Tese de Mestrado - Dissertação | Pedro Sepulveda Nunes

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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA FACULDADE DE ARQUITECTURA

CONSTRUIR NO CONSTRUÍDO: O “NÓ DE ALCÂNTARA” RECONVERSÃO DE ÁREAS INDUSTRIAIS: O CENTRO DE ARTES E OFÍCIOS LX FACTORY

Pedro Sepúlveda Nunes (Licenciado)

Dissertação/Projecto para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura

Orientador Científico: Especialista Arquitecto João Lúcio Lopes Co-orientador: Doutor António Lobato Santos

Juri: Presidente do Juri: Prof. Aux. Francisco Serdoura Arguente: Prof. Aux. Pedro Ravara Orientador: Especialista João Lúcio Lopes Co-Orientador: Prof. Aux. António Lobato Santos

Lisboa, FAUTL, Maio, 2012


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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA FACULDADE DE ARQUITECTURA

Título | Construir no Construído: O “Nó de Alcântara” Reconversão de Áreas Industriais: O Centro de Artes e Ofícios LX Factory Nome| Pedro Sepúlveda Nunes Orientador| Especialista Arquitecto João Lúcio Lopes Co-Orientador| Doutor António Lobato Santos Mestrado Integrado em Arquitectura com Especialização em Arquitectura Lisboa, Maio 2012

RESUMO O presente Projecto e Dissertação Final de Mestrado, centra-se na temática de reconversão de áreas industriais com recurso a actividades relacionadas com as artes e cultura. Tem como primeiro objectivo, valorizar a reabilitação da zona industrial onde se insere a antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses, actual LX Factory, localizada em Alcântara, Lisboa. Foi assim elaborada uma proposta urbana e arquitectónica, que pudesse percorre as diferentes escalas em que opera, incidindo sobre os terrenos envolventes à LX Factory, que hoje se encontram expectantes e se constituem como um vazio urbano da cidade. A solução agora apresentada, pretende dinamizar esta área segundo uma lógica de extensão da LX Factory, inter-relacionando o Novo e o Antigo, potenciando a sua reconversão num dos mais dinâmicos e atractivos Pólos artístico-culturais de Lisboa.

Palavras-chave: alcântara, lx factory, clusters criativos, reconversão industrial, pólos artísticos

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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA FACULDADE DE ARQUITECTURA

Title | Construct in the Constructed: The “Node of Alcântara” Reconversion of Industrial Areas: The Center of Arts and Crafts LX Factory Name| Pedro Sepúlveda Nunes Orientator| Specialist Architect João Lúcio Lopes Co-Orientador| Doctor Architect António Lobato Santos Master’s Degree in Architecture with specialization in Architecture Lisbon, May 2012

ABSTRACT This final Project and Master Thesis, focuses on the theme of reconversion of industrial areas through activities related to the Arts and Culture. The main objective is to add value to the already rehabilitated industrial area where is located the old Wiring and Tissue Factory, current LX Factory in Alcântara, Lisbon. It was developed an urban and architectural proposal, which runs through the different scales it operates, focusing on the surrounding areas of LX Factory. Which today are unoccupied, resulting in an urban void in the city. The solution now presented, aims to dynamize this area, throught an additional extension of the LX Factory, interrelating the New and Old, enhancing their reconversion in one of the most dynamic/attractive artistic and cultural clusters in Lisbon.

Keywords: alcântara, lx factory, creative clusters, industrial reconversion, artistic centers

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AGRADECIMENTOS |

A realização deste trabalho não teria sido possível sem a colaboração, incentivo e empenho de diversas pessoas. Gostaria de expressar toda a minha gratidão e apreço a todos aqueles que, directa ou indirectamente, contribuíram para que esta tarefa se tornasse uma realidade. Os meus sinceros agradecimentos.

Em especial, Aos meus pais e irmão, pelo apoio incondicional prestado. Aos Arquitectos João Lúcio Lopes e António Lobato Santos pela disponibilidade, orientação, partilha de conhecimentos e experiências no desenvolvimento do trabalho. Aos amigos e professores, pelas conversas, discussões esclarecedoras, pela companhia e partilha de experiências ao longo de toda a vida académica.

Um muitíssimo obrigado.

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ÍNDICE Página 01. INTRODUÇÃO

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02. ESTADO DA ARTE

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03. O LUGAR – ALCÂNTARA

23

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5

25 28 31 33 36

CONTEXTUALIZAÇÃO ALCÂNTARA INDUSTRIAL O PROCESSO DE DESINDUSTRIALIZAÇÃO A FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS LISBONENSES A FÁBRICA DAS ARTES, LX FACTORY

04. RECONVERSÃO DE ÁREAS INDUSTRIAIS PELAS ARTES E CULTURA

39

4.1 4.2 4.3 4.4

41 43 47 50

CONSTRUIR NO CONSTRUÍDO CULTURA E A REGENERAÇÃO URBANA INDUSTRIAS CRIATIVAS NOVAS TIPOLOGIAS ARTÍSTICAS E CULTURAIS

05. ALCÂNTARA E O PÓLO DAS ARTES E OFÍCIOS

55

5.1 INTRODUÇÃO - O PLANO DE URBANIZAÇÃO DE ALCÂNTARA 5.2 O PLANO URBANO, A NOVA ALCÂNTARA 5.3 O PLANO DE PORMENOR, O PÓLO DAS ARTES E OFÍCIOS LX FACTORY

57 63 66

06. O CENTRO DE ARTES E OFÍCIOS LX FACTORY

71

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7

73 75 79 80 81 83 84

PRINCIPIOS DE INTERVENÇÃO URBANA PROGRAMA BIBLIOTECA E ESPAÇO POLIVALENTE AUDITÓRIO E ANFITEATRO CENTRO DE EXPOSIÇÕES ESPAÇO DE FORMAÇÃO ESTRUTURA, MATERIALIDADE E IMAGEM

07. CONCLUSÃO

85

08. BIBLIOGRAFIA

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09. ANEXOS

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ÍNDICE DE IMAGENS Figura 1. P25 Ortofotomapa de Alcântara, Lisboa. Em Google Earth, http://www.earth.google.com/intl/pt/ Figura 2. P27 Fotografia da Ribeira de Alcântara 1912. Em Arquivo Fotográfico de Lisboa. Figura 3. P27 Fotografia da Ribeira de Alcântara 1912. Em Arquivo Fotográfico de Lisboa. Figura 4. P27 Fotografia da construção do Caneiro de Alcântara (encanamento da ribeira) 1945. Em Arquivo Fotográfico de Lisboa. Figura 5. P28 Excerto da carta Topografica de Lisboa e seus subúrbios, levantada no ano de 1807 sob a direcção do Eng.º Duarte José Fava, litografada no ano de 1831. Em Augusto Vieira da Silva – “Planta n. º 6”, Plantas Topográficas de Lisboa; Câmara Municipal, 1950. Figura 6. P30 Imagem do Mercado de Alcântara na época industrial, 1939 Em Arquivo Fotográfico de Lisboa. Figura 7. P30 Vista sosbre Alcântara e sobre a Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses, (s.d). Em Arquivo Fotográfico de Lisboa. Figura 8. P30 Vista sobre a Av. 24 de Julho, (s.d). Em Arquivo Fotográfico de Lisboa. Figura 9. P30 Excerto da Carta Topográfica de Lisboa de 1871, com as alterações a vermelho feitas até 1911. Em Augusto Vieira da Silva – “Planta n. º 10”, Plantas Topográficas de Lisboa; Câmara Municipal, 1950. Figura 10. P32 Imagem das Docas de Alcântara e da construção da Ponte 25 de Abril. Em Arquivo Fotográfico de Lisboa. Figura 11. P32 Imagem da construção da Ponte 25 de Abril. Em Arquivo Fotográfico de Lisboa. Figura 12. P32 Imagem da construção da Ponte 25 de Abril. Em Arquivo Fotográfico de Lisboa. Figura 13. P35 Imagem exterior da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses. Em http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/71938/ Figura 14. P35 Imagem interior da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses. Em http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/71938/ Figura 15. P35 Imagem interior da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses. Em http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/71938/ Figura 16. P37 Imagem exterior da reconversão da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses em LX Factory. Fotografia de Autoria Própria

