Tese de Mestrado

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

ARQUITECTURA DE COORDENAÇÃO MODULAR: HABITAÇÃO

PEDRO JORGE MARTA DE OLIVEIRA MATOS

Graça Correia Ragazzi

Porto 2010



UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

ARQUITECTURA DE COORDENAÇÃO MODULAR: HABITAÇÃO

PEDRO JORGE MARTA DE OLIVEIRA MATOS

Dissertação para obtenção de grau de Mestre em Arquitectura de Coordenação Modular, sob a orientação da Professora Doutora Maria da Graça Ribeiro Correia Ragazzi

Porto 2010



Não é a raquete mais cara que faz o bom tenista!

Jorge António Amado de Oliveira Matos

A concretização desta Tese de Mestrado contou com a colaboração de muitas pessoas

que de forma, mais ou menos, directa são, também, responsáveis pela sua elaboração. Desta forma dedico-a a todas essas pessoas tão especiais. Aos meus pais. À minha irma. À Vânia. Aos meus amigos e colegas.

III



Nesta momento, em que se perspectiva o final da etapa mais importante do

meu percurso académico, não posso deixar de agradecer a todos os intervenientes que contribuíram, das mais variadas formas, para que este trabalho decorresse da melhor maneira possível, minimizando as dificuldades a ele inerentes e promovendo o desenvolvimento da minha identidade profissional e pessoal.

À Professora Graça Correia, um obrigado especial pela sua orientação e

disponibilidade, nesta Unidade Curricular e, principalmente, por ter contribuido para o meu crescimento pessoal e profissional. Agradeço ainda a criação de momentos de reflexão essenciais no decorrer deste trabalho.

Ao Professor Francisco Campos, um muito obrigado pelas “discussões” pertinentes

e pela partilha de conhecimentos e experiências. Obrigado também pela dedicação na minha aprendizagem e crescimento profissional.

Aos meus primos, Nuno Marta e Diana Cunha, agradeço a troca de conhecimentos,

o acompanhamento e a disponibilidade com que me acolheram ao longo deste trabalho.

A todos os meus amigos, pelo apoio e amizade. A vossa presença incondicional

na minha vida faz com que as dificuldades, dúvidas e inseguranças sejam facilmente ultrapassadas. Com o vosso apoio, as alegrias e conquistas são vividas com ainda maior prazer.

Ao João Vinagre e ao Rui Martins, agradeço pelo acompanhamento e troca de

conhecimentos, assim como pelo companheirismo nos momentos de evasão ao trabalho.

À Vânia Silva, um obrigado especial e incalculável pela paciência, apoio e dedicação

durante esta importantissima etapa da minha vida. Agradeço, ainda mais, pela partilha dos bons e maus momentos em que esteve, sempre, presente.

Aos meus pais, Jorge Matos e Nazaré Marta, e à minha irma, Ana Marta, agradeço

a paciência e apoio indispensável durante todo o meu percurso académico. Admito que este ano foi difícil para todos, pois as minhas preocupações e tristezas vos causaram igual angustia e desconforto. No entanto, juntos conseguimos vencer mais uma etapa. Obrigado.

Obrigado a todos!

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Índice 1. Introdução

15

2. Contrução (Alternativa) da Habitação em Portugal

19

2.1. A Habitação como Necessidade

23

2.2. Construção Convencional: Custos

31

2.3. Construção Convencional: Ambiente

35

2.4. Construção Alternativa: Coordenação Modular

43

3. O Preconceito do Conceito

53

3.1. Standard

59

3.2. Industrialização

63

3.3. Pré-fabricação

69

3.4. Coordenação Modular

73

4. A Evolução da Coordenação Modular

81

4.1. Unidades de Medida, Proporções e Cânones

85

4.2. Artesanato e Coordenação Modular

91

4.3. Tecnologia e Coordenação Modular

101

4.4. Funcionalismo e Coordenação Modular

107

5. Contributos para o Século XXI: Casos de Estudo

127

5.1. Projecto e Construção Modular

129

5.2. Produção Industrial e Sustentabilidade

135

5.3. Concepção Virtual e Personalização

145

5.4. Coordenação Modular: Habitação

151

6. Conclusão

183

7. Bibliografia

189

VII



Resumo O desenvolvimento deste trabalho enquadra-se no âmbito da conclusão do Mestrado Integrado do Curso de Arquitectura da Faculdade de Arquitectura e Artes das Universidade Lusíada do Porto (ano lectivo de 2009/2010). A escolha do tema “Arquitectura de Coordenação Modular: Habitação” prendese com a necessidade de investigação acerca da sistemas alternativos para construção de habitação em Portugal, uma vez que a construção convencional se sustenta em sistemas, maioritariamente, tradicionais, revelando-se poluente, economicamente dispendiosa e deturpadora dos fundamentos da habitação. Sendo que em países desenvolvidos se aceitam estratégias alternativas como soluções viáveis, procura-se realçar aspectos envoltos na temática que evidenciem o seu entendimento e a sua aplicabilidade à prática da Arquitectura portuguesa. Neste sentido, aponta-se como objecto de estudo, um projecto original, que reflecte a execução da concepção formal, confinado à zona da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, evidenciando a potencialidade da implementação da Coordenação Modular, para solução de aspectos considerados desfavoráveis às exigências da habitação hodierna. É utilizada uma metodologia crítico-reflexiva e descritiva baseada na recolha de dados e análise bibliográfica e sitiográfica, estudo de objectos produzidos industrialmente, bem como diálogos oportunos com arquitectos experientes na área. Conclui-se que a Coordenação Modular, como sistema alternativo de construção, desenvolvido ao longo da História da Humanidade, representa uma via favorável aos problemas identificados. Esta recorre à indústria para pré-fabricação de peças standard para construção, pelo que permite o planeamento prévio de gastos supérfluos da matéria natural, uma construção mais económica e, consequentemente, garante maior acessibilidade à habitação. Palavras-Chave: Coordenação Modular; Construção Convencional; Standard; Industrialização; Pré-Fabricação.

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Abstract This work was developed as the last step in achieving the Master degree in Architecture from the Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada do Porto (academic year 2009/2010). The theme “Modular Coordination Architecture: Housing” is concerned with the need for research on alternative systems for housing construction in Portugal, since the conventional construction is based mostly on traditional systems, revealing itself polluting, economically costly and undermining the foundations of dwelling. Since developed countries accept alternative strategies as viable solutions, I seek to highlight aspects related to the theme that will improve its understanding and practical application in the Portuguese Architecture. In this sense, an original project, confined to the area of Serra do Pilar in Vila Nova de Gaia, that reflects the developing of the formal conception, is used as an object of study, showing the potential for Modular Coordination implementation to solve issues considered unfavorable to the demands of today’s housing. The utilized methodology is critical, reflective and descriptive, based on data collection and analysis of literature and the World Wide Web, the study of industrially produced objects, as well as timely dialogues with experienced architects in the field. I conclude that Modular Coordination, as an alternative system for construction developed over the history of humanity, represents a favorable path for the identified problems. It uses industry for the prefabrication of standardized parts for construction, which allows for early planning of natural matter wasteful spending and a more economical construction, thus ensuring greater accessibility to housing. Keywords: Modular Coordination; Conventional Construction; Standard; Industrialization; Prefabrication.

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1. Introdução “A Arquitectura é antes de mais, nada construção, mas, construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço para determinada finalidade e visando (…) uma intenção. É nesse processo fundamental de ordenar e de se expressar que ela se revela (…)”.1 Considerando como fundamental a afirmação do autor pode-se, porém, complementa-la acrescentando, a não menos autêntica crença, de que por esses mesmos motivos básicos, a arquitectura se concretiza como uma manifestação cultural. Assim sendo, representa, também, a resposta a uma das necessidades básicas do Homem - a necessidade de abrigo. É pois através da análise primordial da história da Humanidade que nos apercebemos da permanente procura do Homem neste sentido, nascendo assim esta ciência indispensável nos mais diversos aspectos da vida social, económica, política, entre outros. No entanto, em Portugal, a construção da habitação implica métodos que se revelam negligentes na resposta às realidades actuais. A Coordenação Modular é “um mecanismo de simplificação e inter-relação de grandezas e de objectos diferentes de precedência distinta, que devem ser unidos entre si na etapa de construção (ou montagem), com mínimas modificações ou ajustes.”2 Esta técnica valoriza e redirecciona a construção do objecto arquitectónico, surgindo como uma mais valia no sentido de dar resposta aos problemas sociais, económicos e ambientais relacionados. A presente tese enquadra-se na etapa final do curso de Arquitectura, desenvolvido na Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada do Porto, pretendendo revelar todo um conjunto de conhecimentos adquiridos ao longo do percurso académico e visando uma crítica reflexiva de aspectos envoltos na “Arquitectura de Coordenação Modular: Habitação”, isto é, a Arquitectura que sustenta a construção da habitação com base na Industrialização da produção de Pré-fabricados segundo medidas Standard. A escolha do tema prende-se essencialmente com o interesse pessoal e uma necessidade de investigação aprofundada das diversas vertentes do mesmo. Por outro lado, a inexploração alongada do tema torna-o pertinente no contexto da actualidade. O objecto do presente trabalho consiste na elaboração de um projecto, confinado à zona da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, propício a demonstrar a potencialidade desta técnica na Arquitectura habitacional contemporânea. 1 COSTA, Lúcio. 1995. Registo de uma Vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995, p. 608. 2 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007, Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP, 2007. p. 33.

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O desenvolvimento do tema e do objecto de estudo tem como objectivo reflectir, segundo uma abordagem racional e objectiva, face aos aspectos favoráveis, contraditórios e adversos. Por outro lado, compreender o estigma social relativo à negação das potencialidades do conceito para construção da habitação em Portugal. As perspectivas teóricas referidas ao longo do trabalho visam enriquecer o desenvolvimento das competências enquanto futuro profissional, e a consciência da importância desta dissertação na promoção do debate público face à temática explanada. Neste sentido, pretende-se uma abordagem generalista do tema que propicie um ponto de partida para futuras investigações. A metodologia adoptada baseia-se numa revisão bibliográfica e sitiográfica vasta, diálogos com arquitectos experientes na área e a análise de objectos arquitectónicos e de design actuais produzidos industrialmente. Isto, de forma a efectuar uma fundamentação criteriosa face às reflexões incluídas ao longo da tese, pretendendo a maior precisão e especificidade possível de modo a atingir os objectivos propostos. Deste modo, o trabalho desenvolve-se com base na reflexão teórica, análise crítica dos conteúdos e concepção de novas ideologias. Relativamente à organização estrutural, a dissertação encontra-se dividida em quatro partes essenciais, sendo que o primeiro capítulo se refere à descrição dos problemas que se prendem com a temática da “Construção (Alternativa) da Habitação em Portugal”, no qual se especifica a habitação como um bem que enaltece valores materiais e não como resposta a uma necessidade. Esta evidência distancia uma grande parte da sociedade através de factores económicos provenientes do método construtivo vigente que, por sua vez, também prejudica o ambiente. Neste sentido, aponta-se a Coordenação Modular como uma alternativa favorável. No capítulo seguinte, denominado de “O Preconceito do Conceito”, é efectuada uma análise crítico-reflexiva, visando a descrição e esclarecimento da concepção Standard, a viabilização da construção pelo recurso à Industrialização, desmistificando o estigma social face à Pré-Fabricação e terminando com uma análise aprofundada da mescla dos conceitos referidos: a Coordenação Modular. Surge, deste modo, a necessidade de constatar a presença dos princípios mencionados ao longo da história do Homem. Assim emerge o terceiro capítulo: “A Evolução da Coordenação Modular”. Neste, constata-se a importância do surgimento das primeiras noções de Unidades de Medida, Proporções e Cânones, desde as primeiras civilizações e, no decurso da evolução, aliada às técnicas mais inovadoras, nomeadamente, Artesanato e Tecnologia, que culminaram no Funcionalismo do século XX. No capítulo final, precedente à Conclusão, abordam-se as técnicas de Projecto

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e Construção Modular, o processo de Produção Industrial e Sustentabilidade e a Concepção Virtual e Personalização, demonstrando que a Coordenação Modular pode fornecer fortes “Contributos para o Século XXI”. Desta forma, ressalvam-se estes princípios na elaboração de um projecto que se integrou na Unidade Curricular de Projecto III, decorrente no ano lectivo 2008-2009, sob a coordenação da Professora Graça Correia. No final da dissertação apresenta-se uma síntese das ideias principais que foram sendo sugeridas através da revisão literária e das reflexões propostas ao longo do trabalho, no capítulo final, a Conclusão.

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figura 1: Abrigo

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2. Construção (Alternativa) da Habitação em Portugal “A arquitectura é uma das mais urgentes necessidades do homem, visto que a casa sempre foi indispensável e o primeiro instrumento a que se forjou.”1 “A casa é o objecto de arquitectura mais inteligível ao público. Pode-se não entender exactamente o que «é» e o que implica fazer um edifício, ou desenhar um projecto de arquitectura, mas sem dúvida que o espaço da domesticidade – que qualquer casa encena – nos é (sempre) muito próximo. Na tradição moderna, a casa resulta da composição hierárquica de um conjunto de infra-estruturas, de maior ou menor complexidade.”2 As novas formas de viver surgem de um percurso no tempo em que, por muitas vezes, o Homem evoluiu a sua mentalidade a fim de criar novos conceitos referentes à Habitação, que de todos os programas envolvidos com a arquitectura, é o mais abundante e imprescindível. Hoje podemos dizer que a nossa casa é “um abrigo contra o calor, o frio, a chuva, os ladrões, os indiscretos. (...) Um certo número de compartimentos destinados à cozinha, ao trabalho, à vida íntima.”3 Ou ainda, “um espaço milimetricamente calculado, sectorialmente dividido e plasticamente austero.”4 A necessidade de criar habitação foi, desde cedo, uma prioridade social. Uma vez que o Homem procurou refugiar-se de um ambiente rigoroso, recorreu à Natureza com o propósito de encontrar soluções para a construção de um espaço onde as suas necessidades básicas como o abrigo, a privacidade, o conforto, a higiene entre outras, pudessem ser satisfeitas.5 (figura 1) Em consonância, o património habitacional, laboral, assim como o de lazer e fluxo populacional, representam projectos e ideais construídos e verificáveis, que constituíram óptimos desafios à criatividade e inteligência prática dos profissionais que se dedicam a esta actividade. Contudo, analisando em pormenor o estado da habitação quer unifamiliar quer colectiva, em Portugal, podemos dizer que diversos aspectos envolvidos nesta temática não têm sido valorizados. A construção convencional torna a habitação portuguesa um bem de valores 1 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 5. [tradução livre] 2 MOURA, Eduardo Souto de. 2006. Vinte e Duas Casas. Ordem dos Arquitectos/Conselho Directivo Nacional. Lisboa, 2006. p. 11. 3 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 75. 4 MOURA, Eduardo Souto de. 2006. Vinte e Duas Casas. Ordem dos Arquitectos/Conselho Directivo Nacional. Lisboa, 2006. p. 12. 5 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006.

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figura 2: Casa de Ouro

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qualitativos materiais e não um bem necessário para subsistência. Deste modo, os portugueses recorrem a empréstimos bancários e endividam-se para obter habitação.6 (figura 2) Nesta conformidade, é comummente aceite ocorrerem interrogações a propósito da acessibilidade económica à habitação ser tão dificultada. O simples facto da insistência na construção convencional reflecte-se na implementação de preços exagerados, bem como o respectivo recurso a matérias-primas para construção que são extraídas desenfreadamente. Em acréscimo, o Ambiente sai prejudicado, uma vez que a construção visa ser feita com pouca longevidade, o que se reflecte no desenvolvimento de edificado propício a tornar-se ruína e, por sua vez, a demolição destes, proporciona grandes desperdícios de construção. Desta forma, os edifícios e/ou os respectivos elementos construtivos são inaproveitáveis.7 Em suma, todo este conjunto de factores, tem vindo a prejudicar o Homem e o Ambiente. Por estas razões, torna-se evidente que a construção convencional não tem sido a ferramenta ideal para a execução dos nossos lares.8 Neste sentido, se o tipo de construção presente revela ser um processo pouco versátil, e que, por outro lado, acentua um ambiente de dificuldade económica e de preocupações ambientais, hoje, mais do que nunca, devemos questionar se a inserção de processos alternativos, como a Coordenação Modular, podem fornecer condições para que estes problemas sejam ultrapassados no âmbito da habitação. Esta estratégia, orientada para a produção industrializada de elementos construtivos, não desvirtua os fundamentos do habitar, revela-se acessível à maioria, racionaliza a construção e implica a utilização de matérias-primas ao essencial. Nos seguintes subcapítulos, visa-se destacar e compilar os problemas encontrados na temática da construção da habitação, em Portugal, nomeadamente, a necessidade de obter habitação, a construção, a economia e a ecologia, a fim de enquadrar a Coordenação Modular como uma possível estratégia de resolução aos aspectos identificados.

6 CORREIO DA MANHÃ. Onde pára o dinheiro dos portugueses [em linha]. [S.l.] 30 de Outubro de 2002 [Referência de 24 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: «http://oec.ces.uc.pt/novidades/correiomanha30-10-02.pdf». ­­ 7 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. Universidade do Minho. Guimarães. 8 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 163 - 191.

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figura 3: Sem-abrigo

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2.1. A Habitação como Necessidade “A arquitectura ocupa-se da casa, da casa comum e habitual, para homens normais e comuns. Ela despreza os palácios. (...) Estudar a casa para o homem corrente, qualquer um, é reencontrar as bases humanas, a escala humana, a necessidade-tipo, a função-tipo, a emoção-tipo.”9 A diferença existente entre o programa da habitação e o de um outro qualquer edifício advém da sua função essencial, isto é, a resposta a um conjunto de necessidades básicas do Homem. A habitação de hoje revela-se um espaço de privacidade e higiene, de abrigo e segurança contra um ambiente hostil ao ser humano. Estas duas últimas variáveis constituem os imperativos que levaram o Homem primitivo a desenvolver o primeiro exemplo de habitação. Assim como tinha necessidades fisiológicas, sentia a necessidade de criar um habitat em virtude de constituir um postulado primordial para a sua sã subsistência. Podemos definir necessidade básica como “carácter do que é indispensável ou imprescindível; ou inevitabilidade”10. A Habitação é uma necessidade. (figura 3) Assim como disse Le Corbusier11, “nasceram necessidades, consciente ou inconscientemente. (...) O instinto primordial de todo o ser vivo consiste em assegurar um abrigo. (...) cada um sonha legitimamente em abrigar-se e em preservar a segurança do seu alojamento.”12 Neste contexto, a própria habitação da era primitiva respeitava estes mesmos princípios base. Apesar disso, as novas exigências remetem-nos para a utilização de novas metodologias e apologias do que será a habitação idílica, pelo que, até ao século XVIII, a preocupação de construir uma casa, ignorava aspectos importantes, como o saneamento básico. Actualmente, reparamos que a higiene e a salubridade se tornaram princípios activos de composição, e há bastante preocupação em definir características no que toca à orientação dos edifícios, sua exposição solar, a espacialidade, o tamanho dos vãos e respectiva iluminação, os materiais que se devem usar quer no exterior, quer no interior,

9 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. Prefácio, XVI. [tradução livre]. 10 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Necessidade [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 16 de Junho de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/necessidade». 11 LE CORBUSIER (1887-1965), pseudónimo de Charles-Edouard Jeanneret-Gris. Foi um arquitecto, urbanista e pintor francês de origem suiça. É considerado um dos mais importantes arquitectos do século XX. 12 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 167 - 191. [tradução livre].

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figura 4: Habitação no Gerês, Correia/Ragazzi Arquitectos, Gerês

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entre outras.13 (figura 4) Com efeito, o que faz de uma casa um bem tão essencial? Precisamente a necessidade de resposta aos princípios base que auxiliam o ser Humano. Assim sendo, devemos ter em atenção que “o direito à habitação, como o direito à educação, à saúde, à liberdade de expressão, é reconhecido por qualquer governo que aceite a Declaração dos Direitos do Homem, da ONU, de que Portugal é país membro.”14 A habitação deve, portanto, ser projectada para o Homem, no colectivo. No entanto, em Portugal, constatamos que aspectos relacionados têm sido sobrevalorizados. Existe um ambiente de influência perante os aspectos qualitativos do habitar. Isto é, a maioria dos habitantes portugueses, não obstante as dificuldades económicas que possa encontrar, continua a considerar que apenas o que é caro é que tem qualidade. Neste sentido, verificamos que o senso comum avalia a habitação portuguesa num prisma extravagante e não propriamente num bem subordinado às suas prioridades. As chamadas habitações de luxo levam a que o senso comum avalie este género habitacional como “A qualidade do bem-estar”15. (figura 5) Em contrapartida, ao falarmos de habitação social, tendencialmente, visamos negar a qualidade. Este tipo de habitação é constantemente mal-encarado, pois, está associado a um conceito habitacional no qual existe um estigma e uma fraca interpretação. A este propósito, Álvaro Siza16 refere: “habitação social, como se se tratasse de uma especialidade autónoma. A habitação é uma presença constante e é sempre social. (...) Foi-se assim espalhando a ideia de que estas construções baratas deveriam ser péssimas, do mesmo passo que se associava constantemente a construção popular a algo de inconsistente, e sem qualidade. (...) É como ligar a limitação económica à ausência de qualidade: por conseguinte, com poucos recursos, o resultado deve ser péssimo.”17 (figura 6) A definição da qualidade é relativa de indivíduo para indivíduo. Normalmente, referimos “qualidades” como “as que são essenciais aos objectos materiais e estão neles como as percepcionamos”18. Mas, por outro lado, quer dizer “característica, atributo, virtude, função”19. Podemos acrescentar que, qualidade de vida, é a “situação de equilíbrio 13 MOURA, Eduardo Souto de. 2006. Vinte e Duas Casas. Ordem dos Arquitectos/Conselho Directivo Nacional. Lisboa, 2006. p. 9 - 13. 14 PORTAS, Nuno. 2005. Arquitectura(s) - Teoria e Desenho, Investigação e Projecto. Série 2. FAUP Publicações. Porto, 2005. p. 236. 15 CAMILO, J.. Living Porto [em linha]. [Portugal] : Porto, s.d. [Referência de 18 de Março de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://www.jcamilo.com». 16 SIZA, Álvaro. (1933) Internacionalmente conhecido por Siza Vieira, é o mais conceituado e premiado arquitecto contemporâneo português. Disponível na Internet em: «http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_siza». 17 SIZA, Álvaro. 1998. Imaginar a Evidência. Edições 70. Lisboa, 2009. p. 107. 18 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Qualidade [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 12 de Abril de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/qualidade». ­­ 19 IBIDEM.

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figura 5: Habitações de Luxo

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nas condições sociais e ambientais de existência dos seres vivos.”20 Deste modo, se uma casa cumprir a sua função (habitar), mas que, no entanto, foi construída com materiais mais baratos, quer dizer que não tem qualidade? O que dá qualidade à habitação? Os materiais? Será o betão armado usado na estrutura de uma habitação de luxo diferente do de uma habitação menos cara? Neste contexto, como refere Wilfred Wang21, “na indústria da construção, em particular, a qualidade tem sido vítima destas reflexões ignorantes. (...) foi e permanece um erro, acreditar que, como afirmou Otto Wagner no seu ensaio ‘Modern Architecture’, a redução da espessura da pedra enquanto material de revestimento, levaria a uma construção mais leve e mais rápida, podendo assim gastar-se aquilo que se poupou em melhores materiais.”22 Na frase citada, Otto Wagner23 refere a importância de um projecto que revele a não necessidade do uso de matéria desperdiçada e as suas vantagens de construção. Mas expõe dúvidas referentes à economia e à questão da qualidade do projecto e da construção. Pois, se a escolha dos sistemas de construção surge de um conhecimento vasto e de uma reflexão prévia por parte do arquitecto, assim como a escolha do material mais propício a determinada função, então, a definição de “melhores materiais” deve ser apontada pelas suas características (resistência às condições ambientais, manutenção, durabilidade, etc...) e não pelo seu valor comercial.24 Consequentemente, o estigma social presente, que desvirtua a essência do habitar, reflecte-se no constante recurso a empréstimos monetários, o que leva uma grande parte da sociedade a hipotecar a habitação, entre outros bens.25 A aquisição de habitação é, deste modo, bastante dificultada. Por outro lado, a construção vigente é realizada através de métodos que se revelam insuficientes às realidades actuais. Este facto, é reflectido na falta de racionalização do processo construtivo, uma vez que se sustenta em métodos tradicionais. A construção convencional leva a que cada edifício seja visto como único e projectado como tal e, deste modo, tende a ser propícia a erros, demorada em tempo, poluente e economicamente dispendiosa. 20 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Qualidade [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 12 de Abril de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/qualidade». ­­ 21 WANG, Wilfred. 2008. Standard. in JA235, 2008. p. 18. 22 WANG, Wilfred.Professor de arquietcura na Universidade do Texas, em Austin. É autor de várias monografias sobre arquitectura do século XX. Disponível na Internem em: «http://arquitectos.pt/documentos/1219765568G0rPZ1wj8Zb74DE5.pdf». 23 WAGNER, Otto. (1841 - 1918) Foi um dos mais arquitectos mais importantes do início do século XX, periodo de transição de estilos arquitectónicos, e foi um dos fundadores na construção de cidades modernas. Disponível na Internet em: «http://pt.wikipedia.org/wiki/Otto_Wagner». 24 WANG, Wilfred. 2008. Standard. in JA235, 2008. p. 18 - 21. 25 TOBARDA, Ana. 2008. Devorados pelas dívidas. in Sábado, 23 de Outubro de 2008. p. 88 - 91.

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figura 6: Habitação Social, Bairro da Bouça, Álvaro Siza Vieira, Porto

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Neste entendimento, é necessário pensar se a economia, no que toca à qualidade de construção, é de tamanha importância ao ponto de pôr em questão o acesso a um bem primordial. Devemos questionar porque é colocada a necessidade de abrigo dependente de valores qualitativos materiais. A este propósito, Le Corbusier afirmou que “as diversas classes activas da sociedade já não têm um abrigo conveniente, nem o operário nem o intelectual. (...) se arrancarmos do coração e do espírito os conceitos imóveis da casa, e se encararmos a questão de um ponto de vista crítico e objectivo, chegaremos à casa-instrumento, casa em série acessível a todos, incomparavelmente mais sadia que a antiga (e moralmente também) e bela pela estética dos instrumentos de trabalho que acompanham a nossa existência. (...) É uma questão de construção...“26 Neste sentido, entendemos que a habitação deve ser projectada, essencialmente, segundo uma “função-tipo” de modo a responder a uma “necessidade-tipo”. Ou seja, tem de responder às condições físicas que o corpo humano exige para que subsista: a alimentação, o descanso e a higiene. Em consonância, deve ser um local com iluminação, escala apropriada e compartimentada, pois a casa é igualmente um local de privacidade. Desta forma, devemos destinar áreas para determinadas funções, sendo elas de carácter comum ou privado. Uma sala de estar, para a família se reunir. Uma cozinha, para cozinhar. Arrumos, para a roupa e outros utensílios. Casas de banho, para questões higiénicas. Quartos, para dormir.27 Estes são os elementos universais de uma habitação. Se a casa não responder a um destes factores, então, é incompleta: não serve para habitar. Uma casa com piscina, sauna, materiais de construção caros, ou com ornamentos, pode não responder às necessidades do Homem, apesar de poder ser essa a sua vontade. No entanto, se projectarmos funções numa habitação, das quais não se depende para sobreviver, então podemos considerar uma desnecessidade, ou um luxo. Assim como “as cadeiras são feitas para se sentar. (...) As janelas servem para iluminar um pouco, muito, nada e para olhar para fora. (...) Uma casa é feita para ser habitada.”28 Para sobrevivermos numa casa, não necessitamos de luxos, mas sim, de qualidade, o mínimo de conforto e harmonia. Desta forma, “é preciso criar o estado de espírito da série. O estado de espírito de construir casas em série. O estado de espírito de residir em casas em série. O estado de 26 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 159 - 191. [tradução livre]. 27 IBIDEM. p. 65 - 86. 28 IBIDEM. p. 79 - 81.

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figura 7: Modular Home, Construção Alternativa, Batalha

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espírito de conceber casas em série.”29 Neste contexto, a execução da habitação deve apontar os materiais e os métodos de construção como meros meios de realização dos edifícios, e não como factores de encarecimento do objecto arquitectónico. Na medida em que a indústria é capaz de produzir em série e estender o leque de opções e de valores económicos, a construção deve ser reorientada para sistemas alternativos, como a Coordenação Modular, que se revelem acessíveis à maioria da sociedade. (figura 7) Isto é, o custo da construção/habitação deve ser ajustado às capacidades económicas de cada pessoa. Por sua vez, a qualidade deverá ser considerada e atribuída conforme um sentimento de realização pessoal, ou seja, consoante a “emoção-tipo”. Um sentimento comum a todo o ser Humano, mas que, no entanto, é variável entre cada um.30 Assim, a habitação deve ser avaliada qualitativamente, não pelo seu valor comercial, mas pelo sentimento emotivo derivado da resposta a necessidades ou funções intrínsecas do habitat.

