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Diretor: Damião A. Gonçalves Pereira • Ano XCV • N.º 30324 • € 0,85 (IVA incluído) TERÇA-FEIRA, 27 DE MAIO DE 2014
Desfile com mais de 5 mil participantes coloriu centro da cidade
Pequenos romanos conquistaram Braga
Sérgio Conceição treina SC Braga
Com contrato por duas temporadas, Sérgio Conceição foi, ontem, apresentado como novo treinador do Sporting de DESPORTO • PÁGINA 23 Braga.
RELIGIÃO
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Diocese de Braga deve viver sempre ao ritmo do Vaticano II BRAGA
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Bombeiros do Cávado ganham novos equipamentos para combate ao fogo REGIÃO
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Alunos internacionais da UMinho pagam entre 4.500 e 12 mil euros Milhares de pessoas concentraram-se, ontem de manhã, no centro de Braga, para assistirem ao desfile de mais de cinco mil crianças, provenientes de cerca de 60 escolas e instituições, num dos momentos altos da Braga Romana, que terminou após seis dias de animação. A Câmara faz um balanço positivo da iniciativa e acredita que o prolongamento do certame por mais um dia compensou o BRAGA • PÁGINA 3 público e os comerciantes pelo arranque «menos favorável» provocado pelo mau tempo.
BRAGA
Associados da ACB têm vantagens com novo cartão
O presidente da Câmara de Vila Nova de Famalicão apontou, ontem, a empresa Injex – Pinheiro de Lacerda Lda., instalada em Vilarinho das Cambas, como um «bom exemplo» que deve ser «replicado» no concelho, devido à sua capacidade exportadora e empregadora.
Braga promove, entre 30 de maio e 7 de junho, o I Festival de Órgão. O programa desta iniciativa inclui cinco concertos, em cinco igrejas de Braga, que prometem surpreender o público e fazer renascer o gosto por aquele que é considerado o “rei dos instrumentos”. REPORTAGEM • PÁGINA 17
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Festival promete fazer renascer gosto pelos órgãos de tubos
DM
Famalicão quer replicar empresas que criam emprego e exportam
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Diário do Minho
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REPORTAGEM
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Cinco concertos de 30 de maio a 7 de junho
Festival quer fazer renascer gosto pelos órgãos de tubos MARTA ENCARNAÇÃO
certos na igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Instituto Monsenhor AiBraga promove de 30 rosa (31 de maio), e nas de maio a 7 de junho o igrejas do Bom Jesus (1 I Festival de Órgão. São junho), de Santa Cruz (6 cinco concertos, em cinjunho) e do Hospital de co igrejas de Braga que S. Marcos (7 junho). prometem surpreender o O festival inclui tampúblico e fazer renascer bém a realização de uma o gosto por aquele que conferência, no dia 31, é considerado o “rei dos às 18h30, na Sé, com o instrumentos”. cónego FerreiA iniciativa é ra dos Santos promovida pela O primeiro cone, a 7 de juArquidiocese de certo do Festival nho, uma visiBraga em parcerealiza-se esta sexta-feira, na ta guiada ao inria com a Santa Sé Catedral, peterior dos granCasa da Miserilas 21 h3 des órgãos da Sé córdia e com o 0 para desvendar Município de algumas curiosiBraga. O evendades destas caixas muto quer marcar a vida culsicais. tural de uma cidade que, José Rodrigues, direlentamente, começa a destor artístico do festival, pertar para a importância salienta que o evento irá cultural e artística destes promover o órgão em diinstrumentos. ferentes perspetivas. DesA viagem pelo “maravide logo a musical, levanlhoso mundo” dos órgaos do os bracarenses a oude tubos começa esta sexvir o instrumento de sota-feira, na Sé Catedral, noridade ímpar, passando com um concerto a dois pela valorização do patriórgãos. Seguem-se os con-
mónio e divulgação da música que é composta em Portugal. «Queremos ensinar o público a gostar deste instrumento e mostrar que a música de órgão vai muito para além das celebrações eucarísticas», nota. Além de dois organistas internacionais – o italiano Luca Antoniotti e a espanhola Marisol Mendive -, o festival conta com a participação de três intérpretes da nova geração de organistas portugueses. Paulo Bernardino, organista titular da Universidade de Coimbra, Daniel Ribeiro, que concluiu recentemente os seus estudos em Colónia, na Alemanha, e Rui Soares, que concluiu estudos na Holanda, foram os nomes escolhidos. «São jovens na casa dos 30 anos que já encheram diversas igrejas na Europa e são praticamente desconhecidos aqui em Portugal», explica José Rodrigues.