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Figura 17. P37 Imagem exterior da reconversão da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses em LX Factory. Fotografia de Autoria Própria Figura 18. P37 Imagem interior da reconversão da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses em LX Factory. Em http://www.magicbox.pt/pt/eventos/shmeck-fest.aspx Figura 19. P38 Axonometria da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses, actual LX Factory e listagem das empresas criativas no dia 7 de Novembro de 2011. Imagem de Autoria Própria Figura 20. P43 Vista Exterior, Matadero, Madrid – Centro de Arte Contemporânea. Em http://www.elenaalmagro.com/fotografia.php?s=1&a=detalle&idPy=332 Figura 21. P43 Vista Exterior, Matadero, Madrid – Centro de Arte Contemporânea. Em http://www.roaming-art.it/eventi/visualizza/Site-specific Figura 22. P44 Vista Exterior, Reabilitação do Museu Moritzburg. Nieto Sobejano Arquitectos. Em http://www.dezeen.com/2011/06/17/moritzburg-museum-extension-by-niento-sobejanoarquitectos/ Figura 23. P44 Vista Interior, Reabilitação do Museu Moritzburg. Nieto Sobejano Arquitectos. Em http://www.dezeen.com/2011/06/17/moritzburg-museum-extension-by-niento-sobejanoarquitectos/ Figura 24. P44 Espaço Espositivo, Reabilitação do Museu Moritzburg. Nieto Sobejano Arquitectos. Em http://salikus.de/galerie/kunstmuseum-moritzburg-halle-saale%7C417%7C503 Figura 25. P46 Fotomontagem, Ampliação do Museu San Telmo, San Sebastián, Espanha. Nieto Sobejano Arquitectos. Em http://www.miguelubarrechena.com/san-telmo-museum.html Figura 26. P46 Maquete de conjunto, Projecto de ampliação do Museu de San Telmo, San Sebastián, Espanha. Nieto Sobejano Arquitectos. Em http://afasiaarq.blogspot.com/2010/09/estudio-nieto-sobejano.html Figura 27. P46 Maquete da proposta, Projecto de ampliação do Museu de San Telmo, San Sebastián, Espanha. Nieto Sobejano Arquitectos. Em http://afasiaarq.blogspot.com/2010/09/estudio-nieto-sobejano.html Figura 28. P46 Maquete de conjunto (vista superior), Projecto de ampliação do Museu de San Telmo, San Sebastián, Espanha. Nieto Sobejano Arquitectos. Em http://afasiaarq.blogspot.com/2010/09/estudio-nieto-sobejano.html Figura 29. P49 Vista exterior. Kaapelitehdas, Reconversão da antiga fábrica de cabos num Pólo Criativo. Ruoholahti, Helsíquia. Em http://www.philles.be/wp-content/uploads/2011/03/DSC04492.jpg Figura 30. P49 Vista interior, espaço expositivo. Kaapelitehdas, Reconversão da antiga fábrica de cabos num Pólo Criativo. Ruoholahti, Helsíquia. Em http://www.eso.org/public/images/helsinki-space-exhibition-nov2003-1/ Figura 31. P49 Vista exterior. Kaapelitehdas, Reconversão da antiga fábrica de cabos num Pólo Criativo. Ruoholahti, Helsíquia. Em http://www.teh.net/TEHMembers/MemberinFocusKaapelitehdas/tabid/238/Default.aspx

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Figura 32. P49 Vista exterior. La Friche La Belle de Mai, Reconversão da antiga fábrica de tabaco num Pólo Criativo. Marseilha, França. Em http://www.20minutes.fr/marseille/667638-marseille-la-friche-ilot-8239bobo8239-belle-demaithinsp Figura 33. P49 Vista interior, cafetaria. La Friche La Belle de Mai, Reconversão da antiga fábrica de tabaco num Pólo Criativo. Marseilha, França. Em http://stagebelledemai.wordpress.com/2009/04/05/les-grandes-tables-de-la-friche-la-belle-demai/dscn0351/ Figura 34. P51 Vista Exterior. Complexo Industrial da mina de carvão Zollverein. Essen, Alemanha. Em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Zeche_Zollverein_Essen_Kanal.jpg Figura 35. P51 Vista aérea. Complexo Industrial da mina de carvão Zollverein. Essen, Alemanha. Em http://www.tourserviceruhr.de/album/essen.html Figura 36. P51 Vista interior, livraria. Complexo Industrial da mina de carvão Zollverein. Reconversão em Pólo Cultural e Artístico. Essen, Alemanha. OMA (Rem Koolhaas) Arquitectos. Em http://thomasmayerarchive.de/details.php?image_id=170031&l=english Figura 37. P51 Vista exterior, piscina. Complexo Complexo Industrial da mina de carvão Zollverein. Reconversão em Pólo Cultural e Artístico. Essen, Alemanha. OMA (Rem Koolhaas) Arquitectos Em http://enchantedisle.files.wordpress.com/2010/02/uploads_media_kokereibad_03.jpg Figura 38. P51 Vista exterior. Complexo Industrial da mina de carvão Zollverein. Reconversão em Pólo Cultural e Artístico. Essen, Alemanha. OMA (Rem Koolhaas) Arquitectos Em http://www.initiative-ergreifen.de/index.php?id=35 Figura 39. P52 Vista exterior, Centro da Cultura e do Lazer, SESC Pompeia. Lina Bo Bardi Arquitectos. São Paulo, Brasil. Em http://economia-nathaliamorandini-1sem2011.blogspot.com/2011/04/serie-obra-analoga-sescpompeia.html Figura 40. P52 Vista interior, sala de exposições. Centro da Cultura e do Lazer, SESC Pompeia. Lina Bo Bardi Arquitectos. São Paulo, Brasil. Em http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/images/stories/fotos_sesc_pompeia/sesc_pompeia _caiopimenta%202.jpg Figura 41. P52 Vista interior, sala de exposições. Centro da Cultura e do Lazer, SESC Pompeia. Lina Bo Bardi Arquitectos. São Paulo, Brasil. Em http://blog.natureza.art.br/exhibitions/2009-sesc-pompeia-tripe/ Figura 42. P53 Fotomontagem, Projecto de ampliação do Tate Modern. Londres. Herzog & Meuron Architects. Em http://harxest.com/site/2011/05/14/tate-modern-extension/ Figura 43. P53 Fotomontagem, Projecto de ampliação do Tate Modern. Londres. Herzog & Meuron Architects. Em http://m.bdonline.co.uk/news/tate-modern-extension-faces-funding-shortfall/3161448.article Figura 44. P54 Vista Exterior Centro Cultural C-Mine. 51N4E Arquitectos. Winterslag, Bélgica. Em http://maisarquitetura.com.br/projeto-de-conversao-c-mine-por-51n4e Figura 45. P54 Vista Exterior Centro Cultural C-Mine. 51N4E Arquitectos. Winterslag, Bélgica. Em http://www.miesarch.com/index2.php?option=com_content&view=article&id=10&Itemid= 16&obraid=2038

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Figura 46. P54 Vista Exterior Centro Cultural C-Mine. 51N4E Arquitectos. Winterslag, Bélgica. Em http://www.miesarch.com/index2.php?option=com_content&view=article&id=10&Itemid= 16&obraid=2038 Figura 47. P54 Planta pré-existente, Centro Cultural C-Mine. 51N4E Arquitectos. Winterslag, Bélgica. Em http://www.miesarch.com/index2.php?option=com_content&view=article&id=10&Itemid= 16&obraid=2038 Figura 48. P54 Planta de ampliação, Centro Cultural C-Mine. 51N4E Arquitectos. Winterslag, Bélgica. Em http://www.miesarch.com/index2.php?option=com_content&view=article&id=10&Itemid= 16&obraid=2038 Figura 49. P58 Plano Urbano de Alcântara, da autoria do Arquitecto Manuel Fernandes de Sá. Em Relatório-Proposta do Plano Urbano “Alcântara XXI”, Manuel Fernandes de Sá. Figura 50. P63 Diagramas de evolução estratégica (ferroviária e metropolitana) da cidade de Lisboa. Imagem de autoria própria. Figura 51. P64 Diagramas de estratégia local (Situação Actual; Plano “Alcântara XXI” e Nova Proposta Urbana) Imagem de autoria própria. Figura 52. P65 Ortofotomapa referente à frente ribeirinha de Lisboa. Cultural Coast Line. Imagem de autoria própria. Figura 53. P67 Maquetes de estudo; Experiências volumétricas de densidade, avanços/recuos e ligações superiores. Imagem de autoria própria. Figura 54. P68 Diagramas conceptuais do Plano de Pormenor, Pólo das Artes e Ofícios. Imagem de autoria própria. Figura 55. P69 Fotografia da maquete de estudo à escala 1/1000 referente apenas ao Pólo das Artes e Ofícios. Imagem de autoria própria. Figura 56. P69 Fotografia da maquete de estudo à escala 1/1000 referente apenas ao Pólo das Artes e Ofícios. Imagem de autoria própria. Figura 57. P74 Diagramas conceptuais referentes à area de intervenção. Imagem de autoria própria. Figura 58. P74 Maquete volumétrica de estudo, escala 1/500 – Centro de Artes e Ofícios LX Factory. Imagem de autoria própria. Figura 59. P76 Diagramas conceptuais relativos ao Centro de Artes e Ofícios LX Factory. Imagem de autoria própria. Figura 60. P77 Corte longitudional programático referente à “tira” dos Eventos, Espectáculos e Biblioteca. Imagem de autoria própria. Figura 61. P78 Corte longitudional programático referente à “tira” das Exposições e Formação. Imagem de autoria própria.