2.2. Construção Convencional: Custos

“O homem de hoje alisa até a perfeição uma tábua com uma plaina mecânica em

alguns segundos. O homem de ontem alisava uma tábua bastante bem com uma plaina. O homem muito primitivo aplainava com muita dificuldade uma tábua com um sílex ou uma faca.”31

Relativamente aos problemas que se prendem com a construção convencional, um

dos principais entraves é a tendência para o desprezo da indústria no que toca à execução de elementos de construção. Através da análise histórica da habitação, verificam-se mudanças significativas, mas que, em Portugal, não ocorrem de forma frequente e adequada à situação actual.

A insistência na construção convencional, implica que os edifícios sejam concluídos

em períodos de tempo bastante extensos, podendo ser agravados por factores ambientais e energéticos. Pois se, por um lado, este tipo de processo exige métodos tradicionais e um estaleiro de construção no local, todas as actividades intrínsecas ao projecto e a mão-de29 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 159. [tradução livre]. 30 IBIDEM. Prefácio, XVI. 31 IBIDEM. p. 45.

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figura 8: Estaleiro de Construção

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obra exigidas, reflectem a necessidade de se produzir todos os elementos constituintes desde a sua génese. Por outro lado, as más condições climáticas e a mão-de-obra pouco especializada, podem levar a que a construção seja mais prolongada ou até embargada temporariamente, por situações incondicionais de trabalho ou de incapacidade por parte dos técnicos para resolver determinados problemas. Simultaneamente, a construção convencional reflecte uma produção propícia a erros, o que por muitas vezes exige situações de remendo. Deste modo, o custo/tempo da obra finalizada alcançará patamares bastante elevados.32 O que revela ser inalcançável pela maioria dos portugueses. (figura 8) Esta situação reflecte um constante recurso a empréstimos por uma grande parte dos portugueses. Isto é, os portugueses endividados devem um total de “2,8 mil milhões de euros”33, dos quais “54% das dívidas por pagar resultam de créditos à habitação”34. Uma vez que “1600 euros é o rendimento médio de um casal endividado”35, torna-se difícil ultrapassar o sobreendividamento actual. Deste modo, a questão da habitação encontra-se seriamente comprometida, uma vez que a economia portuguesa se revela numa profunda crise. Segundo Ricardo Gomes36: “O futuro deverá ser marcado com ‘a deterioração das condições de acesso ao crédito’ e Portugal terá de enfrentar um dos ‘mais graves problemas’: o desemprego. (...) Para o sector da construção espera-se, segundo o Boletim de Outono da Comissão Europeia, uma descida no investimento de 3,7% em 2010, com o segmento residencial a revelar os piores resultados. (...) No caso do segmento residencial público espera-se um crescimento de 5%, contra a queda de 14% espectável para o segmento residencial privado. No seu conjunto, a produção deverá cair 7,5%.”37 Resumidamente, com o aumento exponencial do desemprego, num país onde o poder de compra é baixo e a habitação é cara, recorrer a empréstimos acaba por tornar os bens essenciais ainda mais inacessíveis. “Tendo em atenção que 2010 é o Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social, e que, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, cerca de 18% da população portuguesa está em risco de pobreza”38, torna-se importante recorrer a estratégias de poupança que possam estagnar esta situação. Neste sentido, cabe-nos questionar qual o motivo de tender para a execução de 32 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar. 33 TOBARDA, Ana. 2008. Devorados pelas dívidas. in Sábado, 23 de Outubro de 2008. p. 89. 34 IBIDEM. 35 IBIDEM. p. 91. 36 GOMES, Ricardo. Presidente da Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas. in Arte & Construção nº 233, Fevereiro e Março 2010. p. 16 37 FLORENTINO, Chantal. 2010. 2010 “não se adivinha fácil”. in Arte & Construção nº 233, Fevereiro e Março 2010. p. 16 - 17. 38 PALMA, Natacha. 2010. Vila D´Este precisa de Voluntários, in Jornal de Noticias 5/01/2010. p. 16.

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edifícios habitacionais que ficam fora do alcance da maioria dos portugueses. Será que necessitamos de casas caras? Será que a arquitectura deve ser orientada apenas para quem tem posses? “Podemos falar objectivamente de uma arquitectura para ricos? Não há arquitectura para - Não faz muito sentido porque a arquitectura é fundamentalmente uma forma de conhecimento e um produto resultante dessa forma de conhecimento.”39 Uma vez que a construção convencional reflecte ir de encontro às exigências supérfluas de um colectivo da sociedade, beneficiando principalmente os que têm mais posses, todo o processo de elaboração da habitação presente em Portugal, desvaloriza as capacidades de racionalização da construção a fim de poder contrariar a situação de crise económica e beneficiar a maioria. Assim como afirma Nuno Portas40, “ao pretendermos reorientar a indústria de habitações nos meios urbanos grandes (...), há que restabelecer, por exemplo, a confiança nos investimentos das poupanças particulares, na aquisição de casa própria, quando poderia ser mais correcto, de acordo com o ponto de vista geral, não fazer essa política que vai principalmente beneficiar as classes média e alta. Naturalmente que a contrapartida das facilidades de crédito a conceder será a de exigir dos promotores a oferta de habitações a preços muito mais acessíveis, ou seja, mais próximos dos custos de produção.”41 Se a actividade do arquitecto deve ter estes factores em conta, o recurso a estratégias de projecto e a meios construtivos alternativos será, provavelmente, o ponto de partida para melhorar ou finalizar esta situação. Assim como acontece em alguns países no Norte da Europa, principalmente, “as casas modulares pré-fabricadas estão a dar-se a conhecer aos consumidores portugueses que procuram soluções mais simples e económicas para conseguir a tão desejada casa de férias e não só. (...) Preço, mobilidade, rapidez e simplicidade são algumas das vantagens das construções modulares pré-fabricadas. Seja com o propósito de construir uma casa, um restaurante ou um escritório, esta nova tendência está ao alcance de todos os portugueses.”42 Neste contexto, é pertinente afirmar a Coordenação Modular como uma favorável alternativa para construção da habitação portuguesa. Independentemente da tipologia, morfologia ou de outras características pretendidas, este género construtivo expõe a

39 PORTAS, Nuno. (1934) Reputado arquitecto, urbanista e professor. Em 1958 associou-se à revista “Arquitectura”, que veio a dirigir e na qual escreveu textos que lhe valeram o prémio Gulbenkian da Crítica da Arte, em 1963. Disponível na Internet em: «https://sigarra.up.pt/up/WEB_BASE.GERA_PAGINA?P_ pagina=1005744». 40 BYRNE, Gonçalo. cit. por DIAS, Manuel Graça. 2010. Ser Rico. in JA235, 2010. p. 20. 41 PORTAS, Nuno. 2005. Arquitectura(s) - Teoria e Desenho, Investigação e Projecto. Série 2. FAUP Publicações. Porto, 2005. p. 243. 42 FLORENTINO, Chantal. 2010. Nova tendência ganha adeptos. in Arte & Construção nº 233, Fevereiro e Março 2010. p. 34.

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mesma capacidade de resposta das actuais habitações de construção convencional.43 No entanto, ainda existe um factor em falta: a indústria, como ferramenta de construção; “a indústria, potente como uma força natural, (...) tende cada vez mais a transformar os materiais brutos naturais e a produzir o que se chama ‘materiais novos’. (...) Tudo isso, por enquanto, chega desordenadamente nos edifícios em construção, ajusta-se neles de improviso, custa uma mão-de-obra enorme, fornece soluções bastardas. (...) Ninguém se entregou ao estudo dos objectos e menos ainda ao estudo racional da própria construção. (...) Para passar a crise, é preciso criar o estado de espírito de compreensão do que se passa, é preciso ensinar ao animal humano como empregar as suas ferramentas. Quando o animal humano se tiver recolocado nos seus novos arreios e quando conhecer a espécie de esforço que lhe é pedido, perceberá que as coisas mudaram: que melhoraram.”44 Recorrendo à Indústria, a abrangência da produção em série permite a disponibilidade de uma panóplia de produtos, dos mais diversos tamanhos e formas, como automóveis, electrodomésticos, entre outros utensílios, que posteriormente irão estar disponíveis à sociedade e com preços inferiores a uma produção manufacturada e exclusiva. Concomitantemente, a produção industrial implica a planificação das diferentes etapas de produção, o que se reflecte no recurso a matérias-primas ou matérias transformadas em quantidades reduzidas e exactas para um tipo específico de produção. Do mesmo modo, os produtos industriais actuais são projectados para um determinado, e por vezes indeterminado, prazo de vida. Desta forma, a indústria pode garantir uma universalidade de produtos, economicamente acessíveis e menos prejudiciais ecologicamente.45

2.3. Construção Convencional: Ambiente

“A construção civil é reconhecida como umas das mais importantes actividades

para o desenvolvimento económico e social. Por outro lado, caracteriza-se como grande geradora de impactos ambientais, seja pelo consumo de recursos naturais, pela modificação da paisagem ou pela geração de resíduos. O sector tem um grande desafio: conciliar uma actividade produtiva desta magnitude com condições que conduzam a um desenvolvimento sustentável, consciente, menos agressivo ao ambiente.”46 43 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. 44 IBIDEM. p. 161 - 191. [tradução livre]. 45 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. Universidade do Minho. Guimarães. 46 OTTAIANO, Lucienne. 2007. Gestão de resíduos na construção civil: Percepção ambiental dos alunos de arquitectura e engenharia. p. 12.

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figura 9: Habitações em Ruína

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Com efeito, verificou-se um crescendo exponencial de edifícios sem olhar a regras

nem preocupações ambientais. Apenas a partir dos finais dos anos oitenta é que algumas destas questões relacionadas com a problemática ambiental foram ganhando importância no âmbito da arquitectura.47

Actualmente, “aproximadamente 35% dos desperdícios criados no planeta são

formados pela construção.”48

As alterações ambientais apontadas ultimamente são fruto do uso abusivo, por parte

do Homem, dos recursos disponíveis na Natureza. Hoje, não são apenas as pessoas a sofrer consequências. O próprio planeta sofre com o modo como construímos casas, por exemplo. Muitas das casas são construídas com materiais caros e com métodos insuficientes. Uma vez que a maior parte dos elementos de construção são feitos em estaleiro, a quantidade de matéria natural que este processo requer é elevada. No processo de transformação, a maior parte da matéria será aproveitada, mas, dependendo da especialização da mão-deobra, a totalidade dos desperdícios provenientes nunca terão qualquer utilidade e, desta forma, nunca serão reaproveitados para outros fins.

Deste modo, os edifícios e/ou os elementos construtivos têm um ciclo de vida

curto devido à pouca qualidade e à inflexibilidade de reaproveitamento dos mesmos. É importante referir as duas intervenções possíveis, nas quais, estes factores são de realce. Na fase de construção, de raiz ou de recuperação, a matéria natural envolvida é sempre prejudicada. No primeiro caso, a construção de raiz implica a destruição de área natural para dar lugar a um espaço edificado, assim como a matéria-prima demolida no local pode, ou não, ser utilizada para a construção do mesmo. No segundo caso, a demolição do próprio edifício para dar lugar a um novo uso do mesmo terreno, traduz-se num aglomerado de desperdícios de construção antiga e sem possível reutilização.49 Por outras palavras, poucos serão os edifícios actuais acolhidos como património arquitectónico, assim como poucos são os que permitem a reutilização do próprio edifício ou dos seus elementos de construção. Assim sendo, o género construtivo vigente não revela preocupações de longevidade, o que proporciona o aparecimento de edificado arruinado e sem possível reutilização do mesmo ou dos respectivos elementos de construção. A demolição destes gera ainda mais desperdícios.50 (figura 9) 47 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. Universidade do Minho. Guimarães. 48 OSHOUSE. Open Source House [em linha]. [S.l.] : 2009 [Referência de 8 de Junho de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://www.os-house.org/english/ os-house/Open+Source+House». 49 AZEVEDO, Rita Teixeira de. Planeamento e Gestão de Resíduos de Construção e Demolição [em linha]. [S.l.] 2009 [Referência de 9 de Junho de 2010]. Disponível na Internet em: «http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=6&cid=18161&bl=1&viewall=true». ­­ 50 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. Universidade do Minho. Guimarães.

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PRODUÇÃO INDUSTRIAL

PRODUÇÃO INDUSTRIAL

PRODUÇÃO INDUSTRIAL

PRODUÇÃO SEGUNDO O PRINCÍPIO BATNEC

RECICLAGEM

RECICLAGEM SEGUNDO O PRINCÍPIO BATNEC

RECICLAGEM

RECICLAGEM

RECICLAGEM

REDUZIR E REUTILIZAR ?

REDUZIR E REUTILIZAR !

figura10: Processo de Reciclagem

figura 11: Produção segundo o Princípio BATNEC

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REDUZIR E REUTILIZAR !

figura 12: Reciclagem segundo o Princípio BATNEC


“Transferir para os resíduos, (os produtos últimos da cadeia do consumo), os problemas que têm de ser atacados na sua origem, traduz-se na prática numa operação de diversão, em que todos estamos a ser prejudicados.”51 (figura 10) Outro problema apontado é o incumprimento das políticas ambientais implementadas no nosso país. A conhecida política dos 3Rs, cujos fundamentos nos remetem para a Redução, Reutilização e Reciclagem, não tem sido propriamente respeitada. Apesar de se sentir preocupação pelo meio ambiente, podemos constatar que o mais provável é que os consumidores procurem reciclar o produto em final de vida, para depois comprar novo. Ou seja, podemos dizer que reciclamos para mais tarde voltar a reciclar, o que implica a intervenção da indústria constantemente e, consequentemente, o aumento da poluição ambiental, pois o processo de reciclagem implica a reprodução de um produto. Isto é, a intervenção da indústria neste processo é multiplicada em tempo e dedicação em relação à produção original. Caso a primeira produção tendesse para a longevidade dos produtos, a Reciclagem seria desnecessária. Neste sentido, os dois primeiros fundamentos desta política, que deviam ser vistos como prioridades, são praticamente ignorados.52 No que diz respeito à implementação deste conceito, é importante remeter-nos, principalmente, para Reduzir e Reutilizar. Apesar de todos serem importantes, a Reciclagem surge como resposta à tendência de se utilizar em demasia e/ou de não se reutilizar os produtos consumidos. Assim, no âmago da questão, as políticas ao incentivarem a reciclagem, não estão a incidir concretamente no problema. Este, reflecte principalmente a falta de redução e reutilização dos produtos. Deste modo, a aposta na Reciclagem surge como resposta a um erro permanente: a falta de implementação do princípio da Redução do consumo, e da Reutilização dos bens anteriormente consumidos.53 Por outras palavras, existe “uma verdadeira inversão da política dos 3 Rs: diminui-se o tempo de vida útil dos produtos promovendo a sua substituição precoce e, simultaneamente, apresenta-se a reciclagem como a forma amigável de recuperar o deficit ambiental gerado pela onda consumista.”54 Em consonância, relativamente à construção convencional, a política ambiental é tendencialmente ignorada. Este tipo de construção implica sempre um estaleiro de obra e, deste modo, a execução da maior parte dos elementos construtivos, para além de ser 51 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. Universidade do Minho. Guimarães. 52 FEUP. Redução, Reutilização e Reciclagem [em linha]. [Portugal] : Porto, 22 de Abril de 2002 [Referência de 8 de Junho de 2010]. Disponível na Internet em: «http://paginas.fe.up.pt/~jotace/gtresiduos/recic.htm». ­­ 53 IBIDEM. 54 IBIDEM.

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mais demorada em relação à produção industrial, traduz-se na geração de desperdícios incalculáveis e não reutilizáveis ou recicláveis. Neste sentido, os problemas ambientais relacionados com a construção incidem especificamente na demolição e utilização exacerbada de recursos e respectivos desperdícios inerentes à construção.55 Uma vez que em Portugal estas situações são constantes, cabe-nos questionar o porquê de não se tender para um género de construção que vise o reaproveitamento dos materiais de construção, por exemplo. A longevidade de uma componente de construção começa com a extracção de matérias primas utilizadas para a respectiva fabricação, terminando com a sua disposição após a demolição do edifício, ou com a reutilização ou reciclagem do mesmo. Durante o processo estão incluídas as fases de industrialização do material/componente, construção da edificação, manutenção e, inclusive, a fase de transporte.56 57 Neste sentido, devem ser efectuados estudos de viabilidade física, económica e financeira, bem como a programação do desenvolvimento das actividades construtivas. A Coordenação Modular exige um estudo prévio e, por sua vez, a produção industrial, visando contabilizar a matéria natural ao que é estritamente necessário para execução do objecto arquitectónico. Neste entendimento, a indústria pode apoderar-se de estratégias que garantam a durabilidade dos produtos. O principio do BATNEC (Best Available Technology Not Entailing Excessive Cost), representa a possibilidade de a partir de baixos custos, utilizar a tecnologia disponível a fim de produzir, não só em grandes quantidades, mas sim, originar produtos de grande longevidade e igualmente acessíveis. O que, por sua vez, pode ser orientado para a globalidade e ao mesmo tempo, impede o consumismo desenfreado na aquisição de proveitos de curto prazo e passíveis a serem transformados em resíduos.58 Em relação à construção, tanto o princípio do BATNEC, como os conceitos de Reduzir e Reutilizar, devem ser apontados como prioridades, uma vez que a longevidade dos materiais de construção e respectivo reaproveitamento evitam o acumular de desperdícios da construção, não reutilizáveis, em aterros. Deste modo, a produção original, inclusive na área da construção, deve ser projectada de modo a que o tempo de duração dos produtos seja prolongado, não pelo recurso à Reciclagem, mas sim pela sua constante Reutilização e, consequentemente, pela Redução no recurso a múltiplas produções industriais. (figura 11) 55 AZEVEDO, Rita Teixeira de. Planeamento e Gestão de Resíduos de Construção e Demolição [em linha]. [S.l.] 2009 [Referência de 8 de Junho de 2010]. Disponível na Internet em: «http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=6&cid=18161&bl=1&viewall=true». ­­ 56 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. Universidade do Minho. Guimarães. 57 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar. 58 FEUP. Redução, Reutilização e Reciclagem [em linha]. [Portugal] : Porto, 22 de Abril de 2002 [Referência de 8 de Junho de 2010]. Disponível na Internet em: «http://paginas.fe.up.pt/~jotace/gtresiduos/recic.htm». ­­

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No entanto, “reciclar materiais permite reutilizá-los como matéria-prima no fabrico de novos produtos, diminuindo o uso de recursos naturais (muitos dos quais não renováveis). Além disso, fabricar novos produtos a partir de materiais usados consome menos energia do que partir de matérias virgens.”59 Neste sentido, o recurso à Reciclagem, pode ser feito, não apenas dos materiais de construção em si, mas, de produtos industriais (exteriores à construção) desperdiçados, a fim de alcançar matéria-prima ou matéria transformada, para base de produção de novos elementos construtivos e definitivos. Assim, é possível fazer uma inversão da hierarquia do processo da política dos 3 Rs. Ou seja, devemos ponderar Reciclar como ponto de partida para Reutilizar e Reduzir, de modo a incentivar os dois últimos conceitos, e não o primeiro.60 (figura 12) Por exemplo, os veículos acidentados (sem uso), encontrados nas sucatas, podem ser aproveitados pela indústria metalúrgica, a fim de extrair todo o aço, uma vez que é completamente reciclável. Consequentemente, parte deste aço, pode ser orientado para determinados fins como, por exemplo, a execução de perfis metálicos para estruturas de edifícios. (figura 13) Nesta eventualidade, o incentivo ao uso de materiais oriundos deste processo permite a promoção da Reutilização da matéria em si e, do mesmo modo, a Redução do uso de matéria natural, de resíduos poluentes e de custos de fabrico. Deste modo, tencionase Reduzir no recurso à indústria para produção de novos materiais e, por sua vez, nos custos de produção que esta implica. Por outro lado, a disponibilidade de aquisição dos respectivos produtos reciclados, permite que a construção de novos edifícios que tenham por base um projecto que vise intensivamente Reutilizar os elementos que o constituem. Ou seja, caso o edifício não corresponda às expectativas do projecto, depois de cumprir a sua função durante um determinado tempo, o edifício escusa de ser demolido ou passar a ser entulho.61 Poderá, portanto, ser desmontado a fim de se obter todo um conjunto de elementos construtivos necessários para que possa ser montado novamente e transformado num edifício novo. Um desses exemplos é o Crystal Palace de Joseph Paxton, construído em 1851 para a Grande Exposição Industrial de Londres, mas com a particularidade de ter suas componentes estruturais standardizadas e montadas por aparafusamento. O que, em 1854, no final da sua função como edifício expositivo, permitiu a sua desmontagem,

59 DECO. Como contribuir para uma reciclagem mais eficiente? [em linha]. [S.l.], Janeiro de 2007 [Referência de 9 de Junho de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.deco.proteste.pt/residuos-e-reciclagem/como-contribuir-para-uma-reciclagem-mais-eficiente-s433991.htm». ­­ 60 IBIDEM. 61 FEUP. Redução, Reutilização e Reciclagem [em linha]. [Portugal] : Porto, 22 de Abril de 2002 [Referência de 8 de Junho de 2010]. Disponível na Internet em: «http://paginas.fe.up.pt/~jotace/gtresiduos/recic.htm». ­­

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figura 13: Reciclar para Reutilizar

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acabando por ser transferido e remontado em Sydeham, onde ainda persiste.62 63 Com esta intenção podemos destacar a longevidade dos materiais de construção, assim como a continuidade de existência de edificado. Podemos até, se quisermos, falar em Reciclar edifícios, sem recorrer à indústria. A sustentabilidade da construção é assim possível de ser alcançada.

2.4. Construção Alternativa: Coordenação Modular

“A democracia não só é o menos mau dos sistemas que soubemos descobrir como é

costume dizer-se, é também, apesar de todas as insuficiências e perversões até pela lógica da “sociedade de consumo”, um sistema que permite a distribuição sempre mais alargada de reais benefícios que a ciência, a montante, vai introduzindo no conhecimento universal, que a indústria produz e que os arquitectos têm a obrigação de utilizar, testar, adaptar, racionalizar e exigir, contribuindo para uma inteligente, séria, honesta e realista integração no universo da construção mais banal que é o da maioria das populações. Nunca descurando que é a ordenação poética o seu mester principal e que, no equilíbrio das partes a articular, lhe cabe a ele (arquitecto) a responsabilidade maior de encontrar as sínteses felizes que atestam a possibilidade da boa arquitectura, e logo, de uma vida mais harmónica.”64

As capacidades tecnológicas desenvolvidas nos últimos tempos demonstram que

a indústria foi, e é capaz de fornecer condições melhoradas de construção. Desde o início do século passado que se afirma a tendência para a construção industrializada como uma questão pertinente. Com a descoberta dos novos meios de construção provenientes da Revolução Industrial, vários arquitectos e outros intervenientes na área da construção desenvolveram protótipos e, até mesmo edifícios, nomeadamente de habitação, através de métodos de construção alternativos.

O conceito de Coordenação Modular foi então considerado, pois expunha

características que aglomeravam a globalização e a racionalização de todo um conjunto de complementos da actividade da construção.65 Assim como na grande parte dos países desenvolvidos, a norma da Coordenação Modular decimétrica (módulo de dez centímetros) 62 BEHLING, Sophia e Stefan. 1996. Sol Power - La evolución de la arquitectura sostenible. Editorial Gustavo Gili, s.a.. Barcelona, 2002. p. 138 - 141. 63 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves, 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 9 - 11. 64 DIAS, Manuel Graça, 2000. cit. por CANNATÀ, Michele, FERNANDES, Fátima. A tecnologia na Arquitectura Contemporânea. Lisboa, Estar Editora, 2000. p. 25. 65 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP. 2007.

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figura 14: Sismo em Port au Prince, Haiti

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foi aprovada em Portugal desde 1953. Esta estratégia favorece a construção visto que, segundo uma base de medida standard entre os vários países, permite a racionalização da produção industrial dos diversos elementos construtivos e respectivas aplicações normalizadas, de modo rápido e acessível, independentemente das características exigidas pela construção de cada edifício num local específico.66 A este propósito, Marta Fino67 refere: “uma solução inovadora pela versatilidade e flexibilidade que oferece aos clientes, com níveis de resistência e durabilidade muito elevados, eliminando os aspectos negativos associados à construção convencional. (...) A rapidez de execução em fábrica e de montagem em obra; a possibilidade de mobilidade futura; a flexibilidade na escolha de materiais e o preço são as grandes vantagens da construção modular pré-fabricada. (...) O nosso sistema construtivo está sujeito às mesmas regras e exigências de qualquer outro sistema construtivo apesar de serem totalmente amovíveis. Assim sendo, a necessidade de licenciamento está dependente da classe de espaço do terreno definida no respectivo Plano Director Municipal.”68

No entanto, em países como Portugal, a industrialização da construção é parcialmente

desprezada. Neste sentido, Le Corbusier afirmava que “a ferramenta humana estava sempre na mão do homem: hoje, totalmente renovada e formidável, escapa momentaneamente da nossa mão.”69 Apesar de haver muitos elementos de construção de origem industrial, a totalidade do edifício raramente é executada segundo este conceito. Por outras palavras, cada edifício é visto e executado como um caso excepcional, o que implica a implementação dos vários métodos de projecto e de construção, única e exclusivamente para um propósito. O que se reflecte como factor de encarecimento dos processos construtivos, sem olhar a condições ambientais.70

O reflexo das capacidades industriais que permitiram novas concepções

habitacionais surgiram na Alemanha, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos da América num ambiente de destruição e falta de habitação.71 A destruição massiva, proveniente das Guerras Mundiais e de catástrofes naturais, mostraram a fragilidade da construção das habitações perante tais acontecimentos. Neste sentido, o ser humano, impotente 66 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP. 2007.. p. 31. 67 FINO, Marta. Autora do projecto Modular Homes, desenvolvido pela empresa SIT Modular Solutions. in Arte & Construção nº 233, Fevereiro e Março 2010. p. 16 - 17. 68 FLORENTINO, Chantal. 2010. Construção modular pré-fabricada. in Arte & Construção nº 233, Fevereiro e Março 2010. p. 34 - 35. 69 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 191. 70 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar. 71 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves. 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 9.

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figura 15: Baixa Pombalina, Lisboa

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perante estas situações, ainda não conseguiu implementar um tipo de construção de rápida execução e capaz de responder às necessidades dos que sofrem nestas ocasiões.72 Em casos de catástrofes naturais, muitos dos sobreviventes desalojados são forçados a viver em pequenas tendas de campismo, sem condições básicas nem salubridade.73 Apesar das campanhas de ajuda lançadas por todo o planeta procurem angariar fundos monetários para que a requalificação dessas zonas seja concretizada, a reconstrução das habitações para o elevado número de necessitados, continua a encontrar dificuldades.74 Pois a construção convencional não é capaz de obter nem rapidez, nem acessibilidade económica para solucionar esta situação. (figura 14) A título exemplificativo, assim como já aconteceu em Portugal, no primeiro dia de Novembro do ano 1755, a capital portuguesa sofreu o impacto de um terramoto de grande escala, seguido de um maremoto, o que originou diversos incêndios e demolição de grande parte do edificado da actual Baixa Pombalina. Naquela altura, a solução do problema envolveu métodos de construção invulgares no país. O aparecimento da chamada “gaiola” (estrutura de madeira) permitiu que os portugueses explorassem as capacidades deste tipo de intervenção perante catástrofes daquele género. Por outro lado, através do uso de madeira (material resistente a fortes oscilações), a execução de vários componentes padronizados e produzidos em massa, possibilitaram a construção de estruturas para edifícios com maior longevidade. Os actuais edifícios da Baixa Pombalina foram desenvolvidos segundo esta técnica e, desde então, mantêm-se intactos.75 (figura 15) Contudo, actualmente, nem todos os edifícios de habitação são projectados nestas circunstâncias. Neste contexto, cabe-nos questionar o que aconteceria aos portugueses se voltassem a presenciar um acontecimento desta magnitude. O que aconteceria se ficássemos sem casas? Continuaríamos a valorizar a casa pelas extravagâncias económicas ou pela necessidade de sua aquisição? Como as reconstruiríamos? Do mesmo modo, no período compreendido entre as grandes guerras, Walter Gropius e Le Corbusier, desenvolveram vários edifícios de habitações para um elevado número de pessoas. São exemplos, a Propriedade Residencial em Dessau-Törten (figura 16) e Les Quartiers Modernes Frugès em Bordeaux-Pessac (figura 17), respectivamente. 72 INSTITUTE OF URBAN DESIGN. Rebuilding a Susteinable Haiti: Symposium [em linha]. [S.l.] 6 de Abril de 2010 [Referência de 25 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.ifud.org/haiti/». ­­ [tradução livre] 73 LUSA. Sismo no Haiti [em linha]. [Portugal] Lisboa, 12 de Julho de 2010 [Referência de 15 de Julho de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://sic.sapo. pt/online/noticias/mundo/Seis+meses+depois+do+sismo+no+Haiti+a+remocao+de+escombros+e+o+principal+problema.htm». 74 AMI. Saiba como ajudar o Haiti [em linha]. [Portugal] Lisboa, 14 de Junho de 2010 [Referência de 15 de Julho de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http:// sic.sapo.pt/online/sites+sic/sic+esperanca/novidades/haitiapoio.htm». 75 BARBOSA, Maria Gabriela. 2001. Standard, Pré-fabricação e Arquitectura: Conceito e Preconceitos. FAUP. Porto, 2001. p. 21 - 29.

