Shallow Spaces

Page 1



Excuse me, sir.

Would you like some tea or coffee?


Sorry. What?

Would you like some tea or coffee, sir?

Hm... Yes?

Tea or coffee?




capĂ­tulo um


Depois do primeiro passo, jรก dรก pra perceber...


que até o mais distante também é tocável.


É como entrar em uma imagem. Mas além do visual, a mente também cria o som...

o frio...

o cheiro...

Excuse me, need to find Molenstraat street.

Ainda assim, de alguma forma você sabe...

que é tudo sua imaginação.

Molenstraat 36


Assim que cheguei na casa, jรก senti um ar de nostalgia.

Espaรงos charmosos e vazios, prontos para serem preenchidos por memรณrias.

Esperando por um final feliz e uma despedida triste.


amei mpre s. e s u E luze essas

veria Nunca mais li o mpa. a mesa tĂŁ

DĂĄ uma olhada nesse alce...


Mas quem é você?

Eu sou o espírito da sua casa.

Eu sou o Sr. Molenstraat.

Ouviu isso? Estão chegando seus novos housemates.


Yo! Nice to meet you!

Eu sou o Chris.


Tenta segurar assim, tá vendo?

NÃO NA !! CASA MINHA

Pedrooo, você é o rei! Olha essa jaqueta!

Nós somos uma família, bro.

Pedro, preciso falar com você. Eu gosto dos seus conselhos.

Loco! Eu sabia que ela diria “sim”.

Você é tipo o guru da casa.

Você fuma maconha?


KNOCK KNOCK

Hello!

Eu sou o Tom.


Esse sou eu? Muito bom, Pedro!

Sabe... Acho que a Silva me chamou pra sair.

Nunc a for c ningu ém a e us droga s aqu ar i no meu quart o!! s, cara. Sem chance ra em bo em u vo Eu fevereiro.

O jeito que você trata as pessoas, é tão democrático!

“Você só pode ler isso depois que eu for embora.”

Nice to meet you, dude!


vez Primeira a? p ro u E na

Pedro, você é do Brasil né?

Como veio parar em Den Haag?

Como são as coisas lá?

Que tipo de arte você faz?

Qual seu tipo de música favorito?

Quando eles fazem muita perguntas...

Pedro, we have no sugar, ok?

e Yes. My tea, I lik . with sugar. Please

E você não consegue nem responder direito...

É como recomeçar do nada.

sugar No man, the gar! su No ! er ov is


Eu posso ser quem eu quiser.

e Ninguém m i. u q conhece a

Sem medo de mudanças.

Minha cabeça parece diferente.

Talvez deixo a barba crescer...

Espero que não seja só aparência.


Esse é o conceito fundamental de signo. O signo pra Peirce é qualquer coisa que representa uma outra coisa para um outro algo ou alguém.

A realidade é aquilo que seria o objeto da representação final do conjunto de todas as representações daqueles que compartilham o significado.

A realidade é uma construção social.


A realidade é necessariamente um processo de abstração. A realidade só pode ser descrita depois de cumprido o processo lógico da abstração, principalmente através do compartilhamento dos sentidos de significados.

Individualmente, nós não temos a capacidade de produzir conhecimento abstrato para garantir uma representação da realidade. Nós precisamos de um conjunto de uma comunidade de interpretantes unidos, numa mesma experiência, que emerge de um sentimento comum de convergência.

E então, partindo dessa expêriencia estética, dessa fenomenologia comum do mundo, que nós vamos gradativamente compartilhando e comunicando nossas conclusões e construindo um conhecimento que vai aos poucos se aproximando do que a gente espera ser um dia a realidade.


“É uma esperança”

Você v É o s ê?? inal de Z eus!

Que caralho?!

A yo re u Pe ok dr o?

Cadê a festa??

Como eu chegue i em ca sa?


! Fuck to inda a u E hat W ? ado? chap I done? have

Cacete ! Eu to pensan do em inglês ou em portug uês?

ck! á Fu t ue ? O q ando o g rol onsi r! oc Nã ensa p

“O Peirce diz que não existe verdade individual, a verdade só tem valor de verdade se for uma construção coletiva.”


