito José Marciliano, que por sua vez foi defendido por Bento Lordello, do PSD. Apesar do protesto popular ocorrido em 2 de fevereiro, e da discussão na Câmara de Vereadores de Limeira, entre os vereadores Bento, Jamil e Veriano Marques Pereira, do PTN, o nome do subprefeito foi aprovado por 10 votos a 7. No final do mês, o jornal O Limeirense destaca em sua capa uma nota sobre a disposição da Assembleia Legislativa, através da Comissão Revisora, de atender aos pedidos de criação de distritos de paz, municípios e comarcas no Estado. Diante dessa “boa notícia”, uma nova comissão próemancipação se formou, a qual publicou seu manifesto em 18 de março e era composta pelos principais industriais da cidade (Krauter, Jafet, Gabriel Saad, Jamil, Moacyr Dias) e outras pessoas importantes, como Carlos Hespanhol, participante do movimento de 1934, e Huberto Levy, que na sua maioria, compuseram ou já compunham o diretório do partido de Ademar na cidade. Junto a essa agitação, outro assunto era destaque nos meios políticos: a nomeação das autoridades distritais. Entre e março e maio, o subdelegado e seus suplentes foram trocados quatro vezes, e um articulista político reclamava porque os cidadãos nomeados e demitidos, a cada mês, se submetiam a tal “joguete político” nas mãos dos membros do partido governista.


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Em 25 de março, já começavam as discussões sobre a viabilidade da emancipação: um articulista diz que, apesar de ter um “comércio sólido, indústrias em franco desenvolvimento, grande número de prédios urbanos”, prerrequisitos fundamentais para a emancipação, o futuro município deveria continuar “com suas mesmas divisas distritais”, sem retirar território da sede. Em 6 de maio, o jornal pesquisado divulga que os deputados Castro de Carvalho e Cunha Bueno encaminharam à Assembleia Legislativa a representação dos moradores de Cordeirópolis para a elevação a município. Ela continha mais de 1500 assinaturas, o que também se enquadrava nos prerrequisitos necessários - ao contrário de Iracemápolis, cuja petição foi assinada por menos de 10% da população, sendo por isso impedida de continuar o processo de apreciação. A sua emancipação só ocorreria em 1953. Apesar de toda a repercussão do movimento autonomista, havia, no distrito, um grupo contrário à emancipação, por “mero capricho político”, segundo o jornal de 23 de maio. Ainda, conforme o mesmo polemista, eram justamente “os mais barulhentos componentes da célebre Liga Autonomista”. Esta “Liga”, na verdade, era a “Aliança Autonomista de Cordeiro”, que se reuniu em março de 1934 visando a emancipação, e que tinha como membros Bento Lordello e Aristeu Marcicano (em 1948 no PSD), Moacyr Dias e Carlos Hespanhol (em 1948 no PSP e no outro movimento emancipacionista). Os políticos que batalharam juntos em 1934, agora em 1948, com a organicidade da sociedade e a criação de um espectro partidário que permitia a diferença, estavam de lados diferentes, Isso pode explicar a existência da


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“oposição” à emancipação, que, na verdade, era oposição ao grupo político que estava pleiteando. Na coleção de jornais pesquisados, encontramos dois artigos que refletem a polêmica instalada por conta da proposta de emancipação de Cordeirópolis. Em 27 de maio, um artigo assinado por “Um Autonomista” enumera os pontos positivos de Cordeirópolis quanto ao seu sustento como município: diz ele que a arrecadação ultrapassava o limite mínimo para que um distrito pleiteasse emancipação e que, devido a dispositivos legais, a cidade receberia mais recursos. Os gastos seriam poucos e, portanto, haveria muita sobra para ser investida. Mais tarde, em 5 de agosto, um ex-subprefeito de Cordeirópolis e engenheiro da Prefeitura Municipal de Limeira, Milton Silveira, escreve um artigo que recebe um destaque até então nunca dado ao assunto nas páginas d’O Limeirense: o texto tinha o título “Independência de Cordeirópolis” e seus subtítulos logo no alto, e o texto ocupando quase toda a página. O grande articulista tenta convencer através de ilustrados argumentos, que: quando ele foi nomeado subprefeito, em 1943-4, “não tinha recebido um único despacho, um único requerimento”, e que “apenas um contribuinte apareceu para tratar de assuntos administrativos”, concluindo-se logo, no entender do grande administrador, que “a vila não possui aquele entrosamento administrativo”. Na oportunidade, o Sr. Milton Silveira aproveita para, jocosamente, opinar sobre o tamanho do que deveria ser o futuro município de Cordeirópolis: “no mapa geral do Estado, o município de Cordeirópolis será invisível a olho nu”.


