Oque atrapalha Goiás a crescer Falta de condições de tráfego nas rodovias e estagnação no setor energético dificutam investimento no Estado. Pág. 2
Foto Meramente ilustrativa
> Médicos
> Marconi
A greve inoportuna
Semeando para colher
Médicos da rede municipal de saúde resolve paralizar atividades mesmo com negociação em andamento. Decisao leva a refletir sobre as intenções reais do movimento grevista, que acaba por usar o povo pobre como bucha de canhão. Pág.4
Na primeira visita oficial após retornar ao governo do estado, Marconi Perilo mostra aos empresários europeus que Goiás esta aberto para receber investimentos. E com um governo que quer trabalhar para este tipo de vocação. Pág. 8
> Contracultura
> Idéias
cadê os novos baianos?
Nunca é tarde
Documentário recupera a trajetória dos Novos Baianos, grupo ícone da música brasileira nos anos 70. Pág. 15
Em nome de Deus, da liberdade e do povo foram cometidas as maiores atrocidades que o homem já viu. Pág. 5
> Direto do Oriente Médio Guerra de Nervos Com a queda de Kadafi, a Líbia viverá tempos de anarquia. Quem vai ficar para ajudar? Pág. 9
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ECONOMIA
26 de agosto a 3 de setembro de 2011
JORNALOPÇÃO
Desenvolvimento
Estado tem condições geográficas e climáticas excepcionais, mas deficiências na infraestrutura — principalmente de transporte e energia — tornam mais lento o crescimento da economia FERNANDO LEITE/JORNAL OPÇÃO
O termo tem significado próprio nos vários campos, mas, como seus dois termos separados indicam (“infra” = embaixo, sob; e “estrutura” = suporte, base), é o que sustenta algo. Como se pode verificar em enciclopédias (como a Wikipédia, na internet), na economia infraestrutura é todo aparato de condições que permite que haja a produção de bens e serviços, como ainda o seu fluxo ente vendedor e comprador, tais como as comunicações, os transportes (vias, veículos, tráfego etc.), a eletricidade e combustíveis (produção, distribuição, manutenção de rede etc.), o saneamento básico (fornecimento de água potável,
rede de esgotos etc.), entre outros. Resumindo, infraestrutura é tudo aquilo que facilita a produção e a distribuição de bens e serviços e aí há quem inclua a mão de obra necessária para essa produção. Boa infraestrutura é solução, é mola-mestra para o crescimento econômico, é o motor do desenvolvimento. E quando se fala em infraestrutura está se referindo, antes de tudo, à logística de transporte (que significa, de forma muito simples, os meios de armazenamento e transporte de matérias-primas e produtos acabados). Como se disse, para um Estado com as dimensões de Goiás, uma malha viária de apenas 22 mil km é acanhada. O governo estadual tem se mostrado preocupado com a questão. A Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) retomou as obras de pavimentação de dez trechos rodoviários que totalizam 348 quilômetros (quadro à esquerda). Máquinas e equipamentos estão nos trechos executando os serviços de terraplenagem e pavimentação. O financiamento é do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
RODOVIA GO 0-60 DUPLICAÇÃO PARA MAIOR SEGURANÇA
bil. Ao lançar o Fundo de Transportes, o governador Marconi Perillo lançou também o Programa de Reconstrução de Rodovias Estaduais, que prevê inicialmente a reconstrução de 2.081,4 quilômetros em 42 trechos rodoviários de 28 rodovias pavimentadas estaduais espalhadas pelo Estado (quadro à direita). As obras são mais estruturadas, consistindo na retirada do pavimento antigo, deteriorado, e na construção de uma nova capa asfáltica, com posterior sinalização horizontal (faixas) e vertical (placas). Com a conclusão da primeira etapa do programa, a Agetop prevê o início da segunda fase, que ocorrerá em 2012. Nesse grupo estão elencados 55 trechos em 41 rodovias estaduais, num total de 2 mil quilômetros. Somados os dois grupos iniciais, a Agetop reconstruirá em dois
dia, estar praticamente intransitável. Um usuário que esteve na região na semana passada contou ao editor que pistas de terra ao lado da rodovia oferecem melhores condições de trafegabilidade. De novo, se mostra a preocupação do governo estadual com o problema, consciente de que, com estradas ruins do que jeito que estão, Marconi Perillo pode dar adeus ao sonho de fazer o melhor governo da vida dos goianos, como prometeu em campanha. Há algumas semanas o governador lançou um programa de conservação rodoviária, o Rodovida. A ideia é implementar um novo conceito de manutenção de rodovias, realizando as atividades de conservação rotineira e periódica, de obras emergenciais, reparos e execução de pontes e bueiros, sinalização e adequação de rodovias não pavimentadas. A manutenção integrada atuará
“CONSEGUIMOS UMA REDUÇÃO NO VALOR DA OBRA, ASSEGURANDO A MESMA QUALIDADE E PRAZO DE CONCLUSÃO.” Para a conclusão dos 198 quilômetros restantes serão gastos R$ 99 milhões. O presidente da Agetop, Jayme Rincón, diz que as obras serão construídas com investimentos de cerca de 12% a menos do valor contratual, devido ao resultado de negociações com as empreiteiras. “Conseguimos uma redução no valor da obra, assegurando a mesma qualidade e prazo de conclusão.” O governo de Goiás criou o Fundo de Transportes (FT) que garantirá recursos anuais da ordem de cerca de R$ 300 milhões a serem aplicados na manutenção, conservação e melhoria das rodovias estaduais. O FT é de natureza orçamentária e dotado de autonomia administrativa, financeira e contá-
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a conservação e reconstrução de pontes de concreto e de madeira. Aeroportos
Onde está o gargalo? As riquezas goianas circulam por 22 mil quilômetros de estradas. São 3,6 mil km de rodovias federais (BRs), dos quais 3,4 mil km pavimentados e 206 km não pavimentados (há mais 600 km planejados). Já a malha sob jurisdição estadual (cujo valor estimado é de R$ 10 bilhões), com 219 estradas, não chega a 18 mil quilômetros de rodovias, sendo 9,3 mil km asfaltados e 8,6 mil km não asfaltados. Há de se considerar, também, centenas de estradas municipais e particulares. De qualquer forma, é uma malha viária modesta, tendo em vista as dimensões do Estado. Goiás tem mais de 340 mil quilômetros quadrados de área, com terras férteis, muita água, clima ameno com duas estações bem definidas (chuvosa, de outubro a abril, e seca, de maio a setembro). Somos quase 6 milhões de habitantes. O Estado de Goiás se localiza no coração do Brasil, é a 9ª economia do País e cresce acima da média nacional. O Estado tem condições geográficas excelentes, o que contribui para que empresas se instalem aqui, o que de fato tem acontecido principalmente nos últimos 15 anos. Mas é fato também que investidores não buscam uma região apenas por localização ou condições climáticas. Há uma palavrona que traduz o que se constitui o principal chamariz para as empresas: infraestrutura.
