Fテ。RICA SOCIAL
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito da disciplina “Trabalho de Projecto” do Curso Superior de Arquitectura da Escola Superior Artística do Porto, no anos lectivos 2006/2007 e 2007/2008. Ana Ruivo Pedro Carvalho Samuel Carvalho Samuel Rodrigues Design com Dário Cannatà Porto 2008
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Introdução Este livro é o fruto de um processo de aprendizagem e crescimento. Surge no âmbito do trabalho de fim de curso, que representa uma transição nos nossos caminhos pessoais. É um registo, forçosamente selectivo, de um processo aberto e vivo de cooperação, realizado ao longo de dois anos na Fábrica Social. É também o resultado de uma forma de trabalhar que, desde cedo, se tornou essencial no desenvolvimento dos nossos projectos – o trabalho de grupo. Todo o nosso percurso académico foi desenvolvido em conjunto, com a partilha do espaço de trabalho, de reflexões e propostas. Criamos aquilo a que podemos chamar um extenso património comum. Os nossos métodos de trabalho são o resultado de todas estas trocas. Para este trabalho final, procuramos um projecto com uma forte vertente prática e experimental, tendo como pano de fundo uma fábrica abandonada no centro do Porto e os objectivos que o seu proprietário, o escultor José Rodrigues, delimita para este espaço e para a cidade. Para gerir este trabalho, criamos um método, uma matriz, capaz de articular as ideias do grupo, sem, todavia, eliminar o espaço de expressão da individualidade ou, até, das polaridades. A metáfora da nuvem contribui para captar esta dinâmica. As partículas que a constituem conferem-lhe, no seu conjunto, uma forma mais ou menos definida, mas sempre mutável. Cada partícula é a representação de uma ideia, de uma personagem, o registo de um momento... Estas agrupam-se e relacionam-se, criando zonas de maior ou menor densidade. Sendo este um sistema dinâmico e reactivo, surgem, espontaneamente, novas relações, capazes de absorver e potenciar mudanças, erros, incertezas, fricções e contradições. Este livro é a condensação da nuvem. Aos nossos olhos, vista de longe, a nuvem assume agora a forma de uma Fábrica Social.
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29 INTRODUÇÃO
46 DESENVOLVIMETO URBANO
32 FÁBRICA SOCIAL
48 RESISTÊNCIA E CONFLITO
34 HISTÓRIA
50 QUARTEIRÃO
36 EDÍFICIO
52 PLANO DE PORMENOR
38 PALIMPSESTO
64 TECIDO POR DEFEITO
44 FONTINHA
66 TRIMONTIUM
68 MAPAS
92 NOÇAO DE PATRIMÓNIO
70 ENVOLVENTE
100 BÚSSULA
78 PORTO
104 OBRA ABERTA
82 GAMP
176 MAPA IDEOLÓGICO
86 PORTUGAL
178 ESTRATÉGIA
90 REABILITAÇÃO
202 BIBLIOGRAFIA
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História A Fábrica Social foi construída por volta de 1880, na cidade do Porto, e alojou, ao longo da sua existência, diferentes proprietários e actividades. Fábrica de Chapéus | A sociedade Gonçalves, Filhos e Companhia fundou, em 1852, a Fábrica Social, desconhecendo-se a localização das suas primeiras instalações. Referenciada num almanaque de 1854-55 como “Fábrica Social de Chapéus de Seda e Castor”, esta sociedade dedicava-se à indústria da chapelaria e foi uma das mais importantes do país. Foi a primeira, em Portugal, a descobrir o processo de fabricação a vapor dos chapéus chamados cocos, que tiveram grande aceitação. Por volta de 1880, a empresa muda de instalações. O Inquérito às Indústrias de 1881 refere-a como “...reinstalada recentemente (…) localizada no Alto da Fontinha”. Nesta fase, empregava 192 operários. No Porto desta época, além de um certo número de pequenas oficinas de chapéus, existiam apenas duas grandes fábricas: a Real Fábrica Social e a Real e Imperial Chapelaria a Vapor, na rua da Firmeza. Em 1881, já não produzia chapéus de seda, por força da diminuição de procura, dedicando-se, antes, à produção de sacos, camisas e chapéus de feltro. Devido à complexidade do processo de preparação do feltro, a fábrica possuía um conjunto de material mecânico diverso, desde máquinas a vapor, fornos, locomóveis e caldeiras. Dada a importância da água em todo este processo de produção, a disposição dos equipamentos dependia da existência de grandes tanques e reservatórios. Fábrica de acessórios para a Indústria Têxtil | Por volta de 1940, a fábrica mudou de proprietários, passando à produção de acessórios para a indústria têxtil, nomeadamente peças para teares. Armazém de Plásticos | No início da década de noventa, a fábrica foi adquirida para as instalações da empresa “Representações Jafe”, dedicada à importação e distribuição de artigos à base de plástico. As obras de reabilitação então iniciadas nunca foram concluídas por esta empresa. Atelier José Rodrigues | Em 1998, o escultor José Rodrigues instala o seu atelier de trabalho na Fábrica e, em 2006, decide reabilitar a fábrica para criar a Fundação José Rodrigues, espaço cultural para a conservação e divulgação da sua obra e para a promoção de novos artistas.
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Edifício A Fábrica Social é uma unidade fabril, ocupando cerca de meio hectare, implantada num grande patamar. Possui apenas uma entrada para pessoas e veículos, localizada na rua da Fábrica Social. É composta por um conjunto de edifícios que esquematicamente dividimos em três conjuntos principais 1,2 e 3, e cinco edifícios singulares A, B, C, D e E. O conjunto 1, correspondente às primeiras construções. Quer pela centralidade, quer pela dimensão, é a principal unidade do complexo. Constituído por pavilhões amplos, com orientação norte-sul, tem uma grande continuidade espacial através de ligações transversais. O alçado sul, fachada principal da Fábrica, com dois arcos de entrada, destaca-se pela sua escala e relação com uma praça. O conjunto 2, de área mais reduzida, encontra-se ligado ao conjunto 1, tendo, no entanto, os pavilhões uma orientação este-oeste. O conjunto 3, de escala mais reduzida e carácter mais íntimo, localiza-se na parte norte da Fábrica. Construído numa fase posterior, é uma tipologia mais próxima da residencial. Constitui-se por um edifício com dois pisos que se organiza em volta de um pátio e um grande tanque. A articulação entre os espaços é bastante complexa, havendo várias diferenças de cotas nos pavimentos. O edifício A corresponde a uma pequena habitação de um piso, junto a uma pequena praça. O edifício B, localiza-se junto ao acesso principal da Fábrica. De desenho prémodernista, corresponde a uma habitação bastante extensa com dois pisos e um terraço amplo na cobertura. O edifício C, ligado ao conjunto 1, corresponde a uma torre de habitação de três pisos. O edifício D, localizado no centro do complexo e ligado ao conjunto 1, corresponde a uma torre de escritórios de três pisos e um terraço acessível com vista panorâmica sobre a cidade. O edifício E, localizado no extremo norte da Fábrica, corresponde a uma pequena torre arte deco, da qual se destaca uma pérgula na cobertura com vistas sobre a cidade.
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O lote encontra-se na sua maioria ocupado, com a excepção de caminhos de circulação e alguns espaços comuns. Existe um eixo norte-sul de circulação, desde a entrada principal até ao extremo norte da Fábrica e três espaços exteriores que correspondem a uma praceta junto à entrada, um pequeno espaço junto ao edifício D e um pequeno pátio no conjunto 3. Não existem espaços verdes, com excepção de algumas árvores de crescimento espontâneo, junto ao edifício E. No geral, os elementos que caracterizam o complexo são a predominância da estrutura pavilhonar, uma grande densidade de ocupação do terreno, uma organicidade espacial, fruto de acrescentos e ampliações, e uma relação privilegiada com a paisagem.
Palimpsesto Ao longo da sua existência, a Fábrica Social sofreu várias transformações e ampliações Da mudança de proprietários e actividades resultaram camadas sobrepostas, palimpsestos. Apresentamos aqui, uma síntese das principais intervenções no edifício, divididas em quatro fases cronológicas, identificadas a partir de quatro documentos principais. 1892 | A primeira fase, correspondente à fábrica de chapéus, está patente no levantamento do Porto de Telles Ferreira de 1892 ( pág. 58), primeiro documento a registar a existência da Fábrica. Nesta fase, existiam só os conjuntos 1 e 2, que, presumimos, assumiam já uma estrutura de pavilhão, e os edifícios A e B. Na zona mais a norte da fábrica ainda não havia construção. Existia, no entanto, uma grande cisterna, à volta da qual, o conjunto 3 se irá articular no futuro. 1939 | A segunda fase, correspondente à fábrica de acessórios para a indústria têxtil, regista a evolução do edifício desde a planta de 1892 até um foto aérea de 1939 (pág. 60). O conjunto 1 regulariza-se, sofrendo algumas ampliações e ganha um corpo novo a nascente. A torre C é construída, embora não se saiba a sua função original. A torre D foi ampliada, tanto em implantação, como em altura. No conjunto 3, surgem alguns edifícios térreos em volta da cisterna, que definem já a implantação das intervenções posteriores. Surge também o edifício E, embora, nesta fase, seja só um edifício térreo, sobre o qual se construirá, mais tarde, uma torre.
