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Jovens estilistas da capital mineira se unem para mostrar seu trabalho em ações inusitadas baseadas no compartilhamento e na troca de ideias. Texto Heloisa Aline Ilustração Fernando Barreto e Pedro Ricardo Design Fernando Barreto e Pedro Ricardo
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GENTE JOVEM, COM TALENTO, mil ideias na cabeça e buscando uma oportunidade no competitivo mundo da moda... quem já não ouviu essa história? Após a formatura. Uma interrogação invade a cabeça da maioria dos alunos graduados em Design de Moda. Com exceção dos poucos que foram absorvidos pelo mercado quando ainda estudantes, a dificuldade para encontrar um trabalho permeia a vida do restante. Os currículos enviados ficam sem resposta, as marcas querem profissionais que já tenham uma experiência real e que possam contribuir efetivamente em suas equipes. A solução para boa parte desses estilistas em início
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de carreira é empreender, investir na própria marca, fugindo do modelo tradicional de comercialização nas grandes feiras, salões privês ou showrooms sofisticados, inviáveis economicamente. Sem aporte financeiro para bancar o investimento, a alternativa tem sido vender seus produtos diretamente para o consumidor final em ventos itinerantes, que agregam pessoas na mesma situação, faixa etário, e, não raro, envolvem outras manifestações culturais. É nesse caldeirão fervilhante de ideias, regado com a energia da juventude, e acreditando no coletivo, que as marcas vão se tornando conhecidas do público e negócios são realizados.
Case que exemplifica bem esse movimento é a galeria de moda AMDO(www. amdo.com.br), que reúne sete nomes da novíssima geração de estilistas da cidade: Ana Barros, Camila Interlandi, Gui Legnani, Carlos Penna (acessórios), Nuu Shoes (sapatos), Matheus Couto e Mínima (acessórios). A curadoria é do jornalista Bernardo Biagioni. Foi fotografando os desfiles do Fumec Forma Moda, evento no qual alunos da universidade apresentam seus trabalhos de conclusão de curso (TCC), que ele se deparou com alguns formandos talentosos, que lhe chamaram a atenção. Daí veio a proposta de formação de um grupo para que pudessem efetuar ações
Foto AMDO
‘‘Comecei documentando seus trabalhos e, com o tempo, fui percebendo que faltava uma ponte que os conectasse com o lado comercial”
Foto Google
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“mulheres com estilo pessoal, que gostam de moda, mas não se prendem às tendências”
Foto NUU Shoes
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comerciais e de marketing, Bernardo, um jovem apaixonado por Belo Horizonte, cuja primeira experiência no jornalismo aconteceu na revista Ragga e no jornal Ragga Dropz, deixou de lado a profissão para se dedicar a propostas que envolvessem e projetassem a cultura local. Em 2012, criou a galeria de arte contemporânea quartoamado, formada por artistas promissores. “Comecei documentando seus trabalhos e, com o tempo, fui percebendo que faltava uma ponte que os conectasse com o lado comercial”, explica.
Alfaiataria A AMDO (ANAGRAMA DE AMADO), “uma irmãzinha do quartoamado”, segundo ele, estreou em abril de 2015, com um desfile performático na inauguração de A Alfaia-
taria, endereço que abrigou o atelier do renomado alfaiate Hermano, e que funcionou até dezembro, com a proposta de ser um espaço colaborativo de desenvolvimento de ideias e projetos. Tornou-se um ponto cool dos antenados e criativos de Beagá. “Nosso principal objetivo é criar e ampliar espaços e perspectivas para jovens designers locais, articulando um movimento efervescente de criadores mineiros que, por falta de estímulo, por vezes não perseveram em criações experimentais e autorais”. Ali os novos estilistas receberam corners para expor suas coleções cápsulas, convivendo com outras manifestações artístico-culturais. Bernardo explica que, com o encerramento das atividades de A Alfaiataria, “a galeria AMDO seguirá itinerante, criando e resignificando lugares da cidade para a realização de desfiles, exposições, palestras e workshops direcionado à articulação deste slow fashion local”, afirma.