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Figura 62. P78 Esquema programático e funcional do Centro de Artes e Ofícios LX Factory em planta. Imagem de autoria própria. Figura 63. P79 Perspectiva da maquete, Centro do Círculo de Leitores, Barcelona, Espanha. Alberto Campo Baeza. Em http://www.campobaeza.com/ Figura 64. P79 Corte da maquete, Centro do Círculo de Leitores, Barcelona, Espanha. Alberto Campo Baeza. Em http://www.campobaeza.com/ Figura 65. P80 Vista interior, Auditório da Escola Superior de Música, Benfica, Lisboa. João Luís Carrilho da Graça. Em http://www.ultimasreportagens.com/313.php por Fernando Guerra Figura 66. P80 Vista interior, Auditório da Escola Superior de Música, Benfica, Lisboa. João Luís Carrilho da Graça. Em http://www.ultimasreportagens.com/313.php por Fernando Guerra Figura 67. P80 Vista interior, Auditório da Escola Superior de Música, Benfica, Lisboa. João Luís Carrilho da Graça. Em http://www.ultimasreportagens.com/313.php por Fernando Guerra Figura 68. P82 Maquete do Museu Aan De Stroom, Bélgica. Arquitecto Xaveer de Geyter. Em http://www.xdga.be/index.php?section=projects&project=55 Figura 69. P82 Maquete do Museu Aan De Stroom, Bélgica. Arquitecto Xaveer de Geyter. Em http://www.xdga.be/index.php?section=projects&project=55 Figura 70. P82 Maquete do Museu Aan De Stroom, Bélgica. Arquitecto Xaveer de Geyter. Em http://www.xdga.be/index.php?section=projects&project=55 Figura 71. P82 Diagramas explicativos do Museu Aan De Stroom. Arquitecto Xaveer de Geyter. Em http://www.xdga.be/index.php?section=projects&project=55 Figura 72. P82 Vista superior da maquete do projecto para o Museu Montenmedio. Arquitecto Alberto Campo Baeza. Em http://www.campobaeza.com/ Figura 73. P82 Corte do projecto para o Museu Montenmedio. Arquitecto Alberto Campo Baeza. Em http://www.campobaeza.com/ Figura 74. P82 Corte do projecto para o Museu Montenmedio. Arquitecto Alberto Campo Baeza. Em http://www.campobaeza.com/ Figura 75. P82 Corte do projecto para o Museu Montenmedio. Arquitecto Alberto Campo Baeza. Em http://www.campobaeza.com/

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01. INTRODUÇÃO

No âmbito do Projecto Final de Mestrado, procede-se à realização da presente dissertação, enquanto meio de materialização, sedimentação e maturação de ideias conceito, que se traduz numa proposta arquitectónica. O trabalho foi iniciado na disciplina de Laboratório de Projecto VI no nono semestre, tendo sido aprofundado no décimo semestre, percorrendo as diferentes escalas, desde as territoriais, às de detalhe construtivo.

O nono semestre foi fundamental para a estruturação das premissas urbanas que serviram de base ao desenvolvimento do trabalho. A problemática residia na reestruturação do Nó de Alcântara não só a nível estratégico à escala da cidade, como a nível territorial urbano. É um lugar estrategicamente importante, com graves problemas estruturais relacionados com grandes infra-estruturas (linha ferroviária, via automóvel e caneiro), assim como, a nível territorial

(frente

ribeirinha,

espaços

industriais

abandonados,

desarticulações

e

fragmentações urbanas). Considerada uma zona de alta prioridade, com necessidade urgente de um plano urbanístico eficaz, apresenta-se actualmente, como um bloqueio ao desenvolvimento económico, social e urbano da zona. Consequentemente, como um bloqueio para o desenvolvimento da cidade de Lisboa.

Alcântara tem sido um importante foco de estudo tendo já sido realizados diversos projectos e planos urbanísticos que visam a reestruturação e revitalização da zona. No entanto, mantémse expectante relativamente à aprovação de uma solução eficaz que venha responder às necessidades presentes e futuras da zona. Desta forma, foram analisadas as diversas soluções e posteriormente elaborada uma análise crítica ao Plano de Urbanização de Alcântara da autoria do arquitecto e urbanista Manuel Fernandes de Sá, que serviu de base para o desenvolvimento do trabalho. Ainda no decorrer do nono semestre, foi aprofundado um Plano referente à zona onde hoje se insere a antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisboneses, junto ao Calvário. Neste local e na ausência de um plano de urbanização eficaz, surgiu em 2007 o projecto LX Factory, que aproveita as estruturas disponibilizadas pelo complexo fabril e desenvolve um projecto de reutilização deste espaço para fins artísticos e culturais (encontrando-se em pleno funcionamento até aos dias de hoje). Esta resposta assente na reciclagem de usos industriais

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segundo novas tipologias de actividades e espaços de cultura, veio proporcionar uma nova visão sobre Alcântara. Esta zona é dotada de grandes potencialidades de reconversão, em particular, numa lógica artística e cultural. A proposta urbana pretende assim, dar continuidade à reconversão desta zona, enquadrada pelos vazios expectantes que se encontram em redor da LX Factory. A ideia de base é a valorização e afirmação desta, através de um programa e de uma lógica espacial que venha complementar e reforçar a ideia de “Pólo Artístico e Cultural” enquanto elemento regenerador e revitalizador da zona.

No décimo semestre deu-se sequência ao trabalho decorrente da proposta urbana procurando-se legitimar uma abordagem ao domínio da arquitectura com o tema de projecto. Assim, foi desenvolvido um projecto de “extensão” da actual LX Factory que procura resolver algumas carências espaciais urbanas e programáticas do local. Simultaneamente oferece um maior leque de soluções para a promoção de eventos, exposições, espectáculos, formação, espaços de lazer e actividades procurando abranger um maior e diversificado público. Pretende-se desta forma, assegurar um funcionamento relacionado com a produção criativa da actual LX Factory através da preservação desta estrutura industrial. Esta estratégia funcionará em conjunto com a nova proposta arquitectónica de forma a ambas as partes integrarem uma lógica uniforme, reforçando e valorizando a transformação desta zona num “cluster” de Artes, Cultura e Lazer denominado Centro de Artes e Ofícios LX Factory.

Numa sociedade cada vez mais globalizada, os elementos que fazem uma relação com a história são interpretados como uma nova forma de caracterização urbana. A temática em análise, retoma assim, o estudo da cidade e da sua memória no contexto do legado industrial que marca a identidade do Lugar de Alcântara. A interpretação das características específicas do Lugar, espaço e tempo, constitui uma premissa essencial para o início do processo de projecto que conduzirá à concretização efectiva da obra arquitectónica. Ao configurar o sítio físico e a sua envolvente construída, a natureza do lugar está indissociavelmente unida a essa arquitectura enquanto criadora de novos lugares e de novos contextos urbanos.

“Essa memória que constitui a nossa identidade, requer efectivamente referenciais físicos: lugares, casas, em suma – no sentido profundo do termo, não do vulgar – monumentos.”1

1

Pedro Marques Abreu – O Destino do Monumento, Faculdade de Arquitectura UTL, pp.6

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Relativamente à abordagem temática da dissertação de projecto, são apresentados diversos exemplos práticos e teóricos que visam criar paralelismos segundo as mais variadas referências e escalas diversas, afectas ao presente projecto. O capítulo referente à Reconversão de Áreas Industriais pelas Artes e Cultura, vem sobretudo fundamentar as principais opções estratégicas e princípios teóricos adoptados para o projecto, enquanto a proposta arquitectónica é acompanhada por diversos exemplos práticos com o intuito de fundamentar diversas opções conceptuais e projectuais.

