REFLEXÕES SOBRE AS DIMENSÕES DA VIDA PAULINA “Reacender o dom recebido, na comunhão e participação.” Palavra: 2Tm 1,6-14 0.1 “Reacender o dom recebido”.
Iniciar o Capítulo Provincial na festa do Bem-aventurado Timóteo Giaccardo, à luz do “Por isso te exorto a reavivar o carisma de Deus que recebeste” da Segunda Carta a Timóteo, é situar o evento capitular no coração mesmo do carisma paulino. O Fundador, de fato, afirmou com força: “A quem quisesse conhecer quem encarnou todo o ideal do Paulino na sua integridade, dever-se-ia indicar: «il Signor Maestro»”. Ele vivia do falar com Deus, da piedade eucarística, mariana e litúrgica, “do amor à Igreja e ao Papa, da caridade doce e operosa para com os irmãos e para com todos, de pensamentos e aspirações sempre elevados, da plena observância religiosa” (SP, fev. 1948, pp. 3-4). Por outro lado, a Segunda a Timóteo, mais que outras Cartas, serviu de bandeira para indicar a buscada simbiose de identidade entre Paulinos e Paulo. Qual outra expressão paulina foi mais repetida e cantada com arte e ardor do que o “Scio cui credidi”? (2Tm 1,12). Qual foi mais abrangente do ideal paulino do que a certeza do apóstolo, que, mesmo encarcerado, proclamava: “A palavra de Deus não está algemada” (2Tm 2,9). A todos aqueles que desejam compartilhar a missão paulina, o convite do Fundador é: “Opus fac evangelistae” (2Tm 4,5). Poderíamos até acolher como exortação a releitura da inteira Segunda a Timóteo para por em evidência a abundante riqueza da Palavra de Deus que ela injetou nas veias das primeiras gerações paulinas. 0.2 “Comunhão e participação” O reacender/reavivar (avnazwpurei/n) o carisma se enraíza, ao mesmo tempo, no duplo simbolismo da vida (zw=zō, zōē, vida) e do fogo (pur=pyr, fogo) para indicar o fruto da ação do Espírito (to. ca,risma =o dom, carisma) segundo a iniciativa gratuita de Deus, o Pai, por meio de Cristo Jesus, servindo-se do ministério de Paulo, em prol do Evangelho: “Eu, a ti relembro: reaviva o dom que Deus depôs em ti por imposição de minhas mãos”. A Vulgata chega a falar em “ressuscitar a graça de Deus” (“Ut resuscites gratiam Dei”). Trata-se de acolher, com trepidação, as abundantes riquezas, para a vida e a eternidade, que Paulo está entregando em testamento, segundo 2Tm 1,6-14: “E com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós, guarda o precioso depósito”. O Espírito habitante (tou/ evnoikou/ntoj) em nós não é simplesmente um alienante “dulcis hospes animae”, e sim é “língua como de fogo” (glw/ssai w`sei. puro.j – At 2,3) vivificante. É aquela “graça fundamental”, tratada de maneira tão ousada por Francisco Chiesa, é aquele Amor/Espírito entregue por Cristo, morrente na Cruz, que gera a comunhão (koinwni,a) trinitária: “E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo” (cf 1Jo 1,3). E a comunhão (koinwni,a) habilita à participação, a ser participante (sugkoinwno.j): “Para os fracos, fiz-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Torneime tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo custo. E, isto tudo, eu o faço por causa do evangelho, para dele me tornar participante” (1Cor 9,22-23). Paulo eleva ação de graças a Deus pela comunidade, por sua “comunhão no evangelho” (evpi. th/| koinwni,a| u`mw/n eivj to. euvagge,lion - Fl 1,5) e sua “participação na graça” ou dom (sugkoinwnou,j mou th/j ca,ritoj pa,ntaj u`ma/j o;ntaj- Fl 1,7). É nesta comunhão trinitária e participação carismática que nascem e vivem a Igreja (LG 4), a Pia Sociedade de São Paulo e a Família Paulina: “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em 1
todos (1Cor 12,4-6). É este aquele “vínculo íntimo de caridade, mais nobre do que o vínculo de sangue” (AD 35) que nos une na comunhão e participação, passando pela comunicação. Por isso Alberione afirma: “O Pai é a fonte, o Filho é a causa, o Espírito Santo é a communicatio da graça” (MV 158). Reacender o dom é viver (= comunhão) e agir (= participação) em sintonia com o Espírito comunicador, vida dos comunicadores da Boa Notícia. Paulo impõe as mãos, mas a ação é de Deus. Padre Alberione, de fato, assegura: “A mão de Deus sobre mim, de 1900 a 1960. A vontade do Senhor se cumpriu, não obstante a miséria de quem devia ser seu instrumento indigno e não adapto. Do Tabernáculo: a luz, a graça, as exortações, a força, as vocações: ao começar e no caminho” (UPS I 374). Afirmou também: “A mão de Deus sobre mim, como nos conduziu”. Pela força do Espírito de Cristo a Igreja foi instituída e é instituinte. Sob a mão de Deus, na Igreja e por meio de Alberione, também a Família Paulina foi instituída. Acolher o mandato de “reacender o dom de Deus na comunhão e participação” significa, para o Capítulo Provincial e para a Província brasileira, deixar que o Espírito Santo seja hoje – e na caminhada dos próximos anos – novamente instituinte do espírito paulino, para a glória de Deus e o serviço à humanidade, na medida que convém ao Povo de Deus que está no Brasil, e não só. Pe. Antonio F. da Silva, ssp São Paulo, 22/10/2012
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