“Individualmente nenhum de nós consegue dizer se está sonhando ou vivendo a realidade.”

“Se estamos alucinando ou acordados.”

Eu ainda tô aqui?




capĂ­tulo dois


Da mesma forma que eu era livre pra ser quem eu quisesse, eu também era livre pra fazer o que eu quisesse.

E aí Pedro? Qual vai ser o seu projeto?

Desde que eu cheguei aqui, eu comecei esse projeto chamado “Sketch Diary”, onde eu conto minhas experiências do intercâmbio...

Bem... Eu me interesso muito por quadrinhos...


É tipo... no final do dia eu desenho o que aconteceu naquele dia.

E aí a cada dois meses, eu junto tudo numa história de quadrinhos curta, que eu posto online.

Você deveria trazer esse projeto pra cá, dentro do estúdio.

É... eu to pensando nisso. Mas não tenho certeza.


Eu acho que seria muito... ...narcisista, sabe?

Bem vindo à todos. Meu trabalho é basicamente histórias em quadrinhos de uma página.

Elas são geralmente sobre momentos efêmeros, sobre pessoas, sobre contar histórias...

Também trouxe meu “Sketch Diary”, são desenhos contando a vida do dia a dia. É uma forma de aproveitar ao máximo meu intercâmbio, pois eu só posso criar desenhos interessantes se eu viver coisas interessantes primeiro.


Bem, acho que ĂŠ isso.

Espero que gostem.


Pois bem...

Todo artista é um contador de histórias. Você diz que seu trabalho é sobre contar histórias, isso não significa nada! Seu trabalho também soa um pouco comercial, muito óbvio. O espectador deve ser maravilhado!

Aqui na Academia nós temos um departamento de Belas Artes, não de ilustração.

Não, espera! Eu juro que eu tenho um ponto!

É melhor você começar a melhorar seu rendimento dentro das Belas Artes.


O que eu to fazendo aqui?

Eu nĂŁo sou um artista.

Eu sou uma fraude.


Olá!

Cacete! Quem é você?

Eu sou o espírito do fracasso! Você não pode se esconder de mim! Eu estou em todos os lugares, até dentro da sua casa!

Existem muitos como eu. Mas você... você tá sozinho agora!

Vamo lá, me diz.

Você é um artista ou um rato?

! HA! HA! A H ! HA HA!



“Eu quero juntar minha arte e minha vida, para entã o dar sentido pra minha vida.”

Claro que Pollock é chato.

Depois de e descobrirem qu 4 o sã 2 is ma 2 o isso ficou chat também.

Meus pais assistiram um vídeo do meu portfolio, foi tipo...

Então, na verdade... Eu também não entendo essa separação.

Tá, eu sei... vocês n ão entede ram nada né ?

A arte fala por si só, faz perguntas. Uma ilustração só te dá todas as respostas. Percebe?


Sei lá... Pra mim não diz nada.

Eles falam e falam, mas é , só uma pintura sabe?

Ah sim, desc ulpa. “Shallow” é tipo uma pa lavra filosófica pr a “vazio”. Entendeu?

Enche o saco.

o eu Quand , Platão m e o s pens a do d o “Mun ... ” ideias

De vez em quando eu não consigo pa ssar elas para o mundo real.

Eu tava apresentando aí minhas esculturas, pra m ara olh s ele uma pilha de lixo atrás de mim, foi tipo...

ho As vezes eu ac em er qu o nã es que el lo”, então o “belo pelo be eio eles pedem o “f ”. io pelo fe

“Uau, aquilo é seu trabalho também? Você deveria fazer mais daquilo”. Quer dizer... Sério? Eu sou idiota?



Pedro... Monroe.

Sua família chega semana que vem, né?

Como se você tá o? d n i t sen

Aham.


Michele não é a história que eu vim contar aqui.

Só digo que se esse livro fosse um conto de fadas...

Ela seria a fada.


E o Jonas é meu irmão.

Isso é tudo que preciso dizer sobre ele.

E eu acho que ele não teria nada a dizer também.


Jonas, é estranho te ver aqui.

