Histórias na Vida de Cristiano Ronaldo 2021 (Jornal A Bola)

Page 1


DIRETOR

Vitor Serpa EDITOR

António Simões DESIGNER

Ricardo da Silva ARQUIVO E REVISÃO

Carlos Marques EDITORA E PROPRIETÁRIA

Sociedade Vicra Desportiva, S. A. DATA

2020 ISBN

978-989-8290-21-2

SOCIEDADE VICRA DESPORTIVA, S. A.

Enquanto obra protegida, nos termos do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos, é interdita a reprodução, no todo ou em parte, e independentemente dos meios existentes ou que no futuro possam vir a existir, dos conteúdos vertidos neste livro.

II | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo


Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

António Simões

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | III


Introdução

Cristiano Ronaldo que se vai descobrir

Na poesia da sua prosa, Jorge Valdano notou-o (em Duelo Nunca Visto, de Luís Miguel Pereira e Luciano Wernicke): — Messi é um génio, Cristiano Ronaldo é um fenómeno. O fenómeno é capaz de se tornar um corpo novo no caminho para a glória e de reinventar-se a cada ano graças a uma ambição ao serviço do espírito de superação. Um físico de puro-sangue que parece um cartão postal de jogador de futebol do século XXI e uma eficiência robótica para ganhar jogo. O que vai descobrir nestas Histórias na Vida de Cristiano Ronaldo é por que ele é assim, por que ele se tornou assim — numa viagem apaixonante, cruzando memórias (dele e de quem viveu com ele) com entrevistas, livros, jornais, revistas (em síntese, como se não fez, dos seus voos para a imortalidade…) Na poesia da sua prosa, Manuel Alegre exaltou-o (no Expresso): — Mais do que o talento (que é muito), mais do que os músculos, a arte da finta, a velocidade e a potência do remate, a força de Cristiano está na cabeça, na confiança em si mesmo, na convicção moral com que treina e joga. Antes das Bolas de Ouro, ele teve de vencer-se muitas vezes. Nos treinos de madrugada, em dias cinzentos e chuvosos, nas noites de insónia e

IV | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo


solidão, ele dava um pontapé no desalento, na rotina, no fatalismo, na ideia tão portuguesa de que não é possível e não vale a pena. O que vai descobrir nestas Histórias na Vida de Cristiano Ronaldo é por que ele é assim, por que ele se tornou assim — numa viagem apaixonante, que começa muito mais longe do que se imagina (e tem até, pelo caminho, o que poderia ter sido traição do seu coração, a bater desarvorado, numa manhã de chuva e lama, em Pina Manique…) Na poesia da sua prosa, Manuel Alegre também o salientou: — Tivemos grandes jogadores. Mas nunca tivemos ninguém como Ronaldo. Ele tem passado a vida a dobrar os cabos e a levar-nos às ilhas imaginárias nunca antes vistas. Tem-nos sobretudo ajudado a descobrir, como dizia Torga, as Índias de dentro, que são as mais difíceis. Cristiano é muito mais que um grande jogador de futebol, um daqueles, raríssimos, em que, como em certos artistas, o talento e a técnica se transformaram numa segunda natureza. Inscreveu o nome do País no seu próprio nome. E anda a escrevê-lo por todos os continentes. Cada golo marcado foi muitas vezes concebido antes, dentro de si, na sua cabeça, na sua autoconfiança, na sua visão optimista sobre si mesmo e sobre o jogo da vida. Ele liberta-nos, pelo menos a mim liberta-me, de velhos fantasmas onde tantas vezes nos perdemos. Com Cristiano não há jogos impossíveis de ganhar nem batalhas irremediavelmente perdidas. Nem negro fado fatal.

O que vai descobrir nestas Histórias na Vida de Cristiano Ronaldo é por que ele é assim, por que ele se tornou assim — numa viagem apaixonante, que vai por caminhos escondidos (e surpreendentes) até desaguar na eternidade agarrada em Manchester, em Madrid ou em Turim, nos três golos à Suécia ou à Espanha, no Real levado às costas dos seus prodígios para voltar à reconquista da Europa e do Mundo (e na mais sublime bicicleta da história do futebol…) Quando chegar à última página (ou se calhar antes…) destas Histórias na Vida de Cristiano Ronaldo perceberá porque Álvaro Arbeloa afiançou: — Cristiano Ronaldo já pode abandonar a terra e jogar contra marcianos, pois aqui já fez de tudo… e verá, então, que tudo o que fez não o fez apenas com os pés em fogo ou a cabeça em flor — e foi por isso que, na poesia da sua prosa, Manuel Alegre igualmente lhe acrescentou: — É claro que ele também abana o «país quietinho», criticado por Teixeira de Pascoaes, o país cinzento, o país da inveja, última palavra de Os Lusíadas. Camões sabia porquê. À sua maneira, Ronaldo também sabe. Cada sua vitória é uma derrota da mesquinhez, um pontapé ou uma cabeçada na apagada e vil tristeza. A sua epopeia é escrita no campo, em cada jogo, pela sua alegria, pelo seu talento, mas, sobretudo, pela confiança que o inspira e nos inspira. Cristiano liberta-se e liberta-nos. Devemos-lhe isso. E não tem preço.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | V


Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro

Data de nascimento: 5 de fevereiro de 1985 Naturalidade: Funchal, Ilha da Madeira, Portugal Altura: 1,85 m

Clubes de juventude 1993–1995: Andorinha 1995–1997: CD Nacional 1997–2001: Sporting

(QZGJX UWTȁXXNTSFNX 2001–2003: Sporting 2003–2009: Manchester United 2009–2018: Real Madrid 2018– ?: Juventus

*Até à data desta publicação

VI | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo


Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | VII


Prémios individuais Bola de Ouro da FIFA: 2013, 2014* Melhor Jogador do Mundo pela FIFA: 2008* Ballon d’Or: 2008, 2016, 2017* The Best FIFA Football Awards: 2016, 2017* Escolhido para o Melhor Onze da História do Futebol pela France Futebol Bota de Ouro (melhor marcador da Europa): 2007/08, 2010/11, 2013/14, 2014/15 Onze d’Or: 2008, 2017 Melhor Jogador do Mundo pela FIFPro: 2008, 2013, 2014, 2016, 2017 Melhor Jogador do Mundo pela revista World Soccer: 2008, 2013 , 2014, 2016, 2017 Melhor Jogador da UEFA na Europa: 2013/14, 2015/16, 2016/17 Melhor Jogador de Clubes da UEFA: 2007/08 Bota de Ouro da UEFA: 2007/08, 2010/11, 2013/14, 2014/15 Avançado do Ano da UEFA: 2007/08, 2016/17, 2017/18 Prémio FIFA Ferenc Puskás: 2009 Homem do Ano A BOLA: 2013 Futebolista do Ano em Portugal: 2007, 2008, 2009, 2011, 2012, 2013, 2015, 2016, 2017, 2018 Globo de Ouro (melhor desportista português do ano): 2007, 2008, 2009, 2011, 2012, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019 Jogador do ano da Federação Portuguesa de Futebol: 2015, 2016, 2017, 2018, 2019

Melhor Jogador do Mundo pela Eurosport: 2016 Melhor Jogador do Mundo pela Goal 50: 2008, 2012, 2014, 2016, 2017 Melhor Jogador do Mundo pela revista FourFourTwo: 2008, 2013, 2014, 2016 Melhor Jogador do Mundo pelo portal dongqiudi: 2016, 2017 Melhor Jogador do Mundo pela ESPY Awards: 2018 Jogador do Ano pelo Bleacher Report: 2013 Jogador do Ano pelo The Guardian: 2014, 2016 Jogador do Ano pelo Marca: 2014, 2016 Melhor Jogador da História da Premier League pela Press Association Jogador do ano pela Globe Soccer Awards: 2011, 2014, 2016, 2017, 2018, 2019 Jogador do ano pelo L’Équipe: 2016 El País ˂ Rei da Europa: 2008, 2013, 2014, 2016 Prémio de Goleador Internacional mais Efetivo do Ano pela IFFHS: 2013, 2014, 2016, 2017, 2019

Jogador do século da FPF

IFFHS Melhor Marcador dos Campeonatos de Primeira Divisão do Mundo: 2014, 2015

Melhor jogador jovem do mundo pela FIFPro: 2004, 2005

Trofeo Bravo: 2004

VIII | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo


Sir Matt Busby Player of the Year: 2003/04, 2006/07, 2007/08

Globe Soccer Awards Golo do Ano: 2018

Futebolista Jovem do Ano pela PFA: 2006/07

Melhor Jogador da História: Revista France Football, Emissora Al Jazira, Mais Futebol

Futebolista do Ano pela FWA: 2006/07, 2007/08

Melhor Golo da Liga das Nações da UEFA: 2018/19

Futebolista do Ano pela PFA: 2006/07, 2007/08

Prémio Jogador Lenda pelo jornal Marca: 2019

Melhor Jogador da Premier League: 2006/07, 2007/08

Melhor Jogador do Campeonato Italiano: 2018/19

Jogador do Mês na Premier League: Novembro de 2006, dezembro de 2006, janeiro de 2008, março de 2008

Gran Galà del Calcio: Melhor Jogador: 2018/19; Melhor Atacante: 2018/19.

Troféu EFE: 2012/13 Troféu Alfredo Di Stéfano: 2011/12, 2012/13, 2013/14, 2015/16 Troféu Pichichi: 2010/11, 2013/14, 2014/15

Futebolista do Ano da Juventus: 2019/20 *Os prémios de Bola de Ouro da FIFA e Melhor Jogador do Mundo pela FIFA são equivalentes, porém, após o primeiro ter sido fundido com o extinto prémio Ballon d’Or, entregue pela France Football, passou então a ter nova nomenclatura de Bola de Ouro. Em 2016 os prêmios voltaram a ser entregues separadamente como The Best e o retorno do Ballon d’Or.

Melhor Atleta eleito pela ESPY Awards: 2014, 2016

Bota de Ouro da Premier League: 2007/08

Melhor Avançado do Ano pelo portal Goal.com: 2016

Melhor Jogador da UEFA Champions League: 2007/08, 2013/14, 2015/16, 2016/17

Prêmios LFP: 2012/13, 2013/14, 2014/15

Melhor Jogador da International Champions Cup: 2013

Jogador do mês da La liga: Novembro de 2013, maio de 2015, maio de 2017

Melhor Jogador do Troféu Santiago Bernabéu: 2017

El Mundo ˂ Melhor Jogador Estrangeiro da La Liga: 2013

Homem do Jogo da Final da UEFA Champions League: 2016/17

MVP da La Liga: 2012/13

Melhor Atacante da UEFA Champions League: 2007/08, 2016/17, 2017/18

Melhor Avançado da La Liga: 2013/14

Homem do jogo da Supertaça da UEFA: 2014

Melhor Jogador da La Liga: 2013/14

Bota de Prata do Campeonato Europeu: 2016

Melhor Golo da La Liga: 2013/14

Bola de Ouro do Campeonato do Mundo de Clubes: 2016

Atleta Europeu do Ano: 2016, 2017

Homem do Jogo da Final do Campeonato do Mundo de Clubes: 2016

Melhor Golo da UEFA: 2017/18 Melhor Golo da Liga dos Campeões da UEFA: 2015/16, 2017/18, 2018/19, 2019/20

Troféu Alipay ˂ Melhor Marcador da Fase Final da Liga das Nações da UEFA: 2018/19

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | IX


Melhor Marcador

Prémio (por equipas)

FA Cup de 2004/05: 4 golos

Equipa do Ano da FIFA: 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019

Premier League de 2007/08: 31 golos Liga dos Campeões da UEFA de 2007/08: 8 golos

Equipa do Ano da UEFA: 2004, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019

La Liga de 2010/11: 40 golos

FIFPro World XI: 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019

Taça do Rei de 2010/11: 7 golos

Equipa do Ano pela PFA: 2005/06, 2006/07, 2007/08, 2008/09

Campeonato Europeu de Futebol de 2012: 3 golos

Equipa ideal da UEFA Champions League: 2006/07, 2007/08, 2008/09, 2010/11, 2011/12, 2012/13, 2013/14, 2015/16, 2016/17, 2017/18, 2018/19

Supertaça da Espanha de 2012: 2 golos Liga dos Campeões da UEFA de 2012/13: 12 golos La Liga de 2013/14: 31 golos Liga dos Campeões da UEFA de 2013/14: 17 golos Supertaça da UEFA de 2014: 2 golos La Liga de 2014/15: 48 golos Liga dos Campeões da UEFA de 2014/15: 10 golos Liga dos Campeões da UEFA de 2015/16: 16 golos Campeonato do Mundo de Clubes da FIFA de 2016: 4 golos Liga dos Campeões da UEFA de 2016/17: 12 golos Campeonato do Mundo de Clubes da FIFA de 2017: 2 golos Liga dos Campeões da UEFA de 2017/18: 15 golos Supertaça da Itália de 2018: 1 golo Fase Final da Liga das Nações da UEFA de 2018/19: 3 golos

X | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

Equipa ideal do Campeonato Europeu: 2004, 2012, 2016 Equipa do Ano pela European Sports Magazines: 2006/07, 2007/08, 2008/09, 2009/10, 2010/11, 2011/12, 2012/13, 2014/15, 2015/16, 2016/17 Equipa do Ano pelo L’Équipe: 2011, 2012, 2013, 2014, 2016, 2017, 2018 Equipa de Sempre da Seleção Portuguesa de Futebol Equipa de Sempre do Campeonato Europeu Melhor Equipa do Século XXI pela UEFA All-Star Team do Campeonato do Mundo: 2018 Equipa Ideal da Liga das Nações da UEFA: 2018/19


Recordes (e outras proezas)

Maior Marcador na história das 5 principais Ligas da Europa: 405 golos

Maior número de golos marcados no Campeonato do Mundo de Clubes: 7 golos

5WNRJNWT OTLFITW F RFWHFW RFNX IJ LTQTX na fase eliminatória da UEFA Champions League

Maior número de golos marcados SFX ȁSFNX IT (FRUJTSFYT IT 2ZSIT IJ (QZGJX 4 golos (partilhado com Lionel Messi) Jogador que marcou em três Campeonatos do Mundo de Clubes: 2008, 2016, 2017 (compartilhado com Lionel Messi) Único jogador que ganhou 2 Botas de Ouro do Campeonato do Mundo de Clubes Maior número de aparições no World FIFPro XI: 12 vezes em 2007/18 (partilhado com Lionel Messi) Maior número de golos internacionais num ano (clube e Seleção): 32 golos (2017) Único jogador a marcar um hat-trick SF ȁSFQ IF (FRUJTSFYT IT 2ZSIT IJ (QZGJX 5WNRJNWT OTLFITW F FYNSLNW LTQTX SZRF QNLF UWTȁXXNTSFQ JR IZFX YJRUTWFIFX HTSXJHZYN[FX Único jogador na história que marcou TZ RFNX LTQTX SZR FST HN[NQ VZFYWT [J_JX HTSXJHZYN[FRJSYJ IJ F 5WNRJNWT OTLFITW F RFWHFW RFNX IJ LTQTX JR VZFYWT YJRUTWFIFX HTSXJHZYN[FX SNHT OTLFITW F RFWHFW RFNX IJ LTQTX JR HNSHT YJRUTWFIFX HTSXJHZYN[FX SNHT OTLFITW F RFWHFW RFNX IJ LTQTX JR XJNX YJRUTWFIFX INKJWJSYJX HTSXJHZYN[FRJSYJ Único jogador a marcar em todas as partidas da fase de grupos numa única temporada IF :*+& (MFRUNTSX 1JFLZJ SNHT OTLFITW F RFWHFW RFNX IJ LTQTX SF :*+& (MFRUNTSX 1JFLZJ SZR FST HN[NQ [J_JX 2FNTW [JSHJITW IT UW­RNT de Melhor Jogador da UEFA na Europa: 3 /TLFITW RFNX [J_JX 2JQMTW 2FWHFITW da UEFA Champions League: 7 Único jogador a terminar a Liga dos Campeões como Melhor Marcador em seis temporadas HTSXJHZYN[FX IJ F

5WNRJNWT OTLFITW F RFWHFW LTQTX na UEFA Champions League 5WNRJNWT OTLFITW F RFWHFW LTQTX JR HTRUJYN«¹JX JZWTUJNFX SF (MFRUNTSX SFX VZFQNȁHF«¹JX da Champions e 2 na Supertaça Europeia) Mais hat-tricks numa única temporada da UEFA Champions League: 3 (em 2015/16) Maior número de participações em Equipas do Ano da UEFA: 12 2FNX UFWYNHNUF«¹JX HTSXJHZYN[FX na Equipa do Ano da UEFA: 11 (2007/2017) Maior número de golos marcados na fase de grupos IF :*+& (MFRUNTSX 1JFLZJ SZRF ¾SNHF ­UTHF 11 golos 2FNX LTQTX SF :*+& (MFRUNTSX 1JFLZJ SZR FST HN[NQ 19 golos (em 2017) 5WNRJNWT OTLFITW F RFWHFW UJQT RJSTX LTQTX JR HNSHT YJRUTWFIFX IF :*+& (MFRUNTSX 1JFLZJ HTSXJHZYN[FX 5WNRJNWT OTLFITW F RFWHFW UJQT RJSTX LTQTX JR XJNX YJRUTWFIFX IF :*+& (MFRUNTSX 1JFLZJ HTSXJHZYN[FX 5WNRJNWT OTLFITW F RFWHFW UJQT RJSTX LTQTX JR XJYJ temporadas da UEFA Champions League KJNYT HTSXJHZYN[FRJSYJ Maior número de golos marcados na história da UEFA Champions League: 121 golos 2FNTW S¾RJWT IJ LTQTX RFWHFITX SZRF ­UTHF da UEFA Champions League: 17 golos (2013/14) Maior número de golos marcados na fase eliminatória da UEFA Champions League: 60 golos 2FNX [NY·WNFX HTSXJHZYN[FX SF :*+& (MFRUNTSX 1JFLZJ 14 vitórias 2FNX OTLTX HTSXJHZYN[TX RFWHFSIT SF :*+& (MFRUNTSX League: 12 SNHT OTLFITW UFWF JXYFW JSYWJ TX ȁSFQNXYFX UFWF 2JQMTW /TLFITW IF :*+& JSYWJ J Melhor marcador de sempre em competições europeias (incluindo as eliminatórias da UEFA Champions League e Supertaça Europeia): 125 golos

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | XI


Jogador mais rápido a marcar 200 golos numa das 5 melhores ligas da Europa (La Liga) Jogador mais rápido a marcar 250 golos numa das 5 melhores ligas da Europa (La Liga) 2FNX LTQTX RFWHFITX SFX RJNFX ȁSFNX da UEFA Champions League: 13 golos Primeiro jogador a marcar 400 golos nas 5 melhores ligas da Europa (Premier League, La Liga, Serie A) Único jogador a marcar mais de 40 golos em duas épocas consecutivas da La Liga Primeiro jogador a marcar mais de 30 golos em seis temporadas consecutivas da la Liga (2010/11 ˂ 2015/16)

Melhor marcador do Real Madrid na La Liga: 321 golos Maior número de golos marcados numa única temporada da La Liga pelo Real Madrid: 48 golos Jogador mais rápido do Real Madrid para atingir 50 golos no campeonato Jogador mais rápido do Real Madrid para atingir os 100 golos da La Liga Jogador mais rápido do Real Madrid UFWF FYNSLNW LTQTX TȁHNFNX Jogador mais rápido do Real Madrid para atingir 250 LTQTX TȁHNFNX

Maior número de hat-tricks: 37

Maior número de golos numa temporada da Premier League pelo Manchester United: 31 golos

Primeiro jogador a marcar contra todas as equipas da La Liga numa única temporada

Venda recorde de um jogador do Manchester United: £ 80 milhões

Primeiro jogador a marcar em seis El Clásico consecutivos

Primeiro e único jogador do Manchester United a ganhar a Bola de Ouro

Jogador mais rápido para marcar LTQTX TȁHNFNX JR *XUFSMF

Primeiro e único jogador do Manchester United a ganhar o Prémio FIFA Ferenc Puskás

Melhor taxa de conversão de penáltis na La Liga: 93%

Jogador mais rápido a marcar 10 golos pela Juventus

Melhor marcador do Real Madrid: 461 golos

Maior número de golos marcados nas Eliminatórias do Campeonato do Mundo da Europa: 30 golos

Melhor marcador do Real Madrid na UEFA Champions League: 106 golos

Mais internacionalizações pela Seleção A de Portugal: 154 Melhor marcador de Portugal em todos os tempos: 102 golos Melhor marcador de Portugal nos jogos do Campeonato Europeu: 9 golos Jogador mais jovem a atingir 100 internacionalizações A: 27 anos, 8 meses e 11 dias Único jogador a marcar para Portugal em 4 Campeonatos do Mundo diferentes

Condecorações 4ȁHNFQ IF 4WIJR IT .SKFSYJ ) -JSWNVZJ IJ 5TWYZLFQ (5 de julho de 2004) ,WFSIJ 4ȁHNFQ IF 4WIJR IT .SKFSYJ ) -JSWNVZJ de Portugal (7 de janeiro de 2014) Comendador da Ordem do Mérito (10 de julho de 2016)

XII | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo


HISTÓRIAS NA VIDA DE

CRISTIANO

RONALDO


Razão para Ronaldo se tornar «O Melhor Atleta do Mundo a Jogar Futebol» pode ser rapariga que fugiu de Cabo Verde

Na primeira vez em que Cristiano Ronaldo e Lionel Messi se lançaram à corrida pela Bola de Ouro da France Football, Jorge Valdano escreveu numa das suas crónicas (sempre de poesia pingada): — Ronaldo já deve estar a sentir cãibras nos braços de tanto levantar troféus. Esta semana foi o da FIFA de 2008, que honra a sua época notável. Até quando sobe aos diferentes cenários parece um póster do futebol. O seu corpo está feito para jogar futebol: tem presença na altura, IRUoD QRV P~VFXORV DJLOLGDGH QD ¿JXUD HVWLOL]Dda. E até é bonitão. A seu lado, Messi parece um patinho feio. Mas é nisso que reside também a paixão do duelo entre estes dois grandes talentos. Será, no entanto, que, desta feita, o patinho feio vai conseguir roubar a noiva ao cisne? Não, dessa vez o «patinho feio» não conseguiu «roubar a noiva ao cisne» — e, apesar da dúvida levantada, Valdano até largara o alvitre, acertando: — Cristiano Ronaldo levantará a bola para o céu, onde ele já chegou. Se alguém tivesse de desenhar o corpo ideal para jogar futebol teria de basear-se no dele. Tem todas as qualidades necessárias: velocidade, agilidade, força, capacidade de salto... Todas as suas virtudes físicas permitem-lhe chegar antes de todos, mas é com a bola em

2 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

seu poder que elas se impõem, porque sobra-lhe manejo na condução do esférico, habilidade para o drible, qualidade de passe, potência de remate e visão de jogo. A partir de agora só lhe faltará GHPRQVWUDU TXH WDPEpP VDEH R TXH ID]HU FRP R peso duma Bola de Ouro. Esse corpo ideal desenhado para jogar futebol (e não só…) foi-o sublimando Cristiano Ronaldo, tornando-se (mesmo quando o melhor jogador do Mundo foi Messi) o «Melhor Jogador do Mundo a Jogar Futebol». A razão para o ser (e cada vez melhor…) talvez lhe tivesse vindo do «sangue negro» de Isabel da Piedade — haveriam de o cogitar experts HP ¿VLRORJLD QR OLYUR GH /XtV Miguel Pereira e Juan Ignacio Gallardo: CR7 — Os Segredos da Máquina. Aos 16 anos, Isabel Rosa da Piedade zarpou da cidade da Praia, na Ilha de Santiago (onde nascera), fugindo da fome que já lhe matara vários familiares. Filha de pai que nunca soube quem era, ficou criada de servir numa casa de ingleses da Travessa das Capuchinhas, em São Pedro, no Funchal. Do Santo da Serra era José Aveiro e cansado de amanhar terrenos pouco IpUWHLV TXH D IDPtOLD SRVVXtD QD 5LEHLUD GH 0Dchico lançou-se, sonhador, à «cidade grande». Cruzou-se com Isabel na travessa, enamorou-se por ela. Algures por 1924 tiveram um filho, TXH Vy GRLV DQRV YROYLGRV VH WRUQRX ©OHJtWLPRª quando ambos se casaram (era assim que a lei determinava) —, e, ao segundo, chamaram-lhe Humberto. Estando-se já por meados do século XX, Humberto casou-se com Filomena — são os pais de José Dinis Pereira Aveiro. José Dinis nasceu a 30 de setembro de 1953


e a 31 de dezembro de 1954, no Caniçal, nasceu Maria Dolores dos Santos Viveiros — em família igualmente de poucas posses. Numa entrevista (toda ela coração) que Anabela Mota Ribeiro lhe fez para a Pública, Dolores contou-o: — A minha mãe era bordadeira. Bordava com vizinhas, muitas senhoras. As toalhas eram muito grandes. Cada uma bordava numa ponta. Sentia-me feliz quando a minha mãe bordava e me punha no meio das pernas dela. Elas a cantar e a bordar. A minha mãe não tinha tempo de dar

FROR 7UDEDOKDYD PXLWR SDUD VXVWHQWDU RV ¿OKRV 2 meu pai nunca foi um pai... São coisas da vida… A minha mãe foi uma mulher que casou aos 16 anos. )LFRX YL~YD GXDV YH]HV 2 PDULGR HUD SHVFDGRU H morreu no mar. Casou segunda vez e o marido voltou a morrer no mar, também. A minha mãe tinha cara de sofredora. A força que eu sinto, a mulher que hoje sou, tem a ver com a minha mãe. Foi para o hospital com o seu juízo. Morreu com D GRU GH GHL[DU FLQFR ¿OKRV PHQRUHV $FKR TXH pediu pela gente. Como eu era a mais velhinha, talvez tenha transmitido a força dela para mim…

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 3


Maria Dolores ainda não chegara aos seis anos quando perdeu a mãe de ataque cardíaco (e a Anabela Mota Ribeiro o confidenciou): ² 'HX OKH XPD GRU ¿FRX PXLWR QHJUD /HYDUDP QD SDUD R KRVSLWDO 1HVVD DOWXUD FKHJDU GR &DQLoDO DR )XQFKDO GHPRUDYD PXLWR WHPSR 0RUUHX WUrV RX TXDWUR GLDV GHSRLV GH HVWDU LQWHUQDGD WLQKD DQRV (X HVWDYD QR TXLQWDO GD PLQKD DYy D EULQFDU XPD YL]LQKD GLVVH DVVLP ©$ WXD 0DWLOGH Mi Oi IRLª 3HUFHEL R TXH WLQKD VLGR 2 PHX SDL QXQFD IRL XP KRPHP UHVSRQViYHO SHOD YLGD 2 SDGUH GD IUHJXHVLD TXLV OHYDU QRV SDUD R RUIDQDWR 2 PHX SDL ©)LFR FRP R PDLV YHOKR 2V RXWURV TXDWUR R VHQKRU SDGUH IDoD R IDYRU GH RV LQWHUQDUª &RPLJR ¿FRX D /DXUHQWLQD $ )ORUHQWLQD H R -RUJH ¿FDUDP QRXWUR RUIDQDWR SRU FDXVD GD LGDGH. 3DUD R KRVStFLR IRUDP HQWmR DV GXDV ¿OKDV PDLV YHOKDV ² H HP 0mH &RUDJHP D ELRJUD¿D TXH OKH HVFUHYHX 3DXOR 6RXVD &RVWD UHYHORX R DUUHSLDQWH ©1XPD PmR 'RORUHV WUD]LD XP SHTXHQR VDFR RQGH FDELD WRGD D VXD URXSD QD RXWUD DJDUUDYD D PmR SHTXHQD H WUpPXOD GD LUPm /DGHDGD SHOR SDL H SHOR SiURFR ROKDYD DGPLUDGD SDUD WmR LPSRQHQWH IDFKDGD 'H SDVVRV UHFHRVRV PDV DR PHVPR WHPSR LQWULJDGRV HQWURX QR VHX QRYR PXQGR VHP QXQFD ODUJDU D PmR GD SHTXHQD /DXUHQWLQD $ FDVD RXWUR UD SHQVDGD SDUD DOEHUJDU JHQWH FRP GRHQoDV SXOPRQDUHV WLQKD FDUL] UHOLJLRVR H VHUYLD SDUD KRVSHGDU FULDQoDV D TXHP D YLGD SULYDUD GD SUHVHQoD GRV SDLV $SHVDU GD LGDGH LQRFHQWH 'RORUHV VDELD TXH D YLGD QXQFD PDLV LD YROWDU D VHU R TXH HUD 8PD QRYD HWDSD WLQKD FRPHoDGR ² QRYDV UHJUDV QRYRV FRVWXPHV ² H HVVD HUD D SDUWH PHQRV Pi QRYDV URXSDV FRP GLUHLWR D VDSDWRV H WXGR ( FRPLGD QD PHVD D KRUDV ª 1mR UDUR ODQoDYDP VH SRUpP DV IUHLUDV GR RUIDQDWR DR VHX ODGR QHJUR DRV VHXV FDVWLJRV ² 'DYDP QRV FRP XUWLJDV QR UDER TXDQGR ID]tDPRV [L[L QD FDPD SXQKDP QRV D OLPSDU RV TXLQWDLV 1R GLWDGR VH SDVVDYD GH FLQFR HUURV DQGDYD FRP R FDGHUQR SHQGXUDGR QDV FRVWDV WRGD D WDUGH ,D VH j PLVVD WRGRV RV GLDV 'DYD PH R VRQR 1D VDOD GR FRQYtYLR GDV FULDQoDV SXQKDP PH QXP FDQWLQKR FRP XP VDFR GH SDSHO QD FDEHoD &RPR TXHP GL] ©'RUPLVWH QD LJUHMD DJRUD GRUPH Dt QHVVH FDQWRª &RLVDV IHOL]HV" 4XDQGR FKHJDYD D 3iVFRD WtQKDPRV XQV VDTXLQKRV GH DPrQGRDV 7RUU}HV GH Do~FDU $ FDPLQKR GRV DQRV 'RORUHV YROWRX D YLYHU FRP R SDL TXH VH FDVDUD GH QRYR H QmR WDUGRX D SHU FHEHU TXH OKH FRQWLQXDYD DJUHVWH R GHVWLQR ² 3DVVRX PH SHOD FDEHoD GDU ¿P j YLGD TXDQGR YLYLD FRP D PLQKD PDGUDVWD H HOD PH GHX XPD VRYD GH ¿R GH OX] XP ¿R HOpWULFR 3{V PH FRP R FRUSR WRGR FRUWDGR 1mR QmR OKH WHQKR UDLYD VH VRX D PXOKHU TXH VRX WDPEpP OKH GHYR D HOD $OpP GH VHU PDOWUDWDGD WUDQVPLWLX PH PXLWD FRLVD«

4 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo



Grávida de Cristiano, Dolores quis abortar, bebeu cerveja preta e foi para a rua correr

Quando Maria Dolores dos Santos Viveiros se casou com José Dinis Aveiro, ele tinha 19 anos, ela tinha 18: ² 3HQVHL TXH LD WHU HQ¿P YLGD IHOL] 'HSRLV QmR IRL« Por março de 1973, nasceu-lhes Elma. Com a mulher grávida de Hugo, José Dinis foi mandado para Angola cumprir tropa, à Madeira regressando em outubro de 1975 — e a Dolores apanhou-se-lhe: ² $EDODGR SHOR WUDXPD GD JXHUUD IRL VH DIXQ GDQGR FDGD YH] PDLV QD LOXVmR GR iOFRRO. Magoada foi a revelação (do que foram os seus DQRV VHJXLQWHV QD VXD DXWRELRJUD¿D ² (UD HX TXH OHYDYD R EDUFR TXH JDQKDYD 2 PHX PDULGR QmR JDQKDYD PXLWR $OpP GH TXH R SRXFR TXH JDQKDYD EHELD 2 LU SDUD R XOWUDPDU p TXH GHX QLVVR ¿FRX UHYROWDGR« WUH]H PHVHV HP ÈIULFD H IRL R VX¿FLHQWH 4XDQGR HVWDYD Oi HVFUH YLD WHOHJUDPDV &KHJRX D HVFUHYHU PXLWD WULVWH ]D ©'RORUHV IXL D WDO VtWLR )XL EXVFDU XPD FRLVD H HVWDYD HPEUXOKDGD D FDEHoD GH XPD SHVVRDª Em outubro de 1977, nasceu-lhes a Liliana Cátia — e o que já antes se percebera, foi-se vincando no destino: Dolores a tornar-se cada vez mais «mãe coragem»:

6 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

² 7UDEDOKDYD DV PLQKDV KRUDV GH WUDEDOKR FRPR FR]LQKHLUD QXP KRWHO FKHJDYD D FDVD H DLQGD LD D FDVD GRV YL]LQKRV SDVVDU D IHUUR ODYDU TXLQWDLV 1mR HUD GLQKHLUR R TXH PH GD YDP (UDP UHVWRV GH FRPHU GHOHV 6REUDV 8P TXDUWR GH TXLOR GH PDVVD 'XDV RX WUrV EDWD WDV 8PDV FHQRXUDV 3DUD PLP WLQKD YDORU /XWHL SDUD TXH QXQFD IDOWDVVH QDGD DRV PHXV ILOKRV ( SDUD TXH HOHV QXQFD WLUDVVHP QDGD D QLQJXpP ¬V YH]HV LDP SDUD DV ID]HQGDV URX EDU IUXWD 7DPEpP FKHJXHL D ID]HU LVVR 0DV FKDPDYD OKHV D DWHQomR ©2 WHX SDL QmR WHP ID]HQGD ª &RQVLGHUDYD LQDGPLVVtYHO LU D FDVD GH XPD SHVVRD URXEDU IUXWD PHVPR QmR D WHQ GR QD QRVVD RX PHVPR TXH RV GRQRV QmR D DSD QKDVVHP VHTXHU 2X VHMD VHPSUH PH HVIRUFHL SHORV PHXV ILOKRV SRU OKHV GDU ERQV YDORUHV $ FRLVD TXH HX PDLV TXHULD HUD TXH HVWXGDVVHP (VVD HUD D KHUDQoD TXH HX SRGLD GHL[DU ² HOHV WHUHP HVWXGRV 4XDOTXHU XP GHOHV DQGRX DWp DR QRQR DQR 1mR TXLVHUDP PDLV 2V GRLV PDLV YHOKRV TXLVHUDP WUDEDOKDU SRUTXH HX QmR WLQKD WHOHYLVmR 4XHULDP WHU PHOKRU YLGD H DMXGDU PH D FRPSUDU FRLVDV PHOKRUHV SDUD FDVD ( p SRU WXGR LVVR TXH VLP TXH PH FRQVLGHUR XPD PmH GH FRUDJHP OXWDGRUD ² H HOHV RV PHXV ILOKRV WRGRV R DFKDP WDPEpP JUDoDV D 'HXV« Muito antes já o pai e a madrasta de Dolores tinham emigrado para a Austrália — e sentindo-se de novo grávida, Dolores entrou em pânico, foi em 0mH &RUDJHP (de Paulo Sousa e Costa) que ela o desvelou: correu ao médico a pedir-lhe ajuda para R DERUWR ² TXH DV GL¿FXOGDGHV GD YLGD QmR OKH GDYDP KLSyWHVH GH WHU PDLV ¿OKRV GLVVH OKH FKRUDQdo. Em resposta ouviu num brado: ² 7HQV DQRV QmR WHQV QHQKXPD UD]mR SDUD


não ter mais esse bebé. Verás que será a alegria da casa... O desespero não deixou que Dolores se convenFHVVH ² H ODPXULDQGR VH j ¿OKD GD PDGUDVWD HOD VXJHULX OKH

PDQKm QD PDWHUQLGDGH GR +RVSLWDO &UX] GH &DUYDOKR QR )XQFKDO FRP TXDWUR TXLORV GH SHVR FHQWtPHWURV GH FRPSULPHQWR H R PpGLFR TXH OKH IH] R SDUWR FRPHQWRX VHP LPDJLQDU TXmR FHUWHLUR OKH VDtUD R YDWLFtQLR — Tem pés grandes, de futebolista!

— Compra uma cerveja preta, põe ao lume, quando estiver a ferver bebe tudo e vai para a rua correr, correr como uma louca, até não aguentares mais. Duas horas depois já não há problema. Foi o que Dolores fez m- e nada do que queria VXFHGHX $R DSHUFHEHU VH GLVVR SDVVRX D PmR SHOD EDUULJD — Se a vontade de Deus é que a criança nasça, que assim seja... 1DVFHX D GH IHYHUHLUR GH jV K GD

$ HVFROKD GR QRPH IRL 'RORUHV $YHLUR TXHP FRQWRX FRPR IRL H SRU TXH IRL — Eu e o meu marido gostávamos de Ronaldo, como o presidente dos Estados Unidos, para o nome, a minha irmã, que trabalhava num orfanato, já me tinha dito que se fosse um rapaz deveria ser Cristiano: ela escolheu Cristiano e nós escolhemos Ronaldo. $VVLP ¿FRX &ULVWLDQR 5RQDOGR GRV 6DQWRV Aveiro.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 7


O que o pai lhe disse por não querer jogar contra o Marítimo foi a lição que o atirou ao seu futuro José Dinis trabalhava como jardineiro para a Câmara do Funchal e era roupeiro do Clube de Futebol Andorinha de Santo António. A Fernão Sousa, o capitão de equipa, convidou para padrinho do filho. O dia do batizado foi dia de jogo — e, de um instante para outro, António Rebola, o padre que já lhe batizara os três outros filhos, começou a ficar impaciente: passava o tempo — que faltava o pai e o padrinho. Com Cristiano Ronaldo nos braços, Maria Dolores pedia-lhe, alvoroçada: — Só mais um bocadinho, por favor, senhor padre… só mais um bocadinho… Com a madrinha às voltas no adro da igreja, surgiram, enfim, Dinis e Fernão — com meia hora de atraso. O padre deu-lhes sermão, só depois se lançou, então, ao ofício. Viviam na Quinta do Falcão, em Santo António, num casebre de blocos de madeira e tijolo sem pintura, com um telhado de zinco e as paredes cobertas de chapas de metal para tapar as fendas por onde entrava a chuva e o frio no Inverno (e que seria destruída em 2007 para que se evitassem, por lá, «problemas com os ocupas»…) — e Tom Oldfield (que em Inglaterra escreveu Cristiano Ronaldo — A Verdadeira História do Melhor Futebolista do Planeta) notou-o:

8 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— Era tão a pena a casa que a máquina de lavar era guardada no telhado. Outra revelação solta por Maria Dolores Aveiro a Anabela Mota Ribeiro: — Quando Cristiano era pequenino, eu chorava muito pela vida que levava. Ele dormia na minha cama. Dizia: «A mãe que não chore. Quando for grande, vou ganhar bastante dinheiro. Vou comprar uma casa e tirar a mãe do trabalho». Não chegara ainda aos seis anos de idade — e se alguém lhe perguntasse o que queria ser quando fosse grande, invariável era a resposta de Cristiano Ronaldo: — Quero jogar à bola! Dolores juntou-lhe: — Quando voltava a casa, dizia-lhe: Ronaldo, vai fazer os trabalhos de casa para o quarto. Respondia-me sempre que não tinha trabalhos para fazer. Logo que eu ia cozinhar, aproveitava a ocasião, pegava num iogurte e numa banana e corria para fora com a bola debaixo do braço, só voltava quando a noite se punha... Os jogos eram num campo improvisado no Caminho do Lombinho ou nas ruas íngremes do bairro, com as balizas feitas por duas pedras que se tiravam quando vinha um carro ou um autocarro — e havia vizinhos que se irritavam com Ronaldo e com os pais por eles o deixarem andar pela noite dentro a dar pontapés na bola contra as paredes (se por essas horas, às vezes, já não tinha quem o acompanhasse):


Aos nove anos assinou a primeira ficha da Associação de Futebol do Funchal. Para a época de 1994/95. Francisco Afonso, que fora professor primário de Cátia, era treinador dos infantis — e logo percebeu que havia nele uma encantadora anormalidade: — Já era muito rápido, já tinha uma grande técnica, já jogava tão bem com o pé esquerdo como com o pé direito. Era lingrinhas, mas um palmo mais alto que os miúdos da idade dele. Mas, sem dúvidas, um sobredotado. Queria sempre a posse GH EROD TXHULD UHVROYHU RV GHVD¿RV WRGRV VR]LQKR ( ¿FDYD GHVHVSHUDGR TXDQGR SHUGLD XP MRJR

— … E havia casos em que partia vidros, fugia e dizia sempre que tinha sido outro miúdo qualquer, a mãe nem queria ouvir falar em ter de pagar os prejuízos, tinham lá eles dinheiro para isso… (Recordou-se, então, quando ele já estava a caminho da eternidade). Nuno, um dos primos, jogava futebol no Andorinha — e, aos seis anos, indo, pela mão do pai, vê-lo, Ronaldo pediu que o deixassem treinar com os rapazes mais velhos do clube. Sendo filho do roupeiro, disseram-lhe que sim. Tal como Dinis, tal como Hugo, Cristiano tinha o coração a pender para o Benfica.

Não, não era só quando perdia um jogo, também era quando um companheiro não lhe passava a bola ou quando ele falhava golo feito — e, então, o desespero soltava-lhe, súbitas, as lágrimas. Por isso havia quem lhe chamasse Menino Chorão. E houve altura em que tendo o Andorinha de jogar contra o Marítimo, Ronaldo tentou esquivar-se, sorrateiro, ao jogo para não o perder — e, percebendo-o, o pai disse-lhe: — Só os fracos é que se deitam a perder ou desistem! Tomou o clamor como sina — nunca mais a largou. Também lhe chamavam Abelhinha: — Porque, como uma abelha, não parava um minuto e passava o jogo a esvoaçar pelo campo. Anos depois, em Madrid, Cristiano Ronaldo poria este nome ao seu cão, um Yorkshire. (Isso está numa outra sua biografia, de Luca Caioli).