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1892
1939
1992
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1992 | A terceira fase, correspondente ao armazém de plásticos, regista a evolução do edifício desde 1939 até o levantamento efectuado nesta data. Os conjuntos 1 e 2 sofreram remodelações no interior e demolições de paredes, dando uma maior continuidade espacial aos pavilhões. O edifício B sofreu uma ligeira ampliação em largura e observase que a torre C sofreu uma ampliação, tanto em implantação, como em altura, reconvertendo-se numa residência. A torre central D também foi ampliada, em implantação e altura. O conjunto 3 foi o que sofreu mais transformações. Metade da cisterna foi transformada numa sala, permanecendo a outra como tanque. Aos edifícios térreos existentes foi acrescentado um andar e, ligada a estes, construiu-se uma longa galeria coberta, formando um edifício em torno de um pátio. O edifício E foi transformado numa pequena casatorre, de estilo arte déco, com um terraço acessível com uma pérgula.
2007 | A quarta fase, correspondente ao atelier José Rodrigues, regista a evolução desde o levantamento de 1992 até uma foto aérea de 2007. Durante este período, apenas se demoliram alguns volumes da fase anterior. O conjunto 3 apresenta, nesta fase, um estado de abandono e de ruína.
O edifício da Fábrica Social evoluiu organicamente através de operações localizadas, promovidas pelos proprietários, de pequenas demolições e ampliações, sem grandes rupturas ou transformações. 41
Desenvolvimento urbano A Fontinha resulta da expansão urbana do Porto do séc. XIX. A organização do território desta zona da cidade tem origem nos planos dos Almadas que, na segunda metade do séc. XVIII, projectaram e levaram a cabo um conjunto de obras públicas que tinham como principal objectivo o ordenamento do crescimento da cidade fora das muralhas. Numa estrutura de circulação radial, as novas vias traçadas integram-se num plano geral de regularização das velhas estradas que ligavam o Porto ao resto do território. Juntamente com as transversais, estas vias definiram a estrutura básica da cidade para além do seu núcleo medieval. Assim, foram construídos quatro grandes eixos: rua de Almada, rua de St. Catarina, rua Direita de St. Ildefonso e rua de Cedofeita. Graças a esta estrutura, pretendia-se incentivar o crescimento urbano do Porto no séc. XIX, no entanto a realidade não correspondeu às expectativas e, entre estes grandes eixos de desenvolvimento, vastas extensões de terreno ficariam por urbanizar e ocupar durante a maior parte do século. A Fontinha, cuja toponímia evoca uma antiga fonte de água nascente, formou-se em meados do séc. XIX, no monte entre a rua de Bonjardim (antiga estrada para Guimarães) e a rua de St. Catarina (antiga rua Bella da Princesa), vias que se uniam a norte, na Praça de Aguardente (hoje Praça do Marquês). Ao longo do séc. XIX, as actividades industriais adquiriram grande importância na cidade. Em 1852, no limiar da Regeneração, o Porto contava com 496 unidades fabris e 6.050 operários. É nos anos 70 que, como no resto do país, se verifica o mais importante surto de industrialização do século. Segundo o inquérito de 1881, empregavam-se na indústria 37.777 operários, um terço da população do Porto. A Fontinha cresce, assim, na segunda metade do séc. XIX, com a instalação de algumas fábricas, sendo a Fábrica Social a principal, e torna-se num aglomerado urbano de carácter operário. 46
O crescimento demográfico e a industrialização acentuaram a diferenciação social dos espaços da cidade. As ilhas alastram no miolo dos quarteirões e em zonas degradadas da cidade. O aumento da população, através da atracção exercida pela expansão do mercado do trabalho industrial, sobre as populações da periferia rural, criou uma maior procura de alojamento, estimulando diferentes formas de especulação imobiliária. Em 1832, existiam na cidade cerca de 200 ilhas. É nas zonas correspondentes aos principais focos que se verificou maior expansão, na segunda metade do século XIX. No último quarto do século, as ilhas atingiam uma dimensão impressionante, albergando cerca de um terço da população. Várias destas ilhas surgiram na Fontinha. Nos anos 30 e 40 do séc. XX, a zona conheceu um novo impulso urbanístico, com a abertura de novas ruas, como a de Camões, da Constituição e de Gonçalo Cristóvão.
Resistência e conflito A Fontinha foi palco de importantes acontecimentos do movimento operário portuense na segunda metade do séc. XIX. Com o desenvolvimento do sistema industrial, o aumento da população operária e o afastamento físico e social entre patrões e trabalhadores, desenvolvem-se novas formas de resistência e conflito. Proclamando a livre iniciativa de produzir, o liberalismo lutara pela supressão das corporações de ofícios, considerados “estorvos à indústria nacional”. A lógica da livre concorrência entre os produtores sobrepunha-se à lógica defensiva das corporações de artesãos e, por via de consequência, limitava drasticamente o direito de associação. Cresce, todavia, o associativismo operário entre 1852 e 1856, à escala nacional e sob a influência do despontar das ideias socialistas, na sequência dos acontecimentos de 1848 em França. Este movimento é indissociável dos problemas resultantes do dinamismo industrial que o Porto conhece e que se prendem com as relações conflituosas entre patrões industriais e operários, com o agravamento das condições de vida das camadas populares e, finalmente, com os conflitos entre empresários capitalistas e pequenos artesãos, ameaçados pela proletarização. Nos anos difíceis de 1855-56, marcados pela crise dos cereais, a crise dos vinhedos, os fluxos migratórios, as epidemias, a fome, as doenças e o desemprego, são fundadas diversas associações. Na mesma altura, aparecem, ainda, os primeiros jornais operários que denunciam as desigualdades sociais e divulgam as ideias do socialismo utópico que, apesar de dar forma às reivindicações operárias, mantém, muitas vezes, a proximidade com a ideologia corporativa do artesanato. “Em 1875, apareceu nas imediações da Fontinha, mais concretamente na rua do Bonjardim, nas proximidades do actual largo Dr. Tito Fontes, o ‘Jornal Artístico Social’." Nos anos setenta, assiste-se a um novo surto reivindicativo que tem na zona da Fontinha um dos principais focos. O movimento operário adopta novos modelos de organização, mobilização e acção. Fazem-se sentir as influências socialistas da Internacional, da Comuna de Paris e do movimento operário espanhol. “O sítio onde se realizavam os maiores comícios operários desses tempos era (…) num velho edifício situado na esquina da rua de Gonçalo Cristóvão e do actual largo Dr. Tito Fontes. Defronte ficava outra casa célebre, a sede da Laboriosa em cujo salão se realizaram importantes e agitadas reuniões operárias.” 48
“Em Abril de 1874 um pequeno núcleo de operários fundou, na rua de Santa Catarina, na esquina com a Calçada do Luciano, hoje rua da Escola Normal, a Associação dos Trabalhadores que, dois anos depois, transferiu a sua sede para o Largo da Fontinha, onde se manteve, em permanente actividade, por muitos anos mais. Nesta associação, que reunia operários dos mais diversos ramos da indústria, pontificava o cidadão francês Joseph Delarue, fabricante de pianos, que estivera implicado nos acontecimentos da Comuna, e por causa dos quais deixara França para se radicar no Porto”. Entre 1875 e 1877, verificam-se greves importantes no Porto, sobretudo a dos chapeleiros. Em 1875, o aparecimento do partido operário socialista traduz a adopção das directivas da Internacional, em que domina a tendência marxista, e a transformação do movimento operário em movimento político. As associações do Porto são as mais bem organizadas. Mas nos finais dos anos setenta, o movimento associativo operário conhece uma nova fase: todos os movimentos juntam-se no partido socialista. Nessa altura, funda-se a cooperativa de Tecidos de Algodão que se instala ao lado da Associação de Trabalhadores, no Largo da Fontinha, pelo que este núcleo de socialistas passou a ser apelidado por “Grupo da Fontinha.” Todavia, por volta de 1880, este núcleo mais activo do movimento operário e socialista do Porto desmembra-se. Vários militantes afastam-se do grupo da Fontinha e formam os seus próprios núcleos. Um dos grupos acompanha o serralheiro Ermelindo António Martins, em cuja oficina da Rua das Carvalheiras se passa a reunir, com a designação da Associação União dos Trabalhadores, sob a influência do colectivismo anarquista. 49
