REFLEXÕES SOBRE AS DIMENSÕES DA VIDA PAULINA 1. APOSTOLADO Palavra: Jo 14, 1-14 1.01 Reacender o dom do apostolado na comunhão e participação Padre Alberione exultou de alegria no momento da constituição eclesial da Congregação, mediante definitiva aprovação pontifícia das Constituições. Ao traçar um memorial da caminhada feita, podia, enfim, descrever claramente o espírito paulino: “Seguindo São Paulo. O apóstolo escrevia de bom grado que ele não gostava de ficar considerando o bem realizado, mas antes, tendia para outro bem no futuro. Ele é Vaso se de eleição. Vaso pleno de sabedoria, de caridade, de zelo. Cada dia, no silêncio operoso e amoroso, dedicamo-nos à oração, ao estudo, à santificação religiosa. O princípio informativo: a Congregação pode ser comparada a um carro que caminha sobre quatro rodas: piedade, estudo, apostolado, pobreza. Ele é Doutor das Gentes. Nações do passado e do presente. Da Casa Mãe, em Alba, focávamos, especialmente, a Itália. A razão, pela qual, nos transferimos para Roma, é esta: estarmos próximos da Cátedra de Pedro, no centro da Cristandade, olhando atentamente para as outras nações. Docete omnes gentes, ensinai todos os povos com os meios modernos: não o desenvolvimento de uma indústria ou de um comércio, mas o apostolado, seguindo e dando Jesus Cristo Caminho, Verdade, Vida. O Instituto, de acordo com o espírito declarado ainda melhor nas Constituições definitivas, segue os tempos, inspira-se em uma sã modernidade, no espírito de Jesus Mestre: in Christo et in Ecclesia: procura as almas” (SP, fev. 1950, p. 4). Ao indicar a missão de seguir e dar Jesus Caminho, Verdade e Vida o Fundador tinha em mente os frutos de haver assumido como “sagrada herança” a encíclica Tametsi futura, de Leão XIII (SP, jan. 1958, p. 3) e o dom providencial de haver encontrado em Henrique Swoboda e Cornélio Krieg, através de suas obras, os dois mestres para por as bases do “caráter pastoral do apostolado paulino” (AD 84). Ainda que não apareça muito a contribuição científica, bíblica e teológica por nós dada no aprofundamento da espiritualidade de Cristo Caminho, Verdade e Vida, só o Espírito pode conhecer os frutos de santidade e apostolado amadurecidos na Família Paulina, graças à vivência deste centro unificador do carisma. Mas, à distância de um século, no Brasil e na América Latina, Deus quis renovar, por meio da Igreja, seu dom à Família Paulina oferecendo no Documento de Aparecida muito mais do que uma simples atualização da Tametsi futura. Para a tarefa de “Reacender o dom do apostolado na comunhão e participação”, muito oportunamente sublinha a ação do Espirito que leva o discípulo e missionário a responder ao chamado de Jesus: “É um “sim” que compromete radicalmente a liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6). É uma resposta de amor a quem o amou primeiro “até o extremo” (cf. Jo 13,1). A resposta do discípulo amadurece neste amor de Jesus: “Eu te seguirei por onde quer que vás” (Lc 9,57). 137. O Espírito Santo, que o Pai nos presenteia, identifica-nos com Jesus-Caminho, abrindo-nos a seu mistério de salvação para que sejamos filhos seus e irmãos uns dos outros; identifica- nos com Jesus-Verdade, ensinando-nos a renunciar a nossas mentiras e ambições pessoais; e 1
nos identifica com Jesus-Vida, permitindo-nos abraçar seu plano de amor e nos entregar para que outros “tenham vida nEle” (DAp 136). É fora de dúvida que Padre Alberione subscreveria o ensinamento da Quinta Conferência sobre a vida consagrada, apaixonada por Cristo CVV: “Na atualidade da América Latina e do Caribe, a vida consagrada é chamada a ser uma vida discipular, apaixonada por Jesus-caminho ao Pai misericordioso, e por isso, de caráter profundamente místico e comunitário. É chamada a ser uma vida missionária, apaixonada pelo anúncio de Jesus-verdade do Pai, por isso mesmo radicalmente profética, capaz de mostrar à luz de Cristo as sombras do mundo atual e os caminhos de uma vida nova, para o que se requer um profetismo que aspire até à entrega da vida em continuidade com a tradição de santidade e martírio de tantas e tantos consagrados ao longo da história do Continente. E, a serviço do mundo, uma vida apaixonada por Jesus-vida do Pai, que se faz presente nos mais pequeninos e nos últimos, a quem serve a partir do próprio carisma e espiritualidade” (DAp 220) Já antes de começar a Fundação da família Paulina, o Fundador sublinhava a afirmação do Krieg segundo a qual a pastoral consiste no exercício das três funções salvíficas de Cristo à luz de Jo 14,6. E é surpreendente a atualidade dessa mesma orientação pastoral nos ensinamentos do Vaticano II e ainda hoje no Brasil: “Convencionalmente, utiliza-se a trilogia sacerdote-profeta-rei para referir-se à missão de Cristo, confiada a seus discípulos e, por extensão, à Igreja. [...] Os textos invocados para isso são a alegoria do Bom Pastor (Jo 10), como também o ‘eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6) e o “ide, fazei discípulos, batizai-os e ensinaios a guardar o que ensinei”(Mt 28,18-20) [...] Para muitos estudiosos do Concílio [= Vaticano II], a visualização da ação pastoral de todos os cristãos, a partir do tríplice ministério, é um dos passos mais importantes levados a cabo pela renovação teológico-pastoral impulsionada pelo