Sabe? Na minha casa...

Agora eu sei que eu não sou esquizofrênico ou coisa pior. Esse mundo aqui se tornou mais real, de certa forma.

Vamo?

Comendo minha comida, falando com o Tom e o Chris. Agora que você e a Michele viram tudo isso, as coisas estão diferentes.

E às vezes, isso é meio chato.


No final das contas, um mês passa tão rápido quanto quatro páginas.

E dois capítulos não foram suficientes para viver com alguém como o Tom.

TOM fucking AUSTIN senhoras e senhores! Dá pra acreditar?

Goodbye mate.

I'll miss you dude.

Thank you!

Thank you.


Eu nunca quis voltar no tempo. Mas se eu pudesse ao menos...

fazĂŞ-lo passar mais devagar...

Aproveitar esse ano no meu prĂłprio ritmo...

Dar pra vida um olhar mais atento e mais carinhoso...

ei Eu sempre am essas luzes.


Fundamental para o sucesso de uma narrativa visual ĂŠ a habilidade de transmitir o tempo.


Mas uma coisa que você tem e ninguém mais tem é você. Sua mente, sua voz, sua história, sua visão.

Então escreva e desenhe e crie e viva como só você sabe. O momento que você se sentir como se estivesse andando nú pela rua...


Esse é o momento que, talvez, você tenha começado a chegar lá.

...expondo muito do seu coração e da sua mente, tudo que existe por dentro, mostrando muito de si mesmo...


Demorou um tempo pra eu entender...

que criar arte...

é um tipo de narcisismo.

APAREÇA!

Eu sou meu próprio Deus.



HAHA HA!




capítulo três


Depois da minha última apresentação, eu decidi mudar um pouco minha direção.

A ideia era desenhar memórias aleatórias do meu dia a dia.

Dessa vez eu trouxe o viés autobiográfico do meu “Sketch Diary” para o meu projeto do estúdio. E aí, eu comecei a fazer esses desenhos grandes.

A linguagem de quadrinhos tem o poder de transformar tempo em espaço. Diferente do cinema, aqui é possível que o espectador leia as sequências de imagens no seu próprio tempo.

Dessa forma, usando eu mesmo como assunto principal, eu espero que seja possível adquirir um conhecimento visual do meu intercâmbio.

Essa mesa também representa a captura do tempo, quando você tira um objeto de sua rotina usual e desenha uma moldura ao seu redor.


“Eu achei muito esperto. Quando você tem diferentes quadros juntos, você acaba criando diferentes camadas de significado.”

to de “Eu gos oldura m a quando imagens s a ce, desapare rias e m m mó se torna s.” te n a ç a o esv

muito “Fez cê ra vo bem p maior. har desen esenhos d do Seus expon m a b a c ê a c . de vo mais !” Bravo

bem “Você sabe ndo. está faze cê vo e se o qu cê vo e aro qu É muito cl a. Mas st ni ri ad tornará qu os que nós gostam as vezes você e qu as cois você faça zer.” fa be sa não

“Eu também gostei da mesa, foi uma boa maneira de trazer a captura do tempo para um trabalho 3D.”

im s pra m Sim, ma claro, o tã tá não es que u tenho então e do, n e z ar fa continu ? entende

, “Sim sim to.” s u j .. eu sei.


2,50 por favor.

Quanto é?

E aí Mark!

E aí Pedro! Como foi a apresentação?


Foi bem bom na real. Acho que dessa vez deu certo.

Agora meu próximo e último projeto vai ser uma graphic novel. Sinto que é o próximo passo pra mim. Loco! Qual a história?

Vai ser tipo o “Sketch Diary”?

Ah! E eu comprei “chicken soup”, que você me pediu.

Chicken soup? Quê?

Tipo isso. Só que com mais páginas e colorido. Pretendo ser mais psicológico também.

Pedro, eu pedi pra você comprar kitchen soap, cara!

Daora! Quero ver logo.


Oi Rachel. E aí Pedro?

você Achei que o pro d a tinha volt . il s Bra

Eu acho que eu nunca voltei totalmente.