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 9


No Benfica não atenderam o telefonema e não havendo bulha 20 bolas levaram-no para o Nacional O Andorinha jogava (por empréstimo) num campo de terra do Liceu Jaime Moniz – e as chuteiras eram quase todas aquelas que o Marítimo lhes dava ao deixar de as usar – e Ricardo Santos, então seu colega por lá, lembrou-o: — Punham-se as botas num grande caixote de papelão. O caixote era despejado e a gente tinha de correr para encontrar o par melhor. O RonalGR ¿FDYD VHPSUH FRP DV 'HVSRUWH[ TXH HUDP DV TXH GXUDYDP PDLV… Privilégio óbvio que lhe dava o ser como era e notícia dos dons de Cristiano Ronaldo alastrou a galope pela ilha: o Marítimo e o Nacional quiseram ir buscá-lo ao Andorinha. Chamados ao Andorinha, o representante do Marítimo combinou a hora e não apareceu — e foi para o Nacional a troco de 20 bolas e dois equipamentos completos para toda a equipa de infantis — e foi o próprio Ronaldo a contá-lo, deliciado com o enleio da história: ² 'LVVH VH TXH R 0DUtWLPR WLQKD FRQWRV SDUD GDU SRU PLP PDV DV ERODV H RV HTXLSDPHQWRV SDUHFLDP YDOHU PDLV GR TXH HVVHV FRQWRV 3RU HVVD DOWXUD MRJDYD FRP PL~GRV GH RX DQRV H PXLWDV YH]HV SHJDYD QD EROD DQWHV GR PHLR FDPSR H LD FRP HOD SRU DOL IRUD DWp j EDOL]D contrária, sem a passar a ninguém. Os treinadores pediam-me para a passar aos outros, mas eu QHP YLD RV RXWURV Vy YLD D EROD

10 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

2 $QGRULQKD DLQGD WHQWDUD VXJHUL OR DR %HQ¿FD ² José Bacelar, presidente do clube, revelou-o: ² 1yV TXHUtDPRV S{U R %HQ¿FD H R 6SRUWLQJ j EXOKD SDUD FRQVHJXLUPRV DV PDLRUHV YDQWDJHQV SRVVtYHLV EHQHItFLRV SDUD D IDPtOLD IDPtOLD PRGHVWD TXH YLYLD FRP GL¿FXOGDGHV 7HQWiPRV FRQWDFWDU R %HQ¿FD PDV QLQJXpP QRV DWHQGHX QLQJXpP VH GLJQRX VHTXHU UHVSRQGHU QRV ( QHVVD DOWXUD Mi QmR HQJDQDYD QLQJXpP R &ULVWLDQR HUD XP PL~GR IUDQ]LQR 'LULD DWp UDTXtWLFR PDJUR H SHTXHQR PDV FRP XPD WpFQLFD IRUD GR comum, a destacar-se dos demais. Ronaldo andava pelos 10 anos quando assinou pelo Nacional — e, nessa noite, tendo Dolores mostrado preocupação: ² $JRUD YDL MRJDU FRP UDSD]HV PDLRUHV PDLV fortes, podem magoá-lo, partir-lhe uma perna... José Dinis descansou-a, a rir-se (por saber do MHLWR TXH R ¿OKR HUD — Não te preocupes, eles não o apanham, o PL~GR p PXLWR UiSLGR António Mendonça, o seu novo treinador, também o percebeu, num fósforo: — O futebol de rua tinha-lhe ensinado a técnica SDUD HYLWDU RV JROSHV SDUD VH HVTXLYDU GRV DGYHUViULRV SDUD ID]HU IUHQWH D TXHP IRVVH PDLRU GR TXH HOH ( WDPEpP OKH WLQKD IRUWDOHFLGR R FDUiWHU Às vezes, a Mendonça agitava-o aquele seu frenesim de pés e alma: Cristiano Ronaldo pegar na bola no seu meio-campo, levá-la, não no pé, mas


dentro do pé, até à baliza contrária, sem a passar a mais ninguém: — Tinha de se aguentar porque marcava muitos golos, ganhámos quase todos os jogos por grande diferença e a razão era ele. Quem ia aos treinos do Nacional não estava cinco minutos sem se virar para o lado e perguntar: «Quem é aquele miúdo fabuloso?». Aos 10 anos, Ronaldo tinha uma capacidade técnica e de execução notáveis, ao nível de um jogador de 15 ou 16 anos. Além disso, era mais rápido que todos os rapazes, competia, diretamente, com os mais velhos. Era magrinho, mas já alto para a idade, o único SUREOHPD HUD PHVPR HVVH ¿QWDU WRGRV RV PL~GRV que lhe aparecessem à frente e, depois, marcar golos. Dava a sensação de que, para ele, não havia companheiros de equipa, apenas adversários, pois raramente passava a bola a algum colega… Passara pelo Externato de São João (pertencente à Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias) com a Irmã Graça como educadora. — Recordo-me dela bem, puxava-me a orelha e dava-me uma palmada na mão, de quando em quando... E a Irmã Graça logo lhe percebeu o destino, a devoção: — O que ele mais gostava era da Educação Física. Já impressionava pelo movimento, por toda a leve]D GDTXHOD FULDQoD ( LVVR UHÀHWLD VH OKH QRV ROKRV sempre... Do externato das freiras saltou para a Escola Básica Gonçalves Zarco, a Escola dos Barreiros

TXH ¿FDYD QR RXWUR ODGR GD UXD GR HVWiGLR ² H Dt VH tornou pior aluno: faltava às aulas, fugia dos professores, escondia as más notas. Percebendo-lhe o destino a criar-se-lhe nos pés, Dolores Aveiro foi deixando de andar em preocupações: — Os professores diziam-me que tinha de o meter na ordem, mas eu deixei de o castigar por isso. Tinha de treinar muito para se tornar um grande jogador… Hugo Aveiro, o irmão, haveria de o contar: — Uma vez apostei 10 contos com um vizinho em como o Ronaldo dava 500 toques e ganhei-lhos… Nesse tempo, havia uma outra promessa no Funchal: David Fraga. Haveria de passar pela formação GR %HQ¿FD ² H TXDQGR Mi WLQKD DR FRQWUiULR GH 5Rnaldo, o sonho perdido, recordou-o numa reportagem de Marta Caires, para a Tribuna Expresso: ² Já era um jogador fora de série que batia os pontapés de baliza e metia a bola a meio campo. Batia com o pé esquerdo e com o direito, o que não era comum. Eu era do Marítimo, ele do Nacional, mas houve uma vez em que fomos da mesma equipa, na seleção da Madeira, num torneio entre ilhas, na Córsega. Foi uma viagem memorável. Ficámos todos espantados quando fomos passear na praia e vimos mulheres em topless, coisa que não era comum na Madeira. Eu era o ponta de lança, lembro-me de que quando vimos chegar a equipa GD 6DUGHQKD ¿FiPRV GH ERFD DEHUWD DTXLOR SDUHcia uma equipa de basquetebol, mas também me lembro de que o Ronaldo deu show GH EROD ¿QWRX por entre as pernas, por cima, foi como ainda é — e era o mais pequeno de todos.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 11


«5000 contos por uma criança?», perguntou, intrigado, o homem das finanças… Na primeira vez que vestiu a camisola no Nacional só precisou de 15 segundos para fazer golo – e quando conquistou o seu primeiro título regional, rumorejou-se que alguém do FC Porto andava de olho nele. Fernão Sousa correu, então, a falar a João Marques de Freitas (assistente do Procurador-Geral da República na Madeira e presidente da Casa do Sporting do Funchal) do génio que estava a explodir-lhe nos pés. Emissário do Sporting foi vê-lo — e era mesmo verdade o que dele se dizia. O Nacional tinha uma dívida de 5000 contos ao Sporting por causa da contratação de Pedro Franco (jogador da sua formação que o clube do Funchal fora buscar ao Odivelas) — e Rui Alves, o seu presidente, propôs que a verba se liquidasse com a passagem de Cristiano Ronaldo para Alvalade (nessa altura ainda não havia Academia). Acabara de fazer 12 anos, estava-se nas férias da Semana Santa de 1997. Fernão Sousa acompanhou-o a Lisboa para os testes no Sporting — e, sendo sportinguista, Maria Dolores sentiu o sonho em fogacho: — … Que pudesse ser, um dia, como Figo! O teste era para duas semanas. No primeiro dia bastaram-lhe dois ou três toques, dois ou três movimentos, para que Osvaldo Silva (que fora estrela na equipa do Sporting que ganhara a Taça das Taças em 1964) e Paulo Cardoso, os técnicos que o receberam, catrapiscassem os olhos de espanto. Pediram a Aurélio Pereira, o responsável pela formação, que lhe fosse ver o segundo treino — Aurélio foi e contou: — Tínhamos uma grande equipa de infantis, eram todos um ano mais velhos do que o Cristiano Ronaldo, mas no campo não se notou. Era uma criança da Madeira, que nunca tinha estado, antes, em Lisboa. De repente, chega para prestar provas — e, no dia seguinte, parecia que já lá estava há 20 anos, os outros é que olhavam para ele como se tivesse pousado ali um OVNI. 1D ¿FKD GH LGHQWL¿FDomR GH MRJDGRUHV j H[SHULrQFLD GDWDGD GH GH DEULO GH DFKDQGR TXH WDQWR poderia ser médio-centro como segundo ponta de lança, no espaço para o parecer técnico, Osvaldo Silva e Paulo Cardoso escreveram: «Jogador com um talento fora de série. É tecnicamente muito evoluído. É de destacar a sua capacidade de drible em movimento ou parado» — e logo depois tiveram de a rasurar. Não, não foi para lhe alterar características, foi para lhe emendar o nome da mãe de Maria de Lurdes dos Santos Aveiro para Maria Dolores dos Santos Viveiros Aveiro. Aurélio Pereira lançou-se sem demoras ao gabinete de Simões de Almeida, a pedir-lhe que despachasse o negócio, o vice-presidente para iUHD ¿QDQFHLUD GR 6SRUWLQJ LQWULJDGR SHUJXQWRX OKH — Mas acha que vale mesmo a pena pagar 5000 contos por uma criança? A resposta que colheu foi perentória, a que se imagina.

12 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo


Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 13


A ameaça de atirar com a cadeira à cabeça da professora e a recusa em apanhar o lixo no balneário O seu primeiro dia de aulas em Lisboa foi traumático: entrou na sala, a professora pediu-lhe que se apresentasse — e aconteceu o que ele próprio haveria de revelar (achando piada ao que antes não achara). — Era o n.º 5. Levantei-me e disse: Cristiano Ronaldo, venho da Madeira. Todos os colegas começaram a rir do meu sotaque. Estavam a troçar de mim. Não me senti bem. Não se calavam e comecei a aborrecer-me, até que ameacei a professora com uma cadeira, por também se rir, não parar com aquilo. Com todos a rirem-se do meu sotaque, reagi mal. Agora consigo ver isso como uma coisa compreensível, uma brincadeira, mas na altura não… Era já assim: não admitia que alguém o maltratasse, o humilhasse — por outras vezes mais o mostraria. Como, por exemplo, naquela em que, por punição a insolência, o treinador ordenando-lhe que arrumasse equipamentos que companheiros tinham deixado espalhados pelo balneário, ouviu, em resposta (de orgulho picado): — Sou um jogador do Sporting e não tenho de apanhar nada do chão... Dolores procurou amansar-lhe a fúria num telefonema (daqueles que ele fazia todos os dias de

14 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

uma cabina em torno de Alvalade), Ronaldo vociferou-lhe (ainda de revolta solta): — É como eu lhes disse: sou jogador do Sporting, não sou empregado de limpeza! De lágrimas a soltarem-se-lhe dos olhos se sentira outras vezes ao apertar das saudades do Funchal que os telefonemas para casa não amansavam — e em Cristiano Ronaldo — Orgulho, Glória e Preconceitos, escrito por Antoine Grynbaum e Marco Martins, Fernão Sousa recordou-o: — Um dia a mãe dele conseguiu fazê-lo voltar a casa durante alguns dias porque estava a ver que o pequeno não aguentava as saudades, mas também porque fazia falta à família. Então eu recebo uma chamada do Sporting a dizer-me que o Ronaldo está na Madeira há duas semanas. Assim que desligo vou à procura de Dolores e digo-lhe: «Não se pode dar ao luxo de ter saudades. Não é assim que se passam as coisas. Se TXHU TXH R VHX ¿OKR VHMD IXWHEROLVWD SUR¿VVLRQDO tem de ser forte. Não é só o futuro do Cristiano que está em jogo, também é o vosso porque VH HOH VH WRUQDU IXWHEROLVWD SUR¿VVLRQDO D YRVVD vida nunca mais será a mesma». Felizmente, a história acabou bem. Consegui sacar, ao Nacional, um bilhete de avião para Lisboa e dei-o a 'RORUHV TXH DFRPSDQKRX R ¿OKR DR DHURSRUWR Uma vez de regresso à capital, as saudades e os momentos de nostalgia acabaram. 'RORUHV $YHLUR DWLURX R HP FRQ¿GrQFLD UHIRUoDGD — Sim, quando o Cristiano foi para Lisboa passou muito. À maneira dele falar, gozavam. Telefonava-me de uma cabina e chorava. Ouvi-lhe:


Mãe, vou desistir — e eu fazia força para lhe dizer: Filho, se é disso que gostas, luta. Luta, que a mãe não te vai cortar as pernas. E ele logo respondia, convencido: E eu também não! E lutava, lutava cada vez mais. No Sporting, estava um treinador madeirense, o Leonel Pontes, que me dizia: «O Ronaldo é um grande jogador. Tem vontade. Acaba o treino e vai outra vez para o ginásio. Criar músculo» — e era, apesar daqueles instantes de dúvida e de mágoa, ele era mesmo assim. E

quando voltava à Madeira, de férias, pegava em baldes cheios de pedras para fazer musculação, punha meias grossas cheias de pedras que amarrava contra as pernas para ganhar força. Sabia que tinha talento, mas não deixava de ter mais: vontade e trabalho. Trabalhava muito para mostrar, não só para mostrar aos outros, era para mostrar a ele próprio: Sou capaz, vou fazer, sou capaz vou conseguir. Metia na cabeça que era capaz e conseguia — sobretudo a partir dos 15 anos.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 15


Quando o castigo era o caixote do lixo que se chamava Ferrari, ele avisou: «Vou ter um a sério!» (e para que Semedo ficasse no quarto até aceitava dormir no chão)

Mal chegou ao centro de estágio do Sporting, Cristiano Ronaldo fez amigo maior, o Fábio Ferreira, que viera de Olhão para Lisboa— e foi ele, o Fábio, quem o recordou: — Quando fazíamos asneiras ou faltávamos às aulas, um dos castigos era descarregarmos o caixote do lixo a que chamávamos... Ferrari. Quando calhava ao Cristiano, a malta punha-se a provocá-lo: «Vrom... vrom... Ronaldo, lá vais tu com o teu Ferrari!». A resposta dele era sempre a mesma: «Podem gozar o que quiserem, mas um dia eu vou ter um Ferrari a sério...». Tinha cada vez mais a paixão a alimentar-lhe o soQKR H R GHVHMR GH GHVD¿DU R GHVWLQR R IXWXUR ( GD sua ânsia de se fazer craque não tardou que se soltasse sinal do que Cristiano era na alma: não o vendo na cama à uma da manhã, descobriam-no no ginásio a WUHLQDU VR]LQKR 1R TXDUWR GR FHQWUR GH HVWiJLRV WDPbém não era raro apanharem-no a fazer abdominais H ÀH[}HV ² H TXDQGR RV FRPSDQKHLURV Mi HVWDYDP QR duche ele ainda andava no campo a treinar os livres GLUHWRV FRQWUD XPD EDUUHLUD GH SLQRV O seu primeiro salário foi de 10 000 escudos ² VH Mi KRXYHVVH HXURV VHULDP (VFXWDQGR

16 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

em clamor a repetir-se sem fim que «jogava muito bem», mas ainda era um «bocadinho enfezadito», decidiu que passaria a comer dois pratos de sopa à refeição: — Aos domingos é apanha-bolas do Sporting nos jogos em casa porque assim pode estar ao ODGR GDV JUDQGHV ¿JXUDV GR FOXEH VHQWLU D HPRção do relvado e, ainda por cima, ganhar cinco HXULWRV 1R ¿QDO GR MRJR HOH H RV FRPSDQKHLURV juntam o dinheiro que ganharam e vão à pizaria, comem uma e compram mais duas para levar para casa... (contou-o Lucas Caioli em Cristiano Ronaldo — A Perfeição é o Limite (OH H )iELR SDVVDUDP D DSDUHFHU DPL~GH QR VDlão de jogos que havia ao lado do Bingo do Sporting — para jogarem Puzzle Bobble e, sobretudo, para se porem ao despique no Daytona, o jogo de FRUULGDV GH FDUURV (P HVSDQWR 0DULD 'RORUHV recebeu chamada no Funchal: não era, como as demais, a lamentar-se de saudades, choramingando — era a pedir favor de lhe mandar algum dinheiro, que já não tinha nada do que lhe enYLDUD $ PmH HVWUDQKDQGR IDORX FRP 3RQWHV ² H descobrindo como o gastara, o Sporting avisou o dono do salão de que Cristiano e Fábio estavam SURLELGRV GH Oi HQWUDU 1R &HQWUR GH (VWiJLR KDYLD VHWH TXDUWRV FDGD XP com quatro camas — e, de quando em quando, era preciso meter-se mais uma para quem chegasse de IRUD +RXYH SRUpP GLD HP TXH LPSRVVtYHO HUD DEULgar-se mais alguém — e decidiu-se que José Semedo SRU YLYHU PDLV SHUWR HP 6HW~EDO WHULD GH LU HPERUD e o que sucedeu contou-o (o próprio) Semedo: — Não tinha sido boa a minha época, queriam


lhes vou pedir, se não aceitarem vou querer ir embora também. Ronaldo procurou Jean Paul, coordenador do IXWHERO MXYHQLO OHYDQGR OKH SURSRVWD ¿UPH — Professor, eu não me importo que o Semedo durma na minha cama ou que se ponha um colchão no chão, mas, por favor, não o mandem para fora do Centro de Estágio. É tudo o que eu peço, professor! -RVp 6HPHGR ¿FRX ² H GH TXDQGR HP TXDQGR continuava a acontecer o que ele recordou:

que continuasse no Sporting mas fora de Alvalade. Disse ao Ronaldo: «Para o ano não vou estar aqui. Vão trazer outros jogadores e precisam de espaço». E ele respondeu-me: «Não, se tu voltares lá para o teu bairro não vais conseguir ser jogador, vais-te perder porque a vida no bairro é muito difícil, eu sei…». Era, era tão difícil que José Semedo haveria igualmente de o revelar: — Antes de vir para o Sporting, com 10 anos, tentei roubar um carro porque era o que via os mais velhos fazerem lá no bairro da Bela Vista… e, por isso, Cristiano garantiu ao compincha: — Vou falar com eles, acho que aceitam o que

— Às vezes faltávamos às aulas. Tínhamos muito sono de manhã porque à noite íamos para o ginásio jogar um contra o outro no pavilhão. Íamos às escondidas. Deitávamo-nos à meia noite e meia, uma da manhã. Como é que alguém se ia levantar para ir para a escola? Ao informarem Rui Palhares da matreirice que o punha a faltar às aulas, o treinador convocou &ULVWLDQR SDUD MRJR FRP R %HQ¿FD PDV S{ OR QR EDQFR &RP RV EHQ¿TXLVWDV D FDPLQKR GD YLWyria por 3-0, desatou a ouvir-se o praguejo entre adeptos e pais de outros sportinguistas: — Como é possível que tenha deixado o melhor jogador a suplente e ele continue no banco?! Reconhecendo que já então a equipa era «Ronaldo e mais 10», Rui Palhares explicou-o: — Naquele dia, mais importante do que o jogo de futebol, ele precisava de uma lição para o futuro.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 17


O dia em que o coração o traiu (e para o salvar tiveram de lhe fazer operação de urgência) A 19 de outubro de 1999 foi o Sporting a Pina Manique jogar com o Casa Pia AC, para o campeonato de iniciados. Para tratar do jogo, o jornal do clube enviou ao estádio um poeta (poeta de verdade e de renome): José do Carmo Francisco. Claro, nessa sua crónica não deixou de sublinhar a contrariedade por que o Sporting passou (mesmo ganhando por 5-0): a taquicardia que, aos 30 minutos, atirou Ronaldo para fora do campo e para dentro do susto. Ao sentir impressão no peito, após dois golos falhados (como não era hábito), travou galope que esboçara, queixando-se num murmúrio: — O coração disparou muito rápido! António Cardoso, o árbitro, que tinha formação de enfermeiro, largou num clamor: — Têm de tirar o rapaz do jogo, já! Foi o que se fez — e José do Carmo Francisco relembrou-o: — Logo ali, o enfermeiro Fontinha, que era o massagista da equipa, lhe deu injeção que evitasse súbitos males piores. Acompanhou Cristiano Ronaldo para o balneário, deitou-o numa marquesa. AsVLP ¿FRX DWp DR ¿P GR GHVD¿R DFRPSDQKDGR SHOR senhor Atanásio, o delegado ao jogo… Presumindo-se que pudesse ter sido ape-

18 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

nas um fugaz incidente (porque nos exames do Centro de Medicina nada se lhe notara de anormal), não foi: meses depois, num treino da seleção de Lisboa voltou-lhe o desconcerto: Ronaldo precipitou-se, de rosto a vincar-se, para a linha lateral, queixando-se a Rosa Pereira, o massagista da AFL, do que já antes se queixara a Manuel Fontinha: — De vez em quando o coração dispara muito rápido, canso-me depressa. Rosa Pereira mediu-lhe o pulso e não teve dúvidas no diagnóstico: arritmia cardíaca. De pronto se determinou que Cristiano Ronaldo teria de ser operado, de urgência, ao coração. Para tal era precisa autorização dos pais. Dolores Aveiro contá-lo-ia (a repórter do The Sun): — O telefonema deixou-me gelada. As minhas pernas enfraqueceram. Tive de assinar um PRQWmR GH SDSpLV SDUD TXH R LQWHUQDVVHP QXP hospital. Decidiram operá-lo. Utilizaram um laser e, uns dias depois, já estava em casa. Tive muito medo que ele deixasse de poder praticar IXWHERO 2 SUySULR PpGLFR PH GLVVH TXH LVVR SRderia acontecer… A cirurgia a que teve de se sujeitar de urgência — ablação por cateter — fez-se no Hospital do Coração, em Carnaxide (com junho de 2000 a correr para o fim). No arranque da época, apesar de integrado no rol dos 32 jogadores do plantel de juvenis, Luís Martins, o treinador da equipa — e só após novo exame no Centro de Medicina de Lisboa —, pôde levá-lo a jogo, a 2 de setembro de 2000, (mas apenas em meia parte) contra o Despertar de Beja.


A luta contra o gangue que o queria assaltar, o castigo pior que podia ter (e Mourinho a achar que era «filho de Van Basten» na primeira vez que o viu)

Titular (indiscutível e já sem mais sombra no corpo) tornara a ser a partir de outubro — e às primeiras semanas de 2001 envolveu-se em escaramuça que lhe mostrou, vincado, novo traço do seu caráter: — Um gangue, na rua, saltou para cima de mim e dos meus colegas. Os outros fugiram, mas eu enfrentei-os e lutei — os ladrões acabaram por não levar nada...

do, com algumas escoriações. Chorava e dizia que queria voltar para a Madeira. Disse-lhe para ter calma, não pensar mais no assunto e dormir. Na nota informativa que Luís Martins escreveu no dia seguinte revelava-se: «… interrogando-os sobre qual o motivo que os levava a estarem na rua àquelas horas, informaram-me de que estavam a cumprir uma aposta com companheiros, mostrando que conseguiam ir e regressar até ao metro com botas de futebol calçadas». No domingo, o Sporting foi ao campo n.º 4 do Estádio da Luz ganhar por 5-0. Fabuloso foi o jogo que 5RQDOGR IH] 0DUFRX XP JROR ² H QR ¿QDO GD partida, correu a perguntar ao treinador: — Míster qual vai ser o castigo por causa daquilo, do assalto?

Como a entrada se dera para além das 22 horas, o segurança de serviço registou a ocorrência HP UHODWyULR H QmR SHUGHX VHJXQGR D WHOHIRQDU para Luís Martins, dando-lhe nota do caso. O treinador correu para lá, lembrou-o:

1mR LPDJLQDYD TXH R HVSLFDoDVVH WDQWR R FDVWLJR TXH R HVSHUDYD ² QmR VHQGR SRUpP DSOLFDGR só pela briga do metro, mas igualmente por ter chegado, entretanto, ao gabinete de Luís Martins queixa da coordenadora psicopedagógica (anGDQGR VH Mi SRU IHYHUHLUR ©&ULVWLDQR 5RQDOGR furtou uma lata de Ice Tea a um colega do centro de estágio e dois iogurtes à Dona Emília (a empregada). Paralelamente a este facto, levantou, VHP DXWRUL]DomR R ODQFKH GH 5XL /RSHV TXH VH encontrava doente)». Adiante juntava-se-lhe ouWUD GHQ~QFLD ©5HODWLYDPHQWH j VLWXDomR HVFRODU ultrapassou 50% das faltas permitidas por lei às disciplinas de Língua Portuguesa, História, Matemática, Físico-Química, Inglês, Ciências da NaWXUH]D (GXFDomR 9LVXDO (GXFDomR )tVLFD H (GXFDomR 7HFQROyJLFDª

— Cristiano estava a tomar banho, muito abati-

O documento enviado ao treinador fechava

(P YpVSHUDV GH MRJR FRP R %HQ¿FD 5RQDOdo juntara-se a Fábio Ferreira, José Semedo e Hélder Cabral, precipitando-se os quatro para o Centro Comercial Vasco da Gama. No regresso a Alvalade, ainda dentro da carruagem do metro, grupo de assaltantes, de navalhas em riste, atirou-se a eles. Fábio e Hélder fugiram à refrega, 5RQDOGR H 6HPHGR QmR 6H YROWDUDP DR FHQWUR GH estágio sem pertence perdido, Cristiano mostrava, contudo, no corpo, sinais da luta.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 19


FRP D MXVWL¿FDomR GDGD SRU &ULVWLDQR j VXD JD]HWD TXH UHYHODYD ©5HFHLR GH FRPSDUHFHU QD HVFROD GHYLGR D TXH]tOLD FRP XP JUXSR GH QHJURVª [sic] ² VHP FRQWXGR GHL[DU GH VH VXEOLQKDU ©1R HQWDQWR Mi IRL YLVWR YiULDV YH]HV QD HVFROD D MRJDU IXWHERO VHP QR HQWDQWR FRPSDUHFHU jV DXODVª /XtV 0DUWLQV YROWRX D DGLDU R FDVWLJR SDUD PRPHQWR TXH MXOJDYD PDLV D]DGR ² DFKDQGR TXH SRGLD KDYHU SLRU H PDLV FRUUHWLYR GR TXH Vy WLUDU OKH D EROD GRV SpV TXH HUDP R VHX FRUDomR 7HQGR R 6SRUWLQJ GH LU DR )XQFKDO GHIURQWDU R 0DUtWLPR QD VH[WD IHLUD D¿[RX D OLVWD GH FRQYRFDGRV VHP TXH &ULVWLDQR 5RQDOGR Oi HVWLYHVVH ± H /XtV 0DUWLQV UHYHORX R HP Os Segredos da Máquina — Olhou para o papel, viu que o nome não constava e saiu em direção ao quarto, com as lágrimas no rosto, sem pedir nenhuma explicação. Não me esqueço dessa imagem porque me custou imenso… 2 WUHLQDGRU DFUHGLWDYD TXH HUD D IRUPD PDLV H¿FD] GH OKH GDU FRQVFLrQFLD GH TXH QmR SRGHULD FRQWLQXDU DVVLP (UD Mi PDUoR PDUoR GH ² H 'LQLV $YHLUR IRL SDUD RV %DUUHLURV LUDFXQGR )L[DGR MXQWR DR EDQFR GH VXSOHQWHV GR 6SRUWLQJ ODQoRX YH]HV VHP FRQWD D VXD VDQKD DR WUHLQDGRU — Chamou-me tudo! Mas eu compreendi, até porque também já era pai. $SyV R UHJUHVVR D /LVERD FRP YLWyULD GR 6SRUWLQJ SRU /XtV 0DUWLQV SX[RX &ULVWLDQR 5RQDOGR j FRQYHUVD H[SOLFDQGR OKH D UD]mR GD QmR FRQYRFDWyULD H DSDQKDQGR OKH VXVVXUUR D DUUDVWDU VH

20 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— O mtVWHU p TXH VDEH« 0DV QmR DFKR PRWLYR WmR JUDYH SDUD PH GHL[DU GH IRUD« UHWRUTXLX OKH — Foste tu que te puseste fora da convocatória, não fui eu. Doeu-te, não doeu? Agora só preciso de saber se queres mais. Queres mais disto? Eu não quero dar-te mais… 1mR QmR SUHFLVRX GH ©GDU OKH PDLVª 1XQFD PDLV 3HOR FDPLQKR &ULVWLDQR 5RQDOGR HVEXJDOKRX RV ROKRV D -RVp 0RXULQKR TXH QD VXD SHUVSLFiFLD ORJR OKH SHUFHEHX R ODUJR SDUDtVR TXH R DJXDUGDYD ² H D 1XQR /X] R OHPEURX QD 6,& — A primeira vez que o vi jogar foi em Leiria, no nosso pelado. Estávamos a ver jogo de juvenis porque tDPRV SDUD HVWiJLR 9LUHL PH SDUD RV PHXV DGMXQWRV H GLVVH OKHV ©Olhem ali, o filho do Van Basten!ª Estava a jogar a ponta de lança e com aquela elegância, aquela qualidade de movimentos, aquela qualidade técnica, eram muitas as semelhanças. Nem sequer sabia como ele se chamava, ficou-me logo na retina a diferença grande em relação aos outros, a todos os outros. (VWDQGR Mi GH FRUDomR DPDQVDGR D 5RQDOGR DEULUD VH OKH SHOD SULPHLUD YH] XPD 6HOHomR ² &DUORV 'LQLV OHYRX R DR 7RUQHLR ,QWHUQDFLRQDO GH 5LR 0DLRU 7RUUHV 1RYDV D GH IHYHUHLUR GH HP 7RUUHV 1RYDV 3RUWXJDO EDWHX D ÈIULFD GR 6XO SRU IH] ORJR XP JROR 1D 6HOHomR VXE TXH QR (XUR GLV-


Não, não tinha só endiabrado o pé no seu fulgor — e também foi Wilson quem o desvelou:

putado na Dinamarca) não passou da fase de grupos, havia um setubalense que crescera em França e o Cannes acabara de transformá-lo na sua grande esperança — o Wilson Sanches Leal que apareceu a revelá-lo em Cristiano Ronaldo — Orgulho, Glória e Preconceitos, de Antoine Grynbaum e Marco Martins: — Ele já tinha uma aura especial. Nos treinos olhávamos para ele e ele inventava fintas para nós. Fazíamos exercícios e ele inventava montes de coisas. Eu dizia para mim próprio: «É fenomenal!». Uma vez perguntei-lhe: «Se um dia tiveres Marcel Desailly na tua frente, achas que consegues fazer isso? — e o Ronaldo respondeu-me: «Põe-me quem tu quiseres, que eu finto-o». Tinha razão…

— Cristiano tinha sempre as garras de fora, queria ganhar tudo, a todos. Foi a França que nos eliminou e ele desatinou. Puseram dois ou três em cima dele e ganharam-nos por 2-0. Reagiu mal, até foi expulso. Era bom camarada, gostava de rir, contar anedotas, brincar com a malta. Estávamos concentrados no Estoril, o treinador disse-nos: «Têm a tarde livre, mas quero que descansem nos quartos». De repente ouvimos umas derrapagens e perguntámos o que era. Saímos e vimos Cristiano e mais dois outros jogadores nuns pequenos carrinhos que os jardineiros usavam para colocar as ferramentas quando se deslocavam por ali. Fartámo-nos de rir, mas no momento de voltarmos para os quartos eles quiseram fazer mais umas derrapagens: «Olhem que o míster GHYH HVWDU D FKHJDUª 0DV HOHV FRQWLQXDUDP ¿]Hram mais uma e o carrinho foi contra uma árvore que estava no meio de uma pequena rotunda, fazendo grande barulho. É claro que fomos logo para os quartos. O míster chamou-nos e disse-nos que ia ser preciso assumir o incidente, que os responsáveis iam ser castigados, suspensos, expulsos da Seleção. Então, o Cristiano levantou-se e disse: «Fui só eu a conduzir, míster». Francamente, acho que foi preciso coragem. O selecionador disse-lhe que era inadmissível, que ia informar o clube e o Cristiano voltou a responder-lhe: «Faça o que quiser, mas continuo a dizer-lhe que eu sou o único responsável e não é preciso castigar os outros». Foi, então, punido com uma pequena multa, mas não foi expulso da Seleção. Seria impossível porque ele era o melhor jogador da equipa, não podíamos passar sem ele. Mas viram bem a personalidade que ele já tinha?

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 21


A TV com avião a entrar numa das torres de Nova Iorque (e o que ele fez por achar que se enganaram no ordenado) Depois de ter perdido, pelo Barcelona, a Taça GRV &DPSH}HV SDUD R %HQ¿FD DLQGD VHP (XVpELR /XLV 6XiUH] IRL SDUD R ,QWHU 1R ,QWHU JDQKRX XPD 7DoD GRV &DPSH}HV DR %HQ¿FD Mi FRP (XVpELR IRL %ROD GH 2XUR ² H DR GHL[DU GH MRJDU FRQWLQXRX SRU 0LOmR $SyV R 7RUQHLR ,QWHUQDFLRQDO GH 5LR 0DLRU 7RUUHV 1RYDV FKHJRX OKH DR HVFULWyULR GH GLUHWRU GHVSRUWLYR GR ,QWHU PHQVDJHP D GHVD¿i OR D YHU FRP DWHQomR XP ©SURGtJLR TXH KDYLD SRU 3RUWXJDOª 9LX R GHSRLV FRQWRX — Jogava em campos de terra, muitas vezes com barro, e marcava a diferença. Os adversários sabiam e procuravam apanhá-lo, passavam-lhe rasteiras incríveis, mas ele não tinha medo. (UD FODUR &ULVWLDQR 5RQDOGR ² H 6XiUH] FRUUHX D GL]HU DR SUHVLGHQWH 0RUDWWL TXH WLQKD GH LU EXVFDU R piccolo GH LPHGLDWR UHSHWLQGR OKH YH]HV VHP FRQWD — A driblar parece um jogador do meu tempo, é um espetáculo vê-lo jogar. 0RUDWWL DFKRX TXH LU EXVFi OR DRV DQRV VHULD DUULVFDGR GH PDLV 6XDUp] QmR R FRQYHQFHX ² H D LGDGH WDPEpP IRL D UD]mR SRUTXH R /LYHUSRRO VH GHL[RX ¿FDU DSHQDV FRP D QRWD GH TXH GH *pUDUG +RXOOLHU VH HQWXVLDVPDUD FRP RV VHXV EULOKDUHWHV QR (XURSHX VXE

22 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

(P Cristiano Ronaldo — A Verdadeira História do Melhor Futebolista do Planeta 7RP 2OG¿HOG HVFUHYHX ©3KLO 7KRPSVRQ TXH IRL GXUDQWH DOJXP WHPSR WUHLQDGRU DGMXQWR GH +RXOOLHU H[SOLFRX QR Liverpool Daily Echo TXH WLQKD VLGR FRQYLGDGR SRU XP VHX FRQKHFLGR R DJHQWH 7RQ\ +HQU\ SDUD YHU 5RQDOGR MRJDU H HVWDYD PXLWR LPSUHVVLRQDGR (OH GHIHQGH TXH R 6SRUWLQJ RIHUHFHX &ULVWLDQR DR /LYHUSRRO SRU FHUFD GH PLOK}HV GH HXURV PDV D GLUHomR QmR HVWDYD FHUWD TXDQWR D JDVWDU WDQWR GLQKHLUR QXP MRYHP SRU WHVWDU 2 timing IRL HUUDGR WDPEpP Mi TXH +RXOOLHU WLQKD DFDEDGR GH FRQWUDWDU )ORUHQW 6LQDPD 3RQJROOH H $QWKRQ\ /D 7DOOHF H SHQVRX TXH RV DGHSWRV QmR LULDP DSUHFLDU RXWUR MRJDGRU LQH[SHULHQWH XPD YH] TXH D HTXLSD WLQKD FRPR REMHWLYR R WtWXOR«ª 2 6SRUWLQJ DXPHQWDUD OKH R RUGHQDGR SDUD FRQWRV ² H j FDEHoD GH /DV]OR %RORQL VDOWLWRX D LGHLD GH R OHYDU SDUD D HTXLSD SULQFLSDO — Vi-o num jogo dos juniores, depois num treino e… nunca mais o larguei! +DYLD DLQGD HVFROKR QR VHX FDPLQKR DR GDU OKH SHUPLVVmR SDUD UHJUHVVR j FRPSHWLomR QD VHTXrQFLD GD RSHUDomR DR FRUDomR R &HQWUR GH 0HGLFLQD LPSHGLUD R GH XWLOL]DomR HP MRJRV GH HVFDO}HV VXSHULRUHV DWp QRYR H[DPH 0DO R SHUPLWLUDP %RORQL FKDPRX R DR VHX GHVWLQR -DLPH &UDYR ODQoRX VH D UHSRUWDJHP SDUD D 6SRUW79 FRP DV HTXLSDV % GR %HQ¿FD GR )& 3RUWR H GR 6SRUWLQJ ² H R GLD TXH FRPELQDUD SDUD R HQWUHYLVWDU FRPR HVWUHOD D QDVFHU GH YHUGH QXQFD PDLV VH HVTXHFHULD GH VHWHPEUR GH 1R TXDUWR GD SHQVmR GH /LVERD RQGH R FOXEH R SXVHUD SRU QmR WHU DLQGD D $FDGHPLD GH $OFRFKH-


te em funcionamento (e o velho Estádio de Alvalade estar a destruir-se, da televisão soltou-se, arrepiante, a imagem: um avião a esventrar uma das Twin Towers, em Nova Iorque. António Forjaz Trigueiros, o repórter de imagem, colheu-lhe o abalo, alvoroçado:

Senti uma grande emoção, uma grande alegria por treinar com grandes jogadores… Um grande orgulho… O João Pinto, o Dimas… jogadores internacionais… Ao falar do modo como, na equipa B, o viam a GHVD¿DU R GHVWLQR RXYLX VH OKH

— Ai!... Eh pá! O que foi aquilo, pá?! /RJR DSyV &UDYR DSDQKRX OKH D FRQ¿GrQFLD — Os treinos com a equipa principal… Oh pá…

— Não, não me mandam bocas por eu ser o PDLV QRYR DOL ¬V YH]HV ¿FDP p XP ERFDGR FKDteados porque eu agarro-me à bola ou faço uma coisa que não devo. Às vezes resmungo com eles

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 23


e eles são mais velhos e não estão acostumados a essas coisas. Mas ajudam-me muito e estou a adaptar-me bem. E quando vou lá acima… lá acima à equipa principal… tento jogar o mais simples possível. Pronto, uma vez ou outra se calhar conduzo demasiado a bola e o míster Boloni diz-me para evitar, que é para não levar porrada. Pede para soltar mais a bola, para desgastar o adversário. Jorge Mendes tinha já, então, Ricardo Quaresma e Hugo Viana na Gestifute — e Cristiano Ronaldo contou-o em Jorge Mendes — O Agente Especial: — Um dia fomos jantar. Foi tudo muito natural, naquela primeira vez o Jorge não tinha o objetivo de que eu assinasse, mas sim de falar comigo. Falámos e deu-me conselhos. Disse-me que as pessoas que trabalhavam para mim não estavam a fazer as coisas bem… Com a conversa estendida a Dolores Aveiro, num ápice se decidiu a mudança: — Não fazia a ideia de como era o mundo do futebol. A verdade é que o Jorge me ajudou. Foi muito sincero, disse-me a verdade, abriu-me os olhos. Eu tinha um representante que fazia as coisas à maneira dele. Não estou a dizer nenhuma mentira, eu estava iludido. E vi, na cara do Jorge, que era uma pessoa que me queria dizer a verdade. Não me obrigou a nada, disse-me que eu tomasse a decisão que quisesse. E assim começou tudo… (Sim, também foi Ronaldo quem o afirmou na biografia de Mendes escrita por Miguel Cuesta e Jonathan Sánchez).

24 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

Da equipa B para o plantel principal do Sporting, Laszlo Boloni chamara também Paíto, Custódio e Carlos Martins — e a Cristiano Ronaldo, Beto logo lhe revelou que se lembrava bem de si, atrás da baliza, a apanhar bolas. Afonso Martins ofereceu-lhe umas chuteiras novas — e nessa temporada, ao contrário, por exemplo, de Paíto ou de Santamaria (ou de Hugo Viana e Ricardo 4XDUHVPD QmR IH] TXDOTXHU MRJR R¿FLDO SHOD SULmeira equipa do Sporting (desse Sporting campeão) — mas numa das vezes em que andara no plantel deixara revelado o seu espírito (e a sua fé): disputou lance com tal fervor a Paulo Bento, que ele lhe gritou: — Vê lá se tens mais calma, ó puto! Ronaldo parou, virou-se para Bento e, muito senhor de si, exclamou-lhe: — Quero ver se me vais falar assim quando eu for o melhor do Mundo! Chamado dos sub-17 para os sub-18 e dos sub-18 para a equipa B, tudo num ápice — havia cada vez mais gente a tratá-lo já por «ET» e, de um mês para o outro, ao ver que lhe tinham pago 60 contos (em vez dos 40 que acordara), Cristiano esgueirou-se ao gabinete da contabilista a dizer-lhe (por entre um laivo retocado de timidez): — Acho que se enganaram no meu ordenado. Tenho dinheiro a mais… Não, não era engano — e não tardaria que fosse ainda mais: 1500 euros por mês (por o escudo ter desaparecido, entretanto).