A presente dissertação divide-se em 4 partes, sendo a primeira relativa ao Lugar – Alcântara. Entende-se que, antes de qualquer tipo de intervenção, é fundamental compreender e contextualizar o Lugar tanto a nível histórico como urbano. Interessando a análise sobre o legado histórico Industrial, é aprofundada a pesquisa em torno dos terrenos industriais, sobretudo na antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses e na recente reconversão em LX Factory. É extremamente importante compreender o seu funcionamento, os modos de apropriação, as vivências, ambientes e sinergias, de forma a perceber como uma intervenção arquitectónica nova, pode oferecer uma maior diversidade de espaços, de eventos, de interesses e de pessoas, melhorando em simultâneo o funcionamento e as condições sem afectar o “espírito do Lugar”.

Na segunda parte, relativa à Reconversão de Áreas Industriais pelas Artes e Cultura, é feita uma breve introdução ao tema “Construir no Construído” segundo uma lógica de preservação e recuperação de estruturas desactivadas e abandonadas em estado de degradação na cidade, por meio de estratégias de reabilitação, enquanto elemento essencial para a preservação da memória do Lugar. É abordada a temática de regeneração urbana com base na prática cultural, sendo referidos vários exemplos de reconversões de antigas estruturas, não necessariamente industriais, em novas tipologias culturais. Na análise dos diversos tipos de intervenção de reabilitação, é focado o estudo sobre a forma como as antigas estruturas dialogam com os novos conteúdos, sendo de extrema importância perceber como interagem e dialogam entre si em termos plásticos, volumétricos, programáticos e espaciais. Relativamente ao tema das Industrias Criativas, referem-se diversas formas de gestão e de apropriação/ocupação destas estruturas segundo novos modelos culturais e artísticos, procurando-se relacionar e aproximar com o caso concreto da LX Factory.

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Numa fase final, interessou centrar a investigação na implementação de Novas Tipologias Artísticas e Culturais, não só a nível de reconversão de antigas estruturas industriais em novos museus, centros de arte contemporâneos e centros culturais, mas também entender a sua importância no contexto da Globalização.

A terceira parte, corresponde à proposta estratégica desenvolvida para Alcântara. É apresentada em primeiro lugar uma síntese do Plano de Urbanização de Alcântara, da autoria do arquitecto e urbanista Manuel Fernandes de Sá e posteriormente, evidenciada uma análise crítica, que é materializada por uma nova proposta alternativa. São referidas as principais opções estratégicas tomadas na nova proposta urbana e aprofundado um Plano de Pormenor referente ao “Pólo das Artes e Ofícios LX Factory” que visa abranger a área industrial onde se insere a LX Factory.

Por fim, é desenvolvida a proposta arquitectónica referente a toda a área poente do Pólo, o novo Centro de Artes e Ofícios LX Factory. Numa primeira fase, são evidenciadas as principais opções de intervenção e a sua relação com os aspectos programáticos da proposta arquitectónica. Posteriormente foram aprofundadas as relações programáticas que o projecto estabelece entre as suas diferentes partes, assim como, com as preexistências. São evidenciadas as principais características formais e funcionais dos diversos programas, assim como, questões associadas à espacialidade, iluminação, vivência e apropriação dos espaços. Algumas opções projectuais relacionadas com a materialidade e estrutura são também evidenciadas, de modo a justificar e expor intenções e ideias associadas à imagem e ambiências propostas.

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02. ESTADO DA ARTE

A presente dissertação foi elaborada tendo por base um processo de investigação e pesquisa que aborda diversos temas e opera a diversas escalas. Como tal, são evidenciadas ao longo do documento as referências que fundamentam as suas grandes opções e as decisões teóricopráticas envolvidas, sendo aqui mencionados os principais parâmetros que sustentaram o desenvolvimento do trabalho.

Relativamente ao primeiro capítulo, o “Lugar – Alcântara”, foi indispensável recorrer à consulta da Cartografia Histórica em paralelo com a pesquisa documental nas mais diversas obras, destacando a de João Paulo Freire em Alcântara: Apontamentos para uma Monografia e Paço Real de Alcântara: sua localização – Elementos para a sua história desde o domínio filipino. A consulta das obras como, Marcas da Indústria no Ambiente de Alcântara, de Ana Luísa Janeira e Conceição Lobo Antunes, assim como, A Evolução Urbanística de Lisboa de José Sarmento de Matos, foram extremamente importantes para compreender a evolução histórica assim como a importância do legado industrial no contexto de valor patrimonial da cidade de Lisboa. Também a consulta de publicações, artigos e entrevistas referentes à reconversão da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisboneneses em LX Factory, assim como, a interacção local com várias entidades evolvidas neste projecto foram importantes para a consolidação de ideias relativas ao seu funcionamento actual. Como tal, a análise da LX Factory foi desenvolvida, grande parte, com recurso a fontes primárias e experiência pessoal, visto não existirem muitas fontes que documentem o presente projecto de reconversão de usos por ser relativamente recente (2007). No capítulo de Reconversão de Áreas Industriais pelas Arte e da Cultura, na parte Construir no Construído, relativo a operações de reabilitação urbana onde é focado a importância da preservação de estruturas históricas, evidencia-se o contributo da obra de Françoise Choay, Alegoria do Património onde a autora ordena, periodiza e aborda criticamente as ideias sobre a preservação e o restauro, a noção de património e de valor patrimonial. Também a abordagem ao tema da Globalização de Saskia Sassen, The Culture of Cities de Sharon Zukin e O poder da identidade de Manuel Castells foram importantes para o desenvolvimento fundamentado das relações entre o projectar sobre o Lugar (memória) no contexto actual de Globalização das cidades.

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Reconhecendo a importância da memória neste processo, reflectiu-se sobre o artigo de Pedro Abreu, cujo tema - relação dialéctica entre Arquitectura e Memória - é manifestada de forma pertinente, clarificando o significado e importância do “lugar”, como uma entidade metafísica enraizada numa tradição, o espírito do Lugar de Norbert-Schulz, Genius Loci. No que diz respeito à temática da indústria, a obra Arquitectura e Indústria em Portugal no Século XX, da autoria de José Manuel Fernandes, constitui uma fonte documental de destaque. Indispensável para o entendimento dos contextos sociais, políticos e económicos, na sua relação com a arquitectura industrial produzida no território nacional, desde 1900 até à actualidade e do ponto de vista não só patrimonial, mas sobretudo no domínio da qualidade arquitectónica intrínseca. Destaca-se com predominante importância a obra, Cultural Clusters and the Post-industrial City: Towards the Remapping of Urban Cultural Policy, da autoria de Hans Mommaas, que analisa e explora o fenómeno referente às estratégias de “Cultural Clustering” na Holanda. É aprofundado o tema da revitalização económica e cultural nos últimos 5-10 anos, baseado no relato de Sharon Zukin, que destaca o papel predominante da criatividade cultural, como forma de regeneração urbana. A associação TransEuropeHalles, que se destaca nesta área, por referenciar alguns dos mais importantes e notáveis casos de sucesso, referentes a reconversão de usos de edifícios ou conjunto de edifícios devolutos importantes com valor patrimonial, na Europa. Também as contribuições de Charles Landry, que aborda a temática da Cidade Criativa, Pedro Costa, relativamente à cultura desenvolvida na cidade de Lisboa, e por fim, John Harty e John Holden na questão da industrialização e comercialização da criatividade, foram importantes para o desenvolvimento do capítulo relacionado com as Industrias Criativas. A parte projectual, referente aos capítulos, A Nova Alcântara, o Pólo das Artes e Ofícios e O Centro de Artes e Ofícios LX Factory, assume as ideias e os princípios analisados na parte teórica segundo uma lógica de adaptação e compreensão do Lugar em causa. Pretendeu-se formalizar com os diferentes casos de estudo apresentados, fundamentando algumas das decisões projectuais. Neste sentido revelou-se de extrema pertinência a análise aos diversos projectos referenciados e qual o seu entendimento sobre a concepção, apropriação e as diferentes transições espaciais se podem revelar de extrema utilidade enquanto matéria de projecto. No relacionamento entre programas e com o espaço público, ressalta a importância de dotar a arquitectura com espaços de convívio que enquadrem a responsabilidade social do arquitecto.