JORNALOPÇÃO
anos cerca de 42% da malha viária pavimentada do Estado, com a renovação do pavimento de rodovias importantes para o escoamento da produção agropecuária e para a movimentação de cargas responsáveis pelo abastecimento de produtos diversos. Outra preocupação com a malha estadual é que muitos trechos estão em condições sofríveis. Explica-se: no governo passado, a manutenção das rodovias foi praticamente esquecida. Com isso, as chuvas, a idade das rodovias e o uso pioraram as condições de trafegabilidade, ao ponto de uma importantíssima rodovia como a GO164 — a chamada Rodovia do Boi —, no trecho próximo a Mozarlân-
na malha pavimentada e não pavimentada. Será direcionada ainda para outros tipos de serviços rodoviários como a sinalização, na implantação, renovação e reparos de placas e sinalização horizontal — com a pintura de faixas no pavimento — e também na implantação e reparos em defensas metálicas e de concreto. Nas rodovias pavimentadas o Programa Rodovida atuará com serviços na faixa de domínio, com roçagem manual e mecânica, limpeza e pintura de elementos de drenagem, de pontes e bueiros tubulares e celulares, na reconstrução de taludes de aterro e de corte e na execução de elementos de canalização de água e de combate
a erosões. Na pista de rolamento serão executados serviços de tapa-burac selagem de trincas e recomposição de elementos de drenagem superficial e a manutenção preventiva com selagem asfáltica (aplicação de lama asfáltica e microrrevestimento) e ainda na reconstrução de taludes e de corte. A conservação nas rodovias não pavimentadas executará os serviços de reconformação de plataforma, abertura e limpeza de valetas laterais e limpeza de bueiros, eliminação de pontos críticos, suavização de taludes e aterros de pequena altura e de execução de valetas. Está prevista também a conservação e reconstrução de pontes de concreto e de madeira. Nas rodovias pavimentadas o Programa Rodovida atuará com serviços na faixa de domínio, com roçagem manual e mecânica, limpeza e pintura de elementos de drenagem, de pontes e bueiros tubulares e celulares, na reconstrução de taludes de aterro e de corte e na execução de elementos de canalização de água e de combate a erosões. Na pista de rolamento serão executados serviços de tapa-buracos, remendos profundos, selagem de trincas e recomposição de elementos de drenagem superficial e a manutenção preventiva com selagem asfáltica (aplicação de lama asfáltica e microrrevestimento) e ainda na reconstrução de taludes e de corte. A conservação nas rodovias não pavimentadas executará os serviços de reconformação de plataforma, abertura e limpeza de valetas laterais e limpeza de bueiros, eliminação de pontos críticos, suavização de taludes e aterros de pequena altura e de execução de valetas. Está prevista também
Outro modal de grante e importante relevância para o crescimento do Estado é o aeroviário. Cinquenta e dois municípios goianos têm aeroportos ou pistas de pouso. Há 20 pistas não homologadas, ou seja, sem autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar, mas que funcionam de forma clandestina. A maioria só opera sob a luz do dia. Como no caso das rodovias, o governo anterior abandonou os aeroportos. Sabe-se que o governo Marconi Perillo está retomando os trabalhos de balizamento, reforma e construção de pistas de pouso. Energia é problema, mas já se vê luz no túnel Goiás vem atraindo empresas nos últimos anos, graças a uma agressiva política de incentivos fiscais a partir da década de 1980, primeiramente com o Programa Fomentar e depois com o Produzir. Com isso, a economia goiana vem dando saltos de crescimento, quase sempre acima da média nacional. Mas é evidente que há problemas na logística de transporte, configurado numa malha acanhada e com conservação deficiente nos últimos anos. Outro problema sério é a oferta de energia. A Celg está enredada há anos em problemas financeiros e teve sua capacidade de investimentos drasticamente reduzida. Com isso, a expansão da rede elétrica tem sido muito tímida nos últimos, aquém mesmo do que seria necessário para fazer frente ao crescimento econômico previsto nos próximos anos. Certamente, se a oferta de energia fosse estável, mais empresas poderiam vir para Goiás. Felizmente — e que o leitor perdoe o trocadilho —, já se vê uma luz no túnel da Celg. A partir de 2015 a empresa deve começar a operar no azul. A previsão é do presidente da empresa, José Eliton de Figuerêdo Júnior, otimista com a finalização, ainda neste ano, da primeira etapa do plano de reestruturação da Celg, que trata da parte interna juntamente com o acordo final do ponto de vista econômico-financeiro. Há dez dias, José Eliton divulgou balanço da empresa referente ao primeiro semestre deste ano, apontando aumento na arrecadação, diminuição da inadimplência, eliminação do risco de apagão em Goiás e a retomada do programa Luz Para Todos. Segundo ele, projeções econômicas mostram a gradativa reestruturação da empresa. “A partir de 2015 ela começa a operar no azul. Em curto espaço de tempo, de cinco a dez anos, a empresa se tornará novamente
uma das mais importantes do setor elétrico nacional. Não existe mágica para a salvação da empresa, é um processo continuado.” O principal desafio do governo em relação à Celg é a conclusão do processo de reestruturação. O plano apresentado no início do ano pela direção da empresa ao governador envolve três módulos: o planejamento do ponto de vista do equilíbrio econômico-financeiro; o plano de investimentos que compreende o período de 2011 a 2020; e o planejamento estratégico da empresa que compreende o período de 2011 a 2015. Eliton disse que o planejamento será seguido à risca, lembrando que as ações internas de ajuste da Celg estão sendo feitas desde o início do ano. “Retomamos o diálogo com a Eletrobrás, com o governo federal e estamos em conversa com outras empresas do setor elétrico seja de controle público ou privado, no objetivo de alienar até 49% das ações da empresa de modo a capitalizá-la para que ela consiga exercer sua atividade fim. São ações que estão sendo feitas, mas que só podem ser enxergadas no sentido de garantir a reestruturação da empresa no conjunto”, disse o presidente. José Eliton não doura a pílula em relação aos problemas que a empresa pode representar ao desenvolvimento de Goiás, quando falou que só o aporte financeiro não resolverá as dificuldades da empresa. “Temos de ter uma mudança nos padrões de gestão e governança, ter um objetivo claro, fazer com que a empresa tenha sua atividade voltada para o seu desiderato, que é fornecer energia com eficiência atendendo a demanda existente e a demanda crescente no Estado para, inclusive, propiciar o desenvolvimento de Goiás.” Ele lembrou que a oferta de energia pela Celg é o que pode limitar ou estimular o crescimento do Estado. “As empresas, indústrias ou fábricas não têm condições de se instalar se não tiverem energia disponível para tocar seus equipamentos e suas máquinas.” Em que pese os problemas, a Celg é uma empresa absolutamente viável e ao longo de sua história tem contribuído decisivamente para o desenvolvimento de Goiás. A companhia tem hoje 57.552 km de rede urbana, 139.335 km de rede rural, 191 km de rede subterrânea, e 5.462 de km de linhas de transmissão, totalizando 202.540 km de rede em todo o Estado. São mais de 203 mil transformadores instalados e 332 subestações (138 kV e 34,5/13,8kV). A empresa tem custo médio de R$ 174 milhões por ano para ma-
nutenção de seu sistema. A Celg atende 237 municípios goianos, em 2,3 milhões de unidades consumidoras. A taxa de atendimento urbano chega a 97,94% e atendimento rural de 94,38%, ou seja, quase a totalidade da população goiana. É bom lembrara que o cliente pode comprar energia de outras fornecedoras, o que ocorre principalmente com empresas, que às vezes, inclusive, geram sua própria energia. Na parte técnica, a principal dificuldade que a Celg enfrenta são problemas de carregamento nas instalações que alimentam a malha (subestações Xavantes, Anhanguera, Morrinhos e Palmeiras). Mesmo com as dificuldades de ordem financeira, a empresa já aprovou seu Programa de Investimento no Sistema para os próximos anos, prevendo investimentos na média de R$ 220 milhões por ano. Outro setor estratégico para o desenvolvimento do Estado é o de saneamento básico. A Saneamento de Goiás S/A (Saneago) tam-
ECONOMIA bém tem problemas financeiros, o que limita sua capacidade de investimento, mas é reconhecidamente uma das melhores empresas do País no setor. Ela atua em todo o território goiano, responsável pelo saneamento da capital e em mais 224 dos 246 municípios goianos, além de 92 localidades (distritos). É uma empresa pública do governo do Estado de Goiás. A Saneago tem 21,7 mil km de redes de água e 6,9 mil km de redes de esgoto.