Atemporal FILHA DA SAPATEIRA PAULA BAHIA, Marcela Bahia seguiu os passos da mãe e lançou a NUU Shoes em sociedade com Marina Lerbach, em abril do ano passado, na Benfeitoria, um galpão mix de galeria de arte, casa de shows e bar, no bairro Floresta. O imóvel foi escoFoto AMDO
lhido pelo coletivo Benfeitoria depois que a casa que o grupo mantinha na região ficou pe quena para seus eventos, que incluem um feira de design e artesanato. Desde o princípio, a ideia da dupla era explorar minicoleções de sapatos a partir de criações atemporais, voltadas para “mulheres com estilo pessoal, que gostam de moda, mas não se prendem às tendências”. Apesar de apostar forte no e-commerce e nas redes sociais, elas optaram também, nesse primeiro momento, pelas vendas no varejo. Por isso, a participação no projeto A Alfaiataria foi fundamental para a aproximação com o público. “Clientes e amigos puderam ver a coleção e experimentar as peças. Como foram realizados vários eventos no local, houve um grande trânsito de pessoas, que se identificaram com 28 SUPER MAIO 2017
nossa proposta. Isso além do reconhecimento da empresa no cenário local”, afirma Marcela. Integrante da galeria AMDO. Marcela considera revitalizante conviver e trocar ideias com outros designers, ajudando-se mutualmente. Pouco a pouco, a NUU vem conseguindo se introduzir em multimarcas – já está no Rio, São Paulo e interior de São Paulo. “Mas, por enquanto, vamos continuar vendendo online e em pontos físicos temporários, que dialogarem como o perfil do público da NUU. Acabamos de participar da Cluster, no Rio de Janeiro, com esse mesmo objetivo”, conclui.
Slow fashion A MAIORIA DOS FASHION DESIGNERS iniciantes, que optaram por esse caminho, são adeptos do slow fashion, que tem muitos seguidores. São pessoas que gostam de comprar em locais alternativos com produção pautada pela exclusividade. E apreciam roupas que têm uma história, com edição limitada – se forem de autoria de alguém que conhecem ou pertenceram à cultura local, terão um significado especial: o valor afetivo aumenta, mesmo que custem mais caro do que em loja convencional. Camila Interlandi, que se formou na Fumec, há pouco mais de um ano – junto com Gui Legnani (moda masculina) e Ana Barros –, acredita nisso. MAIO 2017 SUPER 29
Participou, como os dois colegas, do desfile de inauguração de A Alfaiataria. “Foi minha primeira experiência, um laboratório, um aprendizado. Recebi o convite, desdobrei as peças que fiz para o TCC em outros looks e, quando vi, estava mostrando, vendendo meu trabalho e percebendo como ele estava sendo recebido”, conta. Na sequência, em novembro, ela se uniu a Gui Legnani para lançar o Projeto Motus, cujas coleções cápsulas são voltadas para um público “sem gênero”. “Criamos e as pessoas compram aquilo com que se identificam, independentemente se são homens ou mulheres”, explica, frisando que a ideia foi sucesso. Tanto é que, no momento, Camila e Gui optaram por dar uma pausa em suas coleções particulares para se exercitarem a quatro mãos. A possibilidade de se expressar a partir do que pensa sobre moda, estilo e roupas também conquistou Ana Barros, um nome para se prestar atenção. No pouco tempo entre a saída da universidade e a vida de estilista, deu passos gigantes para uma iniciante: desfilou a coleção de graduação na 36ª Casa dos Criadores, foi escolhida entre os 22 melhores jovens designers internacionais para desfilar uma nova coleção no projeto Mittelmoda, na Itália, recebeu convite para desfilar na semana de moda de Van-
couver, no Canadá. E ainda: selecionada para o estande coletivo do Sindivest-MG, no Minas Trend, ficou em segundo lugar no concurso Ready to Go, que revela novos talento para o mercado. Em São Paulo, para onde se mudou recentemente, ela se matriculou em uma pós graduação em Empreendedorismo sustentável em moda, na universidade Anhembi-Morumbi. Na sua concepção, isso vai ajudá-la a gerenciar melhor a sua marca e a continuar no consumo sustentável. “Não quero fazer parte dessas marcas que vendem roupas descartáveis. Quero que as pessoas deseje m ter uma peça minha no guarda-roupa, que ela seja atemporal, que a guardem com carinho, como antigamente acontecia. Muito da minha roupa e da minha produção passam pela questão do afeto e acho que as pessoas estão perdendo isto”. Nesta filosofia, Ana está à procura de pontos comerciais e showrooms que combinem com a sua proposta de moda festa autoral, onde o público busque esse tipo de produto, valorize, bons tecidos, postos artesanais de bordados, bom acabamento. “Penso que com todo o investimento que fiz na minha marca e no meu nome, vou dar continuidade ao meu projeto com mais facilidade e resultado”. Apesar de distante, ela salienta que não sairá da galeria AMDO, um braço importante em Beagá. S
Foto NUUMAIO Shoes 2017 30 SUPER