Quarteirão O quarteirão da Fontinha localiza-se num morro granítico, na área central da cidade do Porto, delimitado pela rua do Bonjardim, a poente, a rua de Santa Catarina, a nascente (vias históricas importantes de saída da cidade) e pelas ruas de João de Oliveira Ramos, a norte e de Gonçalo Cristóvão, a sul. A sua estrutura actual, como se observa na Planta de Telles Ferreira de 1892 (pág. 58), encontrava-se já definida no século XIX, tendo como vias dominantes do quarteirão as ruas Bonjardim e Santa Catarina, assim como a rua de Gonçalo Cristóvão, enquanto eixo estruturante da cidade. “Apresentando características físicas e morfológicas muito próprias, a área da Fontinha/ Carvalheiras não acompanhou as dinâmicas de crescimento urbano da cidade. De facto, o seu relevo muito acentuado, que historicamente condicionou a adopção de soluções favoráveis de acessibilidade e ocupação do seu interior, e a circunstância de se constituir como formação orográfica com a mesma orientação das vias de penetração norte/sul (não as obstaculizando) contribuíram, entre outros aspectos, para o agravamento das condições de estruturação dos espaços das Carvalheiras, Fontinha e Alto da Fontinha, que assim resultam definitivamente como intersticiais”. Assim, “parece que a área de intervenção ficou como que “enquistada” num enquadramento que remonta aos princípios deste Século”. No entanto, este isolamento teve consequências positivas: • A salvaguarda de um espaço de invulgar panorâmica sobre a cidade; • A manutenção de um local em que a silhueta citadina não foi alterada por construções em altura; • A conservação de algumas construções de interessantes características arquitectónicas. De facto, a fraca acessibilidade e a quase ausência de atravessamentos neste quarteirão são as principais condicionantes das suas especificidades: uma forte presença de espaços verdes, característica invulgar no centro da cidade; o abandono do edificado, que apresenta um carácter pouco urbano, lembrando um ambiente rural. O sistema viário que estrutura este quarteirão caracteriza-se por ser demasiadamente periférico, uma vez que a sua penetração se limita a algumas vias que se localizam apenas na zona Sul do quarteirão. O quarteirão caracteriza-se, assim, por uma periferia de frente urbana consolidada e um 50
interior com grandes diferenças nas zonas Norte e Sul. A zona Norte é constituída por uma série de logradouros privados, na sua maioria num estado de abandono ou selvagem, que, conjuntamente, formam uma grande mancha verde com 3.5 hectares. Este vazio apresenta um grande potencial, enquanto estrutura ecológica de cariz urbano, necessitando, para isso, de melhores acessibilidades e de maior unidade. A zona Sul, melhor servida em matéria de acessos e atravessamentos, tem uma maior concentração de edificado onde se encontram os equipamentos mais dinamizadores do interior do quarteirão: a escola EB1 da Fontinha e o respectivo ATL; os espaços públicos que, apesar de pouco dinamizadores e mal conservados, apresentam bastante potencial (especialmente o Largo da Fontinha), enquanto espaços nucleares de convivência urbana, designadamente através da promoção de relações de vizinhança. À semelhança do que se verifica em toda a zona central da cidade do Porto, o quarteirão apresenta um elevado nível de degradação do edificado, assim como de abandono.
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Sistema viário
Área verde
Edifícios degradados e abandonados 51
Espaço público e equipamentos
Análise do plano de pormenor Fontinha/Carvalheiras
Alto da Fontinha
Fontinha
Carvalheiras
Sectores
Vias existentes
Edificação proposta
Equipamentos propostos
Vias existentes e vias propostas
Espaços verdes propostos 52
Acções
Síntese
A Fontinha encontra-se contemplada em três documentos de planeamento urbano: o Plano Director Municipal, o Masterplan SRU e o Plano de Pormenor da Fontinha/ Carvalheiras. Como o PDM e o Masterplan SRU seguem as indicações do Plano de Pormenor, fizemos uma leitura particularmente atenta deste último documento. O plano foi desenvolvido, em 1995, no âmbito do concurso de “Ideias de elaboração do Plano de Pormenor da Fontinha/Carvalheiras”, integrado nas unidades de ordenamento L2 e L3 definidas pelo respectivo Plano Director Municipal. Elaborado pelo arquitecto Rui Mealha, foi apresentado posteriormente, em 1997, como Anteplano do Plano de Pormenor. Continuou a ser desenvolvido até 1999, mas com a mudança do executivo, o projecto não teve seguimento, apesar de várias das soluções propostas terem sido integradas no PDM de 2005. No plano, a área de intervenção encontra-se delimitada pela rua do Bonjardim a poente, a rua de Santa Catarina a nascente, a rua de João de Oliveira Ramos a norte e a rua Gonçalo Cristóvão a sul. Devido às especificidades da zona, o plano em geral apresenta uma proposta orientada para a reabilitação. “A área em estudo apresenta assim um conjunto de características que motivam a adopção de metodologias específicas de intervenção, para reabilitação, modificação e renovação parcial das estruturas parciais em presença” . Segundo a memória descritiva, o projecto foi definido pelas seguintes vertentes estratégicas: o desenho dos espaços colectivos de carácter vivencial, o desenho de arquitectura urbana e de soluções de infra-estruturação, a regulamentação de parâmetros urbanísticos para definir ocupações e aproveitamentos parcelares, o desenvolvimento de procedimentos de consulta destinados à negociação e o enquadramento estratégico das acções em desenvolvimento. O plano foi dividido em três sectores de intervenção, “sectores fundamentais, a confirmar como unidades operativas a contemplar pelo projecto urbano nas suas vertentes de projecto plano, arquitectura urbana e espaços colectivos” Sector da Carvalheiras | Estruturado pelas ruas das Carvalheiras e de Raul Dória, este sector, com fortes afinidades com a rua Gonçalo Cristóvão, apresenta uma proposta que se apoia num princípio de continuidade ou de transição espacial e programática interior/exterior do quarteirão. Um novo espaço público (Praça da Carvalheiras) e um edifício recuado de habitação e comércio ocupam um terreno disponível na rua das Carvalheiras. A poente da praça, eleva-se uma construção de frente única para 53
estacionamento, comércio e serviços, implantada contra uma escarpa e colmatando a frente de rua. O perfil das ruas das Carvalheiras e de Raul Dória sofrem beneficiações, através de realinhamentos e alargamentos. Sector da Fontinha | Com uma malha onde predomina a habitação operária, este sector é objecto de uma estratégia de renovação através da implantação de 30 novos fogos em edifícios de frente urbana (entretanto construídos), repondo uma estrutura de quarteirão tradicional. Mantêm-se alguns conjuntos edificados, de interesse urbanístico relevante, e substituem-se estruturas edificadas consideradas deficientes, nomeadamente as casas operárias da rua da Fábrica Social e do Alto da Fontinha. O Largo da Fontinha é sujeito a uma reformulação, através do seu alargamento e requalificação. Com o objectivo de melhorar a articulação entre o equipamento escolar existente e os edifícios destinados a acolher equipamentos sócio-educativos complementares, há uma sistematização dos percursos pedonais, de que são exemplos a ligação da rua Bela da Fontinha à rua do Bonjardim e as ligações desta última, através de equipamentos, ao Alto da Fontinha. Sector do Alto da Fontinha | Localizado na zona mais alta do morro, este sector contém um grande miolo formado por logradouros privados. A proposta apresenta uma área de índole cultural, recreativa e de lazer. É criado um jardim panorâmico, com ligações às ruas do Bonjardim, de Santa Catarina e de João de Oliveira Ramos, pontuado por equipamentos autónomos. Propõe-se a reabilitação da Fábrica Social para equipamento cultural de grande importância e, a nascente, um edifício destinado a estacionamento, cuja cobertura constitui um espaço público, articulado com a fábrica e com o parque urbano. É também proposta a edificação de novas frentes de fechamento do quarteirão, através de edifícios de habitação e de alojamentos para estudantes. Devido ao carácter intersticial do quarteirão, verifica-se que a mancha de acções incide principalmente no seu interior, cosendo-o e integrando-o na malha urbana. São propostos equipamentos de articulação à rede escolar e de carácter comunitário, habitação para estudantes, edifício de estacionamento, um parque urbano e o centro cultural da Fábrica Social. Dada a debilidade dos acessos ao quarteirão, mais notória no Alto da Fontinha, o plano propõe uma reestruturação viária. Prolonga-se a rua do Alto da Fontinha, penetrando os 54
logradouros, até à rua de João de Oliveira Ramos, com ligações transversais à rua do Bonjardim e de Santa Catarina. Em conclusão, realçamos os principais aspectos positivos e negativos do plano: Destacam-se como pontos positivos: a criação do jardim panorâmico no Alto da Fontinha; a abertura do interior do quarteirão e a sua integração na malha urbana envolvente; a criação de um sistema de equipamentos públicos. Como principais pontos negativos, destacamos a excessiva quantidade de construção proposta, tendo em conta a situação actual de abandono e degradação do edificado no centro da cidade. O princípio que consiste em colmatar o tecido existente com uma frente urbana contínua impossibilita a implementação de novos modelos de ocupação do tecido tradicional (sobreposição de uma grelha nova à matriz antiga ou criação de zonas sem edificado). A continuidade da lógica de quarteirão fechado no Alto da Fontinha compromete o potencial do jardim proposto. Em termos de mobilidade, parece-nos errada a importância atribuída à circulação automóvel.