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Além destes argumentos inatacáveis, Silveira tenta desmentir o autor de um artigo publicado no fim de maio sobre a arrecadação do futuro município, dizendo que ele não receberia o adicional de 30% sobre o excesso de arrecadação, porque essa era muito pequena; que só em 1950 entraria dinheiro federal; que o município teria que arcar com 5% da dívida total de Limeira, segundo a Lei Orgânica dos Municípios. Do lado da despesa, Silveira diz que a estimativa para o total das despesas do município é de uma “inocência encantadora” e que com os gastos para ordenados, amortização da dívida, luz e força, material de consumo, etc., haveria um déficit no mesmo valor, além de ter direito a somente 10% da taxa da água que saía da represa de Cascalho e teria que pagar 10% do atual valor para conservação do manancial e da energia elétrica das bombas. Apesar de alegar com segurança todos os motivos que inviabilizariam a criação do município, no final, destacando a liderança de Jamil, o ilustre engenheiro, parodiando o que teria dito D. João VI a D. Pedro quando da volta a Portugal, terminou concluindo: “Jamil, antes seja para ti, do que para qualquer outro”. O plebiscito foi marcado para o dia 3 de outubro, um domingo, e, como sabemos, o Movimento saiu vitorioso. Ele foi composto, a partir de 18 de março de 1948, pelos seguintes membros: Presidente – Jamil Abrahão Saad; vice-Presidente: Durval Alves; secretário: Moacyr Dias; tesoureiro: Sebastião Pereira de Morais. Membros: Dr. Antonio Junqueira Filho, Ângelo Pagotto, Adolpho Hubner, Antonio Beraldo, Carlos Hespanhol, Carlos Buscatto, Constante Peruchi, Felipe Camargo, Guilherme Krauter, Gabriel Jafet, Gabriel Saad, Dr. Huberto Levy, Jacob Tomazella, Laurentino Fonseca.


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Realizado o plebiscito em outubro, a proposta emancipadora foi vitoriosa, sendo oficializada a autonomia municipal pela Lei Estadual n° 233, de 24 de dezembro de 1948. As eleições para a Prefeitura e para a Câmara Municipal foram realizadas em 13 de março de 1949 e o município foi instalado em 27 de março. Como a prática do governador Ademar de Barros era prestigiar os municípios onde tivesse prefeitos de seu partido, diz-se que todos os melhoramentos conseguidos no período da administração do primeiro prefeito da cidade, o foram pela influência do diretório municipal do PSP, e não especificamente pelas suas gestões como chefe do Executivo. Nesta época, a cidade conseguiu diversas obras públicas importantes, como Centro de Saúde, agência da Caixa Econômica Estadual, Coletoria, etc. Por outro lado, a economia baseava-se essencialmente na agricultura e nas indústrias de tecelagem, e a cidade estava tendo um crescimento populacional, com contingentes vindos de outras cidades e da zona rural. Os loteamentos vila Pereira e vila Barbosa eram as opções para as famílias recém-formadas e para os que quisessem sair do campo. No final do mandato de Aristeu, houve uma cisão no diretório municipal do partido de Ademar, o PSP, que resultou na criação do PDC, liderado por Moacyr Dias. Este primeiro partido lança, novamente, Jamil Abrahão Saad para prefeito. Apesar da tentativa frustrada de arranjo entre as facções partidárias da época, o Dr. Cássio de Freitas Levy, acabou sendo eleito. Nessa época, aparece o loteamento da vila Santo Antonio e o chamado “loteamento das irmãs Neves”, uma parte de terra próxima ao Estádio Municipal “Huberto Levy”, que foi fracionada com a abertura de uma rua.


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Em 1950, Cordeirópolis tinha pouco mais de 6.000 habitantes, terminando por contar com aproximadamente 7.600 em 1960, o que denota um período de expansão urbana e franco crescimento populacional. Por ação das lideranças locais do PSP, o então governador do Estado, Lucas Nogueira Garcez (1951-1955), apresentou projeto de lei autorizando a doação ao município de um terreno de 27.652 m2, situado entre as ruas 13 de Maio e Carlos Gomes, no trecho entre a rua Guilherme Krauter e Saldanha Marinho. Na sua justificativa, o governador alega que as áreas “encontram-se dentro de zona urbana (...), o que impediria o crescimento normal da cidade (...) e iria se facilitar ao município a solução do problema da habitação”. A doação foi oficializada pela Lei Estadual nº 2605, de 20 de janeiro de 1954, sendo recebida pelo município através da Lei Municipal nº 95, de 5 de abril do mesmo ano. Cássio de Freitas Levy, de tradicional família da cidade, nasceu em Santos, onde trabalhou na empresa exportadora de café de sua família nesta cidade, tendo-se mudado definitivamente para Cordeirópolis em 1949. Além da aquisição desta parte das Amoreiras, Cordeirópolis conseguiu uma reforma para o Grupo Escolar “Cel. José Levy” e a construção de dois poços artesianos. O abastecimento de água potável sempre foi um problema para as administrações municipais, pois o poder de investimento não acompanhava o crescimento populacional. Também foi inaugurado, nesta época, um sistema de transporte ligando a cidade a Limeira, a famosa “jardineira”. Neste período, encontramos indicações sobre a repercussão que o suicídio de Getúlio Dornelles Vargas,