3 falta d’água no período de estiagem. Em março foi iniciado trabalho de ampliação de redes, perfuração de poços etc., que eliminou o problema em 12 pontos. Até dezembro, a direção da empresa espera ter solucionado a escassez em 15 outros pontos.
A empresa atende com água a 4,71 milhões de pessoas no Estado, sendo 1,31 milhão em Goiânia. O atendimento em esgoto chega a 2,1 milhões de pessoas no Estado — 1 milhão na capital. A Saneago gasta R$ 48,9 milhões/ano em manutenção de suas redes. Existem em Goiás 182 estações de tratamento de água (ETAs) e 68 estações de tratamento de esgoto (ETEs).
Os pontos restantes serão eliminados daí em diante. O planejamento indica que quando vier o próximo período de seca não haverá mais nenhum ponto com falta d’água no Estado. O plano de obras tem como foco a universalização dos serviços de água tratada no Estado. As principais obras são o Sistema Produtor do João Leite e o Sistema Corumbá, no Entorno do DF e em parceria com a Caesb. Para o futuro — de 2013 a 2015 —, estão previstos investimentos superiores a R$ 3 bilhões para aplicação em todos os municípios, de acordo com os serviços necessários.
No aspecto técnico, a maior deficiência da Saneago, conforme levantamento iniciado em janeiro deste ano, é a de que há 52 pontos (várias cidades, algumas com dois ou mais pontos) em que há
As fontes de financiamento são recursos próprios, Tesouro do Estado, Orçamento Federal da União, BNDES, Caixa Econômica Federal/FGTS, PAC-1 e PAC-2. (Cezar Santos)
Diagnóstico e soluções. Quem tem um mínimo de informações básicas sobre o tema não titubeia: logística de transporte abaixo do ideal — aí compreendendo estradas ruins, poucas ferrovias, deficiência no fornecimento de energia. Se não fossem as deficiências da nossa infraestrutura, Goiás poderia estar ainda melhor na fita, por exemplo, tal-
vez em 7º ou 6º lugar no ranking da economia nacional. E não se trata, como se poderia objetar, de simples questão de vaidade. Estar mais perto do 1º lugar tem signi ficados importantes como população com renda maior, mais consumo de bens e serviços, mais escolas, escolaridade mais alta, mais saúde, mais água tratada,
MUITO TRÁFEGO EM RODOVIAS DESGASTADAS
etc.. Então, não fosse a tal da infraestrutura deficiente, Goiás seria mais rico, com todas as boas consequências que isso implica. Em seguida, quatro economistas que se debruçam sobre a questão da infraestrutura goiana. Eles discorrem sobre o tema, abordando tópicos variados, reafirmando o diagnóstico e sugerindo soluções.
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CONEXÃO
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Médicos de Goiânia
Nunca é tarde para praticar utopias
Trabalhadores tem direito de paralisar o trabalho coletivamente para forçar a negociação, mas e quando está se negociando? cos estão completamente equivocados ao desencadear o movimento. Eles realmente recebem pouco pelo muito que representam e, na maioria das vezes, trabalham sob pressão desumana, em locais inadequados e superados pela demanda. A profissão tem um certo glamour. Sempre teve. Mas no serviço público esses profissionais estão mais para operários do que para membros da elite trabalhadora. A rede de saúde pública no Brasil é um caos diário. Dia e noite, sem parar nem nos feriados e madrugadas. Há doentes demais para instalações de menos. E profissionais de menos para doenças demais. O resultado disso é o conflito entre pacientes e médicos e demais servidores do setor. Os pacientes chegam doentes aos postos de atendimento, sejam eles hospitais ou simples postos de saúde, e muita vezes ficam em filas demoradas sem direito a alguma atenção. Não costumam receber nem uma cibalena pra aliviar suas dores. Quando, finalmente, são atendidos, são recebidos por médicos cansados e apressados. De quem é a culpa por essa situação? Certamente, não é nem do paciente e nem do médico. O que se tem no Brasil é o acesso universal e gratuito de atendimento na rede de saúde. Não há nada parecido com isso no mundo todo. Antes, havia uma clara separação entre aqueles que pagavam o plano de saúde oficial, o antigo INPS, e aqueles que dependiam da rede completamente gratuita. Hoje, com o SUS, todo mundo tem tratamento igual. É uma ousadia brasileira esse tipo de atenção com todos os seus cidadãos. Nos Estados Unidos, a
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Idéias
A greve inoportuna Durante duas décadas, entre os anos 1960 e 1980, o Brasil viveu sob um regime que tratava as greves dos trabalhadores como um ato de contestação e não como um justo argumento de negociação entre patrões e empregados. Período ruim da história do País. Depois, com a reabertura democrática do regime, pulou-se de um extremo ao outro, e, aí sim, surgiram as greves políticas sob o argumento de negociação. Também é uma coisa muito ruim. A luta permanente entre patrões e empregados é inerente ao sistema capitalista. Quem paga sempre vai querer pagar menos. Seja salário ou na compra de um produto qualquer. Quem recebe fica do outro lado dessa trincheira e é natural que queira receber mais. É aqui, nesse conflito de interesses, que entra a greve como opção de força de quem recebe. Pelo menos, deveria ser assim. No Brasil, infelizmente, não é. Os movimentos e organizações dos trabalhadores muitas vezes se veem sob influência direta da política e de alguns políticos. Daí para transformar a greve num movimento de natureza política é um passo curto.Isso não significa que todas as greves são essencialmente políticas. Longe disso. É até possível identificar as que trazem as nuances políticas das greves meramente reivindicatórias. A grande questão é que, fora os movimentos paredistas declaradamente políticos, todos os demais utilizam bandeiras de reivindicação como fundo de justificativa. Portanto, não se pode dizer que a greve dos médicos de Goiânia seja somente política, sem interesses reivindicatórios. Nem se pode dizer que os médi-
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É fina a linha que separa o utópico do possível FILAS QUILOMÉTRICAS E COMO SEMPRE, O POVO É QUEM SOFRE