1813
1892
1939
2007
Tecido por defeito Tecido por defeito define o padrão territorial que resulta de um desenvolvimento urbano não planeado, num quadro de livre-iniciativa, típico do liberalismo económico. Nele se lê, com muita evidência, as condicionantes económicas, tecnológicas e políticas de uma dada época. No desenvolvimento urbano do Porto do séc. XIX, adoptouse um padrão de ocupação definido pela estrutura viária, pelas características de loteamento e pelo tipo de edificado, que se manteve até hoje, organizado em torno da tripa, da frente consolidada, do logradouro, da trama burguesa. Este padrão tem a sua génese nos planos dos Almadas. Estes incluíam projectos de fachadas uniformes, por vezes, para frentes de ruas inteiras. A ordem formal estabelecida nestes projectos impunha-se a lotes de uma grande variedade de tamanhos. Para as zonas que não estavam, ainda, loteadas foi definido um padrão de loteamento regular, com base num lote de 25 palmos (5,5 metros) de largura, habitualmente muito comprido, atingindo por vezes os 100 metros. “Depois da revolução de 1820, o novo poder político da burguesia reflectir-se-ia claramente na cidade, não só como motor económico do seu desenvolvimento mas também na sua forma física, expressando arquitectonicamente a individualidade dos diferentes lotes que compunham as ruas. No séc. XIX, a rua tornou-se uma simples adição de lotes individualmente desenvolvidos, o que se reflectia na fachada das ruas. A rua passou a caracterizar-se pela completa disparidade dos projectos individuais que a compunham ou pela repetição exaustiva do mesmo modelo”. Esta liberdade de composição expressava directamente os processos económicos de desenvolvimento da cidade e a total liberdade de acção de que dispunham os promotores urbanos. “O lote individual passou a ser a unidade fundamental de desenvolvimento da cidade. 64
A regularidade dos lotes urbanos foi o padrão lógico para o desenvolvimento da cidade no séc. XIX e, simultaneamente, sua consequência. Esta regularidade tornava todas as operações de planeamento económico e espacial extremamente simples. A terra tornara-se um bem negociável e o desenvolvimento da cidade passou a ser regido pelas leis do mercado. Esta situação reflectia-se agora formalmente na cidade e representava não só um processo diferente de desenvolvimento, mas também um conceito diferente da cidade. A filosofia liberal da livre iniciativa dava cobertura a tais práticas e legitimava-as.” “O estreito lote urbano de 5,5 metros, por vezes 6, de largura foi adoptado para a maior parte dos novos desenvolvimentos urbanos do Porto do século XIX. Esta dimensão de lote aumentava o número de edifícios possíveis numa determinada frente de rua, reduzindo, ao mesmo tempo, os custos de urbanização por unidade habitacional, adequava-se à tecnologia de construção utilizada à época no Porto” . Segundo esta tecnologia, a largura correspondia ao vão máximo de uma viga de madeira, sustentada por paredes-mestras construídas de ambos os lados do lote, Contribuía igualmente para a normalização de alguns componentes de construção, promovendo o desenvolvimento de modelos arquitectónicos que os mestres-de-obras aprenderam a construir e repetiram por toda a cidade. Por referência aos conceitos de espaço público/privado, produziram-se quarteirões definidos por uma frente fechada no perímetro do quarteirão, uma muralha, à face da rua, e logradouros interiores de grandes dimensões, completamente inacessíveis à cidade. Hoje, com o défice de espaços públicos e de espaços verdes, este tecido torna-se objecto de uma reestruturação com grande potencial. 65
Trimontium O Trimontium descreve o sistema urbano definido pela estrutura topológica de três montes – Lapa, Fontinha e Pedreiros – e as correspondentes centralidades que originaram. O conjunto localiza-se na zona norte da primeira cintura que envolve o centro histórico. Com orientações norte-sul, estes montes foram determinantes na expansão da cidade. Os grandes eixos norte-sul de ligação da cidade ao resto do território passavam nos vales destes montes, adaptando-se à topologia. Com o desenvolvimento da cidade, o povoamento acompanhou estes eixos e as centralidades foram reforçadas pela presença de grandes equipamentos, aproveitando as vantagens paisagísticas oferecidas por estes montes. O Monte da Lapa distingue-se pela influência do conjunto formado pela Igreja da Lapa e o cemitério. Em 1755, foi construída uma pequena capela junto à estrada em direcção a Braga (hoje, rua Antero Quental), que estimulou o desenvolvimento de um pequeno aglomerado. Com a construção em 1784 da igreja actual esta centralidade ganhou mais dinamismo. No cimo do monte, existe uma torre com um miradouro panorâmico da cidade, antiga torre de sinalização para as navegações que entravam na barra do porto. O Monte da Fontinha (antigo Bairro Alto) situa-se entre a rua do Bonjardim e a rua de Santa Catarina, ruas que se ligavam entre si e seguiam para Guimarães. O lado do monte ligado à rua do Bonjardim desenvolveu-se primeiro, perto de uma pedreira. O principal crescimento deu-se com a instalação da Fábrica Social no Alto da Fontinha, promovendo um aglomerado composto por um bairro operário, ilhas e pequenas habitações. Apesar de várias tentativas de planos para criar atravessamentos este-oeste, a topologia constituiu uma forte condicionante, conduzindo à criação de um quarteirão extenso, com um grande miolo inacessível e contribuindo para o estado intersticial que, ainda hoje, se sente. Também conhecido por Monte Tadeu (antigo Monte dos Congregados), o Monte dos Pedreiros distinguiu-se inicialmente pela presença do Convento dos Congregados. A urbanização do monte conheceu um maior impulso com a instalação da Cooperativa dos Pedreiros, junto da rua da Alegria. Este conjunto inclui uma grande fábrica, depósitos e uma torre de água. A fábrica motivou a construção de um bairro operário e de ilhas, 66
assim como atraiu muita habitação. Dos três montes foi o que acompanhou mais a modernização da cidade, através da construção em 1969, por iniciativa da Cooperativa dos Pedreiros, de uma torremiradouro, com diferentes funções como habitação, hotel, restaurante e espaços comerciais. Por corresponder ao vale mais largo e com declive menos acentuado, a zona entre a Lapa e a Fontinha, ligada às principais entradas e saídas do centro da cidade (através da rua Faria Guimarães e rua de Camões), regista uma maior densidade de ocupação, com muita habitação. O vale entre a Fontinha e os Pedreiros não teve a mesma dinâmica, já que a ocupação fica limitada à rua de Santa Catarina, gerando-se grandes quarteirões só com construção no perímetro e grandes miolos sem penetrações.
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Este capítulo é constituído pela compilação de mapas organizados em escalas sucessivamente maiores. Em cada um, isolamos e simplificamos uma determinada dimensão da realidade para que esta se torne mais evidente. Os mapas tornam-se assim peças gráficas que transmitem valores, de uma forma imediata.