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ex-governador do Rio Grande do Sul, e presidente do Brasil entre 1930 e 1945 e 1951 e 24 de agosto de 1954, teve na cidade, especialmente nos meios políticos. O país inteiro certamente deve ter ficado chocado com a notícia de sua morte. Em nossa cidade, no estágio atual das pesquisas, não pudemos saber ainda se existia algum jornal que noticiou o fato e nem foram colhidos depoimentos de contemporâneos. A fonte disponível, em nosso caso, são os livros de Atas da Câmara Municipal de Cordeirópolis, de onde colhemos subsídios para este artigo. No dia 27 de agosto de 1954, três dias após a morte do presidente, a Câmara realizaria uma sessão extraordinária com o objetivo de votar um projeto que autorizava a venda dos terrenos da antiga “Amoreira”, recebida em doação do Governo do Estado. Esta sessão foi presidida pelo vereador Pedro Antonio Hespanhol, sendo secretários Armando Pinke e Paulo Simões. Estavam também presentes Aristeu Marcicano (prefeito entre 1949 e 1953), Antonio Rosolen, Durval Alves, Ismael de Camargo, José Mascarin, Manoel Pereira dos Santos e Mario Zaia. Ao iniciar a sessão, o presidente da Câmara comunicou a morte de Getúlio Vargas, lamentando seu desaparecimento em tão trágicas condições. As bancadas do PSD (Partido Social Democrático), de Aristeu e do PDC (Partido Democrata Cristão), de Armando Pinke, requereram que fosse consignado em ata um voto de pesar pelo falecimento do presidente, suspensão da sessão e envio de ofício à viúva, D. Darcy Vargas, apresentando condolências. Este requerimento foi subscrito pelos citados líderes e pelos vereadores Rosolen, Manoel P. dos Santos, José Mascarin e Paulo Simões. Em seguida, o vereador Mario Zaia, do PTB, requereu que se telegrafasse à família enviando votos de pêsames.


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O vereador Aristeu Marcicano, ao justificar o requerimento, disse que ninguém esperava que, da crise político-militar que o Brasil atravessava resultasse essa morte brusca do presidente Vargas; que foi com verdadeira perplexidade que o povo recebeu a notícia; que ninguém queria acreditar, porque o povo achava que o presidente não precisava usar este meio violento, pois em muitas outras ocasiões dera provas de grande coragem para enfrentar as situações. Infelizmente, a notícia foi confirmada, para tristeza nossa e do povo brasileiro, completou. Fez uma biografia do falecido, desde a sua vitória na revolução de 1930, passando pela revolução de 1932, pelo seu período constitucional, entre 1934 e 1937, até sua deposição pelas Forças Armadas em 1945, o seu retorno em eleição democrática e seu suicídio. Comentou que não poderia ser dito que o seu governo tenha sido ideal, pois basta ser humano para que se tenham defeitos. Sugeriu, então, que a sessão fosse somente de homenagem ao grande político tragicamente falecido. O vereador Armando Pinke, por sua vez, disse que no dia 24 daquele mês, quando faltavam dez minutos para as nove horas, a população de Cordeirópolis foi alertada com a trágica notícia, mais tarde confirmada. Comentou que os momentos que sobrevieram foram estarrecedores, pois os corações de todos se encheram de tristeza e de luto. Destacou, segundo sua ótica, duas grandes glórias do presidente: as leis sociais e a instituição do voto secreto e afirmou, finalmente, que o povo não poderia esquecer Getúlio Vargas. O líder do PSP, Durval Alves, se associou às homenagens prestadas à memória do presidente Getúlio Vargas, dizendo: “É um dos maiores brasileiros que desaparece. Getúlio Vargas morreu, mas viverá em espírito nos corações de todos”.


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Mario Zaia, do PTB, expressou sua satisfação ao constatar que as diversas bancadas eram unânimes em prestar as suas homenagens e também se associou a elas. Finalizando a discussão do requerimento, o vereador Aristeu Marcicano disse que iriam ser celebradas missas em sufrágio de sua alma e que aquele dia não seria possível votar o projeto, pois tudo teria que ser encaminhado no sentido de serem prestadas homenagens à memória do grande presidente Vargas. Votado e aprovado o requerimento, foi suspensa a sessão, em memória do ilustre falecido. Três dias depois, foi convocada uma sessão extraordinária para proceder à votação do projeto de loteamento das “Amoreiras”, interrompido com os acontecimentos de 24 de agosto. Neste dia, compareceu ao recinto da Câmara uma Comissão de Operárias da cidade, composta por Maria Hilda Buso, Regina Panhoca Thirion, Janete de Godoy, Maria de Lourdes Silva e Maria do Carmo Araújo, que entregou memorial ao presidente solicitando que fosse dado o nome de Presidente Vargas a uma das ruas de nossa cidade, oferecendo a placa inaugural. Em seguida, os vereadores Mario Zaia, Durval Alves e Ismael de Camargo apresentaram requerimento, apoiado pelos vereadores Braz Della Coletta, Aristeu Marcicano e Armando Pinke, sugerindo dar o nome de Presidente Vargas a uma das ruas de Cordeirópolis. Em 9 de maio do ano seguinte este requerimento foi transformado em projeto de lei, que dava o nome do falecido ex-presidente à rua nova aberta no loteamento municipal. Votado e aprovado em 9 de setembro, foi remetido à sanção do então prefeito Cássio de Freitas Levy, que a transformou na Lei nº. 116, de 14 de setembro de 1955, dando o nome à atual avenida Presidente Vargas.