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figura 16: Propriedade Residencial, Dessau-Tรถrten, 1926-1928

figura 17: Les Quartiers Modernes, Bordeaux-Pessac, 1925

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Naquela altura, o facto de os vários sectores industriais se encontrarem em recuperação ou em desenvolvimento, assim como os elementos pré-fabricados serem escassos, levou a que ambos arquitectos procurassem executar os seus edifícios através de processos maioritariamente artesanais e com materiais encontrados nas proximidades, o que, inicialmente, se reflectiu negligente no cumprimentos dos objectivos propostos. No entanto, quando a indústria se começava a recompor, com o acesso a novas tecnologias e a permeabilidade do cumprimento das fases de execução segundo linhas de montagem, de modo contínuo e quase ininterrupto, foi possível construir casas em tempo reduzido e baratas o suficiente para serem compradas pela classe operária.76 77 Com o acesso a novos materiais e técnicas construtivas, a indústria forneceu à arquitectura inovações que a transformaram completamente. Os edifícios desenvolvidos naquela época conseguiram reeducar o público, através das novas concepções formais, ou pelas capacidades da nova construção que conseguia alcançar feitos nunca antes assistidos. O facto de os produtos industriais serem bastante flexíveis, permitiram a elaboração de edifícios em altura, como é o caso dos arranha-céus.78 Consequentemente, uma das revelações mais importantes, provenientes do entre e pós guerra, foi a investigação à volta do espaço habitacional mínimo, que permitiu o alojamento de um maior número de pessoas, nos chamados edifícios de habitação colectiva. Assim, “a casa unifamiliar foi concebida como uma máquina para viver e o edifício colectivo como uma fábrica de habitação.”79 Neste sentido, podemos dizer que a indústria permitiu mudar completamente a perspectiva de viver as nossas casas. Hoje podemos dizer que a indústria foi a ferramenta impulsionadora da era Modernista da Arquitectura. Do mesmo modo, as capacidades e abrangência da indústria garantem instrumentos favoráveis à construção. “Os instrumentos do homem marcam as etapas da civilização, a idade da pedra, a idade do bronze, a idade do ferro. Os instrumentos, procedem de aperfeiçoamentos sucessivos; acumula-se neles o trabalho de gerações. (...) Em todos os domínios da indústria, colocaram-se problemas novos, criou-se um instrumento capaz de resolve-los.”80 As mais diversas situações e questões consideradas problemáticas para o Homem, incentivaram constantes iniciativas para encontrar soluções de forma simplificada e exacta, a fim de dar resposta a determinadas dúvidas. 76 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves. 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 14. 77 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 52 - 53. 78 IBIDEM. p. 40 - 67. 79 TEIGE, Karel. 1932. The Minimum Dwelling. MIT, 2002. p. 232. 80 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 5. [tradução livre].

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figura 18: Charlie Chaplin in Modern Times, 1936

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A ferramenta pode ser considerada um “instrumento ou utensílio empregado numa arte ou ofício (...) conjunto de utensílios para exercer uma profissão”81. No entanto, podemos referir, de modo figurado, que a ferramenta é o “meio que se emprega para realizar determinado objectivo”.82 Assim como se marcaram as etapas da civilização através do nome dos utensílios, a que o Homem recorreu para cumprir os diferentes propósitos, hoje podemos dizer que a indústria é a nossa ferramenta.83 (figura 18) Neste entendimento, o Homem actual não encontra as dificuldades que os seus antepassados tiveram. Hoje vivemos em constante contacto com produtos originários da indústria. Hoje somos dependentes da indústria. Contudo, no que diz respeito à construção, a indústria é constantemente menosprezada. A ferramenta que poderia ser mote para construções totalmente racionalizadas, desde a parte estrutural do edifício até aos pormenores construtivos, é posta de lado.84 Sendo o conceito da Coordenação Modular sustentado pela construção industrializada, é possível criar caminhos que solucionem os problemas apontados. Deste modo, cabe-nos questionar porque é que em Portugal se afasta a indústria da construção, quando revela ser um meio que possibilita melhorias neste sector. Será correcto considerar este conceito apenas em situações emergentes? Por outro lado, porque continuamos a insistir em construir e remendar para demolir e, consequentemente, repetir o processo? A Arquitectura de Coordenação Modular pode ser a resposta. No entanto, existe um preconceito, factor que impede o estudo e a prática desta estratégia e, que será explanado no capítulo adjacente.

81 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Ferramenta [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 14 de Abril de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/ferramenta». 82 IBIDEM. 83 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 5 - 10. 84 IBIDEM. p. 57 - 102.

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figura 19: Inapal Metal, Menos ĂŠ Mais, Palmela

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3. O Preconceito do Conceito “Para os arquitectos existe um fascínio permanente na questão de como deve ser constituída a forma, de modo a obter significado e qualidade. As sensibilidades, regras e normas que, em Arquitectura, determinam aspectos significativos e qualitativos válidos, encontram-se tanto nos sentidos do indivíduo como no mundo das ideias e dos materiais. Contextos morais, culturais e ideológicos mais vastos influenciam e chegam a intervir directamente na concepção e execução de edifícios. O fluxo dessas forças, que dão forma a qualquer edifício ou estrutura urbana colectiva, é amplo, descontínuo e, para muitos leigos, completamente nebuloso.”1 Neste capítulo, pretende-se explicitar o mau entendimento do conceito da Coordenação Modular. O pouco incentivo para a prática de sistemas construtivos alternativos, é reflectido através de considerações por parte de profissionais ou outros, que não se relacionam directamente com a área da construção. Deste modo, é importante referir as condições e conceitos inerentes à Coordenação Modular, assim como aclarar a definição deste conceito, para que possa ser visto como uma potencial ajuda e não como a aparente ameaça ao sector da construção civil que se verifica actualmente. O mundo como o perspectivamos hoje, quer a nível do real percepcionado quer a nível do idealizado, encontra-se ricamente ornamentado com todas as tendências que a Arquitectura foi desenvolvendo. A definição de um conceito pode ser atribuída pela “compreensão que uma pessoa tem de uma palavra; noção, ideia.”2 Em Arquitectura, o conceito permite que a partir de uma ideologia se consiga definir um percurso na prática, a fim de dar resposta a um problema referente a uma ideia, forma, programa e/ou a pormenores construtivos. Neste contexto, o arquitecto procura estudar as mais variadas possibilidades para que, de modo inteligível, simplifique a sua prática e, consequentemente, consiga expor ideais específicos para determinada solução em projecto, ou posteriormente, em construção.3 (figura 19) A Arquitectura de hoje, é o reflexo da fusão das vertentes artísticas passadas provenientes de um percurso na História em que, progressivamente, o Homem foi criando novas ideologias influenciado pelos desenvolvimentos sociais, culturais, políticos, 1 WANG, Wilfred. 2008. Standard, in JA235. 2008. p. 18. 2 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Conceito [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 10 de Junho de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/conceito». ­­ 3 WANG, Wilfred. 2008. Standard. in JA235, 2008. p. 18 - 21.

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figura 20: Ponte D. Lu铆s, Gustav Eiffel e Te贸filo Seyrig, 1887

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económicos, mas principalmente, pela evolução da tecnologia. Importa relevar que a Revolução Industrial veio transformar completamente o Homem e, por sua vez, a Arquitectura naquilo a que podemos assistir actualmente.4 (figura 20) Uma das manifestações patentes das constantes alterações face às novas exigências de construção verificaram-se durante o século XX, e vários foram os arquitectos e engenheiros que se interessaram e exploraram a industrialização no que toca às possibilidades técnicas, construtivas e espaciais que esta permitia. Consequentemente, sendo a indústria a nova ferramenta de construção, levou muitos destes profissionais a desenvolver novos materiais de construção, como o betão, o aço e o vidro, o que originou um extenso leque de conceitos arquitectónicos sem antecedentes, quer a nível estrutural, quer a nível formal. A Arquitectura Modernista encontrou a sua génese com a industrialização dos meios de construção.5 6 Contudo, sendo a indústria o meio que permitiu expor as novas capacidades técnicas de construção, o recurso à sua industrialização, que nalguns casos foi, e noutros casos poderia ter sido, a estratégia mais adequada, nem sempre foi bem visto por um colectivo da sociedade (arquitectos e intervenientes na actividade), cuja mentalidade impediu a concretização de uma Arquitectura industrializada. Estes admitiam a inserção de uma nova linguagem estética e de uma nova espacialidade, no entanto, não aceitavam o drástico corte com o passado que era implícito. Por outro lado, apontavam a falta de qualidade nestes produtos industriais submetidos à standardização da produção. Uma vez que uns arquitectos acreditavam que os custos de construção podiam e deviam ser monitorizados, assim como o tempo de construção do edifício devia ser reduzido substancialmente, outros afirmavam que os direitos dos consumidores seriam desrespeitados.7 Na verdade, tanto no estrangeiro como em Portugal, as poucas habitações realizadas segundo o conceito de Coordenação Modular foram alvo de considerações sociais que contrariaram completamente a intenção deste tipo de intervenção projectiva e construtiva. Os primeiros protótipos ou exemplos de habitação fundamentados neste conceito arquitectónico revelaram-se insuficientes e negligentes no que toca ao cumprimento dos objectivos construtivos e económicos, principalmente.8 9 Deste modo, convém referir que estes mesmos exemplos foram desenvolvidos numa época em que a industrialização da construção ainda não era aceite, inclusive 4 BEHLING, Sophia e Stefan. 1996. Sol Power - La evolución de la arquitectura sostenible. Editorial Gustavo Gili, s.a.. Barcelona, 2002. 5 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves, 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 9 - 24. 6 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. 7 WANG, Wilfred. 2008. Standard. in JA235, 2008. p. 18 - 21. 8 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 52. 9 SIZA, Álvaro. 1998. Imaginar a Evidência. Edições 70. Lisboa, 2009. p. 107.

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figura 21: Sátira à casa pré-fabricada, Buster Keaton´s “One Week”, 1920

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por arquitectos. “No congresso da Deutsche Werkbund de 1914, a discussão em torno da estandardização já tinha deixado claro o que e quem lhe resistiria. Perante a visão pragmática de Muthesius, Henry van de Velde explicitara: «Enquanto houver artistas na Werkbund, e enquanto eles exercerem alguma influência no seu destino, protestarão contra qualquer sugestão de estabelecimento de um cânone, de estandardização. Pela sua mais intrínseca essência o artista é um fervoroso idealista, criador livre e espontâneo. De sua livre vontade nunca se submeterá a uma disciplina que lhe imponha um tipo, um cânone. (...) Sabemos que várias gerações terão de trabalhar sobre o que nós começamos, antes que a fisionomia do novo estilo seja estabelecida, e que só poderemos falar de standards e de estandardização após um período completo de tentativas.»”10 Mesmo na área do cinema, este género de construção foi alvo de crítica. No filme “One Week”11, Buster Keaton gera uma comédia em torno da construção de uma casa pré-fabricada para um casal recém-casado. Nesta história, todo um conjunto de situações caricatas passadas pelo casal, revelam as capacidades inventivas de Buster Keaton para responder ao instinto de sobrevivência e, deste modo, a casa foi possível de ser concluída em apenas uma semana. Contudo, o facto de ser o próprio a construí-la, reflecte-se numa casa de construção insuficiente e frágil. Por outras palavras, este filme critica todo o processo da construção da casa pré-fabricada daquela época. (figura 21) Contudo, desde o início do século XX que podemos constatar exemplos de Arquitectura segundo novos modos de habitar, novos sistemas estruturais e construtivos, o que relevou as suas idealizações em situações de pós-guerra ou, eventualmente, em situações de catástrofes naturais.12 13 Com o passar do tempo, a tendência para uma construção recorrente à indústria começou a ganhar relevância. Actualmente, podemos consultar catálogos de empresas de construção e optar por um leque de elementos construtivos produzidos industrialmente.14 Contudo, estas empresas apenas fornecem escolhas referentes a um pequeno grupo de elementos de construção, o que não permite a realização total do edificado. Assim, na execução da estrutura e de muitos outros elementos intrínsecos à construção, ignora-se tal relação com a indústria para a produção em massa da totalidade dos constituintes da

10 MONTEIRO, Pedro Cortesão. 2008. Espírito da Série. in JA230, 2008. p.22. 11 Filme realizado por Buster Keaton & Edward Cline, 1920. 12 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. 13 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. 14 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 11 - 13.

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construção de um edifício.15 Hoje exige-se um estaleiro no terreno propício a intervenção, o que se reflecte numa construção de propósito exclusivo, tornando os custos da construção bastante elevados, pois implica bastante mão-de-obra e tempo gasto a construir e, muitas vezes, a remendar. Desta forma, podemos dizer que a construção convencional se baseia na fusão de técnicas construtivas tradicionais com os elementos de construção provenientes das técnicas modernizadas, racionalizadas e mecanizadas da indústria. Por outras palavras, a estrutura e outras componentes do edifício são realizadas, quase artesanalmente, no local e, posteriormente, a construção encontra o seu fim com a associação de caixilharias, portas, revestimentos, entre outros elementos provenientes da produção massiva da indústria segundo bases standard.16 No entanto, ao falarmos de um standard em arquitectura, o senso comum actual remete-nos para um preconceito, normalmente associando a indústria e os produtos provenientes desta, subentendendo, repetição, monotonia, banalidade, entre outras características pejorativas. Eventualmente, esse mesmo entendimento gera confusão e uso indiscriminado e indiferenciado do conceito.17 Na verdade, o conceito standard torna-se bastante abrangente, fazendo parte de diversas áreas da sociedade. Desta forma, encontramos certa dificuldade em entender o propósito de se atribuir este adjectivo a diversos aspectos que constituem a prática da arquitectura, tornando-o de forma genérica, aplicável a qualquer tipo de construção. Podemos falar de uma forma standard, de elementos construtivos standard, de sistemas construtivos standard, ou até, de habitação standard. Assim sendo, não conseguimos entender exactamente quais são os limites possíveis de um standard na arquitectura.18 Tendo por base uma sociedade para a qual a construção convencional e desprovida de regras, ainda é o meio onde a nossa actual arquitectura se desenvolve, torna-se evidente a necessidade de esclarecimento face a este conceito pouco explorado. Neste sentido, reconhecendo a falta de entendimento e clareza de uma Arquitectura com base na Coordenação Modular, urge uma objectiva e simplificada distinção, e definição dos conceitos básicos mencionados, nomeadamente, o Standard, a Industrialização e a Préfabricação. 15 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP. 2007. 16 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. Guimarães. 17 WANG, Wilfred. 2008. Standard. in JA235, 2008. p. 18 - 21. 18 IBIDEM. p. 18 - 21.

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Por sua vez, perceber o que é a Coordenação Modular, tornará mais legível e compreensível a ligação entre os conceitos anteriormente referidos. Só assim conseguimos entender o objectivo de uma Arquitectura com base na construção industrializada segundo a Coordenação Modular.

3.1. Standard

O conceito standard não é recente, apesar da definição o ser. Possivelmente, sempre

existiu.19 Actualmente podemos definir standard como regras “padrão, modelo, tipo”20, que “obedecem a parâmetros convencionados”21 e que são “os sucessores modernos das leis antigas, (...) medidas exteriores de uma civilização industrializada”22. Mas muito antes da Revolução Industrial, já podíamos encontrar elementos standard. Desde a Pré-História que podemos constatar evidências disso mesmo.23 A partir do momento em que o Homem desenvolveu raciocínios, capacitando-o para exercícios que facilitassem o seu dia-a-dia nas mais diversas actividades, podemos dizer que vivemos comutativamente com a standardização. Referindo a invenção de uma linguagem comum a dois indivíduos ou mais, a elaboração de um conjunto de setas que permitissem a caça e a aquisição de alimento, ou ainda, a esquematização de processos que permitiram a invenção do fogo. Apesar das diferentes fontes de combustão, este fundamento sempre acompanhou o Homem e hoje podemos encontrá-lo num simples isqueiro. As letras e os números também são exemplos de standards. Cada qual tem um significado ou valor específico e como tal, são reconhecidos e entendidos de forma comum na maior parte do planeta. Na Matemática, o próprio raciocínio de cálculo segue normas ou standards, isto é, todos sabemos que 2+2=4, 2-2=0, 2x2=4 ou 2:2=1, e assim sucessivamente. Caso não se respeite o processo, então executa-se um raciocínio incorrecto, fora da norma, e por isso, não standard.24 Entendemos que um standard implica um pensamento padrão. Representa19 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP. 2007. p. 15. 20 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Standard [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 18 de Abril de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/standard». ­­ 21 IBIDEM. 22 WANG, Wilfred. 2008. Standard, in JA235, 2008. p. 18. 23 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 41 - 47. 24 WANG, Wilfred. 2008. Standard, in JA235, 2008.

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figura 22: Standards

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se a partir de uma forma ou significado tipo. Segue uma sequência irreversível. Implica uma regra. É comum a dois ou mais seres Humanos da mesma cultura ou de diferentes sociedades.25 Neste contexto, convém referir que qualquer standard é objecto puramente criado pelas capacidades racionais e inventivas do Homem. Na Natureza, as formas orgânicas que podemos encontrar, não seguem qualquer tipo de regra. Deste modo, as dificuldades enfrentadas num ambiente austero e sem leis, levaram a que as necessidades e pensamentos comuns a um colectivo da sociedade fossem sujeitos à racionalização e criação de conceitos como a standardização. Para que o Homem subsista, depende de regras lógicas e irreversíveis, assim como seus respectivos cumprimentos. Desta forma, os limites dos standards são indefinidos. Contudo, se nos descartarmos da sua flexibilidade, o seu objectivo é desintegrado. Os standards são importantes, úteis e flexíveis para a civilização contemporânea se forem compreendidos, respeitados e mantidos. Caso contrário, viveríamos um dia-a-dia sem leis, sem segurança, sem electricidade, de emissões de poluição tóxica e sonora mais elevadas, de trânsito caótico, entre outros factores prejudiciais ao bem-estar do Homem. Se os standards forem vistos como uma regra indispensável e incontornável, conseguiremos alcançar o bem-estar global.26 (figura 22) Em Arquitectura, a utilização de um standard como base de referência de dimensão, remete para a utilização de módulos. Ou, segundo a palavra latina (modulus) que significa “pequena medida”.27 Assim, um standard/módulo para a construção de uma ideia arquitectónica deve seguir uma unidade numérica em que “todos os componentes são múltiplos do módulo”.28 Por outro lado, deve seguir um factor numérico destacando a “correlação entre os termos de uma série de números ou entre as dimensões de uma gama de grandezas”.29 Neste contexto, o standard como a base de um processo arquitectónico, deve envolver todas as suas actividades adjacentes, implicando que tanto o projecto como a construção e os respectivos intervenientes na actividade, obdeçam a uma coordenação dimensional que pode partir da representação de uma simples unidade de medida e da sua capacidade de multiplicação e agregação. Deste modo é possível a definição de standards em diferentes escalas, destacando uma área, ou mesmo um volume, que permitam a racionalização da construção. Neste sentido, os elementos constituintes da construção 25 WANG, Wilfred. 2008. Standard, in JA235, 2008. 26 IBIDEM. p. 18 - 21. 27 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar. 28 IBIDEM. 29 IBIDEM.

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figura 23: Produção Industrial

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devem seguir as condicionantes rigorosas explícitas, através dos standards, no projecto.30 No que diz respeito à habitação, convém acrescentar que “não é viável imaginar

uma solução para os grandes problemas habitacionais sem um considerável aumento na produtividade da indústria de construção.”31 Deste modo, a indústria é a ferramenta mais apropriada para a realização de standards de construção.

3.2. Industrialização A industrialização surgiu durante o século XVIII e identifica-se, ao longo do tempo, com a evolução das ferramentas e máquinas para a produção de bens, ou seja, com a evolução da Mecanização e da Robótica e com a Racionalização da Construção.32 (figura 23) Podemos entender que “a industrialização é um método baseado essencialmente em processos organizados de natureza repetitiva, nos quais a variabilidade incontrolável e casual de cada fase de trabalho, que caracteriza as acções artesanais, é substituída por graus pré-determinados de uniformidade e continuidade executiva, característica das modalidades operacionais ou totalmente mecanizadas.”33 Por outras palavras, a industrialização é a junção das capacidades da mecanização e da automatização de tarefas com o processo de racionalização que engloba o projecto, gestão e tecnologias disponíveis, aplicando os melhores métodos no processo integral de demanda, desenho, fabricação e construção.34 Segundo Nuno Portas, “a industrialização da construção, sobretudo na sua forma de pré-fabricação, constitui actualmente um tema cujo interesse excede largamente o da estrita tecnologia - vindo a ser abordada em estudos de desenvolvimento económico, de investimento na habitação, ensino ou saúde, de distribuição de mão-de-obra, de produtividade do sector, desde o projecto à edificação.”35 Com o surgimento da industrialização (1760), a mecanização das operações e a racionalização da produção, começaram a alcançar importante relevância. Com as revoluções que se instalaram, o pensamento colectivo sofreu transformações. O Iluminismo, “em 1780 provocou profundas mudanças sociais por toda a Europa. Os objectivos dos revolucionários

30 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235. 2007. p. 11. 31 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar. 32 IBIDEM. 33 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. 34 ARAÚJO, Marcelo. s.d.. Aspectos Tecnológicos e Produtivos do Desenvolvimento e Aplicação de Sistemas Construtivos. 35 PORTAS, Nuno. s.d.. Industrialização da Construção - Política Habitacional.

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foram a liberdade, a igualdade e a fraternidade.”36 Deste modo, o início da Era Industrial deu-se com a primeira Revolução Industrial (1760-1770). Em 1769, James Watt registou a patente da máquina a vapor, para que, em conjunto com Matthew Boulton, a pudesse fabricar. Este acontecimento pôs em marcha a industrialização europeia. “O engenheiro John Rennie instalou no moinho Albion, Londres, duas máquinas a vapor Boulton & Watt para accionar mós, guinchos, gruas e outros elementos. Assim nasceu a fábrica moderna.”37 Desta forma, a máquina passou a reproduzir, de certa maneira, as mesmas acções artesanais anteriormente executadas.38 39 Numa primeira fase, “a Revolução Industrial provocou uma mudança do estilo de vida como havia acontecido séculos atrás com a revolução agrária.”40 Deste modo as cidades começaram a crescer a velocidades vertiginosas, pois a maioria das pessoas procuraram trabalhar nas novas fábricas. Assim, trocaram a vida rural pela vida de melhores condições de trabalho encontradas nas cidades. Por volta de 1860, deu-se a Segunda Revolução Industrial. Esta foi marcada com o aparecimento de máquinas motorizadas e reguladas, capazes de substituir o Homem na capacidade de repetir um ciclo sempre igual. As novas máquinas de produção e os meios de transporte desenvolvidos neste período, permitiram a evolução da indústria e respectiva produção.41 Desta forma, desenvolveu-se o estudo do método de produção e o estudo do tempo de produção. Assim, os novos meios de produção conseguiram alcançar patamares mais elevados, levando os operários a executarem pequenos movimentos, exigindo menor esforço físico e em menos tempo, de modo a obter melhores resultados qualitativos e económicos.42 Contudo, a indústria actual é o reflexo de desenvolvimentos gerados durante o século XX. Desta forma, a evolução dos sistemas industrializados apresenta três fases sucessivas. A primeira aconteceu no final da Segunda Guerra Mundial, prolongando-se até ao início dos anos cinquenta e é caracterizada pela complementação dos métodos tradicionais, procurando o aumento do nível tecnológico e da escala de produção. A segunda fase (década de cinquenta) é marcada pela consolidação dos sistemas mais adequados, eliminando os que não eram competitivos nem aceitáveis para os consumidores. A terceira (finais dos anos sessenta) e, provavelmente, a mais importante, caracteriza-se pela introdução de métodos 36 BEHLING, Sophia e Stefan. 1996. Sol Power - La evolución de la arquitectura sostenible. Editorial Gustavo Gili, s.a.. Barcelona, 2002. p. 128. [tradução livre] 37 IBIDEM. p. 130. [tradução livre] 38 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar. 39 BEHLING, Sophia e Stefan. 1996. Sol Power - La evolución de la arquitectura sostenible. Editorial Gustavo Gili, s.a.. Barcelona, 2002. p. 128 - 130. 40 IBIDEM. p. 129. [tradução livre] 41 IBIDEM. p. 128 - 130. 42 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar.

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científicos aos empreendimentos com o objectivo de diminuição de custos finais, frente aos sistemas tradicionais. O surgimento da automatização e da robótica deu-se nesta última fase, o que, consequentemente, libertou o Homem de tarefas repetitivas, monótonas e até perigosas, confinando melhor qualidade ao produto final.43 Desta forma, a indústria tornou-se um meio para obter quantidade, qualidade e rapidez de produção, com a finalidade de alcançar um maior número de consumidores. Contudo, em relação à construção, a indústria actual encontra dificuldades na sua implementação. As vantagens da produção industrial não abrangem todos os aspectos envoltos na construção civil. Assim, quando se fala em produção industrializada de elementos de construção, não implica que esta seja industrializada. Por conseguinte, podemos considerar dois tipos de construção parcialmente industrializada. Por um lado, o edifício pode ser composto por alguns elementos provenientes da indústria, sendo o resto da obra complementado com métodos tradicionais. Por outro, a obra pode ser totalmente feita com produtos pré-fabricados de origem artesanal ou não mecanizada.44 “Industrialização da construção é um processo evolutivo que, através de acções organizacionais e da implementação de inovações tecnológicas, métodos de trabalho, e técnicas de planeamento e controle, objectiva incrementar a produtividade e o nível de produção e aprimorar o desempenho da actividade construtiva.”45 Para se poder considerar uma construção industrializada, todo o edifício teria de seguir um processo de construção totalmente industrializado, isto é, todas as partes constituintes da obra teriam de ser produzidas numa linha de montagem mecanizada e de origem industrial. Neste contexto, devemos ter em conta os conceitos de industrialização fechada e industrialização aberta.46 No primeiro caso, a indústria tem como fim, produzir elementos exclusivos para um produto restrito. Assim, os elementos constituintes desse produto, são produzidos com o propósito de não poderem ser associados a objectos de outras produções.47 Esta situação é comum na indústria automóvel, cada marca desenha e produz portas para um modelo de carro específico. No entanto, essa mesma porta, não serve para outro modelo da mesma marca, ou a outros carros de marca diferente. A industrialização aberta, visa produzir com o intuito de tornar os seus produtos 43 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar. 44 BARBOSA, Maria Gabriela. 2001. Standard, Pré-fabricação e Arquitectura: Conceito e Preconceitos. FAUP. Porto, 2001. 45 BRUNA, Paulo. 1976. Arquitectura, Industrialização e Desenvolvimento. [tradução livre] 46 BARBOSA, Maria Gabriela. 2001. Standard, Pré-fabricação e Arquitectura: Conceito e Preconceitos. FAUP. Porto, 2001. 47 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar.

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figura 24: Cidade de Parafusos

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mais abrangentes e sem restrições.48 Neste sentido, uma fábrica que produz parafusos e as respectivas porcas, tem em conta a versatilidade destes elementos para responder a funções comuns a um universo de produtos. (figura 24) Na área da construção, um dos primeiros exemplos da aplicação da industrialização aberta foi uma habitação mínima projectada por Walter Gropius nos EUA (1931). Esta podia crescer pela adição de novos componentes e a sua execução só foi conseguida através do estudo da sua subdivisão numa série de partes componentes e suas respectivas combinações. “Esta metodologia de trabalho foi de encontro a uma necessidade sentida por todos em racionalizar a fase de concepção do projecto, pois permitia distribuir os esforços intelectuais de maneira mais correcta, colocando cada decisão no tempo e na escala própria.”49 Neste sentido, a industrialização de sistema aberto pode fornecer fortes contributos para o desenvolvimento da habitação. “No quadro das políticas habitacionais, a industrialização da construção tem vindo a assumir relevo crescente. Trata-se de um tema com aspectos múltiplos, não apenas tecnológicos e económicos, mas também sociais e culturais, que importa examinar em conjunto. Em relação a Portugal, interessa ver os termos em que se insere ou pode inserir na problemática da Habitação no País.”50 Tendo em vista as capacidades da produção industrial, as diferentes fases de processo produtivo e sistemas construtivos devem seguir condições intrínsecas à industrialização de modo a que influenciem o aumento da produtividade e a redução de custos, destacando a qualidade dos produtos provenientes. Deste modo, devemos referir as condições de industrialização que proporcionam alcançar os objectivos da construção da habitação. Nomeadamente, a Repetitividade, a Divisibilidade, a Padronização e Precisão, a Continuidade, a Mecanização, o Parcelamento do Processo de Trabalho, a Permutabilidade, o Controlo e a Transportabilidade.51 A Repetitividade é a condição de dividir custos através de um projecto standard que corresponda à produção de uma grande quantidade de produtos. Evitam-se gastos de projecto, concepção, planeamento, materiais, aperfeiçoamentos tecnológicos, entre outros gastos exclusivos a produtos singulares. A Divisibilidade permite a comercialização durante o processo de produção, confinando a venda de produtos prontos (“lotes”) a meio do processo produtivo, ou dando continuidade à produção de determinados produtos. A Padronização e Precisão dos materiais e componentes para a compra no mercado, permite reduzir os 48 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar. 49 IBIDEM. 50 PORTAS, Nuno. s.d.. Industrialização da Construção - Política Habitacional. 51 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar.