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Envolvente
Sistema viรกrio
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Metro + parques de estacionamento
Espaรงos verdes e ruas arborizadas
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Edificado degradado
CAMPO DA CONSTITUIÇÃO
CLUBE DESPORTIVO ACADÉMICO PORTO
IGREJA DE NOSSA SENHORA DA VITÓRIA INSTITUTO PROFISSIONAL DO TERÇO
ASSOCIAÇÃO DE TÉNIS DO PORTO EB 23 IRENE LISBOA
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO PAULA FRANSINETTI ESCOLA SECUNDÁRIA AURÉLIA DE SOUSA
HOSPITAL DE SANTA MARIA
COLÉGIO D. DUARTE
ESCOLA DE FUTEBOL HERNÂNI GONÇALVES
ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA DA SAÚDE DO PORTO
IGREJA E CEMITÉRIO DA LAPA SMAS HOSPITAL NOSSA SENHORA DA LAPA RESERVATÓRIOS DA ÁGUA
GRANDE COLEGIO UNIVERSAL
QUARTEL MILITAR
ESCOLA PROFISSIONAL DE ESTUDOS ECONÓMICOS E SOCIAIS JOSÉ MOREIRA DA SILVA
ESCOLA EB1 DA FONTINHA
ESCOLA SUPERIOR DE MÚSICA E ARTES DO ESPECTÁCULO
ESCOLA EB 2/3 AUGUSTO GIL SILO-AUTO ESTAÇÃO DE METRO DA TRINDADE
FACULADADE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO HOSPITAL DA ORDEM DA TRINDADE PARQUE DE ESTACIONAMENTO DA TRINDADE IGREJA DA TRINDADE
CENTRO COMERCIAL CENTRAL SHOPPING ESCOLA SECUNDÁRIA ARTISTICA SOARES DOS REIS
CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO
Equipamentos
CTT + GBINETE DO MUNÍCIPE + SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS
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MERCADO DO BULHÃO CENTRO COMERCIAL VIA CATARINA
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Espaços públicos
CAMPO DA CONSTITUIÇÃO
CLUBE DESPORTIVO ACADÉMICO PORTO
IGREJA DE NOSSA SENHORA DA VITÓRIA INSTITUTO PROFISSIONAL DO TERÇO
ASSOCIAÇÃO DE TÉNIS DO PORTO EB 23 IRENE LISBOA
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO PAULA FRANSINETTI ESCOLA SECUNDÁRIA AURÉLIA DE SOUSA
HOSPITAL DE SANTA MARIA
COLÉGIO D. DUARTE
UTEBOL HERNÂNI GONÇALVES
ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA DA SAÚDE DO PORTO
IGREJA E CEMITÉRIO DA LAPA SMAS HOSPITAL NOSSA SENHORA DA LAPA RESERVATÓRIOS DA ÁGUA
NDE COLEGIO UNIVERSAL
QUARTEL MILITAR
ESCOLA PROFISSIONAL DE ESTUDOS ECONÓMICOS E SOCIAIS JOSÉ MOREIRA DA SILVA
ESCOLA EB1 DA FONTINHA
ESCOLA SUPERIOR DE MÚSICA E ARTES DO ESPECTÁCULO
ESCOLA EB 2/3 AUGUSTO GIL SILO-AUTO ESTAÇÃO DE METRO DA TRINDADE
ADE DIREITO DA DADE DO PORTO HOSPITAL DA ORDEM DA TRINDADE PARQUE DE ESTACIONAMENTO DA TRINDADE IGREJA DA TRINDADE
CENTRO COMERCIAL CENTRAL SHOPPING ESCOLA SECUNDÁRIA ARTISTICA SOARES DOS REIS
CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO
Síntese
CTT + GBINETE DO MUNÍCIPE + SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS
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MERCADO DO BULHÃO
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Porto
Vias
Estrutura ecol贸gica
Ferrovias
Verde p煤blico
Parques de estacionamento
Verde canal 78
Escolas
Equipamentos culturais e educacionais
Paranhos Ramalde Aldoar
48686 hab
37647 hab
13957 hab
Nevogilde 5257 hab
Campanhã Cedofeita
38757 hab
24784 hab
Lordelo do Ouro Foz do Douro 12235 hab
22212 hab
St. Ildefonso
Massarelos
Bonfim 28578 hab
10044 hab
7756 hab
Miragaia 2810 hab
Sé Vitória 2720 hab
Faculdades
São Nicolau
4751 hab
2937 hab
Limites administrativos
Equipamentos culturais
Síntese 79
Lisboa
Porto
Nova Iorque
Paris
GAMP
Vias
Fluxos
Ferrovias
Estrutura ecol贸gica 82
PÓVOA DE VARZIM POPULAÇÃO: 65452 hab VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: -3%
VILA DO CONDE SANTO TIRSO
POPULAÇÃO: 75981 hab
POPULAÇÃO: 39166 hab
VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: 2%
TROFA
VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: 4%
POPULAÇÃO: 39166 hab VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: 4%
MAIA POPULAÇÃO: 130254 hab VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: 8%
VALONGO MATOSINHOS
POPULAÇÃO: 91274 hab
POPULAÇÃO: 168451 hab
VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: 6%
VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: 1%
PORTO POPULAÇÃO: 238954 hab VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: -9%
GONDOMAR POPULAÇÃO: 169239 hab VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: 3%
VILA NOVA DE GAIA POPULAÇÃO: 300868 hab VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: 5%
ESPINHO POPULAÇÃO: 31703 hab VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: -6%
SANTA MARIA DA FEIRA POPULAÇÃO: 142295 hab VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: 5%
AROUCA POPULAÇÃO: 24019 hab VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: -8%
SÃO JOÃO DA MADEIRA POPULAÇÃO: 21102 hab VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO 2001-2004: 2%
Densidades populacionais
Limites administrativos
População
Síntese 83
SOCIAL
AGRICULTURA
INCULTOS
IMPRODUTIVOS
ÁGUAS INTERIORES
FLORESTA
OUTROS
AZINHEIRA
EUCALIPTO
SOBREIRO
PINHEIRO BRAVO
ESTATAL BALDIOS
PRIVADO
Portugal
AEROPORTO FRANCISCO SÁ CARNEIRO PORTO DE LEIXÕES
PORTO DE AVEIRO
AEROPORTO DA PORTELA
PORTO DE LISBOA PORTO DE SETÚBAL
PORTO DE SINES
AEROPORTO DE FARO
Vias principais
Portos e aeroportos
Ferrovias
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ESPANHA
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Imigração
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Emigração
Conurbações metropolitanas
Conurbações não metropolitanas
Cidades
AEROPORTO FRANCISCO SÁ CARNEIRO PORTO DE LEIXÕES
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Síntese do sitema urbano
Áreas verdes protegidas 87
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O RG A BU M NH XE MA LU LE
AEROPORTO DE FARO
Síntese
88
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A consciência do passado, considerado como um valor e uma fonte de aprendizagem e riqueza, surge pela primeira vez na história ocidental durante o Renascimento. O interesse pela história fomentou uma cultura inspirada nos ideais do mundo clássico e originou algumas tentativas para recuperar e conservar amostras desse tempo. O movimento do Neoclássico adoptou de novo a inspiração clássica do Renascimento e despoletou um interesse científico pelos monumentos antigos. Realizaram-se várias expedições arqueológicas nesta época e delas resultaram importantes testemunhos e documentos de registo, organizados nos primeiros museus de escultura e arte antiga. Destacam-se, entre estes registos, as gravuras das ruínas romanas de Piranesi, que se revelaram fundamentais para o melhor conhecimento da cultura clássica. Várias iniciativas se sucederam, com a grande influência de Johann Winckelmann, no esforço de distinguir os diferentes estilos utilizados em cada época
Desde sempre, se construiu sobre preexistências. Desde os primórdios, o Homem teve a necessidade de fazer perdurar no tempo todos os objectos que representassem alguma utilidade para a sua subsistência, alterando-os e adaptando-os. Por motivações práticas ou, muitas vezes, económicas, existem na história inúmeras cidades ou aglomerados construídos sobre ruínas. É o caso dos “tell” árabes, das cidades fortificadas que ocuparam grandes estruturas romanas, como os anfiteatros, ou, ainda, os grandes monumentos transformados em pedreiras, onde a reutilização da pedra serviu para novas construções. A noção de património intimamente ligada a valores utilitários existe desde sempre e, num plano a que poderemos chamar de alternativo, persiste até aos dias de hoje. 1720 D. João V (1669-1750) Cria a Academia Real da História Portuguesa dos monumentos antigos
Evolução da noção de património
1730
1720
1710
1700
1742 Giovanni Battista Piranesi
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(1720-1778) e classificar os monumentos dentro de cronologias Reúne um grande conjunto de gravuras das ruínas históricas definidas. romanas Adquiriu-se, assim, uma noção mais profunda da história, que deixou de ser apenas caracterizada como um deslumbramento superficial, começando já a se definir como uma disciplina rigorosa e científica. Foi em França, na sequência da Revolução de 1789, que surgiu, pela primeira vez de uma forma clara, a noção de PATRIMÓNIO HISTÓRICO NACIONAL. No contexto da afirmação da soberania do povo, inúmeros monumentos franceses foram considerados como insultos à pobreza e à simplicidade dos valores republicanos. Várias acções de vandalismo e destruição, que daí decorreram, tornaram urgente 1755 JohanWinkelmann promover a intervenção do Estado na sua salvaguar(1717-1768) importantes estudos da. Em 1790, nasceu, em consequência, a Comissão Realizasobre a Roma antiga Francesa pela Arte e Monumentos. Iniciou-se deste modo, por toda a Europa, a discussão sobre o tema da conservação e do restauro. As várias teorias e tendências, que foram surgindo, divergem sobretudo na metodologia, mas o valor histórico e arqueológico dos monumentos mantémse, tornando-se o objectivo prioritário de toda a discussão. Em Itália, surgiu uma tendência denominada de “restauro arqueológico” que, influenciada principalmente pela cultura romântica, defendia a reposição do estado original dos monumentos. Aos edifícios históricos eram retirados todos os acrescentos posteriores que não fizessem parte do projecto original. Sob a influência directa desta tendência, destacam-se algumas obras de restauro que, orientadas pelo respeito pelo valor histórico e estético, colocam em primeiro lugar o monumento e a sua dimensão arqueológica, sem lhe atribuir nenhuma utilização funcional, intervindo principalmente por motivações culturais: o anfiteatro de Arles em França que, após a transformação de Arles em cidade fortificada durante o século XI, recuperou, numa acção de restauro entre 1809 e 1830, o seu carácter original de anfiteatro ro-
1770
1760
1750
1740 1742 “Vistas de Roma” Gravura de Piranesi
mano do século I d.C.; e, ainda, os restauros, do Arco de Tito e do Coliseu de Roma (que, durante séculos, teria servido de pedreira), liderados por Raffael Stern e Giuseppe Valadier e que devolveram a estas ruínas a grandiosidade original de monumentos romanos. Na sequência do aparecimento da Comissão Francesa pela Arte e Monumentos, Ludovic Vitet e Prosper Merimée, nomeados sucessivamente no posto de Inspector-geral dos Monumentos, defenderam fortemente os princípios do “restauro arqueológico”, impondo o seu cumprimento por toda a França. Surgiu, no entanto, a partir da influência de Eugène Violletle-Duc, uma tendência conhecida como “restauro estilístico”. Ligado ao revivalismo arquitectónico do séc. XIX, Eugène Viollet-le-Duc escreveu, na sua obra “Dicionário da Arquitectura Francesa”: “restaurar um edifício não é conservá-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo num estado de plenitude que poderá não ter existido em nenhum momento.” Defendeu a destruição de todos os acrescentos de épocas posteriores, de modo a restituir cientificamente o original, mas realizou projectos bastante fantasiosos e criativos, onde a restituição era, muitas vezes, imaginária. O restauro do Castelo de Pierrefonds é uma obra exemplar da intenção deste arquitecto em devolver o estado completo, ideal e absoluto do edifício, com a introdução de inúmeras alterações em relação ao original. Simultaneamente, surgiu em Inglaterra outra tendência no restauro que, protagonizada por John Ruskin e William Morris, ficaria conhecida como o “movimento anti-restauro”. John Ruskin manifestou ideias opostas às do arquitecto francês Viollet-le-Duc. Considerou os acrescentos de novas eras em edifícios antigos como “mentiras arquitectónicas”, principalmente se estes não fossem manufacturados. Contrariou, desta forma, a ideia de falso histórico, uma vez que toda a intervenção sobre o existente constituirá inevitavelmente uma alteração ao monumento no seu estado original.