Antes de Ronaldo se estrear contra o Inter, Boloni disse a Jardel e Niculae: «É melhor do que vocês os dois juntos!» Era sábado à noite, 13 de julho de 2002 e, na DSUHVHQWDomR R¿FLDO GD HTXLSD R 6SRUWLQJ GHIURQWRX R /\RQ /DQoDGR D WLWXODU &ULVWLDQR FRUUHX ¿QWRX PDUFRX XP JROR TXH R iUELWUR DQXORX HP ODSVR H GHOH IRL R FUX]DPHQWR TXH RULJLQRX R SHQiOWL TXH 5XL %HQWR FREURX IHFKDQGR R placard em 1-1). 1D FUyQLFD GH $ %2/$ XPD GDV IRWRV HUD GH GULEOH VHX ² H DR VDLU GR FDPSR DSDQKRX VH OKH D IHOLFLGDGH D JDORSH ORQJH SRUpP GD HXIRULD — Contente, claro. Penso que a minha estreia correu de forma razoável. Estive bem, como toda a equipa e isso é que era o nosso objetivo. Ah! Enorme alegria foi ter visto os nossos adeptos a incentivarem-me e a aplaudirem-me de cada vez que tocava na bola, que maravilha… $QXQFLDGR R UHJUHVVR GH 0iULR -DUGHO GD WXUEXOrQFLD TXH YLYHUD QR %UDVLO DLQGD PDLV HPSROJDQWH IRL R TXH VXFHGHX VHLV GLDV GHSRLV DGYHUViULR GR 6SRUWLQJ HUD R :ROYHUKDPSWRQ ² H HVVD IRL D SULPHLUD YH] HP TXH IRWRJUD¿D GH 5RQDOGR VDOWRX j SULPHLUD SiJLQD GH $ %2/$ D LOXVWUDU SHUIHLWD QR VHX VLPEROLVPR D JROHDGD SRU 1mR PDUFRX QHQKXP GRV JRORV GD HTXLSD PDV SDUD $ %2/$ IRL D ¿JXUD GR MRJR $ GH MXOKR HQJDODQRX VH $OYDODGH SDUD D IHVWD GH FRQVDJUDomR GRV FDPSH}HV QDFLRQDLV 2 IUHQHVLP H R HVSOHQGRU TXH YROWRX D HVSDOKDU SHOD

UHOYD FRQWUD R 3DULV 6DLQW *HUPDLQ TXH WHUPLQRX OHYRX D TXH &DUORV 9DUD R YDWLFLQDVVH FHUWHLUR ©([SORVLYR WHFQLFDPHQWH GRWDGR YDL GDU PXLWR TXH IDODU HP EUHYHª 1D HVFROKD GRV Q~PHURV SDUD D pSRFD TXH HQWUHWDQWR VH ¿]HUD FRXEH OKH R R ¿FRX FRP 1LFXODH &RP DJRVWR D DEULU VH R 6SRUWLQJ GHX VDOWLQKR D (VSDQKD WUD]HQGR GH Oi QD YLWyULD SRU IUHQWH DR 3RQWHYHGUD R Troféu Ciudad de Pontevedra ² H HQWUDQGR XPD YH] PDLV D WLWXODU SDVVRX SHOR FDPSR PDLV VRPEULR GR TXH QRV MRJRV DQWHULRUHV 2 TXH QmR VLJQL¿FDYD TXH %RORQL VH VHQWLVVH GHIUDXGDGR FRP D DSRVWD DUURMDGD TXH ¿]HUD QHOH EHP SHOR FRQWUiULR — Para além de todas as suas virtudes e sim, de alguns exageros com a bola, no plano tático também era muito precoce. Nunca mais o esqueci: tendo-lhe gritado, lá em Espanha, por ter perdido uma bola de forma ridícula, desatou a correr, recuperou-a e fez-me um gesto, como que a dizer: «Pronto, está bem, já percebi!». Para mim, o Ronaldo que conhecemos hoje nasceu naquele dia LVVR D¿UPRX /DV]OR %RORQL D $QWRLQH *U\QEDXP TXDQGR Mi WLQKD HP VHX SRGHU GXDV %RODV GH 2XUR H PDLV WHULD«

5RQDOGR QmR WDUGDULD FRQWXGR D UHJUHVVDU IXOJXUDQWH DR VHX IXWXUR DSDQKRX VH OKH HP IHUYRU H RUJXOKR SLFDGR R DYLVR — Os sportinguistas ainda não viram nada do verdadeiro Ronaldo, isto ainda é só o princípio, acreditem… 1HVVH GLD QD SULPHLUD SiJLQD GH $ %2/$ D PDQFKHWH DQXQFLDYD D FRQWUDWDomR GH 1XQR *R-

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 25


PHV SHOR %HQ¿FD 1D IRWR TXH D VXSRUWDYD j GLUHLWD GH 1XQR *RPHV DSDUHFLD (XVpELR j VXD HVTXHUGD DSDUHFLD /XtV )LOLSH 9LHLUD ² H SRU EDL[R GH (XVpELR R TXH VH YLD QXP VLPEROLVPR SUHPRQLWyULR GR TXH WDOYH] HQWmR VH QmR LPDJLQDVVH HUD &ULVWLDQR 5RQDOGR GH EUDoRV DEHUWRV H VRUULVR ÀRULGR SHUFHEHQGR VH TXH HUD JROR TXH IHVWHMDYD H HUD ²$ PHQRV GH PLQXWRV GR ¿P R PtVWHU %RORQL PDQGRX PH HQWUDU 3RXFR GHSRLV FRP XP WRTXH GH FDOFDQKDU FRORTXHL D EROD QD IUHQWH H SHUDQWH D VDtGD GR JXDUGD UHGHV ¿] D EROD HQWUDU DR VHJXQGR SRVWH FRP XP UHPDWH HP DUFR ² H ¿TXHL HXIyULFR FODUR $SHVDU GHVVH JROR DR %pWLV TXH PHUHFHX H[DOWDomR QD SULPHLUD SiJLQD GH $ %2/$ ² H /DV]OR %RORQL VRSURX OKH YHHPHQWH D DGYHUWrQFLD ² 6H &ULVWLDQR 5RQDOGR HVWi DTXL p SRUTXH HX DFUHGLWR TXH WHP TXDOLGDGH WpFQLFD ItVLFD H PHQWDO SDUD Fi HVWDU 0DV VH SRU XP VHJXQGR HOH SHQVDU TXH HVWi WXGR IHLWR RX SLRU VH SHQVDU TXH LVWR p XP SDOFR GH EDOOHW HVWi D LQFRUUHU QXP HQRUPH HUUR H YDPRV WHU GH FRQYHUVDU 2 TXH DQWHV VXFHGHUD UHOHPEURX R 0DULXV 1LFXODH ² 'XUDQWH XP WUHLQR PtVWHU %RORQL TXLV IDODU FRPLJR H FRP R -DUGHO H QmR VHL VH SDUD QRV HVSLFDoDU VH SRU RXWUD FRLVD TXDOTXHU DSRQWRX SDUD R 5RQDOGR H GLVVH QRV ©0HWDP RV ROKRV QHOH TXH R PL~GR p PHOKRU GR TXH YRFrV RV GRLV MXQWRV (X QmR GLVVH QDGD R -DUGHO GHVDWRX D ULU 'HSRLV YHQGR R HP PDLV DOJXQV WUHLQRV QmR PH FRQWLYH IXL WHU FRP R PtVWHU H GLVVH OKH TXH VLP TXH HOH WLQKD UD]mR QR TXH QRV GLVVH-

26 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

UD 2 UDSD] WLQKD XPD IRUoD LQFUtYHO TXDOLGDGHV IDQWiVWLFDV 5pJLV 'XSRQW MRUQDOLVWD TXH ID]LD QRUPDOPHQWH D FREHUWXUD GD 6HOHomR GH 3RUWXJDO SDUD R /µeTXLSH GHVORFRX VH D /LVERD HP UHSRUWDJHP DQWHV GR 0XQGLDO GD &RUHLD GR 6XO H GR -DSmR ² H UHYHORX R D $QWRLQH *U\QEDXP H 0DUFR 0DUWLQV no &ULVWLDQR 5RQDOGR TXH HOHV HVFUHYHUDP HQWUH H ² )XL R SULPHLUR MRUQDOLVWD HVWUDQJHLUR D IDODU FRP HOH HP /DV]OR %RORQL OHYRX PH DR QRYR FHQWUR GH WUHLQRV GR 6SRUWLQJ HP $OFRFKHWH H HX GLVVH OKH TXH WLQKD RXYLGR IDODU GH XP WDO 5RQDOGR (OH UHVSRQGHX PH TXH R UDSD] HUD EDVWDQWH IRUWH H IRL FKDPi OR DR YHVWLiULR (VWi VH DQWHV GR &DPSHRQDWR GR 0XQGR TXH YDL FRQVDJUDU 5RQDOGR R EUDVLOHLUR FRP XPD VHJXQGD %ROD GH 2XUR H HX SHUJXQWR OKH ©1mR p FRPSOLFDGR FKDPDUHV WH 5RQDOGR" ª 2 UDSD] UHVSRQGH PH ©3RUTXr" (X WHQKR PXLWR RUJXOKR QR PHX QRPH QmR WHQKR TXDOTXHU SUREOHPD HP FKDPDU PH 5RQDOGR QmR ª 7HP DQRV p SUH-


ciso ter uma mentalidade extraordinária, para além de talento. Fiquei sem reação. O miúdo não tinha qualquer complexo em relação a Ronaldo! Chegou-se a agosto de 2002 — e na noite de 14 deu-se a estreia de Cristiano Ronaldo pela SULPHLUD HTXLSD GR 6SRUWLQJ HP MRJRV R¿FLDLV ² FRQWUD R ,QWHU R ,QWHU GH +pFWRU &~SHU TXH Mi QmR FRQWRX FRP 5RQDOGR R 1D]iULR GH /LPD SRUTXH R 5HDO 0DGULG HVWDYD D OHYi OR GH 0LOmR D WURFR GH PLOK}HV GH HXURV PDV FRQWDYD SRU H[HPSOR FRP 7ROGR 0DWHUD]]L 9LHUL H 6pUJLR &RQFHLomR 2 GHVD¿R IRL QD SUp HOLPLQDWyULD GD /LJD GRV &DPSH}HV ² H KDYHQGR /DV]OR %RORQL DFKRX TXH R 6SRUWLQJ SUHFLVDYD GH YHORFLGDGH H LPSUHYLVLELOLGDGH 3DUD OKD GDU ODQoRX R DRV PLQXWRV SDUD R OXJDU GH 7RxLWR — Não, não tinha dúvidas do que iria acontecer, apesar de haver, nessa altura, uma coisa no Ronaldo que me punha os cabelos em pé: tive de lutar contra o facto de ele estar permanentemente a exagerar, não parava de fazer coisas H[WUDYDJDQWHV DEXVDYD QD ¿QWD H QRV GULEOHV mas a ele eu perdoava tudo, corrigia e deu no que se sabe... D¿UPRX R %RORQL j France Football DQRV YROYLGRV DR SDVVDU IXJD] SRU VHOHFLRQDGRU GH ,WiOLD /XLJL 'L %LDJLR UHYHOi OR LD GHOLFLDGR ² 1R ¿P GHVVH 6SRUWLQJ ,QWHU YHLR PXLWR Wtmido, pedir-me para trocar a camisola com ele. Tinha prometido fazê-lo com o Barbosa, mas não podia dizer não a uma criança e por isso KRMH WHQKR HP FDVD XPD UHOtTXLD D FDPLVROD GH um Bola de Ouro, de um Bota de Ouro…

1HVVHV PLQXWRV HP FDPSR FRQWUD R ,QWHU &ULVWLDQR 5RQDOGR WLQKD QDV EDQFDGDV GH $OYDODGH D Yr OR -RVp 'LQLV H 0DULD 'RORUHV RV SDLV H &iWLD D LUPm TXH SRU HVVD DOWXUD DLQGD VH WUDWDYD SRU /LOLDQD ² H QR GLD VHJXLQWH SRU XP RX RXWUR MRUQDO D ~QLFD FUtWLFD TXH VH OKH YLX IRL ©R H[DJHUR QRV GULEOHV H QR FRQIURQWR LQGLYLGXDOª &RQ¿GrQFLD VXUSUHHQGHQWH IRL D TXH 7RQ\ 9DLrelles soltou ao 6R )RRW TXH FRUWHMDGR SRU /D]OR %RORQL TXH FRP HOH VH FUX]DUD QR 5HQQHV HVWLYHUD FRP XP Sp QR 6SRUWLQJ SDUD TXH UHVROYHVVH SUREOHPD DEHUWR SHOD OHVmR JUDYH TXH 0DULXV 1LFXODH VRIUHUD ² 2 /\RQ TXHULD D WUDQVIHUrQFLD PDV R 6SRUting não tinha dinheiro e por isso propôs uma troca: dois jogadores por mim, um deles chamava-se… Cristiano Ronaldo, o Olympique Lyonnais recusou e não demorou muito a arrepender-se… 2 RXWUR MRJDGRU TXH R /\RQ SHUGHX HUD 5LFDUGR 4XDUHVPD

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 27


O vídeo com os lances que irritaram Boloni, a aposta do advogado por causa de Eusébio, golo como se fosse «namorado da Angelina Jolie» e o desmaio de Dolores Arrancou a Liga 2002/03 com vitória (por 2-0) do Sporting em Coimbra, Laszlo Boloni não o utilizou — e também não o utilizou nos 2-1 ao Santa Clara. Fora da equipa continuou Ronaldo no desconcerto que foi a derrota em Paços de Ferreira (por 4-0) e no 0-0 do Varzim em Alvalade. De desconsolo voltou a ser a quinta jornada, derrota em Braga por 4-2 — e esse era já o resultado quando, aos 68 minutos, entrou para o lugar de Niculae. Oito dias depois, a 7 de outubro de 2002, Boloni DEULX HQ¿P GH QRYR D HTXLSD D -DUGHO ² H D HOH deu-lhe, pela primeira vez, a titularidade em jogo de campeonato. Aos 29 minutos Kutuzov fez 1-0, aos 33 Cristiano fez o 2-0, havendo de se lhe apanhar, depois, a revelação: — Era tanta a emoção que, depois do golo, tirei a camisola e andei com ela a rodopiar pelo ar, só o Jardel me agarrou. Naquela altura só pensava no Sporting, queria jogar. Pensar que não muito tempo depois poderia estar a caminho do Manchester United era perfeita utopia, quase como sonhar em ser namorado de Angelina Jolie. Outro grande momento foi quando joguei no estádio do BoavisWD HQWUHL DRV PLQXWRV H D XP PLQXWR GR ¿P recebi passe do Carlos Martins e marquei o golo da vitória por 2-1. 2 JROR D -RmR 5LFDUGR JXDUGD UHGHV GR 0RUHLrense, pôs o narrador da SportTV em clamor:

— Monumental, magistral, incrível — todos os adjetivos são inúteis para ilustrar um grande golo deste jovem prodígio do Sporting. Cristiano Ronaldo recebera a bola do calcanhar GH 7RxLWR HP GXDV ¿QWDV HVWRQWHDQWHV GHL[RX GRLV defesas pelo caminho por entre o slalom de 60 metros e, antes do toque subtil, ainda se lhe viu drible em ziguezague. Com a bola no fundo das redes e o ¿OKR D JDORSH DWUiV GD VXD HXIRULD 'RORUHV $YHLUR desmaiou (na bancada de Alvalade). Tinha 17 anos, 8 meses e 2 dias — e passou a ser o mais jovem jogador do Sporting a marcar um golo (aliás, foram dois nessa noite) para o campeonato. -RVp 'LQLV R SDL HVWDYD QR )XQFKDO D RXYLU R UHlato de rádio colado ao ouvido — e no dia seguinte cirandou pela cidade a mostrar aos amigos o que se dizia do seu Ronaldo por todos os jornais. Ao minuto 90, num golpe de cabeça, fechou o placard do 6SRUWLQJ 0RUHLUHQVH HP ² H QmR WDUGRX TXH QD Gazzetta dello Sport se falasse de si como o «novo Ronaldo». Pedindo-lhe comentário à comparação com Nazário de Lima, que pouco antes assinara SHOR 5HDO 0DGULG &ULVWLDQR GHX R HPEUXOKDGR HP humildade: — Nem me atrevo a comparar-me. Ronaldo é craque, é o número 1 do Mundo, é o meu jogador preferido de agora… 2 IXOJRU FRQWUD R 0RUHLUHQVH QmR OKH PDQWHYH ¿UPH D WLWXODULGDGH QD HTXLSD SULQFLSDO QHP R JROR ao Boavista que deu vitória ao Sporting, quinze dias depois) — a razão de andar a saltitar entre o 11 e o banco revelou-a assim Laszlo Boloni: — Penso que tive o mérito de compreender mui-

28 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo


Cristiano Ronaldo melhorou, Boloni reconheceu-o: — 2 PHX GHVD¿R HUD SRLV HYLWDU OKH RV H[FHVsos, sem, contudo, o castrar. Era um trabalho delicado porque matar o melhor que ele tinha — o drible — poderia ser um grande erro da minha parte. A Liga de 2002/03 fechou-a com 25 jogos (golos foram três, dois ao Moreirense e um ao Boavista) — e entre as três participações na Taça de Portugal, a última foi-lhe bem amarga — naquele dia de maio de 2003, em que a Naval 1.º de Maio foi a Alvalade eliminar o Sporting. Contudo, inabalável, estava a certeza em Boloni:

to bem Ronaldo, numa fase importante para a sua carreira, para o seu futuro. Era, claro, um jogador fantástico, com muito, muito, muito talento — e quando se tem tanto talento o principal perigo é não saber controlá-lo, cair-se no exagero. Por isso fui muito severo com ele. Algumas vezes, devido aos seus excessos no campo, não aceitei a sorrir, como tanta gente, todas as suas exibições. Essa sua terapia de choque teve peripécia insólita: vendo-o num dos jogos a fazer três ou quatro pedaladas diante do adversário, em lugar de centrar, OHVWR D EROD %RORQL H[DVSHURX VH ² H QR ¿QDO GD partida, pediu a Carlos Bruno, seu assistente técnico, que colocasse num vídeo o malabarismo que ele fez mais algumas vezes. No dia seguinte, pegou nele vídeo e mostrou-lho de cara fechada: — Achas que é isto que deves fazer? Se voltares a fazê-lo nem para o banco vais…

— O trabalho para o afastar da tentação para o excesso foi diário, feito de muita conversa, em todos os treinos — e acreditem, o Ronaldo aprendia tudo muito depressa, era bastante inteligente. Aliás, não precisei de muito para perceber onde chegaria. Ao contrário do Quaresma, jogava bem de cabeça, jogava com o pé esquerdo e tinha, sobretudo, uma vontade enorme de conseguir sempre mais e mais e mais — e, por isso, disse o que disse aos jornais: que não tinha dúvidas de que o Ronaldo iria fazer esquecer Eusébio e Figo… Ao ouvi-lo, Fernando Seara, que era advogado de Laszlo Boloni, correu a mostrar-lhe preocupação: — Disse-me que, em Portugal, havia duas coisas VDJUDGDV D $PiOLD H R (XVpELR H TXH DR D¿UPDU R TXH D¿UPDUD LULD ¿FDU FRP R 3DtV LQWHLUR FRQWUD PLP 1mR QmR PH LPSRUWHL ² H ¿] PDLV ¿] DSRVWD com o dr. Seara como era mesmo o que iria acontecer. Apostei uma taça de champanhe…

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 29


Mendes fugiu do hospital para não perder Ferguson e com Ronaldo escondido na bomba de gasolina, Wenger perdeu-o… Espantoso foi ao longo de todos os jogos do Torneio de Toulon de 2003 — e ainda mais espantoso foi o que aconteceu na distribuição dos prémios aos melhores jogadores: MVP foi Javier Mascherano e j IUHQWH GH &ULVWLDQR 5RQDOGR DLQGD ¿FRX 5DXO 0HLreles. Não, não se amargurou, contudo: — Ganhar o prémio de melhor jogador não é o mais importante, importante foi Portugal ter conseguido o seu objetivo: sermos campeões. O Valência acenou-lhe com 3 milhões de euros, Gérard Houllier que, sem se resignar, estivera em Toulon a vê-lo, voltou à carga, convencendo os dirigentes do Liverpool a contratá-lo, mesmo que, para isso, tivessem de gastar 7,5 milhões de euros — e Carlos Freitas, então diretor desportivo do SporWLQJ GHVYHORX R QD ELRJUD¿D GH -RUJH 0HQGHV — Tive negociações com a Juventus, chegámos a acordo para o transferir, mas uma das peças da negociação era Marcelo Salas, que se recusou a vir a Lisboa. Também sei que o Jorge teve uma oferta de 8 milhões de euros, quatro para ele, quatro para o Cristiano, para ser inscrito no 3DUPD DR ¿P GH XP DQR H WDPEpP UHFXVRX 2 Arsenal apresentou-nos uma outra proposta interessante. Todos os grandes o queriam. Arsène Wenger tentou, sorrateiro, jogada atra-

30 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

vés do coração: descobrindo que um dos ídolos de Ronaldo era Thierry Henry convidou-o a visitar o Arsenal, conhecer o Henry — e Ronaldo contou-o em -RUJH 0HQGHV ² 2 $JHQWH (VSHFLDO: — Tínhamos várias ofertas de alguns clubes e tive de viajar para Madrid, com o Sérgio Alves, para ir a Londres ver as instalações do Arsenal. Íamos de carro e o Jorge ligava-me constantemente para que as pessoas não me vissem. Parámos numa área de serviço para meter gasolina e eu tinha de levar D FDUD WDSDGD 7LQKD GH HVWDU HVFRQGLGR 2 -RUJH ligava-me de cinco em cinco minutos. «Cuidado, FXLGDGR FRP DV SHVVRDV ª 2 -RUJH HVWDYD ORXFR IRUDP RV GLDV PDLV ORXFRV GR -RUJH ( FRQWLQXDYD D ligar-nos, a mim e ao Sérgio, para se assegurar de que ninguém me vira na autoestrada. Não, ninguém o descobriu, mas faltou o fundamental, assinar pelo Arsenal — e Wenger não o esconderia: ² )RL R PDLRU HUUR GD PLQKD YLGD (VWLYH WmR perto de o contratar, falhei, deixei que fosse para o Manchester United. Num ápice se veria, 7,5 milhões de euros era pouco, muito mais seria preciso para o levar do Sporting para o que já se percebera, a eternidade — e para Jorge Mendes a questão foi mesmo essa, uma questão de cifrão: — Houve um momento em que pensei que o Ronaldo iria mesmo para o Arsenal, mas com a FRQVWUXomR GR VHX HVWiGLR HOHV ¿FDUDP VHP GLnheiro e foi impossível... Foi amachucado (mas feliz pelo destino…) que


Jorge Mendes teve o primeiro contacto com Alex Ferguson. A história que poderia ter sido trágica está FRQWDGD QD ELRJUD¿D TXH 0LJXHO &XHVWD H -RQDWKDQ Sánchez lhe escreveram. Depois de ter colaborado com Pedro Bravo na preparação da transferência de Ricardo López para o Manchester United, lançou-se no seu Porsche, de Madrid para o Porto, com Sandra, a mulher, a seu lado — e à beira de Vilar Formoso sofreu acidente que Mendes recordou assim: — Foi uma coisa impressionante, um milagre, um milagre. Ia pela autoestrada, muito depressa, quando dou com um camião à minha frente… Do camião soltou-se um dos eixos em direção ao seu automóvel: — Tive de fazer muita força para aguentar o FDUUR GRLV SQHXV GHV¿]HUDP VH H TXDQGR VDt YL que tinha a cara cheia de sangue. Fora o airbag que, salvando-o, o ferira: — Fiquei sem pele alguma na orelha e tinha um golpe, golpe profundo. E reparei no eixo do camião incrustado na traseira do meu carro. Num ápice chegaram os primeiros socorros, Jorge Mendes tentou que não o levassem para o hospital — dizendo-lhes que não tinha tempo, teria de estar em Manchester no dia seguinte, pensando de si para si: — Não posso perder aquela operação, não posso perder o primeiro contacto com Alex Ferguson. Do tempo no hospital se livrou — e, combalido, lançou-se a caminho do Porto:

² 1mR WLQKD SHOH HUD XPD FRLVD KRUUtYHO 7LYH de parar numa farmácia e comprar compressas e estava constantemente a mudá-las. Gastei três ou quatro embalagens. Por pouco não perdeu o avião para Manchester — e, em Jorge Mendes — O Agente Especial, também o recordou: — $ FDGD WULQWD VHJXQGRV VHQWLD OtTXLGR D HVcorrer pela orelha e tapava tudo com as compressas. Em cima disso tive de fazer escala e passei muito mal nessa noite. Tive febre e os médicos diziam-me para ter cuidado porque era uma zona que não é muito irrigada e que poderia ter problema grave. Mas eu estava obcecado, nada me poderia afastar dessa reunião. Passei toda a reunião de lado, para que não olhassem para mim. Era uma vergonha porque a orelha estava totalmente em carne viva. Foi a primeira vez que vi Ferguson e devem ter pensado: Que tipo esquisito, este… Mas como ninguém me conhecia… devem ter julgado que eu era o motorista! Meses após o segundo contacto de Jorge Mendes com Alex Ferguson foi já para marcar a história, a história do futebol — e que levou a que, HVSLULWXRVR &ULVWLDQR 5RQDOGR R VXJHULVVH QDV SiJLQDV GR OLYUR GH &XHVWD H 6iQFKH] — Ao seu livro eu chamaria O Milagreiro Jorge Mendes. Sabem o que é um milagreiro? É o que faz milagres com os jogadores. O milagre que fez comigo foi pôr-me no Manchester United. Porque eu era muito jovem, jogava no Sporting e menos de um ano depois estava no Manchester.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 31


Por causa do que fez contra o Manchester, O’Shea acabou a noite com uma enxaqueca e Cristiano Ronaldo ficou com o 7 que fora de Best e de Beckham Ao chegar a Manchester para se tornar adjunto de Alex Ferguson, Carlos Queiroz não perdera instante a largar o alerta: — Sir, temos de pôr o olho num jovem do Sporting! Ferguson questionou: — Qual deles? Já sei que têm lá dois ou três interessantes… e a resposta de Queiroz soltou-se sem pestanejo:

-no a avançado centro, mas acho que ele é extremo e não, não podemos esperar muito tempo, não tardarão a surgir grandes ofertas por ele… Tudo isso revelou Alex Ferguson na sua autoELRJUD¿D MXQWDQGR OKH — Então avançámos com o nome do rapaz-maravilha numa conversa com o Sporting. Responderam-nos que pretendiam mantê-lo por mais dois anos. Sugeri um compromisso que o mantivesse no Sporting durante esse período de tempo antes de o levarmos para Inglaterra. Mas ainda não tínhamos falado com o empresário nem com o jogador. Era só uma conversa entre clubes. Nesse verão, o Carlos foi para treinador princiSDO GR 5HDO 0DGULG H QyV ¿]HPRV XPD GLJUHVVmR pela América. Parte do nosso acordo acertara que jogaríamos com o Sporting no seu novo estádio, construído para o Euro-2004 — e fomos. A inauguração do Alvalade XXI foi na noite de 6 de agosto de 2003 — e não foi preciso esperar muitos anos para que de Fernando Santos se escutasse:

— Ronaldo! Com o Sporting, o United celebrara acordo de intercâmbio e face à insistência (e o fervor que Queiroz punha nela), Ferguson mandou Jim Ryan a Lisboa observar com mais atenção os treinos do Sporting — ou melhor, o Cristiano. No regresso a Manchester, o que levava era ainda mais encanto, o encanto que espalhou na frase com que resumiu a missão que lhe coubera: — Uau! Vi um tremendo jogador, Sir! Usam-

32 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— Tive a felicidade de ter sido o último treinador do Cristiano em Portugal e a infelicidade de pô-lo a jogar com o Manchester. Aos 25 minutos, Luís Filipe fez 1-0. João Pinto marcou aos 61 e aos 80 — e o 3-1 com que se fechou o placard surgiu a três minutos do fim através de golo de Hugo na própria baliza. Marcante, no entanto, fora o que sucedera antes e o treinador do Manchester United recordou em Alex Ferguson — A Minha Autobiografia:


— John O’Shea era o nosso defesa-direito. O primeiro passe que Ronaldo recebeu fez-me griWDU ©3RU DPRU GH 'HXV -RKQ ¿FD MXQWR GHOH ª John encolheu os ombros. Um olhar magoado de desorientação espalhou-se pela sua cara. 2V RXWURV MRJDGRUHV QR EDQFR GH VXSOHQWHV GL]LDP ©&¶RV GLDERV FKHIH 4XH MRJDGRU TXH HOH p ª 5HVSRQGL ©(VWi WXGR EHP 7HPR OR FRQWURODGRª &RPR VH R QHJyFLR Mi HVWLYHVVH IHLWR Ki

dez anos. Disse ao nosso roupeiro, Albert: «Vai ao camarote presidencial e diz ao Peter Kenyon SDUD YLU Fi DEDL[R DR LQWHUYDORª ( DSHUWHL FRP R 3HWHU ©1mR YDPRV VDLU GR HVWiGLR VHP FRQWUDWDU R UDSD]ª ©e DVVLP WmR ERP"ª SHUJXQWRX HOH ©-RKQ 2¶6KHD WHUPLQRX R MRJR FRP XPD HQ[DTXHFDª UHVSRQGL ©$VVLQD FRP HOH Mi 2X VHMD D LGHLD GH R GHL[DU ¿FDU PDLV DOJXP

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 33


WHPSR HP $OYDODGH GHV¿]HUD VH QR VRUWLOpJLR GRV SpV GH &ULVWLDQR 5RQDOGR ² H PDO 'XDUWH *RPHV GHX R MRJR SRU WHUPLQDGR 3HWHU .HQ\RQ SUHFL SLWRX VH j FRQYHUVD FRP GLUHWRUHV GR 6SRUWLQJ GL]HQGR OKHV

que agarremos já este miúdo!». H SRU LVVR QR ¿QDO GR MRJR FRP R 6SRUWLQJ VHP R GLVIDUoDU ODUJRX R HQWXVLDVPR D Sir )HUJXVRQ — Vamos levá-lo, não vamos?!

² Queremos levar o rapaz connosco, e já! 'HVFREULQGR TXH R 5HDO 0DGULG GH &DUORV 4XHLUR] HVWDYD GLVSRVWR D GDU PLOK}HV GH HX URV SRU 5RQDOGR )HUJXVRQ D¿UPRX D .HQ\RQ — Oferece-lhes mais! &RP -RUJH 0HQGHV H &ULVWLDQR 5RQDOGR D MXQ WDUHP VH OKH QXPD VDOHWD GR LQWHULRU GR HVWiGLR GH $OYDODGH ²)HUJXVRQ D¿DQoRX OKH — Não vais jogar todas as semanas, aviso-te já, mas tornar-te-ás jogador de primeira equipa, depressa. Não tenhas dúvidas sobre isso. Tens 18 anos, precisarás apenas de te adaptar a nós e nós vamos tomar conta de ti. 2XYLQGR R 0HQGHV SHQVRX GH VL SDUD VL IHOL] H VHP G~YLGDV GR IXWXUR TXH R HVSHUDYD — É mesmo isso que eu quero para o Cristiano. Se um jogador é jovem, tem capacidade e é melhor do que os outros, ponham-no a jogar, apesar da idade, ou pelo menos comecem a pô-lo… $LQGD QHVVD VXD HVWRQWHDQWH QRLWH GH $OYDODGH KDYHULD GH VH DSDQKDU D H[FODPDomR GH 5LR )HU GLQDQG — Tínhamos perdido a hipótese de contratar Ronaldinho Gaúcho e eu só pensava: «Espero

34 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

&RP R QHJyFLR IHFKDGR HP PLOK}HV GH HXURV $OH[ )HUJXVRQ LPDJLQRX VH FRPR VH HVWL YHVVH GHQWUR GH XP ¿OPH TXH YLUD QRLWHV DQWHV — « &DQLQRV %UDQFRV, baseado no livro de Jack London, sobre a descida de Klondike em busca de ouro. É disso que se trata também na vida de um prospetor: está a assistir a um jogo e vê um George Best, um Ryan Giggs ou um Bobby Charlton. Foi o que eu senti, nessa noite, em Lisboa, com o Cristiano Ronaldo. Uma revelação. Uma grande vaga de entusiasmo, de antecipação… 2 UHJUHVVR GR 8QLWHG D 0DQFKHVWHU IH] VH QXP DYLmR TXH HUD SURSULHGDGH GRV 'DOODV &RZER\V ² H QR GLD VHJXLQWH 5RQDOGR DWHUURX HP ,QJODWHUUD QXP MDFWR DOXJDGR SDUD R OHYDU 2 Q~PHUR TXH XVDYD QR 6SRUWLQJ HUD R TXH TXHULD WDPEpP QR 8QLWHG ² H HP SUHPRQLWyULR VLQDO GR TXH HVSH UDYD TXH IRVVH R VHX GHVWLQR $OH[ )HUJXVRQ GHX OKH R R TXH HUD GH 'DYLG %HFNKDP H DQWHV IRUD GH *HRUJH %HVW GH (ULF &DQWRQD GH %U\DQ 5REVRQ ² DUUDVWDQGR R DR GHVDEDIR TXH MRUQDOLV WDV HP PDJRWH OKH DSDQKDUDP — Ficaria muito orgulhoso se um dia me colocassem ao mesmo nível de Best ou de Beckham. É para isso que vou trabalhar. A camisola 7 é uma grande honra e uma responsabilidade ainda maior — e só espero que, então, me traga sorte, muita sorte.


Jordana, a irmã de Jardel, incendiou tabloide ao falar de Victoria (e o que Eusébio e Figo disseram do seu futuro) No Sporting ganhava 1500 euros por mês, no Manchester United passou a ganhar 200 mil. Ao descobrirem que namorava com Jordana Ribeiro (irmã de Mário Jardel, já então no Bolton) — os tabloides ingleses desataram em rebuliço na ideia de os compararem, no seu romance, ao que era a azáfama em torno de David e Victoria Beckham (que se tinham mudado para Madrid) — e polémica foi a forma como, em remoque, Jordana surgiu a afastar semelhanças e comparações:

tem esse talento. E falando de futebol, Cristiano é muito melhor jogador que o Beckham, com o seu talento natural puro… Fora a uma quinta-feira que Cristiano Ronaldo chegara a Manchester. Depois dos exames médicos e da assinatura de contrato, Alex Ferguson exclamou-lhe: — Até amanhã, em Carrington! O dito surpreendeu-o, achava que voltaria a Lisboa, no voo seguinte — e sussurrou para Jorge Mendes: — Nem sequer tenho roupa! Ferguson não se desarmou:

— Não queria ser parecida com ela. Victoria é bonita mas parece um pouco anorética e isso não é atraente, pelo menos para os homens portugueses e brasileiros. Gosto de música, mas não tenho nada das Spice Girls na minha coleção. Acho até que não se deve cantar quando não se

— Não te preocupes, treinas e, depois sim, vais a Lisboa buscar o que precisares. Nesse dia, Paddy Crerand, o capitão daquele Manchester United que o Sporting afastara da Taça das Taças de 1963/64, com 5-0 em Alvalade, e que, quatro anos depois, levantou a Taça GRV &DPSH}HV JDQKD DR %HQ¿FD HVWDYD FRPR FRmentador na TV do clube e revelou: — Quando o vi chegar, pensei que Cristiano Ronaldo não era feito para o Manchester United. Sabia que era bom jogador, mas tinha pinta GH ERQHFR $ VXD EHOD ¿JXUD QmR PH GL]LD QDGD de bom. Para a minha equipa, eu preferia os guerreiros, os duros. Crerand não demorou a desenganar-se. Eusébio não perdeu tempo no vaticínio certeiro:

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 35


chester United, sucedeu o que Dolores Aveiro revelou a Anabela Mota Ribeiro: — Mandou-me escolher uma casa. Para comprar a casa à mãe, como tinha prometido em pequeno. Não foi escolhida por mim, foram as miQKDV ¿OKDV TXH DQGDUDP YHQGR 7HQKR XPD ERD vista, mas não pensei nisso. Pensei num bom conforto. O conforto era ter casa de banho com chuveiro, que não tinha. Na casa onde vivia era preciso aquecer a água no fogão e tomar banho numa banheira.

— Apesar da idade que tem, Ronaldo já não é apenas um futebolista promissor, já está à espera de ser o que vai ser: um ícone. Vai melhorar qualquer equipa em qualquer campeonato. Luís Figo, estrela a fulgir no Real, foi ainda mais exuberante no seu alvitre (e também não falhou): ² &ULVWLDQR 5RQDOGR p VX¿FLHQWHPHQWH ERP para envergonhar os defesas ingleses e penso que terá técnica em demasia para grande parte deles. Ele é capaz de fazer aquilo que quiser enquanto futebolista. Há coisas que ele faz com a bola que me fazem levar as mãos à cabeça e a pensar como é possível... (Essas opiniões aparecem sublinhadas por Tom Oldfield em Cristiano Ronaldo — A Verdadeira História do Melhor Futebolista do Planeta). Logo que colheu o primeiro ordenado do Man-

36 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

Por cerca de 630 mil euros, Cristiano Ronaldo compraria, também, apartamento em Alderley Edge — no condomínio privado onde David Beckham habitara. Não longe viviam Alex Ferguson e Rio Ferdinand. Rogério Azevedo fez-lhe a primeira grande reportagem em A BOLA, como jogador do Manchester United — antes de se estrear na Seleção de Portugal, frente ao Cazaquistão: — Pois é, em julho do ano passado, com 17 anos, estava na expectativa de jogar na equipa secundária do Sporting, ou na principal. Agora estou na maior equipa do Mundo. Parece um sonho e, por vezes, quando me deito na cama para dormir, ainda me pergunto se tudo isto é mesmo verdade. Desde muito cedo que eu só pensava em jogar futebol, andava sempre com uma bola debaixo do braço, à espera de que os meus amigos chegassem. De manhã até à noite só queria jogar à bola. E se não houvesse bolas, jogava com o que aparecesse, garrafas ou pedras. Andei pelo Andorinha, em campos pelados, pequenos e cheios de buracos — e agora estou no Manchester…


No primeiro jogo pelo Manchester, ‘Man of the Match’ (com garrafa de champanhe) por entre Tyson, Maradona (e mais…) Alex Ferguson não o atirara a jogo na disputa da FA Community Shield (a Supertaça Inglesa) que o Manchester venceu — mas na primeira jornada da Premier League, contra o Bolton (que só não teve Mário Jardel em campo porque o Sporting se atrasaUD D HQYLDU OKH R FHUWL¿FDGR LQWHUQDFLRQDO ODQoRX R D PHLD KRUD GR ¿P +DYLD DFDERX ² FRP Ronaldo a desconcertar por várias vezes defesas adversários, fez duas assistências para golo, provocou SHQiOWL TXH 9DQ 1LVWHOURR\ GHVSHUGLoRX /DUJRX D UHOYD FRP DV EDQFDGDV HP IHUYRU D DSODXGL OR HOHLWR Man of the Match, o treinador reconheceu-o: — Parece que os nossos fãs têm um novo herói. Foi um começo maravilhoso, quase inacreditável, de Cristiano Ronaldo. Mas temos de ser cuidadosos com o rapaz, temos de ser cautelosos com a sua utilização. Ronaldo sentiu-se nas nuvens: — Joguei 30 minutos, fui o homem do jogo, recebi a garrafa de champanhe com 67 mil adeptos a gritarem o meu nome. Tudo aquilo assim, de um dia para o outro… Ao chegar a Manchester ainda me passara pela cabeça que o ManchesWHU SXGHVVH VHU D¿QDO Vy SDUD D pSRFD VHJXLQWH que depois de assinar pelo United pudesse voltar ao Sporting, emprestado.

1D VXD DXWRELRJUD¿D $OH[ )HUJXVRQ DLQGD PDLV recordou desse dia, entusiástico (e encomiástico): — Os defesas do Bolton acabaram de rastos. Logo nos primeiros momentos, o defesa-direito carregou-o no meio-campo, tirou-lhe a bola, mas Cristiano levantou-se num instante e pediu novo passe. De imediato: «Bom, ele tem-nos no sítio, seja como for», pensei. No minuto seguinte, sofreu falta, ganhou o penálti que Van Nistelrooy falhou. Depois, por alta recreação, fugiu para o lado direito e tirou dois cruzamentos soberbos. Um foi para Scholes que deu a bola a Van Nistelrooy, o remate deste foi desviado pelo guarda-redes e Giggs, na recarga, fez o segundo golo. A multidão, nesse lado do campo, reagiu como se ele fosse um messias materializando-se bem na VXD IUHQWH 2 S~EOLFR GH 2OG 7UD̆RUG HOHJH KHUyLV FRP UDSLGH] 9HHP DOJXpP TXH OKHV FDL QR JRWR e adotam-no de imediato. Ronaldo foi o jogador que teve maior impacto nos adeptos do Manchester United, desde Eric Cantona. Nunca chegou ao nível de idolatria que envolveu Cantona, porque (ULF WLQKD DTXHOH FDULVPD GHVD¿DGRU PDV R VHX talento foi instantaneamente visível. A Rogério Azevedo voltou Ronaldo a falar de Beckham e do 7 que lhe marcava já o destino (e HP QDGD R SUHRFXSDYD ² EHP SHOR FRQWUiULR ² %HFNKDP p XP GRV PHOKRUHV MRJDGRUHV GR Mundo, talvez aquele que melhor cruza, talvez aquele que melhor marca livres diretos, mas LVVR QmR VLJQL¿FD TXH HX WHQKD GH YLYHU FRP HVVH fantasma no tempo em que estiver no seu antigo FOXEH %HFNKDP p %HFNKDP HX VRX HX %HFNKDP p XP GRV PHOKRUHV MRJDGRUHV GR 0XQGR H HX sou, ainda, apenas, um jovem à procura do seu

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 37


caminho e do seu espaço. Por isso, pode crer: o número 7 não me pesa nas costas, aliás nenhum número me pesa. Mas é claro que o 7 é especial, não sou burro para não o reconhecer. Era de Beckham no Manchester United e na seleção portuguesa é de Figo. Isso diz quase tudo...