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figura 25: Casa prĂŠ-fabricada, Maison Tropical, Jean ProuvĂŠ, 1949-1951

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desperdícios e ajustes comuns, através de técnicas inovadoras, nomeadamente, máquinas, ferramentas, acessórios e medição. A Continuidade do processo de fabricação de modo ininterrupto e directo, evitando desvios, retornos e interrupções. A Mecanização possibilita a substituição de mão-de-obra e esforço humano pela precisão e continuidade do trabalho da máquina. O Parcelamento do Processo de Trabalho implica a fragmentação do processo de fabricação em operações simples e de curto prazo de tempo (séries), fundamentadas na continuidade e rapidez da máquina. A Permutabilidade implica que, no processo de montagem, seja fácil de permutar peças ou componentes de modo a completar o todo. Mesmo havendo uma peça defeituosa, esta pode ser rapidamente substituída sem afectar o tempo de produção. O Controlo é o processo de acompanhamento do trabalho, controlando constantemente a qualidade, quantidade, tempo e custo dos elementos intervenientes na produção e/ou o produto resultante. A Transportabilidade implica a rapidez e facilidade de colocar o produto ao alcance dos consumidores ou, no caso da construção, de colocar os componentes em tempo e lugar adequado para atender às condições do mercado.52

3.3. Pré-fabricação “O ritmo e as exigências cada vez maiores da indústria da construção obrigam ao desenvolvimento e implementação de novas soluções construtivas, que permitam uma maior rapidez de execução e conduzam a uma maior economia, melhorando simultaneamente as condições de segurança dos seus executantes e utilizadores e minimizando os impactos ambientais.”53 Numa perspectiva contemporânea, a ideia de pré-fabricação está ligada ao conceito de industrialização. Pré-fabricado quer dizer “fabricado antes”, ou segundo o dicionário, “da realização industrial, de elementos anteriormente produzidos”54. Podemos acrescentar que os pré-fabricados podem ser realizados como produtos finais de uma produção, mas, que ao mesmo tempo, são partes constituintes de um outro produto por ser finalizado. No entanto, na construção civil, a pré-fabricação encontra dificuldades na sua implementação. O estigma social da baixa qualidade e do condicionalismo e restrição à criatividade conceptual, presentemente associados a este tipo de produtos, impedem

52 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar. 53 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. Guimarães. 54 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves. 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup.

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a análise e evolução tecnológica deste conceito. A ideia de que os produtos industriais reflectem pouca especialização nos meios de produção, leva a que não sejam aceites por parte da sociedade. 55 Importa referir que se torna errado considerar que os pré-fabricados têm de ser obrigatoriamente feitos a partir da indústria ou, por outro lado, que os produtos industriais têm de ser considerados pré-fabricados. Deste modo, podemos falar em pré-fabricados não industrializados, sendo que os produtos podem ser feitos artesanalmente, na sua totalidade ou parcialidade, quase sem meios mecânicos.56 Por exemplo, um carpinteiro pode fazer uma janela ou as suas partes constituintes tendo em conta aspectos característicos, como os encaixes das partes, de modo a que, seguindo um processo de produção, a janela possa ser terminada pelo próprio ou noutra oficina ou fábrica para que, posteriormente, seja aplicada na construção de um edifício. Por outro lado, existe indústria sem pré-fabricação, através da qual, os produtos originados são considerados finalizados e, portanto, não implicam mais qualquer tipo de construção ou transformação.57 Por exemplo, na indústria automóvel, um carro é considerado um produto final, pronto a ser usufruído. Apesar de também ser constituído por várias peças pré-fabricadas, depois de ter seguido uma linha de montagem, encontra o seu fim. No entanto, ao falarmos de pré-fabricados industrializados, devemos referir as vantagens, da racionalização e da automatização, que podemos encontrar nas linhas de montagem e na produção em série, tanto para os produtos prontos a serem aplicados em obra, como os elementos constituintes de outro produto que terá razão numa fase posterior, nessa mesma fábrica ou, até, noutro tipo de indústria que nada tem a ver com o processo de montagem desta. Desta forma, a indústria é o meio mais favorável para a produção de pré-fabricados para construção, uma vez que a aplicação destes produtos em obra será feita de modo mais preciso e simplificado, aumentando a eficiência, quantidade e qualidade da produção, gerando melhores acabamentos, com custos económicos reduzidos e garantindo a sua acessibilidade.58 (figura 25) Neste sentido, os pré-fabricados são o resultado de um processo rigoroso que tanto melhor é quanto melhor for o nível de industrialização aplicado na sua produção.59 Deste 55 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. Guimarães. 56 BARBOSA, Maria Gabriela. 2001. Standard, Pré-fabricação e Arquitectura: Conceito e Preconceitos. FAUP. Porto, 2001. 57 IBIDEM. 58 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. Guimarães. 59 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar.

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modo, a qualidade destes produtos depende da gestão dos processos racionalizados e da mecanização implícitos no método de produção. O que implica a necessidade de recorrer a mão-de-obra especializada, apontando para maior exactidão no estudo do projecto e pormenorização dos diversos complementos. Os pré-fabricados devem, portanto, ser estudados rigorosamente no que diz respeito aos elementos de ligação adicionais. Por exemplo, as ligações por aparafusamento exigem um estudo prévio para que não causem qualquer tipo de entrave durante a produção dos elementos de construção em fábrica e, posteriormente, para que a construção no local de obra seja feita rápida e eficazmente, sendo assim fiel aos objectivos da construção industrializada.60 Com esta estratégia, o tempo total de construção será substancialmente reduzido, evitando a necessidade de andaimes e respectiva mão-de-obra experiente nos estaleiros de construção, diminuindo os casos de acidentes de obra. Dentro das vantagens já referidas, podemos acrescentar que o facto de os elementos pré-fabricados exigirem tais elementos de ligação, a flexibilidade de construção e de desconstrução implícitos permitem o reaproveitamento dos diferentes elementos. Deste modo, é possível uma diminuição de gastos de energia e da produção de resíduos poluentes.61 Neste contexto, devemos referir que os componentes pré-fabricados de origem industrial, independentemente dos materiais usados, devem ter características básicas que facilitem a sua produção e respectiva aplicação no local de obra. Desta forma devem ser: substituíveis, por outros elementos de origens diferentes; intercambiáveis, para que possam ter mais do que uma função dentro da mesma obra; combináveis, para que em conjunto com outros formem conjuntos maiores; permutáveis por peças maiores ou por conjuntos de peças menores.62 Podemos acrescentar, como já foi referido, que devem ser reutilizáveis, visando a desmontagem do edificado em final de vida, de modo a reaproveitar os seus componentes para outros propósitos, evitando demolições e aglomeração de entulhos. Contribuindo assim para a redução da poluição presente na construção civil.

60 COUTO, Armanda Bastos, COUTO, João Pedro. s.d.. Vantagens Produtivas e Ambientais da Pré-fabricação. Guimarães. 61 IBIDEM. 62 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar.

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figura 26: Plan Voisin, Le Corbusier

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3.4. Coordenação Modular “A coordenação modular é a coordenação das dimensões colectivas mediante o módulo. (...) A coordenação modular enquanto sistema integrado, composto por leis ou princípios gerais, necessita, para ser materializada, de uma análoga hierarquia de normas, que vão do universal para o particular. Portanto deverão definir-se os diversos tipos de normas em jogo e a relativa esfera de aplicação.”63 Segundo Mascaró, a Coordenação Modular é “um mecanismo de simplificação e interrelação de grandezas e objectos diferentes de procedência distinta, que devem ser unidos entre si na etapa de construção (ou montagem), com mínimas modificações ou ajustes.”64 Em virtude da construção hodierna se basear na fusão de elementos estruturais, executados quase artesanalmente em estaleiros de obra, e de elementos construtivos pré-fabricados industrialmente, importa relevar a Coordenação Modular como uma ferramenta de Arquitectura capaz de conciliar, exclusivamente, o projecto e a construção com as novas tecnologias e capacidades técnicas industriais. Deste modo, todo o edifício é totalmente construído sem recurso a trabalho artesanal por meio de desenvolvimentos tecnológicos, conceitos e métodos organizacionais e investimentos de capital, visando incrementar a produtividade e elevar o nível de produção. Em face do que precede, não se encontra qualquer tipo de ajuste de construção ou eventual alteração de projecto.65 Assim como afirma Batista66: “a adopção de um sistema de Coordenação Modular como fundamento para a normalização dos elementos de construção é uma condição essencial para industrializar sua produção.”67 Por outras palavras, a industrialização é a junção da racionalização com a mecanização disponível.68 Com efeito, a industrialização dos meios de construção é um processo seminal para a realização de uma Arquitectura de Coordenação Modular. (figura 26) O projecto de Coordenação Modular tem a finalidade de reduzir custos da construção através das dimensões dos elementos do edifício, de modo a que possam ser acoplados sem afectar o trabalho/construção. Requer o dimensionamento dos planos de construção de modo relacionado com a possível aplicação dos elementos de construção 63 CAPORIONI, GARLATTI, TENCA-MONTINI. 1971. La Coordinación Modular. Barcelona: GG. 1971. p. 7 - 9. [tradução livre] 64 MASCARÓ, L. E. R.. 1976. Coordinacion Modular? Qué és?. Summa. Buenos Aires, 1976. n. 103. p. 20 - 21. 65 TESCA, Carlo. cit. por: BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar. 66 BAPTISTA, Sheyla Mara. Professora Doutorada em Racionalização e Desempenho de Edificações. Lecciona na Universidade Federal de São Carlos. Disponível na Internet em: «http://lattes.ufscar.br/servlet/jpkFltGeral.cFltVisualizador?pTipoIdentif=1&pTipoRelat=1&pNroIdPessoa=629&pCodOrigemC ur=0». 67 BAPTISTA, Sheyla Mara. s.d.. Racionalização e Industrialização da Construção Civil. UFSCar. 68 BLACHERE. cit por: ARAÚJO, Marcelo. s.d. Aspectos Tecnológicos e Produtivos do Desenvolvimentos e Aplicação de Sistemas Construtivos. UFSCar.

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standard disponíveis, ou visando a possibilidade de disponibilização de novos constituintes de construção. Deste modo, é investido mais tempo de planeamento e projecto para que a construção seja rápida e eficaz, reflectindo-se através de uma redução dos custos e implementando maior qualidade.69 Os desenvolvimentos patentes de todas as ciências, reflectem um contributo para uma evolução nas mais diversas áreas da sociedade. Podemos dizer que a compreensão e a relação de um grupo de conhecimentos permitiu que as actividades do Homem o acompanhassem na sua constante necessidade de dominar tudo o que o rodeia. No que diz respeito à Arquitectura, denotamos as constantes relações da Matemática e da Geometria, para a compreensão do espaço envolvente ao Homem.70 “As matemáticas são o edifício magistral imaginado pelo ser humano para lhe proporcionar a compreensão do universo.”71 Deste modo, estas ciências permitem definir dimensões e, consequentemente, criar um sistema de coordenadas para que se possa compreender as proporções e as formas da Natureza, segundo regras e de modo simplificado, assim como a sua representação é possibilitada a fim de elaborar espaços que respondam às mais urgentes necessidades do ser humano.72 Neste sentido, podemos entender que coordenação é um “organismo que dirige a actividade de vários grupos ou serviços (...) disposição metódica que estabelece relação recíproca entre as coisas em que ela se exerce”73. No entanto, em Arquitectura, devemos referir a coordenação num processo que envolve a fusão de uma regra numérica com a permeabilidade da representação em desenho, e que, posteriormente, se reflecte na construção. Portanto, ao acrescentarmos a palavra “módulo” estaremos a definir uma “unidade ou peça autónoma que pode ser combinada com outras para formar um todo.”74 No contexto actual, devemos referir a indústria como parte integrante deste processo, pois como afirma Le Corbusier, “A realidade industrial significa: abundância, pontualidade e eficiência. (...) Uma civilização realizar-se-á em consequência da sua própria sensibilidade, da sua razão, das suas mãos engenhosas e dos seus utensílios (as máquinas).”75 69 F. W. DODGE CORPORATION. 1944. Time-saver Standards – a manual of essential architecture data. 3ª edição, 1954. p. 28. [tradução livre] 70 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. 71 LE CORBUSIER. 1950. O Modulor, Ensaio sobre uma medida harmónica à escala humana aplicável universalmente à arquitectura e à mecânica. tradução, prefácio e notas de Marta Sequeira. Orfeu Negro, 2010. p. 93. 72 IDEM. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. 73 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Coordenação [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 4 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/coordenação». 74 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Módulo [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 4 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/módulo». ­­ 75 LE CORBUSIER. 1950. O Modulor, Ensaio sobre uma medida harmónica à escala humana aplicável universalmente à arquitectura e à mecânica. tradução, prefácio e notas de Marta Sequeira. Orfeu Negro, 2010. p. 134.

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A Coordenação Modular é, deste modo, o processo de racionalização implícito ao desenvolvimento da actividade da Arquitectura, baseada em ciências exactas para a execução de uma ideologia específica, fundamentando a sua construção através de processos industrializados. Numa perspectiva actual, é considerada aliada a questões económicas e de sustentabilidade.76 Neste contexto, devemos distinguir duas fases implícitas ao processo de execução de uma Arquitectura de Coordenação Modular: A Coordenação Dimensional, referente à fase de estudo e projecto e a Coordenação Modular, referente à realização dos constituintes da construção e respectiva montagem em obra.77 Segundo Rahim78, “a Coordenação Dimensional é a técnica que permite relacionar a medida de todos os elementos, permitindo a sua ligação por montagem.”79 Partindo de uma razão universal, conseguimos assegurar regras que permitem a elaboração da ideia na sua totalidade. Essas regras, em constante interacção com as razões matemáticas, possibilitam a multiplicação ou divisão de uma medida específica por um coeficiente comum. Assim, o processo surge da coligação de fundamentos standard, reunindo num todo, os aspectos fulcrais para a realização de uma intenção.80 Nesta conformidade, durante a fase de projecto (representação gráfica), consideram-se as unidades de medida base para que seja possível desenvolver uma peça unitária (módulo), entre as demais proporções, capaz de conciliar e acoplar os elementos de construção disponíveis. Deste modo, contabilizando a presença da indústria no processo, é possível estipular uma ordem produtiva e respectiva ordem construtiva.81 Estipular uma série numérica é o primeiro passo a dar para que uma representação de base geométrica seja o meio que dará razão à construção de uma ideia.82 Como afirmou Le Corbusier, “descobrir o princípio capaz de servir como regra (...) Adoptando um princípio e dimensões que implicam uma determinada ordem de coisas. (...) A construção emprega certos materiais, sofrendo as vantagens e os inconvenientes das leis internas de cada um, segundo determinados métodos, tendo em vista a melhor concretização possível do objecto.”83 Por outras palavras, uma série numérica permite a representação bidimensional 76 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP, 2007. p. 12. 77 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 11. 78 RAHIM, Shakil. Licenciado em arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa e pós-graduado em Urbanistica pela Instituto Superior Técnico. Disponível na Internet em: «http://arquitectos.pt/documentos/1219765568G0rPZ1wj8Zb74DE5.pdf». 79 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. 80 CAPORIONI, GARLATTI, TENCA-MONTINI. 1971. La Coordinación Modular. Barcelona: GG, 1971. p.29. 81 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235. 2007. p. 11. 82 CAPORIONI, GARLATTI, TENCA-MONTINI. 1971. La Coordinación Modular. Barcelona: GG, 1971. p. 29. 83 LE CORBUSIER. 1950. O Modulor, Ensaio sobre uma medida harmónica à escala humana aplicável universalmente à arquitectura e à mecânica. tradução, prefácio e notas de Marta Sequeira. Orfeu Negro, 2010. p. 131.

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figura 27: Coordenação Dimensional e Coordenação Modular

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de um traçado regulador, que por sua vez define um módulo base, através do qual se consegue dar noção de proporção, escala e até de volumetria. Desta forma, “um módulo mede e unifica; um traçado regulador constrói e satisfaz.”84 Por conseguinte, a definição de uma série geométrica, complementará toda uma sequência de raciocínios envolvidos com a proposta. A Coordenação Dimensional é, deste modo, a base de desenvolvimento de uma Arquitectura de Coordenação Modular. Trata-se de uma “régua” capaz de conciliar todos os aspectos relacionados com a construção através de um módulo. Neste sentido, a Coordenação Modular conjuga os diversos elementos de construção standard e préfabricados industrialmente com a obra segundo uma linha de montagem, respeitando a ordem de construção previamente estudada.85 (figura 27) Ao longo da História podemos constatar alguns exemplos desta estratégia. Na Grécia Clássica, usava-se a altura da cabeça humana para definir proporções do corpo humano, com a intenção de o representar na Pintura, na Escultura e também na Arquitectura, da forma mais perfeita possível. Durante a Idade Média, no Japão, também se usavam medidas como polegadas, pés ou braços para realizar as diferentes obras de artesanato. Leonardo Da Vinci, estudou as proporções de igual forma e representou-as através do Homem Vitruviano. No entanto, estes não foram os únicos a desenvolver obras com base na Coordenação Modular. Le Corbusier desenvolveu o “Modulor” segundo as razões áureas e a série de Fibonacci, através da qual conseguiu definir um cânone referente às medidas do corpo humano e, por sua vez, transpôs a sua metodologia para o desenho representativo das suas ideias arquitectónicas.86 Para a realização de uma arquitectura fundamentada com este conceito, é preciso ter em conta processos e técnicas disponíveis. Com base nisso, é importante ver a Standardização, a Pré-fabricação e a Industrialização como partes integrantes de uma Coordenação Modular, pois, actualmente, a Arquitectura admite a necessidade de introduzir tais relações, uma vez que o actual estado da crise afecta a produção e cada um dos sectores da construção.87 Por outro lado, a industrialização torna os produtos para construção mais rigorosos, económicos e rápidos de se fazer. Com a sobreposição do meio mecânico a uma larga tradição artesanal e com a introdução de novas técnicas de produção e diversas concepções económicosociais, podemos dizer que a indústria pode dar à Arquitectura uma apropriação, através 84 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 44. 85 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 11. 86 IBIDEM. 87 CAPORIONI, GARLATTI, TENCA-MONTINI. 1971. La Coordinación Modular. Barcelona: GG. 1971.

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figura 28: Coordenação Modular, Fase de Construção

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de uma metodologia, capaz de resolver o grave problema que é posto no dia-a-dia face às técnicas de construção.88 Assim, pode-se dizer que a Industrialização da construção permite uma multiplicidade de intervenções espaciais que participam na execução do edifício. “A tendência para edificar encontra novas concepções produtivas. As formas da mais avançada industrialização surge de terminologias da racionalização e de quais são as possíveis relações da indústria e da Arquitectura.”89 No mesmo contexto da construção dos automóveis, barcos, aviões, entre outras máquinas, podemos influenciar-nos e dizer que através da indústria se pode encontrar uma sequência lógica de procedimentos que levam à construção de edifícios.90 Por isso, a Coordenação Modular consiste em reunir os fragmentos como acontece com algumas produções industriais, a partir de um acto fundamental: a integração. “A integração estabelecerá relações oportunas entre todos os feitos e também instituirá na obra os procedimentos industriais. (...) A standardização permitirá introduzir no processo construtivo, mediante um mecanismo lógico, uma gama de relações subordinadas no acto ou potência dos poderes de decisão por parte do arquitecto. Capacidade de emitir decisões certas e imperativas de ordem construtiva.”91 Por outras palavras, o arquitecto terá de expor uma metodologia clara e concebível, capaz de coordenar a síntese arquitectónica e um conjunto de instrumentos próprios da indústria, assumindo o conteúdo e função técnica da produção da edificação. Esta condição passará pela decisão de aplicação de qualquer categoria de materiais e qualquer tipo de produto, assim como o seu procedimento de execução.92 93 Deste modo, as definições de normas que garantam a actuação do sistema industrial na construção da habitação, pode gerar fortes contributos. Com a Standardização, conseguese o contributo para maior produtividade industrial (Industrialização) de modo a que se consiga a globalização da acessibilidade ao produto Pré-fabricado. (figura 28) Podemos entender assim, que a Coordenação Modular consiste na integração do cumprimento dos conceitos anteriormente referidos, com a finalidade de garantir uma construção rápida, eficaz e acessível a uma maioria da sociedade.

88 CAPORIONI, GARLATTI, TENCA-MONTINI. 1971. La Coordinación Modular. Barcelona: GG. 1971.p. 8 - 12. 89 IBIDEM. p. 7 [tradução livre] 90 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. 91 CAPORIONI, GARLATTI, TENCA-MONTINI. 1971. La Coordinación Modular. Barcelona: GG. 1971. p. 9 - 10. [tradução livre] 92 WANG, Wilfred. 2008. Standard, in JA235. 2008. p. 18 - 22. 93 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP, 2007.

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figura 29: Cit창nea de Santa Luzia, Viana do Castelo, Portugal

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4. A Evolução da Coordenação Modular O conceito de Coordenação Modular estrutura-se e define-se ao longo dos tempos, tornando-se inteligível que sempre existiu. (figura 29) Segundo Lucini1, este conceito representa, sob uma perspectiva actual, um sistema de referência dimensional que surge com base nas medidas de um padrão predefinido - o módulo, que concilia e organiza a racionalização das técnicas de construção, como o uso das componentes em projecto e obra, sem que isso implique alterações.2 Por outras palavras esta concepção remete para “a ordenação dos espaços na construção civil.”3 A objectividade deste sistema construtivo, replica-se na diminuição dos desperdícios materiais e dos custos de construção, providencia a simplicidade e a organização, eficácia e rapidez de produção, bem como a redução evidente de mão-de-obra necessária à conclusão dos projectos.4 Como já foi referido, hoje admite-se que a utilização da Coordenação Modular remonta ao passado histórico da Arquitectura e que a sua aplicação era, até, comum.5 Historicamente, a definição de módulo, surge na Arquitectura como “uma interpretação clássica dos Gregos, sob um carácter estético; dos Romanos, sob um carácter estéticofuncional; e dos Japoneses, sob um carácter funcional.”6 Não obstante as épocas ou as civilizações, todos os exemplos relacionados eram subordinados a um elemento comum de referência – o corpo humano. Assim, como afirma Rahim, “o Homem é a sua própria referência, centrado sobre o seu umbigo. Tem um limite, uma forma e ocupa um espaço. As dimensões dos espaços que fabrica estão por isso relacionados com as dimensões do corpo que os vai utilizar, o corpo humano. Por isso o Homem foi desde sempre a sua unidade de medida, essencialmente através das dimensões dos seus membros. Por ser contentor de vida, de consciência e de acção, e porque acumula a dupla função de sujeito e objecto, procuramos na figura um modelo capaz de responder aos anseios, valores e necessidades culturais, sociais e individuais. (...) Desde a Antiguidade, que existem padrões ou esquemas convencionais das dimensões do corpo humano, aquilo a que chamamos cânone.”7 1 LUCINI, Hugo Camilo. Mestre em Arquitectura (1985) sob o tema: Desenvolvimento de Novos Sistemas Construtivos, pela Universidade de São Paulo, Brasil. 2 LUCINI, H.C.. 2000. cit. por BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP, 2007. p. 34. 3 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP, 2007. p. 34. 4 ESPÍNDOLA, Luciana da R., MORAES, Poliana D. de. 2009. Coordenação Modular em Sistemas Leves de Madeira e Sistemas Mistos. Brasil: Universidade Federal de Santa Catarina. 5 IBIDEM. 6 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP, 2007. p. 15. 7 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 3.

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figura 30: Rectangulos de Ouro

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Independentemente das interpretações das proporções harmónicas do corpo humano, em 300 a.C., Euclides de Alexandria defendeu a sua teoria afirmando que “a secção áurea define a relação recíproca entre duas partes desiguais de um todo, na qual a parte menor está para a maior assim como a parte maior está para o todo.”8 Por outras palavras, as relações matemáticas estabeleciam as proporções dos elementos que representavam a expressão perfeita da harmonia, da beleza e do equilíbrio encontrados na Natureza. Desta forma foi estabelecida a teoria das proporções. O número de ouro (1,618033...) é o único cujo quadrado é igual à soma de si próprio com a unidade [m/M = M/(m+M)].9 (figura 30) Estes princípios foram seguidos e desenvolvidos à posteriori, nomeadamente por Leonardo de Pisa10 que durante o século XII desenvolveu uma série de números que se aproximavam das relações áureas. A série de Fibonacci11 (1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 31,...) consistia na soma dos dois números anteriores para a formulação de uma contínua relação proporcional. Este princípio é bastante abrangente, aplicando-se tanto na área das Ciências como das Artes. Várias formas geométricas sustentam-se nesta série, o que impulsiona muitos arquitectos a desenvolverem os edifícios segundo conceitos como a Coordenação Modular.12 Ao longo dos tempos, a evolução e percepção deste conceito fez com que, após as Revoluções Industriais, tomasse maior amplitude, impacto e visibilidade, e se tornasse alvo do interesse arquitectónico da actualidade. Neste capítulo, podemos destacar e concordar que “há uma coisa que nos arrebata, é a medida. Medir. Repartir em quantidades ritmadas, animadas por uma sopro igual, passar em toda a parte a relação unitária e subtil, equilibrar, resolver a equação.”13

8 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 4. 9 IBIDEM. p. 2 - 5. 10 Leonardo de Pisa ou Leonardo Fibonacci (1170- 1250?), Matemático italiano considerado o mais talentoso da Idade Média. Ficou conhecido pela descoberta da sequência de Fibonacci. Disponível na Internet em: «http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_Fibonacci». 11 A série de Fibonacci (1200?) é caracterizada por estipular uma sequência lógica e infinita de números, os quais surgem da adição entre os números anterios. 12 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 2 - 16. 13 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 111. [tradução livre].

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figura 31: C창none de Policleto (500-400 a.C.)

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4.1. Unidades de Medida, Proporções e Cânones “A questão do Espaço ideal para o Homem ideal é tão antiga como a procura da cara-metade. (...) A arquitectura é por princípio fundador uma opção contra natura, porque é uma reacção às leis da física e da matéria. A equação do equilíbrio deriva de múltiplas variáveis. Mas todas elas têm um denominador comum: servir o Homem.”14 Ao longo dos tempos podemos encontrar na arquitectura exemplos disso mesmo. Assim como disse Oscar Wilde15: “se a Natureza tivesse sido confortável, a Humanidade nunca teria inventado a arquitectura”16 e, podemos igualmente destacar, a constante pesquisa do Homem por cânones capazes de reger e organizar as suas necessidades, tendo por base as medidas do próprio corpo. Entendemos que unidade é uma “grandeza determinada, adoptada por convenção e utilizada para exprimir quantitativamente grandezas da mesma espécie.”17 O mais antigo exemplo é, provavelmente, a braça (braço) utilizada pelos egípcios, babilónios e hebreus. Datada de 3000 a.C., esta referência física estipulava uma unidade que era usada tanto na agricultura como na arquitectura. A título exemplificativo, veja-se o túmulo das pirâmides de Mênfis, na qual “os egípcios teriam utilizado o cânone de Lepsius, conhecido como Diodoro de Sicília.”18 Na Grécia Antiga, com o desenvolvimento da Matemática até então, a definição de escalas de proporção, permitiu o estudo do corpo humano a fim de estipular cânones que facilitavam a execução das diversas obras de Pintura, de Escultura e até mesmo de Arquitectura. Para representar um corpo humano, segundo o Cânone de Policleto (500-400 a.C.), a altura deste correspondia a sete vezes a altura da cabeça humana. (figura 31) A análise da tipologia arquitectónica da época grega, revela a proporção dos elementos em que a expressão da beleza e da harmonia eram privilegiadas. “O que distingue um belo rosto é a qualidade dos traços e um valor todo particular das relações que os une. (...) Diz-se que um rosto é belo quando a precisão da modelagem e a disposição dos traços revelam proporções que sentimos harmoniosas (...) A Grécia e o Parthenon, na Grécia, marcaram o pináculo dessa pura criação do espírito.”19 (figura 32) 14 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 2 - 3. 15 WILDE, Oscar. (1854 - 1900) Escritor Irlandês conhecido por uma série de comédias bem sucedidas, hoje clássicos da dramaturgia britânica. Disponível na Internet em: «http://pt.wikipedia.org/wiki/Oscar_Wilde». 16 WILDE, Oscar. cit. por RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 3. 17 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Unidade [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 6 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/unidade». ­­ 18 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 4. 19 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 145.