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1790 Comissão Francesa pela Arte e Monumentos Instituição que salvaguarda os monumentos nacionais
1811 Catedral Estrasburgo França Recuperada em 1811
1809 Anfiteatro de Arles, França Recuperado entre 1809 e 1830
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Entre os seus seguidores, destaca-se William Morris que iniciou em Inglaterra o movimento de “Arts and Crafts”, pretendendo conservar as características das actividades artesanais e da arquitectura tradicional, em oposição à produção em série e à industrial1817 ização. Em 1877, fundou, em Londres, a Sociedade Raffael Stern (1774-1820) de Protecção de Edifícios Antigos que, seguindo as Cria a Academia Real da Portuguesa dos ideias de Ruskin, defendia a manutenção dos edifí- História monumentos antigos cios antigos, evitando assim futuros restauros que adulteram os monumentos. Em Itália, Camillo Boito influenciou toda uma geração de arquitectos que, preocupados com a questão 1823 da defesa dos monumentos e da sua conservação, Giuseppe Valadier (1762-1839) viriam a dar origem ao movimento conhecido por “Restauro Arquiológico” “restauro científico”. Defendeu intervenções de res- Inicia o restauro dodeColiseu Roma tauro de nível intermédio, reagiu aos conceitos de Viollet-le-Duc e à atitude de passividade defendida por Ruskin e Morris. Propôs, por sua vez, o respeito por todas as épocas do monumento. As intervenções sucessivas que se vão acumulando nos monumen1829 Victor Hugo tos seriam, para Boito, testemunhos da sua história, Publica o artigo (1802-1885) “Guerre aux Démolisseurs” assim, o valor histórico que possuem seriam o valor máximo a preservar. Este é um tema que Boito de1830 Ludovic Vitet senvolveu de uma forma clara numa das suas obras (1802-1873) É nomeado inspector-geral dos Monumetos Franceses mais marcantes “Os Restauradores”. Em 1883, realizou-se em Roma o III Congresso de Arquitectos e Engenheiros Civis que enunciou, de uma forma sistematizada, os princípios estabelecidos por Boito. 1837 Alexandre Herculano Entre os seus seguidores, destaca-se o italiano (1810-1877) o artigo “Arquitectura Gustavo Giovannoni que introduziu, pela primeira Publia gótica, Igreja do Carmo em Lisboa, na revista vez. na discussão, o termo de “património urbano”, “O Panorama” propondo desta forma uma salvaguarda integrada. 1840 Viollet-le-Duc (1814-1879) Mais tarde, esta noção de património urbano foi alar“Restauro Estilístico” de restauro da gada. Recuperar-se-iam assim casas, ruas e praças, Inicia a obra Igreja de Vézelay sendo definido um conjunto de regras para este tipo 1843 de intervenções. Almeida Garret (1799-1854) o romance “Viagens A contribuição deste arquitecto revelou-se funda- naPublica minha Terra”, onde reage perante a condição do mental, desde logo porque, deixando de se limitar património em Portugal ao monumento arqueologicamente reconhecido, a noção de património se torna mais abrangente, decorre de uma perspectiva mais integrada.
1844 Catedral de Notre Dam, Paris Recuperada em 1844 por Viollet-le-Duc
1840 Mosteiro da Batalha, Lisboa Recuperado em 1840 por Luís da S. Moutinho de Albuquerque
1823 Coliseu de Roma Recuperado em 1823 por Valadier
1817 Arco de Tito, Roma Recuperado em 1817 por Stem
O início do século XX é marcado pelo aparecimento do Modernismo e do Estilo Internacional que, em todos os seus pressupostos, afectam a noção de património. Já mais abrangente, esta tornou-se essencialmente normativa e inserida numa perspectiva de interesse internacional. Surge assim a noção de um PATRIMÓNIO HISTÓRICO INTERNACIONAL. Várias iniciativas se sucedem na Europa neste esforço de normalização. Em 1921, realizou-se em Paris o Congresso Internacional de História de Arte, onde se manifestou a necessidade de estabelecer regras de restauro internacionalmente aceites; em 1931, realizou-se em Atenas, uma conferência com resultados efectivos na concretização deste objectivo comum. Nela participaram vinte países europeus e um dos temas discutidos seria a tutela e o restauro dos monumentos arquitectónicos. Desta conferência, promovida pelos CIAM (Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna), resultou um importante documento – a Carta de Atenas - o primeiro documento internacional que estabeleceu, nesta matéria, uma base de critérios e directrizes que iriam ser absorvidos pelas diferentes legislações nacionais e europeias sobre a salvaguarda do património arquitectónico. Esta carta revelou-se essencial, no sentido em que despoletou o interesse e esforço de muitos países no que respeita à regulamentação da actividade de conservação e restauro dos seus monumentos. Entre essas iniciativas destacou-se a Carta de Restauro Italiana, de 1932, que contou com a forte participação de Giovannoni, e que, apesar de seguir os princípios da Carta de Atenas, acrescentou à noção de património, não só as obras de arte, mas também as da ciência e tecnologia. A II Guerra Mundial e a consequente destruição de uma parte significativa dos monumentos patrimoniais foram também importantes para que, cada vez mais, se encarasse globalmente a necessidade de proteger um património comum.