Estilo de música:

IJ IFS«F Prato preferido:

GFHFQMFZ ¤ 'W¥X Bebida:

8FSYFQ Cor:

Essa reportagem de A BOLA com Cristiano Ronaldo fechou-se com um quiz (a revelá-lo, para além do seu já incontornável fulgor, pelo seu lado PDLV OXQDU ² H ¿FRX DVVLP

GWFSHT Religião:

SJSMZRF Que levaria para uma ilha deserta:

ZRF GTQF Personalidade com quem gostaria de jantar:

Defeito principal:

Mike Tyson Ídolos da atualidade:

XJW YJNRTXT J UWJTHZUFW RJ HTR HTNXFX NSXNLSNȁHFSYJX

Ronaldo e Thierry Henry

Principal virtude:

Que faz antes de entrar em campo:

XJW FQJLWJ

&LFWWT ST HWZHNȁ]T VZJ YJSMT FT UJXHT«T J ITZ QMJ YW®X GJNOTX

Que queria ser quando era criança:

Amuleto:

Último CD que comprou:

ZR HWZHNȁ]T Ídolo de infância:

Almas del Silencio, IJ 7NHP^ 2FWYNS

Maradona

Filme favorito:

OTLFITW IJ KZYJGTQ

+NLT J /T§T 5NSYT

8J]YT 8JSYNIT [Sixth Sense] e O Rochedo [The Rock]

Maior amigo na seleção:

Ator favorito:

7NHFWIT 6ZFWJXRF

/JFS (QFZIJ [FS )FRRJ

Vício:

Atriz favorita:

KF_JW ȂJ]¹JX

&SLJQNSF /TQNJ

Que pecado não perdoa:

Anjo de Charlie favorito:

F YWFNǤT

)WJ\ 'FWW^RTWJ

Cidade preferida:

Que carro guia:

+ZSHMFQ

FLTWF SJSMZR

Tempos livres:

Carro de sonho:

passear, ir ao cinema, ouvir música J UTW [J_JX JXYFW XT_NSMT

Porsche Carrera 4, &XYTS 2FWYNS +JWWFWN

Jogadores portugueses de que mais gosta:

38 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo


De palhaço no balneário (e imitador de Queiroz) à recusa em apertarem-lhe a mão por acharem que não se conseguia manter em pé A estreia de Cristiano Ronaldo pela seleção principal de Portugal foi a 20 de agosto de 2003 (quatro dias após a sua estreia pelo Manchester United). Entrou (com o 16 nas costas da camisola branca) após o intervalo para o lugar de Luís Figo — na noite da exibição sombria da equipa de Luiz Felipe Scolari (que também deu a primeira internacionalização a Bruno Vale, o guarda-redes suplente do FC Porto que levara à equipa por a ter fechado, em alta polémica, a polémica que se sabe, a Vítor Baía…) em Chaves, na vitória por 1-0, com golo de Simão Sabrosa. Três dias depois, foi o Manchester United a Newcastle e Grégory Nowak, jornalista do Canal Plus, recordou-o: — Estava a comentar o jogo, em St. James Park, em que Cristiano Ronaldo não jogou mais do que 15 minutos, mas já tinha muita gente à sua volta, muitos jornalistas… Uma verdadeira multidão mediática. Nos jornais ingleses perguntava-se quem seria aquele miúdo que Ferguson comprara por 18 milhões. Os media britânicos falavam muito da transferência, era a atração principal do começo da época, um jovem que ninguém conhecia — mas, nessa altura, a imagem que soltava de si nem sequer era muito boa, um jogador demasiaGR LQGLYLGXDOLVWD REFHFDGR SHOD LGHLD GH ¿QWDU H que saturava um pouco toda a gente com as suas

VLPXODo}HV 2 UDSD] QmR VH FDQVDYD GH ¿QWDU H LD quase sempre contra os defesas contrários, mas via-se que tinha talento, um raro talento. Aliás, por ocasião de jogo com o Wolverhampton, FerJXVRQ FDLX OKH HP FLPD IDUWR GH WDQWD ¿QWD 5Rnaldo não gostou e respondeu-lhe. Mostrou, assim, o seu caráter, a sua personalidade. Em Old 7UD̆RUG DVVLP TXH WRFDYD QD EROD KDYLD ORJR DVsobios dos espectadores, toda a gente perguntava o que ele ia fazer a seguir… Robert Pires (o francês de sangue português que estava, então, no Arsenal) também se mostrou descrente do futuro que o esperava (e, tal como todos os demais, não tardou a perceber o logro do alvitre): — Achei-o demasiado caro: 18 milhões por um rapaz que quase ninguém conhecia. Eu nunca tinha ouvido falar nele, reconheço-o. Como reconheço que não esperava a sua explosão, pelo menos tão depressa. Havia uma enorme pressão, não só pela sua idade, mas sobretudo por causa do valor da sua transferência e do 7 que Alex Ferguson lhe pôs nas costas. Sim, começou por ser muito critiFDGR FRPR WRGRV RV MRJDGRUHV D¿QDO ² HP ,QJODterra não se dão brindes, mas o acompanhamento de Ferguson permitiu-lhe crescer. Ferguson acreditou nele — e Ronaldo também foi ajudado pela sua força mental, logo se viu que o rapaz não tinha PHGR JRVWDYD GH GHVD¿RV GH EDWHU UHFRUGHV Antes de saltar de Portugal para Inglaterra, Cristiano Ronaldo já o dissera, por várias vezes: — Quero ser o melhor jogador do Mundo! Logo se lhe ouvindo o brado repetido por Man-

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 39


chester, se alguns companheiros o achavam divertido, outros achavam-no arrogante. Ryan Giggs atirou-lhe, paternalista, o aviso: — Não digas nunca isso em público porque a pressão passa a ser enorme… e, por entre o esboço maroto do sorriso, Ronaldo retorquiu-lhe: — Eu posso bem com a pressão, não tenho problema nenhum com isso. A 1 de outubro deu-se o seu primeiro jogo na Champions, frente ao Estugarda. Depois de um ou outro jogo no banco, entrou a titular e foi sobre ele o penálti que Van Nistelrooy não falhou. A titular pela primeira vez na Seleção principal pô-lo Scolari contra a Albânia, 10 dias volvidos. O primeiro golo na Premier League marcou-o ao primeiro dia de novembro de 2003 a Shaka Hislop, guarda-redes do Portsmouth, que nascera em Trinidad e Tobago. Por essa altura já Diego Forlán o descobrira: — Desde o primeiro dia no Manchester que Cristiano nos chamou a atenção por estar sempre com a bola nos pés. Passava a vida a tentar inventar novos dribles, novos toques. Era explosivo. Arrancava e era difícil apanhá-lo. David Bellion, que, formado no Cannes, a Manchester chegara pela mesma altura, recordou-o a Antoine Grynbaum e Marco Martins em Cristiano Ronaldo — Orgulho, Glória e Preconceitos: — Foi a primeira vez que o United deu hipótese a dois jovens que não tinham saído do seu

40 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

centro de formação. Ele e eu éramos os palhaços do balneário, os reis da imitação. Imitávamos as vozes, mas também, e sobretudo, a atitude, a maneira de andar. Ronaldo era um fenómeno a esse nível. Imitávamos toda a gente no balneário, mas nada de maldoso. Ele imitava muito bem o Carlos Queiroz e eu o Alex Ferguson. Se achávamos que um jogador se parecia vagamente com XPD HVWUHOD FRORFiYDPRV D IRWRJUD¿D GHOH QR quadro onde estavam todas as informações para os jogadores, os horários dos treinos… Era tudo levado na brincadeira. E também nos ríamos de nós próprios. Cristiano, tal como eu, fazia-se notar pela maneira de vestir, nada à inglesa! Por vezes púnhamos creme para aquecer os músculos nos calções e apertávamos com força os laços do protetor de genitais de certos jogadores… Era um fartote. Antes dos jogos, no balneário, tamEpP GHVHQYROYtDPRV HVWUDWpJLDV GH ¿QWDV >«@ Nunca vi um jogador trabalhar tanto. Por vezes ¿FDYD QR FDPSR D SUDWLFDU ¿QWDV H PDLV ¿QWDV Ferguson gostava do tipo de comportamento dele e também gostava da aliança entre a força e a


técnica. Face a certas equipas pequenas da Premier League, Ronaldo não precisava de forçar o grande talento que tinha, mas nos treinos, em Carrington, havia grande defesas, isso permitia-lhe elevar, cada vez mais o seu nível. E Ronaldo trabalhava, trabalhava… Entretanto, outra questão em torno de si alastrou falatório — o fogacho atiçara-se após desa¿R FRQWUD R &KDUOWRQ QR UHPRTXH GH &KULV 3HUU\ seu defesa-central: — É incrível a incapacidade que Cristiano tem para se manter em pé. Quando se cai uma vez ou duas, isso é legítimo. Mas o rapaz atirou-se ao relvado cinco ou seis vezes durante o jogo e não foi admoestado pelo árbitro uma única vez. Sei que é um mau hábito estrangeiro, mas se os jornais e os fãs ¿]HUHP D SUHVVmR TXH VH OKH H[LJH WDOYH] HOH PXGH« 3RU FDXVD GR TXH DFRQWHFHUD Oi GHQWUR j VDtGD GR FDPSR YiULRV MRJDGRUHV GR &KDUOWRQ UHFXVDram apertar a mão a Ronaldo — e não tardou que Alex Ferguson saltasse em sua defesa: — Vi vídeos do jogo por mais do que uma vez e só se Cristiano tivesse a força do Atlas é que não caía ao chão. É verdade que temos notado, ao longo das últimas semanas, que jogadores esWUDQJHLURV WURX[HUDP R SUREOHPD GD VLPXODomR de faltas para Inglaterra, mas não, não acho que contra o Charlton o Cristiano tenha andado a mergulhar para a relva. $ SDUWLGD GLVSXWDUD VH QR 7KH 9DOOH\ D GH VHWHPEUR GH DFDERX FRP SDUD R 0DQFKHVWHU SRU YiULDV YH]HV MRJDGRUHV GR &KDUOWRQ R WUDYDUDP HP HQWUDGDV GXUDV H UtVSLGDV ² H R

que logo se viu também foi George Best encantaGR FRP HOH HP SHULJR j VROWD — Cristiano Ronaldo foi, sem dúvida, o homem do jogo. Espalhou magia e, em certos momentos, parecia que tinha três pernas, dada a IRUPD FRP ID]LD WDQWDV ¿QWDV 'HQLV /DZ TXH SRU FDSULFKR GR GHVWLQR HP SOHQR (VWiGLR GD /X] SDVVRX R WHVWHPXQKR H YLX Eusébio receber a Bola de Ouro, na noite em que R 0DQFKHVWHU Oi YHQFHX SRU WDPEpP VH GHL[RX DJDUUDU QXP iSLFH SHOR VHX IDVFtQLR — O que mais valorizo no Cristiano Ronaldo é que ele é um jogador que faz vibrar. Quando recebe a bola tem-se sempre a sensação de que pode acontecer alguma coisa. O mesmo acontecia com o George Best. E é por isso que vendo o Ronaldo me lembro sempre do Best, a querer fazer alguma coisa de diferente, de distinto, de fascinante.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 41


Primeiro título: a Taça de Inglaterra (com a camisola em nome do morto que era esperança) e gente a falar da «Final de Ronaldo» como se falara da «Final de Matthews»

Era já fevereiro, fevereiro de 2004 — e, para os RLWDYRV GH ¿QDO GD /LJD GRV &DPSH}HV FRXEH DR 0DQFKHVWHU 8QLWHG MRJDU FRP R )& 3RUWR 1R 'UDJmR &ULVWLDQR 5RQDOGR Vy IRL j OLoD D PLQXWRV GR ¿P RV SRUWLVWDV JDQKDUDP SRU )HUJXVRQ FXOSRX 9tWRU %DtD GD H[SXOVmR GH 5R\ .HDQH ² H -RVp 0RXULQKR GHX OKH HP UpSOLFD R TXH GHSRLV VH UHSHWLULD DPL~GH HP SLFDUGLDV H mind games): — Devia era estar triste por ver a sua equipa tão claramente dominada por um FC Porto com 10% do orçamento do Manchester United. 1D VHJXQGD PmR HP 2OG 7UD̆RUG $OH[ )HUJX-

VRQ ODQoRX 5RQDOGR D MRJR SDUD R OXJDU GH 'DUUHQ )OHWFKHU TXDQGR R 0DQFKHVWHU 8QLWHG YHQFLD SRU FRP JROR GH 3DXO 6FKROHV ² IRL DR PLQXWR H RLWR PLQXWRV GHSRLV OHVmR QR WRUQR]HOR WLURX R GR FDPSR ORJR GHSRLV &RVWLQKD IH] R JROR TXH S{V R )& 3RUWR j FRQTXLVWD GD &KDPSLRQV HP *HOVHQNLUFKHQ 1HVVD VXD SULPHLUD pSRFD QR 0DQFKHVWHU 8QLWHG WDPEpP QmR JDQKRX D 3UHPLHU /HDJXH 2 VHX IHFKR ¿]HUD VH FRP YLWyULD SRU IUHQWH DR $VWRQ 9LOOD ² H GH 5RQDOGR IRUD R SULPHLUR JROR /RJR DR SULQFtSLR GR MRJR YLUD DPDUHOR SRU ©VLPXODU XPD IDOWDª H D FLQFR PLQXWRV GR ¿QDO YLX FDUWmR YHUPHOKR SRU SRQWDSHDU VRUUDWHLUR EROD SDUD ORQJH OHYDQGR D TXH 2OG¿HOG R D¿UPDVVH — Cristiano Ronaldo tinha sido a estrela da companhia, mas acabou a sua primeira época na liga inglesa com nota negativa. Alex Ferguson não gostou, porém culpou ainda mais a atitude rude do árbitro, dizendo: «Não podemos sequer comentar aquelas decisões — é bizarro». $ VDOYDomR GD pSRFD VDLX GD 7DoD GH ,QJODWHUUD 2 RXWUR ¿QDOLVWD IRL R 0LOOZDOO ² TXH QR PHUFDGR GH DSRVWDV WLQKD DV VXDV KLSyWHVHV DYDOLDGDV HP SDUD 'LVSXWRX VH QR 0LOOHQQLXP GH &DUGL̆ DFDERX HP &ULVWLDQR 5RQDOGR DEULX R DWLYR QXP IXOJXUDQWH JROSH GH FDEHoD 5XXG YDQ 1LVWHOURR\ IH] RV RXWURV GRLV JRORV GR 0DQFKHVWHU 8QLWHG H 7RP 2OG¿HOG D¿DQoRX R — Foi, indubitavelmente, a sua melhor exibição na temporada. Alguns comentadores compararam-na com a performance de Stanley Matthews QD ¿QDO GH DR VHUYLoR GR %ODFNSRRO ² H ORJR VH GLVVH TXH WDOYH] D ¿QDO GH ¿FDVVH DSHOLGDGD GH ©)LQDO GR 5RQDOGRª FRPR D RXWUD ¿FDUD D «Final de Matthewsª

42 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo


Ao saber-se que Sven-Göran Eriksson dera o prémio de Man of The Match a Van Nistelrooy, houve quem se embasbacasse e quem se chocasse — e Oldfield escreveu-o: «O holandês, como qualquer outra pessoa, mal podia acreditar que Ronaldo não tivesse sido premiado pela sua exibição. Os críticos sugeriram que era o exemplo das capacidades de Eriksson. Depois do jogo, todas as conversas rodavam em torno de Ronaldo. Em frente a milhões de espectadores espalhados por todo o Mundo, apresentou-se com uma atitude vencedora, capaz de decidir qualquer jogo». Ferguson não se escondeu maravilhado — e Gary Neville também não: — Chegando com preço tão alto colado à cabeça e com a sua idade, Cristiano Ronaldo foi espetacular para nós nesta época. Nas bancadas do Millennium Stadium estavam José Dinis e Dolores Aveiro — e, «felizes com lágrimas», viram-no erguer a Taça de Inglaterra (o seu primeiro título) com camisola

onde se destacava um nome e um número: Davis 32. Era a homenagem a Jimmy Davis (que se soltara de sentimental ideia de Roy Keane e Gary Neville). Davis tinha 21 anos e ao decidir trazer Cristiano Ronaldo de Lisboa, Alex Ferguson decidiu emprestar Davis ao Watford: — … Para ganhar mais minutos! Na madrugada de 9 de agosto de 2003, o BMW que conduzia a alta velocidade embateu de frente num camião — e foi já morto que o retiraram dos destroços. Apesar de lhe apanharem álcool no sangue, em taxa ilegal, a causa que se deu para o acidente foi Jimmy Davis ter adormecido ao volante. Alan Hansen (que depois de ter ganho por três vezes a Taça dos Campeões no Liverpool) tornou-se icónico comentador da BBC e ainda se lhe escutou (num remoque ao que se dizia ser a sua tenWDomR SDUD D ¿QWD H R LQGLYLGXDOLVPR — Apesar de tudo, como jogador, preferia jogar contra Ronaldo do que ter Ronaldo como companheiro de equipa… E, no Independent, James Lawton atirou-lhe o conselho: — No jogo de Cristiano Ronaldo ainda há muita vaidade e o que ele precisa agora é de seguir o exemplo de Ryan Giggs e de ter cuidado com a fama, que ela não lhe suba à cabeça, não dando ouvidos a tantos elogios, aos elogios de tanta gente.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 43


Van der Sar brincou com os cosméticos no peso da mala, Rooney falou dele a olhar-se aos espelhos, Evra chamava-lhe «Christian Dior» (e no museu de cera escolheram-lhe as pernas para o futebolista perfeito) Quando, no Manchester United, se deu a Francisco Filho, brasileiro que Ferguson fora buscar a França para treinador dos sub-18 e que, depois, puxou a seu adjunto, a tutoria de Ronaldo, ele perFHEHX R SDUD DOpP GR VHX WDOHQWR HP ÀRU — O que impressionava no Cristiano era a veORFLGDGH GH H[HFXomR GDV ¿QWDV D SUHFLVmR WpFQLca do toque de bola — e ainda mais o seu espíriWR 'HSRLV GRV WUHLQRV FRQWLQXDYD D WUDEDOKDU D TXHUHU DSHUIHLoRDU VH DWUDYpV GH OLYUHV VODORPV FUX]DPHQWRV UHPDWHV« A Antoine Grynbaum e a Marco Martins, solWRX )UDQFLVFR )LOKR D FRQILGrQFLD ² 8P GLD )RUOiQ PDUFRX H WLURX D FDPLVROD mostrando assim as tabletes de chocolate. RoQDOGR YLX DV H GLVVH OKH ORJR ©+HL GH WHU DEGRminais maiores do que os teus! Seed of Speed é como se chama o site de Mick Clegg, o site RQGH 0LFN &OHJJ HVFUHYHX ² +i DSHQDV XP MRJDGRU TXH HX SRVVR GL]HU

44 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

TXH VXSHURX 5\DQ *LJJV QD GHGLFDomR DR WUDEDOKR FRP R REMHWLYR GH VHU R PHOKRU &ULVWLDQR 5RQDOGR 9L MRJDGRUHV WUHLQDUHP QR FKmR SRUTXH WLQKDP SRXFD LQIRUPDomR &RQWXGR 5RQDOGR HUD PDLV LQWHOLJHQWH WUHLQDYD QR GXUR PDV VDELD RXYLU RV HVSHFLDOLVWDV R manager RV MRJDGRUHV TXH HVWDYDP j VXD YROWD« Mick Clegg chegara ao Manchester United HP SRU WHU GRLV ILOKRV TXH Oi MRJDYDP 0Lchael e Steven Clegg — impressionantes sobretudo pelo poderio físico que revelavam. O truque, logo se percebeu, estava no trabalho que o pai fazia com eles num ginásio de Ashton-under-Lyne e essa foi a razão pela qual Rob Swire, o responsável pelo departamento de fisioterapia do clube, o desafiara para o centro de treinos de Carrington. O modo como, depois, Clegg recupera Roy Keane de complicada lesão (com ER[H H PXVFXODomR j PLVWXUD OHYRX D TXH $OH[ Ferguson e Steve McClaren o puxassem a trabalho de preparação física no plantel principal (desenvolvendo-lhes, sempre criativo nos seus métodos, a potência, a velocidade, a resistência, D IRUoD ² R P~VFXOR Não, não foi apenas o dorso de Diego Forlán a insinuar-se ondulante da camisola levantada sempre que festejava golo que CR quis imitar — Francisco Filho juntou-lhe outra revelação em &ULVWLDQR 5RQDOGR ² 2UJXOKR *OyULD H 3UHFRQceitos ² 1mR QXQFD YL 6LU $OH[ )HUJXVRQ HQHUYDU-se com o Cristiano. Cristiano compreendia o TXH R WUHLQDGRU OKH SHGLD ² H R TXH OKH SHGLD FRPHoDYD VHPSUH QD WHQWDomR GDV ILQWDV GL]LD OKH TXH QmR HUD SUHFLVR ILQWDU WDQWR TXH


aparelho posto nos dentes para os alinhar, mal aterrou em Manchester — não, não se arrependeu. E não tardaria a correr história de que a caminho de jogo para a Champions, percebendo-lhe a mala pesada, Van der Sar soltou o cochicho aos demais companheiros: — … E não cabem lá os cosméticos todos! Na sua autobiografia, Wayne Rooney também brincou com esse seu espírito:

fosse mais coletivo, que a finta nunca deixasse de ser feita no momento ideal. Quando era jovem, Giggs também provocava por intermédio da finta, no Manchester sempre houve a tradição da finta — e por isso Ronaldo percebeu depressa que só não podia exagerar. O fulgor a explodir-lhe do corpo levaria a que, anos depois, acontecesse o que aconteceu: desafiados a desenhar o futebolista perfeito, dois artistas do Museu Madame Tussauds escolheram os olhos de Xavi, as mãos de Júlio César, o pé esquerdo de Messi — e as pernas de Cristiano Ronaldo. Não foi preciso esperar muito para que se lhe ouvisse: — Já não sou aquele miúdo com os dentes tortos, borbulhas na cara e esparguete na cabeça. Do «cabelo de esparguete» — longo e de pontas amareladas — num ápice se arrependeu. Do

— Ronaldo tinha um espelho no armário do Spa de Old Trafford e não parava de olhar-se nele. No túnel de acesso ao relvado também havia espelhos e, antes da equipa subir ao aquecimento, ele voltava a mirar-se neles, não passava sem admirar a sua imagem — como não parava de dizer que só queria ser o melhor, desesperado para ser o melhor… Se alguns dos companheiros o tratavam então por Fashion Kid ou por Playboy — Patrick Evra dar-lhe-ia, inspirado, outro cognome: Christian Dior e, tendo Ronaldo já uma Bola de Ouro na mão, outros véus tiraria de cima de si: — A imagem que se criou de Cristiano não corresponde ao que o Cristiano é de facto. Ele foge exatamente dessa auréola fashion. É o maior profissional com quem já treinei. Nunca está satisfeito. Quer ser o primeiro em tudo e não suporta perder nem sequer no pingue-pongue. Quer ser o melhor, o melhor de sempre, por isso treina cada vez mais. No entanto, nunca joga para ser estrela, incomoda-o essa ideia que alguns têm dele — ele só joga para ser melhor, e por isso é o que é.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 45


As lágrimas que arrepiavam na final do Euro-2004 e Piqué espantado por partir as máquinas no ginásio (e não só) Com a Taça de Inglaterra como seu primeiro (grande) troféu, Cristiano Ronaldo fechou a época no Manchester United com oito golos em 39 jogos e os adeptos do clube deram-lhe (com mais de 10 votos) o prémio Sir Matt Busby Player of the Year. Luiz Felipe Scolari não deixou, naturalmente, de o convocar para o Euro-2004 — mas não lhe deu a titularidade no primeiro jogo de Portugal, no Dragão (a 12 de junho). Golo de Karagounis pusera cedo os gregos a ganhar por 1-0. Com dois brincos a lucilarem-lhe nos lóbulos, no início da segunda parte Ronaldo entrou para o lugar de Simão Sabrosa (e Deco foi para o de Rui Costa) — e a infelicidade soltou-se de uma das suas primeiras intervenções: falta que FRPHWHX VREUH 6HLWDULGLV OHYRX D TXH %DVLQDV ¿]HVVH o 2-0 (de penálti). Se ainda se lhe viu as mãos atiradas à cabeça em sinal de desalento, nele não se afundou — perturbou por várias vezes os adversários com R VHX IUHQHVLP H j EHLUD GR ¿P EDWHX 1LNRSROLGLV em golpe de cabeça (na sequência de cruzamento de Figo). Largou o campo de lágrimas nos olhos e olhar atirado aos céus — e contra a Rússia voltou a ser suplente, substituiu Figo aos 78 minutos — e dos seus pés saiu o 2-0 (no golo de Rui Costa). 3DUD R GHFLVLYR GHVD¿R FRP D (VSDQKD 6FRODUL DOoRX R HQ¿P D WLWXODU ² 5RQDOGR S{V RV FDEHORV HP Sp D 3X\RO H D 5D~O %UDYR H QmR Vy 1RV TXDUWRV GH ¿QDO FRQWUD D ,QJODWHUUD WXGR VH GHFLGLX QRV SHQiOWLV

46 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

² R VHX QmR R IDOKRX $ SDVVDJHP j ¿QDO IH] VH FRP 2-1 à Holanda — Ronaldo marcou o primeiro golo (na sequência de canto de Deco) e assistiu Maniche para o segundo. Para se decidir o título, voltaram os gregos ao despique — a 4 de julho de 2004. Aos 56 minutos a bola partiu de bandeirola de canto para a cabeça de Charisteas, Ricardo tentou chegar-lhe por complicados atalhos e não conseguiu. Eusébio limpou a mágoa que lhe saltara dos olhos, levou para o centro do FDPSR D 7DoD S{ OD QDV PmRV GH /HQQDUW -RKDQVVRQ ² H R SUHVLGHQWH GD 8()$ HQWUHJRX D D =DJRUDNLV Perdido no meio do campo, de olhos molhados ao horizonte, comovente era a imagem de Cristiano RoQDOGR $V OiJULPDV QmR HUDP Vy SRU 1LNRSROLGLV OKH ter evitado o golo ao minuto 59, não eram só por um quarto de hora depois não ter posto, isolado, a bola no fundo das redes — eram por mais: — Chorava porque não imaginava que a Grécia pudesse ganhar-nos outra vez, chorava porque tíQKDPRV XPD JUDQGH 6HOHomR ¿]HPRV XP JUDQGH FDPSHRQDWR H QmR PHUHFtDPRV DTXHOH ¿QDO FKRUDva por detestar perder, chorava por querer ser campeão europeu aos 19 anos… Chorava sem se render — e dois anos antes de haYHU R TXH KRXYH QR (XUR 5RQDOGR D¿UPi OR-ia em Os Alegres Dias do País Triste, de Afonso de Melo: ² 2 TXH VHQWL QR ¿QDO GR MRJR FRP D *UpFLD" Uma tristeza enorme! Triste, triste, triste! Não só HX 7RGRV QyV 2 3DtV LQWHLUR +i YiULDV IRWRJUD¿DV minhas a chorar… Um ambiente lindo em volta da Seleção, mais um motivo para sentirmos a derrota de forma mais dura. Eram os meus primeiros


Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 47


tempos de titular na Seleção Nacional, havia uma responsabilidade enorme, e também foi o meu dia mais triste com a camisola de Portugal. Uma comoção gigante! Gerard Piqué percebeu-o de súbito ao cruzar-se com ele em Carrington — e, num sinal do que esse VHX HVStULWR ¿]HUD FRQ¿GHQFLRX R D (QULTXH 2UWHJD (em Cristiano Ronaldo – Sonhos Realizados): — Não gostava de perder e, mais do que uma vez, apesar de ser dos mais jovens da equipa, vi-o a dizer umas quantas coisas no balneário no intervalo de algum jogo do Manchester. Galvanizava-nos. Tinha já então muito caráter. Puxou-lhe ainda mais pelo elogio, revelando-o para lá do coração: — Quando cheguei ao Manchester o que mais me chamou a atenção foi Ronaldo ser o jogador trabalhador que era. Antes do treino passava pelo ginásio, rebentava as máquinas de pesos. Depois do WUHLQR ¿FDYD D HQVDLDU SRQWDSpV OLYUHV &RQYHQFLD VHPSUH DOJXP JXDUGD UHGHV D ¿FDU FRP HOH 1HP por uma vez deixei de o ver naquela sua obsessão pela procura da perfeição — embora podendo saber que ela não existe, quer estar o mais perto possível. Em muitos treinos fui seu adversário e ele era imprevisível porque fazia tudo bem. Depois foi sendo cada vez melhor, a ser como continua a ser: controla e sai pela direita, pela esquerda. Quando parece que vai driblar, remata conforme lhe vem à cabeça. Quando está parado, o seu arranque é tremendo. Não é fácil trazê-lo para o nosso terreno. A outros avançados, deixa-se uma saída natural para que eles o façam. Ao Ronaldo não, é ele que toma sempre a iniciativa. É tão bom em tudo que temos de

48 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

adivinhar em que é que está a pensar e o que é que vai fazer… Para ser assim — até o sono Cristiano Ronaldo treinou no Manchester United. Algures por 1999, Alex Ferguson recebera mensagem que, ao primeiUR ROKDU R LQWULJRX HUD GH 1LFN /LWWOHKDOHV 2 QRPH nada lhe dizia, o facto de o apresentar como Sport Sleep Coach despertou-lhe a curiosidade. Combinaram conversa para troca de ideias e logo aconteceu o que Luís Miguel Pereira contou em Duelo Nunca Visto (o criativo e apaixonante duelo que ele criou, entre Ronaldo e Messi, com o escritor argentino Luciano Wernicke): — O treinador escocês tinha o controlo absoluto sobre a vida desportiva dos seus jogadores — o que comiam, como treinavam, índices de rendimento, HWF ² PDV IDOWDYD OKH VDEHU H DWp LQÀXHQFLDU DOguns aspetos relacionados com o que faziam quando deixavam o centro de estágio em Carrington. A qualidade do descanso era um desses mistérios indecifráveis pelo técnico. Nick Littlehales arrebatou por completo Sir Ferguson quando o escocês lhe pediu para trabalhar diretamente com o defesa Gary Pallister, cujas lesões consecutivas e constantes di¿FXOGDGHV GH UHFXSHUDomR FRDUWDYDP R UHQGLPHQto do atleta. O especialista descobriu a verdadeira causa de tanto contratempo: Pallister dormia num colchão desadequado. Littlehales resolveu o problema, o jogador abandonou o calvário e Ferguson gaQKRX XP DWOHWD LQÀXHQWH 2 TXH 5RQDOGR DSUHQGHX FRP R R90 — a «rotina de descanso» inventada por Nick Littlehales (que IRUD SUR¿VVLRQDO GH JROIH H UHVSRQViYHO SHOR marketing de uma empresa de camas) deu-lhe o hábito (nunca mais perdido) da sesta e vários truques.


Ferguson tentou tirá-lo dos Jogos Olímpicos e o ‘tsunami’ que deixou Martunis entre mortos e ruínas mostrou-lhe o outro lado do coração

Depois da sua quase efémera passagem por Madrid, como treinador do Real, Carlos Queiroz UHWRUQDUD D 2OG 7UD̆RUG SDUD DGMXQWR GH $OH[ )HUJXVRQ ² H 'DYLG *LOO R VHX GLUHWRU H[HFXWLYR D¿DQoRX R — Estamos encantados com o regresso de Carlos. E se falar com Alex verá que é o mais encantado de todos nós e uma das razões é que o Carlos irá ajudar Cristiano Ronaldo, especialmente. Tem 19 anos, teve uma primeira época fantástica — e sim: tenho a certeza de que irá EHQH¿FLDU GR IDFWR GH WHU R &DUORV D WUDEDOKDU FRP HOH R &DUORV TXH WDQWR ¿]HUD SDUD TXH 5Rnaldo se juntasse a nós. $WUDYpV GH -RUJH 0HQGHV -RVp 0RXULQKR WRUQDUD VH WUHLQDGRU GR &KHOVHD ² H DQWHV GH D EROD FRPHoDU D URODU SDUD R TXH VH LPDJLQDYD TXH IRVVH IDLVFDQWH 3UHPLHU /HDJXH $OH[ )HUJXVRQ LUULWRX VH — Nós é que pagamos o ordenado a Cristiano Ronaldo e somos obrigados a autorizar que perca jogos importantes do campeonato para ir aos Jogos Olímpicos. Não é justo e é ridículo: teríamos de dar dois meses de férias quando ele voltasse e não o iríamos ver antes de 1 de novembro…

Não, não se resumiu ao amargor, sugeriu que QHP 5RQDOGR QHP *DEULHO +HLQ]H TXH DFDEDra de contratar) aceitassem a convocatória para $WHQDV ² H &ULVWLDQR WURFRX OKH DV YROWDV DR GHVHMR — Estar nos Jogos Olímpicos é uma oportunidade única na carreira de qualquer desportista. Fico sempre satisfeito por representar Portugal e ainda mais numa situação como esta e, por isso sim, faço tenções de lá jogar. Truculento saltou em sua defesa, Sepp Blatter, R SUHVLGHQWH GD ),)$ — Dizer a jogadores como Ronaldo e Heinze para não irem aos Jogos Olímpicos porque podem perder o seu trabalho quando voltarem não HVWi GH¿QLWLYDPHQWH GH DFRUGR FRP R HVStULWR GH solidariedade e não é justo… )HUJXVRQ GHX VHP SUREOHPD SDVVR DWUiV — O que eu espero, então, é que os jogadores UHJUHVVHP D 2OG 7UD̆RUG VHP OHV}HV Ronaldo voltou mais depressa do que gostaria — pois dececionante foi a passagem de Portugal SRU $WHQDV 1mR WHYH VHTXHU GXDV VHPDQDV GH IpULDV ² H FRP R 0DQFKHVWHU 8QLWHG D SDVVDU SRU DOJXQV SHUFDOoRV QD 3UHPLHU /HDJXH SHUFDOoRV H HVFDUDPXoDV FRPR DTXHOD GD %DWDOKD GR %X̆HW, DVVLP FKDPDGD SRU QR ¿QDO GR MRJR FRP R $UVHQDO DV SLFDUGLDV QR W~QHO HQWUH MRJDGRUHV H WUHLQDGRU DFDEDUDP FRP XPD pizza atirada no meio GD FRQIXVmR D DFHUWDU HP FKHLR QD FDUD GH $OH[ )HUJXVRQ VH FKHJRX D GH GH]HPEUR GH tsunami QR ËQGLFR GL]LPRX PDLV GH PLO SHV-

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 49


soas — da Tailândia ao Sri Lanka, da Malásia à Indonésia. Ao atacar Banda Aceh, a norte da ilha de Samatra, arrastou na sua fúria, por entre casas e palmeiras, barcos e animais, rapazinho de sete anos que apanhara no seu repelo a correr atrás de uma bola na praia, com camisola da Seleção de Portugal vestida — o Martunis Arbini. Mais de duas semanas andara Martunis à deriva por entre cadáveres e destroços — sobrevivera alimentando-se do que lhe chegasse à mão, bebendo água de charcos. E quando Ian Dovaston o descobriu no seu drama, com o corpo sujo e quase todo picado por mosquitos, continuava com a camisola da Seleção de Portugal vestida. Dando-lhe duas bolachas, o repórter da Sky News levou-o ao colo para uma tenda do Save the Children, em murmúrios lhe apanhou que, para tentar escapar à onda assassina, ia com a mãe e as irmãs no carro, que só se lembrava de se ter agarrado a uma cadeira e depois a um colchão, a uma árvore e GHSRLV D XP VRIi H GH ¿FDU D ÀXWXDU SHOD FLGDGH« A mãe e as duas irmãs morreram, o pai (que era pescador) salvou-se também — e ao ver a reportagem de Dovaston, Cristiano Ronaldo enterneceu-se, comoveu-se: — Pareceu-me simplesmente assombroso que um menino de sete anos pudesse sobreviver asVLP DR ¿P GH WDQWRV GLDV H LVVR GHX PH IRUoD SDUD SHQVDU TXH p SRVVtYHO DQGDU SDUD D IUHQWH mesmo nas circunstâncias mais terríveis… Logo lhe passou pela cabeça trazer Martunis a ver jogo de Portugal no apuramento para o Mundial de 2006 — ou a Manchester. Gilberto Madaíl, presidente da FPF, mobilizou os clubes para

50 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

ajuda humanitária à Indonésia, as estrelas da Seleção uniram-se para o apadrinhar, Luiz Felipe Scolari deu voz à solidariedade: — Quando vimos aquelas imagens pensámos TXH WtQKDPRV GH ID]HU DOJXPD FRLVD &RPSUDU XP WHUUHQR H SDJDU D FRQVWUXomR GH XPD QRYD FDVD SDUD D IDPtOLD GR PHQLQR SDUHFHX QRV D PHOKRU LGHLD Cinco meses depois, a FPF trouxe Martunis a Lisboa para assistir ao Portugal-Eslováquia. Na véspera, levaram-no ao hotel da Seleção — para, HQ¿P FRQKHFHU TXHP QXQFD HVFRQGHUD TXH Mi era o seu ídolo: Cristiano Ronaldo: — « R &ULVWLDQR 5RQDOGR TXH HX Mi VHJXLD WDPEpP QR 0DQFKHVWHU 8QLWHG De Ronaldo recebeu a ternura de um beijo na testa e uma camisola de Portugal com o n.º 1 e Martunis nas costas. À camisola juntou-se-lhe boné e cachecol e foi assim que, no dia seguinte, viu, sentado ao lado de Rui Costa, a vitória por 2-0, o segundo golo marcado por Ronaldo. Com ele viera o pai, que levou cheque de 40 mil euros — os 40 mil euros que se juntaram de donativos recolhidos no seio da Seleção. Semanas antes, após a eliminação do Everton para a FA Cup, Ferguson voltara ao elogio puxado: — 2 PL~GR 5RQDOGR p XP MRJDGRU IDQWiVWLFR e SHUVLVWHQWH H QXQFD GHVLVWH 1mR VHL TXDQWDV IDOWDV VRIUHX QHVWH MRJR TXH OKH SHUGL D FRQWD /HYDQWD VH H TXHU D EROD RXWUD YH] HOH p YHUGDGHLUDPHQWH XP MRJDGRU IDEXORVR


O que lhe fizeram no balneário quando revista ‘gay’ o considerou dos Homens Mais ‘Sexy’ do Mundo (e na berlinda já andava Merche Romero) Eliminado na Champions pelo AC Milan, incapaz de evitar que o Chelsea de José Mourinho ganhasse a Premier League e a Carling Cup — o prémio de consolação do Manchester United poderia ter sido a Taça de Inglaterra. Decidiu-se, nos penáltis (o que Ronaldo marcou, marcou-o, primoroso, atirando Lehmann para o lado erraGR ² H QR ¿QDO GR GHVD¿R FRP 3DXO 6FKROHV D falhar o golo) Alex Ferguson dividiu-se: — Podem deitar moeda ao ar para decidir o homem do jogo entre Wayne Rooney e Cristiano Ronaldo porque eles foram ótimos, os dois. Não o querendo fazer (ou melhor: achando-se LQFDSD] GH R ID]HU« KRXYH SRUpP TXHP R ¿]HVse — e a FA deu a Rooney o prémio de Man of the Match. Duas semanas após, estando-se já por junho de 2005, Cristiano lançou-se de coração quente DR FXPSULPHQWR GH SURPHVVD TXH ¿]HUD D 0DUtunis Arbini em Lisboa: — Brevemente voltaremos a ver-nos! Aterrou em Banda Aceh — para visita à costa de Ulee Lheu, uma das zonas mais fustigadas pelo tsunami. Chorou com o que ainda apanhou de destruição e ruína — e a Martunis, para além

GH FDPLVROD GD 6HOHomR Mi FRP R Q DLQGD R seu), ofereceu-lhe um telemóvel. Mostrou-lhe fotos e jogos no seu computador, visitaram a Oikos, 21* SRUWXJXHVD D WUDEDOKDU QD LOKD GH 6XPDWUD ouviu-lhe (em palavras polvilhadas de emoção): — Martunis é um rapazinho forte e valente. Acho que muitos adultos não seriam capazes de enfrentar o que ele enfrentou, ter de passar por aquilo que passou durante aqueles dias de tragédia. O que fez, para sobreviver, foi um ato de força, de coragem, de maturidade e se para mim é um exemplo, deve sê-lo para todos nós também… De Banda Aceh voou Ronaldo para Jacarta. Recebido pelo vice-presidente indonésio, organizou jantar com leilão para recolha de fundos de ajuda às vítimas do maremoto — camisolas do Manchester United e de Portugal, umas chuteiras e uma bola autografadas renderam mil milhões de rupias (cerca de 80 mil euros). 6DUELQL R SDL UHYHODUD OKH TXH 0DUWXQLV SDVsara a ver Cristiano «como irmão mais velho» e que não deixara mais de viver com o sonho a arder-lhe: — Ser jogador de futebol, jogador de futebol como foi o meu pai, mas melhor, claro… Com Ronaldo voltaria a reencontrar-se em 6LQJDSXUD H HP ,WiOLD $ LOXVmR GH VH WRUQDU IXWHEROLVWD DLQGD R WURX[H j $FDGHPLD GR 6SRUWLQJ DOJXUHV SRU ² SHUFHEHX GHSUHVVD TXH R seu destino seria outro e tornou-se youtuber num canal dedicado a Cristiano Ronaldo e, claro, j VXD KLVWyULD GH YLGD ( IRL Oi TXH FRP D

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 51


FRUUHU SDUD R ¿P VH YLX D QDPRUDGD D DFHLWDU R VHX SHGLGR GH FDVDPHQWR ( TXDQGR XP DPLJR OKH SHUJXQWRX VH &ULVWLDQR HVWDULD QD ERGD D VXD UHVSRVWD IRL — Insya Allah… Ele virá… se não estiver ocupado! 2 &RYLG DGLRX OKH R FDVDPHQWR ² H HP DEULO GH DR VDEHU TXH PDWDUD QXP iSLFH SHV VRDV QD ,QGRQpVLD 0DUWXQLV $UELQL DEULX QR VHX FDQDO OHLOmR GH XPD GDV VXDV FDPLVRODV DXWRJUDID GDV SRU &ULVWLDQR 5RQDOGR SDUD DMXGDU ©IDPtOLDV DIHWDGDV SHOD SDQGHPLDª &RORFRX PLOK}HV GH UXSLDV FRPR EDVH GH OLFLWDomR HXURV DR ¿P GR SULPHLUR GLD Mi WLQKD D RIHUWD HP PLOK}HV ² H R ~OWLPR ODQFH GH %RQJ &KDQGUD UHVLGHQWH HP -DFDUWD IRL GH PLOK}HV GH UXSLDV PDLV GH HXURV

:D\QH 5RRQH\ JDQKRX OKH j WDQJHQWH D HOHL omR SDUD 0HOKRU -RJDGRU -RYHP QD 3UHPLHU /HDJXH ² H D XPD RXWUD HOHLomR SDUD D OLVWD GRV +RPHQV 0DLV Sexy GR 0XQGR UHDJLX IROJD]mR HP QRWiYHO UHSRUWDJHP TXH -RHO 1HWR IH] SDUD D UHYLVWD Notícias — Foi uma bronca no balneário. Pegaram em recortes e penduraram-nos no meu cacifo, toda a gente a gozar comigo. Foi cá uma história… ¿FDU HQWUH RV SULPHLURV VHQGR HVFROKLGR SHORV JD\V, não sei se é muito bom para mim. Um boFDGR HVWUDQKR p ( VH IRVVH SHODV PXOKHUHV ¿FDva mais contente… 'HL[DQGR GH QDPRUDU FRP -RUGDQD 5LEHLUR D LUPm GH 0iULR -DUGHO paparazzi DSDQKD UDP IRWRJUDILDV GH &ULVWLDQR 5RQDOGR HP ©Ip

52 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

ULDV URPkQWLFDV SRU ,WiOLDª FRP 0HUFKH 5RPH UR D VHQVXDOtVVLPD DSUHVHQWDGRUD GH 79 TXH FRPR PRGHOR SDUD DOpP GH URVWR GD FDPSDQKD SXEOLFLWiULD GR SURGXWR QDWXUDO )LWIRUP IL]H UD R FDWiORJR 3ULPDYHUD 9HUmR GD 0HVNOD 2 HQOHLR QmR SDVVRX GH VHLV PHVHV H QmR FKHJRX VHTXHU D ² H QmR WDUGRX D FRUUHU R UXPRU GH TXH D UHODomR HQWUH DPERV VH GHVIL]HUD SRU D WHQWDomR QRFWtYDJD GHOD SRGHU SUHMXGLFi OR 2 TXH PDLV DWRUPHQWDYD &ULVWLDQR 5RQDOGR HUD D GRHQoD GR SDL ² H QD HVSHUDQoD GH TXH UHFXSH UDVVH D VD~GH TXH R YtFLR GR iOFRRO DEDODYD FDGD YH] PDLV OHYRX R SDUD ,QJODWHUUD (P &KHVWHU 5RDG D DYHQLGD GH YLYHQGDV HP FXMRV SiWLRV VH GHVWDFDYDP 3RUVFKHV %HQWOH\V -DJXDUHV ² WDP EpP HVWDYD D PmH H R SULPR SRU YH]HV R LUPmR H DV LUPmV (UD D VXD IRUWDOH]D SRU HQWUH RV GRLV WUHLQRV GLiULRV ² Vy RFDVLRQDOPHQWH VH DYHQWXUDYD D VDtGD SDUD XP IXJD] MRJR GH snooker SHODV UHGRQGH]DV 6H VH LQVLQXDYD TXH GH TXDQGR HP TXDQGR DSDUHFLD LJXDOPHQWH SHOR 3DQDFHD RX SHOR %UD] RV FOXEHV QRWXUQRV HQWmR QD PRGD QmR KDYLD TXHP FRQWXGR DSDUHFHVVH D FRQ¿UPDU Wr OR YLV WR SRU Oi ² H R QmR HUD GLItFLO GH DSDQKDU HUD R TXH -RHO 1HOR DSDQKRX QD UHYHODomR GR VHX novo mundo D -RKQ 6XOOLYDQ HQJHQKHLUR UHIRUPDGR TXH $OH[ )HUJXVRQ WUDWDYD FRPR ©WUD¿FDQWH GH DXWyJUDIRVª SRU VHU Mi IDPRVR D TXH VH DWLUDYDP ImV DRV PDJRWHV j SRUWD GR FHQWUR GH WUHLQRV GH &DUULQJWRQ HP UHEXOLoR — Há jogadores que param na cancela e jogadores que não param. O Ronaldo é um dos que param. Quando não param, não lhes podemos levar a mal. Cristiano, por exemplo, sabemos que tem sempre coisas para fazer. E já nos bas-