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figura 32: Parthenon, Atenas, GrĂŠcia

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A definição de proporção advém da “expressão de uma relação de grandezas entre duas partes ou entre cada uma das partes e a grandeza total; a expressão que traduz a igualdade entre duas razões (por quociente).”20 Desta forma, a Arquitectura grega recorria ao diâmetro da coluna como unidade básica de dimensão, isto é, representava o seu módulo, pelo que todas as demais dimensões eram provenientes desta medida. Tal como acontecia na escultura, alusivamente ao Cânone de Policleto, as colunas seguiam o mesmo raciocínio de proporção, ou seja, eram constituídas por sete tambores (cilindros de pedra esculpidos), em que cada um correspondia à cabeça humana. Por outro lado, segundo Nissen21: “o espaço entre as colunas estava baseado no diâmetro delas e a distância das colunas da esquina das edificações é um excelente exemplo do conflito entre o ritmo arquitectónico e as exigências estruturais. Na arquitectura grega, o vão da esquina era menor em relação aos demais vãos para que os componentes “pré-fabricados” se mantivessem com mesma dimensão daqueles existentes nos outros vãos.”22 Neste contexto, para que houvesse correspondência entre as fachadas, havia que diminuir o espaço entre os vãos de esquina a fim de não desconfigurar a razão matemática aplicada, não só na modulação das colunas, assim como nos restantes elementos estruturais. Com base em raciocínios padronizados, o edifício respeitava proporções geométricas e aritméticas, levando os Gregos a acreditar que conseguiam fazer edifícios perfeitos.23 No entanto, apesar de o diâmetro da coluna ser o módulo definidor de uma proporção, o que se verificava é que a dimensão das mesmas variava consoante a função do edificado ou, posteriormente, pela influência das diversas ordens gregas (Toscana, Dórica, Jónica, Coríntia, Compósita). Assim, na realidade, a Arquitectura grega não se sustentava numa constante unidade de medida, mas sim num módulo regedor, pelo que cada edifício seguia as suas próprias proporções.24 Entendemos, desta forma, que um módulo “regula as proporções das partes de um edifício ou de qualquer peça arquitectónica.”25 “Os gregos utilizavam na construção dos seus templos a ‘simetria dinâmica’ e as ‘divinas-proporções’.”26 (figura 33) 20 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Proporção [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 8 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/proporção». ­­ 21 NISSEN, H. Autor de Construcción Industrializada y deseño modular. 1976. 22 NISSEN, H.. 1976, cit. por BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP, 2007. p. 16. 23 WANG, Wilfred. 2008. Standard. in JA235, 2008. p. 18. 24 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 5. 25 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Módulo [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 8 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/módulo». ­­ 26 ESPÍNDOLA, Luciana da R., MORAES, Poliana D. de. 2009. Coordenação Modular em Sistemas Leves de Madeira e Sistemas Mistos. Brasil: Universidade Federal de Santa Catarina.

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figura 33: MĂŠtodo Comparativo das cinco ordens de Arquitectura Grega segundo ViĂąola

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Depois da conquista da Grécia, os romanos procuraram dar continuidade à “primeira grande ordenação ocidental.”27 Em termos arquitectónicos e urbanísticos, na civilização romana pode-se constatar que se perde um pouco a necessidade do enfoque na estética grega, e que se exacerba o poder estatal através da monumentalidade das ordens, tendendo para a sua real função. Apostaram na necessidade de técnica e repensaram os espaços como estáticos e com caracteres sociais.28 Assim sendo, “impera nos espaços circulares e rectangulares a simetria, a autonomia absoluta quanto aos ambientes contíguos, sublinhada pelos espessos muros que os separam.”29 Graficamente, apreende-se que a autoridade e o poder do império romano se encontram sempre implícitos às obras arquitectónicas da época, “o Império existe, e é potência e razão de toda a vida”.30 Assim como afirmou Le Corbusier: “Roma ocupavase em conquistar o universo e geri-lo. Estratégia, abastecimento, legislação: espírito de ordem. (...) A ordem romana é uma ordem simples, categórica. Se é brutal, pior ou melhor.”31 Consequentemente, o que se verifica é que estas obras não foram produzidas à escala do Homem, pelo que se fazem representar por grandes espaços interiores, que verdadeiramente impressionam pelas dimensões e pela sua grandeza.32 A preocupação de estruturar as cidades surgiu assim segundo uma unidade de medida antropométrica - pes - que os romanos definiam para estabelecer medidas de edifícios, de componentes construtivas, assim como de utensílios domésticos. Por outro lado, a contínua intenção pela organização do planeamento das cidades e dos projectos dos edifícios através de um reticulado modular, levou-os a definir o passus romano, um múltiplo do pes.33 A título exemplificativo, veja-se a cidade de Emona, actual Liubliana, na Eslovénia. O planeamento da cidade consistia numa proporção de 6:5, originada através de um reticulado de 360 passus por 300 passus. (figura 34) Segundo Kurent, a propriedade que distingue as séries romanas relativamente à composição, revela-se no que Marcus Vitruvius34, arquitecto-engenheiro romano do século I a.C. denominava por ratio symetriarum. Este admitia que “os tamanhos modulares dos 27 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 109. 28 DIAS, S. I. S.. 2008. Grupo de pesquisa - Teoria da Arquitectura. 29 IBIDEM. 30 IBIDEM. p. 6. 31 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 109. [tradução livre]. 32 DIAS, S. I. S., 2008. Teoria da Arquitectura e Urbanismo I. 33 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP, 2007. p. 15. 34 VITRUVIUS, Marcus. Foi Arquitecto e engenheiro no século I a.C. e deixou como legado a sua obra em 10 volumes, aos quais deu o nome de De Architectura. disponível na Internet em: «http://pt.wikipedia.org/wiki/Vitr%C3%BAvio».

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figura 34: Reticulado Modular da cidade de Emona

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componentes construtivos romanos eram pequenos múltiplos de várias unidades padrão”.35 Nos seus primeiros tratados, estabelecia estas relações e admitia uma “correlação directa entre a grandiosidade do edificado e a harmonia do corpo humano. Segundo Vitrúvio, as medidas para a formalização da arquitectura têm como fonte a figura humana, adoptandose partes do corpo como medida (pé, palmo, polegada, etc.). Vitrúvio observa que, de acordo com proporções humanas harmoniosas, a altura de um homem é igual aos seus braços estendidos. Essas duas medidas inscrevem o corpo num quadrado e num circulo com centro num umbigo.”36 Esta teoria demonstra que as composições das componentes construtivas romanas representavam adições e multiplicações de várias unidades padrão, mas, no entanto, não prevalecia a ideologia de um único modelo base.37 “Desta forma, os romanos aplicavam uma modulação flexível desde a pequena componente até à grande cidade.”38 Entendemos, desta forma, que um cânone é considerado modelar, em determinado período histórico e em determinada comunidade cultural.39

4.2. Artesanato e Coordenação Modular Depois da desintegração do Império Romano no Ocidente, a tendência para projectar e construir segundo cânones subsistia. Durante a Idade Média, a Arquitectura foi sujeita ao planeamento e, deste modo, implicava o projecto antes da sua execução, apostando numa quase obsessiva busca por unidades de medida que permitisse a organização de uma Arquitectura estável e duradoura. Apesar das diferentes localizações, verificou-se que esta estratégia não era adoptava apenas para a Arquitectura residencial. O cânone Bizantino, definido pelo pintor Monte Athos, consistia num sistema de três círculos concêntricos e foi utilizado no desenho de várias plantas e cúpulas de igrejas. A título exemplificativo, vejase a Igreja de Santa Maria Constança, em Roma.40 “É interessante verificar como as igrejas adoptaram a cruz latina, em analogia directa ao Homem crucificado de braços estendidos.”41 35 CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO BOUWCENTRUM. 1972. cit. por BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP. 2007. p. 19. 36 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 5. 37 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP. 2007. 38 IBIDEM. p. 21. 39 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Cânone [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 8 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/cânone». ­­ 40 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 5. 41 IBIDEM.

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figura 35: Cânone de Francesco di Giorgio, século XV

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Alguns artistas mantiveram e/ou aprofundaram esta ideologia durante toda a Idade Média e, mesmo no final deste período (século XV) havia exemplos como o Cânone de Francesco di Giorgio.42 (figura 35) Depois da definição da série de Fibonacci, no século XII, novas interpretações tiveram lugar. Segundo os desenhos de Villard de Honnecourt (século XIII), verifica-se que as figuras são compostas com recurso a triângulos equiláteros, quadrados e pentagramas sustentados nas relações áureas. (figura 36) No mesmo período, Carlos Magno difundiu uma nova medida padrão para construção de igrejas e catedrais - pé do rei, de aproximadamente 32,5 centímetros.43 Em Portugal, no mesmo período, a base do sistema de medida era o palmo craveiro, correspondente a 12 dedos, a 1/5 da vara e a 9 toesas, ou segundo o sistema métrico, 2/9 do metro. Este sistema era bastante prático visto ser divisível por 2, 3, 4, e, por outro lado, sabe-se que de 1/2 da toesa resultava a jarda, de 1/3 resultava o côvado e de 1/6 resultava o pé. Esta correlação manteve-se até o sistema métrico prevalecer.44 No Oriente, apesar de alguns tratados de sistemas de medida serem milenares, como o Manasara na Índia, ou as unidades de medida tou-kung, na China, e o shaku, no Japão, foi durante a Idade Média que se entendeu a necessidade de fundir o artesanato (carpintaria) e a Coordenação Modular.45 Neste contexto, “possuíam uma elaborada standardização controladora da Arquitectura residencial. No entanto, foi só no Japão que esta standardização vingou até ao presente...”46 A base da Arquitectura Japonesa desde cedo se deparou com pouco espaço habitável e, dentro do que eventualmente se poderia habitar, com espaços assolados pela probabilidade de se verificarem catástrofes naturais, como terramotos e erupções vulcânicas.47 “A necessidade de espaço, faz o uso.”48 Aliando-se todo um conjunto de factores, como as crenças religiosas, a falta de espaço para projectos exequíveis, bem como o clima submetido a um regime de moções e propício a catástrofes naturais, o que se verificava era o apuramento das capacidades de percepção, organização e de gestão do espaço superiores às de qualquer outro povo, assim como promove a exploração de diversos 42 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 4. 43 CUNHA. 2003. cit. por RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 6. 44 IBIDEM. p. 6 - 8. 45 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 4 - 6. 46 BARBOSA, Maria Gabriela. 2001. Standard, Pré-fabricação e Arquitectura: Conceito e Preconceitos. FAUP. Porto, 2001. p. 16 - 20. 47 ANTUNES, Sandra. 1998. O ESPAÇO JAPONÊS: A casa tradicional Japonesa, uma filosofia de vida, um modo de estar. ESAD: C.E.S.E. Design Industrial. 48 IBIDEM. p. 2.

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figura 36: Esquemas de Villard de Honnecourt, sĂŠculo XIII

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materiais potenciais da construção, neste caso específico. Para além destes factos, o que se crê como apologia do povo japonês é a perfeita simbiose entre o ser humano e o ambiente/ natureza, em que o primeiro deverá trabalhar, domar e utilizar o segundo.49 50 Tendo por base as dificuldades naturais e circunstanciais supracitadas, emerge na Idade Média, no Japão, o recurso a módulos base que direccionassem a construção. “Na arquitectura doméstica japonesa o resultado de uma extraordinária e consistente tentativa de criar um padrão cultural tão basicamente homogéneo, e, ao mesmo tempo, uma notável variedade e rica nos elementos e que permanece imutável na história dos mais notáveis feitos arquitectónicos. (...) Mas, as nossas necessidades na moderna arquitectura, de simplicidade, relação interior exterior, flexibilidade, coordenação modelar, e pré-fabricação, e, mais importante, de variedade de expressão, encontram respostas tão fascinantes na clássica arquitectura doméstica do Japão que nenhum arquitecto devia negligenciar o seu estimulante estudo.”51 “A unidade clássica de medida japonesa, o shaku, (...) equivale ao pé inglês e é divisível em unidades decimais.”52 Posteriormente, foi adoptado o ken que inicialmente não apresentava uma dimensão fixa, sendo apenas utilizado para desenhar a separação entre duas colunas, o que resultava numa aplicação prática meramente sobreponível à Arquitectura residencial.53 Consequentemente, as componentes de construção da habitação japonesa estavam normalizadas, “com medidas unificadas e fundamentadas em magnitudes humanas, como o “ken” ou braço, o “shaku” ou pé, o “sun” ou polegada e o “bu” ou linha.”54 A relação é demonstrada por: 1ken = 6shaku; 1shaku = 10sun; 1sun = 10bu.55 A utilização destas unidades de medida tornou-se de tal forma recorrente que esta passa a ser referência absoluta, pelo que não se limita à construção de edifícios, como se torna um módulo regedor de toda “a estrutura, materiais e os espaços da arquitectura japonesa.”56 A casa típica de uma família japonesa revela que o ken guia a estrutura e a sequência aditiva entre os espaços das diferentes habitações. Nestas residências, as medidas do módulo, 49 ANTUNES, Sandra. 1998. O ESPAÇO JAPONÊS: A casa tradicional Japonesa, uma filosofia de vida, um modo de estar. ESAD: C.E.S.E. Design Industrial. p. 2 - 10. 50 SAKURAI, Célia. 2007. Os Japoneses. Editora Contexto. 51 GROPIUS, Walter, cit. por BARBOSA, Maria Gabriela. 2001. Standard, Pré-fabricação e Arquitectura: Conceito e Preconceitos. FAUP. Porto, 2001. p. 17. 52 CHING, 1998, cit. por BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP. 2007. p. 21. 53 IDEM. Arquitectura: Forma, Espaço e Ordem [em linha]. [S.l.], 1999 [Referência de 27 de Abril de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://soniaa.arq. prof.ufsc.br/arq1101/ trabalhosalunos2003/leandro_leite/Apresenta%E7%F5es/CHING.pdf». 54 BARBOSA, Maria Gabriela. 2001. Standard, Pré-fabricação e Arquitectura: Conceito e Preconceitos. FAUP. Porto, 2001. p. 18. 55 IBIDEM. 56 CHING, F. D. K.. 1998. Arquitectura: Forma, Espacio y Ordem. México: GG, 1998.

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figura 37: Habitação Japonesa construida segundo o ken

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sendo este relativamente pequeno, facultam a disposição livre de espaços rectangulares segundo modelos que poderão no limite ser arbitrários, lineares e/ou agrupados. A partir do século XV, a casa japonesa passou a ser regida através de um módulo-objecto (1ken x 0,5ken), o tatame, ou esteira de palha de arroz, no qual podiam estar duas pessoas sentadas ou uma pessoa deitada.57 (figura 37) A sistematização da construção japonesa, foi seguida em muitos países. Apesar de este género de construção depender de técnicas arcaicas, o uso da madeira “foi predominante pois consistia o melhor sistema para trabalhar em oficinas. Facilmente se reduzia o número de operações em obra a partir da sua sistematização, possibilitando a rápida montagem sem ser necessária mão-de-obra especializada.”58 Nos séculos XVIII e XIX surgiram dois sistemas construtivos semelhantes que visavam uma rápida construção e a baixos custos: a estrutura gaiola, em Portugal, e a balloon frame, nos Estado Unidos da América. Depois do avassalador terramoto de Lisboa, no dia 1 de Novembro de 1755, cerca de dez por cento das 20000 casas da baixa central ficaram destruídas e mais de dois terços inabitáveis. Sob a direcção de Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês do Pombal), a reedificação da zona afectada rapidamente se formulou. O processo de reconstrução foi rápido na sistematização e na resolução das medidas a tomar. Desta forma, surgiu a “estrutura gaiola” cujo desenvolvimento técnico sistematizado se apoiava na pré-fabricação de elementos de construção, como vigamentos, cantarias, ferragens, entre outras carpintarias. Todos estes elementos eram manufacturados em oficinas especializadas e chegavam a cada obra prontos a ser aplicados. A combinação de técnicas tradicionais e da experiência com a standardização de elementos permitiu que esta empreitada se caracteriza-se pela relativa uniformidade e repetição de elementos padronizados com especial atenção dada à rapidez, mediante a simplificação do processo construtivo.59 No mesmo contexto, em Chicago, o grande incêndio de 1871 destruiu uma extensa parte da cidade. O desenvolvimento do processo de reconstrução levou ao surgimento da estrutura “balloon frame”. “Trata-se de uma estrutura sem a habitual hierarquia de elementos principais e secundários, unidos por ensamblagens, que se baseia numa multiplicidade de ripados delgados de dimensões normalizadas colocados a distâncias moduladas e fixados com simples pregos; os vãos, as portas e janelas, são necessariamente múltiplos 57 CHING, 1998, cit. por BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP. 2007. 58 BARBOSA, Maria Gabriela. 2001. Standard, Pré-fabricação e Arquitectura: Conceito e Preconceitos. FAUP. Porto, 2001. p. 21 - 29. 59 IBIDEM.

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figura 38: Estrutura de madeira Balloon Frame

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do módulo fundamental; um entramado de tábuas em diagonal assegura a resistência da estrutura ao vento, e um segundo entramado de tábuas embutidas defendem o edifícios das intempéries.”60 Os princípios deste sistema inserem-se no conceito de standard na Arquitectura americana e, apesar dos seus contínuos aperfeiçoamentos, ainda é utilizado actualmente. (figura 38) “Com o Renascimento e a visão antropocêntrica do mundo, ao retirar Deus do seu trono substituindo-o pelo Homem, o centro alterou-se e a arte e a ciência ocidental passaram a gravitar em redor dos princípios humanísticos. Com o conhecimento do belo (corpo humano) e da ilusão (perspectiva), a arte legitimava-se em relação à Natureza.”61 Em 1414, através de uma cópia do De Architectura de Vitruvio, Leonardo da Vinci remonta à proporcionalidade perfeita e ordenada da Arquitectura greco-romana e identifica com precisão as relações entre as partes do corpo e as proporções matemáticas, sintetizando as relações cósmicas, mitológicas e científicas. Deste modo, definiu as quantidades precisas do Homem ideal através do desenho do Homem Vitruviano. Estipulou, não apenas, que a altura do corpo era igual à sua envergadura, mas também, que “a perna é duas vezes a medida da cabeça, o peito é uma cabeça abaixo do queixo, a medida da cintura até à cabeça é o tamanho do tórax, o pénis é a medida da palma da sua mão, etc.”62 (figura 39) Leonardo da Vinci sintetizava toda a sua pesquisa através da dissecação de cadáveres e dos seus registos de estudos anatómicos, expandindo-a para a arte e a mecânica e defendendo que a representação do corpo humano foi sempre o desígnio da arte e da ciência.63 Durante o século XVI, Alberti e Dürer realizaram análises a um vasto número de pessoas, procurando realizar cânones baseados em estudos estatísticos. Contudo, Dürer afirmava que o seu estudo era inconclusivo, ou seja, o contributo destas pesquisas tinham uma operatividade muito limitada e o belo e as proporções ideais não existiam por si, variavam com o contexto. No entanto, desenvolveu um desenho do corpo humano, subdividindo a medida deste em 40 fracções, estipulando a noção de um “corpo real” e não de um “corpo ideal”. Esta perspectiva relativizou e individualizou a beleza, substituindo a imagem do Homem Majestático (Renascimento) pelo Homem Dinâmico (Maneirismo).64 Por outras palavras, o uso de cânones começava a perder força dando ênfase ao corpo humano como forma de romper com a regularidade numa atitude dinâmica e expansiva. 60 BENEVOLO, Leonardo, 1974. cit. por BARBOSA, Maria Gabriela. 2001. Standard, Pré-fabricação e Arquitectura: Conceito e Preconceitos. FAUP. p. 22. 61 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 6. 62 IBIDEM. p. 7. 63 IBIDEM. 6 - 7. 64 IBIDEM.

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figura 39: O Homem Vitruviano, Leonardo da Vinci, 1490

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Um dos primeiro manifestos foi a estátua de David, de Miguel Ângelo, reafirmando o belo e a força da figura humana na arte. O mesmo acontece na arquitectura daquela época. A Capela Sistina ou a Praça do Capitólio derivam de marcações de perspectiva que criam tensões físicas no espaço. No entanto, no final do mesmo século, Andrea Palladio propôs as sete formas de habitação mais proporcionadas no seu Quattro Libri dell’Architettura, no qual exibe os princípios de complementaridade da Antiguidade, como a planta ideal e os pés-direitos da habitação em relação às outras dimensões. Dimensões estas que provinham das teorias de cálculo de Pitágoras e fundamentadas na Proporção Geométrica, Proporção Aritmética e Proporção Harmónica. Contudo, no século XVIII, a implementação do sistema métrico interrompeu com esta forma de relacionar as medidas do corpo humano com o mundo. O Metro passou a ser definido como a “unidade fundamental das medidas de comprimento, (...) de valor aproximadamente igual à decima milionésima parte de um quarto de um meridiano terrestre”65 e rapidamente se difundiu pela maior parte do planeta.66

4.3. Tecnologia e Coordenação Modular “Artesanato e indústria estão a aproximar-se constantemente. O artesanato do passado experimentou profundas transformações; o artesanato do futuro será absorvido por uma unidade de trabalho produtivo à qual se confiará o trabalho de busca e experimentação que precederá a produção industrial. A busca de carácter especulativo levada a cabo nas oficinas-laboratório criará modelos standard para o trabalho produtivo das fábricas.”67 A Coordenação Modular, apesar de ser um conceito preexistente à sua definição actual, e muito mais antigo face à ideologia de produção em série, foi despoletada formalmente após a Revolução Industrial. Deste modo, urge a explanação dos processos que marcaram esta revolução e a percepção da sua importância para o surgimento da industrialização da construção.68 No final do século XVIII, a invenção da máquina a vapor de James Watt, na Inglaterra, 65 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Metro [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 11 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/metro». ­­ 66 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235. 2007. p. 6 - 8. 67 GROPIUS, Walter, cit. por TAFURI, Manfredo. 1978. Arquitectura Contemporânea. Aguilar ed., Madrid. [tradução livre]. 68 ARGENTINA. 1977, cit. por CARVALHO, A. P. A. de, TAVARES, I. de G., s.d..Modulação do Projecto Arquitectónico de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde. [em linha]. [S.l.] , s.d. [Referência de 15 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/modulacao_ hospitais_sarah.pdf 27/4».

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figura 40: Mรกquina a vapor Boulton & Watt, 1788

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impulsionou a primeira Revolução Industrial (1760-1770). (figura 40) Neste sentido, a mecanização das operações e a racionalização da produção tiveram grande aderência pela maior parte do países europeus durante o século seguinte. A mecanização das fábricas, levou à substituição do operário nas tarefas repetitivas e monótonas por máquinas rápidas, eficazes e mais rigorosas do que o trabalho artesanal.69 Neste contexto, a Arquitectura viu-se confrontada com as novas tecnologias e materiais provenientes da indústria, o que originou novas interpretações sustentadas em sínteses artísticas adequadas à nova época.70 “A revolução industrial não foi só importante pela introdução de novos materiais e novas técnicas, mas também pela transformação da gestão dos métodos e processos industriais que irão influenciar (tal como outros sectores) o sector da construção.”71 Os materiais provenientes desta época revolucionaram todo um conjunto de processos de produção. A importância do aparecimento do betão, em 1820, por Chaussées Vicat, permitiu que a sua produção industrializada acontecesse em 1844, focando a possibilidade do seu uso alargado, no âmbito dos mais diversos edificados sociais, identificando-se e exaltando-se a sua enorme versatilidade. Outro exemplo das mais valias associadas a esta revolução foram, não apenas os novos materiais mas, a reutilização de outros que passaram a apresentar um novo enfoque quer em termos de maior quantidade de produção, quer na sua maior aplicabilidade, nomeadamente, o ferro e o vidro. Por outro lado, o êxodo rural e o constante crescimento das cidades solicitaram novas tipologias funcionais e espaciais.72 (figura 41) A Arquitectura do Ferro e do Vidro surge assim num ambiente de transformação e adequação à civilização industrializada. Apesar de estes materiais não serem uma inovação das indústrias mecanizadas, a revolução dos métodos produtivos permitiram que a construção encontrasse meios para o desenvolvimento de edifícios de grande escala, e a velocidades nunca antes assistidas.73 Este tipo de construção revolucionou completamente a Arquitectura. Assim, era possível fazer espaços bastante amplos e iluminados por grandes vãos envidraçados. Apesar da pouca ornamentação, o facto de a estrutura ser parte integrante do projecto, era, ao mesmo tempo, vista como elemento decorativo, o que cativou muitos arquitectos a introduzirem uma estética funcionalista. Os recentes materiais e sistemas de construção, 69 BEHLING, Sophia e Stefan. 1996. Sol Power - La evolución de la arquitectura sostenible. Editorial Gustavo Gili, s.a.. Barcelona, 2002. p. 128. [tradução livre]. 70 BARBOSA, Maria Gabriela, 2001. Standard, Pré-fabricação e Arquitectura: Conceito e Preconceitos. FAUP. Porto. 2001. p. 34. 71 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves, 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 9. 72 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre. 73 BEHLING, Sophia e Stefan. 1996. Sol Power - La evolución de la arquitectura sostenible. Editorial Gustavo Gili, s.a.. Barcelona, 2002.

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figura 41: Indútria do aço, século XVIII

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permitiram a execução de estruturas de grandes vãos e, ao mesmo tempo, espaços com escalas proporcionais ao número de pessoas que viviam nas cidades. Foram construídos edifícios públicos de enormes dimensões que condiziam com o espírito da época, como fábricas, estações de caminho de ferro, pavilhões de exposições, mercados abastecedores, escolas públicas, hospitais, entre outros.74 Um dos primeiros exemplos de Arquitectura de Coordenação Modular, na medida em que, tanto a sua projecção, como construção, conjugou todos os elementos necessários para uma Arquitectura de rápida execução, económica e sustentável, foi construído para a Grande Exposição Industrial de Londres, de 1851, a primeira de muitas exposições a demonstrar à sociedade os novos progressos científicos e tecnológicos. O Crystal Palace, de Joseph Paxton, foi construído para expor as capacidades da standardização e industrialização dos processos construtivos. Todo o edifício foi projectado segundo uma malha modular (24 x 24 pés) e construído através de elementos de aço e vidro, totalmente pré-fabricados e produzidos em série. Para além disso, todas as componentes estruturais foram montadas por aparafusamento, permitindo, noutra perspectiva, a possibilidade de desmontar, e voltar a montar, o edifício novamente. O que aconteceu em 1854, tendo sido desmontado em Londres, transferido e remontado em Sydenham. No mesmo contexto, na Exposição Industrial de Paris de 1889, foram construídos, a Torre Eiffel, de Gustav Eiffel, e o Pavilhão das Máquinas, do arquitecto Charles Dutert e dos engenheiros Contamin, Pierron e Charton.75 Por outras palavras, edifícios como estes, demonstram a racionalização dos meios de concepção, produção, construção e a organização do trabalho em obra, com relevante preocupação na economia de custos e meios, tendo em conta a simplificação e rapidez de construção e a capacidade de os montar e até de os desmontar. (figura 42) Neste sentido, a própria indústria sofreu transformações nos seus processos e na sua gestão de métodos, nomeadamente, o recurso à standardização. Assim, no final do mesmo século, deu-se a segunda Revolução Industrial. Com as novas potencialidades tecnológicas, uma nova realidade teve lugar. A revolução dos transportes facilitou as comunicações interlocais, quer demograficamente, quer de bens comerciais como os materiais de construção.

74 BEHLING, Sophia e Stefan. 1996. Sol Power - La evolución de la arquitectura sostenible. Editorial Gustavo Gili, s.a.. Barcelona, 2002. 75 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves. 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 9 - 11.

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figura 42: Crystal Palace, Londres, 1859

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4.4. Funcionalismo e Coordenação Modular No século XIX, a necessidade e interesse pelo estudo das dimensões humanas e sua operatividade voltaram ser relevantes. Desta forma, surgiu a Antropologia, “estudo do homem do ponto de vista anatómico, fisiológico, biológico e genético”76, e a Ergonomia, “disciplina científica cujo objectivo é estudar as características laborais, de forma a adequar o local de trabalho e o equipamento ao trabalhador, gerando mais conforto, segurança, eficiência e produtividade.”77 Neste contexto, surgiram novas classificações e listas de padrões, generalizando os processos, as técnicas antropométricas e os respectivos aparelhos de medição. Desta forma, as medidas eram feitas, não a partir de membros mas, através de um conjunto de relações métricas. Zeising78 elaborou um estudo gráfico estabelecendo uma divisão rigorosa e detalhada do corpo humano baseado em proporções métricas.79 (figura 43) Durante o século XX o manifesto do funcionalismo procurava a optimização dos meios a fim de estabelecer processos e resultados que respondessem às necessidades do Homem no advento dos novos tempos.80 “A arte de projectar em arquitectura sofreu, na urgência de reconstrução da Europa do pós-guerra, profundas transformações de paradigma, pela introdução de novos materiais e maiores exigências funcionais, que se revelaram decisivas para a uniformização.”81 Nos países desenvolvidos (Grã-Bretanha, Alemanha, França, Estado Unidos da América), surgiu uma nova tendência para a construção industrializada, apologia do qual se ressalva o contributo de arquitectos como Walter Gropius, Ernst May, Hannes Meyer, Albert Kahn, Le Corbusier, Mies van der Rohe, Buckminster Fuller, Konrad Wachsmann, entre outros profissionais da construção como Jean Prouvé. O acesso aos novos materiais e técnicas construtivas induziram o recurso à indústria como um meio favorável ao desenvolvimento e globalização de novas tipologias arquitectónicas.82 Sendo o movimento do Arts and Crafts britânico presente na altura e opondo-se à industrialização, surgiram organizações como o Deutscher Werkbund, estabelecido em 76 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Antropologia [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 15 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/antropologia». 77 Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Ergonomia [em linha]. [Portugal] : Porto, 2003 - 2010 [Referência de 15 de Maio de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/ergonomia». 78 ZEISING, Adolf. Psicologo alemão que se interessou pela Matemática e Filisofia, desenvolvendo o chamado “raio de ouro”, o que lhe permitiu estipular cânone baseado em medidas métricas. (1854?). Disponível na Internet em: «http://en.wikipedia.org/wiki/Adolf_Zeising». 79 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235. 2007. p. 8. 80 IBIDEM. p. 2. 81 IBIDEM. p. 10. 82 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves. 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 9.