maior potência econômica do planeta, o presidente Barack Obama luta para implantar um sistema parecido, embora pago. Lá, quem não tem seguro saúde fica praticamente condenado a morrer sem assistência médica. Por aqui, muitas vezes isso também acontece, mas invariavelmente ocorre dentro de unidades de atendimento gratuito e inadequadas pela enorme demanda. E quando alguém morre numa fila antes de ser atendido, são os médicos que levam a culpa. Na semana passada, em Goiânia, uma cena do noticiário da TV chocou. Uma senhora estava desde as primeiras horas da manhã esperando atendimento. O marido, ao lado, sem poder ajudar, apenas tentava lhe dar apoio e carinho. Ela passou parte do dia deitada em um banco, quase sem se mexer. A cena chocou por ser individualizada dentro da tela da TV. Mas quem trabalha nos postos de atendimento de saúde pública sabe que ela é parte de uma infeliz rotina. Isso acontece toda hora, o dia inteiro. É óbvio que são poucos médicos para tantos pacientes. O problema na semana passada, porém, não foi por falta de médico, mas por uma greve da categoria. Greve justa? Ninguém em sã consciência diria que não é um movimento justo. Por tudo aquilo
que se falou aqui até agora, e que constrói ainda que superficialmente a realidade do trabalho dos médicos na rede pública, não há o que discutir nesse aspecto: esses profissionais trabalham muito, sob enorme pressão e não recebem salários equivalentes ao serviço prestado. Aliás, esse argumento que aí está nem é original. Trata-se de um reconhecimento público feito por ninguém menos que o próprio secretário de Saúde da Prefeitura, Elias Rassi Neto. A questão vai além das intenções reivindicatórias. O problema da greve dos médicos da rede municipal está diretamente relacionado com a sua intempestividade, por ser inoportuna enquanto movimento da categoria. Por quê? Simplesmente porque a Prefeitura, através de seu secretário de Saúde, jamais abandonou a mesa de negociações com os representantes dos médicos. Preto no branco, tudo estava sendo negociado até que se apelou para o movimento paredista.A greve é a última arma para se usar num caso desses, e geralmente é usada como instrumento de força pela negociação e não durante uma negociação. Há uma claríssima divisão entre essas situações. Uma coisa é cruzar os braços para que a outra parte aceite discutir termos para um acordo. Outra coisa bem diferente é parar
de trabalhar em pleno processo de busca de entendimento. Aí poderia até se inserir questões que vão além do conjunto de reivindicações da categoria, caindo fatalmente no bojo da política. De todos lados que se possa ver, a greve dos médicos foi muito ruim. Principalmente se a visão atingir o maior interessado em todo esse processo, que é a população que precisa do serviço médico gratuito. Foi exatamente essa gente, a mais carente de recursos financeiros, quem mais sofreu. Que sofreu ainda mais do que já sofre, diga-se. E o que os médicos têm a ganhar com isso? Pouco ou quase nada. E o que é pior: sem a greve, eles iriam obter exatamente o mesmo que irão ganhar na negociação atual. Portanto, é difícil entender as motivações que levaram o comando dos médicos a partir para essa greve. Mas é muito simples sentir que o maior prejudicado não foi o prefeito, o secretário da Saúde ou a Prefeitura. Quem mais uma vez foi a bucha de um canhão aparentemente político foi o povo pobre. O movimento é insustentável, e fica como um exemplo a ser evitado no futuro. Reivindicar, sim. Sempre. Parar, só quando não restar mais nenhum argumento. Fora isso, que a política seja disputada apenas nas urnas.
Em nome de Deus, da liberdade e do povo foram cometidas as maiores atrocidades que o homem já viu. No século 20, já não em nome de Deus, mas em nome do povo (seja este o povo superior ou o inferior) como provam os regimes nazista, stalinista e maoísta. Não posso deixar de lembrar a alegria que senti ao ver a queda dos governos fantoches da antiga Europa socialista e a debacle da União Soviética. Mas não deixou de me surpreender o luxo em que viviam os “servidores” do povo, os ditadores marionetes desses países. Lembro-me de ter visto, estupefato, imagens do interior do palácio de Nicolae Ceausescu, o genocida ditador que governou a Romênia de 1965 até sua execução em 1989. Em nome do povo, também, se instaurou uma dinastia comunista na Coreia do Norte em cujo exemplo se inspirou o tirano Ceausescu. O fato é que, nos países em que se governa em nome dos pobres, o povo vive mal e seus servidores, muito bem. O que aconteceu desde o início deste ano — na Tunísia, no Egito, no Iêmen e agora na Líbia — não pode deixar de ter o apoio de todos aqueles que querem um mundo mais justo, menos indigno. Por coincidência, tenho relido nestas últimas semanas “O Príncipe”, de Maquiavel, e “Utopia”, de Tomás More. Das duas leituras, “Utopia” me fez refletir no que está acontecendo atualmente em alguns países árabes. É a questão do poder e da riqueza concentrada em poucas mãos — ou mesmo nas mãos dos “servidores do povo”, especialmente o tirano, seus familiares e sequazes. Quando comecei a ler autores e obras anteriores às do socialismo moderno, fiquei surpreso ao constatar como eram antigas as advertências sobre os perigos da concentração de riqueza em uns e a existência de uma massa muito
grande de miseráveis. Platão e Aristóteles, de formas distintas e até opostas, fazem essa advertência. Maquiavel, na Renascença, insiste também na necessidade de um príncipe estimular a prosperidade dos súditos. E More não deixa de ver o perigo de o soberano governar em seu proveito e esquecer a felicidade do povo. Pois a pobreza extrema, como já sabia Aristóteles, estimula as revoluções e pode levar ao fim das cidades. Diz More: “Quanto a crer [o príncipe, o rei] que a miséria do povo seja uma garantia de segurança e de paz, a experiência prova suficientemente que esse é o maior dos erros. [...] Quem é o mais apressado em subverter o estado de coisas existente, senão o que está descontente com sua sorte? Quem se lança mais temerariamente no caminho da revolução senão o que nada tem a perder e espera ganhar com a mudança?” (“Utopia”, L & PM, 1997, p. 54) Durante minha vida, tive a oportunidade de ver mudanças drásticas que muitos, e eu mesmo, considerávamos impensáveis. Vi governos aparecerem e desaparecerem, vi ditaduras se consolidarem e serem derrocadas. Observei governos uma vez revolucionários se transformarem em ditaduras de família, como a dos Castro. Mas os tiranos têm tendência a se aferrar ao poder. A queda dos Ceausescu, dos Saddam Hussein, dos Mubarak, dos Kadafi, me levam rapidamente ao que disseram os Platão, os Aristóteles, os Maquiavel e os More sobre acúmulo de riqueza e poder, ambição, miséria, revolução. Lembram-me que o que um dia se concebe como impossível, inatingível, irrealizável, não está tão longe assim do possível, do efetivo e do praticável. Lembram-me que não podemos viver sem sonhos, sem utopias. Mostram que é tênue a linha que separa o impossível do real.