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Em 1955 tomou posse o novo governador do Estado, Jânio da Silva Quadros (1955-1959), derrotando o ex-governador Ademar de Barros, mas o mandato do prefeito Cássio Levy continuaria até março de 1957. Em dezembro de 1956, o governador encaminha projeto autorizando a doação de área contendo 289.148 m2, expandindo o núcleo urbano da cidade em mais de um quilômetro a partir da praça Francisco Orlando Stocco, abrindo-se depois a avenida Presidente Vargas, por muito tempo, a maior avenida da cidade. No campo político, mais tarde, houve o surgimento de um novo líder, Pedro Antonio Hespanhol, que tinha conseguido unir o PDC de Cássio, o PSD de Bento e Aristeu e a UDN de Moacyr Bráulio de Mello, mas a sua desistência em concorrer ao cargo de prefeito proporcionou uma eleição fácil ao líder do PSP, Jamil Abrahão Saad, que derrotou o ex-prefeito Aristeu Marcicano. Pela Lei nº 4.034, de 16 de agosto de 1957, o Estado oficializou a doação do terreno para realização de loteamento popular, baseando-se em solicitação da Prefeitura Municipal, que alegou novamente a “crise de habitação”, comprovada pelo fato de que o terreno anterior foi dividido em 60 lotes, para os quais concorreram 120 interessados, e que este terreno seria objeto de um novo loteamento, reservando-se inclusive locais para instalação de indústrias. A área seria recebida pelo município através da Lei nº 162, de 22 do mesmo mês, tempo recorde em comparação ao anterior, quando se passaram três meses entre a passagem das esferas de governo. Pela Lei nº 183, de 5 de maio de 1958, ficou definida a criação do “Loteamento da Prefeitura Municipal”, que serviria para fins residenciais, comerciais, industriais,


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chácaras “e etc.”, sendo autorizada a cessão gratuita de áreas para instituições públicas, assistenciais, esportivas, recreativas e culturais, além de cessão gratuita, ou venda, de terrenos para fins industriais, dando-se preferência aos interessados na construção da “casa própria de caráter popular”, mas poderiam ser distribuídas mais de uma área a um só adquirente. Em 1961, foi autorizada a expansão do loteamento, continuando a preferência para a construção de “casas próprias”, com desconto de 20%. Foi permitida a transferência dos contratos a terceiros, com autorização da Prefeitura, recebendo-se a escritura definitiva somente com a construção das casas.Seria permitida a assinatura do termo mesmo sem construção, com o pagamento de 10% a mais sobre o preço do lote. Por fim, os contribuintes que estivessem devendo impostos não poderiam adquirir, transferir ou receber em transferência os lotes, além de ficar definido que a falta de pagamento das prestações por mais de três meses geraria a anulação do contrato e devolução do contrato e do terreno à Prefeitura, sendo restituídas as prestações já pagas. Por esta época, foi aprovado projeto de lei criando o Ginásio Estadual de Cordeirópolis, que só teve prédio próprio em 1970, e foi aprovada uma lei que proibia o trânsito de carroças com rodas de metal pela parte asfaltada, não se sabe se pela necessidade de se preservar o asfalto recém colocado ou qualquer outra razão. Segundo depoimento inscrito em um jornal local, na década de 1980, o grupo formado por Moacyr Dias, Cássio Levy e Aristeu se uniu em torno de uma candidatura de consenso, a do ex-prefeito Cássio, vencendo o candidato do PSD, o professor aposentado, Bento Avelino Lordello.


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O ex-prefeito Cássio tinha tido um papel importante no período anterior, pois, sendo do mesmo partido do Governo Jânio Quadros, conseguiu, através de sua ação, facilitar as concessões do Estado para a cidade, conforme vimos pela legislação. Em seu governo, a cidade sofreu os efeitos de um processo recessivo e da crise política em nível nacional. Apesar disso, construiu a sede própria da Casa da Agricultura e inaugurou o Parque Infantil, na Avenida Presidente Vargas. Em uma de suas últimas entrevistas, ele reclamou da inflação da época e do seu subsídio, que sofreu uma corrosão durante todo seu mandato. O eterno problema da falta d’água também atingiu esta administração, que teve que suportar a seca da represa do Cascalho, restando somente os poços artesianos para abastecimento da cidade. Apesar disso, notamos que no seu período inicial de 1949 a 1965, a cidade contava com mais opções culturais e de lazer, como dois cinemas no núcleo urbano (o Cine Paulista e o Cine da Sede Social Católica), um grupo teatral amador liderado por Manoel de Souza Loureiro e os dois principais times de futebol amador da cidade, o Brasil Atlético Clube, fundado em 1958 e o Clube Atlético Juventus, fundado em 1953, segundo consta, continuação do antigo time chamado “União Cordeirense”. A formação de um setor industrial na cidade, em governos anteriores, no fim do loteamento vila Nova Brasília, fez com que a cidade obtivesse um desenvolvimento considerável, com formação de loteamentos, proporcionando o crescimento do município. Entre as décadas de 50 e 60, a relação entre a população urbana e rural se inverteu, completando um processo que vinha desde antes da emancipação.


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A eleição de 1965, a última realizada sob o sistema multipartidário, referendou o nome Luiz Beraldo, ex-vereador e industrial, para prefeito, contra Mario Zaia, líder do PTB. Com o bipartidarismo, as tendências anteriores se dispersaram, e novos agentes políticos entram no jogo. A sucessão de administrações chefiadas por industriais, beneficiadas pelo alinhamento político e por condições sociais favoráveis, fez com que a cidade experimentasse um período de florescimento. Em 1973, no governo de José Alexandre Celoti, realizou-se uma tentativa de industrialização da cidade, que proporcionou a vinda de novas empresas para o que se chama hoje “Distrito Industrial Alcides Fantussi”. A maioria das obras públicas ainda em funcionamento da cidade foi realizada nesta época, que findou com a eleição, em 1982, de José Geraldo Botion, diversas vezes candidato de oposição, no período bipartidário. O ciclo dos governos do PMDB (de seu ex-vice-prefeito e de si próprio) se encerrou em 1997, quando, com a criação da reeleição do Executivo, seguiu-se aos dois governos do antigo mandatário municipal do período 1977-1982, Elias Abrahão Saad, líder política desde a década de 1970. Numa mobilização das forças progressistas da sociedade, e com a participação de novos atores sociais, um candidato sem experiência política anterior, Carlos Cezar Tamiazo, foi eleito em 2004, com votação consagradora, sendo reeleito em 2008, com aprovação recorde, a maior votação individual conseguida por um candidato desde a emancipação. Isso ocorreu em virtude das realizações administrativas decorrentes do crescimento da arrecadação, do bom relacionamento com os governos federal e estadual e da relativa eficiência na gestão dos recursos públicos. Em 2006, a cidade elege seu primeiro deputado estadual nascido no município, David Zaia, reeleito em 2010 e