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1884 Camilo Boito (1836-1933) “Restauro Científico” Apresenta a sua obra “Os Restauradores”
1877 William Morris (1834-1896) Funda a “Sociedade de Protecção de Edifícios Antigos” em Inglaterra
1851 John Ruskin (1819-1900) “Anti-restauro” Publica “As pedras de Veneza”
1857 Castelo de Pierrefonds, França Recuperado em 1857 por Viollet-le-Duc
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Cesari Brandi trouxe, neste contexto, um contributo fundamental. Na sua obra “Teoria do Restauro”, expôs ideias que ficaram conhecidas como “Restauro crítico”. Defendeu que os valores artísticos prevalecem sobre os históricos, afirmando: ”A consistência física da obra de arte deve ter necessariamente prioridade porque assegura a transmissão da imagem do futuro”. Caminha-se para uma visão onde os valores patrimoniais se tornam cada vez mais desligados da perspectiva arqueológica, científica e rigorosa que, até então, definira a noção de património. Ainda sob a ameaça da guerra, destacam-se alguns documentos que se debruçam sobre esta problemática. Em 1945, a ONU criou a UNESCO, com o objectivo de garantir universalmente a justiça e os direitos humanos, entre todas as nações, promovendo a educação, a ciência e a cultura. Definiu-se globalmente o conceito de património arquitectónico e estabeleceram-se Convenções e Recomendações para a sua salvaguarda. Destacou-se, em particular, a Convenção de Haia ou Convenção para a Protecção de Bens Culturais em caso de Conflito Armado, elaborada em 1954. Este documento reconhece o efeito devastador das guerras e defende uma estratégia de prevenção em tempos de paz, através da inventariação internacional dos bens culturais de maior importância e a criação de regulamentos e medidas que previnam a sua destruição, pilhagem e alteração. Em 1964, realizou-se em Veneza, o II Congresso de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos, promovido pela ICOMOS - International Council on Monuments and Sites -, do qual resultou um documento ainda hoje reconhecido, a Carta de Veneza, com uma nova noção de monumento. Este passa a integrar “a criação arquitectónica isolada, bem como o sítio, rural ou urbano, que constitua testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Esta noção aplica-se não só às grandes criações mas também 1939 Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais Protecção do património arquitectónico
1913 Gustavo Giovannoni “Patrimonio Urbano” Publica “Restauro di Monumenti”
1903 Aloïs Riegl (1858-1905) Escreve “O Culto Moderno dos Monumentos”
1893 Luca Beltrami (1854-1933) “Fondazione dell’Ufficio Regionale per la conservazione dei Monumenti”
1923 Palácio Carlos V Espanha Recuperado em 1923 por Leopoldo Torres
1910 Torre dos Clérigos, Porto Classificado Monumento Nacional em 1910
1907 Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa Classificado Monumento Nacional em 1907
1964 Carta de Veneza
às obras modestas do passado que adquiriram, com a passagem do tempo, um significado cultural”. A Conferência Geral da UNESCO, realizada em 1972 acerca da protecção do património mundial cultural e natural, constituiu-se como o instrumento 1939 fundamental na criação da noção de um património Cesari Brandi (1906-1988) pertencente não só ao país onde se encontra e à sua “Restauro Crítico” Escreve “Teoria do população, mas a toda a humanidade. Restauro” Através de inúmeros documentos e cartas referentes ao restauro, a noção de património vai sofrendo sucessivas alterações, alargando-se a paisagens naturais, com ou sem intervenção humana, centros históricos, bairros típicos, bairros sociais e outros. Começou a desenvolver-se uma concepção de património que abrange cada vez mais culturas, paisagens, memórias… Na consolidação desta ideia, destacam-se finalmente o Documento Nara de 1994 e a Carta de Cracóvia de 2000. Realizado no Japão, o Documento Nara enuncia o património numa dimensão cada vez mais sistémica. Apresenta uma paisagem, que inclui também o homem e as suas criações, encarada como 1954 um ecossistema estruturado em inter-relações e de- Convenção Haia Protecção de Bens Culturais em caso de Conflito Armado pendências. Refere-se também à autenticidade do Ícon de sinalização de bens protecção em património cultural, tendo como objectivo fazer res- culturais sob tempos de guerra peitar todos os aspectos da memória colectiva da Humanidade, enquanto meio para contrariar os efeitos da globalização e homogeneização cultural. A Carta de Cracóvia, redigida em 2000, propõe um conjunto de princípios para a conservação e restauro do património construído e salienta fortemente a necessidade da participação dos cidadãos, através da formação e educação integradas, de forma a potenciar campos de investigação.
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1931 Carta de Atenas
2ª Grande Guerra
1965 Igreja da Memória, Berlim Recuperado em 1965 por Egon Eiermann
1932 Castelo de Guimarães Portugal Recuperado em 1932
Documento NARA
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A actuação perante o património afasta-se de uma abordagem de simples conservação ou reposição, tornando-se mais sistémica e comprometida na construção de um futuro sustentável.
Assim, à conservação da memória e herança cultural da humanidade junta-se uma crescente preocupação com a conservação do meio ambiente, aqui e agora e para os tempos a vir. O património passa a ser todo o conjunto de elementos aplicáveis como nutrientes naturais, técnicos e culturais, na continuação do ecossistema terrestre, que inclui também o Homem.
2000 Carta de Cracóvia
Em traços gerais, propomos a ideia de uma crescente ECOLOGIZAÇÃO da noção de património. Utilizamos o termo Ecologia na sua concepção alargada, isto é, a ideia de que um ecossistema é o 1992 Instituto Português do conjunto das interacções e transacções entre vários Património Arquitectónico Salvaguarda do património arquitectónico sistemas, naturais e sociais, funcionando em coerência para resultados comuns. 1994
Desta breve história da conservação e restauro, pode-se depreender uma transformação progressiva da noção de património e, consequentemente, dos modos de intervenção neste campo. Verifica-se um óbvio aumento na escala e na variedade dos objectos protegidos. A terminologia utilizada também evolui; património nacional no séc. XVIII, património internacional no séc. XIX e património da humanidade no século XX. As teorias e práticas de restauro e conservação tornam-se gradualmente menos normativas e começa-se a introduzir uma concepção e metodologia bem mais casuísticas.
1972 Conferência geral UNESCO
1990 Emscher Park, Alemanha Antiga zona indutrial de carvão recuperada e transformada em parque natural
Bússola Para organizar as tendências ou as atitudes assumidas por vários arquitectos perante obras de reabilitação de edifícios existentes, decidimos evitar os glossários extremamente técnicos e minuciosos. Estes pecam pela sua rigidez e ineficácia na análise das obras, na sua relação com outras. Optamos por organizar um referencial de dois eixos, ao longo dos quais dispomos as várias obras que vão surgindo como referências. As variáveis são relativas à forma, "entendida como estrutura essencial e interna". O eixo vertical organiza as variações entre uma atitude de continuidade com a forma existente ou uma de ruptura. O eixo horizontal organiza as variações entre ampliações ou restituições. "Novo no velho ou velho no velho ". No extremo do 1º quadrante colocamos a obra Spliting em Englewood; no extremo do 2º quadrante colocamos o Edifício da OCAD de Wil Alsop; no extremo do 3º quadrante colocamos a reabilitação da casa dos bicos de Daniel Santa Rita e Manuel Vicente; e no extremo do 4º quadrante colocamos a reabilitação do Palácio do Freixo de Fernando Távora. O centro representa a preexistência intocada. Esta experiência da Bússola da Reabilitação permite uma orientação intuitiva na crescente complexidade de possibilidades perante o existente.