WDUi TXH DSUHQGD GH XPD YH] D ¿QWDU GRLV MRJDGRUHV H SDVVDU D EROD HP YH] GH FRQWLQXDU D ¿QWDU FLQFR RX VHLV H SHUGr OD 4XDQGR ¿]HU LVVR YDL VHU WmR JUDQGH FRPR :D\QH 5RRQH\« Não, não seria preciso esperar muito para se perceber que Sullivan falhou o alvitre — Cristiano Ronaldo não se tornou tão grande como Wayne Rooney, tornou-se muito maior. Carlos Queiroz SHUFHEHUD R ² H QHP WDUGDULD PXLWR D D¿UPi OR (premonitório, certeiro):

— 3DUD PLP &ULVWLDQR 5RQDOGR p R 0LFKDHO -RUGDQ GR IXWHERO 7HP XP GRP GLYLQR 6HUi SDUD R IXWHERO R HTXLYDOHQWH D 0LFKDHO -RUGDQ SDUD D 1%$ 1R LQtFLR 0LFKDHO HUD XP VROLVWD EULOKDYD HOH MRJDYD SDUD HOH D HVWUHOD HUD HOH &RQWXGR DRV DQRV HUD XP PDHVWUR TXH HQVLQDYD RV RXWURV H ID]LD MRJDU RV RXWURV -i QmR VH SHUFHELD VH HUD EDVH DOD RX SRVWH ,Ui DFRQWHFHU R PHVPR D &ULVWLDQR 1mR VH VDEHUi VH p DYDQoDGR RX H[WUHPR VHUi R MRJDGRU GH IXWHERO j YROWD GR TXDO WRGD D HTXLSD JLUDUi

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 53


O que ele fez em Moscovo ao saber da morte do pai (VWDQGR MXOKR GH D FRUUHU SDUD R ¿P JUDYHV SUREOHPDV QR ItJDGR H QRV ULQV DWLUDUDP -RVp 'LQLV $YHLUR SDUD DV XUJrQFLDV GR +RVSLWDO GRV 0DUPHOHLURV QR )XQFKDO &RP HOH HP ULVFR GH YLGD SRU GXDV YH]HV &ULVWLDQR 5RQDOGR FRUUHX D Yr OR ² ID]HQGR D YLDJHP GH 0DQFKHVWHU SDUD R )XQFKDO QXP MDWR IUHWDGR 1mR WDUGRX D SHGLU TXH R WUDQVIHULVVHP SDUD IDPRVD FOtQLFD GH /RQGUHV QD kQVLD GH R VDOYDU DWUDYpV GH WUDQVSODQWH GH ItJDGR ² H IRL HP YmR (UD WHUoD IHLUD HVVH GLD GH VHWHPEUR GH $ 6HOHomR GH 3RUWXJDO HVWDYD HP 0RVFRYR SDUD GHIURQWDU D 5~VVLD QR DSXUDPHQWR SDUD R 0XQGLDO GD $OHPDQKD ² H GH V~ELWR FKHJRX D 5RQDOGR SHGLGR SDUD VH GHVORFDU DR TXDUWR GH /XL] )HOLSH 6FRODUL (VWUDQKRX TXH Mi Oi HVWLYHVVH /XtV )LJR R FDSLWmR GH HTXLSD DSHVDU GH VH DSHUFHEHU GD FDUD DPDUUDGD GH DPERV FRJLWRX TXH OKH TXLVHVVHP IDODU GH TXDOTXHU TXHVWmR WiWLFD 0DV QmR HUD ² H R VHOHFLRQDGRU FRQWi OR LD ² Não sabia como começar, fui aprofundando o assunto do meu pai, que tinha falecido quando eu ainda nem jogava futebol. E foi aí que ele começou a entender. Chorámos, abraçámo-nos, consolei-o e disse: «Agora, pega nas tuas coisas que nós vamos pedir o avião» — e ele respondeu: «Não, eu vou jogar, professor». Comigo dizendo: «Filho, vai para casa, vai…» — ele repetiu: «Não professor, deixe-me jogar, professor…». $LQGD DQWHV GH RXYLU (XVpELR HPRFLRQDGR FRQWDU OKH TXH QR GLD GD PRUWH GD PmH R VHX FRUDomR

54 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

TXLVHUD R PHVPR H MRJDQGR SRU HOD PDUFDUD WUrV JRORV 5RQDOGR UHSHWLX D V~SOLFD D 6FRODUL ² TXH HQWHUQHFLGR OKH GLVVH TXH HQWmR ¿FDVVH ² Queria jogar. Só sabia que queria jogar. Queria mostrar a toda a gente que conseguia separar as coisas, mesmo em situação brutal, terrível, queULD PRVWUDU TXH HUD XP JUDQGH SUR¿VVLRQDO H TXH levava o trabalho muito a sério, mas, acima de tudo, queria jogar em honra do meu pai, marcar um golo por ele. 1mR QR (VWiGLR GR /RNRPRWLY QmR PDUFRX R JROR TXH TXHULD ² R 5~VVLD 3RUWXJDO DFDERX ² PDV IRL R PHOKRU HP FDPSR H 'HFR UHFRUGi OR LD ² 2 TXH ¿]HPRV QHVVH GLD IRL QmR IDODU PXLWR QR assunto. Sabíamos que dentro do campo o &ULV se sentiria melhor, pois o futebol é alegria, mas não esquecerei nunca mais como ele se confrontou com dor tão forte. Foi admirável, sobretudo pensando na idade que tinha, na pressão que sofria… 1R GLD GR IXQHUDO QR )XQFKDO QmR KDYLD TXHP QmR R UHSHWLVVH ² Dinis era uma pessoa humilde e espetacular… que se dava bem com toda a gente, não causava problemas a ninguém… infelizmente, não foi capaz de se livrar do vício da bebida e foi isso que o levou tão cedo. 3RU HQWUH D GRU H DV OiJULPDV WDPEpP VH DSDQKRX HP PXUP~ULRV RX QmR ² O sucesso do Cristiano não mudou nada no Dinis… Bom homem, podendo já viver com todos os luxos, continuava a levantar-se de madrugada


para ajudar o vendedor de jornais de Santo António… Depois, passava o dia em convívio com os amigos nos bares e, isso sim, é que foi a sua desgraça… E também nunca deixou de ir ajudar a fazer o que fosse preciso no Andorinha, mesmo que, para isso, tivesse de apanhar dois autocarros para voltar a casa. Antes de ir para o Sporting, Ronaldo torcia pelo %HQ¿FD SRUTXH -RVp 'LQLV HUD EHQ¿TXLVWD WDPEpP 0DULD 'RORUHV QmR — Eu sempre fui sportinguista, levada pelo meu pai H D HOH DR 5RQDOGR KDYHULD GH HVFXWDU VH DLQGD GXUDQWH RV GLDV GR OXWR — O meu pai apoiava-me sempre, pedia-me que fosse ambicioso e, claro, sentia-se muito orgulhoso pelo que eu já tinha conquistado. Quero-lhe muito e sempre lhe quererei. Será sempre um exemplo para mim. Imagino que lá onde estejas possas ver o que eu vou continuar a fazer, o que eu vou conseguir ser ainda mais… 0HQRV GH PHLR DQR DSyV D PRUWH GH -RVp 'L QLV $YHLUR D %%'2 FRQVLGHURX &ULVWLDQR 5RQDOGR

R MRJDGRU GH IXWHERO PDLV YDOLRVR GR 0XQGR 'HUD Mi R FRUSR H D DOPD D FDPSDQKDV GD 9RGDIRQH 3HSH -HDQV 6X]XNL 1HVWOp H 7XULVPR GD 0DGHLUD WRUQDUD VH XPD GDV FDUDV GD 1LNH $ &RFD &ROD SX [RX R SDUD VHX URVWR QD &KLQD D )XML ;HUR[ SDUD VHX URVWR QR -DSmR (P 3RUWXJDO FKDPDUDP QR j VXD SXEOLFLGDGH R %(6 H D *DOS $ 6X]XNL HVFR OKHX R SDUD SURWDJRQL]DU HP YtGHR DQ~QFLR DR VHX 6ZLIW ² H D ([WUD -RVV EHELGD HQHUJpWLFD LQGRQpVLD SDUD D VXD FDPSDQKD WHOHYLVLYD SRQGR 5RQDOGR D ROKDU FRP HVSDQWR SDUD DTXHOHV TXH EHEHP ([WUD -RVV (IHLWR LPHGLDWR GLVVR H GR PDLV IRL &ULVWLD QR VHJXLU FDGD YH] HP PDLRU IXOJRU FDPLQKR TXH VH DEULUD FRP 'DYLG %HFNKDP ©'HVFREULU VH TXH R VXFHVVR GHQWUR GR FDPSR p UDSLGDPHQWH VHJXL GR SHOR HVWDWXWR GH FHOHEULGDGH IRUD GRV UHOYDGRVª QRWRX R 7RP 2OG¿HOG $ ),)3UR GHX OKH R WURIpX GH -RYHP -RJDGRU GR $QR HOHLWR SHORV DGHSWRV JUDoDV jV VXDV YLEUDQWHV DWXDo}HV SHOR 0DQFKHVWHU 8QLWHG ² UHFHEHX R QXPD JDOD HP /RQGUHV HP TXH R -RJDGRU GR $QR IRL 5RQDOGLQKR *D~FKR 1HVVD pSRFD HP 0DQ FKHVWHU JDQKDUD DSHQDV D &DUOLQJ &XS WDO FRPR QD WHPSRUDGD GH FDPSHmR GH IRL R &KHOVHD GH -RVp 0RXULQKR &RP R 0XQGLDO j SRUWD &KULVWLDQ (ZHUV MRUQDOLVWD GD Stern, QRWRX R — A Alemanha está inundada de anúncios da Nike que se centram em duas pessoas: Dirk Nowitzki, basquetebolista alemão dos Dallas Mavericks, da NBA, e Cristiano Ronaldo. Neste momento, quem percorrer a rua principal de Berlim, a Kurfuerstendamm, encontra um póster gigante de Cristiano, com mais de 20 metros de largura. O que quer dizer que se trata de um futebolista diferente do jogador tradicional. Conjuga futebol com moda na perfeição.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 55


A «violação» da «mulher francesa», de que o ‘The Sun’ falou, foi uma cilada

Jorge Mendes também correu a vincar-lhe a inocência:

O namoriscar da fama tem, porém, amiúde, lado perigoso que pode levar ao transtorno, à cilada, e foi o que lhe sucedeu. Na sua edição de 19 de outubro de 2005, o The Sun espalhou, bombásticas, as palavras pela sua primeira página:

A 25 de novembro, porta-voz da Scotland Yard largou a informação de que não havia «provas suficientes para a acusação». O jornal The News of the World descobriu que Cristiano Ronaldo fora vítima de «cilada organizada por uma prostituta especializada na caça a ricos e a famosos» — e o seu lamento apanhou-o Joel Neto, assim:

«RONALDO DETIDO» Contava, depois, que uma «mulher francesa» se fora queixar à polícia de «agressão sexual numa suíte do Hotel Sanderson de Londres» — que, com uma amiga, conhecera Cristiano Ronaldo na Movida, discoteca ao lado de Oxford Circus, horas depois de ele ter estado a jogar com o Fulham — e, perante isso, o levaram (já acompanhado por um advogado do Manchester United) para a esquadra de West Didsbury. Em declarações à equipa da 2SHUDomR 6D¿UD, que, na Scotland Yard, se ocupava da investigação de crimes sexuais, Ronaldo reIXWRX D DFXVDomR QHJRX D YLRODomR $R ¿P GH QRYH horas, deixaram-no, então, sair em liberdade — e ao ataque se lançou Carlos Queiroz na (pronta) defesa de Cristiano: — A notícia não tem qualquer nexo, nem o modo como foi feita. Destina-se apenas a criar histórias para vender jornais e tudo o que daí resulta é ferir as pessoas. Detidas deveriam estar algumas pessoas dos média que teimam em não se dar conta de que as palavras podem matar…

56 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— A acusação de violação contra Cristiano Ronaldo é um produto da imaginação e da fantasia, não se baseia em qualquer facto credível.

— Na história da violação, toda a gente publicou na primeira página que eu ia ser acusado, mas quando fui ilibado as notícias ficaram todas lá dentro, em pequenino. Na semana anterior à informação largada pela Scotland Yard, de que a acusação de violação da misteriosa francesa era uma falsidade, jogou Portugal contra a Irlanda do Norte e Lawrie Sanchez, o selecionador irlandês, revelou-o ao Belfast Telegraf: — Cristiano Ronaldo é um jogador brilhante que pode provocar a desordem em qualquer equipa do Mundo. Sei de muita gente na Irlanda do Norte que está desejosa de o ver, mas nós temos de fazer com que o jogo não se transforme no espetáculo de Cristiano Ronaldo, esse espetáculo que começa a ser cada vez mais frequente… Tom Oldfield lembrou-o para dar exemplo de


que andasse por onde andasse era razão de temor (ou pelo menos de preocupação…) por parte dos adversários, fossem eles quem fossem: — Ronaldo jogou apenas 68 minutos, mas enquanto outras estrelas de Portugal foram controladas, Ronaldo espalhou classe e fabri-

cou o golo da equipa no 1-1. O seu perigoso cruzamento deixou em maus lençóis Stephen Craigan que só poderia aliviar a bola para dentro da sua própria baliza. Foi um apontamento de quão rapidamente um jogador com qualidade pode mudar um desafio — e isso é aquilo que Ronaldo vai sendo cada vez mais.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 57


Depois da escaramuça com Van Nistelrooy, Ronaldo garantiu: «Não sou um rufia…»

2 %HQ¿FD DSUHVHQWRX TXHL[D j 8()$ ² TXH DSyV análise do vídeo que recebera de Lisboa, puniu RoQDOGR FRP XP MRJR GH VXVSHQVmR H PXOWD GH HXURV HP UD]mR GR TXH MXOJRX ©FRQGXWD LPSUySULDª PHVPR WHQGR VLGR SRU UHDomR jV SURYRFDo}HV SRU que passara…)

Numa das campanhas a que o puxou, a Nike pô-lo em legenda: «It’s good to be bad». A EA Sports escolhera-o para ilustrar a capa do seu FIFA Street 2, jogo centrado no malandro futeERO GH UXD ² H D -RHO 1HWR 5RQDOGR D¿DQoRX R

$QGDQGR VH Mi SRU HQWUDUDP HP IRJDFKR UXPRUHV GH TXH DV UHODo}HV HQWUH &ULVWLDQR 5RQDOdo e Ruud van Nistelrooy estavam desfeitas, que se WLQKDP HQJDO¿QKDGR XP QR RXWUR GXUDQWH XP WUHLno — e Alex Ferguson correu a desmenti-lo. Acabaria (anos depois) por desvelá-lo em Alex Ferguson ± $ 0LQKD $XWRELRJUD¿D:

— Quem me conhece sabe como sou. Brinco quando posso brincar, mas sou sério quando teQKR GH VHU VpULR 1mR VRX XP UX¿D« &RP D FRUUHU SDUD R ¿P VDLX R 0DQFKHVWHU HOLPLQDGR GD &KDPSLRQV SHOR %HQ¿FD 'HVHVSHrado na busca do empate que lhe valeria a quali¿FDomR DRV PLQXWRV $OH[ )HUJXVRQ S{V R VXO-coreano Ji-Sung Park no seu lugar. Andara o jogo todo a ser assobiado — e, ao aproximar-se do banco, avinagrado pelos apupos e insultos que ainda PDLV OKH ODQoDUDP &ULVWLDQR 5RQDOGR DWLURX DR DU D PmR GLUHLWD FRP R GHGR GR PHLR HVSHWDGR H DLQGD DQWHV GH VH VHQWDU QR EDQFR FXVSLX HP GLUHomR à bancada. Ao entrar, acompanhado por um seguUDQoD GR 0DQFKHVWHU 8QLWHG QR DXWRFDUUR TXH OHvara a equipa para a Luz, apanhou-se-lhe: — Explicar o quê? Não tenho nada que explicar. Talvez se o público fosse mais agradável tivesse agido de outra maneira. Foi um públiFR SRXFR VLPSiWLFR« -i HVWDYD j HVSHUD GLVWR« 7HQWHL MRJDU EHP QmR FRQVHJXL ¿FD SDUD D SUy[LPD« ( R TXH ODPHQWR p WHUPRV VLGR HOLPLQDdos…

58 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— Na Carling Cup, joguei sempre com o Louis 6DKD QD IUHQWH 4XDQGR FKHJiPRV j ¿QDO GLVVH ao Ruud: «Escuta, não seria justo se não incluísse R 6DKD QD HTXLSD 6HL TXH JRVWDV GH MRJDU ¿QDLV Espero poder meter-te durante o jogo. Estávamos em velocidade de cruzeiro contra o Wigan e vi ali uma boa oportunidade para dar ao Vidic e ao Evra, que tínhamos ido buscar na janela de transferências de janeiro, um sabor de jogo. Foram as minhas últimas substituições. Virei-me para o Ruud e disse: «Vou dar uma oportunidade a estes dois miúdos, vão ter um toque, um cheiro de gaQKDU DOJR SHOR 8QLWHGª ©6HX«ª VROWRX 9DQ 1LVtelrooy. Não digo a palavra, mas vou lembrar-me sempre disso. Nem queria acreditar. Carlos Queiroz fez-lhe frente. Tornou-se agressivo no banco de suplentes. Os outros jogadores aconselhavam QR ©'RPLQD WH 5XXGª 0DV IRL R ¿P GHOH 3HUcebi que nunca o recuperaríamos. Tinha chegado a um beco sem saída. Depois desse incidente, a sua FRQGXWD IRL GH PDO D SLRU« Ao chegar-se à última jornada da Premier Lea-


gue, Ferguson sentiu que não tinha outra alternativa:

Em $OH[ )HUJXVRQ ² $ 0LQKD $XWRELRJUD¿D, Ferguson juntar-lhe-ia:

— Precisávamos de vencer o Charlton, por via GD OHVmR GR 6DKD HVWiYDPRV D SLVDU JHOR ¿QR mas apesar de tudo seria impossível chamar Ruud. Carlos foi ao quarto dele e sublinhou: «Não te vamos convocar, vai para casa. Não suportamos mais a forma como te comportaste durante toda a semana, cada vez pior…»

— Ronaldo tinha perdido o pai. Nos treinos dessa semana, Ruud pontapeou-o e disse: «E agora? Que vais fazer? Queixar-te ao papá?». Ele referia-se a Carlos, não ao pai de Cristiano. Provavelmente nem pensou. Mas, nessa altura, já Ronaldo estava transtornado, queria ir para FLPD GH 9DQ 1LVWHOURR\ H &DUORV ¿FDUD DERUrecido com o insulto. Como seria de esperar, pois tinha tomado conta de Ronaldo. Eram do mesmo País e estando aqui rapazinho a quem morrera o pai, se não pudesse pedir o apoio de Carlos, a quem iria pedi-lo? Todo o episódio foi triste. Porque mudou Ruud não sei…

Ruud van Nistelrooy apanhou o primeiro avião para Amesterdão, deixou a colegas mensagem de despedida (do Manchester United saltaria, assim, para o Real Madrid), não o vendo convocado para a partida com o Charlton, Graham Hunter, jornalista do European Soccer denunciou-o: — São efeitos de tudo o que começou em janeiro, quando Ruud van Nistelrooy e Cristiano Ronaldo, que literalmente não se podem ver, trocaram socos durante o treino… Durante treino em Carrington, Ronaldo arriscara remate à baliza em vez de assistir Van Nistelrooy que, achando-se melhor colocado, o repreendeu, furioso. E conturbado ordenou-lhe, DUURJDQWH TXH VH GHL[DVVH GH ¿QWDV SDVVDVVH PDLV a bola. Vendo-o a rebater-lhe o remoque e a crítica, Ruud foi ainda mais descortês — e Graham Hunter levantou ainda mais o véu ao escarcéu: — Ronaldo mandou umas bocas a Van Nistelrooy, tudo acabou numa luta porque Van Nistelrooy provocou Ronaldo dizendo: «Sim, vai a correr para o teu pai» — e Ronaldo, desfeito em lágrimas, gritara: «Eu já não tenho pai, não sabes que ele morreu?!».

Nos dias a seguir à escaramuça com Ruud van Nistelrooy viu-se Ronaldo em lance e jeito raro: em vez do drible costumeiro e enleante, despachava-se em toque curto — e não tardou que Alex Ferguson o chamasse a conversa, dizendo-lhe: — Mas porque é que tu já não driblas? Contratámos-te para driblar, não te contratámos para fazeres passes de cinco metros… Cristiano regressou, claro, ao seu destino — e ao seu fulgor e ninguém ligou grande importância ao que, entretanto, Rio Ferdinand, que era, então, o melhor amigo de Cristiano na equipa, contaria: — O Ruud dizia-me várias vezes: «com tanWDV H WDQWDV ¿QWDV HX QXQFD VHL SDUD RQGH p TXH Cristiano vai cruzar a bola. Assim, como é que eu posso desmarcar-me? Pareço um louco, sim, tudo isso me põe louco…».

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 59


Após a piscadela de olho, na expulsão de Rooney, tabloide sugeriu que lhe lançassem dardos para os olhos A Luiz Felipe Scolari percebeu-se-lhe traço de inquietação: — Cristiano Ronaldo preocupa-me porque a maioria dos adversários já percebeu que, provocando-o, ele não sabe lidar bem com isso. Temos de conseguir que não reaja nessas situações. Quero que ele coloque isso na cabeça e estamos a tentar, também, fazê-lo compreender que os árbitros nem sempre penalizam as faltas. $¿UPDUD R SRUTXH HP MRJR GH SUHSDUDomR IUHQWH DR /X[HPEXUJR DWLUDUD VH DR SHVFRoR GH GHIHVD TXH VH OKH ODQoDUD UtVSLGR jV SHUQDV ² H DR VHOHFLRQDGRU IH] YLQFDGD D SURPHVVD TXH QR FDPSHRQDWR GR 0XQGR QmR LULD PDLV UHDJLU DVVLP LQWHPSHVWLYR 7RP 2OG¿HOG QRWRX R — Aparentemente, os apostadores não acreditavam que Ronaldo conseguisse controlar as suas emoções porque lhe deram 12 para um em relação à probabilidade de ver cartão vermelho no Mundial de 2006. 1R DUUDQTXH GD FRPSHWLomR 3RUWXJDO EDWHX $QJROD ² H QD VHJXQGD MRUQDGD QR VHJXQGR JROR DR ,UmR &ULVWLDQR 5RQDOGR WRUQRX VH R PDLV MRYHP SRUWXJXrV D PDUFDU HP IDVHV ¿QDLV GH FDPSHRQDWRV GR 0XQGR 7LQKD DQRV H GLDV $QWyQLR 6LP}HV QR JROR DR %UDVLO HP ,QJODWHUUD

60 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

WLQKD PDLV DQR H GLDV ² H HVVH JROR YLQFRX R GH VHQWLPHQWDOLVPR GHGLFDQGR R DR SDL 2 DFHVVR DRV RLWDYRV GH ¿QDO IH] VH FRP YLWyULD VREUH R 0p[LFR ² H QR )UDQNHQVWDGLRQ FRQWUD D +RODQGD GHX VH KLVWyULFD D Batalha de Nuremberga FRP FDUW}HV UHFRUGH EDWLGR HP IDVHV ¿QDLV GH PXQGLDLV DPDUHORV UHFRUGH LJXDODGR YHUPHOKRV UHFRUGH EDWLGR ( DWp SRGLD H GHYLD VHU PDLV $RV PLQXWRV %RXODKURX] GHYHULD WHU YLVWR YHUPHOKR SRU HQWUDGD DVVDVVLQD VREUH 5RQDOGR R UXVVR 9DOHQWtQ ,YDQRY QmR OKR GHX ,QFDSD] GH VXSRUWDU D GRU DRV PLQXWRV WHYH GH VDLU HP OiJULPDV %RXODKURX] DFDERX SRU LU SDUD D UXD FRP TXDVH XPD KRUD GH DWUDVR H D 6FRODUL RXYLX VH R UHFHLR SRU HQWUH D HVSHUDQoD VROWD — Estamos a apenas uma vitória de fazer o PHVPR TXH Ki DQRV ¿]HUDP (XVpELR H VHXV SDUHV FKHJDU D XPD PHLD ¿QDO 6HUi ERQLWR muito bonito e a minha grande preocupação é saber o que vai acontecer com Ronaldo que mal consegue mexer a perna por causa daquela entrada do holandês… $GYHUViULR GH 3RUWXJDO QHVVHV TXDUWRV GH ¿QDO IRL D ,QJODWHUUD 5RQDOGR UHFXSHURX GD PD]HOD H S{GH LU D MRJR HP *HOVHQNLUFKHQ OHYDQGR QDV FRVWDV D FDPLVROD TXH D DLQGD HUD GH /XtV )LJR 1mR WDUGRX D LQFHQGLDU D VXD DOD D REULJDU TXH *HUUDUG H /DPSDUG WLYHVVHP GH LU DPL~GH GDU DMXGD DR GHVHVSHUR GH *DU\ 1HYLOOH 'RV VHXV IRJDFKRV H IUHQHVLQV QmR VH VROWRX SRUpP TXDOTXHU JROR ² H DR PLQXWR GHX VH FDVR D PDUFDU OKH D KLVWyULD 5RRQH\ HQWURX GXUR DRV SpV GH 5LFDUGR &DUYDOKR H FRP HOH QR FKmR DLQGD R SLVRX 3RU HQWUH R FDORU GD FRQWHQ-


da, Ronaldo correu, empertigado para o árbitro, pedindo-lhe a expulsão. O companheiro no Manchester United exclamou-lhe: — Tu não te metas, tu… e ainda lhe deu, mais ou menos, subtil empurrão. Vendo Marcelo Elizondo (que haveria, depois, de fazer expulsão ainda mais famosa: a de Zidane perante a cabeçada de Materazzi) de cartão vermelho no ar, Ronaldo piscou, malandreco, o olho direito a Ricardo Carvalho quando o levavam, em maca, para fora do relvado e lá dentro os adversários o acusavam de «fingidor» ou «aldrabão». $R ¿P GRV PLQXWRV R placard continuava FRP ( DR ¿P GRV WDPEpP 1RV SHQiOWLV 3RUWXJDO IH] R TXH Mi ¿]HUD QR (XUR HOLPLQRX ,QJODWHUUD 1R $XI6FKDONH $UHQD 5LFDUdo não tirou as luvas para agarrar o sonho como tirara na Luz — mas saiu da baliza com um recorde: o primeiro a defender três penáltis numa grande competição internacional, os penáltis de Lampard, Gerrard e Carragher. Estava previsto

que o quinto seria ele a marcá-lo (tal como no (XUR PDV Mi QmR IRL SUHFLVR 6LPmR ¿]HUD JROR +XJR 9LDQD DWLUDUD DR SRVWH +pOGHU 3RVtiga não falhara — e, dessa vez, não o marcou à 3DQHQND UHYHODQGR R — Uma vez tem graça, à segunda já não. Chegou, assim, a vez de Cristiano Ronaldo. A TV mostrou-o de trejeitos no rosto, parecendo tenso. Ao aproximar-se da marca de penálti salWLWRX QD UHOYD EHLMRX D EROD 6HP JUDQGH EDODQço, atirou-a para o fundo das redes à guarda de Robinson — e desatou em correria para os companheiros em êxtase. Pelo caminho, apontou, de QRYR DRV FpXV ² HUD PDLV XP JROR SDUD -RVp 'Lnis Aveiro. 1R GLD VHJXLQWH R The Sun insinuou-o: «Rooney está enjoado pela forma como um colega de equipa o atirou para fora de campo, nunca mais OKH SHUGRDUi TXHU p SDUWL OR HP GRLVª )H] PDLV o tabloide: na sua primeira página pôs a cara de Ronaldo sobre um alvo sugerindo que a capa fosse usada para que lhe lançassem dardos, lhe acertassem no centro dos olhos! (E houve quem R ¿]HVVH 2 IRJDUpX GHVSHUWRX GHPyQLR SRU ,QJODWHUUD vandalizaram-lhe a casa em Manchester, agrediram-lhe a sobrinha — e, impulsivo, Ronaldo admitiu-o: — Sim, posso abandonar Manchester se sentir que as condições não são boas. Se será o Real ou o Barcelona? Um deles será. O meu diretor desportivo e o meu treinador deviam ter saído em minha defesa, mas nenhum o fez…

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 61


Ao escutá-lo, Alex Ferguson espavoriu-se — e QmR SHUGHX WHPSR D MXVWL¿FDU R VHX VLOrQFLR TXH tentara, na hora, ligar para Ronaldo, mas o númeUR TXH WLQKD QmR HUD R GR VHX UHFHQWH WHOHPyYHO H não tardaria a correr ao Algarve, onde Cristiano já estava de férias, para lhe pedir calma, dizer-lhe TXH WXGR KDYHULD GH SDVVDU (P Planeta Ronaldo DSDQKRX VH OKH D UHYHODomR — Como Cristiano tinha receio das reações no regresso a Inglaterra, expliquei-lhe que teria de enfrentar o mesmo que David Beckham quando IRL FUXFL¿FDGR DSyV R 0XQGLDO GH 'LVVH-lhe que os ingleses falam mais do que fazem, que podem fazer muito barulho, mas que jamais R DJUHGLULDP ¿VLFDPHQWH ² H TXH WXGR DFDEDULD por passar… $SHVDU GR UXPRU GH TXH R 5HDO WLQKD PLlhões de euros para o levar para Madrid, RonalGR ¿FRX HP 0DQFKHVWHU 2V SULPHLURV MRJRV GD pSRFD VHJXLQWH MRJDVVH RQGH MRJDVVH VHPSUH TXH tocava na bola levantavam-se nas bancadas assoELRV H DSXSRV ² H D LUD Vy DPDLQRX DR RXYLU VH GH :D\QH 5RRQH\ D¿DQoi OR — Não, não me zanguei com o Cris )DOHL FRP HOH ORJR DSyV R MRJR DWp OKH GLVVH ©)RL EHP MRJDGR ª 3HUFHER R TXH IH] WHQWRX TXH 3RUWXJDO ganhasse, se fosse ao contrário, provavelmente WHULD IHLWR R PHVPR FRP HOH $OLiV QD SULPHLUD SDUWH WDPEpP WHQWHL )DOHL FRP R iUELWUR SDUD lhe dar amarelo nos lances que o Cris simulou… Depois, em 0\ 6WRU\ 7KH :D\ ,W ,V, a sua DXWRELRJUD¿D 5RRQH\ YROWRX D VXEOLQKi OR QmR VHQWLUD PDOtFLD RX R TXH IRVVH GH SDUHFLGR GH &ULVWLDQR QR FDVR

62 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— $Wp HQYLHL 606 D Ronny, a dizer-lhe para HVTXHFHU R TXH DFRQWHFHX 1mR QmR R FXOSHL SRU interferir na minha expulsão e desejei-lhe boa VRUWH SDUD DV PHLDV ¿QDLV« Penálti de Zinedine Zidane afastou Portugal da ¿QDO GR 0XQGLDO GH QR DSXUDPHQWR SDUD R WHUFHLUR OXJDU D $OHPDQKD JDQKRX D 3RUWXJDO 1D internet desataram a vender-se t-shirts dizendo HP LQJOrV FODUR ©2GHLR 5RQDOGRª LQJOHVHV HP irritação conjugaram-se para, através de votação online HYLWDUHP TXH &ULVWLDQR 5RQDOGR JDQKDVVH R TXH OKH SDUHFLD GHVWLQDGR SUpPLR SDUD R 0HOKRU -RJDGRU -RYHP JDQKRX R /XNDV 3RGROVNL 5HYLVWD KRPRVVH[XDO KRODQGHVD TXH Mi DQWHV R QRPHDUD R ©PDLRU tFRQH SDUD D FRPXQLGDde JD\ª YRWRX R FRPR ©R PDLV ERQLWR R PDLV atraente e o mais VH[\ jogador do campeonato GR 0XQGRª j IUHQWH GH 'DYLG %HFNKDP 0LFKDHO 2ZHQ 5XXG YDQ 1LVWHOURR\ )UHGULN /MXQJEHUJ H .DNi


O rumor do namoro com Gemma e o belga que o queria numa maca

gritam comigo nos estádios, é um incentivo especial para mim receber tantos assobios quando toco na bola… Steve Coppell, treinador do Reading, não demoraUD D GHVFREUL OR

Ainda se soltou pela imprensa sensacionalista britânica notícia de que, entre as ameaças largadas em consequência do olho piscado na expulsão de Rooney, recebera até cartas com pó branco (o antrax que HVWDYD HQWmR QD PRGD« ² H QD VXD DXWRELRJUD¿D Momentos (a que lhe fez Manuela Brandão) Ronaldo D¿DQoRX R — Demonstrei que a pressão me torna mais forte. Pus-me à prova e ganhei. Desde o início da temporada que assumi uma máscara de gelo nos jogos em que era mais assobiado. Ignorava os assobios, transformava-os num fator extra de motivação. Foi o que se viu no The Valley, na segunda jornada da Premier League de 2006/07, contra o Charlton. Mal entrou em campo as bancadas agitaram-se em ira e assobios, cólera e insultos. Respondia-lhes com ¿QWDV H UHPDWHV ² H DQWHV GD PHLD KRUD Mi WLQKD R HVWiGLR FDODGR 2 0DQFKHVWHU 8QLWHG YHQFHX SRU $OH[ )HUJXVRQ GLVVH OKH QXP FODPRU — Tu sozinho encontraste a resposta correta. Podes fazê-los calar com as tuas qualidades. Nunca deves ter medo de mostrar o que sabes fazer e nunca deixes de mostrar essa tua coragem.

— Só podemos olhar cada vez com mais admiração para Cristiano Ronaldo, ele está cada vez mais excelente no drible, no saber cruzar e, acima de tudo, a rematar com qualidade, sobretudo de cabeça. Por entre o fulgor a soltar-se-lhe dentro de campo, soltou-se burburinho de que andava de relação com Gemma Atkinson, a atriz de Hollyoaks. A Dolores $YHLUR DSDQKRX VH OKH HP WRP ]DQJDGR — Ele não tem namorada. Não a conheço e não me interessa se ela é linda… e o The Sun pôs o seu destaque na boca de uma DPLJD GH $WNLQVRQ — A mãe de Ronaldo está provavelmente a ser somente protetora. Vi mensagens escritas que eles trocaram e são mesmo namorado e namorada. E, como sabem, Gemma é rapariga com os pés assentes na terra e não está interessada nele como se fosse um golpe publicitário porque não precisa… 2 IDODWyULR DSDJRX VH HQ¿P TXDQGR QmR muito depois, Cristiano Ronaldo garantiu à Four Four Two

Assim continuou ao longo de toda a temporada, sem que o atormentassem bancadas em frenesim, a DVVRELi OR RX D FODPDU SHOR VHX VDQJXH

— É apenas conversa de tabloide… Já ouvi falar disso, já o li, mas nem a conheço…

— Faço jogos ainda melhor quando as pessoas

Antes de Portugal defrontar a Bélgica no apu-

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 63


ramento para o Euro-2008, Stijn Stijnen, o seu guarda-redes, pusera fogo nas páginas da Gazet van Antwerpen: — Portugal tem mais qualidade, mas temos de fazer as coisas de outra maneira: em dois minutos, massacrar tanto Ronaldo que ele terá de sair do relvado numa maca… Não, também não o intimidaram assim, Ronaldo alastrou atrás do seu génio Portugal à vitória, à vitória por 4-0 — e continuou, fulgurante, a fazê-lo no Manchester United. Depois da eliminação da 5RPD QD /LJD GRV &DPSH}HV ¿FRX R GHVDEDIR PDLV ou menos poético) de Christian Panucci, o lateral a TXHP 5RQDOGR ¿]HUD ©WULQWD SRU XPD OLQKDª — Se ele foge com a bola, ninguém o apanha. Podemos compará-lo a Valentino Rossi, nas motos. Se me desse o mesmo motor que Cristiano Ronaldo tem então talvez o conseguisse apanhar…

64 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

(VVD 5RPD TXH HUD WDPEpP D 5RPD GH 7RWWL Mancini, de Rossi) saiu de Manchester vergada a KXPLOKDomR QD QRLWH HP TXH 5RQDOGR IH] R VHX SULmeiro golo na Liga dos Campeões — o primeiro e o segundo) — com Ferguson a asseverá-lo: — É sem dúvida a melhor noite de futebol para as competições europeias que tivemos aqui… Não houve quem não o achasse: a estrela maior GHVVD QRLWH IRL 5RQDOGR 7RP 2OG¿HOG VLQWHWL]RX assim o brilharete: — Sem jogar muito mal, a Roma foi derrotada por 7-1. Ronaldo estava no seu meio, dirigindo o HVSHWiFXOR H FRORFDQGR D PXOWLGmR GH 2OG 7UD̆RUG a seus pés. Ele corria em direção aos jogadores, ¿QWDYD RV GHIHVDV GH WRGDV DV PDQHLUDV H IHLWLRV com dribles e simulações, e coroou a exibição com dois golos. Só um hat-trick poderia ter tornado a noite ainda mais perfeita para ele.


O vulto que Queiroz via da janela era Ronaldo e para não o ver assim tinha de esconder-lhe as bolas

Mourinho ainda levou o despique para outro lado: — O que Ronaldo diz talvez seja devido à sua infância difícil, sem educação… E, aí, Ferguson explodiu:

Com o Manchester United em luta cada vez mais picada com o Chelsea pela Premier League de 2006/07, José Mourinho atirou em remoque: — Deve existir uma nova regra no futebol: não se poderem marcar penáltis contra o United e a favor do Chelsea.

— É realmente um golpe baixo trazer esse argumento para a discussão. Não sei por que razão o terá feito. Talvez esteja a tentar desestabilizar o rapaz. Só porque se vem de um contexto GH FODVVH SREUH LVVR QmR VLJQL¿FD TXH QmR VH WHnha educação. O que Ronaldo tem são princípios — por isso é que não lhe deu resposta. Outras pessoas são educadas, mas não têm princípios.

Ronaldo retorquiu-lhe: — O treinador do Chelsea não sabe admitir as suas próprias falhas. Mourinho ripostou: — Se Ronaldo diz que é mentira o facto de não terem existido penáltis contra o United por marcar, então está a mentir. E se é um mentiroso nunca chegará ao mais alto nível que ele deseja no futebol. Saltou, lesto, Alex Ferguson aos mind games: — José Mourinho parece estar num qualquer tipo de cruzada pessoal. Estou surpreendido por nenhuma ação ter sido tomada. É calculado. Se tivermos uma grande penalidade contra nós, Mourinho ganha essa guerra. Isso está errado. É uma pressão a toda a hora e penso que não é justo nem bom para o jogo.