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neste momento, Secretário Estadual de Gestão Pública do Governo de São Paulo. Dentre os novos atores sociais se encontram os “semterra”, beneficiados por uma iniciativa do Governo do Estado, que instalou, no antigo Horto Florestal da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, o “Assentamento XX de Novembro”, em regime de concessão de uso de lotes rurais para incentivo à agricultura familiar. Mesmo que, desde a década de 1980, a pobreza tenha aumentado, gerando a criação de bairros onde se concentra a população menos favorecida, os últimos anos viram o surgimento de uma nova modalidade de despossuídos, os “sem-casa”, que ocuparam terras particulares, de propriedade de uma empresa desativada, e de pequenos proprietários rurais, descendentes dos imigrantes italianos já radicados há algumas gerações. São novos problemas que foram parcialmente equacionados, mas ainda demandam solução efetiva. A partir daí, Cordeirópolis, paulatinamente, conseguiu ter os equipamentos urbanos indispensáveis para o bem público, apesar da retração dos equipamentos de lazer e cultura, como o fechamento dos cinemas e a desativação do grupo teatral, que só voltaria a existir muitos anos mais tarde, com orientação profissional, financiado pelo governo municipal, nos seus anos iniciais. O ano de 2000 foi simbólico para o município, em primeiro lugar, pela criação da comarca de Cordeirópolis, último estágio na evolução político-judiciária, somente instalada em 2005, e do Cartório de Registro de Imóveis, aberto somente em 2009, e em segundo, pela instalação do Centro de Distribuição da Nestlé Brasil, o que representou um acréscimo substancial na arrecadação de impostos do município, além da abertura de uma nova perspectiva


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de desenvolvimento, vinculada à excelente posição logística da região representada pelo triângulo composto pelas autoestradas Anhanguera, Washington Luiz, desde 1957, e Bandeirantes, que chegou à cidade em 2001. A sucessão de administrações alinhadas com o governo estadual conseguiu trazer benefícios para a cidade, mas a crise do início desta década provocou o declínio da atividade de tecelagem, abrindo espaço para indústria cerâmica. O quadro social se deteriorou, mas ainda pode-se considerar que a cidade está em boa situação.


A mudança da data na bandeira e no brasão do município A data da elevação de Cordeirópolis a distrito, e sua consequente utilização na bandeira e no brasão do município sempre foram questões que não mereceram a atenção apropriada, o que acabou gerando uma incorreção, cujo problema estamos agora abordando neste capítulo. A data de 7 de agosto de 1889 sempre foi considerada, sem contestação, como a de elevação da antiga povoação de Cordeiro a distrito de paz, isto é, circunscrição administrativa cuja autoridade máxima é um juiz de paz, pelo menos até 1906, quando a Lei Estadual nº. 1038, de 19 de dezembro, estabeleceu que todo distrito passasse, a partir daquela data, a contar com um subprefeito como representante da Intendência Municipal (a partir desta mesma data, chamado de prefeito), que, até 1916, quando da publicação do Código Civil brasileiro, parecia manter a sua


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função de juiz de conciliação, atribuição que, entre outras, recebeu pelo ato de sua criação, a Lei de 15 de outubro de 1827; este cargo já tinha sido previsto pela Constituição do Império, para estabelecer-se nas freguesias (paróquias) e capelas curadas (intermediárias entre capelas e paróquias), mas só foi regulamentado posteriormente. A frase que desencadeou a realização desta pesquisa está gravada num dos bancos da Praça Comendador Jamil Abrahão Saad: “CORDEIRÓPOLIS – distrito criado em 07 de agosto de 1889”. Depois de uma reflexão, acabamos por concluir que a sentença continha em si uma contradição: como Cordeirópolis poderia ter sido elevada a distrito se naquela época (escrita no banco) estava em vigor a estrutura administrativa do Império? Esta estrutura baseava-se no seguinte: cada município autônomo, constituído de uma Câmara de Vereadores (a Prefeitura ou Intendência só foi criada na República), era chamado de Vila apesar do sentido atual desta palavra, como uma povoação de menor tamanho; quando adquiria um desenvolvimento suficiente, era elevado a cidade, significando uma posição superior em importância, mas mantendo a mesma estrutura administrativa, aumentando o número de vereadores, funcionários públicos, etc. A freguesia, até a lei de 1827, quando se transformou em circunscrição administrativa, com a nomeação de um juiz de paz, antecessora do distrito de paz, era somente uma unidade autônoma de uma diocese, composta de Igreja e de pároco ou vigário, que, em teoria, deveria ser nomeado pelo Imperador; naquele tempo as investiduras religiosas eram feitas pelo monarca, mas na prática era investido pelo bispo de sua região.