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CAPÍTULO

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O LUGAR - ALCÂNTARA

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03. O LUGAR - ALCÂNTARA

3.1 _CONTEXTUALIZAÇÃO

A área de intervenção do plano estratégico, desenvolvido no âmbito da disciplina de Laboratório de Projecto VI, localiza-se no Vale de Alcântara em Lisboa, sendo limitada a Nascente pela ravina dos Prazeres e a Poente pela Serra de Monsanto. A Sul estende-se sobre os terrenos conquistados ao Tejo, através de sucessivos aterros iniciados no final do séc. XIX. Pretendeu-se fazer uma síntese da evolução do Vale, desde as suas origens até aos nossos dias, centrada sobretudo no impacto e na influência da indústria no processo de transformação de Alcântara, de forma a perceber a génese dos diferentes tecidos urbanos, das fracturas e dos elementos ligantes, permitindo uma interpretação fundamentada da área plano.

F01. Localização da área de intervenção, Alcântara, Lisboa.

É o vale mais extenso da cidade de Lisboa e o modo mais suave de se alcançar a cota do rio Tejo, com um declive médio de 0,8%, por onde corre a Ribeira de Alcântara, actualmente encanada. Nasce na Brandoa, concelho da Amadora, corre pelos vales da Falagueira, Benfica e Alcântara, apresentando aproximadamente 12km de extensão.2 A origem da ocupação das margens da Ribeira remonta à Pré-história, encontrando-se inúmeros vestígios de ocupação desde os períodos Paleolítico, Neolítico e Idade do Bronze, sempre ligados a uma intensa actividade agrícola, aproveitando as características particularmente férteis dos terrenos. Os fenícios, importante povoado de vocação comercial,

2

Gonçalo José Veloso Queirós Carvalho - A Reciclagem dos Usos Industriais e as Novas Tipologias de Actividades e Espaços de Cultura; Caso de estudo: LX Factory; Instituto Superior Técnico, 2009, pp. 74

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habitaram a Ribeira de Alcântara no século XII a.C., tirando partido dos excelentes acessos terrestres e do transporte marítimo, já então, proporcionado por esta área.3 Durante a ocupação romana, foi construído um dos elementos arquitectónicos de maior relevância para a futura expansão urbana, a Ponte de Alcântara, que passava sobre a ribeira, ainda hoje perceptível na malha urbana (cruzamento das ruas Prior do Crato, Fontainhas e Av.Ceuta, adjacente à Estação Ferroviária de Alcântara-Terra). Posteriormente durante a ocupação Árabe, esta ponte, foi o elemento que deu origem ao nome definitivo do local segundo a palavra “Al-Kantara” que remete o significado precisamente para “a Ponte”.4

A ocupação desta área durante os séculos XII e XIII é sobretudo dispersa e polarizada por grandes quintas de terrenos férteis quase sempre ligados à agricultura. Mais tarde, no século XV, passa a ser partilhada não só pela agricultura, como também, pela extracção de pedra cal5 e pedra lioz, actividades que mantiveram relevância até ao século XIX. Assim, Alcântara conseguiu manter a sua natureza rural, num cenário campestre ao mesmo tempo que tirava proveito dos recursos naturais existentes nas margens da ribeira, onde foram aparecendo progressivamente os moinhos de maré, moinhos de vento e fornos de cal.

A ribeira continuou a ser uma marca no território e uma fronteira natural na paisagem do vale, no entanto, não constituía um limite suficientemente eficaz para a defesa da capital, depois da restauração da independência em 1640. Por esta razão, em 1650 D. João IV dá ordens para a elaboração de um projecto geral de fortificação que vai definir as fronteiras da cidade. O projecto da Linha Fundamental de Fortificação foi elaborado pelos engenheiros militares Charles Legart, Jean Cosmander e Jean Girot. No âmbito deste projecto, em 1652 foram construídos os baluartes do Sacramento e do Livramento, que formavam uma cortina

3

Câmara Municipal de Lisboa - Relatório-Análise. http://ulisses.cm-lisboa.pt/data/002/004/index.php?ml=5&x=alcanta.xml 4 Junta de Freguesia de Lisboa – Historial. http://www.jf-alcantara.pt/Default.aspx?Module=ArtigoForm&ID=42 5 O óxido de calcário, mais conhecido por Cal, é normalmente utilizada na indústria da construção civil para elaboração das argamassas com que se erguem as paredes e muros e também na pintura tendo também emprego na indústria cerâmica, siderúrgicas (obtenção do ferro) e farmacêutica como agente branqueador ou desodorizador. O óxido de cálcio é usado para produzir hidróxido de cálcio, na agricultura para o controle de acidez dos solos, e na metalurgia extrativa para produzir escória contendo as impurezas (especialmente areia) presentes nos minérios de metais.

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defensiva onde se encontrava uma das portas de entrada em Lisboa, no entanto, a extensa linha defensiva não foi acabada nem chegou a ser utilizada para efeitos defensivos.6

F02. F03 e F04 – Fotografias da ribeira de Alcântara e da construção do caneiro (1945).

Nos séculos XVI e XVII, durante o domínio Filipino, é construído o Hospital D. Jerónimo de Eça para combater a peste que assolava a cidade, a Igreja e Convento das Flamengas, à sua frente o Mosteiro do Monte do Calvário e a Quinta Real. Em 1645 foi criada a Real Tapada de Alcântara (mais tarde “Tapada da Ajuda”), um espaço de lazer e caça da família real. Esta expansão permitiu a Alcântara, a sua integração global na cidade graças à curta distância ao centro de Lisboa, o que permitia atrair a instalação de palácios da nobreza. É assim que ao longo do século XVII e XVIII, a Quinta Real começa a ser rodeada por diversos palácios e outras quintas, tais como o Palácio Fiúza (do século XVII), o Palácio dos Condes da Ponte (do século XVII) e a Quinta do Cabrinha (do século XVIII).

Entre o final do século XVII e início do XVIII, Alcântara foi ainda pontuada com uma construção de grande importância, a Fábrica da Pólvora, por volta do ano de 1690. A sua construção original limitava‐se a um pequeno edifício, sem grande importância e de pequena dimensão mas que, no ano de 1727 durante o reinado de D. João V, sofreu importantes obras de ampliação e reconstrução que contribuíram para afirmar a sua importância nas margens da ribeira.

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Beatriz Rosa de Abreu Pereira Marques - O vale de Alcântara como caso de estudo : evolução da morfologia urbana; Lisboa: UTL, Instituto Superior Técnico, 2009

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3.2 _ALCÂNTARA INDUSTRIAL

Quando em 1755 o terramoto abala a região de Lisboa, tornou-se prioritário o apoio à reconstrução da cidade, pelo que houve um grande aumento de laboração dos fornos de cal existentes em Alcântara cuja matéria‐prima vinha das várias pedreiras nas suas imediações. Neste contexto, Alcântara adquire uma maior importância e uma nova vocação que remete ao forte desenvolvimento industrial. Também por se encontrar junto a cursos fluviais e marítimos, onde justamente as unidades industriais se começavam a instalar, contribuiu para o crescimento de Lisboa no início do século XIX. Os primeiros focos de industrialização surgiram nos dois maiores vales da cidade: o Vale de Alcântara e o Vale de Santo António, ambos localizados simetricamente em relação à Baixa. Desta forma, o século XIX representa um período particularmente significativo para as transformações e para o aumento de território urbano de Lisboa.7 A industria rapidamente dominaria a economia local, destacando-se o papel impulsionador que a Tinturaria da Real Fábrica das Sedas, as Estamparias e os Curtumes tiveram em todo o processo, assim como, as Fábricas «de azeite do Sr.Burnay», «de sabão, velas de estearina e diversos óleos do Sr. Visconde da Junqueira», «de extracção de óleos da companhia Lisbon Oil Mills Milited», «de tapetes e outros lanifícios do Sr. Bernardo Daupias & Cª» e por fim, da «Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense» actualmente convertida no projecto LX Factory.