Tendo-lhe percebido o espírito, Alex Ferguson cogitara forma de o espicaçar: se na temporada de 2003/04 participara em 40 jogos e marcara seis golos, ao abrir-se da época seguinte sucedera o que Cristiano Ronaldo revelou (divertido): — O boss GHVD¿RX PH FRP XPD DSRVWD TXH LQcidia no número de golos que eu seria capaz de marcar em todas as competições. Apontou 10, HX ¿TXHL PH SRU 1R DQR VHJXLQWH )HUJXVRQ aumentou para 15 golos. Queria voltar a apostar 100 libras, eu sugeri que fossem 400, eu é que subi a fasquia… De fasquia subida, 23 foram os golos que Ronaldo apontou ao longo dessa temporada de 2006/07 — ganhando, assim, a Ferguson o equivalente a 600 euros na aposta que tinham posto em jogo. Ganhou mais (e muito melhor): a 22 de abril de 2007, a Associação de Futebolistas Pro¿VVLRQDLV GH ,QJODWHUUD GHX OKH R WtWXOR GH -RJD-

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 65


dor do Ano, adiante de Didier Drogba e de Paul Scholes. Ao receber o troféu das mãos de Alex Ferguson, ouviu-se-lhe: — É incrível e uma grande honra ganhar um troféu como este na Premier League. Aliás, como estes, pois, como viram, também fui o Jogador Jovem do Ano. E é uma grande honra porque os jogadores são quem melhor conhece a qualidade de um futebolista. A apresentadora da gala solicitou comentário a Ferguson — que o solta, de rompante, assim: — Neste momento, penso que Cristiano Ronaldo é o melhor futebolista do Mundo e, nesta temporada, foi incrível aquilo que ele fez. Ponto de mágoa esperava-o à esquina do camiQKR R $& 0LODQ GH .DNi WLURX R GD ¿QDO GD &KDPpions. O outro sonho não o perdeu: o United saiu sem abalo do «jogo de vida ou de morte», no derby de Manchester, porque o que Ronaldo fez levou a que no The Times o apelidasse de «ganhador de jogos». Depois, ao sair de Stamford Bridge com 0-0 (de rolhas soltas às garrafas de champanhe na festa do título) — Cristiano Ronaldo revelou-o a repórter do Daily Mirror: — José Mourinho foi pessoalmente à cabina peGLU PH GHVFXOSD SHORV FRPHQWiULRV TXH ¿]HUD GLDV antes, e, por isso, não tenho mais qualquer problema com ele, estou contente por isso ter acontecido. Essa foi, para Ronaldo, a sua primeira Premier League — e a caminho do campeonato arrebataGR D -RVp 0RXULQKR Mi 3DXO 6FKROHV R D¿UPDUD DR Football Focus:

66 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— A quantidade de golos e de assistências que Cristiano Ronaldo já conseguiu é assustadora. 1XQFD YL QLQJXpP ¿QWDU MRJDGRUHV PDUFDU JRlos, construir jogadas de golo, como ele fez na primeira metade desta época. Muito mais fantástico haveria de ser — desa¿DQGR R GHVWLQR H R IXWXUR DWUDYpV GD DOPD TXH lhe chegava até à ponta dos pés, levando a que Carlos Queiroz o contasse: — Uma vez tive de chamar a segurança de &DUULQJWRQ SRUTXH SHQVHL TXH DOJXpP VH LQ¿Otrara nas nossas instalações: o treino acabara, GR PHX HVFULWyULR YL ¿JXUD TXH QmR SDUDYD GH VH movimentar no campo, rematando à baliza, inventava jogadas, movimentos. Era o Cristiano. E, de vez em quando, apareciam funcionários a queixarem-se de que não podiam voltar a casa a horas, que ele ainda não tinha voltado ao balneário e os colegas já de lá tinham saído: continuava, no relvado, a ensaiar os seus truques, as suas fantasias, os seus dribles, sempre a pedir o favor de mais meia hora. Por isso, cheguei a esconder-lhe as bolas do treino…


Terry perdeu a Premier League e disse: «Podia pagar bilhete só para ter o prazer de ver Ronaldo jogar» Vendo-o levar-lhe o título de campeão, John Terry, o capitão do Chelsea, louvou-lhe muito mais do que o estilo que espalhara, em fogacho, pelos campos de Inglaterra (e não só…): — Podia pagar bilhete para ver o United só para ter o prazer de ver Cristiano Ronaldo jogar. Ele faz coisas que mais ninguém no Mundo faz. No seu melhor, quase ninguém consegue pará-lo. Esta época mostrou tudo o que tinha para mostrar no relvado. É o melhor do Mundo. Ao dar-lhe o prémio da Associação de JogadoUHV 3UR¿VVLRQDLV GH )XWHERO SDUD -RJDGRU GR $QR H SDUD 0HOKRU -RYHP GD 3UHPLHU /HDJXH GREUDdinha que, antes de si, só Andy Gray conseguira — em 1977), Gordon Taylor, o seu presidente, largou-lhe o encómio em tom semelhante: — É o mais entusiasmante jogador em Inglaterra. A rapidez dos seus pés e as qualidades técnicas que possui fazem pensar, em alguns momentos, que Cristiano Ronaldo não é deste Planeta. Ryan Giggs lançou o elogio por outro lado WDPEpP QRWDQGR TXH Vy FRP XP ©FDUiWHU PXLWR HVSHFLDOª VH SRGHULD WHU GDGR D YROWD DR ©FDVR Rooney» como ele deu — e, a talho de foice, Tom 2OG¿HOG VXEOLQKRX R

— Ameaçava ser o mais estranho e infeliz ano GD YLGD GH 5RQDOGR PDV D¿QDO IRL XP VRQKR tornado realidade. Passou de vilão a herói no espaço de 12 meses, numa espantosa resposta a vaias, insultos, ataques… (QWUH RV YiULRV RXWURV SUpPLRV TXH FROKHX GH lés a lés, exaltou-se-lhe o Player of the Year dos Football Writers). Não deixou, igualmente, de ver pela primeira vez o nome lançado à corrida SDUD R 0HOKRU -RJDGRU ),)$ GH ² 3HOp QmR acreditou que o pudesse ganhar: — O melhor do Mundo é Kaká, sem dúvida, Cristiano Ronaldo ainda só é o melhor em Inglaterra… ( VLP IRL PHVPR .DNi TXHP JDQKRX 5RQDOGR ¿FRX HP WHUFHLUR RL VHJXQGR FDOKRX D 0HVVL A France Football WDPEpP GHX D .DNi R VHX Ballon d’Or ² H Dt &ULVWLDQR Mi IRL VHJXQGR $V FRPSDUDo}HV FRP 'DYLG %HFNKDP Mi QmR VH esgotavam simplesmente no número que tinha nas costas: o 7 — e, a cada dia que passava, Cristiano Ronaldo tornava-se, cada vez mais insinuante, ícone SDUD Oi GRV HVWiGLRV $VVRFLDGR j *XFFL j 3UDGD H j /RXLV 9XLWWRQ DR ODGR -HVVLFD 0LOOHU ¿]HUD HP IXURU campanha (em tronco nu…) para a Pepe Jeans. Admitiu poder imitar Cantona e aventurar-se a Hollywood como ator, mas só quando tivesse a carreira de IXWHEROLVWD IHFKDGD ² 7RP 2OG¿HOG QRWRX R — Não há sinais de que a sua fama se evapore nos próximos tempos, antes pelo contrário… $ $OH[ )HUJXVRQ TXH Mi VH DWUHYHUD D FRPSDUi-lo a Pelé e a Maradona no seu destino), quando

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 67


lhe perguntaram se não temia que a avalancha de elogios (os dele e os dos outros) pudessem ser SHULJRVRV R WUHLQDGRU GR 8QLWHG D¿DQoRX R

Muito mais espantoso estava para vir — e não IRL SUHFLVR HVSHUDU PXLWR 5LR )HUGLQDQG S{ OR H DR VHX IXWXUR SROYLOKDGR GH SRHVLD

— Esse problema só existe quando os jogadoUHV ¿FDP YDLGRVRV H FRPHoDP D JRVWDU GLVVR No Cristiano não existe absolutamente nenhum VLQDO GH TXH HOH VH SRVVD SHUGHU SRU LVVR $QWHV SHOR FRQWUiULR (P 0DQFKHVWHU DPDGXUHFHX PDUDYLOKRVDPHQWH H Vy TXHU XPD FRLVD VHU VHPSUH PHOKRU R PHOKRU MRJDGRU GR 0XQGR $ VXD PHOKRULD HVWD pSRFD IRL H[WUDRUGLQiULD (P WHUPRV GH IXWHERO GH DOWR QtYHO RQGH p TXH VH HQFRQWUD XP H[WUHPR TXH WHQKD PDUFDGR JRORV FRPR &ULVWLDQR PDUFRX QHVWD WHPSRUDGD"

— 4XDQGR &ULVWLDQR FKHJRX DR 0DQFKHVWHU H[LELD VH EDVWDQWH ² HUD FRPR XP SyQHL D H[LELU VH 4XHULD GULEODU Vy GULEODU ² PRVWUDU DRV DGHSWRV FRPR HUD ERP FRORFDU WRGD D JHQWH DRV VHXV SpV 4XDQGR VH GHX FRQWD GH TXH DVVLP LULD DFDEDU FRPR XP SURGXWR DSHQDV GH H[SRVLomR H TXH SDUD VHU R PHOKRU MRJDGRU GR 0XQGR WHULD GH PDUFDU PXLWRV JRORV H WHU PDLV LPSRUWkQFLD HP WRGRV RV MRJRV SDVVRX D HVIRUoDU VH DLQGD PDLV SDUD VHU HVVH KRPHP D sua grandeza…

68 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo


Numa expulsão (por causa de cabeçada) começou a transformar-se o ‘showman’ em ‘goal man’ (aprendendo a jogar futebol como Borg ou Federer no ténis) Essa transformação de showman em goal man começou a dar-se-lhe ao raiar da temporada de 2007/08. Com a Premier League na sua terceira jornada, Cristiano saiu expulso de jogo com o Porthsmouth porque, cansado, ante os seus dribles e os seus enleios, de sofrer entradas ríspidas e faltas rudes de Richard Hughes, esquentou-se — e deu-lhe uma cabeçada. Punido com três jogos de castigo, Alex Ferguson pôs Ronaldo nas mãos de um dos seus assistentes: René Meulensteen — que Carrington tinha como «Especialista no Treino de Desenvolvimento de Competências» — e a primeira pergunta que lhe atirou foi: - Em que é que tu és bom? e, recebendo em resposta: «Técnica», exclamou-lhe: - OK, então com o um-dois, mais a capacidade de movimentação que tu tens, vamos tornar-te imprevisível e assim muito difícil de marcar para os defesas. $QWHV GH OKH UH¿QDU RXWUDV YLUWXGHV 5HQp 0HXOHQVWHHQ FHQWURX VH QHVVD D¿UPDQGR OKH DLQGD

não tão provocador como haveria de ser depois): — Quando te rasteiram, a imagem que vemos é de uma pessoa que pensa: Ahhh… não me pode rasteirar, eu sou o Cristiano Ronaldo. Tens de aprender a jogar futebol como Bjorn Borg jogava ténis, como Roger Federer joga ténis: frio! Se o adversário deixar de te rasteirar, isso é mau VLQDO 6LJQL¿FD TXH HQFRQWURX RXWUD IRUPD GH te parar. Tens de querer que eles te rasteirem. Para isso é fundamental que, vendo o defesa aproximar-se, sejas inteligente em vez de seres emotivo… Depois de Meulensteen ter entregue a Ronaldo YtGHR FRP LPDJHQV GH 0XKDPPDG $OL H 3HOp SRU entre citações sobre vontade, espírito de sacrifício, fé e empolgamento), fez mais: — 0RVWUHL OKH FOLSHV GH &UX\̆ XP HVSHFLDOLVta a evitar tackles. Ele sentia a aproximação dos adversários, simulava uma mudança de direção e eles deslizavam à sua frente. Depois expliquei-lhe: «O mais importante, Ronaldo, é a tua expressão facial. Não reajas a nada. Derrubam-te? Levanta-te e limpa-te!» — que os defesas ¿FDP GHVHVSHUDGRV D SHQVDU ©2 TXH p TXH HX posso fazer mais, então?!». Domina-os com as tuas qualidades, deprecia-os com a tua habilidade e joga sempre a pensar que tu é que tens o controlo de ti, não é mais ninguém! René Meulensteen passou, então, ao outro lado da estratégia, da estratégia para fazer dele goleaGRU PDLV FHUWHLUR H iYLGR &RQKHFHQGR OKH R HJR abriu com a primeira das «três armas fatais» que LGHDOL]DUD SDUD HVVD VXD PLVVmR SRU GHQWUR GD VXD cabeça), a que denominou: «acusação»:

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 69


— 2 WHX SUREOHPD GH ¿QDOL]DomR HVWi PXLWR UHODFLRQDGR FRP D WXD DWLWXGH H SRUWDQWR FRP D WXD WRPDGD GH GHFLVmR 4XDQGR HVWiV D MRJDU SURFXUDV VHPSUH VHU R FHQWUR GDV DWHQo}HV FRPR VH QmR WH FDODVVHV GH GL]HU ©2OKHP SDUD PLP WmR ERP TXH HX VRX ª 3RUWDQWR HVWiV D ID]HU XP PRQWH GH FRLVDV TXH QmR VLJQLILFDP QDGD SDUD RV WHXV FROHJDV Continuando a espicaçá-lo, René Meulensteen avançou para a segunda «arma», a que chamou «provocação»: — (VWLYH D YHU RV WHXV JRORV GD pSRFD SDVVDGD H Vy PDUFDVWH 6DEHV SRUTXr" 3RUTXH WX TXHUHV VHPSUH PDUFDU JRORV SHUIHLWRV ©2OKHP SDUD PLP &DQWR VXSHULRU ª 1XQFD WH HVTXHoDV 5RQDOGR GH TXH R LQGLYtGXR PDLV LPSRUWDQWH p DTXHOH TXH HOHYD D HTXLSD H QmR R SUySULR 7X DFKDV R FRQWUiULR 0XGD HOHYD D HTXLSD H D HTXLSD YDL HOHYDU WH GHSRLV Da conversa soltou-se, enfim, a terceira «arma fatal», o «desafio». Meulensteen perguntou-lhe, de fogacho: — 4XDQWRV JRORV DFKDV TXH SRGHV PDUFDU HVWD pSRFD" Ronaldo atirou-lhe (sem pestanejo):

Desataram, então, a sublimá-lo, num criativo processo revolucionário — René Meulensteen contá-lo-ia: — 'XUDQWH XPD VHPDQD HP &DUULQJWRQ WUHLQiPRV GLIHUHQWHV FHQiULRV $WULEXLX FRUHV DRV TXDWUR FDQWRV GD EDOL]D &ULVWLDQR 5RQDOGR ¿FDYD GH FRVWDV UHFHELD D EROD JULWDYD D FRU H FKXWDYD SDUD R UHVSHWLYR FDQWR (UD DVVLP WUHLQDGR SDUD DVVRFLDU XPD LPDJHP GD VLWXDomR DR UHVXOWDGR GHVHMDGR RQGH HVWRX" 2QGH HVWi R JXDUGD UHGHV" 4XDO D PHOKRU VROXomR" ² HUD GH IRUPD VXEFRQVFLHQWH R FpUHEUR D WUDEDOKDU A 12 de janeiro de 2008, o seu primeiro KDt-WULFN no Manchester United teve por vítima Shay Given, na vitória por 6-0 ante o Newcastle (de Michael Owen). Ronaldo deixou o relvado de Old Trafford com a bola do jogo debaixo do braço, no balneário Ryan Giggs assinou-a e, por baixo do autógrafo, colocou a frase: «QRW EDGª. A esse «nada mau» juntou-lhe o conselho (que já lhe largara de outras vezes: que não insistisse em atirar à ribalta o que era o seu sonho «ser o melhor do Mundo»), sublinhando-lhe: Com março no fim, soltou-se-lhe dos pés, ainda mais empolgante, pedaço de imortalidade: ao minuto 17 da jornada 17 fez, de calcanhar, ao Aston Villa, o seu golo 17 — um golo que Tom Oldfield eternizou assim:

— (QWUH H e René alvitrou-lhe: — 3RLV HX DFKR TXH SRGHV PDUFDU PDLV GH H SDUD PDUFDUHV PDLV GH YDPRV FRPHoDU Mi QR FDPSR D WUDEDOKDU D WXD ILQDOL]DomR

70 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— 8PD REUD SULPD GH SXUD FODVVH PRPHQWR LQHVTXHFtYHO SDUD TXDOTXHU DYDQoDGR FRP Ip QDV VXDV PHOKRUHV KDELOLGDGHV HVVH SRUWHQWR GH WpFQLFD IRL PDUFDGR SHOD PDJLD GR VLPEROLVPR GRV Q~PHURV FRPR VH IRVVH XP PRPHQWR SUHGHVWLQDGR


17 dias antes, sinal do terror que criara já nas equipas que tinha de defrontar vivera-se em Lyon (para a Liga dos Campeões): na ânsia de o travar (ou de o desconcentrar), adepto do Olympique usou raio laser (que lhe atirava das bancadas aos olhos) sempre que via Cristiano a aproximar-se, em perigo e frenesim, da sua baliza. (O caso levou a multa da UEFA de 3675 euros — e haveria de repetir-se, depois, em Barcelona e em Múrcia, quando Ronaldo já saltara para o Real). A 18 de março de 2008, Alex Ferguson dera-lhe pela primeira vez a braçadeira de capitão — e Cristiano Ronaldo retribuiu-lhe com dois golos ao Bolton. Sem que se comparasse ao que fora a vida de Best, Ronaldo não deixava, porém, de andar em furor também pelo que era

a sua vida fora de campo — e, por esses dias, arrastava consigo Nereida Gallardo. Auxiliar de enfermagem, lançara-se a modelo para pagar curso de dietética e nutrição — e conhecera Cristiano numa boate de Palma de Maiorca (onde, então, vivia). Por abril, o Daily Mail publicou a primeira foto de Cristiano Ronaldo com Nereida – a chegarem, de mão na mão, a um restaurante em Chesire — horas depois de, com golo seu, o Manchester United ter ganho ao Arsenal, mantendo-se, assim, imparável na corrida para o título da Premier League (numa altura em que já se tornara o mais caro jogador da história do Manchester, recebendo, só de ordenado, 120 mil libras por semana).

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 71


Em Moscovo, o «dia mais belo da vida» que poderia ter sido o mais triste (e o suplício em que teve de andar para jogar por Portugal)

Antes do Europeu ganhou a sua primeira Champions ao Chelsea, em Moscovo. Com caEHFHDPHQWR LQGHIHQViYHO D GHVD¿DU D OHL GD JUDvidade abrira o marcador, aos 26 minutos. O prolongamento acabou com 1-1 — e quando, no desempate, lhe coube marcar o terceiro penálti, permitiu defesa a Petr Cech. Viu-se-lhe como, a custo, travou as lágrimas — e minutos depois, no regresso ao júbilo, Luís Filipe Simões, enviado especial de A BOLA a Moscovo, apanhou-lhe: — Ao falhar o penálti pensei que sairíamos dali derrotados e teria sido o pior dia da minha vida. Não foi, foi o dia mais belo da minha vida! A frase: «O dia Mais Belo da Minha Vida» fez a manchete de A BOLA — e a Ronaldo (o melhor marcador dessa edição da Champions) ainda se lhe escutou (por entre emoção picada): — Persegui muito este título! Juntando a Liga dos Campeões à Premier League (ganha com mais dois pontos que o Chelsea e mais quatro que o Arsenal) e à Charity Shield, também calçou (pela primeira vez) a Bota de Ouro. René Meulensteen não falhara o prognósWLFR ¿]HUD JRORV HP MRJRV ² H QR EDODQ-

72 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

ço dessa época de 2007/08, escreveu-se no The Guardian: «Ninguém poderá objetar legitimamente a que Cristiano Ronaldo se tornou o atacante mais devastador do Mundo». De Moscovo levara Ronaldo a Champions — e a lesão agravada: nova pancada no tornozelo tornou-lhe inevitável a operação. Contudo, antes de se sujeitar à mesa do cirurgião, jogou (com as dores amansadas na medida do possível…) o Euro-2008 — e com ele fazendo apenas um golo j 5HS~EOLFD &KHFD GH 3HWU &HFK 3RUWXJDO ¿FRX-se pelos quartos, eliminado pela Alemanha (por GLDV GHSRLV D GH MXOKR GH HQtrou na sala de operações do AMC Hospital (em Amesterdão) — e a equipa de Cornelius van Dijk tratou-lhe do desprendimento de dois fragmenWRV GH FDUWLODJHP TXH OKH FDXVDYDP LQÀDPDo}HV constantes — e o que não se suspeitava era que tal não bastasse para lhe resolver o que se tornara, apesar de tudo, o seu calcanhar de Aquiles. Pelos jornais britânicos passava Nereida Gallardo em fogachos, cada vez mais comparada a Victoria Beckham — e fotos dela com Cristiano Ronaldo nas praias da Sardenha (após a conquista de Moscovo) puseram paparazzi em virote e HXIRULD 2 TXH QmR VH LPDJLQDYD HUD TXH D¿QDO as «imagens de felicidade» que eles vendiam «a SHVR GH RXURª HVWLYHVVHP D FDPLQKR GR ¿P R VHX «tórrido romance» não chegasse, sequer, a 2 de dezembro de 2008, dia em que a France Football o anunciou (em pompa) vencedor da edição 53 GD %ROD GH 2XUR FRP YRWRV HP SRVVtYHLV (Lionel Messi, o segundo, não passou de 281) —, e não, não foi nada que não se esperasse. Três dias antes, Ronaldo revelara-o à Gazzetta dello Sport:


— $FKR TXH ¿] PDLV GR TXH QLQJXpP SDUD R FRQVHJXLU« e quando o repórter lhe falou do Euro-2008, como a única sombra da temporada, Cristiano lembrou-lhe: — (P WRGRV RV MRJRV HUD FRPR WHU XPD IDFD FUDYDGD QR Sp 1mR TXHUR YROWDU D VHQWLU R PHVPR (UD WRUWXUDQWH GR SRQWR GH YLVWD SVLFROyJLFR WDPEpP A Bola de Ouro da )UDQFH )RRWEDOO recebeu-a em Paris. Emocionado se apanhou ao escutar elogios gravados em vídeo, de Evra, Kaká, Anelka, Benzema, Eto’o, Scolari — e ainda mais quando, de súbito, subiu Alex Ferguson ao SODWHDX e soprou o clamor: — &ULVWLDQR PHUHFH HVWD %ROD GH 2XUR D %ROD GH 2XUR TXH R 0DQFKHVWHU 8QLWHG HVSHUDYD Ki DQRV SRLV IRL Ki DQRV TXH *HRUJH %HVW D JDQKRX 5RQDOGR p ERP DOLiV PXLWR ERP $PDGXUHFHX WmR GHSUHVVD TXH QHP HX SUySULR R SRGHULD LPDJLQDU TXDQGR HOH VH MXQWRX D QyV Ki FLQFR DQRV 2 TXH PDLV PH DJUDGD QHOH p D VXD EUDYXUD H D VXD FRUDJHP $ FRUDJHP QR IXWHERO p FRPR QD YLGD 5HFRQKHFH VH GH YiULDV PDQHLUDV $ FRUDJHP GH QmR SHUGHU D EROD LQGHSHQGHQWHPHQWH GH VHU DFRVVDGR H GHVDUPDGR SHOR DGYHUViULR ,VVR p LQDWR QHOH 1mR WHP PHGR 7HQKR YLVWR SRXFRV MRJDGRUHV WmR YDOHQWHV FRPR 5RQDOGR 4XHP SHQVD TXH WHU FRUDJHP QR IXWHERO p URXEDU D EROD DR DGYHUViULR HQJDQD VH 6HU FRUDMRVR p WHU D EROD TXHUr OD H MRJi OD e XPD FRUDJHP PRUDO H Vy RV PXLWR JUDQGHV D SRVVXHP 6LP 5RQDOGR p Mi XP GHOHV H WHQGR DSHQDV DQRV R PHOKRU GH VL DLQGD HVWi SDUD YLU HX VHL

Por essa altura, já o 7KH 6XQ espalhara, sensacionalista, a notícia: «Ronaldo separou-se de Nereida por descobrir que ela teve caso amoroso com Sergio Ramos e, segundo amigos dele, Cristiano não gostou da possibilidade de terem de se cruzar nos balneários quando se juntar à equipa de Madrid…» Ramón Calderón acenara-lhe com 9,5 milhões de euros de ordenado líquido anual e que ao Manchester United estava disposto a dar 80 milhões pelo seu passe — e depois de Alex Ferguson condenar a «falta de ética do Real» e de comparar o clube à «ditadura de Franco», apresentou queixa à FIFA por «comportamento inaceitável para com Cristiano Ronaldo». Surpreendente (ou talvez não) foi Joseph Blatter (depois da parada subida para 88 milhões) ter dito que o Manchester deveria deixá-lo sair, sem deixar de falar em «escravatura moderna» (no caso dos contratos de longa duração). Sem que se tivesse já anunciado que tomaria o lugar de Luiz Felipe Scolari como selecionador nacional, Carlos Queiroz estava de férias em Portugal — e, de um alvoroço para outro, ligou para Manchester (sem esconder preocupação): — Boss WHQKR R &ULVWLDQR FRPLJR H SUHFLVR GH VL DTXL« Alex Ferguson apanhou o primeiro avião que lhe servia e ao chegar à casa de Queiroz, quem lhe abriu a porta foi Ronaldo. A dado passo da conversa, Ferguson lançou-lhe o bramido: — 6HL TXH TXHUHV PXLWR R 5HDO 0DGULG PDV GD PDQHLUD FRPR R &DOGHUyQ HVWi D ID]HU LVWR SUH¿UR GDU WH XP WLUR D YHQGHU WH«

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 73


Ronaldo riu-se e do riso partiu para a decisão fechada: que, então sim, aceitava o que o treinador lhe assegurara: que o Manchester United se comprometia a que, no ano seguinte, se ele continuasse a desejar sair, o deixaria ir embora. Ainda durante o seu romance, o tabloide News of the World pagara a Nereida Gallardo para que ela aparecesse numa sessão de fotos em topless (e diáfana lingerie) — facto que logo se soube ter «irritado» Cristiano — e para que contasse ao Correio da Manhã por que deixara de ser namorada de Ronaldo exigiu que lhe desse 45 mil euros. O jornal achou demasiado — e não tarGRX TXH RV ©VHJUHGRV GR QDPRUR H GR VHX ¿Pª (e outras intimidades com Ronaldo…) aparecessem com ela, no News of the World («secreto foi o cachetª D FRQWDU TXH ©WXGR DFDEDUDª D¿QDO através de um SMS:

74 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— Nesse ponto, é um cobarde, um cobarde sem coragem para terminar uma relação cara a cara. Não, não foi só: desvendando-lhe ainda o «lado metrossexual» (que passava por depilações e cremes hidratantes) e as suspeitas de traição descobertas no telemóvel, Nereida pôs mais em fogacho: — Acabei por compreender que o maior amor de Cristiano Ronaldo é… ele mesmo. A casa dele está cheia de espelhos que usa para se admirar a si próprio, tem uma obsessão pelo número 7 e cada vez mais espalha as suas iniciais, CR por todo o lado: das maçanetas das portas às toalhas do banho. Está sempre a ligar à mãe e não me surpreenderia se a sua próxima namorada fosse ela que a escolhesse…


A chutar (cada vez melhor) a bola como se lhe desse um murro, o Ferrari desfeito e o Prémio Puskas com dragão abatido

Com o seu sonho de pequenino adiado: o sonho de jogar no Real Madrid — a 15 de novembro de 2008, Cristiano Ronaldo marcou ao Stoke City o seu golo 100 pelo Manchester United. Ainda colheu outro título: o Mundial de Clubes, em Yokoama JDQKDQGR D ¿QDO j /LJD GH 4XLWR VXUSUHHQGHQWH YHQFHGRU GD 7DoD GRV /LEHUWDGRUHV ² H WHQGR Mi recebido a Bola de Ouro da France Football, surpresa seria que não sucedesse o que sucedeu na Gala da FIFA, na Opera House de Zurique (a 12 de MDQHLUR GH &DQGLGDWRV D ),)$ :RUOG 3OD\HU HUDP WDPEpP /LRQHO 0HVVL )HUQDQGR 7RUUHV .DNi H ;DYL +HUQDQGH] 6LOYLH 0HLV D DSUHVHQWDGRUD GR HVSHWiFXOR TXH HUD PXOKHU GH 5DIDHO YDQ GHU 9DDUW HQWmR MRJDGRU GR 5HDO 0DGULG FKDPRX 3HOp SDUD D DSUHVHQWDomR GR YHQFHGRU DR VXELU DR palco tropeçou num degrau da escadinha, livrou-se GD TXHGD SHJRX QR PLFURIRQH DEULX R HQYHORSH ² e, depois dum sorriso, exclamou: — Tenho de contar isto! No ano passado, após entregar o prémio a Kaká, apertei a mão a Cristiano Ronaldo e disse-lhe no nosso português: «Da próxima vou entregar o troféu a ti…». /HYDQWRX R FDUWmR H QXP PXUP~ULR D TXH QmR IDOWRX HPRomR RXYLX VH D 3HOp — Cristiano Ronaldo!

Silvie sublinhou-o: — The best football player in the world is Cristiano Ronaldo A ele (que colhera 935 votos dos selecionadoUHV H FDSLWmHV GDV HTXLSDV GD ),)$ ¿FDQGR 0HVVL FRP 7RUUHV FRP .DNi FRP H ;DYL FRP DSDQKRX VH OKH QR GLVFXUVR GH vitória a premonição: — É um dos meus dias mais felizes e… e… espero voltar outra vez… 4XDWUR GLDV DQWHV GD FRQVDJUDomR HP =XULTXH Cristiano Ronaldo passara por «tremendo susto»: seguindo da mansão de cinco pisos (e garaJHP SDUD FDUURV TXH FRPSUDUD SRU PLlhões de libras (que por 2006 equivaliam a mais GH PLOK}HV GH HXURV SDUD R FHQWUR GH WUHLQRV de Carrington (com o Bentley de Edwin Van der 6DU VHX YL]LQKR HP &KHVLUH DWUiV GH VL j EHLUD do aeroporto de Manchester perdeu o controlo do seu Ferrari 599 GTB Fiorano F1 — que ao embater, primeiro, num rail de proteção, resvalou SDUD SDUHGH GR W~QHO Oi ¿FDQGR FRP D IUHQWH SUDticamente toda destruída. Uma das rodas dianteiras descobriram-na 200 metros adiante — e WHVWHPXQKD GLVVH SRU HQWUH R DOYRURoR j %%& — É espantoso que Cristiano Ronaldo tenha saído dos destroços do carro sem um arranhão sequer, percebia-se, apenas, que estava agitado e nervoso com o que lhe sucedera. Em vésperas de se anunciar o vencedor da Bola de Ouro de 2008, numa das suas sempre poéticas crónicas, Jorge Valdano escreveu-o:

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 75


— $ VHQVDomR ¿QDO p D GH TXH FRP &ULVWLDQR 5RQDOGR H 0HVVL FRPHoD XPD QRYD HUD 1HQKXP GHOHV VH GHYH HVTXHFHU SRUpP TXH D FRURD TXH GHL[RX 0DUDGRQD DLQGD HVWi j SURFXUD GXPD FDEHoD TXH SDVVH j KLVWyULD« Essa batalha, entre Cristiano Ronaldo e Messi, pela primeira linha do Olimpo não deixou mais de se espicaçar — e arrastando-se, lesta, até à final da Liga dos Campeões de 2008/09. Para lá chegar, foi a custo que o Manchester United se desembaraçou do FC Porto (nos quartos de final): saindo de Old Trafford com 2-2, o sonho portista morreu num pedaço mais de imortalidade a soltar-se dos pés de Ronaldo, no Dragão, no golo que, nesse ano, lhe valeu o Prémio FIFA (e que, depois, em eleição promovida pela FIFA, internautas consideraram o melhor da década). A propósito desse golo ao FC Porto (e não, não era só) o 'DLO\ 0DLO chamou-lhe 7KH 5RFNHW 0DQ (O Homem Foguete) e o / eTXLSH tratou-o como /D )RXGUH Ronaldo (O Raio Ronaldo). Saindo-lhe a bola traiçoeira, como saía em tiros de 20, 30, 40 metros, Arsène Wenger lembrou-se do efeito da folha seca de Didi e cognominou-o: «O Remate Luso-Brasileiro». Percebendo-lhe a mesma técnica na cobrança de livres, Fabio Capello di-lo-ia: — &KXWD D EROD FRPR VH OKH GHVVH XP PXUUR H HOD VDL OKH WHUUtYHO GR Sp (Num desses livres, quando já os tinham cunhado como 7RPDKDZN, a velocidade da bola atingiu 119 km/h — e Ken Bray, investigador da 8QLYHUVLGDGH GH %DWK D¿UPRX R

76 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— 4XDQGR p FKXWDGD SRU &ULVWLDQR 5RQDOGR D EROD SDUHFH GH basebol 2 YRR p PXLWR FDyWL FR 3RU LVVR WRUQD VH WmR LPSUHYLVtYHO FRPSOH WDPHQWH VHOYDJHP PDQWHQGR VH HP PRYLPHQWR VHP TXDOTXHU OyJLFD 'LDQWH GRV QRVVRV ROKRV DOJXQV JXDUGD UHGHV SRGHP SDUHFHU HVW~SLGRV PDV HOHV QmR WrP FXOSD QHQKXPD GRV JRORV TXH VRIUHP DVVLP ) $EHUWD j ¿QDO HQWUH R 0DQFKHVWHU 8QLWHG H R Barcelona, Roma transformou-se num duelo entre Messi e Cristiano Ronaldo, muito mais do que num duelo entre Alex Ferguson e Pepe Guardiola — e a CR apanhou-se-lhe o brado: — 9HQFHU HVWi PH QR VDQJXH De Roma não levou a Champions (como levara de Moscovo), levou desolação: — e VHPSUH FRPSOLFDGR SHUGHU ¿QDLV PDV TXDQGR QmR VH MRJD EHP SDJDPRV SRU LVVR 6LP R %DUFHORQD IRL PHOKRU R 0DQFKHVWHU HVWHYH GH] PLQXWRV EHP QR MRJR H D SDUWLU GDt QXQFD PDLV VH YLX 1mR VHL H[SOLFDU 1yV RV MRJDGRUHV QmR HVWLYHPRV EHP D WiWLFD WDPEpP QmR IRL ERD WXGR FRUUHX PDO 2 TXr" 6H R WHU VH IDODGR WDQWR GR GXHOR FRP 0HVVL PH DIHWRX" 1mR QDGD ,VVR VmR FRLVDV TXH QmR PH SHUWXUEDP« Ao saber do resultado, na Nigéria, fanático pelo Manchester United (ou melhor: por Cristiano Ronaldo), vendo magote a delirar com a vitória do Barcelona atirou-lhe com o autocarro que conduzia para cima, fazendo quatro mortos e 10 feridos graves. E ninguém duvidava que Messi lhe tirara, em Roma, a Bola de Ouro das mãos…


Recebido no Real Madrid como Maradona não fora recebido em Nápoles

— Onde andaste, rapaz, que já é noite? O quê? Andaste a jogar com o Adelino e aquela garotada mais velha? E porque é que vens triste, pequeno? e o que a mãe ouvira fora o que era já a voz do seu caráter (o sinal do seu futuro):

Apesar de ter voltado a conquistar a Premier League e a Taça da Liga, também falhou a Bola de Ouro — e, duas semanas após a mágoa de Cristiano Ronaldo pela Liga dos Campeões perdida, o Mundo alvoroçou-se com a notícia de que o Real tinha 94 milhões de euros para dar por ele. Quando, pequenino, vivia num barraco da Quinta do Falcão (e às vezes fugia pela janela para ir jogar à bola — e se bola não tinha, descalçava-se, tirava as meias e com elas fazia uma de trapos…) ouvira-se-lhe no que, então, pareceu que só poderia ser devaneio: — Um dia quero jogar pelo Real Madrid! Dissera-o, por exemplo, quando os amigos do bairro (todos eles mais velhos…) lhe permitiram que entrasse como eles em jogo no Caminho do Lombinho (com balizas feitas de pedras) e, ao seu ¿P HVSDQWDGR FRP RV GRLV JRORV TXH PDUFDUD Adelino, o líder da trupe, lhe largara o espanto: — Com seis anos é assim, nem quero pensar no que vais fazer quando tiveres nove…

— Ganhámos, marquei dois golos, mas eu queria ter marcado três… Estando de férias na América, Jorge Mendes WHOHIRQRX OKH D GL]HU TXH VH WRUQDUD HQ¿P MRJDdor do Real Madrid. Eram duas da manhã em Los Angeles, o Real deu por ele o que nunca ninguém dera por um futebolista (e colocou-lhe a cláusula de rescisão em 1000 milhões) e a primeira declaração que lhe apanharam foi: — Vivi o meu momento no Manchester United, estou já impaciente por iniciar no Real nova etapa da minha vida. É um acordo histórico, 80 milhões de libras é, na verdade, muito dinheiro. (Para lá, para o Real, tinham ido Zinedine Zidane por 75 milhões de euros, Kaká por 65 milhões e Luís Figo por 61 milhões — as três maiores transferências da história, até então.)

e, recebera, como resposta, em solto bramido:

Florentino Pérez (que com Ronaldo contratado abriu, fulgurante, a sua presidência — na sequênFLD GD GHPLVVmR GH 5DPyQ &DOGHUyQ D¿UPRX R

— Isso também não sei, mas sei que um dia quero jogar no Real Madrid!

— As contratações que parecem as mais caras, depressa parecem as mais baratas…

Nesse dia, já por entre a penumbra, Cristiano voltara a casa para o jantar, Dolores atirara-lhe de fogacho a pergunta:

e Jorge Valdano, então diretor-desportivo do Real, explicou-o (como sempre, na sua sedutora linguagem):

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 77


ambiente e euforia assim. Florentino Pérez notou-o: — O que está a suceder esta noite não tem precedentes na história do futebol… e para dar mais espavento à sessão, pediu que Eusébio se juntasse a Alfredo Di Stéfano, a seu lado, na tribuna, com as bancadas do estádio em frenesim. Surgiu, então, sebastiânico, do túnel — e logo se viu que Cristiano Ronaldo não seria 7, seria 9 (o 9 que fora de Di Stéfano, de Santillana, de Hugo Sánchez, de Zamorano, de Morientes e do outro Ronaldo) — o 7 continuaria a ser de Raúl: — Sim, eu queria o 7, mas sei que é o número de um jogador mítico da equipa. Mas tudo bem, o que me preocupa é fazer as coisas bem, não o número. Quem joga sou eu, não é o número que trago nas costas.

— Cristiano Ronaldo é um postal futebolístico. Pagámos o que pagámos porque o vale, o retribui e com juros. É investimento de um clube que está na indústria do espetáculo. Ter Cristiano, como ter Kaká, permite-nos transformar o Mundo inteiro num mercado e isso, num momento de crise, garante-nos um potencial económico que de outra maneira o Real Madrid não poderia ter. A 6 de julho de 2009, a recebê-lo no Bernabéu estavam 80 mil pessoas — e Ronaldo perguntou, com humor: — Mas vai haver jogo? Nem a chegada de Maradona ao Nápoles criara

78 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

Michael Pratt contou-o (em A Ascensão de um Vencedor): — Dentro do seu cacifo novo estava uma série GH FUXFL¿[RV 7LQKD XPD JUDQGH FROHomR GHOHV mas aqueles eram os seus preferidos. A última pergunta de uma longa conferência de imprensa foi: — Quem é o melhor do Mundo: tu, Messi ou Kaká? e a resposta de Cristiano correu a sala em alvoURoR FRPR XPD GDV VXDV ¿QWDV PXLWR VXEWLO — O melhor do Mundo é o Madrid!


Na guerra dos bruxos, o de Fafe ganhou ao de Málaga (e pelo meio houve o mistério Paris Hilton e o mistério da mãe de Cristianinho)

HUD DSHQDV XP MRJDGRU PDO SDJR GH XPD OLJD GH basebol H TXH HVWDYD PHVPR DSDL[RQDGD SRU HOH«

Jorge Valdano levantara-lhe (ou não) outros véus:

O «caso Paris Hilton» começara numa foto publicada pelo 'DLO\ 0DLO, com ambos em troca de carícias num clube noturno de Los Angeles, durante as férias de Ronaldo nos Estados Unidos, horas após saber-se da sua transferência para o Real — e a revelação de uma amiga da «herdeira dos hotéis» numa frase insinuante:

— )RL PH HQFRPHQGDGR SRU XPD PXOKHU (OD H D VXD IDPtOLD VmR SHVVRDV PXLWR LPSRUWDQWHV (VSHUDYD XP KRPHP H QmR XPD barbie 9HQGR VH WUDtGD IUXVWUDGD FRP XP KRPHP WmR LGRODWUDGR VRXEH HQFRQWUDU PH 3HGL OKH URXSD tQWLPD GHOH H XPD IRWRJUD¿D GR 5RQDOGR FRP R HTXLSDPHQWR GR 5HDO 3HJXHL QD IRWR H WUDWHL D FRP yOHRV H RXWUDV FRLVDV TXH QmR SRVVR UHYHODU ² H ORJR QR MRJR VHJXLQWH FRQWUD R 7HQHULIH 5RQDOGR LQWHUURPSHX D VpULH GH JRORV TXH HVWDYD D ID]HU H IRL VXEVWLWXtGR 1D YpVSHUD GR MRJR FRP R 0DUVHOKD XWLOL]HL XP ERQHFR GH vodu e IHLWR HP FHUD QHJUD H WHP D ¿JXUD GH XP FRUSR KXPDQR &ROHL D IRWR QD SDUWH GD IUHQWH GR ERQHFR 'HSRLV FUDYHL DJXOKDV QRV WRUQR]HORV QRV RPEURV QD HVSLQKD GRUVDO H QD WHVWD 4XDQGR WHUPLQHL FRORTXHL WXGR GHQWUR GH XPD XUQD VHPHOKDQWH jV TXH VH XVDP SDUD GHSRVLWDU DV FLQ]DV GRV FRUSRV TXHLPDGRV ² H R 5RQDOGR VDLX OHVLRQDGR GR MRJR $ PmH GH 5RQDOGR SRGH DMRHOKDU VH j PLQKD IUHQWH HP OiJULPDV TXH HX QmR YRX SDUDU 3RGHP FKHJDU D PLP FRP PLO HXURV TXH HX PDQWHQKR D PLQKD SDODYUD 2 IHLWLoR QmR VH TXHEUD

— 2 TXH D 3DULV PH GLVVH p TXH &ULVWLDQR p PXLWR PHOKRU GR TXH R VHX H[ QDPRUDGR TXH

1HVVH GHVD¿R FRP R 0DUVHOKD D GH VHWHPEUR GH SDUD D /LJD GRV &DPSH}HV 6RX-

— 5RQDOGR p XPD ¿JXUD FRPR IXWHEROLVWD PHVPR VHP MRJDU IXWHERO DQWHV PHVPR GH SHQVDU QLVVR 3RGHULD YLYHU FRPR PRGHOR $OpP GLVVR H[LVWH RXWUD FLUFXQVWkQFLD TXH R WRUQD IDVFLQDQWH PDV TXH p PXLWR GLItFLO GH DQDOLVDU D VXD FDSDFLGDGH GH DSDUHFHU H GHVDSDUHFHU 8P GLD HVWDQGR GH IpULDV DSDUHFH QXPD IRWR FRP 3DULV +LOWRQ H FRQVWUyL VH XP HQRUPH HQUHGR ,PHGLDWDPHQWH ¿FD WUrV PHVHV HP TXH Mi QDGD VH VDEH VREUH RQGH HVWi H SRUTXH VH HVFRQGH 'HVDSDUHFH (VWH PLVWpULR FRQWULEXL SDUD GDU j SHUVRQDJHP WUDoRV LQGHFLIUiYHLV TXH DWDP H[WUHPDPHQWH D RSLQLmR S~EOLFD

Já com Ronaldo em Madrid, rumor foi que ele deixara de lhe atender chamadas ou responder-lhe a mensagens — e, de um instante para o outro, atirou-se à berlinda Pepe, o %UX[R GH 0iODJD D FRQ¿UPDU TXH HVWDYD D ID]HU ©WUDEDOKLQKRª contra Ronaldo:

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 79


leymane Diawara atingiu-lhe o tornozelo direito, obrigando-o a largar o relvado do Santiago Bernabéu a coxear. Menos de 15 dias depois, Ronaldo aventurou-se ao Portugal-Hungria, de apuramento para o Mundial da África do Sul, sofrendo entorse que o obrigou a paragem de quase um mês. Entretanto abriu-se, em torno do seu tornozelo, «guerra de bruxos». Ao soltar-se que Dolores Aveiro pedira a Fernando Nogueira, o Bruxo de Fafe, que com a sua ©PDJLD EUDQFDª GHV¿]HVVH R ©IHLWLoRª GH 3HSH R Bruxo de Málaga não se importunou:

— A minha magia é a negra, é uma combinação explosiva e Ronaldo é quem vai sofrer as consequências. Repórter do Correio da Manhã foi a Espanha falar com Pepe, que admitindo ter recebido já 15 mil euros pela primeira «fase do trabalho» (cabendo-lhe, depois, mais 15 mil), reiterou a decisão de não revelar quem lhe encomendara a «magia negra»: — Sou uma mistura de sacerdote com médico, WHQKR GH UHVSHLWDU D FRQ¿GHQFLDOLGDGH GRV PHXV clientes… E avisou: — Esqueçam o Ronaldo para o Mundial! Vai parar um mês. Depois, no espaço de uma semana, leva nova pancada e são mais dois ou três meses de lesão. Nessa altura é o golpe final. Daqui a quatro meses, no máximo, volta para Portugal e nunca mais volta a jogar futebol. Para tal, ao CM também o segredou: que trabaOKDYD ©WUrV YH]HV SRU VHPDQD ² VHJXQGDV WHUoDV e sábados —, de noite, hora e meia, num cemitério perto de casa, em Málaga» e «sentado no chão de um quarto à luz das velas, espetando pregos QD IRWRJUD¿D H HVSDOKDQGR SRU FLPD GD LPDJHP vários produtos por si preparados»: — Para ter a certeza de que o ponho fora do futebol, corto-me na barriga e uso o meu próprio sangue. E trabalho nu, para que a pureza do meu corpo também me ajude a atingir o objetivo.