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Estes também eram sugeridos ao Papa para a sua nomeação, e muitas vezes entravam em choque com o Imperador, por pretenderem obedecer às leis da Igreja que não eram autorizadas pelo monarca a vigorarem no país. Este sistema baseava-se no chamado direito de padroado (nomeação dos cargos eclesiásticos pelo Imperador) e no beneplácito (autorização que o monarca concedia para que as ordens emanadas da Igreja tivessem validade no país); este sistema vigorou até 1889. Portanto, pelo que podemos perceber, a relação distrito-1889 constituía-se uma contradição, que, em nossas pesquisas, logramos desvendar. A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, editada em 1957, vulgarizou a data acima citada, mas, ao mesmo tempo, deu pistas para que conseguíssemos derrubar esta informação até então incontestada: CORDEIRÓPOLIS, “Distrito de Paz criado pela Lei nº. 645, de 07 de agosto de 1889 (sic), após três (3) anos de vida distrital, pretendia a sua elevação à categoria de município. Em setembro de 1902, o então Juiz de Paz deste Distrito, em exercício, Capitão José Levy, recebia da Secretaria de Estado dos Negócios do Interior e Justiça o ofício de nº. 239, solicitando ‘as necessárias informações sobre a representação em que os moradores dê-se distrito pedem a sua elevação à categoria de município’ (...) Em 1º de outubro, foi respondido com as informações pedidas, em que o juizado de Paz salientou, entre outros pontos, o seguinte: ‘é uma aspiração justa e consentânea com a Lei’”. Como se vê, apesar da data de 1889, o autor do histórico queria prevenir, ou evitar que se repetissem novamente possíveis erros de impressão; neste sentido, colocou a palavra três acrescida do parêntese numérico preventivo


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– “(3)” – contra erros de transcrição ou, num caso mais extremo, de adulteração. Este pequeno detalhe abriu uma brecha para que pudéssemos, a partir dela, conseguir, com provas concretas, a correção deste pequeno acidente de impressão, um erro tipográfico, que causa, até a presente data, esta deturpação da verdade histórica, ou, em outro sentido, essa incorreção histórica. Os almanaques do século passado, diversamente do que ocorre hoje, se assemelhavam a livros de geografia, pois, mesmo tendo muitas das características hoje encontradas, como por exemplo o calendário das festas religiosas, os santos dos dias, curiosidades da natureza, etc., dedicavam uma parte substancial de suas páginas para a descrição detalhada de todos os órgãos da administração pública da província, e de informações o mais detalhadas possível sobre cada município (histórico, datas de elevação a freguesia, vila, cidade, comarca), além das autoridades de cada um, Câmara de Vereadores, nome dos agricultores, comerciantes, banqueiros, etc. As informações dos correspondentes de cada localidade eram enviadas à capital para a feitura dos livros, que se não eram fruto de uma apurada pesquisa histórica, pelo menos representavam a realidade da situação vivida, pelo informante e pelos habitantes das cidades; é por isso que utilizamos duas destas obras, a fim de provar, neste caso, ainda que indiretamente, a incorreção da data de 1889 como designativa da elevação a distrito da antiga povoação de Cordeiro. Um Almanaque consultado foi o Almanach do Estado de São Paulo para 1891, cuja parte que nos interessa já foi publicada na edição nº. 88 do Informativo Municipal de 13 de junho de 1992, referente à povoação de Cordeiro. Vale dizer que a povoação só apareceu neste almanaque porque o subdelegado do bairro, Firmino Pires da Motta,


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era colaborador desta obra. Se assim não fosse, não teríamos nenhuma informação sobre a cidade naquela época. A questão é simples: se Cordeiro fosse realmente um distrito em 1889, não é correto que em 1891 ele fosse chamado por esse nome, e não por “povoação”, que designa um ajuntamento populacional sem qualificação administrativa? Outra obra consultada, semelhante à anterior, chamase “Almanach para o anno de 1896”, e era publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Neste livro, como no outro, são expostos os cargos, os profissionais, os capitalistas, etc. e a administração pública de cada cidade; no que diz respeito ao nosso tema, notamos que, ao contrário de Rio Claro, que se compõe de “distritos de paz: 2”; Limeira, nesse texto, não conta com nenhum distrito de paz além da sede, a exemplo de Lorena e Lavrinhas, que estão citados em páginas próximas. Mas a obra que irá dar confirmação um pouco mais consistente é o livro de Eugenio Egas, “Os Municípios Paulistas” que, quase como os almanaques antigos, expõe dados sobre a administração pública, a divisão judiciária, eclesiástica, os prédios públicos notáveis, as estradas de rodagem e de ferro, as distâncias com relação às cidades mais próximas, etc. No tópico sobre Limeira, quando cita a divisão judiciária, apresenta os seguintes dados: “DIVISÃO JUDICIÁRIA – Limeira (...) pertence à comarca de igual nome e tem dois districtos de paz: Limeira, criado por Decreto de 9 de Dezembro de 1830, e Cordeiro, por Lei nº. 645, de 7 de agosto de 1899.” É um livro que, baseado em informações recolhidas nas repartições e arquivos públicos, agências de estatís-


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tica e assim por diante, informa, pela primeira vez, a data correta da elevação de Cordeirópolis a distrito. Esses dados, apesar de darem provas de sua veracidade, poderiam causar polêmica, justamente pelo fato de o texto da Lei não ter sido, ainda, usado como prova. Entretanto, depois de pesquisas realizadas na seção de periódicos da Biblioteca do CMU-UNICAMP, conseguimos encontrar o texto da Lei de elevação a distrito, prova irrefutável da validade de nossa informação e que, atualmente, é encontrado na página da Assembeia Legislativa na internet, além da coleção de leis estaduais que estão na Biblioteca da Câmara Municipal. Com base nestas provas, que considerávamos suficientes para o nosso intento, reiteramos, naquela época, o pedido de que, através da aprovação de um projeto de Lei, fosse modificada a data contida na Lei de criação do brasão e bandeira do município, vulgarizada inconscientemente, e que, até o presente momento, contribuiu para que os dados históricos do município fossem divulgados e ensinados de forma deturpada, e que, como vimos, não corresponde à realidade. Texto distribuído em outubro de 1993.