F05. Excerto da Carta Topográfica de Lisboa, Alcântara, levantada no ano de 1807 sob a direcção do Eng.º Duarte José Fava. 7

Mário Say Ming Kong – Arquitectura Industrial: Uma abordagem Central Tejo – Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa, 2001, pp.25

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O Calvário, tradicionalmente uma zona de quintas, palácios e conventos, converteu-se num importante pólo industrial, surgindo também a Carris nesse mesmo local. Contudo, apesar da quantidade de fábricas já instaladas, os transportes revelavam-se excessivamente dispendiosos e pouco eficientes para os operários que moravam distantes e se encontravam dispersos por quintas na província. Como consequência deste facto, face ao aumento demográfico e à mão-de-obra que afluía da província para os novos núcleos industriais com a perspectiva de encontrar oportunidades de trabalho no sector terciário8, deu-se um surto de população que se fixou nestes locais originando condições de alojamento precárias. Em resposta a esta carência habitacional, as próprias empresas, os construtores-promotores, tomam a iniciativa de suburbanizar estas área industriais com inúmeras vilas e pátios operários9 como é o caso do Bairro de Santo Amaro e Bairro do Calvário.

“(...) perto do final do século XIX, uma família operária média gastava quatro quintos do seu salário em alimentação, tendo as rendas que ser necessariamente baixas, o que resultava em alojamentos pobres e insalubres.”10

Todos estes bairros e pátios operários surgiam como forma de dar resposta rápida à necessidade do alojamento básico (com consequentes condições insalubres), acabando por serem elementos que não estavam sujeitos a qualquer tipo de planeamento. Segundo Filipa Antunes11, existem em Lisboa 593 pátios operários com características formais e funcionais idênticas. Neste contexto surge, com o maior número de exemplares, a freguesia de Marvila com 73, de seguida a de Santo Condestável com 51 e por fim, a de Alcântara com 37 pátios operários. Em Alcântara, esta exploração teve os seus reflexos, sendo o espaço público, o principal sacrificado de toda esta proliferação industrial. Esta abrupta alteração urbana põe muito depressa enormes problemas relacionados com a rede viária, a iluminação a gás e

8

Sendo de 1878 a 1890 que o crescimento de população urbana se torna mais intenso. Onde o aumento do número de habitantes está directamente relacionado com a oferta de maiores concentrações de emprego no sector comercial e industrial. PEREIRA, Miriam Halpern - Demografia e desenvolvimento em Portugal na segunda metade do século XIX, Lisboa, 1970, pp. 102 9 C.f. Maria João Madeira Rodrigues, Lisboa, 1797, pp. 37-40 10 Joaquim Mendonça Dias – Lisboa 94 - Capital Europeia da Cultura: Roteiro Cultural dos Pátios e Vilas da Sétima Colina. Lisboa: Contexto 1994, pp. 18 11 Filipa Oliveira Antunes - Habitação operária: pátios e vilas de Lisboa, a experiência da cidade operária industrial. Faculdade de Arquitectura. Universidade Técnica de Lisboa, 2002

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posteriormente a sua electrificação, a construção de saneamento e recolha de lixos, e ainda um delicado sistema de abastecimento a organizar no que se refere a água, alimentos, energia e matérias-primas industriais12. Toda esta ausência de infra-estruturas básicas veio a reflectirse na ribeira de águas limpas que passou a ser um foco de emanações pútridas e um elemento de má vizinhança, sendo mesmo aclamada como uma das mais sujas da cidade de Lisboa.

F06. F07 e F08 – Fotografias de Alcântara durante o período Industrial.

Em 1887, surge o caminho-de-ferro entre Alcântara-Terra e Sintra, sendo esta linha prolongada em 1891 até Alcântara-mar (ligando-se a Cascais)13 construída sobre aterros na Praia de Alcântara. Estes aterros, foram, ao longo dos anos, conquistando significativas áreas de terrenos ao Rio Tejo, permitindo a expansão da área industrial e, inclusivamente, a instalação do Porto de Lisboa em 1886. São referências incontornáveis e de importância fulcral na história de ocupação do vale de Alcântara.

F09. – Excerto da Carta Topográfica de Lisboa de 1871, com as alterações a vermelho feitas até 1911.

12

Jean-Pierre Rioux – A Revolução Industrial, 5ª Edição, Lisboa, 1996, pp. 174 – ISBN: 972-20-1320-3 actualmente activa exclusivamente para o transporte ferroviário de mercadorias provinientes do Porto de Lisboa – Liscont, Empresa Operadora Portuária de Contentores 13

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3.3 _O PROCESSO DE DESINDUSTRIALIZAÇÃO

Embora com períodos temporais diferenciados, tem-se verificado por todo o mundo inúmeros processos de desindustrialização ligados à Era Pós-Moderna e Pós-Industrial, motivados na sua generalidade por causas comuns e semelhantes entre si.14

A explosão urbana das cidades na segunda metade do século XX, proporcionou um desenvolvimento acentuado das suas zonas periféricas, provocando uma consequente desertificação do centro e um progressivo aumento do número de espaços devolutos. Entre outros factores, destaca-se a inadequação da sua estrutura urbana às exigências dos modernos usos residenciais e terciários. No concelho de Lisboa, com todas as principais indústrias a optarem por soluções mais económicas em concelhos mais periféricos, teve origem o aparecimento de um novo elemento na paisagem urbana da cidade, os Brownfields (baldios industriais). Segundo Margarida Queirós e Eduardo Brito Henriques15 estes correspondem aos antigos espaços ocupados pela indústria transformadora que, neste novo cenário, encontramse sem utilização ou mesmo abandonados. Estes locais são propícios ao conflito urbano pois sobre eles estão instaurados interesses contraditórios dos promotores imobiliários, proprietários, utilizadores e outros actores públicos e privados.

Desta forma, a primeira metade do século XX é marcada pela obsolescência de algumas das fábricas do núcleo da Ribeira de Alcântara e do Calvário, assim como, a partir dos anos cinquenta, pela construção de grandes infra-estruturas viárias, que, rasgando a malha existente, modificam profundamente a fisionomia do Vale e a estrutura urbana da área, separando em definitivo as duas encostas, respectivamente, a Av. De Ceuta (1944-51) assim como a Ponte 25 de Abril e respectivos acessos (1966). O Bairro do Alvito foi edificado em 1936/7 e o Parque Nacional de Monsanto criado em 1937, após a sua arborização. Posteriormente (anos 80) deu-se a regeneração de uma vasta área portuária desactivada, contígua ao actual porto de Lisboa, através da reconstrução de uma importante área de

14

Margaret A. Rose – The post-modern & the post-industrial, A critical Analysis - Cambridge University Press, 1991 – ISBN 0-521-40952 15 Gonçalo José Veloso Queirós Carvalho - A Reciclagem dos Usos Industriais e as Novas Tipologias de Actividades e Espaços de Cultura; Caso de estudo: LX Factory; Instituto Superior Técnico, 2009, pp. 88

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bares/restauração na cidade, as “Docas de Alcântara”, que estabelecem uma relação privilegiada com o rio e com as actividades de lazer com este relacionadas.

F10 F11. e F12. – Imagens das Docas de Alcântara e da construção da Ponte 25 de Abril.

Devemos realçar o património antigo e diversificado de que toda a área dispõe, como edifícios de carácter erudito, edifícios religiosos, um número invulgar de palácios e ainda o legado industrial com forte valor simbólico, Assim dispõe aproximadamente de meia centena de imóveis com interesse histórico e artístico ou com interesse patrimonial. Segundo Christian de Sousa16, a Europa tem desenvolvido um papel activo na regeneração destes brownfields. Começam agora a aparecer algumas estratégias bem sucedidas, com a consequente melhoria da capacidade institucional para lidar com estes projectos e com a implementação de novos programas e modelos de gestão que apresentem garantias de segurança a potenciais investidores. Está associado a este caso, a reconversão da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses em LX Factory.