80 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo


2 TXH 3HSH QXQFD FRQ¿UPRX IRL TXH D WDO ©PXOKHU GH ERDV IDPtOLDVª TXH ©QmR HUD HVSDQKRODª ² HUD RX QmR 3DULV +LOWRQ ( D GH QRYHPEUR GH R JN GHX QRWtFLD GH TXH )ORUHQWLQR 3pUH] HVFUHYHUD D )HUQDQGR 1RJXHLUD DJUDGHFHQGR OKH RV ©DPXOHWRV GH SURWHomRª TXH OKH HQYLDUD SDUD 0DGULG MXQWDQGR OKH D D¿UPDomR UHLWHUDGD GR Bruxo de Fafe: — Cristiano Ronaldo nunca teve magia negra nenhuma. Tinha era muita inveja à volta dele e os amuletos que lhe enviei são, precisamente, para afastar as invejas. $QWHV GH LU D MRJR QR 0XQGLDO GD ÈIULFD GR 6XO VDEHQGR TXH 1pOVRQ 0DQGHOD JRVWDULD GH R FRQKHFHU 5RQDOGR IRL FRP &DUORV 4XHLUR] YLVLWi OR j VXD FDVD QR 6RZHWR HQTXDQWR R UHVWR GD 6HOHomR DQGDYD QXP VDIDUL (QFRQWURX R DFDPDGR

RIHUHFHX OKH FDPLVROD GH 3RUWXJDO FRP R Q D VXD LGDGH H R QRPH QDV FRVWDV *ROR GH 'DYLG 9LOOD HOLPLQRX 3RUWXJDO 'LDV DQWHV QDVFHUD HP 6DQ 'LHJR &ULVWLDQR 5RQDOGR GRV 6DQWRV -~QLRU ² H D PmH YLURX PLVWpULR (P DJRVWR GH 0DQXHOD 6LOYD TXH WUDEDOKDUD HP FDVD GH .DWLD $YHLUR FRPR DPD H GHVJRVWRVD SRU WHU VLGR GHVSHGLGD UHYHORX j UHYLVWD Vidas GR Correio da Manhã — Uma vez em que veio notícia no jornal a dizer que a mãe do Cristianinho queria o bebé de volta, Katia disse-me: «Isto é tudo mentira, porque a mãe do menino é mexicana e nem sequer viu se era menino ou menina, porque ela é uma barriga de aluguer». Até me disse que o menino tinha duas mães, que os óvulos eram de uma e a barriga de outra. E que as duas eram mexicanas.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 81


Da holandesa que acampou à sua porta a Irina (a neta da mulher que andara de arma na mão a lutar pelo Exército Vermelho)

Depois do turbilhão em torno de Paris Hilton, vários outros nomes de namoros e enlevos se foram soprando ainda a sete ventos — e pelo caminho Ronaldo, ele próprio, o revelou, divertido: — Uma vez, uma mulher holandesa acampou, literalmente, em frente da minha casa em Manchester. Saltou as grades e disse-me que me viu uma vez na Holanda e que eu a tinha olhado de modo especial. Por isso, estava ali à porta da minha casa. Não tinha dinheiro, nem sítio onde ¿FDU $R RXYLU OKH D MXVWL¿FDomR 5RQDOGR GHX OKH 200 libras pelo bilhete de volta a casa e encarreJRX DPLJR GH YHUL¿FDU VH HOD HQWUDUD PHVPR QR avião: — Entrar, entrou. Mas, um mês depois, estava de novo parada à minha porta. Nesse momento não tive paciência e ameacei que chamava a polícia. Ela foi-se embora e não voltou a aparecer. Fora nas águas verde-azuladas da Córsega, dias antes de Cristiano Ronaldo partir para o Mundial da África do Sul, que um paparazzo apanhou as primeiras imagens de Cristiano Ronaldo e Irina Shayk: ambos em esplendor ao sol, à boca do

82 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

portaló dum iate de luxo — quando ela já era a imagem da Intimissimi a correr os quatro cantos do Mundo, em deslumbrante sensualidade. Nascida a 6 janeiro de 1986 (véspera do Natal ortodoxo) num bairro pobre de Yemanzhelinsk, na república russa da Basquíria, junto à fronteira do Cazaquistão, do pai, mineiro, Irina herdou D FRU GD SHOH WUDoR GH HWQLD GR 7DUWDULVWmR UHgião em redor do rio Volga. Da mãe, professora GH SLDQR H HGXFDGRUD GH LQIkQFLD ¿FRX FRP D cor dos olhos. A lutar contra a pobreza, cresceu a cantar no coro da igreja, a sonhar ser professora de literatura. Ou jornalista. O encanto vinha-lhe de Fiódor Dostoiévski, do Crime e Castigo que lera num suave empolgamento. 7RFDYD SLDQR ² H WmR EHP TXH KDYLD TXHP VH espantasse que dos dedos se lhe soltassem «concertos de Beethoven sem falhas». Foi por essa alWXUD DRV DQRV TXH R SDL OKH PRUUHX GH GRHQoD grave nos pulmões que a mina lhe causara. Para ajudar a mãe, a irmã e as avós a sobreviverem, procurou trabalho. Deram-lhe a fazer uma pintura no hospital de Chelyabinsk — e continuou a estudar marketing. Um dia viu anúncio para uma agência de modelos — e foi lá oferecer-se. O diretor levou-a ao concurso Miss Chelyabinsk. Ao anunciarem-lhe o nome como vencedora, o teatro agitou-se em euforia como nunca antes se vira, alguém contou. Foi em 2004 — e, no ano seguinte, já estava em Paris com o futuro nas mãos. Pelo primeiro trabalho como modelo recebeu 500 dólares, enviou 400 para a mãe que, com eles, comprou um sofá. A avó paterna lutara, de arma na mão, no Exército Vermelho durante a II Guerra Mundial, conde-


coraram-na por «feitos heroicos» — e nunca deixou de ser o farol e a inspiração de Irina. O seu apelido era Shaykhlislamova — e foi esse que Irina escolheu em sua homenagem. Aliás, não foi esse, sendo «difícil de soletrar» encurtou-o para Shayk. Durante algum tempo na aventura apenas teve dinheiro para... comer. Não, não por muito: conquistou a Guess, a Armani, a Lacoste (e mais, muito mais depois...). Em 2007 apareceu, pela primeira vez, na edição de fatos de banho da Sports Illustrated. Ao vê-la numa das páginas dos fundos da revista, um perspicaz diretor da Intimissimi nem hesitou: trocou a brasileira Ana Beatriz Barros por ela — e, quatro anos depois, Irina tornou-se a primeira russa a fazer a capa da SI (não mais deixando de andar por outras famosas revistas, da GQ à FHM).

Em fervor fez editoriais para os livros CR Fashion, foi a estrela de Culo, publicação de nus artísticos de Raphael Mazzucco (um dos mais afamados fotógrafos do Planeta) por onde também passaram Pamela Anderson, Lady Gaga, Nicole Scherzinger (já não namorada de Lewis Hamilton) e Paris Hilton. Continuando a desfilar para as principais marcas do Mundo, Irina foi estrela em destaque na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi — e, ao raiar de 2015, deu-se notícia da sua separação de Ronaldo. Hollywood já lhe abrira portas para fazer de Megara no Hércules, de Brett Ratner, contracenando com Dwayne Johnson — que como The Rock se afamara no wrestling.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 83


Dos abdominais que levaram à piada de Aznar à falsidade de ‘Ruby Rouba Corações’

Pepe que passara a seu companheiro no Real, revelou-lhe outras virtudes (para além daquelas que cada vez mais saltavam aos olhos do Mundo): — Futebolisticamente, é um fenómeno. FisiFDPHQWH WDPEpP ² H LVVR GHYH VH DR SUR¿VVLRnal tremendo que ele é, obcecado pelo trabalho — e, sobretudo, por ganhar. Em tudo. No ténis, no pingue-pongue, em qualquer jogo… Bem, no ELOKDU QmR p DVVLP WmR ERP ¿FD DERUUHFLGR VH perde e pede logo para tirar desforra. Não quer ir para a cama sem ter ganho. É muito brincalhão. Imita-te. Desenha-te num papel. Quer ter sempre razão. Quando discutimos sobre algo, seja o que for, se não está de acordo, vai à internet SDUD YHUL¿FDU TXHP WHP UD]mR ( DV VXDV apostas têm sempre que ver com o ginásio: «O TXH SHUGHU ID] ÀH[}HV DEGRPLQDLVª diz. Mas eu, mesmo que perca, não os posso fazer. Não há quem lhe siga o ritmo. Dos seus abdominais soltaram-se vários rumores, que eram 3000 por dia. O que levou a que até José Maria Aznar, o primeiro-ministro espanhol, brincasse com a situação: ² (X IDoR H[HUFtFLR WRGRV RV GLDV PDV QmR consigo ser como Ronaldo, não chego aos 600 abdominais.

84 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo, ele próprio, divertiu-se com a notícia em fogacho: — 4XDOTXHU MRJDGRU VDEH TXH VH ¿]HU DEGRPLQDLV SRU GLD QmR ¿FD EHP SHOR FRQWUirio. Dá cabo das costas. O que eu faço é abdominais por prevenção, duas vezes por semana, QDGD TXH FKHJXH DRV H[DJHURV GH TXH VH IDOD« Estando, como cientista de treino, responsável pelo Real Madrid TEC — centro de alto rendimento do clube que haveria até se ser chamado à NASA, para revelação das suas metodologias — Valter Di Salvo (que já se cruzara com ele no 0DQFKHVWHU 8QLWHG D¿UPRX R D (QULTXH 2UWHJR — para o seu Sonhos Realizados): — Cristiano é um homem com persistência, DPELomR SDFLrQFLD H SDL[mR 'LULD DWp TXH D VXD IRUoD PHQWDO HVWi j IUHQWH GDV FDUDWHUtVWLFDV genéticas e do desenvolvimento que faz delas. Pode ter-se essas qualidades, ele tem-nas como um predestinado, mas sem força mental não se consegue ir mais além — e melhorá-las como ele as melhora. Essa força mental também lhe serviu para ultrapassar momentos muito maus da sua vida privada, como quando morreu o pai H SUR¿VVLRQDOPHQWH SRU H[HPSOR DTXDQGR GH WRGD D SROpPLFD FRP 5RRQH\ SHOD VXD H[SXOVmR no Mundial de 2006. A imprensa atacava-o. Os adeptos assobiavam-no. Teve problemas com a MXVWLoD SRUTXH GXDV UDSDULJDV IRUDP j SROtFLD acusá-lo. Ficou demonstrado que era tudo mentira, uma invenção. Foi para a frente com tudo. E sozinho. Se não se tiver essa força mental, não se ultrapassam coisas como estas. Assobiavam-no e ele metia um golo. Mais assobios, mais golos. Respondia no campo. A sua atitude foi:


«Que falem do jogador de futebol, dentro — e não da pessoa, fora». Essa é a melhor linguagem no mundo do futebol. A situação chegou a um ponto em que nos jornais se pedia que, se quisessem ganhar ao United, deixassem de assobiar ou de provocar Ronaldo…».

Antes ainda de Berlusconi admitir ter-lhe dado 57 000 euros — «não em troca de favores sexuais, PDV SRU WHU ¿FDGR FRPRYLGR FRP D VXD KLVWyULD H vontade de fugir à pobreza — para a ajudar a abrir um salão de beleza» — Ruby surgiu em inquérito a D¿UPi OR

Por entre a história a repetir-se aqui e ali, a Ronaldo escutou-se-lhe o brado:

— Não sou prostituta, nunca fui — a única vez em que fui paga por relações sexuais foi quando tive sexo com o futebolista Cristiano Ronaldo…

— Se Deus não agrada a toda a gente, como é que eu hei de agradar? e admitiu que sim, o amargurava darem de si indício do que não era (não é): — Sou uma pessoa muito normal, simples, só teQKR XPD FDUD 0XLWDV YH]HV ¿FR WULVWH SRU GDU RXWUD imagem, mas os que me conhecem sabem como sou. Era maio, maio de 2010 — e à berlinda saltou Karima El-Mahroug — marroquina que por Itália se conhecia como Ruby Rouba Corações: acusada de roubar 3000 euros a uma prostituta de luxo, levaram-na presa. À esquadra de Milão não tardou a chegar chamada de Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro que continuava dono e senhor do AC Milan, pedindo que a soltasse para evitar transtornos diplomáticos — por ela ser familiar de Hosni Mubarak, o presidente do Egito. Não, não tinha nada a ver com Mubarak — Ruby era simplesmente uma das participantes nas «orgias de Berlusconi» (que, por causa disso, acabaria condenado a sete anos de prisão e inabilitação pelo resto da vida para exercer qualquer cargo público, por abuso de poder e incitação à prostituição de menores, sentença que, contudo, acabaria anulada pelo Supremo Tribunal).

Ruby deu, muito convicta, o dia: em 29 de dezembro de 2009 — e começando a admitir que correra para a discoteca de Milão por saber que Cristiano Ronaldo lá estava, garantiu ao agente de polícia: — Ao acordar, num hotel de luxo da cidade, encontrei na mesa de cabeceira, junto de 4000 euros em notas de 500, bilhete que dizia: Espero que, quando voltar, já não estejas no meu quarto. Para me vingar, ao encontrar, de novo, Cristiano Ronaldo na discoteca, despejei-lhe um copo de chamapnhe em cima e atirei-lhe as notas de 500 euros à cara. No que tocava a CR, era, uma vez mais, tudo falsidade, fantasia — a falsidade e a fantasia que o tabloide The Sun atirara a quatro ventos. A sua defesa, fê-la Ronaldo em comunicado (a desmascarar o embuste): «Não conheço a jovem em causa, nunca a vi, nem muito menos me encontrei com ela. No dia 29 de dezembro de 2009, concretamente, encontrava-me em Madrid, onde treinei, como, aliás, no dia seguinte. Entre dezembro de 2009 e junho de 2010 não estive em Milão uma vez que fosse».

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 85


A expulsão de Pepe que levou à escaramuça com José Mourinho Com José Mourinho no Real Madrid, o Barcelona desfez-lhes o sonho da Champions. E pior: foi aí que a relação entre eles azedou. Na primeira mão, o Barça venceu por 2-0, no Santiago Bernabéu, os golos de Messi só surgiram depois de polémica expulsão de Pepe — e, na conferência de imprensa, Mourinho lançou artilharia ao árbitro, à UEFA, a Guardiola — e a vários dos seus jogadores (que acusou de terem andando em campo a simular agressões em busca de vermelhos): — Se eu disser ao árbitro e à UEFA o que penso e o que sinto, a minha carreira termina aqui. E como não posso dizer o que sinto, deixo uma pergunta que, espero, tenha algum dia resposta. Porquê? Não sei se é a publicidade da UNICEF, não sei se é o poder do senhor Ángel María Villar na UEFA, não sei se é por eles serem muito simpáticos, não sei… Parabéns por uma fantástica equipa de futebol, mas parabéns também por tudo o que têm também que deve ser muito difícil de conseguir. Eles conseguiram esse poder. Os outros não têm nenhuma possibilidade. Marcou falta ao contrário, falta contra o Barça e, de repente, por milagre, Pepe é expulso, a equipa com 10 e via livre para resolver os problemas que desportivamente não tinham podido UHVROYHU (OHV WrP GH FKHJDU j ¿QDO H FKHJDUmR j ¿QDO 3RUTXr UHSLWR SRUTXr" 3RUTXH p TXH XPD equipa desta dimensão, uma equipa de futebol fantástica, precisa de uma coisa que é óbvia e que todos viram?!

86 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

Agreste e amargurado no seu solilóquio, Mourinho desatou, então, a falar de árbitros, dos árbitros que, no passado (e, nessa noite, através de Wolfgang Stark), tinham feito o que ele achava ter sido o jogo do Barcelona (e seguiu, descabelado, no seu ataque): — Obrevo… De Bleeckere… Busaca… Frisk… Stark… Porquê? Eu não entendo. O futebol deve ser jogado com regras iguais para todos. Para todos! Depois que ganhe o melhor. Se calhar, hoje empatávamos 0-0 e, no segundo jogo, em Camp Nou, o Barcelona ganharia com mérito e nós aceitá-lo-íamos com fair-play. Mas porquê hoje, tudo aquilo, outra vez? Porquê?! Num jogo equilibrado, que estava 0-0, porquê fazer o que ele fez? Só o árbitro pode responder, mas não o fará porque irá descansado para casa sem ter de responder nada, a ninguém. No Inter, no ano SDVVDGR ¿]HPRV XP PLODJUH ² H HVWH DQR QmR foi possível outro milagre com 10. Sim, digo que não foi possível porque o Real está afastado da ¿QDO GD &KDPSLRQV« ,UHPRV D %DUFHORQD FRP todo o orgulho e respeito por este nosso mundo que é o futebol, mas que às vezes me dá um pouco de asco. E disse que o Real está afastado da ¿QDO GD &KDPSLRQV SRUTXH VH ¿]HUPRV XP JROR em Camp Nou, e deixarmos a eliminatória outra vez aberta, matam-nos outra vez. A Cristiano Ronaldo também não deixou de se lhe apanhar ira em fogacho: — Não entendo! Não entendo como é que em todas as eliminatórias da Champions, o Barça acaba a jogar contra 10. Mourinho tem razão. O Barcelona meteu-nos todos os golos contra 10. Mas talvez não tenhamos feito um bom jogo. O


0-0 até poderia ter sido um bom resultado. Em Barcelona eles teriam de marcar e nós jogaríamos no contra-ataque… Eu, como atacante, não gosto de jogar assim, mas tenho de me adaptar àquilo que a equipa me pede… Segundo Diego Torres (em A Guerra de Mourinho) — essa última frase de Cristiano Ronaldo, sentiu-a José Mourinho como traição: «Quando se reencontraram em Valdebebas, no dia seguinte, não se cumprimentaram. O regresso aos treinos foi o cenário do profundo mal-estar enraizado no plantel contra o treinador. Casillas e Ramos estavam à cabeça do numeroso grupo que considerava que a conceção de jogo, orientada para o 0-0, tinha sido uma vergonha. Um erro tático e estético». 0RXULQKR DIDVWRX 5RQDOGR GR GHVD¿R VHJXLQWH na La Liga — e Diego Torres também o contou: «Quando soube que não estava na lista dos convocados sentiu que era uma represália. Os seus colegas viram-no começar aos murros contra as bilheteiras e contra as paredes. «Filho da puta!» — gritava — «Filho da puta!». Estava fora de si. O técnico, que se sentia enganado pelas declarações do jogador depois do último clássico, marginalizou-o do jogo, consciente de que não havia QDGD TXH R ¿]HVVH VRIUHU PDLVª O episódio está igualmente descrito em A Guerra de Mourinho: que antes da partida para a segunda mão da Champions, o treinador chamou o plantel a reunião, exclamando-lhes: — Em Barcelona temos três opções: duas impossíveis e uma possível. A única opção possível é o jogo acabar com um resultado apertado

e perdermos a eliminatória. Das duas opções impossíveis, a primeira é meterem-nos uma goleada. Temos de evitar isso a todo o custo para podermos culpar os árbitros. A outra impossível é ganharmos a eliminatória. Se entrarmos no campo para conservar o 0-0 e, se por acaso, DFDEDUPRV DSXUDGRV SDUD D ¿QDO SHUIHLWR 0DV a prioridade é conseguir um resultado apertado para deitarmos a culpa aos árbitros. Um 2-1, um 1-0, um empate… servem-me para dizer que nos roubaram no Bernabéu. Se nos derem uma VRYD VHUHPRV RV PDLV ULGtFXORV GR IXWHERO PXQdial, porque, no dia seguinte, todos os media dirão: «Onde estão os árbitros, Mourinho?!... Onde estão os árbitros, jogadores do Real?!...». O que talvez se não esperasse foi o que logo depois Diego Torres revelou — que Mourinho se virou para Ronaldo, interpelando-o, agreste: — Tu, Cris! Anda cá que tenho de te dizer uma coisa. Digo-te na cara: queixas-te de que aqui, DJRUD MRJDPRV j GHIHVD 0DV VDEHPRV SRUTXH p que jogamos assim? Por culpa tua. Porque, como WX QmR FRQVHJXHV GHIHQGHU QmR TXHUHV IHFKDU DV alas, tenho de meter a equipa atrás. Zangaste-te porque não te pus a jogar em Bilbau, porque tu, quando jogas, jogas à tua maneira. Para conseguires os teus objetivos pessoais. E talvez o culpado seja eu por te consentir isso. Mas tu estás na tua. Vais aos media H HP YH] GH ID]HUHV R TXH WHQV GH ID]HU FULWLFDV QRV SRUTXH VRPRV GHIHQVLYRV 6DEHV R TXH GHYLDV WHU IHLWR" &ULWLcar o árbitro, pensar em mim, pensar na equiSD« 1R RXWUR GLD HP YH] GH ID]HUHV R TXH HX WH GLVVH FULWLFDVWH D PLQKD WiWLFD &ULWLFDVWH PH D mim! Não tens respeito pelos teus colegas. Vê-los a correr. Estás a vê-los, como correm Pepe

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 87



e Lass, e levantas as mãos a protestar porque as bolas não chegam a ti! Podias ser melhor colega e, em vez de levantar as mãos, ires à conferência de imprensa e falares mal do árbitro. Porque inventei um sistema para ti, para que estejas cómodo, não corras, marques golos! Jogamos assim por tua culpa! Se te ponho a correr nas costas de Dani Alves tu deixas que ele se vá sozinho. O que é que se passa? Achas, porventura, que Di Maria é menos do que tu?

gritaria aumentou até parecer uma troca ruidosa de palavras. Cristiano Ronaldo, surpreendido, estava cego de raiva. Mourinho, mais frio, articulava claramente: «Tu agora não gostas de mim. Poderás falar mal de mim. Mas eu gosto de ti porque tu és irmão do meu irmão. Se tu não tens isso claro, eu tenho. Eu faço o que o meu irmão me pede. E dei tudo por ti! Agora tu devias fazer o mesmo por mim!». Kaká murmurou:

Fazendo fé, ainda, em A Guerra de Mourinho — abriu-se escaramuça: «Cristiano Ronaldo não se acobardou. Começou a gritar-lhe em português. Perguntou-lhe que diabo estava ele a dizer, acusou Mourinho de tergiversar, de misturar acontecimentos sem ligação entre si, de manipular a realidade em seu proveito. A

88 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— Mas quem é o irmão dele?! O irmão de que está a falar?! Higuaín deu-lhe a resposta num sussurro: — É Jorge Mendes!


Do primeiro título pelo Real à polémica pelos golos que não festejou

O que aconteceu no Camp Nou foi empate: 1-1 — seguindo, apesar disso, o Barcelona para D ¿QDO GD /LJD GRV &DPSH}HV TXH JDQKRX DR 0DQFKHVWHU 8QLWHG HP :HPEOH\ H WHQGR JDQKR LJXDOPHQWH R FDPSHRQDWR D 7DoD GR 5HL GH SHUGHX D ² H HVVD 7DoD GR 5HL IRL R SULPHLUR WtWXOR GH &ULVWLDQR 5RQDOGR QR 5HDO $ ¿QDO IRL HP 9DOrQFLD ² H DWUDYpV GR JROR GH &5 DRV PLQXWRV QXP YLVWRVR JROSH GH FDEHoD TXHEURX VH HQJXLoR GH DQRV QD FRPSHWLomR 5RQDOGR IHFKRX R FDPSHRQDWR FRP JRORV JDQKRX R VHX SULPHLUR Pichichi SUpPLR SDUD R PHOKRU PDUFDGRU GD /LJD D VXD VHJXQGD %RWD GH 2XUR

HVWDQGR DSHQDV PLQXWRV HP FDPSR H SDUD YLQFDU R TXH HUD XPD HVWUDQKD DQJ~VWLD WDOYH] QmR RV IHVWHMRX RVWHQVLYR — (VWRX WULVWH SRU XPD TXHVWmR SUR¿VVLRQDO SRU LVVR QmR IHVWHMR JRORV 1mR HVWRX IHOL] DV SHVVRDV GR FOXEH VDEHP SRUTXr ( QmR QmR YRX GL]HU PDLV QDGD« $LQGD OKH SHUJXQWDUDP VH HUD SRU ,QLHVWD WHU VLGR FRQVLGHUDGR R 0HOKRU -RJDGRU GD (XURSD VH R VHQWLUD FRPR LQMXVWLoD ² H 5RQDOGR H[FODPRX — 1DGD D YHU QDGD D YHU No programa (O /DUJXHUR, da Cadena Ser, leYDQWRX VH SRQWD GR YpX DR PLVWpULR DEHUWR SHORV JRORV QmR IHVWHMDGRV

$ SUp pSRFD GH Ir OD R 5HDO 0DGULG HP /RV $QJHOHV QDV LQVWDODo}HV GD 8&/$ ² H ORJR Dt VH SHUFHEHX D REVHVVmR SLFDGD HP 0RXULQKR JDQKDU D 6XSHUWDoD DR %DUFHORQD FRPHoDU Dt D cumprir-se o destino que ele alvitrara no intervaOR GR DGHXV j OLJD DQWHULRU FRQWUD R $OPHUtD QD polémica palestra ao intervalo: — … ganhar tudo! *DQKRX D 6XSHUWDoD PDUFDGD SHOD HVFDUDPXoD GH 0RXULQKR FRP 7LWR 9LODQRYD ² H WDPEpP SRU XP JROR DQWROyJLFR GH 5RQDOGR« ² H JDQKRX D /LJD FKHJDQGR D KLVWyULFRV SRQWRV &RP D SURFLVVmR D VDLU GR DGUR FRORX VH SRUpP RXWUD polémica a Cristiano: fez dois golos ao Granada

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 89


— Cristiano Ronaldo reuniu-se com Florentino Pérez, dizendo-lhe que não se sentia bem no clube e o melhor seria deixá-lo sair, a discórdia tem a ver com o facto de ainda não lhe terem renovado o contrato, não lhe aumentarem o orGHQDGR FRPR R %DUFHORQD ¿]HUD D 0HVVL« Continuando-se por setembro de 2011, foi o Real Madrid jogar ao Maksimir com o Dínamo d Zagreb — ganhou por 1-0, mas Ronaldo teve de deixar o campo a mancar. Antes disso, Jerko Leko atingira-o com mais um pontapé, o árbitro não lhe mostrou o segundo amarelo e soltara-se ainda mais a ira a Ronaldo. Espalhou-a, já a caminho do autocarro da equipa — antes já se ouvira a Ricardo Carvalho: — O árbitro foi injusto. Os jogadores do Dínamo Zagreb. Tiveram entradas muito duras VREUH R &ULVWLDQR TXH SRU LVVR ¿FRX PXLWR FKDWHDGR ² FKDWHDGR H FRP R WRUQR]HOR PDJRDGR« 2 DPDUJRU OHYRX D TXH 5RQDOGR R D¿UPDVVH dorido (por dentro e por fora): — Não entendo estas arbitragens. Alguns jogadores são protegidos, ninguém lhes pode tocar. A mim podem atacar-me e derrubar-me — e nada! 'XUDQWH R GHVD¿R DSDQKDUD VH SRU YiULDV YHzes o clamor solto em urros das bancadas (na ânsia de o provocarem): — 0HVVL 0HVVL 0HVVL e essa foi a razão por que atirou aos quatro ventos frase que haveria de correr, polémica, de lés a lés:

90 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— Às vezes penso que por ser rico, bonito e grande jogador, as pessoas têm inveja de mim. Não encontro outra explicação para o que me ID]HP H D RXWURV QmR« 7XGR LVVR TXH VH VROWDYD H VROWD D¿QDO GR seu caráter, do seu espírito — desse «detestar perder ou ser ofendido» que lhe vinha de longe, de muito longe — por exemplo, da edição de 1995 do Atrapalhança (gíria madeirense para o futebol de rua), torneio para a canalha (como também se diz da miudagem) que se fazia no Funchal e que levaria a que Fernão de Sousa, o seu padrinho, o contasse: — Vendo o Andorinha eliminado, o Cristiano atirou-se ao chão, com as lágrimas a caírem-lhe do rosto, as lágrimas que se lhe viram no Euro ² H GHSRLV RXWUDV YH]HV PDLV« Por dentro teve Ronaldo lágrimas outra vez a galope — na noite em que o Bayern de Munique DIDVWRX R 5HDO 0DGULG GD ¿QDO GD /LJD GRV &DPpeões de 2011/12 (que o Chelsea, de José Bosingwa e já sem André Villas Boas, ganhou), a noite que arrastou José Mourinho ao desespero assim revelado no jornal 0DUFD: — Foi a única vez, em toda a minha carreira, que chorei depois de uma derrota. Karanka e eu, parados, à frente da minha casa, dentro do carUR D FKRUDU« 2 5HDO HUD D PHOKRU HTXLSD GH (Vpanha, a melhor equipa da Europa por isso foi WmR GXUR HQJROLU HOLPLQDomR DVVLP«LQIHOL]PHQte, isso também é futebol. Cristiano Ronaldo, .DNi 6HUJLR 5DPRV« WUrV DXWrQWLFRV PRQVWURV D PRVWUDUHP QRV SHQiOWLV IDOKDGRV TXH D¿QDO HUDP KXPDQRV«


«Seria um crime Ronaldo não ganhar» (disse Mourinho) — e Ronaldo não ganhou!

Nos 121 golos do Real Madrid nessa La Liga houve 46 de Cristiano Ronaldo — e esses mais cinco do que na temporada anterior não lhe bastaram para ganhar, de novo, a Bota de Ouro porque Lionel Messi fez 50 (nos 112 do Barcelona). Ante a enorme expetativa em torno do vencedor da Bola de Ouro 2012, ouviu-se de José Mourinho: — Se Messi é o melhor do Planeta, Cristiano é o melhor do universo. É muito mais difícil ser Ronaldo do que ser Messi. Cristiano é um jogador que não é protegido por nada nem por ninguém. Veem o corpanzil que o animal tem e pim, e pim, e pim. O outro não: sofre uma falta, há amarelo de pronto, não lhe toquem mais se não vão para a rua. Seria um crime o Cristiano não ganhar a Bola de Ouro... Dissera-o já depois de Portugal ter voltado ao seu fulgor no Euro-2012. Para lá chegar precisara do play R̆ HPSDWDUD QD %yVQLD HVPDJDUD QD /X] 1D IDVH ¿QDO GR 3ROyQLD 8FUkQLD FDOKRX R grupo da morte. Na estreia, derrota contra a Alemanha, 0-1. Contra a Dinamarca, Varela entrou aos 84 minutos e, aos 85, fez o 3-2. Seguiu-se a Holanda — e explodiu Ronaldo, 2-1, o seu segundo golo não foi só um golo, foi uma obra de arte. A vingança, ao chapéu de Poborsky a Baía no Euro-1996, que também saiu da cabeça de CR. &RQWUD D (VSDQKD ¿FRX D 6HOHomR D FHQWtPHWURV GD ¿QDO $R ¿P GR SURORQJDPHQWR ² H &ULVtiano já nem teve tempo de marcar o seu penálti, que antes disso Deus fora espanhol, Vicente del Bosque (que assim levou o título de Treinador do Ano a José Mourinho) admitiu-o: — Tivemos sorte. Bruno Alves rematou à barra e a bola não entrou, Fàbregas rematou ao poste e a bola entrou. Depois, a Espanha bateu a Itália por 4-0 — e juntou ao título de campeão do Mundo o de campeão da Europa. Ainda antes da temporada de 2012/13, o As deu, bombástico, a notícia: que o sheikh Mansour, proprietário do Manchester City, estava disposto a pagar 200 milhões de euros pelo passe de Cristiano Ronaldo, danGR OKH Vy GH RUGHQDGRV PLOK}HV SRU DQR ² H D UHVSRVWD GH )ORUHQWLQR 3pUH] IRL ¿UPH H IHFKDGD DVVLP — Só o levam pela cláusula de rescisão! A cláusula de rescisão que estava em 1000 milhões de euros.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 91


Não, não era verdade a história da camisola trocada com assassino

trocar de camisola com ele, Ronaldo recusou-o — e que, a caminho do balneário, jornalistas lhe apanharam o sussurro: — Não troco camisolas com assassinos!

Fazendo A BOLA de Cristiano Ronaldo o Homem do Ano 2013, ao lançar-se-lhe a pergunta: — Tem algum jogador preferido? a resposta saiu-lhe divertida: — Para além de mim?! Estou a brincar, estou a brincar! Não, não tenho jogador preferido. Existem jogadores fantásticos e eu gosto de jogar como eles… Por essa altura já Enrique Ortego (que lhe esFUHYHUD ELRJUD¿D VRE pJLGH GR 5HDO R FRQWDUD — Poucas semanas depois de estar em Madrid, ao regressar de uma viagem, Sergio Ramos perguntou-lhe se no dia seguinte se encontravam para almoçar ou jantar. A resposta de Cristiano surpreendeu todos os que a ouviram: «Não posso, amanhã tenho sessão de cartas…». Ante o espanto dos demais, soltou-se de si a explicação: que dedicava um dia por semana a responder às cartas de admiradores que lhe chegavam de todos os cantos do Mundo. Haveriam de ser mais, eram então cerca de 2000 as cartas que recebia. Em março de 2013, Portugal jogou em Telavive o apuramento para o Mundial do Brasil — e contou-se que quando Yuval Shpungin pediu para

92 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

O rumorejo de que se dera assim a simbólica DWLWXGH GH DIURQWD D ,VUDHO GHYHX VH WDPEpP DR facto de, meses antes, Cristiano Ronaldo ter posto a leilão a Bota de Ouro de 2011 para recolha de fundos em benefício de crianças pobres da Faixa de Gaza (que, assim, receberam milhão e meio GH HXURV 1mR IRUD Vy WDPEpP VH VDELD TXH GH RXWUD YH] ¿]HUD R PHVPR FRP YiULDV FKXWHLUDV ² para ajudar à construção de escolas em zona da Palestina governada pelo Hamas. E que, algures por 2005, se deixara fotografar na famosa creche de Arafat. 1mR 5RQDOGR QXQFD DGPLWLX WHU GLWR R TXH VH disse que ele dissera: — Não troco camisolas com assassinos! e Maor Melikson, que contra ele jogara em IsUDHO D¿DQoRX R D $QWRLQH *U\QEDXP HP Cristiano Ronaldo — Orgulho, Glória e Preconceitos — Não, no final do jogo ninguém lhe pediu a camisola. Ficámos muito desiludidos por empatarmos 3-3 depois de estarmos a vencer por 3-1 — e ninguém foi ter com Ronaldo para trocar fosse o que fosse. Depois, no balneário, trocou a camisola com o Yossi Benayoun. E, no segundo jogo, em Portugal, o Ronaldo até deu a sua camisola ao nosso treinador.


Se, porém, dessa vez, apesar da balela, as redes sociais se agitaram com apoiantes da causa palestiniana a elogiá-lo «pelo seu coração de duro» (até…) — três anos depois inverteram-se as reações devido a campanha publicitária para serviço de internet da HOT em Israel, em que a frase forte era:

«Uma Internet Mais Rápida que Ronaldo.» Jorge Valdano já o percebera: — ([LVWHP PLOKDUHV GH MRJDGRUHV SUR¿VVLRnais, mas Cristiano só há um. Um modelo social e publicitário. Um foco mediático mundial.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 93


Dos ‘boxers’ (em 15 metros) no Palácio de Cibeles aos músculos tratados (a 200 graus negativos)

Por entre foto de 15 metros com ele de boxers, abriram-lhe a galeria de cristal do Palácio de Cibeles para que apresentasse a nova linha da sua roupa interior (patrocinada por Giorgio Armani). Puseram-no em estátua (com a camisola de 3RUWXJDO QR 0XVHX GH &HUD HP 0DGULG ² ¿FRX a saber-se que o Real vendia milhão e meio de camisolas com o seu nome e o seu número. Até a Vogue (na sua edição americana) já contratara para reportagem de moda — e a Repucom, empresa de marketing desportivo, concluiu que Cristiano Ronaldo era o futebolista mais conhecido no Planeta (com percentagem de mediatismo a roçar os 84%). Levado pela ambição de ser melhor — de ser o melhor — escolhia (escolhe) tudo o que o pudesse (e possa) ajudar na demanda. Alberto Salazar (o ¿OKR GH H[LODGR FXEDQR HP 0LDPL TXH IRUD GRV principais adversários de Fernando Mamede e de Carlos Lopes) ao tornar-se treinador (entre outros de Mo Farah) inventou o cilindro de criosauna (capaz de regenerar os músculos através de temperaturas que podem chegar a 200 graus negativos — e mal ouviu falar do equipamento, Ronaldo comprou-o (por 45 000 dólares). Após 1-1 no Santiago Bernabéu, para os oitaYRV GH ¿QDO GD &KDPSLRQV R 5HDO 0DGULG EDWHX

94 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

o Manchester United em Old Traford (o 2-1 marcou-o Ronaldo). Na véspera da primeira mão, alguém perguntara a José Mourinho qual o melhor jogador que lhe passara pela vida de treinador — e desconcertante (ou talvez não) foi a resposta que soltou: — Digo sempre que tenho tido muita sorte, pois tenho trabalhado com jogadores que têm deixado em campo a pele e a vida por mim. Por isso, Ronaldo não está num lugar privilegiado no meu coração. Mas a nível futebolístico, sim, está num nível superior, é um jogador de outro mundo, o jogador mais fantástico que já treinei. Por essa altura, estava já o balneário a arder — e ao perder com o Borussia Dortmund (de Jurgen Klopp) por 4-1 (o golo, que de pouca consolação serviu, marcou-o CR), Mourinho descabelou-se: — Somos tão puros, tão inocentes e tão ingénuos que Lewandowski nos meteu quatro golos H QmR OKH ¿]HPRV XPD IDOWD VHTXHU (VWH SRGLD ter sido o jogo mais importante da história do Real nos últimos 10 anos e, em Dortmund, jogámo-lo como se fosse um jogo amigável… Com o Barcelona outra vez campeão, a Taça do Rei podia ser a consolação do Real — e também QmR IRL 1D ¿QDO TXDQGR R $WOpWLFR GH 0DGULG Mi YHQFLD SRU 0RXULQKR H 5RQDOGR IRUDP H[SXOsos. Tendo já acordado pagar 100 milhões por Gareth Bale, em entrevista à revista So Foot, Florentino Pérez brincou com a situação: — Ronaldo? Pode muito bem ir-se embora


desde que a sua transferência nos dê para comprar Messi…

— Ronaldo é, agora, o jogador mais bem pago do Mundo!