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CONEXÃO
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POLÍTICA
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Polítca do Brasil
Tucanos querem o impeachment de Agnelo A proposta do ex-deputado distrital Raimundo Ribeiro (PSDB) de pedir o impeachment do governador Agnelo Queiroz (PT) ganhou corpo dentro e fora da legenda. O presidente do PSDB, Márcio Machado, já encaminhou ao departamento jurídico do partido uma consulta sobre a possibilidade de se pedir o impedimento do governador com base na ação de improbidade administrativa proposta pelo Ministério Público Federal (MPF). O governador é acusado de suposto superfaturamento no contrato de aluguel de imóveis para a Vila dos Jogos Panamericanos de 2007. “Dependendo do parecer jurídico, vamos analisar o caso politicamente”, afirma o tucano, que, caso decida pelo impeachment do governador, pretende encaminhar o pedido também ao Ministério Público do DF. Um eventual pedido de impeachment contra Agnelo Queiroz passa, obrigatoriamente, pela Câmara Legislativa, que conta com apenas cinco deputados de oposição. Mas mesmo que não seja aprovado – o que é mais provável — o pedido tende a desgastar ainda mais o go-
verno petista. De acordo com pesquisa realizada pelo instituto O&P Brasil e divulgada semana passada, a gestão de Agnelo Queiroz é considerada ótima e boa por apenas 17,2% dos entrevistados, enquanto 45,2% a avaliam como ruim e péssima. Na última pesquisa do instituto, há três meses, o governo era aprovado por 31,5% e desaprovado por 36,5%. A piora nos índices de aprovação reflete a paralisia do governo. Para 63,8% dos entrevistados, os resultados do governo estão atrasados ou muito atrasados e, de acordo com a pesquisa realizada entre os dias 13 e 17 de agosto, 58,6% dos entrevistados acham que Agnelo não está cumprindo as promessas de campanha. Até então o Palácio do Buriti vinha desqualificando as críticas feitas ao governo, argumentando que eram manobra política da imprensa oposicionista. Agora, são os moradores do DF que avaliam negativamente a gestão do petista e não dá para ignorar a voz do povo. Ou Agnelo age ou o pedido de impeachment do PSDB corre o risco de ganhar a adesão da população. É o fantasma dos caras pintadas assombrando o petista.
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JORNALOPÇÃO
vavelmente terá candidato, como é o caso de Formosa. O ação passada, espera a recíproca do governador. Mas isso não será problema, afirma Vilmar Rocha. “Vamos tentar fazer acordo e, se não for possível, o PSDB terá seu candidato e o PSD o seu”, pacifica. Vilmar acredita que o governador Marconi Perillo vai ser mais cauteloso nas intervenções municipais em 2012. “Vou conversar com Marconi e propor que, onde houver dois candidatos fortes da base, que ele fique
todas as linhas que ligam Brasília a as cidades do Entorno são operadas pela empresa Viação Anapolina (Vian), sem qualquer concorrência, o que levou o Ministério Público Federal do DF a ajuizar uma ação civil pública contra a União, a ANTT e Vian. O MPF acusa a empresa de superlotação de passageiros, má conservação de veículos, ausência de tabela de horários, falta de cintos de segurança, assentos de bancos soltos, extintores de
POLÍTICA
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Liliane Roriz vai para o PSD para fortalecer grupo político do pai É fina a linha que separa o utópico do possível de fora da campanha”, antecipa o secretário. Ele afirma que o foco do PSD, no momento, é a identificação de candidaturas fortes nos municípios estratégicos e a preparação das filiações, que só podem ser oficializadas após o registro da legenda no TSE.
Solução para o transporte público Os prefeitos do Entorno querem uma reunião com os governadores de Goiás, Mar coni Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), para discutir a concessão do sistema de transporte público da região a uma das duas unidades federativas com a concordância da outra, o que deve ser feito por intermédio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Há várias décadas
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Brasília & Entorno do DF
PSD nasce com quatro candidatos O PSD nasce com quatro candidatos a prefeito no Entorno, afirma o coordenador da legenda em Goiás e secretário da Casa Civil, Vilmar Rocha. O partido vai lançar as candidaturas dos deputados Cristovão Tormin, em Luziânia, e, Itamar Barreto, em Formosa, e tentar reeleger os prefeitos Luiz Carlos Attié, em Cristalina, e Alex Batista, em Cidade Ocidental. “Desejamos lançar candidaturas que sejam política e eleitoralmente viáveis onde for possível”, afirma Rocha. Em muitos municípios o PSDB pro-
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incêndio vencidos e pneus lisos. Situação que já levou a população da região a promover diversos protestos, mas que até agora não foi resolvida. Além de tratar do problema crônico do transporte, os prefeitos querem que os dois governadores apresentem projetos conjuntos para as áreas de saúde e segurança, duas áreas consideradas caóticas e que não podem ser vistas de forma unilateral.
Quem está de malas prontas para o PSD é a deputada distrital Liliane Roriz (PRTB). Ela não admite; disse que foi sondada pela senadora Kátia Abreu – que trocou o DEM pelo PSD — e que está considerando seriamente a possibilidade de mudar de partido, apesar de ainda não ter tido nenhuma conversa formal com o coordenador do PSD no DF, o ex-governador Rogério Rosso.Liliane Roriz é unha e carne com a mulher de Rogério, Karine Rosso, e a ida dela para o PSD faz parte de uma estratégia de fortalecimento do grupo de Joaquim Roriz (PSC) no DF, que corre o risco de acabar ou ser forçado a aderir ao governo de Agnelo Queiroz.
O PSC, que hoje abriga o ex-governador, “é uma quimera”, avalia um político. A legenda nanica não permite o fortalecimento do grupo políticode Roriz, que inclui Rogério Rosso, coordenador do PSD no DF. Rosso esteve em campo oposto ao do vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB) na eleição passada. O PSD, com a filiação das deputadas Eliana Pedrosa e Liliana Roriz, se torna a terceira força política do Distrito Federal, atrás apenas do PT e do PMDB, e a principal bancada de oposição a Agnelo Queiroz na Câmara. Por outro lado, como o PSD vai compor com o governo de Dilma Rousseff (PT), a presença de Liliane Roriz
deputada distrital Liliane Roriz (PRTB)
no partido neutraliza as críticas dos petistas a Joaquim Roriz, que, se a saúde deixar, pode ser candidato em 2014 no DF ou indicar alguém do seu grupo. O ex-governador está atirando para todos os lados para sobreviver politicamente depois de ter renunciado, em 2007, ao mandato de senador para escapar de um
PSDB vai criar o fórum do Entorno Os 19 municípios do Entorno não vão ser tratados isoladamente pelo PSDB na eleição de 2012. Assim como ocorreu na região metropolitana da capital, o partido vai criar um fórum para discutir os problemas dos municípios — que são semelhantes — e buscar soluções integradas. “O Fór um do PSDB do
Entorno vai orientar as decisões sobre candidaturas, pensamentos e ações na região”, informa o presidente da legenda, Paulo da Silva de Jesus. O fórum não foi instalado ainda porque não foi possível conciliar as agendas do prefeito Célio Silveira e da deputada Sônia Chaves, expoentes tucanos do Entorno.
Paulo da Silva de Jesus. ”Um espaco para buscar soluções integradas para a região”.
processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética e, no ano passado, à candidatura a governador para escapar da Lei da Ficha Limpa. A maior parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) defende que a Lei da Ficha Limpa seja julgada antes das eleições municipais. Atinge Roriz o artigo que define a inele-
gibilidade para casos de renúncia e a retroatividade da norma. Quatro ministros do Supremo consideram que Roriz está inelegível e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também entende que Roriz continua enquadrado na Lei da Ficha Limpa e que, se as eleições fossem hoje, a regra valeria em sua integridade.
Copa pode beneficiar Entorno Os deputados Valcenôr Braz (PTB), Hildo do Candango (PTB) e Sônia Chaves (PSDB) querem que os projetos de qualificação de mão de obra que vão ser implantados nas cidades que irão sediar a Copa do Mundo de 2014 sejam estendidos à região do Entorno. “Maioria dos moradores do Entorno trabalha em Brasília”, justifica Valcenôr Braz. Cerca de 500 mil dos 800 mil moradores do Entorno que vivem em Brasília e seriam essas pessoas que teriam acesso aos cursos de línguas, artesanato, gastronomia, guias turísticos e treinamentos em hotéis que serão patrocinados pelo governo federal.Passada a Copa, ficaria o benefício: milhares de pessoas melhor qualificadas para o trabalho.