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RUPTURA
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NOVO NO VELHO
VELHO NO VELHO
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CONTINUIDADE
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Obra aberta A experiência deste trabalho foi essencialmente de procura, de crescimento e de experimentação. Obra aberta descreve o modo como este trabalho se desenvolveu em simultâneo com uma realidade nunca estável. Chegámos à Fábrica à procura de um espaço de trabalho para nos instalarmos. Encontramos a oportunidade de um exercício de projecto. Uma ruína e um programa estimulantes. Uma antiga Fábrica chapeleira a transformar em centro de criatividade e produção artística. As instalações para o nosso espaço de trabalho estavam disponíveis mas degradadas. Surgiu assim a oportunidade do contacto com a prática. Começamos as obras e, mais tarde, esta experiência revelou-se importante na orientação do exercício. Depois de o escritório estar concluído, começaram o projecto e as obras para o resto do edifício onde nos encontrávamos e onde se pretendia realizar mais salas de trabalho semelhantes. Mais tarde, percebemos que, como um gatilho, este edifício despoletou muito rapidamente obras por quase toda a fábrica, processo que tentamos acompanhar o mais possível, apesar de toda a inexperiência. Propusemos finalmente que o nosso trabalho fosse a reabilitação da Fábrica Social, a criação de uma “fábrica de criatividade” e uma fundação cultural. Ao enquadrar a Fábrica com os planos urbanos em curso ou existentes, cruzamos as propostas do plano de pormenor do Arquitecto Mealha com as propostas da SRU para a Fontinha e decidimos desenvolver quatro projectos âncoras para o quarteirão: a fundação, um parque de estacionamento, a reabilitação de habitação de tipologia pequena e um jardim panorâmico. Estes projectos surgem informados pelos desejos do cliente e dos moradores da Fontinha que, em algumas conversas e num encontro organizado, expuseram algumas carências do bairro. Os transtornos do estacionamento clandestino descontrolado e a crescente degradação das casas são as que se destacaram. Ivan Illich e Joseph Beuys são as grandes referências. Convivialidade e Escultura Social são ideias que, já presentes nas discussões, ganham consistência como inspiração. 104
O contacto próximo com os moradores despertou-nos também para o tema da participação pública na arquitectura ou na cidade. Investigamos alguns processos semelhantes, como a experiência de intervenção social associada a uma intervenção arquitectónica em Marselha relatada por Michel Anselme, ou os processos SAAL no Porto. Na tentativa de construir a ideia de “Fábrica Social”, e convictos de que, na obra aberta, programa é arquitectura, envolvemo-nos com outros grupos, nalgumas iniciativas públicas que explorassem o edifício enquanto ruína. Uma peça de teatro, uma exposição de arquitectura e outras iniciativas mais pequenas, ajudaram-nos a construir um programa, a conhecer o edifício e a construir uma ideia. A participação durante uma semana num workshop de bioarquitectura com o arquitecto Johan Van Lenguen do Tibá; o contacto com este, a aprendizagem de uma nova forma de entender a arquitectura e, ainda, a construção efectiva de protótipos construtivos apropriáveis foram um ponto de viragem importante no nosso percurso pessoal e no nosso trabalho. Fortalecemos a nossa convicção numa arquitectura mais integrada com a natureza e na importância do trabalho prático para o espírito do homem. Foi assim, com os pressupostos do exercício abalados, que tomamos a decisão de que os quatro projectos estariam localizados na Fábrica, na tentativa de construir e controlar nós próprios um projecto e um programa. Concentramo-nos na zona mais degradada da Fábrica que não iria ser abrangida pelas obras já avançadas, destinada ao programa “Laboratório das Artes” – zona de jovens criadores. Rapidamente, começamos as limpezas do entulho e lixo, a desmontagem de estruturas degradadas e o levantamento dessa parte da Fábrica. Ainda sob o impulso do Workshop do Tibá, iniciamos paralelamente algumas experiências de técnicas, texturas e coloração em cimento e construímos um lavatório como protótipo. Passamos, assim, alguns meses de trabalho essencialmente experimental e prático que nos ajudaram na nossa definição pessoal e colectiva. 105
Durante as limpezas de um pequeno espaço livre no limite da Fábrica e do “laboratório das artes”, descobrimos uma passagem para um dos lotes da grande mancha verde do interior do quarteirão. Exploramos o terreno e descobrimos verdadeiramente todo o potencial deste enorme jardim esquartejado, abandonado e vedado à cidade. Progressivamente, sentimos o impulso de sair de novo dos limites da Fábrica, uma vez que esta já se encontrava num estado avançado de reabilitação, através de quatro projectos periféricos que, em conjunto com a Fábrica, seriam elementos de regeneração urbana: Um equipamento localizado no grande jardim vocacionado para a sua manutenção e abertura à cidade;
A reabilitação da única zona da Fábrica ainda em ruínas para a criação de um Laboratório de fabricação pessoal; Um parque de estacionamento e um conjunto de ateliers de apoio à Fábrica; A reabilitação do bairro operário, criando habitação para artistas residentes. As obras da fábrica começam finalmente a chegar ao fim. Ao mesmo tempo, a vontade de estabilizar uma boa parte do trabalho convida a uma revisão de todos os temas abordados e a uma reflexão sobre todo o processo e a experiência.
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EXPERIÊNCIA
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Anarquitectura
Espaço desligado dos canones da arquitectura Ruptura dos limites entre a arte e a arquitectura
Joseph Beuys
Conceiro apliado de arte - arte é vida “Todo o homem é um artista” Kunst = capital = a ideia de capacitação atravez da noção alargada da arte social sculpture e sculpture = thinking
FÁBRICA
Tibá
Arquitectura ao alcance de todos Tecnologias e materiais apropriáveis e cológicos
Ivan Illich
Autonomia Desinstitucionalização da sociedade Convivialidade | Ferramentas conviviais Pedagogia integrado no mundo prático do trabalho Capacitação (por oposição à formatação) Ensinar e não educar Redes pedagógicas
Rural studio
Aprendizagem da arquitectura de uma forma prática Tónica na responsabilidade individual e no serviço comunitário Ajuda real das comunidades Desenvolvimento de tecnologias e materiais low tech 176
Mais do que um edifício, Fábrica Social é a tentativa de criar um programa, uma alternativa de cidade e, talvez, uma alternativa de sociedade. Sentimos a necessidade de criar aquilo a que chamamos um mapa ideológico. Este mapa organiza e relaciona personagens, ideas e referências de forma dinâmica. É um documento aberto; pode crescer, ramificar-se e interlaçar-se.
Situacionistas Psicogeografia Detournement
Marx | Morris
Noção de alienação Eliminar dicotomia entre capital e trabalho Eliminar dicotomia entre trabalho e lazer Eliminar dicotomia entre trabalho intelectual e manual
SOCIAL
Bauhaus | Arts and Crafts Arte integrada no quotidiano Não separar a noção de artesão e de artista Auto-gestão Integração das Artes
Vernadsky Fab Lab
Criação de pequenas unidades de produção Fabricação pessoal Inovação “bottom up” “Ferramentas para fazer quase tudo”
Noção abrangente de ecologia Nooesfera “Mente Global”
Web 2.0
Conteúdo gerado pelo utilizador Conteúdos com base na colaboração de redes sociais Open source
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ESTRATÉGIA
Estratテゥgia
JARDIM
Fテ。RICA
BAIRRO
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Muitos dos quarteirões do Porto, resultantes da expansão urbana do século XIX, estão num impasse. O tecido urbano não está adaptado àquilo que consideramos ser uma vivência urbana saudável. Este Tecido por Defeito (pág. 64) fragmenta a cidade, dificulta a mobilidade e isola grandes áreas no interior dos quarteirões que poderiam ser integradas nos vários sistemas urbanos (espaços públicos e culturais, estruturas produtivas, zonas verdes). A Fontinha encontra-se também neste impasse. Todo o quarteirão é delimitado por uma frente urbana contínua. O seu interior divide-se em duas zonas: a sul, um bairro habitacional de cariz operário, fortemente marcado pela presença das antigas ilhas e a norte, um grande numero de logradouros privados deixados ao abandono que, no seu conjunto, definem uma grande mancha verde. O principal objectivo da nossa proposta é dar coerência à mancha verde, permitindo que esta contamine todo o quarteirão e se integre no sistema ecológico, produtivo e cultural de toda a cidade. Esta estrutura natural é, para nós, um elemento activo de reabilitação, com o potencial de se transformar num grande jardim público, que alberga actividades de produção, lazer, ensino e cultura, dando nova vida aos espaços. Em alternativa a um plano regulador extensivo, característico dos planos de pormenor, adoptamos os princípios da “acupunctura urbana”, propondo intervenções pontuais que estimulem uma regeneração urbana orgânica e, principalmente, participada. Propomos a criação de novas vias de penetração na mancha verde (adoptadas do Plano de Pormenor do arquitecto Mealha pág. 52) e, como intervenção principal, um campus dedicado à criatividade que tem como centro a Fábrica Social.
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Para o campus, a imagem que nos serve de referência é a das catedrais medievais. Obras em constante reconstrução que apenas faziam sentido quando integradas com unidades de produção, ensino, trabalho, serviços e habitação. Estes estaleiros funcionavam como verdadeiras escolas de formação holística, fundadas na prática das várias dimensões da vida em comunidade. Promoviam uma verdadeira capacitação e participação dos trabalhadores na transformação destas pequenas cidades. A Fábrica é a Catedral, uma Obra Aberta que promove a capacitação dos residentes na participação activa da reabilitação da Fábrica, do tecido envolvente e do jardim. Propõe-se assim quatro programas: A reabilitação de casas do bairro para residências de artistas, adaptando uma tipologia tradicional a novas formas de habitar, promovendo também uma maior diversidade cultural e geracional. A criação de um parque de estacionamento que permite que grande parte das ruas da Fontinha se tornem pedonais e um conjunto de novos ateliers que reforçam a vertente produtiva da Fábrica Social. A reabilitação de uma unidade da Fábrica para um laboratório de fabricação pessoal que permite o desenvolvimento de tecnologias apropriáveis e conviviais. Um centro de estudos do meio ambiente, tendo como objectivo a pesquisa e o desenvolvimento de novas práticas ecológicas e de regeneração da mancha verde. Como elemento estruturante deste campus, uma rua no céu que sobrevoa a Fábrica. É uma referência visual numa zona elevada da cidade (pág. 66) mas também uma nova ligação pedonal entre a zona habitacional e o jardim. Na Fábrica, a rua no céu cria uma nova entrada, novas formas de circulação e funciona como elemento simbólico da “obra aberta”, uma grua ou uma teia de suporte para equipamentos técnicos ou intervenções artísticas. Cria-se assim um projecto em que o caminho é em si um fim.
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Ateliers
FUNDAÇÃO JOS Recepção
Exposição
Loja
Exposição p
Bar
Exposição p
Residência
RESIDÊNCIA PARA ARTISTAS
Secretaria Administração
Multiu
AQUEDUTO
PARQUE E
SÉ RODRIGUES
LABORATÓRIO Escritório
temporária
Oficinas
CENTRO ESTUDOS DO MEIO AMBIENTE
permanente
Oficinas
Ateliers
Oficinas
permanente
Oficinas
sos Arrumos
STACIONAMENTO + ATELIERS
Oficinas
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