“Apesar de, em Portugal, se ter verificado uma industrialização tardia e escassa, ao longo do século XIX, a arquitectura dos espaços industriais foi, mesmo assim, significativa, vista no quadro conjunto do nosso património arquitectónico. O património industrial é sinónimo de valores de memória, originalidade, singularidade, e ainda valores tecnológicos, científicos, sociais, económicos e estéticos, integrando todos os bens resultantes de uma actividade produtiva, desenvolvida ao longo de gerações. Particularidades que hoje despertam uma certa afectividade na historiografia portuguesa e justificam a sua defesa patrimonial.”17

16

Christian de Sousa – Brownfield Redevelopment versus Greenfield Development: A private sector perspective on the costs and risks associated with brownfield redevelopment in the greater Toronto area. Journal of Environmental Planning and Management, Nº. 43, 06/2000, pp. 831 - 853 17 Inês Figueiredo Barcelos – Projectar com o Lugar. Novos destinos para edifícios industriais: Fábrica Simões e Cª Lda. - Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa, 2010, pp.9

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3.4 _A FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS LISBONENSES

A Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense teve origem em 1838, altura em que esta unidade de fiação se fixou na zona de S. Sebastião da Pedreira, mais precisamente no palácio do Malheiro, enquanto a unidade de tecelagem se encontrava na calçada de Sant’Ana, no palácio dos condes de Carnide. Em 1839 acaba por se transferir para o sector nascente do convento de S. Francisco de Xabregas, onde consegue concentrar toda o sistema de produção (fiação e tecelagem juntos). A fábrica apresentava características de manufactura setecentistas, faltando qualidade e quantidade de produção para que se pudesse afirmar como um estabelecimento moderno. Foi então que, entre 1844 e 1846, alguns acontecimentos imprevistos levaram à transferência da fábrica. Um incêndio no edifício, deixou em más condições o sistema de caldeiras, a instabilidade do arrendamento e ainda alguma escassez de espaço, proporcionando um ambiente favorável à transferência desta unidade fabril.18

O novo lote para a sua implementação, com aproximada 36 000 m2, era servido a Norte pela rua do Calvário (actual rua 1º De Maio), a Nascente pela propriedade do barão de Alcochete e a Sul confinado pela sua frente para o rio Tejo.19 Iniciada a sua construção em Junho de 1846 e inaugurada em 4 de Abril de 1849, o arquitecto escolhido para desenvolver este projecto foi João Pires da Fonte (1796 – 1873), filho do mestre dos pedreiros do palácio da Ajuda, onde iniciou a sua formação aos 15 anos de idade. Anos mais tarde passou a ser o inspector das obras do mesmo palácio. Foi durante 37 anos, docente da disciplina de Arquitectura Civil, na Academia de Belas Artes de Lisboa.

O esquema adoptado por João Pires da Fonte para a construção da fábrica de Santo Amaro orientou o edifício no sentido perpendicular ao rio, sempre a uma distância que pudesse salvaguardar a possibilidade de expansão. Este grande edifício comportava uma linguagem, de formação e ensino do seu autor, neoclássica. Demonstrando um tipo de arquitectura de grande simplicidade e rigor estilístico, mas que poderá ter sido prejudicada pela grande

18

Jorge Custódio – Fábrica de Tecidos e Fiação de Algodão de Santo Amaro; Dicionário da História de Lisboa; Lisboa; 1994 19 Gonçalo José Veloso Queirós Carvalho - A Reciclagem dos Usos Industriais e as Novas Tipologias de Actividades e Espaços de Cultura; Caso de estudo: LX Factory; Instituto Superior Técnico, 2009, pp. 74.

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demora e arrastamento do período de construção. É um extenso bloco paralelepipédico, composto por quatro pisos, ao qual se acrescentou recentemente um quinto e dispõe de uma cobertura em fibrocimento, que assenta sobre o primitivo terraço. Sem este acrescento o edifício mediria 16,5 metros de altura, e teria em planta 123,5 x 20,7 metros.20

Em 1857, o corpo principal da fábrica era composto por 22 vãos no alçado principal, sendo que também por esta data foi completada a construção de mais 8 vãos, estes já previstos desde 1851. O edifício fica concluído em 1874, com a construção de um corpo avançado, composto por dois vãos. Após a sua conclusão o edifício sofreu inúmeras ampliações, sendo que a mais significativa registou-se em 1886, e tratou-se da elevação de mais dois pisos do corpo lateral Norte, prolongando as naves interiores, de modo a que o desenho exterior coexistisse com o existente. Mais recentemente (por volta dos anos 60), foi elevado um piso ao longo de toda a extensão do imóvel, assim como, foi também construída uma galeria de desperdícios no corpo no extremo Sul. A composição interior do edifício tenta reproduzir um espaço livre e polivalente, que suporte facilmente todo o tipo de maquinaria. Quatro plantas sobrepostas com a área de 1 369 m2 (antes da ampliação de 1886) proporcionaram as tão necessitadas condições de trabalho desta unidade industrial. A estrutura metálica no seu interior compõe grandes naves com duas fileiras de colunas no seu interior, cada uma delas com 23 colunas de 3,34 metros de altura, que distam da mais próxima 3,05 e 6,2 metros entre fileiras. Criam secções rectangulares que aproximadamente correspondem a um duplo quadrado. O sistema de cobertura e pavimentos é constituído por uma abobadilha de tijolo revestida com betonilha de cimento. O sistema estrutural de elementos metálicos, permitiu à Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense alegar publicamente a inutilidade do pagamento de seguro contra incêndio devido ás suas boas condições estruturais. As paredes do edifício são robustas de alvenaria, e tem uma espessura que varia entre os 1,1 e 1,5 metros. Os vãos de janela têm todos 1,22 metros de largura de abertura, medida que coincide com o espaçamento entre janelas.21

20

Gonçalo José Veloso Queirós Carvalho - A Reciclagem dos Usos Industriais e as Novas Tipologias de Actividades e Espaços de Cultura; Caso de estudo: LX Factory; Instituto Superior Técnico, 2009, pp. 92 21 Mário Say Ming Kong – Arquitectura Industrial: Uma abordagem Central Tejo – Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa, 2001, pp.39

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A construção deste edifício provém do modelo estrutural dos Mills Ingleses, obedecendo aos critérios funcionais das fábricas em Manchester e Leeds localizadas ao longo dos canais de água. As principais características do modelo arquitectónico Manchesteriano são, a construção da Fábrica em altura, construção em planta quase totalmente livre, funcionalmente organizada a partir do sistema de transmissão de energia a vapor, maior segurança graças à estrutura de colunas e vigas metálicas e à cobertura de abobadilhas de tijolo e cimento.22 Esta tipologia industrial tinha como conceito um processo onde o fabrico se iniciava no último piso, e sequencialmente ia descendo conforme o avanço das etapas de produção. Normalmente eram adoptados para este tipo de fábricas quatro pisos, onde o último era dedicado à oficina de fiação de tramas, o terceiro à oficina de fiação de urdiduras, o segundo à oficina de cardação, e por fim, o primeiro à oficina de tecelagem. Na história desta empreendedora unidade fabril destaca-se ainda o facto de ter sido a primeira companhia a edificar um bairro operário para albergar os funcionários e famílias. Esta "vila operária", construída em 1873, corresponde ao bloco de casas na Rua 1º de Maio, situada nas traseiras da fábrica. Com a implantação da República, a Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense, que gozou de excelente prestígio e situação financeira até 1910, começou a ter os primeiros problemas, agravados com a crise de 1917. A unidade fabril acabaria por se dissolver, e os edifícios de Santo Amaro foram vendidos, primeiro à empresa Portugal e Colónias, depois à tipografia Anuário Comercial.23

F13 F14. e F15. – Imagens da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses, Santo Amaro, Alcântara.

22

Gonçalo José Veloso Queirós Carvalho - A Reciclagem dos Usos Industriais e as Novas Tipologias de Actividades e Espaços de Cultura; Caso de estudo: LX Factory; Instituto Superior Técnico, 2009, pp. 95 23 Nuno Teotónio Pereira – Pátios e Vilas de Lisboa, 1870 – 1930: a promoção privada de alojamento operário, Análise Social, nº127; Lisboa; 1994, pp.518

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3.5 _A FÁBRICA DAS ARTES, LX FACTORY

Nos terrenos que definem a área de intervenção do Plano de Urbanização de Alcântara, recentemente apresentado (Julho de 2010), da autoria do arquitecto e urbanista Manuel Fernandes de Sá, foram vários os projectos desenvolvidos para esta área na última década. Grandes nomes do panorama nacional e internacional como, Manuel Aires Mateus e Frederico Valsassina, Mário Sua Kay, Risco, Jean Nouvel e Álvaro Siza Vieira, desenvolveram várias propostas de ocupação destes terrenos. Existem projectos reprovados, projectos aprovados e projectos adiados permanecendo contudo, a incerteza e a indecisão quanto a uma solução eficaz. Enquanto isso, criado pelo grupo de investimento imobiliário Mainside24, encontramos hoje na antiga Fábrica de Fiação de Tecidos Lisbonenses uma nova unidade de produção, mais adaptada aos tempos que correm, um “cluster de empresas criativas” chamada LX Factory.