Aproveita esses últimos meses Pedro. Pra mim eles foram embora muito rápido.

Minha vida aqui era tão diferente. Aquele desapego que eu sentia da vida real...

Sim... Eu já tô sentindo saudade desse lugar.


Eu não sinto exatamente saudades daqui. Porque tudo parecia só um sonho de onde eu acordei. E agora...

Eu não sei onde coloco essas memórias na minha cabeça.

E como tá indo sua graphic novel?

Tô quase acabando. Aliás, você se importa se eu desenhar essa conversa?

Eu amo essas luzes.


Por quê? Essa é uma boa pergunta. Por quê?

Eu não sei. É só... É só o que acontece quando você faz algo assim. É um...


Eu sou um escritor.

E eu quero ser tรฃo bom quanto eu puder, a quase qualquer custo Quero dizer...

Se eu pudesse cortar meu braรงo esquerdo pra escrever um bom romance, eu faria isso.


Sejam todos bem-vindos à minha apresentação final.

Neste segundo semestre, eu fiz uma graphic novel autobiográfica, sobre o meu ano aqui na Holanda.

A linguagem dos quadrinhos sempre foi meu principal interesse ao estudar o tempo.

Eu também fiz uma versão digital...

Como meu intercâmbio está acabando, me colocar como personagem dentro de uma história em quadrinhos foi a melhor maneira de lidar com meu tempo aqui.


Assim, nós podemos ler juntos e com as páginas maiores. Não sei se temos tempo o suficiente, mas pelo menos o primeiro capítulo.

Alguns dos originais estão na parede, para mostrar o desenvolvimento.




Ah lá! Finalmente! Bença Pedro!

Senta aqui, vem conversar. Eu estou preocupada com você meu querido.

Nesses tempos tenho me sentido um pouco desconectada de você, né? É, eu sei... Faz bastante tempo que eu não te desenho.

Muito tempo que você não me desenha? O quê você quer dizer menino?

Santo Cristo do céu... Eu sabia que você tava ficando doido. Toda aquela zona de misturar vida e arte...

Mas tá tudo bem, eu tô tentando ser mais autobiográfico agora.

Ora, você sabe. Uma das minhas personagens de quadrinhos.

Acorda, Pedro! Eu nunca fui uma personagem sua. É VOCÊ que é um dos meus personagens!


O quê?

Sim meu querido. Você é uma espécie de alterego. Sabe como é...

Sou uma velha, com alguns arrependimentos. Eu criei você para viver coisas que eu não tive tempo de fazer. Eu não sou real? Cê tá zuando? E minha família, amigos, minha graphic novel?

Cacete! Você também criou minha graphic novel?

Graphic novel? Não! Desenhar não é comigo. Eu sou uma escritora. E esta conversa é o final do meu último livro.


Você é uma escritora?

é Então você a. Você uma escritor do isso. escreveu tu

Espera aí! Tudo isso aqui... são só palavras, certo?

É, é.

Até essa luz ui? Você flutuante aq creveu es m també isso?

Não não... Nem sei o que é isso. Eu só descrevi “uma sala grande e escura cheia de pilhas de livros”. Sem detalhes.

Exato!

Nós só podemos enxergar a luz porque eu a desenhei. Sou eu quem preenche as brechas vazias da sua mente.


Sem mim, sua imaginação é completamente escura. Se eu não desenhar, você se torna tão irreal quanto eu.

Sei...

Então tá, meu querido. Talvez eu seja um dos seus personagens também.

Ou eu tô tendo uma crise existencial bem estranha aqui. Na verdade, eu não me importo tanto assim. Você já ouviu aquela frase lá?

É assim ó: “Se alguém escreveu, então é real”. No final das contas... qual a diferença?

Bem... Tá.

Então... Eu sou real também. Eu ainda tô aqui... né?


Sim, eu ainda tô aqui.

De toda a realidade que eu poderia contar, eu escolhi esta. E se você está lendo isto, eu posso sentir um pouco mais de vida...

dentro de mim.






Para minha família e amigos Muito obrigado ao Jonas, à Paula e ao Ciências sem Fronteiras


PedroVรณ

PedroVoh


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.