Agnelo Queiroz (PT)
PTB não reconhece candidatura de Joaquim Roriz O PSDB de Luziânia tem autonomia para decidir sobre uma eventual filiação de Joaquim Roriz (PSC), afirma o presidente regional da legenda, Paulo Silva de Jesus, o Paulinho. “O diretório municipal vê com bons olhos a filiação de Roriz, que sempre fez muito por Luziânia no passado, mas ele precisa resolver sua situação em relação ao Ficha Limpa.” O PSDB defende a aplicação da regra nas próximas eleições municipais e Joaquim Roriz questiona se a regra pode ou não retroagir. O PSDB do Distrito Federal, que é contra a filiação de Roriz ao partido, também não pode
interferir no processo, que é local, explica Paulinho de Jesus. Mas ele mesmo não acredita em uma candidatura de Roriz em Lu ziânia. “Não vai ser fácil para ele devido aos problemas de saúde.” O PSDB não é o único partido na mira de Roriz, que pode migrar para o PMDB, que é aliado do PSDB em Luziânia, ir para o PTB ou ainda permanecer no PSC. No PTB Roriz não é muito bem-vindo. O deputado Valcenôr Braz (PTB) diz desconhecer qualquer outra candidatura para prefeito de Luziânia que não seja a do vice Eliseu Melo (PMDB), que
deve se filiar ao PSDB. “Já confirmamos a candidatura de Eliseu e qualquer outra candidatura avulsa não tem nosso apoio”, afirma o deputado do PTB. Ele argumenta que o apoio à candidatura de Eliseu Melo foi acordado ainda na campanha de 2008,ou seja, é anterior à candidatura de Roriz e do deputado Cristovão Tormin, que já trocou o PTB pelo PSD para sair candidato a prefeito na cidade. Uma eventual candidatura de Roriz pode, ao invés de unira coligação do prefeito Célio Silveira (PSDB), criar desavença no grupo e aumentar as chances da oposição em Luziânia.
Valcenor Braz,Deputado Ja confirmarao a canditatura de Eliseu Melo.
PT quer que Didi Viana seja candidato O PT trabalha para aumentar sua expressão no Entorno, mas esbarra nas legendas com maior tradição na região, como PMDB e PSDB. O partido já decidiu que vai lançar candidatura própria em apenas uma cidade: Valparaíso. A professora Lucimar Conceição do Nascimento vai enfrentar a prefeita Lêda Borges (PSDB) em uma disputa que promete ser bastante equilibrada. Em Novo Gama, o PT vai decidir entre três pré-candidatos dos seis partidos que devem caminhar juntos: PT, PMDB, PP, PC do B, PDT e PSC. Alberto dos Santos
Barros, o Arapiraca, é o nome do PT e a disputa deve se dar com a deputada Sônia Chaves (PSDB), que deve retornar a Novo Gama para participar da eleição municipal. A administração do prefeito José de Assis, o Doca, não é bem avaliada. Em Luziânia, o PT se aliou ao PMDB e PTB e a pré-candidata petista é a vereadora Cassiana Tormin, mas quem tem maior chance de representar o grupo é o deputado Cristovão Tormin (PTB). O PT quer que Didi Viana enfrente Joaquim Roriz, caso o ex-governador seja candidato em
Luziânia. Em Águas Lindas, o PT se esforça para indicar o vice na chapa do deputado Hildo do Candango, que está trocando o PTB pelo PSD. O empresário Elis Reis de Freitas acaba de se filiar ao PT de Planaltina e tem a pretensão de sair candidato pela legenda. Em Cidade Ocidental, o PT vai apoiar a reeleição de Alex Batista, que também está indo para o PSD e, em Formosa, a sigla apoia a reeleição de Pedro Ivo (PP). Em Santo Antônio do Descoberto, o PT está com o prefeito David Leite (PR) e, em Cristalina, não tem candidato.
Didi Viana
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REPORTAGENS
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Reportagens
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MUNDO
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Direto do Oriente Médio
Haja fôlego
Guerra de nervos
Com a queda de Kadafi, a Líbia viverá tempos de anarquia. Quem vai ficar para ajudar?
Governador mantém agenda intensa em sua primeira viagem no atual mandato
HERBERT MORAES
AFONSO LOPES
Encontro com o embaixador do Brasil em Londres, reuniões com empresários na Rússia e na Inglaterra, até teleconferência em Dublin. Essa tem sido a rotina do governador Marconi Perillo em sua primeira viagem internacional após seu retorno ao comando do Palácio das Esmeraldas. Mas qual será o saldo dessa peregrinação? Inicialmente, sabe-se que surgirá em Quirinópolis a maior usina de etanol do planeta. Daí em diante é mais ou menos como faz um produtor rural, que prepara a terra, joga a semente e cuida da plantação até a hora da colheita. Ou seja, os resultados de ações dessa natureza não surgem imediatamente, mas ao longo do tempo. É o caso de parcerias que poderão ser confirmadas no futuro. Duas delas são extremamente interessantes para o Estado: a dos presídios e a que pretende implantar o sistema de VLT, veículo leve sobre trilhos, na Avenida Anhanguera. Há alguma chance de essas ações irem em frente? Há, sim, mas não é coisa de varinha de condão com fada madrinha. Empresários só metem a mão no bolso depois de avaliarem os mínimos detalhes, e isso não é feito durante uma viagem. O que Marconi tem demonstrado aos empresários europeus é que existe um Estado no Brasil que está aberto para
receber investimentos, e que tem um governo com esse tipo de vocação. O embaixador do Brasil em Londres se impressionou com a disposição do governador goiano. Roberto Jaguaribe, em entrevista a jornalistas que acompanham a comitiva do governador, disse que gostou da animação de Marconi quando ele falou sobre as potencialidades de Goiás. E teria prometido que o Estado vai participar de uma feira sobre etanol. Ou seja, abriu-se uma clareira para negócios futuros.