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figura 43: Proporções estudadas por Zeising, século XIX

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Munique (1907) por arquitectos como Peter Behrens, J.M. Olbrich, J. Hoffman, Walter Gropius, entre outros artistas e empresários.83 As iniciativas deste grupo passaram por “equilibrar objectivos económicos, artísticos e morais e reconciliar o capitalismo e a cultura. Esperava-se que esta reconciliação se pudesse expressar num novo estilo.”84 Neste sentido, grandes empresas alemãs passaram a contratar arquitectos para desenvolverem os seus edifícios. A fábrica de turbinas AEG foi desenvolvida no gabinete de Peter Behrens, onde Gropius era colaborador. Em 1911, depois de organizar uma exposição exemplar sobre Arquitectura Industrial, Gropius, em conjunto com Adolf Meyer, desenvolveu a sua primeira fábrica em Alfeld. A fábrica Fagus foi construída através da planificação de uma malha standardizada, desenvolvida numa estrutura totalmente independente da fachada do edifício. Desta forma, recorreu escassamente ao uso do tijolo e, por outro lado, expôs as esquinas do edifício em vidro. Fez uso de pormenores nunca antes vistos, o que levou a ser o famoso edifício daquela época. Contudo, este afastamento ao historicismo não foi totalmente reconhecido. Só na década de 1920, é que foi considerada um dos principais exemplos do modernismo arquitectónico.85

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(figura 44) No mesmo contexto, nos

Estados Unidos da América, Albert Kahn desenvolveu novas tipologias fabris, nas quais se fundamentou em processos de pré-fabricação para uma execução rápida e a baixos custos. Deste modo, em 1908, concluiu a fábrica Ford Old Shop e entre 1935 e 1937, com o acesso a novos sistemas construtivos pré-fabricados, fez fábricas para a Chevrolet e para a Chrysler.87 Com o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as experimentações construtivas encontradas nas novas fábricas, levaram alguns arquitectos a reflectir sobre o problema da habitação para as massas. Programa que iria alcançar grande relevância ao longo do século XX.88 “Ainda me lembro de quando saí da Primeira Guerra Mundial. Houve um momento na minha vida que nunca esquecerei, em que percebi que tinha de participar em algo completamente novo, que mudasse as condições que vivera antes. No início da minha vida tinha ideias utópicas e ninguém pensou que podiam tornar-se realidade, mas hoje sãono.”89 Sob a direcção de Walter Gropius, a Bauhaus (1919-1933) nasceu da catástrofe, 83 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves. 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 12. 84 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 9. 85 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves. 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 12. 86 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 9 - 11. 87 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves. 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 12 - 13. 88 IBIDEM. p. 13. 89 GROPIUS, Walter. cit. por WHITFORD, Frank. Bauhaus – the face of the 20th century.

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figura 44: Fรกbrica Fagus, Alfeld, 1911

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num contexto em que se visava promover uma reforma, na educação da Arquitectura e do Design, que revolucionasse o mundo. Baseado na ideia de ultrapassar a contradição entre arte e tecnologia, que Gropius associava a “cultura e civilização”, no seu Manifesto da Bauhaus, “formulou a promoção da colaboração entre os artistas e artífices como exigência essencial.”90 Apenas se referiu aos ofícios, e não à tecnologia, visto a condição da indústria alemã estar em colapso depois da guerra. Com a sua obsessão por encontrar a “arte e tecnologia” e fundamentado nas formas elementares e nas cores primárias, Gropius procurou encontrar soluções para a integração de designs propícios a serem realizados através da produção industrial. Deste modo, todos os produtos desenhados na escola, deveriam seguir uma linha de orientação, constituídos por peças simples, padronizadas e suficientes para responder a todas as exigências que qualquer corpo humano exige. Durante os catorze anos de existência, a Bauhaus foi vista como o símbolo na direcção do Racionalismo e do Modernismo, desprezando todos os confortos supérfluos do ser humano.91 (figura 45) Das inúmeras obras e objectos provenientes dos pilares edificadores da Bauhaus, sobressai a Hous am Horn, na medida em que procurou a reeducação do público para a habitação unifamiliar, como sinónimo de viver confortável e economicamente. Apesar de ter sido um protótipo expositivo maioritariamente manufacturado (Exposição da Bauhaus, 1923), tinha em vista a capacidade de ser produzida em série e por métodos industrializados.92 “A Haus am Horn marcou o início de uma campanha para reeducar o público.”93 Esta habitação unifamiliar, revelava a tendência para reunir os símbolos de estatuto e criar conforto, para além de concentrar-se em viver economicamente, de modo funcional e higiénico. O espaço habitacional tinha sido reinventado.94 O que actualmente é um dado adquirido, foi demonstrado nesta casa pela primeira vez através de uma planta inovadora. As áreas da casa, apesar de serem reduzidas e distribuídas de diferente modo em relação à habitação tradicional, concentravam todas as funções implícitas à habitação de forma racional e padronizada, o que tornava o trabalho doméstico mais fácil, assim como a própria habitabilidade. Quase não existiam corredores. A sala de estar era o núcleo da habitação e, a partir desta, dava-se acesso a todas as outras 90 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 15. 91 IBIDEM. p. 15 - 61. 92 WATKINSON, Gordon. 2009. Bauhaus twenty-21 – an ongoing legacy. Birkhäuser Verlag AG, 2009. p. 35. 93 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 40. 94 IBIDEM. p. 40.

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figura 45: Bauhaus, 1919-1933

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divisões da casa que de certa forma, a envolviam. Os quartos eram destinados simplesmente para pernoitar, à excepção do quarto das crianças que também podia servir para brincar. Enquanto as crianças estavam no quarto, a dona de casa podia observá-las da cozinha que se situava adjacente a este. A cozinha foi considerada a primeira cozinha moderna. Encontrava-se separada da sala de jantar, pois, foi projectada exclusivamente para cozinhar. Tinha uma única bancada contínua e equipada com os electrodomésticos mais modernos. Por outro lado, tanto na cozinha como na sala de jantar, todo o espaço tinha superfícies suaves para facilitar a sua limpeza. Ainda existia uma cave, onde se situava a lavandaria. As casas de banho encontravam-se próximas dos quartos. “Este edifício foi projectado como uma casa ideal para uma família.”95 96 Contudo, apesar de a casa ter sido considerada “importante e significativa”, não conseguiu atingir os seus objectivos e acabou por ser alvo de bastantes críticas. A nível de desenho, o facto de se colocar um quadrado (sala de estar) dentro de outro quadrado (restantes divisões da casa), tornava a sala de estar a divisão maior e as restantes muito pequenas, o que também implicava a não existência de corredores que, para muitos, criava restrições a nível de acesso. Por outro lado, a casa “não tinha convicção estética de muitos produtos da Bauhaus: submetia-se de forma pouco entusiástica ao Modernismo.”97 (figura 46) Em 1928, Gropius projectou as habitações em banda da Propriedade Residencial de Törten, em Dessau. Com este projecto, Gropius queria demonstrar as vantagens da industrialização do processo de construção massiva segundo o princípio da linha de montagem que Henry Ford havia desenvolvido nos Estados Unidos da América. (figura 47) Embora tivesse a produção industrial em mente, as trezentas e catorze casas tiveram de ser desenvolvidas no local de obra e não nas fábricas. Contudo, como perto da zona de construção havia depósitos de cascalho e areia, organizou todas as tarefas de construção no local a fim de obter eficácia e rapidez de construção, o que não revelou os objectivos do projecto, no final da construção de apenas sessenta casas. Após a construção de uma primeira fase, o tempo de obra e economia de projecto propostos, estavam a ultrapassar os limites. O que levou a propriedade a ser elaborada em três fases, num período de quatro anos. Por outro lado, os residentes, que até tinham aceite a Arquitectura Moderna de modo indiferente, sentiam-se revoltados com os defeitos de construção e excesso de custos de manutenção, para além de apontarem falta de serviços urbanos no local. Nas duas fases de

95 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 15 - 61. 96 WATKINSON, Gordon. 2009. Bauhaus twenty-21 – an ongoing legacy. Birkhäuser Verlag AG, 2009. p. 35. 97 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 41.

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figura 46: Haus am Horn, Weimar, 1923

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obra seguintes, quando a indústria se começava a recompor, Gropius conseguiu rectificar os prejuizos apontados anteriormente e, seguindo uma linha de montagem e respectiva construção de modo quase ininterrupto, conseguiu responder ao problema da falta de habitação através da execução de habitações pequenas (57, 70 e 74 metros quadrados), mas baratas o suficiente para ser compradas pela classe operária em vez de alugadas.98 99 (figura 48) “A estética de série desta propriedade reflecte o método de produção.”100 No mesmo contexto, em 1926, Ernst May projectou em Frankfurt um bairro segundo o conceito de construção normativa para potenciar a habitação higienista e acessível à população.101 Em França, Le Corbusier abordou a tipologia da casa em série e expôs a sua pesquisa em “Vers une Architecture” (1923), através de estudos das razões áureas encontradas nos edifícios gregos. Durante o seu processo de experimentação, revela novas tendências para uma rápida construção de estruturas, que facultassem soluções para a resolução do problema da falta de habitação derivado da destruição da Primeira Grande Guerra. Neste contexto, refere a estrutura da Casa “Dominó” (1914) como a base de uma habitação passível de se construir em apenas três dias. “O procedimento construtivo é aplicado aqui a uma casa de senhor que é concebida ao preço do cubo da simples casa operária. Os recursos arquitecturais do procedimento construtivo autorizam disposições largas e ritmadas e permitem fazer verdadeira arquitectura. É aqui que o princípio da casa em série mostra o seu valor moral: um certo laço comum entre habitação do rico e a do pobre, (...) casa em série acessível a todos, (...) Porque a casa em série implica traçados automaticamente amplos e grandes. Porque a casa em série necessita o estudo aprofundado de todos os objectos da casa e a busca do padrão, do tipo. (...) a casa em série imporá a unidade dos elementos, janelas, portas, procedimentos construtivos, matérias. Unidade de detalhes e grandes traçados de conjunto.”102 (figura 49) Nestas constantes abordagens, Le Corbusier afirmava que o equilíbrio da sociedade era uma questão de construção. Como naquela época os transportes se encontravam em desenvolvimento e estavam constantemente a revolucionar os diversos sectores da sociedade, Le Corbusier apontava o sector industrial como sendo o mais relevante, pelas vantagens da prática do taylorismo e o emprego das máquinas de produção dos canhões, 98 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 51. 99 WATKINSON, Gordon. 2009. Bauhaus twenty-21 – an ongoing legacy. Birkhäuser Verlag AG, 2009. p. 35. 100 IBIDEM. p. 45 - 53. 101 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves, 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 14. 102 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 162 - 169.

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figura 47: Processo de linha de montagem

figura 48: Metodologia da construção de TÜrten

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aviões, transatlânticos e automóveis. O que na sua perspectiva, devia ser orientado para: “fabricar casas”. Deste modo, projectou as “Casas em série “Citrohan” (para não dizer Citroën)”103 produzidas em série, como automóveis. (figura 50) A Casa “Monol” foi projectada e produzida como vagões de comboios e o “Edifício-Casas” era construído com pequenas parcelas (casas em série) justapostas de modo a formar um todo (edifício), como se tratassem de partes constituintes de uma máquina.104 (figura 51) Em 1925, foram construídas as “Quartiers Modernes Frugès” em Bordeaux-Pessac, onde pode por em prática a ideias de standardização, fabricação em série e composição modular.105 Concomitantemente, Le Corbusier defendia que qualquer aspecto relacionado com a habitação estava em coerência com o conceito racional da máquina. Desta forma introduziu um conceito revolucionário: “a casa como máquina de habitar.”106 Tal como Le Corbusier, Hannes Meyer pretendia “unir a organização, importância simbólica, função e construção.”107 Em meados de 1928, passou a assumir a direcção da Bauhaus e, tendo por base o seu lema: “Responder ao Povo, não servir o luxo”, aplicou diferenças tanto a nível de curso, como propôs a mudança entre os mestres. Entre eles encontrava-se Lugwig Hilberseimer, urbanista que defendia a redução das formas arquitectónicas ao mais escasso, essencial e geral. Por outro lado, a sistematização de cálculo para soluções de construção em elevação e o planeamento da cidade como um todo, destacando zonas residenciais (habitação unifamiliar) de outros tipos de edifícios (arranha-céus). Este pragmatismo e abordagem racional e sociopolítica para resolução de problemas habitacionais, ia inteiramente de acordo com a ideologia de Meyer.108 Do mesmo modo que Gropius, a obsessão de Meyer por encontrar a standardização de produtos pré-fabricados industrialmente, levou-o a defender a industrialização com base em tipos-padrão e a racionalização da construção. Daí ter sido reconhecido como o racionalista. Para ele, o indício mais seguro de uma verdadeira comunidade era a satisfação de necessidades iguais com meios iguais, a partir do qual, o resultado desta exigência colectiva era o produto standard produzido em cadeia, como artigos de série, instalações de série, elementos de construção de série, casa de série. Desta forma procurava um índice para a economia comunitária a partir de um nível elevado de standardização. “A nova casa 103 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006.p. 170. 104 IBIDEM. p. 162 - 188. 105 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves, 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 13. 106 IBIDEM. p. 9. 107 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 77. 108 IBIDEM. p. 63 - 81.

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figura 49: Estrutura Domino, 1914

figura 50: Casa Citrohan

figura 51: Casa Monol

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é um edifício pré-fabricado para montagem no local; como tal, é um produto industrial e trabalho de uma variedade de especialistas: economistas, técnicos de estatística, higienistas, climatologistas, engenheiros industriais, especialistas em standardização, engenheiros de aquecimento... e o arquitecto?... Ele era um artista e agora torna-se um especialista em organização!”109 Convencido das suas ideologias e baseado em alguns protótipos fabricados em grandes quantidades, dentro da Bauhaus, começou por desenvolver o objectivo de produzir standards acessíveis a uma ampla secção da sociedade. Deste modo desenhou a Volkswohnung (casa de pessoas), onde expunha as vantagens de um sistema de montagem fácil de peças standard. Os mobiliários eram projectados e produzidos de igual forma. No mesmo contexto e com base no projecto Törten de Gropius, entre 1929 e 1930, proporcionou aos alunos o projecto para a construção de cinco blocos residenciais de acesso pela varanda (galeria) como parte da ampliação da Propriedade Residencial. Uma experiência prática considerada essencial, pois este tipo de acesso exigia uma única escadaria, assim como a redução da área das células habitacionais permitiam uma construção económica e rápida. Para Meyer, a habitação tinha de ser bem aceite pelo “proletariado”.110 111 Apesar de ter sido o seu último projecto na Bauhaus, Meyer deu a conhecer os seus idealismos acerca do tema da habitação segundo, o que para ele era, uma planta de “factores fáceis”, consistente da constante repetição de células habitacionais standard e, por sua vez, da repetição dos pisos em planta. Por outro lado, revelou importância do cálculo e exercícios técnicos e funcionais como parte da formação fundamental. Apesar de ter sido mal visto durante o seu tempo na Bauhaus, as suas ideologias, assim como as de Hilberseimer, foram seguidas a partir de 1945, depois da destruição massiva da Segunda Guerra Mundial.112 Em 1930, Mies van der Rohe ocupa o lugar de Meyer. Do mesmo modo que os seus antecessores, aplicou reformas no ensino, como a reintrodução da história nas cadeiras de arquitectura, pois afirmava que “a ‘padronização e as normas’ não devem ser sobrestimadas, nem as condições sociais vistas como inevitáveis. (...) a arquitectura tem de começar a utilizar a indústria e tecnologia modernas (...) para que seja possível reconhecer o seu carácter, torna-se necessário fazer comparações com o passado.”113 Contudo, em 1933, 109 MEYER, Hannes. cit. por WANG, Wilfred. 2008. Standard, in JA235. 2008. p. 18. 110 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 79. 111 WATKINSON, Gordon. 2009. Bauhaus twenty-21 – an ongoing legacy. Birkhäuser Verlag AG, 2009. p. 179. 112 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 45 - 53. 113 IBIDEM. p. 83.

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figura 52: Dymaxion House

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em virtude da política nazi vigente na época, a Bauhaus foi fechada, pois era considerada contra os princípios da nação. Desta forma, as ideologias de Mies e da escola, assim como as de outros arquitectos europeus, foram seguidas noutros países, pois viram-se forçados a emigrar prevendo uma futura guerra.114 115 Os Estados Unidos da América, foram o local de refúgio de muitos arquitectos. Ao contrário do que se passava do outro lado do Atlântico, a construção americana tinha como tradição o recurso a técnicas alternativas. Muitas das habitações eram construídas com elementos totalmente pré-fabricados em oficinas e construídos no local, como é o caso das balloon frame. Por outro lado, a Grande Depressão de 1929 agravou a situação habitacional e a crise económica, o que levou muitas pessoas a procurarem soluções de baixo custo, como a habitação produzida em massa. Naquela altura, Buckminster Fuller projectou a Dymaxion House, constituída por elementos pré-fabricados em metal e fácil de transportar e construir no local, pois, apesar da sua forma hexagonal, a sua estrutura era suportada num pilar central. Como se de um guarda-chuva se tratasse.116 (figura 52) Em todos os estados americanos, haviam empresas que contratavam arquitectos para desenvolverem este género de casas. Entre elas encontrava-se a General Houses Corporation, a qual contratou Konrad Wachsmann e Walter Gropius para desenvolver a Packadge House (1942), segundo um sistema metálico e com painéis standard de proporções similares, que permitiam uma grande flexibilidade na combinação dos painéis. Toda a casa podia ser montada em apenas um dia.117 No decorrer da Segunda Grande Guerra, Le Corbusier aborda novas ideologias consistentes em ignorar as extravagâncias de certos extractos sociais e conduzindo intensamente a sua arquitectura para uma tipologia. Por outras palavras, baseou-se na divisibilidade harmónica do corpo humano e desenvolveu o seu cânone de Homem ideal. Publicado em 1942, “Le Modulor” revela a relação da figura humana com as dimensões funcionais do espaço. “Le Corbusier acreditava que faria uma generosa dádiva à humanidade ao ‘inventar’, ou mais precisamente ao apropriar-se da sequência de Fibonacci, entre outros sistemas, para estabelecer o ‘Modulor’.”118 Desta forma, estabeleceu como altura do Homem a medida de 1,83 metros, esquematizado a partir de um quadrado, do qual 114 DROSTE, Magdalena. 2006. Bauhaus 1919-1933: Reforma e Vanguarda. Köln: Tashen Editora, 2006. p. 85 - 92. 115 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves, 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p.16. 116 IBIDEM. p. 15. 117 IBIDEM. 118 WANG, Wilfred. 2008. Standard. in JA235. 2008. p. 18.

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figura 53: Le Modulor

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são construídos outros dois quadrados contíguos e iguais ao primeiro. A disposição destes na vertical estipulam a altura de um homem com os braços levantados. A estrutura básica utilizada surgia através de duas séries gráficas (série azul e série vermelha) em que, tal como na série de Fibonacci, 43, 70, 113, formulavam somas consecutivas, correspondendo às marcações das diferentes partes da figura humana. Ou seja, 113, 183 e 226, correspondem à altura do umbigo, cabeça e braço levantado, respectivamente. Desta forma, a série azul estipulava a altura máxima de ocupação, desde os pés aos dedos do braço levantado, e era definida pela soma dos três termos principais da série vermelha, que apenas visava as medidas a partir de metade da altura do corpo, ou do umbigo.119 (figura 53) Neste sentido, Le Corbusier “procurou humanizar a optimização de dimensões mínimas onde o truque era a aplicação dos princípios de proporcionalidade que estabeleceu.”120 Por outras palavras, tentou abordar a “Normalização: chegar ao estatuto de regra; descobrir o principio capaz de servir como regra.”121 O seu manifesto da utilização do Le Modulor foi a Unidade Habitacional de Marselha. (figura 54) Posteriormente, outras unidades habitacionais foram projectadas e realizadas por Le Corbusier noutras cidades e países. Do mesmo modo, outros autores começaram a desenvolver os seus edifícios utilizando, como “régua”, o Modulor. Apesar das divergências formais, todos eles seguiam os mesmos princípios.122 Também em França (1939), Jean Prouvé, apesar de não ser arquitecto, desenvolveu um sistema de pórtico modular (6x6metros) destinado para habitações de férias, produzidas em série e em massa. Estas casas eram pequenas, mas eram feitas com o propósito de se poder transportar facilmente. A sua construção era feita com peças pré-fabricadas em madeira, o que permitia a sua montagem e desmontagem in situ, nos diferentes destinos de férias dos proprietários.123 Durante o século XX, a estratégia de racionalização do espaço e das componentes pelo funcionalismo, levantaram condições para a investigação no sentido de uma recuperação de outros valores, como, por exemplo, o organicismo de Frank Lloyd Wright, o expressionismo de Alvar Aalto, a escola italiana de Aldo Rossi, a escola francesa de Philipe Panerai e a escola do Porto de Fernando Távora e Álvaro Siza Vieira. Neste sentido, reivindicou-se a 119 RAHIM, Shakil, 2007, Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 9. 120 IBIDEM. p.9. 121 LE CORBUSIER. 1950. O Modulor - Ensaio sobre uma medida harmónica à escala humana aplicável universalmente à arquitectura e à mecânica. Tradução, prefácio e notas de Marta Sequeira. Orfeu Negro, 2010. p. 131. 122 IDEM. 1955. Modulor 2 – Os utilizadores têm a palavra – continuação de O Modulor de 1948. Tradução, prefácio e notas de Marta Sequeira. Orfeu Negro, 2010. p. 119 - 153. 123 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves. 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 14.

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figura 54: Unidade Habitacional de Marselha

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inovação do desenho para a construção da arquitectura e da cidade (morfo-tipologias, frente de rua, quarteirão, composição). Procurou-se humanizar o espaço.124 Contudo, na segunda metade do século, as preocupações da sociedade apontavam para o desprezo da ciência e da tecnologia na medida em que estas nem sempre foram benéficas. Podiam ser prejudiciais e altamente destrutivas para a humanidade caso fossem mal utilizadas. “O abalo das consequências da guerra em cada nação, fez realçar e valorizar os valores patriotas e regionalistas, pelo que a percepção do homem moderno universal, com necessidades, estilos de vida e valores estereotipados entrou em crise e trouxe à discussão social e artística questões como o valor da diferença, o pôr em causa a fé no progresso e consequente corte com o passado, a valorização da tradição.”125 Neste sentido, em meados dos anos 60, surge uma nova tendência mais vocacionada para preocupações emergentes. Neste sentido, elevam-se inquietações relativamente ao excessivo abuso da repetição e seriação de edificados, sem que repensassem os edifícios como únicos, individuais e personalizados. Por outro lado, esta propensão encontrava-se igualmente associada ao maneirismo e economicismo e, por vezes, à falta de qualidade, o que ressalvou e redireccionou a forma de pensar a construção numa via mais tradicionalista. Consequentemente, o que se verificava era uma nova predisposição dos indivíduos para o exuberante. Assim sendo, profissões liberais como a dos Arquitectos, que não assumem um papel condicionado a nível técnico e insignificante no que remonta às questões estratégicas de gestão política, ficam livres para expressar as suas vocações mais artísticas. O arquitecto passou a optar livremente por referências quer historicistas, quer hipertecnológicas, reflectindo-as através de inovadoras estratégias conceptuais e de projecto.126

124 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235. 2007. p. 14. 125 TOMÉ, Ana Sofia Gonçalves. 2006. Arquitectura(s) de Pré-Fabricação: O Fenómeno do Contentor Habitável. Porto, 2006. Faup. p. 17. 126 IBIDEM.

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figura 55: Medidas funcionais

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5. Contributos para o Século XXI: Casos de Estudo Actualmente, constatamos espaços construídos, aos quais o Homem procura adaptar-se. “O Desenho Universal ou Inclusivo é um conjunto de metodologias e práticas que são utilizadas na concepção de bens, ambientes e produtos, tornando-os seguros e confortáveis para o maior número de utilizadores, independentemente das suas limitações, promovendo a autonomia e melhoria de qualidade de vida.”1 Entendemos, deste modo, que o Desenho Universal é um instrumento de desenvolvimento, essencialmente favorável à sociedade, sem destacar estatuto, etnia, idade, sexo ou outras condições físicas. (figura 55) Não obstante as concepções arquitectónicas modernas, podemos referir estudos gráficos referentes às definições dos princípios de organização espacial e funcional provenientes do funcionalismo do século XX. A título exemplificativo, veja-se o “Arte de Projectar em Arquitectura” do arquitecto alemão Ernst Neufert2, editado e traduzido em várias edições desde 1936, continua a ser bastante utilizado e considerado como “um álbum ilustrado de sugestões de bem-fazer, com o objectivo de realizar a empreitada com sucesso. Ensina aos arquitectos a gestão das diferentes disposições no espaço, a forma de optimizar a actividade e encontrar as melhores manobras de distribuição dos intervenientes.”3 Neste sentido, destacamos a importância do estudo de referências matemáticas e das respectivas relações métricas, funcionais e espaciais em arquitectura. Desta forma, ao longo de toda a história podemos apontar exemplos de Arquitectura e/ou Design, os quais foram fieis às exigências básicas do Homem. Independentemente das ideologias arquitectónicas, a utilização de princípios relacionados com a actividade, facultaram a mais propícia solução através dos estudos de outrem que estabeleceu um standard gráfico capaz e completo, em determinada época. Paralelamente, a estratégia de qualquer arquitecto passou por estudar os seus antecessores e passa por elaborar as diferentes fases de projecto e construção mediante um conceito, mais ou menos subjectivo e/ou mais ou menos recorrente.4 Contudo, o objectivo é sempre comum: “servir o Homem”.5 Neste contexto, a Coordenação Modular direcciona a actividade para uma objectiva recorrência por parte de um conjunto de arquitectos, apontando para uma representação e interpretação equitativa para a realização do objecto arquitectónico. Consequentemente, 1 RAHIM, Shakil, 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 15 2 IBIDEM. p. 2 - 15. 3 IBIDEM. p. 2. 4 LE CORBUSIER, 1955. Modulor 2 – Os utilizadores têm a palavra – continuação de O Modulor de 1948. Tradução, prefácio e notas de Marta Sequeira. Orfeu Negro, 2010. 5 RAHIM, Shakil, 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 2.

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figura 56: Construção Modulada

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a prática desta estratégia valoriza a abrangência e a necessidade de resposta a um colectivo da sociedade. Por outras palavras, através de uma base de representação comum (módulo), é possível redireccionar a indústria como a ferramenta capaz de realizar os elementos materiais necessários para atingir o objectivo comum. Por outro lado, a flexibilidade de uma peça modular permite estabelecer um leque infinito de formas, programas e imagens relativos a cada autor. (figura 56) Neste capítulo, apontamos casos de estudo dentro da temática da Coordenação Modular de bastante relevância na actualidade. Desde o Design à Arquitectura, encontramos objectos e edifícios, produzidos a partir de indústrias especializadas, que conseguem responder às expectativas dos consumidores mais exigentes.