O Bairro do Cascalho

Durante o mês de agosto de cada ano, ocorrem festividades religiosas no bairro do Cascalho, neste município, lembrando fatos relacionados à Igreja e à sua padroeira. A primeira destas comemorações “especiais” foi realizada há anos atrás, com o objetivo de celebrar o centenário da criação da capela e do cemitério do bairro. Antes disto, temos que recuar e verificar a origem do local, antes mesmo do período em que tinha o nome de Núcleo Colonial de Cascalho (NCC) e era vinculado à Inspetoria de Terras, Colonização e Imigração do Governo do Estado de São Paulo. No início do século XIX, os irmãos Ferraz de Campos receberam a concessão de uma sesmaria, que limitava com o senador Vergueiro e outros, parte da sesmaria do Morro Azul.


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José Ferraz de Campos, grande fazendeiro e chefe político, recebeu o título de barão de Cascalho pelos “bons serviços prestados ao Governo Imperial na Guerra do Paraguai”, tendo feito testamento e codicilo, contemplando a Confraria da Boa Morte, parentes e escravas de sua criação, com partes de sua propriedade que, a confirmar o que se acha em tal documento, era somente uma terça parte, em comum com seus irmãos. Não se conseguiu pesquisar, ainda, peças importantíssimas para o esclarecimento da situação fundiária, como os inventários dos Barões de Cascalho e Porto Feliz, que podem oferecer indícios para se compreender o que ocorreu a partir de 1870. As ações decorrentes, como as feitas pelas irmãs do falecido José Ferraz de Campos, Barão, contra os herdeiros do Barão de Porto Feliz, respectivamente sobrinho e filho, poderiam explicar o que ocorreu na partilha dos bens do sogro do Dr. Domingos Jaguaribe, mas os processos encontram-se indisponíveis para acesso e pesquisa. Com a intenção do Governo Provincial de absorver experiência do Império, desde 1824, Jaguaribe conseguiu que sua fazenda, herança da família Ferraz de Campos, fosse desapropriada pela Província, para ali se instalar um dos cinco núcleos coloniais que, na lei de subvenção da imigração, foram autorizados pela Assembleia Legislativa Provincial, mas só dois foram feitos em sua decorrência: Cascalho e Canas, atualmente um município do Vale do Paraíba. Domingos José Nogueira Jaguaribe era deputado provincial, partidário da abolição e do imigrantismo e que tinha criado colônias aproveitando trabalhadores nacionais, as chamadas “colônias do Barão de Porto Feliz”,


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Dizem alguns autores que Jaguaribe estava em péssima situação financeira nesse momento, mas seu bom relacionamento com a comissão criada para escolher as terras que obedecessem aos critérios da lei foi fundamental para a escolha do Cascalho como local da instalação do primeiro núcleo colonial de iniciativa provincial. Em março de 1884, foi aprovada uma lei autorizando o governo do Estado (que naquela época se chamava Província) a reembolsar os custos das passagens dos imigrantes que quisessem vir para cá, principalmente para trabalhar nas fazendas de café. No mesmo projeto, foi autorizada a criação de “Núcleos Coloniais”, estabelecimentos divididos em lotes visando à formação de povoações compostas exclusivamente por mão de obra livre, destinados à produção de gêneros alimentícios, para abastecimento de regiões próximas, com o objetivo de fazer o imigrante se instalar no país, localizados próximas a estradas de ferro ou rios navegáveis, visando evitar o fracasso de outros, em nível federal, que foram criados principalmente na região Sul do Brasil e em São Paulo também, em Santo Amaro, São Caetano e Itapecerica. O senador Vergueiro, proprietário da fazenda Ibicaba até 1859, era contrário à criação de núcleos como o de Cascalho, baseado no fracasso das tentativas realizadas pelo Governo Imperial e no “desvio” de trabalhadores que poderiam ser utilizados na lavoura, em vez de plantar alimentos em pequenas propriedades para o consumidor interno. A Comissão incumbida de selecionar terras para criação do Núcleo era composta pelo Conde de Três Rios (proprietário da fazenda Santa Gertrudes, em certa época), pelo Barão de Tatuí e por Francisco Antonio de Souza