Vaticano II. Hoje, tornou-se pacífico ver a ação da Igreja como um todo no tríplice ministério e na ordem protestante: o ministério profético, enquanto o serviço da Palavra em todos os níveis: evangelização, catequese e homilia (incluído, aqui, o papel do magistério); o ministério litúrgico, enquanto celebração dos mistérios cristãos: os sacramentos e a liturgia das horas (incluído o sacerdócio hierárquico); e o ministério da caridade, enquanto serviço da promoção da vida no mundo: a pastoral social, a organização e a direção eclesial (incluído o poder de jurisdição)”1. Para o cumprimento o nosso apostolado segundo a tríplice função de Cristo Verdade, Caminho e Vida Padre Alberione indicava aquela dinâmica segundo a qual não se trata de fazer um conjunto de pastorais, mas uma verdadeira pastoral de conjunto, por isso afirmava peremptoriamente: “Ocorrem: Um Catecismo cheio de Evangelho e de Liturgia. Um Evangelho cheio de notas catequéticas e litúrgicas. Uma Liturgia (p. ex. o Missalzinho) cheio de Evangelho e Catecismo” 2. 1
A. BRIGHENTI, A pastoral dá o que pensar..., o. c., p. 71-72. CATECHISMO, VANGELO, LITURGIA. «Il vostro Maestro è uno: Cristo Gesù».Il Divin Maestro ha elargito alla Famiglia Paolina grazie preziosissime, a cui si deve corrispondere. Ufficio e compito fondamentale 2
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Em Anotações de Teologia Pastoral Padre Alberione propõe uma bandeira para todo Pastor ou Apóstolo: “É absolutamente necessário que ele trabalhe para a salvação dos outros, que escreva sobre a própria bandeira: Eu – Deus – Povo” (p. 1). A este tríplice fundamento corresponde uma tríplice referencia, ou seja, ciência – santidade – apostolado: “O sacerdote, portanto, não é um simples sábio: não é também um simples santo: mas é um sábio-santo, que se serve da ciência e da santidade para se tornar apóstolo, isto é, para salvar as almas” (p. 2). Padre Alberione estabelece uma relação estreita entre estas partes: quem se dedica somente à piedade “não é verdadeiro sacerdote porque não zela”, quem procura ser apóstolo e deixa de lado o estudo e a piedade “verá diminuído, também o zelo, porque as fontes se tornaram áridas”; quem se dedica totalmente às obras externas, esquecendo-se das espirituais ou vice-e-versa, chega a erros fatais no direcionamento das obras, desperdiçando ou atrofiando preciosas energias. Padre Alberione, porém, não apenas afirma que estas partes estão interligadas, como também indica que estão ligadas por um processo de fonte, desenvolvimento e fruto. Nesta luz podemos dizer que em Anotações de Teologia Pastoral a primeira parte apresenta o fundamento, a segunda o desenvolvimento e a terceira o fruto. O fundamento é a personalidade bem preparada do pastor, que abraça uma vida de santidade; o desenvolvimento é sua ciência ou estudo aplicado a traçar uma pertinente fisionomia de sua ação pastoral; o fruto é sua efetiva atuação pastoral pondo mãos à obra na missão recebida. Esta dinâmica, portanto, é composta de vida de santidade como fundamento, que leva ao estudo de um pertinente estilo de vida pastoral, que, por sua vez, leva ao fruto que é o apostolado ou atuação da missão pastoral. É pelo menos sugestivo entrever a sintonia entre as três partes de Anotações de Teologia Pastoral, ora descritas, e alguma obra atual de Teologia Pastoral, como, por exemplo, o livro de Agenor Brighenti, A pastoral dá o que pensar, quando expõe os três níveis do estatuto da Teologia Pastoral: a Teologia Pastoral fundamental: o “porquê” da pastoral; a Teologia Pastoral especial: o “que” da pastoral; a Teologia Pastoral aplicada: o “como” da pastoral3. Para reacender o dom do apostolado na comunhão e participação segundo o espírito paulino temos a atualidade de um preciosíssimo patrimônio carismático, a nós confiado quase como desafio à nossa capacidade de atualização e de zelo pastoral. Pe. Antonio F. da Silva, ssp. São Paulo, 23/10/2012
del Paolino è «dare la dottrina cristiana dogmatica morale e liturgica». Fra queste tre parti vi è stretta unità. L’insegnamento ha da essere completo. Gesù Cristo è il Maestro che il Paolino deve ripetere, ora Egli è insieme Via, Verità e Vita. «Il vostro Maestro è uno: Cristo Gesù». Abbiamo da correggere la nostra tendenza a dividere il Cristo, a spezzettare quello che Egli ha unito. Da tempo lo si è notato in parecchi predicatori e scrittori. L’uomo è uno pur con tre facoltà distinte: quando opera tutte e tre le facoltà servono a fare il bene od il male, pur con predominio dell’una o dell’altra facoltà.Occorrono: Un CATECHISMO pieno di Vangelo e di Liturgia. Un VANGELO pieno di note catechistiche e liturgiche. Una LITURGIA (per es. il Messalino) pieno di Vangelo e Catechismo. Si ha infatti da portare tutto il Cristo all’uomo, e dare tutto l’uomo a Dio per Gesù Cristo. Separando Dogma, Morale e Culto faremo dell’uomo un mutilato, che non potrebbe arrivare a salvezza, non essendo inserito in tutto il Cristo. «Quos praescivit et praedestinavit conformes fieri imaginis Filii sui» (T. Alberione, San Paolo, Novembro – dezembro 1954, p. 4). 3 A. BRIGHENTI, A pastoral dá o que pensar. A inteligência da prática transformadora da fé, Siquem-Paulinas, São Paulo-Valência, 2006, p. 70-75.
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