Braga possui 46 órgãos de tubos AVELINO LIMA
José Rodrigues é o diretor artístico do I Festival de órgão de Tubos de Braga
Braga é das cidades portuguesas com maior número de órgãos de tubos com interesse histórico. Dos 46 existentes, apenas 12 estão operacionais. São instrumentos de qualidade, construídos na época áurea da cultura musical (séculos XVII e XVIII. O diretor artístico do festival sublinha, contudo, o esforço que tem havido por parte de algumas
entidades e paróquias em recuperar os instrumentos, destacando o restauro dos órgãos da igreja do Hospital de S. Marcos, de Santa Cruz ou de S. Lázaro. José Rodrigues nota que existem alguns preconceitos em relação ao órgão que é necessário desmistificar. «Pensa-se que é preciso um grande conhecimento musical para o
tocar, quando é ao contrário. Ao nível da manutenção diz-se que é muito dispendioso. A manutenção do órgão de tubos é a mais simples e económica que existe. Basta tocá-lo», explica. No contexto do festival já foi possível avançar com a recuperação do órgão da Epistola, o órgão do lado direito da Sé, que há cerca de 10 anos teve uma infiltração.
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O diretor artístico do I Festival de Órgão acredita que Braga pode aproveitar o evento do ponto de vista turístico. Para José Rodrigues, o festival é uma «oportunidade única» para Braga potenciar este património. «Os turistas que passam pelas nossas igrejas, sobretudo pela Sé Catedral, perguntam sempre quando podem ouvir os órgãos. A Alemanha, a França, Itália e Reino Unido têm uma cultura em torno da música de órgão muito grande e quando vêm a Braga ficam admirados com o facto de não aproveitarmos este potencial», frisa. A cidade tem, por isso, muito a ganhar com a realização do evento. Segundo o mesmo responsável, há público, nacional e estrangeiro, conhecedor e apreciador da música de órgão. José Rodrigues refere que Braga poderia seguir o exemplo da Região Autónoma da Madeira que «olhou para o calendário, viu uma data com menos
O festival pode ser uma bandeira turística importante para Braga e para a região
Há público «apreciador e conhecedor»
Evento cultural com «enorme potencialidade turística» fluxo de turistas e criou um festival que hoje cativa muitos turistas sobretudo do norte da Europa». «Este festival pode ser mais uma oferta turística. No estrangeiro os ór-
Igreja da S.ra da Conceição concerto de órgão e oboé
gãos da Sé são um postal de excelência e, se uma imagem vale por mil palavras, o som dos órgãos valerá muito mais», refere. José Rodrigues explica que a música para órgão com-
posta em Portugal é muito conhecida e apreciada além fronteiras, especialmente na Alemanha. «Braga teve um papel principal na composição e difusão da música barroca para ór-
Igreja de Santa Cruz concerto de órgão e trompete
gão. Em Braga foram organistas Pedro d’Araújo e Gaspar dos Reis, que foram organistas da Sé Catebral, cujas obras são peças obrigatórias em programas dos organistas de outros paí-
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ses. É também por esta razão que o programa deste primeiro festival inclui composições portuguesas. «Não vamos falar só de Mozart ou Bach, também temos nomes em Portugal que à época e mesmo contemporaneamente compõem», refere. No concerto do Bom Jesus, por exemplo, será feita uma viagem pela história da música, desde a antiga até à contemporânea de alguns compositores ainda vivos. Cada concerto vai incluir uma pequena apresentação sobre o programa e sobre o próprio instrumento, sendo que o público terá ainda acesso a um prospeto com todas as explicações necessárias. No último concerto, no dia 7, na igreja do Hospital de S. Marcos, o público poderá ouvir uma peça nunca antes tocada em Braga. «“O Cuco e o Rouxinol” é uma história musical para órgão e orquestra. O órgão fará o papel de um cuco e de um rouxinol na floresta», conta o responsável pelo festival.
Igreja do Hospital S. Marcos concerto de órgão e orquestra
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A igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Instituto Monsenhor Airosa, é uma das mais belas joias do barroco. O seu órgão, datado do século XVIII, tem a particularidade do organista estar “escondido” atrás de uma grade por estar inserido num antigo convento de clausura.
O órgão da igreja de Santa Cruz é datado do século XVIII. Revestido de uma caixa de talha dourada, está decorado com vários motivos figurativos. É um órgão de sonoridade forte, com trombetas que irrompem da fachada, elemento característico dos órgãos ibéricos.