Viagens Os dois mandatos anteriores do governador Marconi Perillo foram pontuados por viagens à Europa, América, Ásia e África. Nesse período, Goiás viu suas vendas a países estrangeiros crescer dez vezes. Ao mesmo tempo, e apenas para ficar em um exemplo, um dos maiores grupos fabricantes de automóvel do mundo, o coreano Hyundai, instalou sua primeira fábrica no Brasil na cidade de Anápolis. Coincidência? Obviamente, não. O mundo globalizado até pode gerar a sensação de visibilidade, mas o que ocorre é exatamente o contrário. Como existem milhões de opções, é necessário realizar alguma coi-
Quem está ajudando a derrubar Muammar Kadafi tem o dever de ajudar a reorganizar e recuperar o país. O dado curioso é que os Estados Unidos têm agido com discrição
Governador Marconi Perillo com autoridade estrangeira na Europa: viagem produtiva
sa a mais para ser lembrado. Mais ou menos como ocorre dentro do vastíssimo território da internet. Teoricamente, basta colocar alguma página no ar para que ela possa ser vista por milhões de usuários no mundo todo. Na prática, a coisa simplesmente não funciona dessa forma, e é imensa a possibilidade de o autor de um blog ou coisa do gênero ser visto por meia dúzia de amigos próximos. O mundo o ignora por nem saber que ele existe e por ter à mão zilhões de outros blogs. No campo dos negócios mundiais há um pouco disso também. Uma visita de um governador à sede de uma multinacional que tenha interesse de investimento é muito mais importante do que espalhar panfletos mundo afora. Ficar dentro de palácios esperando que novos empreendimentos batam às portas do Estado é confiar em milagres. E não há milagre na economia. Por outro lado, ao conhecer
algumas soluções adotadas por outros países é sempre uma experiência importante. O VLT instalado em Dublin, por exemplo, pode ser visto na internet. Há sites que mostram fotos do sistema. Mas uma coisa é ver a foto. Outra, muito diferente, é conversar com aqueles que montaram e que operam as linhas. Mais do que isso, pode ser fundamental numa conversa dessas mostrar que em Goiânia existe um ramal, provavelmente o mais importante do centro-oeste brasileiro, o eixo Anhanguera, praticamente pronto para receber trilhos e trens. E que há disposição do governo local de ter um transporte como esse. Sem a viagem e a visita, como é que um empresário europeu descobriria o eixo Anhanguera como possibilidade de investimento? Provavelmente, nunca. O mesmo ocorre com a penitenciária que poderá ser construída em Aparecida de Goiânia. Para Goiás, que não tem um úni-
co presídio com gestão privada, é uma baita novidade. Modernidade? Sem dúvida nenhuma. Esse sistema existe há anos em vários países e se destacou pela eficiência e custos relativamente mais baixos do que o modelo estatal. Em relação ao Estado de Goiás, será um salto de qualidade. O que o governador Marconi Perillo tem procurado fazer em Londres ou em Moscou é vender uma boa imagem de Goiás lá fora. Não que isso possa mudar a realidade por aqui de um ano para o outro. É um trabalho de prazo mais longo, com alguns resultados imediatos e com inúmeras possibilidades no futuro. É bom que seja assim. Significa que há esperança de que Goiás continue crescendo acima da média nacional, e talvez consiga, um dia, permitir que os empregos sejam quase todos eles gerados na iniciativa privada, aliviando o peso que o Estado ainda tem.
A Líbia ainda deve mergulhar num período de anarquia tribal e guerra civil, como ocorreu no Iraque e no Afeganistão. Mas no domingo, 21, com a entrada dos rebeldes em Trípoli, todos os que estiveram envolvidos na revolução, especialmente os líderes europeus — como o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, sentiram certa satisfação com o resultado de mais de cinco meses, desde que começaram a ajudar os rebeldes. Ainda no começo da insurreição, a Otan (Aliança Militar do Atlântico Norte) foi criticada; muitos duvidavam que Muammar Kadafi seria derrubado somente com os ataque aéreos. Alegavam que muitos civis estavam morrendo vítimas de fogo “amigo” e que
era um desperdício de equipamentos militares. Há dois meses parecia que a Europa tinha perdido a paciência. Os rebeldes combatiam sem muita perspectiva e a comunidade internacional pensou em encerrar a missão. Mas, na contramão e na insistência, a Otan continuou silenciosamente realizando o “trabalho” sobre o céu de Kadafi. A relação com os rebeldes tornou-se tática. A oposição recebeu armas, equipamentos, treinamento e conselhos. Em cada unidade havia um ou mais agentes que falavam inglês e árabe. Eram eles que avisavam quando e onde um ataque aéreo iria ocorrer, a fim de evitar mor-
tes entre os civis e os próprios rebeldes. E eram eles também os encarregados na identificação de alvos inimigos. As informações eram repassadas para os caças, que podiam precisamente atingir o alvo com mísseis teleguiados. Só mês de agosto, os aviões da Otan sobrevoaram a Líbia 20 mil vezes. Foram conduzidos 7,5 mil ataques aéreos, que quebraram a resistência do regime. Velocidade era a palavra-chave. Mas a questão agora é: quem vai ficar na Líbia para ajudar o governo de transição a impor a ordem? A Aliança Militar já disse que não haverá operações em terra. A Liga Árabe também tirou o corpo fora. Nem mesmo os europeus estão interessados.
Oficialmente, a vitória é dos rebeldes, mas a conquista é da Otan. Dois países participantes terão problemas para receber os créditos pela queda de Kadafi: a Alemanha, que inicialmente se opôs a uma intervenção militar na Líbia, mas voltou atrás e enviou aeronaves para o norte da África; e os Estados Unidos, que tiveram uma participação fundamental nesses cinco meses, mas não quiseram fazer alarde sobre o tamanho da missão e muito menos quanto isso iria custar ao bolso do contribuinte americano. Obama preferiu a discrição. Desde que começou a onda revolucionária no Oriente Médio, o presidente americano reage quase que estaticamente ao desenrolar dos fatos. Prefere não
se meter muito. Na semana passada, resolveu quebrar o silêncio e exigiu que o presidente da Síria, Bashar al-Assad, deixe o poder imediatamente. No caso da Síria, ele sabe que o principal jogador está em Teerã e que vai fazer de tudo para apoiar o regime alauíta. Do outro lado, uma oposição estratégica. A Turquia, que era parceira da Síria, rompeu os laços de um lado e amarrou-se ainda mais aos iranianos, que, como bons jogadores de xadrez, fizeram uma jogada de mestre no que concerne a influência regional. Os turcos abriram as portas para a oposição síria se organizar e tomar o poder no país logo depois da queda (e ela virá) de Assad. Eles sabem de quem é a vez no jogo. E não é de Washington.
CULTURA
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é possível perceber que o grupo só deu certo porque todos viviam juntos. Durante quase toda a sua trajetória, eles moraram — junto com seus parceiros e filhos — em um sítio, em Jacarepaguá, no Rio, no melhor estilo hippie de ser. No sítio nada era de ninguém, tudo era de todo mundo. Baseados, LSD e outros ácidos eram consumidos sem economia. Os integrantes passavam o dia jogando futebol e tocando, dividindo tudo, e guardando todo dinheiro que ganhavam num saco atrás da porta. Quem precisava, ia lá, pegava um pouco e devolvia o troco (ou não). O filme conta outras histórias interessantes, como o nascimento da primeira criança da comunidade. Ela ficou dois anos sem nome. Ninguém conseguia pensar em um que realmente valesse a pena. Por tudo isso, o grupo Novos
Formado em 1969, o grupo Novos Baianos.
Baianos talvez tenha sido uma das mais emblemáticas bandas da MPB a representar e verdadeiramente viver a contracultura dos anos 70. É claro que a harmonia não durou para sempre. Os próprios músicos admitem que a vida dentro do sítio acabou virando uma religião. Com regras, como não poder comer carne ou fumar cigarro e a obrigatoriedade de viverem todos juntos. Quando Moraes Moreira decidiu morar em outro lugar, o grupo não resistiu. Os Novos Baianos acabaram em 1979 e muitos de seus ex-integrantes seguiram carreira solo — de lá para cá, o grupo reuniu-se parcialmente algumas vezes, para gravações e apresentações eventuais. Apesar de sua ausência, João Gilberto é o foco central do filme e isso explica o título da produção. Todos fazem questão de
ressaltar a influência do artista no desenvolvimento musical e mesmo existencial dos Novos Baianos. O apadrinhamento pelo ícone é citado por todos como fundamental na definição da identidade musical da banda. Depois de um flerte inicial com o rock, visível em seu primeiro disco, “É Ferro na Boneca” (1970), o grupo viveu uma guinada fundamental a partir do encontro com o compositor João Gilberto, então voltando de uma temporada nos Estados Unidos. Por conta própria e de surpresa, João foi visitar o apartamento em Ipanema onde os músicos moravam. Foi ele quem estimulou e sugeriu que mergulhassem em suas raízes, e trouxessem a música, o ritmo e os instrumentos brasileiros ao som dos Novos Baianos. O resultado foi o antológico LP “Acabou Chorare”. No filme Galvão lem-
CULTURA bra que foi ele quem apresentou Pepeu e Paulinho para João Gilberto. O maior acerto de “Filhos de João, O Admirável Mundo Novo Baiano” é entremear muito bem as curiosas entrevistas dos veteranos Novos Baianos com as sempre performáticas intervenções e observações certeiras de Tom Zé. O compositor foi o responsável por unir a dupla de compositores Moraes Moreira e Luiz Galvão, autores da maioria dos clássicos da banda. O diretor ouviu ainda membros flutuantes da formação, como o bailarino Gato Félix — agregado que relembra o espírito comunitário que os unia ao contar da vez que foram presos no começo da década de 1970. Com todos no camburão, menos ele, Gato Félix insistiu em ser preso, contando aos policiais que também era membro do grupo.