5.1. Projecto e Construção Modular “Generalizou-se uma arquitectura global, com novas geometrias não euclidianas, com a apologia da flexibilidade, mutação, aceleração e complexidade, num caleidoscópio de relações piranesianas através de múltiplos níveis. (...) Basicamente está tudo controlado, não existindo lugar para o imprevisto, nem para a surpresa.”6 Os conceitos básicos do funcionalismo do século XX deixaram contributos e perspectivas inovadoras, os quais inspiraram as novas gerações de arquitectos no advento dos tempos. Na década de cinquenta, Mies van der Rohe surgiu com um conceito revolucionário através de uma Arquitectura baseada na “consistente eliminação do excesso de ornamentos e de formas redundantes”7. Para ele, a Arquitectura devia ser fundamentada com conceitos e espaços puros, assim como as cidades deviam ser vastamente compostas pela repetição de “caixas” anónimas e idênticas. Desta forma, Mies van der Rohe afirmou “Less is more”, ou traduzido, “Menos é mais”. Neste sentido, o Minimalismo era sustentado pelo recurso a um número reduzido de intervenientes, quer conceptuais, quer formais e espaciais, para obter um género arquitectónico mais simples mas, ao mesmo tempo, mais complexo e completo. (figura 57) O que nem sempre foi bem visto por um colectivo de arquitectos, nomeadamente Robert Charles Venturi. Em resposta ao Minimalismo, durante os anos setenta afirmou “Less is a bore” ou, “Menos é entediante”. Neste contexto, o Pós-modernismo surgiu como uma contra-revolução à monotonia da Arquitectura Modernista. Venturi defendia a reintrodução 6 RAHIM, Shakil, 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 12 - 13. 7 INGELS, Bjarke. 2009. Yes is More - An Archicomic on Architectural Evolution. EVERGREEN GmcH. Köln, 2009. p. 2.

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figura 57: Mies van der Rohe

figura 58: Robert Venturi

figura 60: Rem Koolhaas

figura 59: Philip Johnson

figura 61: Bjarke Ingels

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de simbolismos e da ornamentação de modo a obter “complexidade e contradição” em vez de “simplicidade e consistência.” (figura 58) Em 1982, Philip Cortelyou Johnson apontou para a pertinência de um estilo arquitectónico que identificasse e assimilasse um conjunto de conceitos e estilos arquitectónicos do século XX e dos séculos anteriores, embora fundido com as novas capacidades tecnológicas e construtivas. Desta forma surgiu o Oportunismo e Ecletismo.8 (figura 59) A sequencial crítica do modernismo no século passado, e que se tem posto em causa no início deste século, tem motivado os arquitectos contemporâneos a desenvolver as suas obras pela força da globalização económica e cultural da Arquitectura. Rem Koolhaas, por exemplo, tem sido protagonista das condições que ele próprio investiga. Os seus estudos abordam os mais diversos temas, como a cidade genérica, a globalização, tamanho, comércio, entre outros aspectos, mais ou menos específicos, de modo a que consiga compreender e apreciar o Mundo tal como é actualmente, em vez de o prejudicar. Neste sentido, em 2001, afirmou “More is more”, ou “Mais é mais” na medida em que defende a observação exaustiva da envolvente como a estratégia mais digna de cada arquitecto ou urbanista. “Entender precede a acção.”9 Deste modo, tende-se a evitar os manifestos, levando cada arquitecto a compreender formas de organização mais próprias e complexas como a hierarquia e a composição.10 (figura 60) No entendimento dos princípios de Koolhaas, o arquitecto dinamarquês Bjarke Ingels pressupôs, em 2009, o Pragmatismo Utópico. Através do estudo de referências históricas, a sua Arquitectura fundamenta-se entre dois pólos extremamente opostos, sendo um deles considerado desligado da realidade, onde as ideias mais revolucionárias podem ser realizáveis ou meras curiosidades e, por outro lado, exemplos bem organizados e construídos por “caixas aborrecidas de alta standardização”, levaram-no a adquirir o conhecimento para a sua materialização.11 (figura 61) Na medida em que os arquitectos supracitados desenvolveram os respectivos idealismos, cada um afirmando-se melhor do que o anterior, Bjarke refere “Yes is more”, ou “Sim é mais”, coligando o que é o objectivo comum entre todos eles (mais ou melhor) sem retirar a importância de cada um, naquela época ou na actualidade. Neste sentido, Bjarke Ingels afirma que “a Arquitectura de Pragmatismo Utópico assume a criação de lugares, socialmente, economicamente, e ecologicamente, perfeitos como uma prática objectiva.”12 8 INGELS, Bjarke. 2009. Yes is More - An Archicomic on Architectural Evolution. EVERGREEN GmcH. Köln, 2009. p. 2 - 6. 9 IBIDEM. p.8. 10 IBIDEM. p. 2 - 12. 11 IBIDEM. 12 IBIDEM. p. 12.

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figura 62: Peças LEGO®

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Assim, cabe-nos questionar se a Arquitectura do século XXI poderá encontrar novos conceitos fortes e capazes de satisfazer o Homem mediante as preocupações actuais envoltas na habitação. “A arquitectura transformou-se finalmente num jogo, do tipo Tetris ou Lego. (...) Generalizou-se assim uma arquitectura baseada nos projectos modulares, nas casas-tipo e nos andares-modelo. Tudo é tipificado.”13 No contexto da frase citada, visamos destacar a importância que a Coordenação Modular revela ter na actualidade. Apesar de ter surgido em meados do século XIX, a sua evolução e adaptação, alcança, hoje, patamares bastante abrangentes nos diversos sectores. É comum encontrarmos objectos e materiais fabricados com dimensões standard sob referências DIN ou ISO. Existem tabelas técnicas e desenhos técnicos, que, na área da construção, orientam para a compatibilização de medidas, assim como a procura do espaço humanizado. Por outro lado, diversas empresas de construção, fornecem catálogos e desenhos digitais de materiais ou equipamentos, que, de certa forma, facilitam o desenvolvimento dos projectos nos softwares de sistemas vectoriais.14 15 Neste sentido, uma Arquitectura de Coordenação Modular, consiste no equilíbrio entre ideologias e meios uniformizados, cuja realização provém da multiplicação e adição de pequenas peças para complementar um todo. Tanto em projecto como em construção. Tal como acontece com o brinquedo da marca LEGO®, a junção de múltiplas peças permite inúmeras combinações, assim como diferentes propósitos para as crianças se divertirem. É possível criar automóveis, aviões, edifícios, entre muitos objectos que encontramos na escala real. Os primeiros exemplos da marca foram criados em madeira pelo dinamarquês Ole Kirk Christiansen. No entanto, a partir dos anos cinquenta, um novo material substituiu a madeira, tanto pela sua facilidade de moldagem, como pela permeabilidade de ser produzido em grande escala e industrialmente.16 O tijolo de plástico surgiu assim sob formas puramente geométricas, com pequenos cilindros na sua face superior e reentrâncias na face inferior. Deste modo, todas as peças da marca adoçam-se numa panóplia de formas, feitios e tamanhos. O tijolo LEGO® tornou-se num dos ícones da construção do século XX. 17 (figura 62) 13 RAHIM, Shakil. 2007. Neufert – Arte de Uniformizar em Arquitectura. in JA235, 2007. p. 12. 14 IBIDEM. p. 13. 15 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A.. 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP, 2007. p. 11 - 13. 16 LEGO, The LEGO Group [em linha]. [S.l.] : 2010. [Referência de 17 de Novembro de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://aboutus.lego.com/en-US/ group/default.aspx». [tradução livre] 17 LEGO. Mission and Vision [em linha]. [S.l.] : 2010 [Referência de 11 de Julho de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://www.lego.com/eng/info/default. asp?page=vision». [tradução livre]

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figura 63: Modular Mania

figura 64: Modular Mania, Maquete feita com Legos

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No contexto destas pequenas criações, Bjarke Ingels desenvolveu o projecto Modular Mania, na medida em que, desde o segundo pós-guerra, existem diversas fábricas dinamarquesas preparadas para desenvolver lajes pré-fabricadas em betão. Nesta conformidade, a forma proposta consistiu na colocação das “Concrete Lego Slabs”, ou “Lajes de Betão Lego”, em diferentes cotas, dando carácter público às lajes mais próximas do solo e privatizando as mais elevadas. Deste modo, a aglomeração dos módulos constituem espaços ao ar livre, anfiteatros, parques de estacionamento, comércio e, conforme se vão associando e criando arranha-céus, habitações e escritórios.18 “Essencialmente, a adição de módulos tornou-se uma forma de desenhar casas.”19 (figura 63 e 64) As novas formas habitacionais encontram na construção modular, tal como acontece com os LEGO®, inúmeras possibilidades e configurações, para além serem mais acessíveis e ecológicas nos meios de produção e construção. Com a Coordenação Modular, podemos fabricar peças Lego à escala real que facultem a construção das nossas habitações. 5.2. Produção Industrial e Sustentabilidade “Num país como Portugal, onde existe um artesanato vivo mas em grande transformação, para não dizer em vias de extinção, é ainda possível realizar protótipos (...) Muitos móveis, por exemplo, que hoje são produzidos em série têm origem no mobiliário projectado para uma determinada casa. Também por esta razão continuo a projectar casas unifamiliares, não obstante o prejuízo económico que daí resulta.”20 Os desenvolvimentos tecnológicos patentes do século passado possibilitaram a expansão da indústria e, consecutivamente, alargaram a acessibilidade nos diversos campos sociais. Actualmente, a indústria consegue dar resposta às mais diversas situações. No caso de não o conseguir, facilmente encontra caminhos que permitam tecnologias inovadoras e capazes de solucionar os novos problemas. Apesar de ainda existir um preconceito em relação aos produtos fabris, normalmente associando-os a pouca qualidade, podemos apontar um número vasto de objectos provenientes desta, considerados de elevada qualidade e com bastante recorrência. Veja-se o exemplo da maioria dos automóveis, electrodomésticos, computadores, telemóveis, mobiliário, vestuário, etc. Hoje, até é possível “produzir” diamantes. “Criados em laboratório, os diamantes Gemesis são indistinguíveis dos diamantes naturais, no entanto custam até cinquenta por cento menos. Disponíveis em várias cores, 18 INGELS, Bjarke. 2009. Yes is More - An Archicomic on Architectural Evolution. EVERGREEN GmcH. Köln, 2009. p. 110 - 119. 19 IBIDEM. p. 114. 20 SIZA, Álvaro. 1998. Imaginar a Evidência. Edições 70. Lisboa, 2009. p. 41.

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figura 65: Produtos Industriais

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(...) os diamantes Gemesis tornam a fantasia dos diamantes coloridos acessível.”21 É neste contexto que referimos a importância do conceito Standard aliado à Industrialização, na medida em que devemos olhar para as exigências de um mercado globalizado e não para as extravagâncias e exclusividade de um produto específico.22 (figura 65) A este propósito, Le Corbusier interrogou “os estaleiros serão em breve fábricas? (...) não poderíamos fabricar casas? (...) É preciso criar o estado de espírito da série. O estado de espírito de construir casas em série. O estado de espírito de habitar casas em série. O estado de espírito de conceber casas em série. (...) A casa não pretenderá desafiar os séculos e o que é objecto opulento através do qual se manifesta riqueza, ela será um utensílio como um carro é um utensílio.”23 Por exemplo, para que serve um automóvel? “O automóvel é um objecto com uma função simples (andar) e para fins complexos (conforto, resistência, aspecto), que colocou a indústria diante da necessidade imperiosa de padronizar.”24 Actualmente é um bem de consumo absolutamente necessário à maioria das pessoas e serve para as transportar do ponto A ao ponto B mais rapidamente. Mas porque havemos de comprar um Lamborghini® se podemos comprar um Volkswagen® (Carro do Povo)? A verdade é que este último é destinado a uma maioria da população e assim produzido industrialmente e em maior escala, tornando-se mais barato e, consequentemente, mais acessível. Contudo, independentemente da vontade pessoal, apesar de não andar a trezentos quilómetros por hora e de ter um design menos arrojado, abrange todas as exigências básicas que o consumidor pode ter em relação a este tipo de objecto. Neste sentido, será que precisamos de um “Lamborghini” para viver comodamente? (figura 66) A indústria é um meio para obter quantidade e rapidez de produção, com a finalidade de alcançar um maior número de consumidores. E no que diz respeito à habitação, esta é indispensável ao Homem, e ao mesmo tempo, pode e deve ser um bem de consumo imprescindível. Numa perspectiva mecanicista, a casa tende, cada vez mais, a ser vista como um objecto no qual podemos viver. Uma “máquina para habitar” tal como afirmou Le Corbusier. Produzida e construída em indústrias e estudada para funcionar sem erros ou emendas, como acontece com as máquinas actualizadas.25 21 SCHUBACH, Joseph. Brilliant, beautifull and affordable, fancy-colored Gemesis Cultured Diamonds are indistinguishable form natural diamonds - at half the cost [em linha]. [Scottsdale] : Schubach Enterprises, 2008 [Referência de 20 de Abril de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://shopping.schubachstore. com/gemesis-education». [tradução livre] 22 WANG, Wilfred. 2008. Standard. in JA235, 2008. 23 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006. p. 5. [tradução livre] 24 IBIDEM. p. 93. [tradução livre] 25 IBIDEM.

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OU

?

figura 66: Autom贸vel Manufacturado ou Autom贸veil Industrializado?

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Considerando as etiquetas “made in” que encontramos constantemente nos produtos provenientes da indústria, podemos destacar a flexibilidade que os diversos meios de transporte e de comunicação nos facultam para o seu acesso. Independentemente de determinado tipo de indústria ser exclusivo de um país específico, os seus produtos são facilmente encomendados e rapidamente transportados para outro local do planeta. A globalização do conhecimento e dos meios de produção e construção alcançam, deste modo, elevada relevância para o desenvolvimento das diversas actividades e para o bemestar do Homem.26 A simbiose dos conceitos implícitos à Coordenação Modular, nomeadamente o Standard, a Industrialização e a Pré-fabricação, permite que a racionalização da produção e da construção alcance patamares favoráveis ao diferentes estratos sociais. Neste sentido, os princípios intrínsecos aos conceitos supracitados são relevantes desde a fase de projecto, passando pela respectiva produção e/ou construção, até à sua divulgação e distribuição nos diferentes locais do planeta. Neste contexto, a Coordenação Modular desenvolve-se, em constante comutatividade, com os avanços tecnológicos. Os fundamentos deste conceito permitem que as dificuldades encontradas anteriormente à Revolução Industrial, sejam ultrapassadas.27 Consequentemente, novas ideologias são exploradas e novos géneros de Arquitectura e Design são materializados. Tomando como exemplo, na área do Design mobiliário, empresas como o IKEA® procuram “criar melhor qualidade de vida no dia-a-dia da maioria das pessoas”.28 Seguindo o espírito escandinavo “Janteloven”29, Ingvar Kamprad, fundador da empresa, procura ensinar, um pouco por todo o Mundo, o seu lema: “Não sejas tão snob!”30 Neste sentido, no seu testamento afirmou que: “Devemos oferecer um leque extenso de produtos bem desenhados e a preços tão baixos para que o maior número de pessoas possível consiga comprá-los.”31 Actualmente, os produtos IKEA® são, a nível mundial, os mais comprados na área do mobiliário. Isto acontece porque cada cadeira ou cada mesa, na sua produção, segue uma linha de montagem e uma vez que é produzida por máquinas industriais, o custo de mão-de26 WANG, Wilfred. 2008. Standard. in JA235, 2008. 27 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A., 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP. 28 LEWIS, Elen. 2008. GREAT IKEA! A brand for all the people. Marshall Cavendish Limited, 2008. p. 19. [tradução livre] 29 Conjunto de leis apontadas por Jante no seu Nobel “A fugitive coresses his tracks”, que remetem para a igualdade social, ignorando o individualismo. Por outras palavras, é um estado de espírito, típico do povo escandinavo, no qual não existem distinções sociais. WIKIPEDIA, The Free Enciclopédia. Jante Law [em linha]. [S.l.]: 27 de Junho de 2010. [Referência de 11 de Julho de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://en.wikipedia.org/wiki/Jante_Law». [tradução livre] 30 LEWIS, Elen. 2008. GREAT IKEA! A brand for all the people. Marshall Cavendish Limited, 2008. p. 119. [tradução livre] 31 IBIDEM. p. 82. [tradução livre]

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figura 67: Flat Pack Furniture

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obra especializada não interfere no preço final do produto. Por outro lado, todas as peças são projectadas por partes e, enquanto desmontadas, permitem o seu armazenamento e transporte da forma mais compacta possível. Assim, um veículo de transporte consegue exportá-las em maiores quantidades do que se estivessem montadas e, desta forma, o preço final do produto é reduzido substancialmente.32 A saga do IKEA® começou acidentalmente no início dos anos 50, quando um dos quatro trabalhadores da pequena empresa sueca tentou colocar uma mesa na bagageira do seu carro e não conseguiu devido às suas dimensões. Com isto, optou por retirar as pernas da mesa de modo a que esta coubesse no carro. Assim nasceu a chamada “flat pack furniture”, ou traduzido, “mobília empacotada”. (figura 67) Com esta estratégia, Kamprad apercebeuse das vantagens que obtinha fundamentando-se num design cativante e sem decoração, que compreendesse princípios como a produção industrial das partes constituintes do produto em grandes quantidades. Deste modo, conseguiu reduzir o preço de cada unidade. No entanto, se uma fábrica não produzisse barato o suficiente, outra indústria, noutro país, possivelmente o faria.33 Outra invenção, e provavelmente a mais importante, foi a inserção de mais um elemento na “flat pack furniture”. Para além da peça de mobiliário, no pacote podemos encontrar a “Allen key”, a ferramenta que permite a montagem de modo fácil por parte dos consumidores nas respectivas casas. Uma única “Allen key” permite a montagem dos mais diversos produtos da marca. Durante o projecto do mobiliário, o designer, qualquer um que trabalhe para a empresa, tem de ter em conta que o objecto que desenhar, tem de ser montável com este tipo de ferramenta e nunca com outro qualquer. Com efeito, os consumidores têm a possibilidade de equipar as suas casas por preços quase inacreditáveis, em qualquer um dos 35 países onde o IKEA® se encontra.34 (figura 68) O design IKEA® torna-se bastante apreciado, pois, apesar do seu desenho democrático, tende a ir de encontro ao gosto comum. Por outro lado, o seu preço é cativante, e, segundo Alexander von Gesack, director do Museu de Design Vitra: “quem não consegue competir com o design de primeira classe de Milão, consegue comprar uma versão reduzida de design extravagante - não é apenas mais barato mas inteligentemente reduzido sem perder o princípio da ideia. É uma maneira inteligente para popularizar invenções e moda e ajuda-nos a construir os nossos próprios gostos.”35 Em Arquitectura, a correspondência entre os fundamentos da Coordenação Modular 32 LEWIS, Elen. 2008. GREAT IKEA! A brand for all the people. Marshall Cavendish Limited, 2008. p. 17 - 26. 33 IBIDEM. p. 15 a 17. 34 IBIDEM. p. 112 - 114. 35 IBIDEM. p. 19 - 20.

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figura 68: Allen Key

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levaram um conjunto de arquitectos a executar protótipos e edifícios, de programas habitacionais, industriais, de saúde, de comércio, entre outros, que de hoje em dia revelam ser tão, ou mais, eficazes que os similares edifícios sustentados com a construção convencional. Na actualidade, as preocupações ambientais impulsionam a preocupação de estruturar todo o desenvolvimento dos edifícios, com o mínimo impacto ambiental possível. Desta forma, o conceito de Sustentabilidade é constantemente aliado às novas intenções arquitectónicas.36 Os edifícios de Arquitectura Dinâmica de David Fisher37 são dos exemplos mais recentes da aplicação da Coordenação Modular na Arquitectura. Verificando-se as preocupações ambientais, o autor procura fundir as capacidades de construção de uma Arquitectura de Coordenação Modular com a Auto-Sustentabilidade, na medida em que introduziu elementos mecânicos capazes de gerar energia. O primeiro exemplo a ser desenvolvido é o “Rotating Tower UAE”, no Dubai. Este edifício é composto por habitações colectivas e unifamiliares, comércio, escritórios e um hotel. No entanto, através de turbinas eólicas, o edifício consegue alimentar este programa, para além de se mover continuamente enquanto procura captar a luz do sol através de painéis de energia solar. Segundo o autor, a energia gerada pelo edifício, conseguirá abastece-lo, assim como os edifícios vizinhos.38 No que diz respeito ao método construtivo, este edifício é revolucionário pelo facto de ter sido o primeiro com total aproximação industrial. Fisher optou por inovar a construção de arranha-céus através do recurso a elementos pré-fabricados em Itália que, posteriormente, são transportados e montados in situ. Tanto no Dubai, como em Londres, Paris, Moscovo e Nova Iorque, os componentes de betão, de aço, de alumínio, de fibra de carbono, assim como outros acabamentos com materiais modernos, são levados ao local e montados mecanicamente, em tempo reduzido, por um número limitado de trabalhadores. Deste modo, os acabamentos oferecem um aspecto luxuoso, o que, se fosse feito artesanalmente no local, tornaria os custos totais bastante mais elevados em relação ao que acontece na fábrica italiana. Por outro lado, Fisher afirma que o recurso a pré-fabricados torna “o edifício estruturalmente eficaz e flexível ao mesmo tempo, sendo bastante resistente a sismos.”39 (figura 69) 36 BALDAUF, Alexandra S. F., GREVEN, Hélio A., 2007. Introdução à Coordenação Modular da construção do Brasil: Uma Abordagem actualizada. Porto Alegre: Colecção HABITARE/FINEP. 37 FISHER, David. Licenciado pela Universidade de Florença, onde lecciona arquitectura e engenharia estrutural. Projecta e restaura edifícios, para além de trabalhar com pré-fabricação e tecnologias de construção. Desenhou uma série de arranha-céus rotativos. Disponível na internet em: «http://www. dynamicarchitecture.net/index.php?option=com_content&view=article&id=13&Itemid=70&lang=eng». 38 FISHER, David. Dynamic Revolutions [em linha]. [Grã-Bretanha] : Londres, s.d. [Referência de 9 de Julho de 2010]. Disponível na Internet em: ­­«http://www. dynamicarchitecture.net/index.php?option=com_content&view=article&id=37&Itemid=10&lang=eng». [tradução livre] 39 IBIDEM.

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figura 69: Arquitectura Din창mica, David Fisher, Dubai

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Neste sentido, verificamos que, tal como a maioria dos produtos do nosso quotidiano, a habitação pode e deve ser executada como mais um produto industrial. Deste modo, as acções organizacionais e a implementação de inovações tecnológicas implicam a adaptação dos métodos de trabalho e técnicas de planeamento e controle, para que os processos industriais sejam constantemente reavaliados a fim de incrementar a produtividade e, consequentemente, o desenvolvimento da actividade construtiva. Actualmente, em sintonia com preocupações ecológicas, a Coordenação Modular objectiva o desenvolvimento de habitações, entre outros produtos industriais, acessíveis à maioria e sem implicações com o Ambiente. 5.3. Concepção Virtual e Personalização “Vivemos num Mundo onde a transformação do lar se tornou importante. Já não se julga ninguém pelo carro que conduz, pelas roupas que veste, onde viaja nas férias ou pelo tamanho da sua casa. Mas quando visitamos a casa de alguém, ficamos a conhece-la. Usamos os nossos lares para projectar a nossa personalidade. (...) Não podemos controlar o Mundo exterior, mas podemos controlar o nosso lar e faze-lo ao nosso agrado.”40 No contexto da construção industrializada, uma das constantes problemáticas da habitação prende-se com a personalização dos espaços. O preconceito associado aos produtos fabris, leva a que exista um estigma social que menospreza a possível relação da indústria com a Arquitectura. Neste sentido, quando referimos um standard habitacional ou tipologia, o senso comum remete este género de habitação para a repetição, a banalidade, a falta de qualidade e, por conseguinte, sem possível personalização.41 As habitações chamadas T1, T2, T3, T4, entre outras tipologias, são, respectivamente, assim consideradas pelo número de quartos que as constituem. Tendo em conta que a privacidade é um dos aspectos fulcrais da habitação, se não o mais importante, cada indivíduo requer o seu isolamento, o seu local de meditação e de descanso. As restantes divisões da habitação surgem da necessidade de proporcionalidade que um determinado número de habitantes implica.42 Deste modo, podemos constatar que as habitações em si, enquanto inabitadas, são, em grande parte, idênticas às dos vizinhos, tanto nas áreas de ocupação como nos materiais utilizados nos acabamentos. A possibilidade imposta ao 40 LEWIS, Elen. 2008. GREAT IKEA! A brand for all the people. Marshall Cavendish Limited, 2008. p. 14. [tradução livre] 41 WANG, Wilfred. 2008. Standard. in JA235, 2008. 42 LE CORBUSIER. Por uma arquitectura / Le Corbusier. 6ª edição - 2ª reimpressão, 2000. (Tradução Ubirajara Rebouças. Coleção estudos;27 / dirigida por J. Guinsburg) Editora Perspectiva S.A.. São Paulo, 2006.

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figura 70: Mesas LACK

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proprietário para personalizar os espaços é, deste modo, circunscrita ao uso de mobiliário.43 Empresas como o IKEA® demonstram a capacidade de, através de mobiliário standard produzido industrialmente, transformar a habitação consoante o gosto e as vivências pessoais. O exemplo de mobiliário mais simples, mais barato e mais adquirido nesta empresa é a mesa LACK® que, apesar de ter sempre o mesmo design, o material utilizado pode diferir em género, cores e, por ventura, pode ter um propósito específico na habitação. Ou seja, há quem a utilize como mesa de centro de sala ou como mesa de cabeceira, entre outros fins. Neste sentido, a habitação pode ter um carácter exclusivo. A personalização é, deste modo, alcançável através da disposição e respectiva utilização do mobiliário nos diferentes espaços habitacionais. Por outro lado, tendo em conta que as necessidades, vivências e gostos de cada pessoa são, sempre, subjectivos, o design de cada peça adoptada é correspondente às intenções do proprietário. Assim, podemos considerar que cada pessoa projecta o seu próprio lar.44 (figura 70) No entanto, em Arquitectura, “estimula-nos a pensar na necessidade de que, até na construção da habitação colectiva, existam condições para a participação, a fim de tornar possível a lenta tomada de posse por parte de quem aí for viver.”45 No contexto da frase citada, Álvaro Siza refere a pertinência de um projecto sustentado no equilíbrio das intenções do arquitecto e do cliente pretendente a obter habitação. Deste modo, ao afirmar que “repetir nunca é repetir”46 e aliando a definição de arquitecto, de Hannes Meyer, como sendo o “especialista em organização”, através da Coordenação Modular, podemos fornecer condições para que o proprietário da habitação possa intervir numa fase prévia da construção. Com efeito, ao abordarmos a concepção virtual da habitação, a actividade do arquitecto passa por definir os sistemas de construção, assim como estipular as funções e os espaços habitáveis mais apropriados às necessidades de um cliente específico. Por conseguinte, o proprietário poderá participar na definição dos acabamentos de construção. Nomeadamente, a escolha dos materiais, equipamentos e de outros pormenores. “Nos grandes centros urbanos são cada vez mais necessárias arquitecturas que dêem conta da mutabilidade e velocidade de transformação dos modos de viver.”47 Ao sustentar a construção com elementos pré-fabricados industrialmente, os acabamentos básicos da habitação, como os pavimentos, paredes e tectos, podem ser 43 LEWIS, Elen. 2008. GREAT IKEA! A brand for all the people. Marshall Cavendish Limited, 2008. 44 IBIDEM. p. 12 - 27. 45 SIZA, Álvaro. 1998. Imaginar a Evidência. Edições 70. Lisboa, 2009. p. 45. 46 IBIDEM. p. 17. 47 ANDRADE, V. H. de, MORETTIN, M. H.. Conjunto Residencial Aimberê [em linha]. [Brasil] : São Paulo, 2005 - 2008 [Referência de 6 de Julho de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.andrademorettin.com.br/site_pop.html». ­­

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figura 71: Conjunto Residêncial Aimberê, Andrade e Morettin Arquitetos, São Paulo

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definidos pelo cliente de modo a que uma Arquitectura de Coordenação Modular seja materializada e a personalização dos espaços seja correspondida. A este propósito, veja-se o Conjunto Residencial Aimberê em São Paulo, dos arquitectos Andrade e Morettin. “Os espaços podem ser totalmente integrados ou então divididos em ambientes específicos.”48 Apesar de cada unidade habitacional ter a sua própria morfologia, os arquitectos permitiram que os futuros moradores configurassem os interiores com bastante liberdade. Tendo como objectivo a criação de espaços flexíveis, o trabalho dos arquitectos encontrou o seu fim com a construção das diferentes tipologias e dos acabamentos exteriores. Independentemente dos espaços “vazios”, consoante a apropriação de cada unidade habitacional, a construção foi retomada pelos proprietários, ou, eventualmente, por outros arquitectos ou designers contratados. Neste sentido, os materiais e os acabamentos foram escolhidos e aplicados de modo a personalizar cada habitação.49 (figura 71) No mesmo contexto, o arquitecto Matsunami Mitsutomo projectou um bloco habitacional em Katayama (Japão), no qual pretendeu que os habitantes desenvolvessem os seus próprios conceitos de design. O edifício estrutura-se num terreno de 110 metros quadrados e é composto por 10 apartamentos dispostos em 7 pisos. Na medida em que o orçamento estipulado era bastante restrito, o arquitecto preocupou-se em desenvolver uma estrutura económica e os acessos verticais, bem como as unidades habitacionais e uma fachada que reflectisse a flexibilidade dos espaços interiores. Existem assim dois apartamentos dúplex iguais, sendo os restantes oito apartamentos simplex iguais simetricamente. A associação dos acabamentos finais foram estipulados pelos próprios moradores, pelo que, nenhum dos apartamentos é igual a outro qualquer.50 (figura 72) Independentemente dos conceitos inerentes à Coordenação Modular apontarem para a igualdade nos meios de produção e construção, é possível orientar a indústria de modo a que produza elementos construtivos, como pavimentos, paredes, tectos, portas, caixilharias, entre outros, nos diversos materiais disponíveis e segundo medidas standard. Com um extenso leque de opções, a Arquitectura de Coordenação Modular é flexível na definição de espaços personalizados. Deste modo, é pertinente afirmar que a casa é projectada para as pessoas. As pessoas projectam o seu lar. As casas podem ser iguais mas os lares são sempre diferentes. 48 ANDRADE, V. H. de, MORETTIN, M. H.. Conjunto Residencial Aimberê [em linha]. [Brasil] : São Paulo, 2005 - 2008 [Referência de 6 de Julho de 2010]. Disponível na Internet em: «http://www.andrademorettin.com.br/site_pop.html». ­­ 49 IBIDEM. 50 SAIEH, Nico. Apartment in Katayama [em linha]. [Japão] : Osaka, 17 de Junho de 2010 [Referência de 18 de Junho de 2010]. Disponível na Internet em: ­ «http://www.archdaily.com/64651/apartment-in-katayama-matsunami-mitsutomo».