O órgão da igreja do Hospital não foi originalmente construído para ela. Aquando da expulsão das ordens religiosas, este órgão da autoria de Manuel Sá Couto terá sido transferido de Tibães para a igreja do Hospital. Apesar de não ter uma dimensão significativa, possui uma sonoridade «sóbria e brilhante».
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Formação de organistas e organeiros começa a ganhar novo fôlego em Braga
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Sé Catedral de Braga concerto a dois órgãos DM
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Depois de anos de esquecimento, a formação de organistas e de organeiros começa a ganhar novo fôlego em Braga. «Já temos pelo menos três organeiros em Portugal que têm feito um papel exemplar de recuperação destes instrumentos históricos», refere José Rodrigues. O diretor artístico do festival recorda que Braga teve a primeira escola de organaria em Portugal. Era do Mosteiro de S. Martinho de Tibães que saíam os organeiros que construíram órgãos em Portugal e em Espanha. «Expulsaram-se os frades beneditinos de Tibães, acabou-se com a escola. Esse facto levou a que os séculos XIX e XX fossem muito pobres a nível de construção de instrumentos e mesmo de manutenção», acrescenta. Também na formação de organistas, Braga deu cartas. «Como faltaram instrumentos também se descurou esta vertente. Mas também aqui assiste-se a
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José Rodrigues diz que o festival ajuda a renascer a cultura em torno dos órgãos
uma mudança de paradigma. A diocese criou uma escola de formação inicial de organistas e música litúrgica em S. Frutuoso», recorda. Em estudo está a criação de uma escola superior. «Poderá ser ligada à diocese, ao conservatório ou mesmo à Universidade do Minho. É uma situação
que está a ser estudada porque não nos queremos precipitar. Queremos que seja algo com futuro. Para termos uma escola temos de ter despertado nas pessoas o gosto e o conhecimento pela música de órgão. É preciso fazer todo um caminho», sustenta, lembrando que o I Festival de Órgão pode ser o
pontapé de saída. José Rodrigues considera que Braga tem muito a ganhar com estes instrumentos que devem ser mais utilizados, através da realização de concertos regulares. «Todas as igrejas de Braga estão abertas ao culto e o órgão pode e deve tocar nas celebrações», defende.
Os grandes órgãos da Sé de Braga, do ano de 1737, constituem um conjunto único de «incalculável valor artístico, pelas suas ricas caixas em talha barroca e pela sonoridade produzida pelos mais de 3.500 tubos». Para a sua construção, o Cabido da Sé chamou os melhores artistas da época. Figuram entre os mais notáveis exemplos organísticos mundiais.
Igreja do Bom Jesus do Monte concerto órgão, coro e solista DM
Festival desvenda caixas-surpresa rouxinóis a cantar ou apreciar os nomes dos registos. A organaria portuguesa dos séculos XVII e XVIII Outra das curiosidades era a existência do foleiro, não se contentou em construir instrumentos musicais «uma personagem indispensável, mais importante de qualidade, preocupou-se também com o valor esque o próprio organista». «Para o órgão funcionar, tético. Os órgãos de tubos são, por isso, autênticas antes da existência da corrente elétrica, era necessácaixinhas-supresa. «Não há orgãos iguais. São todos rio o foleiro que enchia os foles com uma diferentes não apenas no aspeto visual, mas alavanca», conta. também sonoro. Os espaços onde estão insOs rouxinóis do órgão da Sé Catalados têm acústicas diferentes e tudo isso O foleiro foi dispensado e os órgãos têm tedral serão um faz com que o resultado final, aquilo que quase todos um ventilador elétrico. «É a dos pormenores é audível, seja também diferente», explica única peça elétrica que os órgãos têm. Tudo a mostrar na viJosé Rodrigues. o resto funciona tal e qual como nos séculos sita guiada XVII e XVIII. Existe um sistema mecânico em O festival dará a oportunidade aos mais que o organista quando carrega numa tecla curiosos de conhecer de perto o interior dos abre uma válvula de ar, o ar passa para os dois grandes órgãos da Sé Catedral. Nestes órgãos o tubos e produz o som», explica o diretor artístico do público vai poder apreciar um anjo que mexe com a festival. mão, ver os tubos mergulhados em água que imitam
Construído por Manuel Sá Couto, este órgão pertenceu ao Mosteiro Cisterciense de Bouro, tendo sido adquirido pela confraria em 1855. Trata-se de um dos maiores instrumentos de Braga, com mais de 1.500 tubos. A caixa de estilo neoclássico, branca e com ornamentos dourados, espelha a sobriedade artística da época.