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Queiroz. Domingos José Nogueira Jaguaribe, deputado provincial, era bem relacionado com o Governo e, com isso, foi privilegiado. Através desta negociação, foi decretada a desapropriação da antiga fazenda Cascalho, inicialmente de propriedade de José Ferraz de Campos, barão de Cascalho, que, por herança, deixou a seu filho Cândido José de Campos Ferraz, barão de Porto Feliz. Este tinha uma filha, que casou aos dezesseis anos com o citado Jaguaribe. Com a morte do barão, da baronesa e de sua esposa, Domingos passou a ser herdeiro das terras da fazenda, e, com esta liberdade, conseguiu do Governo a desapropriação suplementar de partes que deveriam pertencer a suas filhas, por herança. Durante o ano de 1884, foram nomeados como administradores do recém-criado Núcleo o Sr. Rodolpho Woss e, mais tarde, o Sr. De Lucca de Strazzari, que, anos depois, comunicou à Inspetoria problemas com colonos recém-chegados. Apesar do abaixo-assinado, de 1893, pedindo a criação de um cemitério e uma capela para os serviços religiosos, desde 1887 o Bispo de São Paulo já havia encaminhado pedido para construção desta necrópole. Mesmo assim, existem indícios de que algumas famílias, possivelmente de origem portuguesa, tenham conseguido a posse definitiva das terras. A partir da criação do Núcleo, Jaguaribe se instalou definitivamente na Capital, onde veio a falecer em 1926. Em 24 de abril de 1885 foi oficializada a desapropriação, que depois foi acrescida de áreas pertencentes a suas filhas, na herança de sua falecida mulher. Até mais ou menos três ou quatro anos de sua criação, o Cascalho rece-


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beu imigrantes do norte da Europa, depois, começaram a chegar imigrantes de origem italiana. A “fase alemã” do núcleo iniciou-se com a vida dos primeiros colonos, conforme atesta o Relatório do Presidente da Província de São Paulo, onde vemos que uma das mais tradicionais famílias da cidade, os Lucke, tiveram origem em Gaspar Lucke, que adquiriu terra e casa pelo valor de 800 mil réis, sendo oficializada a compra em 7 de janeiro de 1886. Imigrantes da Suécia e Dinamarca passaram pelo bairro no fim do século XIX. O “Correio Paulistano” dá duas referências do período em que estes imigrantes passaram por nossa cidade. Na edição do dia 10 de fevereiro de 1887, é publicada uma relação dos destinos que tiveram os imigrantes entrados na Hospedaria Provincial durante o mês de janeiro daquele ano. Para Cordeiro, foram encaminhados 59 dinamarqueses, especificamente para o Núcleo Colonial de Cascalho que, como sabemos, não se adaptaram ao local e seguiram outros rumos. A edição de 24 de abril do mesmo ano destaca a concessão de passagens gratuitas, pelo governo, para os imigrantes “Carl Pedessen, Soren Jacobsen e Peter Hansen” para a estação de Cordeiro. Por pesquisas realizadas há algum tempo, Soren Jacobsen chegou a comprar um lote no Cascalho, vendendo-o posteriormente a um imigrante italiano. Somente em 1887, nos documentos pesquisados, encontramos a primeira família de origem italiana: os Maronesi. A partir de 1890, a origem italiana dos imigrantes predominará. Mas estar situado num local pretensamente livre da ingerência dos governantes municipais não evitará a presença do principal personagem do período: o grande proprietário de terras, que, em muitos locais, tem


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mais poder que o governante civil, e que pode fazer o que lhe aprouver. A reclamação à Câmara de Limeira quanto ao fechamento de uma estrada foi infrutífera e o relato do imigrante que dizia “esta povoação está ficando quase de um dono só” mostra como, em um certo período, o poder dos Quinteiros era igual ou superior aos poderes constituídos. Em 1893, os habitantes se mobilizaram para a construção de uma capela e um cemitério, que começou a ser utilizado anos antes da criação do de Cordeiro. Em 30 de dezembro deste ano, através de decreto, o Governo do Estado de São Paulo emancipou o Núcleo Colonial do Cascalho, fazendo-o retornar à jurisdição do município de Limeira. Apesar de tudo, o Núcleo foi incorporado ao regime comum das outras povoações do Estado na primeira metade da década de 1890, mas o processo de quitação das dívidas e concessão dos títulos definitivos só terminou no final do século.Em 1898, a capela de N. S. da Assunção foi elevada a Curato, isto é, uma igreja não autônoma que contava com um sacerdote assistindo regularmente. Este período já está documentado através de um Livro-Tombo. No início do século, religiosos da Ordem de São Carlos, missionários que tinham por objetivo auxiliar os imigrantes italianos no exterior, vieram a Cascalho, ocupando a igreja local e a Paróquia de Cordeiro, durante alguns anos. Em 1914, devido à recente criação da Diocese de Campinas, seu bispo permitiu a criação de novas divisões autônomas, com objetivo de aumentar a arrecadação dos dízimos de sua jurisdição. Neste contexto, foi criada a paróquia, que significava uma parte da Diocese com sacer-


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dote próprio e que tinha autonomia para dispor de suas rendas. Neste mesmo ano, chega a luz elétrica ao bairro. Um dos fatos mais importantes para o Cascalho foi a inauguração da nova igreja, em 1936, resultado de um esforço da comunidade e coroamento de um trabalho realizado pelo Padre Luiz Stefanello, principal personagem da história do bairro. Com o passar dos anos, o bairro passou por modificações, de uma região onde a agricultura era praticada em pequenas propriedades para um lugar de chácaras de veraneio, tendo sempre persistido um pequeno comércio, em muitas situações equivalentes ou superiores ao distrito de Cordeiro, do qual fazia parte. O êxodo populacional, verificado desde a sua criação, foi causado pela insuficiência das terras, pela necessidade de os habitantes buscarem ocupações urbanas ou propriedades maiores em outro local. Recentemente, devido a parcelamentos de terras recentes, estão sendo formadas pequenas propriedades para lazer, que são ocupadas geralmente nos fins de semana e feriados.



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