Para lhe evitar o salto para Manchester (ou para Paris…), Jorge Mendes conseguiu que o Real Madrid desse a Cristiano Ronaldo o que negara a David Beckham e a Kaká: a devolução dos direitos de imagem — e ainda o direito de passar a receber 17 milhões de euros em salários anuais (livres de imSRVWRV 'HL[RX HQ¿P GH WHU RUGHQDGR LQIHULRU DR de Lionel Messi (que estava, então, em 16 milhões, 14,5 milhões pagava o PSG a Ibrahimovic) — e o SUySULR SUHVLGHQWH DQXQFLRX R XIDQR

O contrato até 2018 dava-lhe garantia de 85 milhões de euros — e, na hora da assinatura, Cristiano garantiu-o: — Na vida há coisas mais importantes que dinheiro — que, para mim, foi o segundo ou terceiro fator. O primeiro foi o projeto do melhor clube do Mundo, foi sentir que o clube pode ganhar mais ligas, mais taças, mais Champions…

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 95


Depois do ‘vodu’ na publicidade, o ‘hat-trick’ na Suécia despertou criança de coma

Antes da Champions, Cristiano Ronaldo agarrou um pedaço mais de imortalidade — na Bola de Ouro de 2013 (tornando-se o primeiro português com duas vitórias), troféu que foi, também, vingança à descortesia que sofrera de Sepp Blatter. Andando-se por outubro de 2013, o presidente da

96 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

FIFA largara impolidez a plateia que, em Oxford, lhe perguntara quem preferia: Ronaldo ou Messi? — Um gasta mais com o cabeleireiro do que o outro, mas não posso dizer quem é o melhor. *RVWR GRV GRLV PDV SUH¿UR 0HVVL /HR p XP ERP rapaz. Todos os pais e mães gostariam de o ter HP FDVD XP KRPHP DPiYHO XP ERP WLSR 0XLto rápido, joga muito bem, como se estivesse a dançar. O outro é diferente, é como um comandante em campo… O «outro» era, claro, Ronaldo e, por entre mais gargalhadas que aplausos, Blatter ainda se lan-


çou à imitação militarizada de Cristiano — que surgiu de pronto no seu Facebook: «Este vídeo mostra claramente o respeito e a consideração que a FIFA tem por mim, pelo meu clube e pelo PHX 3DtV 0XLWDV FRLVDV ¿FDP H[SOLFDGDV DJRUDª 1R ¿P GH VHPDQD VHJXLQWH R 5HDO EDWHX R 6HYLOKD RV ¿]HUDP VH FRP PDLV XP hat-trick, cada um desses três golos festejou-os com uma continência. Depois, em A BOLA de 21 de novembro de 2013, a manchete era:

«Comandante CR7 — O Mundo a Seus Pés.» Tratava do desfecho do SOD\ R̆ de acesso ao Mundial de 2014. Na primeira mão, na Luz, PorWXJDO EDWHX D 6XpFLD SRU ² H R JROR IRL HOH TXH o marcou. Para a partida seguinte, a Pepsi sueca ODQoRX FDPSDQKD SXEOLFLWiULD FKRFDQWH DWUDYpV de três imagens. Numa, um boneco simulando VHU 5RQDOGR VXUJLD SUHVR D XPD OLQKD GH FRPboio, tendo junta a frase:

«Vamos passar por cima de Portugal!» Noutra, via-se-lhe a cabeça esmagada por uma lata do refrigerante — e a terceira era o boneco SROYLOKDGR GH DO¿QHWHV FRPR VH HVWLYHVVH HP VHVsão de vodu. Perante a indignação causada (e não apenas em Portugal), a direção-geral da Pepsi lançou FRPXQLFDGR D SHQLWHQFLDU VH 5RQDOGR DFHLWRX as desculpas — e ainda se disponibilizou para ser parceiro da marca numa ação de solidariedade. A resposta à provocação deu-a no estádio, em Estocolmo. Portugal venceu por 3-2, dele foram os

três golos. Com a façanha enaltecida pelos quatro cantos do Mundo, a forma mais empolgada de o incensar coube à Marca que, na sua primeira página, o resumiu a quatro letras:

«Deus.» David Pawlaczyk tinha 14 anos — e, ao andar de bicicleta, foi brutalmente atropelado por um automóvel. Levaram-no para o hospital com váULDV OHV}HV LQWHUQDV ² H HP FRPD 2V PpGLFRV GHsenganaram os pais — e não aceitando que o seu destino pudesse ser a morte certa que lhe cogitaram, transferiram-no para clínica especializada HP UHFXSHUDU FULDQoDV GH FRPDV SURIXQGRV 5HYHODQGR OKH D PmH TXH D PDLRU SDL[mR GH 'DYLG HUD R 5HDO 0DGULG SRU FDXVD GH &ULVWLDQR 5RQDOdo, um dos seus neurocirurgiões aventou-lhe: — Vamos, então, pôr-lhe auscultadores com relatos de jogos do Real ou de Cristiano Ronaldo que a televisão vá transmitindo… Ao cabo de três meses assim, David despertou GR FRPD DR RXYLU FDQWDGRV RV WUrV JRORV j 6Xpcia. No tempo em que ainda esteve internado por lá, o quarto pejou-se de fotos, recortes e pósteres GH 5RQDOGR ² H GHSRLV GH OKH QRWLFLDU R FDVR R Fakt, jornal polaco, tratou de levar David a MaGULG SDUD FRQKHFHU 5RQDOGR $ PmH FRQWRX R - Quando o jornal nos garantiu que estava tudo tratado para a viagem até Madrid, o David chorou de emoção… A partir daí, as melhoras de David tornaram-se DLQGD PDLV VLJQL¿FDWLYDV ² H FRP HOH Mi HP YLGD QRUPDO FRQKHFHX HQ¿P 5RQDOGR HP 0DGULG

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 97


A Bola de Ouro no luto por Eusébio e o remate que partiu um braço na bancada &RP R 6XpFLD 3RUWXJDO QR ¿P 5LR )HUGLQDQG DWLUDUD VH OHVWR DR Twitter SRU HQWUH D IDVFLQDomR H D LURQLD — Ronaldo acabou hoje com a discussão sobre a Bola de Ouro 2013... Se não a ganhar é porque o Blatter fez o ranking… *DQKRX D ² H UHFHEHX D HP =XULTXH D GH MDQHLUR GH $QWHV GH 3HOp R DQXQFLDU YHQFHGRU WHQGR QD OXWD 0HVVL H 5LEpU\ SDVVRX SHOR glamour GD JDOD KRPHQDJHP D (XVpELR TXH IDOHFHUD RLWR GLD DQWHV 'HSRLV GH EHLMR D ,ULQD FRP &ULVWLDQR D VXELU DR SDOFR FRP &ULVWLDQLQKR ² H FRP WURIpX QDV PmRV QmR IRL FDSD] GH WUDYDU DV OiJULPDV TXH OKH IXJLDP GR FRUDomR — Não há palavras para descrever este momento. É um orgulho enorme. Quem me conhece sabe o sacrifício que foi ganhar esta Bola de Ouro. Não queria chorar e queria conter-me, mas não consegui, não sou de ferro… $OJXUHV SRU TXDQGR Mi WLQKD XPD %ROD GH 2XUR D 6,& GHVD¿DUD R D HVFUHYHU PHQVDJHP HVSHFLDO SDUD R VHX SURJUDPD O Regresso dos Incríveis ² H R TXH HOH HVFUHYHX GH XPD SHQDGD IRL ©2 PHX QRPH p &ULVWLDQR 5RQDOGR H VRX MRJDGRU GH IXWHERO e LVWR TXH HX VRX &KHJXHL DR WRSR GR 0XQGR $JRUD TXHUR VHU HWHUQRª $OJXUHV SRU TXDQGR Mi WLQKD GXDV %RODV GH 2XUR QmR VH OKH HVIULDUD D DOPD H R UHVWR«

98 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— Restam-me sete ou oito anos de futebol. Ou talvez mais. Se as pernas me deixarem jogar até aos 40, quero jogar. Desejo estar na primeira página da história do futebol, nessa página onde ¿JXUDP 0DUDGRQD H 3HOp 6HL TXH p FRPSOLFDGR chegar lá, mas penso que é possível se continuar assim, a ganhar muitas coisas. Sei que é duro, contudo, na minha cabeça, é possível… $R DEULU GD SUp WHPSRUDGD GH R 5HDO 0DGULG IRL ID]HU MRJR D %RXUQHPRXWK 3HWDUGR GH &ULVWLDQR 5RQDOGR SDUD R IUHQHVLP GD EDQFDGD ² H VXFHGHX R TXH &KDUOLH 6LYHUZRRG FRQWRX D UHSyUWHU GR The Sun — O meu pai estava sentado ao meu lado, baixou-se, eu levantei o braço, levei com a bola na mão, doeu muito, nunca mais parou de doer… &KDUOLH WLQKD DQRV ² H Vy TXDQGR YLX R MRJR WHUPLQDGR p TXH SHGLX DR SDL TXH R OHYDVVH DR KRVSLWDO


— … as dores eram cada vez mais horríveis. Nas urgências logo lhe diagnosticaram dupla fratura no pulso. Ao sabê-lo, Cristiano Ronaldo já não conseguiu ir ao hospital falar com Charlie, pedir-lhe desculpa. Tratou, porém, de lhe fazer chegar camisola do Real Madrid autografada por todo o plantel: — No dia seguinte, na escola, quando eu dizia que tinha sido Ronaldo, o jogador mais caro do Mundo, a partir-me o braço, houve quem não DFUHGLWDVVH /RJR ¿FDUDP FRP D FHUWH]D GH TXH não era mentira. E, na verdade, é uma das maneiras mais espetaculares de partir um braço. Preferi que fosse assim, a parti-lo caindo duma árvore, como aconteceu ao meu pai. Jorge Mendes dissera-o, por entre a segunda Bola de Ouro a caminho das suas mãos: — Se Cristiano Ronaldo jogasse no Barça, marcaria 120 golos por ano. e, a 5 de março de 2014, no Estádio Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria, marcou mais dois. Com esses dois golos aos Camarões ultrapassou Pauleta como melhor marcador da Seleção. Eram 49, e muitos mais haveriam de ser. Pelo caminho, largara nova imagem do seu coração: um amigo pediu-lhe uma camisola e umas chuteiras para dar aos pais de um menino de 10 meses que sofria de transtorno cerebral (que lhe causava, por vezes, 30 ataques epiléticos por dia) na esperança de que, através do seu leilão, conseguissem o dinheiro para operação urgente que precisavam. Ronaldo perguntou quanto custava — e pagou ele próprio a cirurgia. Fugindo à moda das tatuagens, a razão para

isso é estar sempre disponível para ritual que não dispensa: doar sangue duas vezes por ano. Antes, na noite em que, vencendo a Bósnia por 3RUWXJDO VH TXDOL¿FRX SDUD R (XUR 5RQDOGR D¿UPDUD R HPRFLRQDGR — Quero dedicar esta vitória ao Carlos MarWLQV FXMR ¿OKR VH HQFRQWUD D SDVVDU SRU GHOLFDGR momento de saúde, e quero revelar a minha disponibilidade e a dos meus colegas para apelarmos a todos no sentido de o ajudar… 2 ¿OKR GH &DUORV 0DUWLQV WLQKD WUrV DQRV H SUHFLsava de dador de medula óssea (para transplante que lhe tratasse de uma leucemia) — e, a partir daí, para além de dador de sangue, Ronaldo também se tornou dador de medula óssea. Pelo caminho já o revelara: — Quero ser recordado como um grande jogador de futebol, mas também como um grande ser humano. Lançando, igualmente, 165 mil dólares para fundo da Luta Portuguesa Contra o Cancro, alguns meses volvidos, a DoSomething.org apresentou Cristiano Ronaldo como o «Desportista Mais Solidário do Planeta», à frente do wrestler John Cena e da tenista Serena Williams — e o que já se sabia era que muitas das suas DMXGDV D YiULDV FDXVDV ¿FDYDP QR VHJUHGR GRV GHXVHV HP HQWUHYLVWD D -XGLWH GH 6RXVD QD 79, D¿UPRX R — Isto é como ir à igreja. O padre diz-nos: «Dão o que quiserem!». É o que eu faço. Mas não gosto de contar à imprensa o quanto ajudo outro. Se o sabem não é por mim. E o que eu penso é: a quem ajuda os outros, que precisam, Deus ajuda também.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 99


Na Champions da Luz, a promessa que tirou o irmão do vício que lhes matara o pai (e os relógios de 8200 euros que ofereceu aos companheiros) Com dois golos seus, o Real ganhara ao Sevilha a Supertaça Europeia de 2014. Lesão impediu-o de esWDU QD YLWyULD SRU DQWH R %DUFHORQD QD ¿QDO GD Taça do Rei — e o ponto alto da temporada estava à VXD HVSHUD HP /LVERD QD ¿QDO GD &KDPSLRQV DQWH o Atlético de Madrid. Aos 36 minutos, Diego Godin aproveitou saída em falso de Casillas, pondo, de cabeça, a bola no fundo das redes — e ao minuto 90+3 Sergio Ramos, de cabeça também, levou o jogo para prolongamento. Bale fez o 2-1, Marcelo o 3-1 — e, em cima do minuto 120, Ronaldo esgueirou-se para a área do Atlético de Madrid em drible, Gabi travou-o em falta. No penálti, Cristiano fechou o placard em 4-1 — e ouviu-se-lhe: — Cheguei aqui ainda um bocadinho lesionado, mas valeu a pena o sacrifício, a equipa merecia-o. Jogámos melhor, criámos mais oportunidades, tivemos mais posse de bola, o que não seria justo era o Atlético vencer. É uma boa equipa, mas não IH] QDGD QHVWD ¿QDO 2X PHOKRU FULRX DSHQDV XPD oportunidade e concretizou-a. Jogou em contra DWDTXH SRQWDSp SDUD D IUHQWH 2. p SUHFLVR WHU sorte para marcar aos 90+2, mas para a alcançar também é preciso procurá-la bem — e foi o que o Real fez. Conquistámos a Champions, a Taça do 5HL HX IXL %RWD GH 2XUR VXSHUHL R UHFRUGH GH JRlos na Liga dos Campeões. Nem em sonhos poderia imaginar um ano assim, sobretudo por entre

100 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

os problemas físicos por que passei. A Ronaldo ainda se apanhou o coração na ponta da língua: — 1mR VHL SHUGHU ¿FR SpVVLPR *ULWR GLJR disparates — e, rapidamente, lamento. Não tardou que se lhe visse também o coração para lá dos pés: ofereceu a cada um dos companheiros um relógio Bvlgari avaliado em 8200 euros com o nome na peça e as palavras de mais um sonho cumprido, «La Decima, CR7». O que também se viu na Luz foi emocionado abraço de Cristiano a Hugo Aveiro, o irmão, depois de lhe oferecer a camisola do jogo. Logo depois, o jornal AS revelou que aquele abraço tinha sentido profundo: que, vendo que o irmão tardava em desembaraçar-se GR YtFLR GR iOFRRO OKH ODUJRX R GHVD¿R — Eu levanto a Champions na Luz e tu deixas de beber de vez! Por 2008, o L’Équipe publicara reportagem FRP 'RORUHV $YHLUR HP TXH D¿UPDYD — 2 ~QLFR YtFLR GH 5RQDOGR HUD R IXWHERO 6H não fosse isso, não sei se se teria perdido nalguma coisa terrível. Muita catraiada lá do bairro caiu na droga, na bebida. Quando Cristiano já estava no Sporting, foi com o seu dinheiro (ainda não muito) que se pagou cura de desintoxicação a Hugo. Livre de drogas, trabalhando como carpinteiro, não largou, porém, o álcool — tal como o pai. No documentário Ronaldo D FRQ¿GrQcia solta-se-lhe de emoção magoada:


— O meu pai era divertido quando estava bêbado e, infelizmente, estava quase sempre bêbado. Por isso não o pude conhecer melhor, de verdade, de coração. Não sei porque bebia tanto. Talvez frustrações, problemas causados pela guerra. E gostaria tanto de ter tido o meu pai presente em todas as minhas conquistas… Ronaldo, documentário realizado por Anthony :RQNH ¿OPDJHQV LQLFLDGDV SRXFR DQWHV GD ¿QDO GD /LJD GRV &DPSH}HV H D VXD SULPHLUD IUDVH p XP VHX FODPRU — O mais importante para mim é ganhar. Simples, assim. 3RU HQWUH RXWURV IDFWRV PDLV RX PHQRV VXUSUHHQGHQWHV GH XP LQVWDQWH SDUD R RXWUR RXYH VH OKH WDPEpP SRU HQWUH VRUULVR D ÀRULU OKH QR URVWR — Há anos fui a um hospital em Lisboa. Quando um menino me viu, o seu eletrocardiograma disparou. Corri para abraçá-lo, dizendo-lhe: «Uuuuui! Não se preocupe!». RX D FRQ¿GrQFLD D VDUDFRWHDU VH — Não preciso de gente que me odeie, mas preciso, de certo modo, de alguém contra mim. É necessário ver o lado bom de ser odiado. Gosto que gritem para mim quando toco na bola, isso motiva-me… ( HVWDQGR Oi D YHUGDGHLUD KLVWyULD GD OXWD YHQFLGD SRU +XJR FRQWUD DV VXDV GHSHQGrQFLDV ² TXH OHYRX D TXH 'RORUHV $YHLUR R D¿UPDVVH — Não há dúvida de que foi o dinheiro do Ronaldo que salvou o Hugo.

,JXDOPHQWH Oi HVWi HPRWLYR R PRGR FRPR +XJR FRPR FRPELQDGR FRP $QWKRQ\ :RQNH VDOWRX GDV EDQFDGDV GD /X] SDUD R UHOYDGR HQOHDQGR VH SRU HQWUH D IHVWD QRV EUDoRV GR LUPmR ² H +XJR D FRQWi OR — Trabalhava nas obras com o meu pai e toda a gente que trabalhava nas obras, bebia. Foi assim que eu comecei… 7RWDOPHQWH DIDVWDGR GD WHQWDomR GR iOFRRO ² H GR GHVWLQR TXH 5RQDOGR QmR TXHULD TXH IRVVH R TXH IRUD R GR SDL« ² +XJR $YHLUR WRPRX D GLUHomR GR 0XVHX &5 TXH LQDXJXUDUD QR )XQFKDO D 5 de dezembro de 2013. 1R %UDVLO 5RQDOGR GLVSXWRX R VHX WHUFHLUR 0XQGLDO QHQKXP SRUWXJXrV R FRQVHJXLUD« IH] DSHQDV XP JROR ² R GD YLWyULD DQWH R *DQD LQFDSD] SRUpP GH LU SDUD Oi GD IDVH GH JUXSRV 6HPDQDV DQWHV D HGLomR GH MXQKR GD Vogue HVSDQKROD S{ OR QX QD VXD FDSD DR ODGR GH ,ULQD ² DV IRWRV IRUDP GH 0DULR 7HVWLQR TXH SDUD D IRWRJUD¿D GH DUWH HVWDYD FRPR HOH HVWDYD SDUD R IXWHERO $LQGD DQWHV de 2014 terminar, o Facebook HQWUHJRX D &ULVWLDQR 5RQDOGR SUpPLR SRU VH WHU WRUQDGR R SULPHLUR KRPHP D XOWUDSDVVDU RV PLOK}HV GH amigos na UHGH VRFLDO FULDGD SRU 0DUN =XFNHUEHUJ GHL[DQGR DWUiV GH VL (PLQHP R rapper FRP PLOK}HV ² H 0HVVL QmR FKHJDYD VHTXHU DRV PLOK}HV 1R 3ODQHWD KDYLD DSHQDV XPD PXOKHU FRP PDLV VHJXLGRUHV 6KDNLUD FRP PLOK}HV $ GH GH]HPEUR GH HP 0DUUDNHFK QD YLWyULD SRU VREUH R 6DQ /RUHQ]R GH $OPDJUR R FOXEH GR 3DSD )UDQFLVFR R FOXEH RQGH R 3DSD )UDQFLVFR FKHJDUD D MRJDU EDVTXHWHERO« 5RQDOGR FRQTXLVWRX WtWXOR TXH OKH IDOWDYD QR 5HDO QR

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 101


Manchester United já o ganhara): Campeão do Mundo de Clubes — e, com isso, a terceira Bola de Ouro (três tinham Zinedine Zidane, Johan &UX\̆ 0DUFR YDQ %DVWHQ H 0LFKHO 3ODWLQL DSURximou-se-lhe da palma da mão. Com ela aconFKHJDGD DR SHLWR YROWRX D RXYLU VH OKH D YR] GR FRUDomR D YR] GD DOPD VHPSUH IRJR QHOH — Obrigado à minha mãe, ao meu filho, aos meus irmãos — e ao meu pai que está lá em cima a ver-me… E obrigado, ainda, a todas aquelas pessoas que me ajudaram a ser cada vez melhor, dia após dia. À Seleção de Portugal, a todos os portugueses em especial. É um momento inesquecível na minha carreira, nunca pensei ganhar três vezes esta bolinha. Mas espero não parar por aqui, espero apanhar o Messi já na próxima. Não é que... que eu não durma por isso, mas é algo que tenho em ambição: como já disse muitas vezes, quero entrar para a história do futebol como o melhor. Com mais títulos, individuais, coletivos, vou consegui-lo… (VWUDQKR IRUD QmR VH WHU YLVWR ,ULQD 6KD\N QD JDOD GH =XULTXH ² H DLQGD PDLV HVWUDQKR IRL 5RQDOGR QmR D WHU OHYDGR DR URO GRV VHXV DJUDGHFLmentos. Logo depois, ela partilhou pelas suas reGHV VRFLDLV IRWR Vy QXPD SUDLD SDUDGLVtDFD ² H RV UXPRUHV GD VHSDUDomR IRJDFKDUDP GH V~ELWR ,ULQD LQVLQXRX R &ULVWLDQR FRQ¿UPRX R HP FRPXQLFDGR ODQoDGR SHOD $3 0HVHV GHSRLV R The Sun UHYHORX TXH QmR IRUD SRU ,ULQD VH WHU UHFXVDGR D LU j IHVWD GH DQRV GH 'RORUHV $YHLUR TXH R URPDQFH FRP 5RQDOGR VH GHV¿]HUD 4XH IRUD SRU ,ULQD OKH WHU DSDQKDGR ©PHQVDJHQV FRPSURPHtedoras de 12 mulheres» — e que, por isso, terá GLWR R TXH R WDEORLGH GL]LD TXH HOD GLVVH

102 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— Sinto-me estúpida por ter sido enganada pelo Cristiano. 6HP D &RSD GHO 5H\ RX D /D /LJD R 5HDO WDPEpP QmR FKHJRX j ¿QDO GD &KDPSLRQV HOLPLQDGR SHOD -XYHQWXV ² PDV &ULVWLDQR 5RQDOGR QmR GHL[RX GH FUX]DU D pSRFD GH D EDWHU YiULRV UHFRUGHV D SX[DU D VL YiULDV LQpGLWDV IDoDQKDV )D]HQGR R TXH QXQFD ¿]HUD JRORV HP MRJRV JDQKRX D %RWD GH 2XUR SHOD TXDUWD YH] H DQWHV GH VL QLQJXpP R FRQseguira) — e chegou primeiro que Messi aos 78 golos QDV FRPSHWLo}HV HXURSHLDV H DQWHV GH VL QLQJXpP R FRQVHJXLUD WDPEpP ¿FRX PDUFDGR SRU PDLV XPD ¿QDO GD /LJD GRV &DPSH}HV ² H RXWUD YH] DQWH R $WOpWLFR GH 0DGULG $RV PLQXWRV 6HUJLR 5DPRV S{V R 5HDO D YHQFHU SRU $RV PLQXWRV <DQQLFN )HUUHLUD &DUUDVFR TXH QDVFHUD QD %pOJLFD ¿OKR GH XP SRUWXJXrV H GH XPD HVSDQKROD IH] R HPpate — e, ao contrário de Lisboa, o prolongamenWR QDGD GHFLGLX WHYH GH LU VH SDUD DV JUDQGHV SHnalidades: — Tive uma visão e disse a Zinedine Zidane que ia marcar o golo da vitória, por isso lhe pedi para bater o último penálti. Sabia que ia marFDU HVWDYD FRQ¿DQWH« 4XDQGR OKH SHUJXQWDUDP VH FRP PDLV XPD Champions, já sentia outra Bola de Ouro a camiQKR GR 0XVHX &5 UHVSRQGHX — Não estou obcecado por isso, o que tiver de vir, virá, virá com naturalidade. O grande objetivo era mais uma Champions. Consegui e ainda fui o melhor marcador. E esta é a sétima época a mais de 50 golos, sou o primeiro na história assim…


No Euro-2016, ainda não eram as lágrimas com que sonhava quando a traça lhe poisou no rosto

1R GHVD¿R VHJXLQWH QRYR HPSDWH FRP D +XQJULD ² H 'HXV YROWRX D HQWUDU QR Sp QXP primoroso golo de calcanhar. Primeiro jogador a marcar em quatro edições de campeonatos da Europa, para Cristiano mais importante foi a equipa:

Luís Figo ainda não o tinha dito (num toque de poesia):

— … jogo de loucos, estivemos três vezes fora do Euro e voltámos a entrar.

— Alguns jogadores precisam de outros para se tornarem ótimos, o Ronaldo só precisa de uma bola…

Eliminada a Croácia (com a cabeça de Quaresma), a Polónia caiu nos penáltis — depois de, QR IUHQHVLP GR GHVHPSDWH VH WHU YLVWR D GHVD¿DU -RmR 0RXWLQKR TXH IDOKDUD R VHX SRQWDSp FRQtra a Espanha no Euro-2012) a não ter medo do destino:

e mais um sublime pedaço de eternidade levou Cristiano do Euro-2016. Frente à Áustria foi festival de pólvora seca: entre os 23 remates de Portugal e os zero golos, Ronaldo ainda falhou um penálti. Nessa noite, a internacionalização 128 — e foi mais um recorde: — É, claro, motivo de orgulho bater o nosso mítico Figo. E sei que ele também está orgulhoso. E estando alegre, estou triste, triste porque tendo nós tantas oportunidades eu ainda falhei o penálti, queríamos ganhar e não conseguimos… Fernando Santos admitiu-o (numa vincada SUR¿VVmR GH Ip — Essa insistência de falar no Ronaldo, no Ronaldo… não faz bem ao Ronaldo, nem à própria equipa. Falamos dele porque falhou, porque fez e porque aconteceu. Deixem o Ronaldo jogar também. Senão isso não será bom para Portugal. E não, não há ânimos, nem desânimos: vaPRV FKHJDU j ¿QDO H YDPRV JDQKi OD

— Anda bater, anda bater. Tu bates bem, se perdermos que se f... Frente ao País de Gales, mais um golaço de Ronaldo. A UEFA elegeu-o Homem do Jogo — e antes GR SDUDtVR 5RQDOGR DLQGD WHYH Sp QR LQIHUQR ORJR aos oito minutos, entrada ríspida de Payet (que, estranhamente, nem falta deu) magoou-o. Mancando, ainda tentou continuar em campo. Incapaz já de suportar a dor, sentou-se no relvado e uma traça poisou-lhe no rosto como se fosse um afago. O cronómetro marcava 24 minutos, Fernando Santos lançou Ricardo Quaresma para o seu lugar, de maca saiu Ronaldo — de maca e em lágrimas: — Vivi os dois cenários, primeiro de tristeza, depois de alegria. Ganhei tudo a nível de clubes, faltava-me algo pela Seleção. E consegui. A minha participação não foi a 100%, tive aquela infelicidade no jogo. Saí, tentei voltar, liguei o joelho, mas não consegui. Senti que se forçasse

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 103


podia piorar e tive um grande desgosto… Com Rui Patrício a fazer de Ronaldo na baliza, antes de Éder entrar para o lugar de Renato Sanches percebeu-se que Cristiano lhe atirara um murmúrio qualquer: — Sou muito de feelings. Não sou nenhum bruxo ou vidente, mas senti que o Éder ia marcar o golo da vitória e foi isso que lhe disse: Vai, que nos vais dar o Europeu… O alvitre virou realidade (aliás, sonho) e feliz com lágrimas, Ronaldo exultou: — É dia único na minha vida… Portugal já merecia… foram muitos anos de sacrifício… ninguém acreditava em nós, tivemos alguma sorte, mas para ganhar uma competição assim é preciso ter sorte, não há campeões sem sorte.

104 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

A sua vida o mostrara: as férias eram o espaço para a boémia — e indo, campeão da Europa, de férias para Ibiza, espalharam-se pela net fotos de Ronaldo com uma «misteriosa morena» em Ibiza — e logo que revelou que era estudante de jornalismo, que saíra como dama de honor do concurso Miss Maja Colômbia 2012 e que andava, então, por Espanha a abrir carreira como modelo, a Paula Suárez. Não, não foi só. Elisa De Panicis, que ganhara fama em Itália através do reality show Doble Tentación — revelou a um canal de TV chileno ter passado também pelo seu iate: — Consegui o número dele e mandei-lhe uma mensagem. Divertimo-nos e temos uma boa amizade… H j UHYHODomR MXQWRX OKH FRQ¿GrQFLDV GH WLPbres mais íntimos.


Quando apareceu Georgina, apanharam-no mascarado (e, a ela, logo a despediram…) Há muito que isso se banalizara: paparazzi a precipitarem-se para ele como borboletas para a luz — e, tendo Cristiano Ronaldo saltado das Baleares para Miami, apanharam-no em «tórridos beijos» (dentro e fora da piscina do hotel) com Cassandre Davis — modelo de ¿WQHVV que fazia furor por lá. De regresso a Madrid, a revista &RUD]yQ puxou à sua capa (com fotos de ambos) que a nova namorada de Cristiano era Desiré Cordero, modelo (e 0LVV (VSDQKD ) que acabara de sair de romance com o franco-italiano Vincenzo Rennella (que fora do Valladolid para o Miami FC). &RP QRYHPEUR GH D FRUUHU SDUD R ¿P DSHsar de ele lá estar disfarçado (com óculos de sol, peruca e capuz), fotógrafo furtivo captou Cristiano Ronaldo em Paris — a passear na Disney. Nas fotos divulgadas em primeira mão pela revista &KL — dizia-se que a sua nova namorada se chamava Georgina, Georgina Rodríguez. O 'DLO\ 0DLO foi na onda e acrescentou à notícia que se tinham «conhecido durante uma festa organizada Dolce & Gabana apenas para convidados VIP». O (O 0XQGR levantou-lhe outros véus: que Jorge Eduardo Rodríguez Gorjón, o pai de Georgina, fora discreto jogador de futebol — lançado no Racing de Avellaneda — e que se aventurara a Espanha para treinar o Jacetano, clube da zona de Huesca, que andava, então, pelos campeonatos regionais. Da relação com a murciana Ana María Hernández

QDVFHUDP OKHV GXDV ¿OKDV ,YDQD 0DULD H *HRUJLQD D *HRUJLQD HP MDQHLUR GH ©0mH H ¿OKDV sofreram com a vida inconstante desse homem que acabaria por perder o emprego, abandoná-las e regressar à Argentina. Voltaria depois a Espanha — e à família — em 2006, para fazer cumprir um novo contrato com o Jacetano, desta vez como assistente técnico. Um contrato que não durou e que o obrigou a abrir uma hamburgueria para sustentar a família. Com mais um negócio falhado e nova mudança, de¿QLWLYD SDUD D $UJHQWLQD D PXOKHU UXPRX D 5RPD *HRUJLQD H D LUPm ¿FDUDP HP (VSDQKDª Tempos depois, em entrevista ao ;/6HPDQDO, a propósito do Jorge Eduardo Rodríguez, Georgina só quis dizer: — 7HQGR QyV LGR D %XHQRV $LUHV FRQKHFHU D IDPtOLD GHOH IRPRV ¿FDQGR 2 PHX SDL WHQWRX FRQYHQFHU D PLQKD PmH D PRUDU QD $UJHQWLQD PDV QmR FRQVHJXLX ² H TXDQGR HX WLQKD XP DQR YROWDPRV SDUD 0~UFLD ( GHSRLV p TXH IRPRV PRUDU SDUD -DFD $RV FLQFR DQRV FRPHFHL D ID]HU ballet 3DUHL GH GDQoDU DRV DQRV SRU QmR TXHUHU FRQWLQXDU D YLYHU QXPD SHTXHQD DOGHLD RQGH QmR KDYLD PXLWR SDUD ID]HU )XL WUDEDOKDU FRPR HPSUHJDGD GH PHVD SDUD +XHVFD SHTXHQD FLGDGH RQGH TXDVH QmR KDYLD QLQJXpP $OXJXHL XP DSDUWDPHQWR DVVLP TXH WLYH GLQKHLUR VX¿FLHQWH IXL SDUD 0DGULG A Madrid aventurou-se Georgina aos 19 anos, e ao ;/6HPDQDO também o revelou: — &RPHFHL D WUDEDOKDU FRPR YHQGHGRUD QXPD ORMD GD 0DVVLPR 'XWWL HP 6DQ 6HEDVWLDQ GH ORV 5H\HV PXLWR ORQJH GH RQGH PRUDYD 0DO FKHJXHL D 0DGULG SDUDYDP PH YiULDV YH]HV QD UXD H RIH-

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 105


reciam-me cartões para ir a agências de modelos. Havia fotógrafos que me queriam fotografar. Mas eu precisava de trabalhar para sobreviver. Achando que necessitava de melhorar o seu inglês, Georgina atirou-se a Inglaterra, por lá andou menos de dois anos — primeiro como empregada doméstica, depois como babysitter de dois gémeos — e, aos 22 anos, retornou a Madrid, foi trabalhar para a Gucci. Era o que fazia quando conheceu Cristiano Ronaldo.

ceder-lhe o mesmo. No El Mundo contou-se: «A situação acabou por se tornar impraticável, devido aos paparazzi que se juntavam à porta dos armazéns à espera de Georgina — que poderia até aparecer com Ronaldo! — mas também por causa dos clientes curiosos, que atrapalhavam sistematicamente o trabalho da ex-bailarina. A situação era surreal e insustentável. Havia gente curiosa que entrava só para a ver. Chegaram a pedir-lhe VHO¿HV enquanto ela estava a trabalhar». Na revista Hola, garantiu-se:

Aos primeiros rumores do namoro de Cristiano com Georgina, o aparato mediático criado em torno da loja levou a que a Gucci a despedisse. Foi para a Prada, no El Corte Inglês de Castellana, ganhar 1200 euros por mês — e não tardou su-

106 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

— Georgina é uma pessoa encantadora e, acima de tudo, um bom ser humano. Uma mulher discreta, a quem só se conhecia uma relação anterior com um polícia.


A mágoa de lhe entrarem pelo iate dentro como se lá houvesse assassinos Georgina Rodríguez parara de trabalhar em fevereiro de 2017 — e, em março, engravidou de Cristiano Ronaldo. Meses antes, a revista France Football (que se desligara da FIFA na atribuição do prémio para o melhor jogador do Mundo) dera-lhe o Ballon d’Or 2016. Contra o América do México atingiu o golo 500 ao serviço de clubes (377 pelo Real Madrid, 118 pelo Manchester UniWHG H SHOR 6SRUWLQJ ² H QD ¿QDO GHVVH 0XQdial de Clubes, fez mais um hat-trick na vitória por 4-2 ante o Kashima Antlers. Ao título (o seu terceiro na competição) juntou os prémios para melhor marcador e melhor jogador do torneio. Estando-se já em 2017, a FIFA também o considerou o melhor jogador do Mundo (batendo Antoine Griezmann e Lionel Messi), o The Best (na sua primeira versão — e com votação aberta ao público e a jornalistas a juntar-se às votações dos selecionadores e capitães) também lhe foi, naturalmente, parar às mãos: — 2016 foi o melhor ano da minha carreira. Este troféu mostrou que as pessoas não são cegas. As pessoas veem os jogos, as competições. Depois do que ganhei com a Seleção e com o meu clube eu não tinha dúvidas de que ganharia este troféu. Em 12 de abril de 2017, contra o Bayern de Munique, tornou-se o primeiro futebolista a fazer 100 golos em competições da UEFA. A hat-trick ao Bayern seguiu-se hat-trick ao Atlético de Madrid

— e, graças a isso, se apurou o Real para mais uma ¿QDO GD /LJD GRV &DPSH}HV HP &DUGL̆ FRQWUD D Juventus. À partida, apanhou-se-lhe lamento: que por Espanha o tratassem como um «delinquente». Andava já em bolandas na polémica dos impostos — e elogio (a dizer muito mais do que parecia…) soltou-o Zinedine Zidane: — Se eu tivesse jogado com Ronaldo, a estrela seria ele… até porque faz golos, muitos golos! O 1-0 foi ele que o fez. Aos 27, Mario Mandzukic empatou. Aos 61, Casemiro atirou o Real para 2-1. Indomável era já o poderio da equipa de Zidane, arrastada por Cristiano no seu fervor, no seu fulgor — e dele foi, logo depois, o 3-1 (histórico por ter sido o golo 600 na sua carreira). Com o pano a correr sobre o jogo, Isco fechou o placard HP ² H &DUGL̆ IRL D ¿QDO GH &ULVWLDQR 5RQDOGR $ HQWUHJD GR WURIpX GH 093 GD ¿QDO GD Champions de 2016/17 coube a Alex Ferguson: — Respondo sempre em campo, os que me criticaram vão ter de meter a viola no saco outra vez. Estou feliz e, desta vez, sem sentir as dores por que passei para ganhar as outras duas Champions. Acabo o ano com mais esta e mais um recorde e ainda a Liga, a Supertaça Europeia, o Mundial de Clubes. Pela vitória na Champions (e na La Liga) cada jogador recebeu do Real prémio de milhão e meio de euros — e sendo já julho de 2017, o The Sun voltou a puxar Cristiano Ronaldo à berlinda — anunciando que dos Estados Unidos lhe vinham mais dois ¿OKRV QDVFLGRV JpPHRV 4XDQGR Mi HVWDYDP EDWLzados como Eva e Mateo, o Daily Mail lançou-se a investigação que largou várias informações em tor-

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 107


no do caso: «que a agência que tratou do seu nascimento, na Califórnia, terá recebido 135 mil euros para tratar da conceção de gémeos»; «que à mulher que deu a barriga de aluguer couberam 39 mil»; e que «à dadora de óvulos couberam 6700 euros» (sim, a ideia de duas mulheres envolvidas no processo é para que «nenhuma delas ganhe afetividade com as crianças»). $ GH GH]HPEUR UHFHEHX HP SOHQD 7RUUH (L̆HO mais uma vez, a Bola de Ouro da France Football (em outubro o The Best da FIFA voltara a ser ele). Não tendo conseguido levar Portugal à vitória na Taça das Confederações (de véspera não quisera tocar-lhe por achar, num dos poucos sinais de superstições que se lhe conhecem, que «dava azar…»), Cristiano Ronaldo não deixou de levar o Real à vitória em mais uma Champions. Antes da partida para essa (a de 2017/18), Cristiano Ronaldo revelou-o, indignado, no programa Jugones do La Sexta: — Há injustiças, mas temos de saber viver com isso. Espanha tratou-me bem, mas, por exemplo, havia mil barcos em Formentera e no barco mais pequeno, o meu, entra a polícia com câmaras. Mas há aqui assassinos? Eu a dormir a sesta, tranquilo, e a acordar com o som da polícia. Subo e pergunto o que se passa. E eles com pistolas, câmaras GH ¿OPDU IRUD GR EDUFR 3HQVHL HP FKDWHDU PH QmR VRX GH SHGUD PDV TXH SRGLD ID]HU" Disse-o, em amargor, a recordar o que sucedeUD TXDQGR R ¿VFR OKH ODQoRX SURFHVVR UHFODPDQGR 14 milhões de euros, e inspetores da Agência Tributária e Aduaneira lhe apareceram, de supetão, no iate atracado em Ibiza «para averiguações». O Real Madrid bateu o Liverpool por 3-1, Cris-

108 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

tiano Ronaldo tornou-se o primeiro jogador a ganhar a Champions (a Champions propriamente dita e não a Taça dos Campeões que lhe antecedera) por cinco vezes (a terceira consecutiva no Real). Pela sétima vez, o melhor marcador da Liga dos Campeões foi ele (e, nessa época, fora-o pela sexta vez consecutiva) — e um dos golos que marcou foi sublime, mais do que um poema: o pontapé de bicicleta à Juventus, em Turim. Tendo câmara de TV apanhado ambos em pouFR PDLV GR TXH XP VXVVXUUR *LJL %X̆RQ QmR GHPRUDULD D DWLUDU HPEHYHFLGR D FRQ¿GrQFLD DR DU — 'HSRLV GH XQV VHJXQGRV GH QRUPDO IUXVWUDomR SHOR JROR TXH VRIUL SHQVHL QR TXH HOH PH WLQKD IHLWR DOJR UHDOPHQWH ERQLWR GHVOXPbrante e perguntei-lhe: «Cristiano, quantos anos tens?». Ele respondeu-me, com um sorriso: «Não está mal para uma pessoa de 33 anos, pois não?». E aí voltei a pensar: «Que miúdo, este português!». Como se Ronaldo estivesse a vencer, divino, a OHL GD JUDYLGDGH ÀXWXDQGR D PHWURV GR VROR (e as costas a 1,41 metros da relva) — com asas no corpo e pólvora no pé, a bola chegou ao fundo GDV UHGHV j JXDUGD GH %X̆RQ HP FHQWpVLPRV de segundo, à velocidade de 72 km/hora. (Num golo pelo Real ao Manchester United, HP Mi ¿]HUD FDEHoDGD D PHWURV GH DOtura — em mais um dos muitos sinais que fazem dele talvez o maior atleta do Mundo de todos os tempos a jogar futebol. Antes disso, estudo cienWt¿FR FRQFOXtUD TXH QXP GRV VHXV SLTXHV FRP D EROD QR Sp D UDVJDU SHOR VHX ÀDQFR DWLQJLUD YHORcidade de 33,6 km/h.


Usain Bolt era adepto do Manchester United e, tendo colocado em 9,58 segundos o recorde mundial dos 100 metros no século XXII — tocando 45 km/hora em velocidade de ponta —, pediu uma camisola autografada a Cristiano Ronaldo. Deu-lha, solicitando-lhe em troca: — Agora podias ajudar-me a ser mais rápido… Sim, Bolt deu-lhe algumas dicas para melhorar a técnica de corrida, notando-lhe: — Deves ser mais brutal, mas mais… suave. Não inclinares tanto a cabeça para trás, não moveres tanto os braços. Cristiano haveria de fazer também treinos com Francis Obikwelu, a quem enviava mensagens de boa sorte antes das grandes competições que igualmente o eternizaram — e já no Real Madrid, num jogo com o Sevilha, fez golo antológico correndo 86 metros em 9,8 segundos.) (Estando-se já em 2020, repórter da BeIN Sports perguntou a Kylian Mbappé qual o melhor golo que vira no futebol e ele nem pestanejou na resposta: — O pontapé de bicicleta de Cristiano RonalGR ( WHQGR MRJDGR FRP R *LJJL %X̆RQ QR 36* até ele me falou desse golo lendário, deslumbraGR 3RUWDQWR p R TXH HVFROKR Poucos meses antes, fora o próprio Ronaldo quem o desvelara à ITV, canal de televisão inglês: — Esse golo à Juventus é o meu favorito. De

ORQJH WHFQLFDPHQWH p FRPSOLFDGR ID]HU DTXLOR Tentei marcar esse golo durante muitos anos. 7HQKR WDQWRV H QXQFD WLQKD FRQVHJXLGR )RL IHQRPHQDO 8P JROR OLQGR GH ELFLFOHWD $FKR TXH QXQFD WLQKD YLVWR ELFLFOHWD DVVLP $ IRUPD FRPR VDOWHL FRQWUD R %X̆RQ FRQWUD D -XYHQWXV QD &KDPSLRQV e, quando o entrevistador lhe perguntou, de fogacho: — *ROR PHOKRU GR TXH VH[R HVVH" &ULVWLDQR IH] OKH HQOHDQWH ¿QWD TXH WDOYH] QmR esperasse: — 0HOKRU GR TXH VH[R" &RP D PLQKD *LR não… Essa foi a entrevista em que Piers Morgan o levou às lágrimas — mostrando-lhe vídeo de José Dinis Aveiro, o pai, a elogiar-lhe os dons. E, aos soluços, ouviu-se-lhe: — $ PLQKD WULVWH]D« p VHU R Q~PHUR XP H HOH não ver nada… Não me ver a receber os préPLRV« QmR YHU RQGH FKHJXHL« Consternado voltou a negar com veemência a acusação de que violara (em 2009, no quarto de um hotel em Las Vegas): — e GXUR 7HQKR QDPRUDGD IDPtOLD ¿OKRV e GXUR p PDX TXDQGR PH[HP FRP D WXD KRQHVWLGDGH /HPEUR PH GH XP GLD HVWDU FRP D PLQKD namorada na sala a fazer zapping e estarem D GDU QRWtFLDV ©5RQDOGR LVWR H DTXLORª 2XYL RV PHXV ¿OKRV GHVFHUHP DV HVFDGDV H PXGHL GH

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 109


canal, porque estava envergonhado. Senti-me envergonhado. Mudei de canal para o Cristianinho não ver que estavam a falar mal do pai, num caso grave, numa mentira… E, ainda mais coração se lhe viu nessa conversa, toda vincada de emoção, com Morgan: — Quando eu era miúdo, com uns 12 anos, não tinha dinheiro. E vivia com outros jovens jogadores no estádio do Sporting. Às 10/11 horas, tínhamos fome e havia um McDonald’s por perto. Pedíamos os hambúrgueres que sobravam, a uma senhora chamada Edna e a mais outras duas raparigas. Elas davam-nos aquilo que sobrava. Espero que esta entrevista ajude a encontrá-las. Queria convidá-las a jantar comigo, em Turim ou em Lisboa. Quero poder devolver DTXLOR TXH ¿]HUDP SRU PLP 1XQFD PH HVTXHFL

110 | Histórias na vida de Cristiano Ronaldo

GHVVHV PRPHQWRV 2 PHX YDORU DJRUD" 1mR VHL quanto posso valer, mas sei que tenho muito diQKHLUR QR EDQFR 6H FDOKDU QmR GHYLD GL]HU LVVR mas é verdade e não posso esquecer. Se tenho 17 FDUURV QmR YRX GL]HU TXH WHQKR GRLV« (Com o correr do tempo, os carros passaram a ser 21: Ferraris, Porsches, Lamborghinis, Rolls Royces ou Bentleys — gastando, só em seguros com eles, 400 mil euros. Verdade não foi que tivesse comprado por 11 milhões de euros o automóvel mais caro do Mundo: um Bugatti La 9RLWXUH 1RLUH — mas um jato, sim, comprou: um Gulfstream G200 S/N 58. E, segundo o 1< 3RVW, adquiriu em Nova Iorque um apartamento de 8,5 milhões de dólares com vista para Central Park — e o Mirror noticiou que «casa mais cara da história de Lisboa», uma cobertura à sombra do Parque Eduardo VII, lhe custara 7 milhões de euros.)


Com quem gostaria de ter jogado? Com Eusébio!

Sem que Portugal repetisse, no Mundial da Rússia, a façanha do Europeu de França, a Bola de Ouro foi parar a Luka Modric — ainda assim não deixou de marcar a competição pelo hat-trick à Espanha, e igualou Pelé, Klose e Seeler com golos em quatro edições consecutivas do campeonato do Mundo. Depois, na vitória sobre Marrocos, tornou-se o futebolista com mais golos numa seleção europeia, passando os 84 de Puskas pela Hungria). A 10 de julho de 2018, a Juventus anunciou a sua contratação (por quatro anos) através de 100 milhões de euros. Menos de três meses volvidos, a Gazzetta dello Sport noticiou que o clube já vendera mais de 1,3 milhões de camisolas de Cristiano Ronaldo — faturando, com isso, 170 milhões de euros (e que através dele as receitas com bilhetes, publicidade e patrocínios tinham, de súbito, saltado de 86,8 para 108,8 milhões de euros). )HUQDQGR 6DQWRV GLVSHQVRX R GD IDVH GH TXDOL¿FDomR GD /LJD GDV 1Do}HV D IDVH ¿QDO HP 3RUWXJDO jogou-a — e sem ter sido o jogador fulgurante de outras vezes… ganhou-a (foi o seu segundo título SHOD 6HOHomR 1mR FRQVHJXLX DOoDU D Vecchia Signora j ¿QDO GD &KDPSLRQV PDV FRQWLQXRX D JDQKDU títulos, a bater recordes. Por exemplo, a 8 de setembro de 2020, os dois golos nos 2-0 à Suécia puseram-no a apenas sete do iraniano Ali Daei, ainda o maior artilheiro de uma seleção na história do futebol (com 109). Tendo a revista Forbes revelado o ranking dos desportistas que mais dinheiro ganharam entre 2009 e 2019 — em primeiro lugar surgiu Floyd Mayweather com o equivalente a 825,3 milhões de euros — e o segundo era ele, Cristiano Ronaldo, com 721,6 milhões. Semanas antes, no SOCCER.COM, canal do Youtube, perguntaram-lhe: — Se pudesse voltar atrás no tempo, com quem jogaria? e, por entre gargalhada, ouviu-se-lhe: — Na minha cabeça tenho muitos jogadores com quem queria ter jogado, mas vou escolher um: Eusébio. É um dos símbolos de Portugal, foi uma pessoa incrível, um jogador incrível.

Histórias na vida de Cristiano Ronaldo | 111


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.