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figura 72: 6 Quartos, Bloco Habitacional em Katayama, Jap達o

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5.4. Coordenação Modular: Habitação No ano lectivo 2008-2009 foi atribuida, aos alunos do 5º ano, na Unidade Curricular Projecto III, da Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada do Porto, a tarefa de desenvolver um projecto para a Revitalização da Zona Ribeirinha do Porto e Vila Nova de Gaia. Nesta confromidade, o trabalho desenvolveu-se em duas partes: - Proposta Urbana (trabalho de gurpo): Numa fase preliminar, o trabalho passou pela investigação e estudo das condicionantes do terreno. Desta forma, propôs-se Manter a malha urbana do Porto, já consolidada desde o século XVIII, apostando na Dinamização das escarpas de ambas as cidades com novas ligações entre margens e entre cotas. Por outro lado, procurou-se Reestruturar a malha urbana de V. N. Gaia (Serra do Pilar) e Colmatar a zona de Quebrantões. - Coordenação Modular: Edifícios de Habitação (trabalho individual): No desenvolvimento da Reestruturação de V. N. Gaia, propôs-se a introdução de edifícios habitacionais sustentados na Coordenação Modular, promovendo solucionar os problemas apontados às habitações locais.

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Proposta Urbana

As cidades do Porto e Vila Nova de Gaia situadas, respectivamente, a Norte e Sul do Rio Douro, encontram-se ligadas pontualmente, principalmente na zona Ribeirinha, por pontes e pelo comércio do Vinho do Porto que as caracteriza desde o século XVIII. Desde essa altura que a malha urbana do Porto se tornou consolidada. Em contra partida, Vila Nova de Gaia revela, ainda hoje, zonas completamente desintegradas com o resto da cidade.

Conflitos: Uma das principais características da zona, são as suas margens escarpadas, com cerca de 70 metros de altura, nas quais se observa a existência de habitações em estado precário e, por sua vez, o acesso a estas torna-se bastante dificultado devido a não existirem infra-estruturas que concordem com as pendentes acentuadas. Por outras palavras, estas habitações ocupam espaços impróprios para construção, o que as torna propícias a tornarem-se arruinadas. Por estes mesmos motivos e pela inexistência de saneamento básico, a maior parte destas construções são consideradas ilegais. A zona de Quebrantões apresenta um carácter bastante rural e descompensado, pelo que se encontra, quase, desconectada do resto da cidade. Existe apenas uma via de acesso, sendo esta, a ligação à zona da Serra do Pilar que, de igual modo, revela um vasto número de habitações em ruína ou parcialmente degradadas.

Infra-estruturas: As diferentes ligações entre as margens são feitas, principalmente nas cotas elevadas, a partir de pontes permeáveis a tráfego rodoviário e ferroviário. Apenas a ponte D. Luís é flexível na ligação a cotas baixas. A ponte D. Maria encontra-se em desuso, apesar de existirem carris ferroviários a ligar a estação de Campanhã à estação de V. N. Gaia. Por outro lado, as pontes rodoviárias são, todas as manhãs e finais de dia, cenários de transito caótico.

Tecido Precário: Tendo em conta que as habitações, anteriormente referidas, revelam ser impróprias à sua função, quer pelas dificuldades de acesso, quer pela falta de condições mínimas, questiona-se a sua existência na medida em que estes espaços poderão ser ocupados com programas aleatórios e de carácter mais lúdico e público. Neste sentido, na possibilidade de realojar os actuais habitantes, a demolição, total ou parcial, destas casas, torna-se pertinente.

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figura 74: Intens천es

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Intenções: 1 - Manter a estrutura urbana da Cidade do Porto. 2 e 3 - Dinamizar as encostas das cidades através de novos percursos e programas. 4 - Colmatar a zona de Quebrantões com a inserção de novos acessos e actividades. 5 - Reestruturar a zona da Serra do Pilar com novos programas habitacionais.

Mediante as intenções supracitadas, procura-se redesenhar toda a área envolvida,

proporcionando a resolução dos vários problemas apontados. Desta forma, atribui-se o reaproveitamento e criação de novas ligações, entre cotas e entre margens, de modo a dinamizar os fluxos pedonais e viários, com a finalidade de tornar estas cidades mais agradáveis de percorrer, com espaços de lazer mais apelativos, menos caóticas a nível de trânsito e com novas permeabilidades no que toca a habitação e comércio.

Através da ocupação do campo de treino militar da Serra do Pilar com edifícios habi-

tacionais de custo reduzido (azul), propõe-se realojar as pessoas mal condicionadas, assim como desenvolver novas oportunidades de habitação. Com a progressiva demolição do tecido precário, é possível reocupá-lo com programas inexistentes no local, garantindo novas centralidades. Nomeadamente, comércio (verde), equipamentos (museu (vermelho) e marina (amarelo)) e interfaces (castanho) permeáveis a Metro, BUS, comboio e automóvel.

Neste sentido, tendo em atenção a escala do fluxo viário presente, propõe-se a cons-

trução de parques de estacionamento subterrâneos de grande escala (laranja) próximos dos interfaces propostos, de modo a concentrar os automóveis provenientes de V. N. Gaia ou de outras cidades de Sul, e garantindo a fluidez e não a acumulação exagerada das vias. A alternativa proposta releva a importância da relação entre os diferentes meios de transporte, assim como a reabilitação de infra-estruturas, actualmente em desuso (ponte D. Maria).

Nesta conformidade, importa referir a criação de novas centralidades capazes de

abranger os mais diversos programas. Com a implementação de edifícios habitacionais sustentados na Coordenação Modular, é possível construí-los com gastos e tempo de duração reduzidos, assim como garantir condições de habitação aos mais desfavorecidos. Por sua vez, a proximidade dos interfaces, proporciona rapidez e fluidez aos utilizadores, tanto para fins laborais como de lazer, em itinerários inter-cidades ou intra-cidades.

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figura 75: Proposta Urbana

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figura 76: Fotografias da Maquete da Proposta Urbana

figura 77: Fotomontagens

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figura 78: Planta de Implantação

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Coordenação Modular: Edifícios de Habitação

Tendo por base a investigação referida nos capítulos “Construção (Alternativa) da Habi-

tação em Portugal”, “O Preconceito do Conceito”, “A Evolução da Coordenação Modular” e os respectivos contributos para o “Século XXI”, importa demonstrar a flexibilidade e potencialidade da Coordenação Modular como caso de estudo no âmbito da Arquitectura Habitacional. Revelando-se assim, uma estratégia viável para solução das preocupações habitacionais actuais. Estratégia: No culminar das intenções apontadas na Proposta Urbana, intensifica-se a preocupação de Reestruturar a malha urbana da zona da Serra do Pilar, tendo particular atenção às condições habitacionais locais. Uma vez que, cerca de noventa habitações, são consideradas ilegais e/ou incondicionais à sua função, propõe-se realojar e criar novas oportunidade habitacionais através da disponibilidade de unidades moduladas e flexíveis às funções exigidas para uma habitação. Neste sentido, propõe-se a continuidade tipológica dos quarteirões vizinhos, implantando novos edifícios suportados pela Coordenação Modular e compostos por, aproximadamente, seiscentas células habitacionais. Deste modo, cada edifício compreende espaços de estacionamento (público e privado), de comércio e de habitação, mediante um traçado regulador que define a colocação dos diversos elementos estruturais, construtivos e instalações pré-fabricadas de modo a precisar uma construção eficiente. Neste entendimento, o recurso às industrias locais/nacionais para produção de elementos de construção, favorece a execução total do edificado visto que as partes constituintes são pré-montadas, transportadas e, posteriormente, adoçadas in loco em tempo reduzido. Por sua vez, esta estratégia possibilita a implementação de habitações bem concebidas e com mais valias em termos económicos e ecológicos. (figuras 78, 79, 80, 81, 82) Módulo Habitacional: A definição formal de cada tipologia habitacional surge do jogo de adição de módulos habitacionais, tendo como medidas: 4 metros de comprimento; 3 metros de largura; 3 metros de altura. Nesta conformidade, os 12 metros quadrados de área disponíveis são definidos funcionalmente pelos elementos construtivos e mobiliário inerentes. Por outras palavras, apesar terem dimensões invariáveis, a sua função será destinada consoante a necessidade dos seus habitantes. Deste modo, é possível desenvolver diferentes tipologias tendo sempre a mesma base. (figuras 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90) 159


figura 79 a 82: Planta de Implantação

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O género construtivo proposto assenta-se numa aproximação total à indústria. Deste modo, os elementos construtivos revelam-se exactos no momento de acoplagem aos diversos módulos habitacionais. Por sua vez, a escolha dos materiais estipula-se pela precisão e capacidade de resposta a determinada função. Assim, os elementos apontados procuram responder a determinadas condições. Tamanho: Assim como aponta a norma de Coordenação Modular, NB-25R, de 1950, efectuou-se o estudo do desenho, segundo o módulo de 10 centímetros, a fim de proporcionar versatilidade. Neste sentido, todos os elementos construtivos adoçam-se de modo a formar o módulo habitacional que, por sua vez, inter-ligado a outros módulos iguais, complementa o edifício. (figuras 93, 94, 95 ,96, 97, 98 ,99, 100, 101, 102, 103) Estrutura: Na medida em que é proposta uma estrutura metálica, o material apontado visa ir de encontro a uma longevidade extensa. Neste sentido, importa referir a flexibilidade do aço, por ser facilmente moldável, resistente, reciclável e, consequentemente, reutilizável. A possibilidade de se reaproveitar a estrutura de edifícios em desuso, para construir novos, permite a diminuição de desperdícios de construção. (figura 91) Elementos construtivos: Na correlação com a estrutura do edifício, os elementos relativos aos chãos, paredes e tectos, visam alcançar um standard métrico aplicado a uma variedade de matérias naturais ou transformadas. Neste sentido, a escolha dos materiais depende da rigorosidade da produção industrial, de modo a que os diversos “painéis” possam ser aplicados da mesma forma, independentemente da função proposta ou da preferência do cliente. (figura 92) Conexões: Tendo em atenção as faces de ligação entre os constituintes da estrutura, é apresentado um sistema de vigamentos e pilares ligados por nós, igualmente metálicos, que partilham as mesmas medidas base. Neste sentido, aponta-se para uma standardização formal aliada a sistemas de industrialização aberta. Do mesmo modo, todas as ligações poderiam ser feitas por aparafusamento, permitindo a montagem e desmontagem. Os restantes elementos construtivos visam a acoplagem do mesmo modo. Ciclo de Vida: Sendo a indústria competente no âmbito da globalização, a possibilidade de se conceber casas em série, como produtos industriais, permite que estas sejam adquiríveis e reutilizáveis. Deste modo, podem ser constantemente renováveis pela longevidade que atingem. Revelando-se económicos e ecológicos. 161


figura 83: Esquema Tipol贸gico

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figura 84: Esquema Morfol贸gico

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figura 85: Esquema Tipol贸gico

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figura 86: Esquema Morfol贸gico

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figura 87: Cortes A, B, C

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figura 88: Cortes D, E, F

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figura 89: Cortes G, H, I

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figura 90: Cortes J, K, L

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figura 91: Esquema Estrutural figura 92: Esquema de Revestimento

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figura 93: M贸dulo P谩tio

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figura 94: M贸dulo Quarto

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figura 95: M贸dulo Sala de Estar

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figura 96: M贸dulo Sala de Jantar

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figura 97: M贸dulo WC1

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figura 98: M贸dulo WC2

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figura 99: M贸dulo WC3

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figura 100: M贸dulo Cozinha

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figura 101: Corte Construtivo 1

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figura 102: Corte Construtivo 2

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figura 103: Corte Construtivo 3

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figura 104: Fotografia da Maquete

figura 105: Perspectivas

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6. Conclusão

A presente dissertação fundamenta-se com base numa investigação aprofundada e direccionada para a definição e aplicação do conceito de Coordenação Modular na Arquitectura Habitacional. Este envolve-se num paradigma contraditório que, ao longo do trabalho, visou ser esclarecido, pelo que o tema se apresenta útil, desmistificando e compreendendo o conceito de forma a torna-lo inteligível e viável. Deste modo concluise que a Coordenação Modular, na arquitectura, é o processo de racionalização implícito ao desenvolvimento da actividade, baseada em ciências exactas para a execução de uma ideologia específica, fundamentando a sua construção através de processos industrializados. Inúmeros são os exemplos arquitectónicos que confirmam a possibilidade de se fazer Arquitectura, com base na construção industrializada, e que não descuram a qualidade da componente artística. Neste sentido, recolocam-se questões lógicas: Porque não se inter-relaciona a Arquitectura portuguesa com a indústria? Porque não implementar mais do que um género construtivo para execução de habitação? Porque não se projectam habitações mediante as necessidades de todos? Fazendo uma retrospectiva da elaboração desta tese, pode-se afirmar que a habitação em Portugal, se encontra subjugada a métodos tradicionalistas de construção. Isto porque, eventualmente se receia apostar em métodos alternativos. Por um lado, a sociedade continua a sobrevalorizar aspectos supérfluos da habitação e, por outro, escassos são, ainda, os incentivos e materiais de componente estrutural, provenientes da indústria, para a execução de bases standard e mais abrangentes. Possivelmente, um dos maiores entraves à implementação de uma construção por meios industrializados, remonta às bases de uma errada interpretação dos conceitos envoltos na Coordenação Modular. Numa situação hipotética de maior incentivo à aproximação total da industrialização da construção, a acessibilidade à habitação seria facilitada, pela redução dos custos de produção que este tipo de processo permite. Concomitantemente, a construção pode encontrar, a partir de métodos mecanizados, rigor, gestão de processos, planificação, métodos sistematizados, fiabilidade de orçamentos e maior rapidez de construção, ou montagem, sem recurso a uma vasta mão-de-obra. Numa outra perspectiva, as questões ambientais poderiam ser reavaliadas, na medida em que o recurso a matérias naturais ficariam confinadas exclusivamente ao necessário, reduzindo-se assim os desperdícios

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materiais e de construção. Em suma, derivado da análise dos diversos factores apontados, a casa não deveria ser avaliada qualitativamente pelo seu valor comercial, mas sim pelo sentimento emotivo que esta confine na resposta às funções habitacionais. No entanto, para uma possível implementação da Coordenação Modular, é importante alterar o seu estatuto negativo no nosso país. Por outro lado, o sector da construção civil ainda se encontra descurado e desorganizado em relação às exigencias actuais. No sentido de se evitar preconceitos e de se conseguir desmistificar o conceito, é necessário um elevado grau de exigência e de qualidade de projecto, no qual o arquitecto concilie a estética, o conforto, a funcionalidade e a inovação através do tratamento arquitectónico, conhecimento e de formação artística, não desvirtuando a essência do habitar. Deste modo, para promover a confiança num tipo de construção industrializada, torna-se emergente apurar e garantir um planeamento muito cuidadoso e extremamente rigoroso de todos os detalhes, assumindo a gestão do processo global da construção. Por sua vez, o arquitecto, apesar de ser o mediador de toda a actividade, depende de outros profissionais de construção, os quais devem assumir a responsabilidade de cumprir o seu papel, como a promoção e divulgação, esclarecimento, desenvolvimento, coordenação normativa e dimensional, contribuindo para uma legislação adequada, de modo a mudar a mentalidade dos técnicos e do cidadão comum. Neste processo, o cumprimento de um projecto coordenado entre as especialidades e a indústria, surgirá de modo a que não existam imprevistos ou erros de construção ou montagem. Consequentemente, o processo projectual deverá ser demorado em relação a uma construção convencional, devido à intensiva planificação, mas o tempo reduzido da sua montagem será compensado, inclusivé a nível finaceiro. Assim sendo, a formação de cada interveniente na actividade deve ser orientada para uma colaboração entre as partes, de modo a que, com a cooperação da indústria, o confronto com a prática seja permitido e capaz de atingir os objectivos propostos. Deste modo, as universidades, a indústria, as empresas do sector, a comunicação social, assim como as entidades promotoras, deveriam unir-se, criando seminários onde os diversos agentes pudessem debater e esclarecer, ensinar e investigar soluções viáveis. Deste modo, é necessária uma elevada coordenação entre os diversos agentes do sector da construção civil e uma transformação significativa de procedimentos e atitudes. Analisando de forma concisa a abrangência e qualidade das indústrias para a

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produção dos bens de que dispomos na actualidade, como por exemplo, automóveis, electrodomésticos, entre outros, pode-se, eventualmente, considerar que a habitação, construída por métodos industrializados, teria, igualmente, viabilidade e carácter distinto. Do mesmo modo, a construção poderá apontar para uma diversificada opção de escolha e, por conseguinte, ajustar-se às necessidades de cada um. Baseia-se esta afirmação pela pertinência da explanação de exemplos arquitectónicos, datados de séculos passados, que demonstraram preocupações e realidades semelhantes às actuais. Surge assim, através do esclarecimento dos conceitos envolventes à Coordenação Modular, a necessidade de compreender a sua génese. Nesta conformidade, requerem-se esclarecimentos face à evolução histórica do conceito, na qual se evidenciam os aspectos da busca incessante do Homem por padronizar os elemento relativos, nomeadamente, ao edificado, tendo por ponto de partida as medidas do próprio corpo. Assim sendo, constata-se que a construção assente em bases moduladas, sempre existiu, revelando, deste modo, a sua pertinência e importância. Eventualmente, questiona-se sobre os impedimentos que hoje se verificam na sua utilização e recurso à sua funcionalidade. As demandas do século XXI, no que remonta à arquitectura habitacional, demonstram inquietações relativas a aspectos socioeconómicos idênticos aos do passado, mas tornase igualmente necessário que respondam às novas problemáticas associadas às questões ambientais, descuradas até há bem pouco tempo. Desta forma, pode-se influenciar pelos demais produtos provenientes das indústrias mais avançadas e concluir que é possível construir casas, igualmente satisfatórias às desenvolvidas por métodos convencionais, embora com mais valias em termos construtivos, económicos, ambientais e adictos à globalização. Neste sentido, o projecto exposto no final do trabalho, pretende enaltecer a potencialidade da Coordenação Modular para resposta às necessidades habitacionais, aliando todo o conjunto de aspectos supracitados e sustentando-se no desenho de elementos construtivos produzidos industrialmente, de modo a que a sua construção/ montagem “tipo LEGO” revele ser concisa economicamente, ecológicamente e abrangente aos diversos estratos sociais. Os objectivos propostos, no início do presente estudo, apesar de terem sido alcançados, não visam o encerramento da explanação do tema. A bibliografia apontada torna-se insuficiente para responder a todas as questões levantadas ao longo do trabalho,

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figura 106: Esquiรงo da Proposta

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pelo que o tema se verifica explorável em diversos parâmetros. Os capítulos apresentados, as reflexões efectuadas inerentes aos mesmos e a forma como o trabalho foi executado, torna esta dissertação reveladora de uma forma alternativa de projectar/construir em Arquitectura. Pelo que poderá servir de base e/ou motivação para futuras investigações complementares à temática. Por outro lado, uma vez que o projecto apresentado se restringe à Coordenação Dimensional, procurar-se-á, num futuro próximo, utilizá-lo como fundamento para a realização prática da Coordenação Modular. Conclui-se assim, que a habitação é uma necessidade básica. Por esse mesmo motivo, a habitação deve ser projectada, construída, concebida e habitada de modo a torná-la básica para todos. Importa referir que, o arquitecto, mais do que um arquitecto, é um artífice. E a ferramenta para construção da habitação está à sua disposição. A casa do século XX já foi descoberta. Falta descobrir a casa do século XXI...

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figura 44: «http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/de/Fagus-Werke-02.jpg» [Referência de 1 de Junho de 2010]. figura 45: «http://z.about.com/d/gogermany/1/0/D/3/-/-/10-Bauhaus-Plakat-1923.jpg» [Referência de 1 de Junho de 2010]. figura 46: «http://oliverwalsh.tripod.com/plan.gif» [Referência de 17 de Julho de 2010]; «http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8c/Haus_am_Horn,_Weimar_ (Westansicht).jpg» [Referência de 1 de Junho de 2010]. figura 47: «http://www.ensp.unl.pt/lgraca/history_cars_jakob_highres.jpg» [Referência de 1 de Junho de 2010]. figura 48: «http://www.ifa.de/uploads/tx_ifafreebox/resize_gropius_toerten_01.jpg» [Referência de 1 de Junho de 2010]. figura 49: «http://www.avenuedstereo.com/modern/corb_domino.jpg» [Referência de 1 de Junho de 2010]. figura 50: «http://web.tiscali.it/antonio_santelia/images/galleria/lecorbusier/128a.jpg» [Referência de 1 de Junho de 2010]. figura 51: «http://www.dearchitecturablog.com/wp-content/uploads/casa%20maison%20 monol.jpg» [Referência de 1 de Junho de 2010]. figura 52: «http://cva.ap.buffalo.edu/20x20/wp-content/uploads/2009/06/2.jpg» [Referência de 17 de Junho de 2010]. figura 53: «http://alluu.files.wordpress.com/2008/12/t1_n145_a2_modulor.jpg» [Referência de 17 de Junho de 2010]. figura 54: «http://brunorigolt.blog.lemonde.fr/files/2009/04/ unitedhabitation.1240769019.jpg» [Referência de 17 de Junho de 2010]. figura 55: «http://www.magazin-world-architects.com/portal/pics/newsletter/ magazin/2007/02_07/neufert-web-1.jpg» [Referência de 17 de Julho de 2010]. figura 56: «http://concursosdeprojeto.files.wordpress.com/2010/03/etapas-construtivas. jpg» [Referência de 17 de Julho de 2010]. figura 57: «http://media-2.web.britannica.com/eb-media/26/61926-050-F98DB706.jpg» [Referência de 17 de Julho de 2010]. figura 58: «http://www.artesmagazine.com/wp-content/uploads/2010/01/1RobertVenturi-in-LV-.jpg» [Referência de 17 de Julho de 2010]. figura 59: «http://media-2.web.britannica.com/eb-media/60/85260-050-92228AE4.jpg» [Referência de 17 de Julho de 2010].

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figura 60: «http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://farm1.static.flickr. com/123/318035244_64b82ec138_o.jpg&imgrefurl=http://urbantoronto.ca/showthread. php%3F5481-Rem-Koolhaas-the-Irreverent-Neither-Modernist-nor-Historicist/ page6&usg=__REN-yhxtPO3sO-hVN4uImp81s30=&h=960&w=1280&sz=598&hl=pt-PT&s tart=24&um=1&itbs=1&tbnid=jj50y70g9Duy7M:&tbnh=113&tbnw=150&prev=/images% 3Fq%3DRem%2Bkoolhaas%2Bwith%2Bmodels%2Bprojects%26start%3D21%26um%3D1 %26hl%3Dpt-PT%26sa%3DN%26ndsp%3D21%26tbs%3Disch:1,isz:l» [Referência de 17 de Julho de 2010]. figura 61: «http://4.bp.blogspot.com/_1RXYOinBGbk/SwQ3_fO0e9I/AAAAAAAAAsw/no4Kjy0LNQ/s1600/Bjarke+Ingels+2.jpg» [Referência de 17 de Julho de 2010]. figura 62: «http://kiddiwinks.co.za/LEGO/Facts/lego_gross.jpg» [Referência de 17 de Julho de 2010]. figura 63: «http://www.big.dk/projects/lego/lego.html» [Referência de 17 de Julho de 2010]. figura 64: INGELS, Bjarke. Yes is More - An Archicomic on Architectural Evolution. EVERGREEN GmcH. Köln, 2009. p. 116.. figura 65: «http://showmetech.files.wordpress.com/2009/08/iphone-3g.jpg» ; «http:// cachepe.zzounds.com/media/quality,85/brand,zzounds/23_Wht-47dc41a6578f03 352692239022868ba7.jpg» ; «http://www.cultofmac.com/wordpress/wp-content/ uploads/0810macbook_fam.jpg» [Referências de 17 de Julho de 2010]. figura 66: «http://pepperrat.mineidea.com/images/products/cars/Lamborghini-GallardoLP560-4-2008-1-1024x768.jpg» ; «http://www.clutchd.com/wp-content/gallery/04_ october_2009-vw-golf-tdi/2010-vw-golf-tdi-13.jpg» [Referências de 17 de Julho de 2010]. figura 67: «http://www.die-neue-sammlung.de/z/presse/public/press_09/ikea_09/ftp/ ikea_01.jpg» [Referência de 17 de Julho de 2010]. figura 68: «http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/af/Alan_Key.jpg» [Referência de 17 de Julho de 2010]. figura 69: «http://www.dynamicarchitecture.net/index.php?option=com_content&view= article&id=7:uae&catid=6:dynamic-projects&Itemid=15&lang=eng» [Referência de 26 de Julho de 2010]. figura 70: «http://creativebits.org/files/images/IKEAPoster1TableFinal.preview.png» ; «http://www.ikea.com/pt/pt/catalog/products/20011408» ; «http://www.ikea. com/pt/pt/catalog/products/20011413» ; «http://www.ikea.com/pt/pt/catalog/

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products/40104270» ; «http://www.ikea.com/pt/pt/catalog/products/70104264» ; «http://www.ikea.com/pt/pt/catalog/products/80151311» ; «http://www.ikea. com/pt/pt/catalog/products/60151312» ; «http://www.ikea.com/pt/pt/catalog/ products/20153073» [Referência de 17 de Julho de 2010]. figura 71: Diagrama de Andrade e Morettin; Fotografias de Leonardo Finotti. figura 72: «http://www.archdaily.com/64651/apartment-in-katayama-matsunamimitsutomo/» [Referência de 18 de Junho de 2010]. figura 73: Plantas fornecidas pela Camara Municipal do Porto; Imagens aérea extraídas no Google Maps; fotografias tiradas no local; edição de imagens por André Silva, Fernanda Antoniolli, Jesus Carrazoni, João Lomba e Pedro Matos. figura 74: Diagramas referêntes às intensões de proposta do grupo de trabalho, nomeadamente, planta de intensões, planta de proposta geral, planta de usos, planta de vias, planta de ligações. figura 75: Planta de Proposta Urbana elaborada por André Silva, Fernanda Antoniolli, Jesus Carrazoni, João Lomba e Pedro Matos. figura 76: Fotografias da Maquete de Proposta Urbana elaborada por André Silva, Fernanda Antoniolli, Jesus Carrazoni, João Lomba e Pedro Matos. figura 77: Fotomontagens da Proposta Urbana elaborada por André Silva e Fernanda Antoniolli. figura 78: Planta de Implantação de Proposta Individual elaborada por Pedro Matos. figura 79: Planta do piso -2 elaborada por Pedro Matos. figura 80: Planta do piso -1 elaborada por Pedro Matos. figura 81: Planta do piso térreo elaborada por Pedro Matos. figura 82: Planta do piso tipo elaborada por Pedro Matos. figura 83: Esquema Tipológico elaborado por Pedro Matos. figura 84: Esquema Morfológico elaborado por Pedro Matos. figura 85: Planta de Cobertura elaborada por Pedro Matos. figura 86: Planta do piso tipo elaborada por Pedro Matos. figura 87: Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 88: Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 89: Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 90: Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 91: Esquema Estrutural elaborado por Pedro Matos.

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figura 92: Esquema de Revestimento elaborad por Pedro Matos. figura 93: Planta e Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 94: Planta e Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 95: Planta e Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 96: Planta e Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 97: Planta e Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 98: Planta e Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 99: Planta e Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 100: Planta e Cortes elaborados por Pedro Matos. figura 101: Corte elaborado por Pedro Matos. figura 102: Corte elaborado por Pedro Matos. figura 103: Corte elaborado por Pedro Matos. figura 104: Fotografia da Maquete elaborada por Pedro Matos. figura 105: Perspectivas Renderizadas elaboradas por Pedro Matos figura 106: Esquiรงo de Pedro Matos

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UNIVERSIDADE LUSÍADA PORTO, 2010


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