11 Já Dadi, outro ex-integrante do grupo provoca risos com o hilário depoimento em que conta que foi atender a campainha e achou que aquele senhor (João Gilberto) de terno fosse um policial. Compreensível. Afinal, os Novos Baianos estavam vivendo a época da ditadura militar. Henrique Dantas costura toda a trajetória do grupo retratando paralelamente a realidade da época que, apesar da censura, foi um dos períodos mais férteis da produção musical brasileira. Além de fazer justiça a uma das bandas mais importantes do Brasil, a película diverte muito o espectador, seja pelas histórias engraçadas contadas ou pela forma descompromissada com que os Novos Baianos exerciam a sua arte, revolucionando a forma de fazer música e de encarar a vida, numa utopia real que durou quase uma década.
Galvão, Baby, Morais e Paulinho
A essência da contracultura Documentário recupera a trajetória dos Novos Baianos, grupo ícone da música brasileira Quando era pequeno Henrique Dantas escutava com o pai músicas interpretadas por Moraes Moreira (vocal), Baby Consuelo (vocal), Pepeu Gomes (guitarra) e Paulinho Boca de Cantor (vocal), e se apaixonou. Há uns 13 anos, o então estudante universitário viu uma entrevista de Paulo Boca de Cantor dizendo que os Novos Baianos iriam fazer 30 anos. Aí pensou em fazer um documentário em curta-metragem sobre a paixão pela música passada de pai para filho. A ideia original acabou sendo deixada de lado e Dantas transformou o curta em longa. O resultado é “Filhos de João, O Admirável Mundo Novo Baiano”, que narra a história do grupo Novos Baianos e apresenta o retrato de uma geração, que viu nascer um dos momentos mais férteis da música brasileira.
Com a pegada clássica dos documentários, alternando depoimentos dos próprios integrantes, pessoas que participaram da trajetória do grupo e da efervescência musical da época, o filme conta de forma concisa e bastante divertida a trajetória desse coletivo de músicos desde a sua criação, em 69, até seu inevitável término, dez anos depois. O João do título se refere ao cantor e compositor João Gilberto, considerado o principal mentor e pai dos Novos Baianos. Ele foi o responsável pela introdução de ritmos brasileiros ao som do grupo. Infelizmente, porém, João Gilberto não conta sua versão da história. O encarregado em contar essa história é Tom Zé. O irreverente artista garante momentos hilários a cada nova aparição em cena,
com seus devaneios irresistíveis e conceitos que, definitivamente, não são deste mundo. Outra ausência sentida no documentário de Dantas é de Baby Consuelo, única mulher do grupo. Baby do Brasil até deu depoimento a Dantas, mas acabou não autorizando o uso de sua imagem. No Festival de Brasília de 2009 — no qual o filme venceu o Prêmio do Júri e do Júri Popular do Festival —, Dantas disse aos jornalistas que os depoimentos da Baby foram sensacionais. “Ela tem uma grande memória, terminei a entrevista querendo casar com a Baby. Mas ela não aceitou liberar os depoimentos para o filme. Ela falava assim no final, terminando o filme: “Cadê você que nos anos 70 queria reconstruir o mundo?” Mas tivemos que remontar o documentário”, la-
mentou o cineasta. A versão de Baby do Brasil é outra. “Quando ele [Henrique Dantas] me convidou para fazer a entrevista, era um trabalho de faculdade. Alguns anos depois ele estava sendo exibido em um festival de Brasília já com vários apoios culturais financeiros. Ele não quis fazer o contrato comigo e depois apareceu na mídia como se eu tivesse vetado. O trabalho é bacana, mas ainda precisa acertar contas com a Baby do Brasil Produções”, disse Baby em uma entrevista ao portal UOL. Outros integrantes foram bem mais generosos, caso de Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Galvão, Gato Félix, Bola Moraes, Paulinho Boca de Cantor e Charles Negrita, todos dando depoimentos longos e saborosos, permitindo reconstituir a
trajetória da banda. É certo que as presenças de Baby do Brasil e João Gilberto enriqueceriam o filme de Dantas. Mas os depoimentos fazem falta? O longa traz histórias divertidas e curiosas, esclarecendo toda a trajetória, desde o início com forte influência do Rock Progressivo britânico e da guitarra de Hendrix, até a mistura de ritmos brasileiros, fundamental na originalidade do som da banda. Tudo é contado em depoimentos de ex-integrantes do grupo como Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, costurados com valiosas cenas de arquivo e de filmes caseiros feitos pelos músicos — que moravam juntos em comunidade nos anos 1970. Ao longo da exibição, ao ouvir as histórias de seus integrantes,
Onde estão os Novos Baianos? Baby Consuelo - Bernadete Dinorah de Carvalho, Baby do Brasil (nome atual) começou no Novos Baianos com apenas 17 anos, quando fugiu para Salvador e conheceu Moraes Moreira, Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes, que viria a ser seu marido e pai de seus seis filhos. Atualmente Baby está terminando a gravação de um álbum gospel e um documentário sobre sua carreira. Pepeu Gomes - Apelido de Pedro Anibal de Oliveira Gomes, Pepeu começou a tocar violão “de ouvido” e hoje é considerado um dos dez maiores guitarristas do mundo pela revista americana “Guitar World”. Pepeu comemora 40 anos de carreira este ano. Moraes Moreira - Antônio Carlos Moreira Pires conheceu Tom Zé quando se mudou de Calculé para Salvador, onde teve contato com os outros integrantes do grupo. Atualmente se apresenta com repertório eclético, que vai do rock
e baião ao frevo e comanda trios elétricos no Carnaval. Paulinho Boca de Cantor - Iniciou a carreira musical aos 16 anos como crooner de Carlito e sua Orquestra (que mais tarde virou a orquestra Avanço). Hoje ele segue carreiro solo. Luiz Galvão - O compositor é o “filho” mais próximo de João Gilberto. Conheceu o músico quando morava em Juazeiro, na Bahia. Galvão tem álbuns solos gravados e também é poeta. Dadi - Eduardo Magalhães de Carvalho foi o baixista da banda em sua formação original. Já tocou com as bandas A Cor do Som, Barão Vermelho e Caetano Veloso. Jorginho Gomes - Irmão do guitarrista Pepeu, Jorginho foi o baterista dos Novos Baianos. Além da Cor do Som, integrou bandas de artistas como Ana Carolina, Gilberto Gil e Marisa Monte.
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