Constata-se que decorridos 163 anos de existência, as condições espaciais e construtivas são óptimas pelo que, em 2007, é lançado o projecto para a sua ocupação. O programa é facilmente adaptável a qualquer tipo de apropriação funcional - escritórios, ateliês, estúdios, entre outros - devido à grande flexibilidade da malha estrutural, grande resistência mecânica, pé-direito generoso e organização livre.25 Uma ilha inovadora ocupada por empresas e profissionais da indústria criativa, que é cenário de um diverso leque de acontecimentos ligados às áreas da moda, publicidade, comunicação, multimédia, artes plásticas, arquitectura, música, entre outros, capaz de gerar uma dinâmica que tem atraído inúmeros visitantes e redescobrir esta área. Todo o espaço abrangido pela propriedade é hoje composto por alguns dos originários edifícios da fábrica e por outros que foram surgindo ao longo do tempo, como forma de responder a algumas funções e programas específicos. São 23 000 m2, de solo urbano, que se encontram expectantes pela aplicação de um novo plano, mas que estão neste momento a prestar um papel relevante na valorização da cidade. A LX Factory criou uma unidade de produção, conseguindo juntar a este exemplar vivo da indústria portuguesa uma nova realidade industrial, a indústria criativa do século XXI. O que pode viabilizar este projecto é a simplicidade e autenticidade, de preservar o local, assim

24

Mainside Investments SGPS S.A. http://www.mainside.pt/ 25

Arquitectura 21 – Cidades Criativas, Nº3 Abril 2009, pp. 30-37

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como, utilizar como imagem de marca toda a realidade industrial existente. Contudo, aquilo que caracteriza este equipamento, para além de reutilizar uma antiga fábrica, é o seu modelo de gestão, baseado num projecto low cost que possibilita o arrendamento a preços inferiores aos do mercado, promovendo assim o empreendedorismo. Desta forma, a LX Factory ergue-se em Lisboa sob a forma de modelo pioneiro de integração destas temáticas, num espaço de experimental onde tudo acontece, transformando-o num factor positivo, devolvendo este espaço à cidade.26 “Há exemplos de antigas fábricas que são hoje espaços criativos de excelência em Berlim, Londres e Nova Iorque. Lisboa, apesar do potencial, ainda não conhecera nada idêntico”27 Encontram-se actualmente na LX Factory a trabalhar, 91 empresas. Estas empresas estão distribuídas por diversas áreas de actividade, sendo que algumas delas, se relacionam com as artes e cultura. Na grande maioria, empresas ligadas ao ramo da produção criativa (como a moda, artes plásticas, fotografia, comunicação, etc.), no entanto, abrange um público com interesses em áreas muito diversificadas. O facto de ser um local onde se realizam actividades culturais, também proporciona a existência de diversos tipos de eventos sociais ligados à diversão nocturna, sendo também este, um dos motivos que levam as pessoas a (re) descobrir este local. Contudo, a qualquer momento, face à aprovação de um Plano, todos os inquilinos estão contratualmente sujeitos a que o espaço tenha de ser libertado para a aplicação e construção dos novos empreendimentos imobiliários o que põe este projecto bem-sucedido em risco. “(...) a LX Factory pode até ser considerada como um umbigo do futuro plano (...)”28

F16. F17. e F18. – Imagens da reabilitação da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses em LX Factory. 26

A Europa nas nossas mãos – Imagina, Cria, Inova, 2010, pp. 16-19 Diário de Notícias – A Ilha Criativa, 31 Janeiro 2009, pp. 34 28 Entrevista ao Eng.º José Carlos Carvalho, administrador da Mainside em, Gonçalo José Veloso Queirós Carvalho - A Reciclagem dos Usos Industriais e as Novas Tipologias de Actividades e Espaços de Cultura; Caso de estudo: LX Factory; Instituto Superior Técnico, 2009, pp. 117 27

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F19. – Axonometria da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses, actual LX Factory e listagem das empresas criativas

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CAPÍTULO

04

RECONVERSÃO DE ÁREAS INDUSTRIAIS PELAS ARTES E CULTURA

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04. RECONVERSÃO DE ÁREAS INDUSTRIAIS PELAS ARTES E CULTURA

4.1 _CONSTRUIR NO CONSTRUÍDO

A cidade que se conhece actualmente, é caracterizada pela existência de construções de variadas épocas, passadas e presentes, coexistindo num mesmo tecido urbano. Devido ao rápido desenvolvimento e crescimento da cidade, na sua maioria, muitos espaços e edificações mais antigas, não acompanham essa evolução permanecendo esquecidos no espaço e no tempo marcado pela degradação e ruína. Mesmo após a sua desactivação, alguns, constituem-se como testemunhos representativos de épocas passadas, reflectem valores históricos, sociais, culturais, de Memória e de singularidade, que merecem ser preservados e afirmados. Desta forma, é muitas vezes necessário, recuperar e repensar a sua função na cidade, de forma a reintegra-los num contexto actual e futuro.

Durante muitos anos, a reabilitação “esteve estreitamente associada à recuperação do património arquitectónico de carácter monumental, dirigindo-se os esforços para a intervenção em construções singulares de elevado valor simbólico e/ou artístico; (...) Nas últimas décadas veio-se a consolidar a convicção de que a reabilitação urbana, se dirigida às zonas “comuns” da cidade e vilas, abrangendo os edifícios, mesmo modestos, mas também as ruas, os largos os quarteirões e as praças, constituindo uma actividade de enorme relevância, já que a história dos povos e das suas cidades pode ser contada de modo inigualável, precisamente através da história de muitas construções anónimas que valem pelo seu conjunto e pela sua inserção urbana, ajudando a definir o que se pode chamar de espírito do Lugar.”29

Os processos de reabilitação urbana têm hoje uma dimensão estratégica extremamente importante que deve responder a um crescente número de objectivos. Para além de preservar os recursos materiais e a dimensão memorial colectiva do Lugar que importa transpor para o

29

João Appleton - Reabilitação urbana e tecnologias de intervenção. Arquitectura Ibérica, nº19. Edições Caleidoscópio, pp.4

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futuro, têm de conseguir dotá-los de capacidade de resposta perante as exigências da vida contemporânea. Têm de integrar objectivos e princípios, de dimensão técnica e tecnológica, assim como, ambiental e de sustentabilidade, que proporcionem vantagens económicas e sociais, uma vez que o (re)aproveitamento de preexistências contribui para um desenvolvimento sustentado.

“(...) Percebemos então que ao definir a Arquitectura como a principal defensora da Memória se lhe está a dar um valor (e, por acréscimo, uma responsabilidade) que nenhuma outra coisa no mundo possui.”30 Qualquer intervenção de regeneração urbana é uma oportunidade de mudar o território, sendo de extrema importância a adopção de uma política urbana eficaz e adequada, promovendo um sentido e uma forma, face à modificação permanente dos imaginários individuais e colectivos, a fim de assegurar uma qualidade do desenho urbano e consequente bem-estar da população.31 A inovação, para incidir profundamente na estrutura urbana, deve integrar-se e interagir com os elementos que não mudam, ou que se transformam a um ritmo mais lento, designadamente, os monumentos, os elementos simbólicos, as ruínas, a história, a autenticidade, ou seja, a cultura da cidade.32

A reabilitação urbana é um processo demorado, complexo, vasto, alargado e complicado. A sua prática configura, acima de tudo, sentimentos de paixão pelo passado e adequação/adaptação ao presente e futuro das cidades. Procura sobretudo manter vivas as cidades, com identidades bastante próprias e inigualáveis.

30

Pedro Marques Abreu – Arquitectura, Monumento e Morada. Investigação do pensamento de Ruskin sobre o Património, Faculdade de Arquitectura UTL, 12 Maio de 2005, pp. 5-6 31 João Guterres – Cidade Bem Ordenada e Modernidade: Princípios, Critérios e Avaliação, em Contexto de Planeamento Urbano e do Território; Dissertação de Doutoramento em Planeamento Urbanístico, FAUTL, 2002, pp.271-272 32 Alfredo Mela – A Sociologia das Cidades, Editorial Estampa, Lisboa (Edição original:1996), 1999, pp. 65

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4.2 _CULTURA E A REGENERAÇÃO URBANA

A temática da Regeneração Urbana tem vindo a ganhar cada vez maior expressão, sendo que a Cultura tem funcionado como um dos seus elementos atenuadores nos relacionamentos que afectam a sua identidade e a ligação com a história. Enquanto a teorização deste conceito é um assunto bastante complexo e muito analisado, os resultados práticos da intervenção dos fenómenos culturais sobre a cidade, são hoje concretos e visíveis. É sobretudo a partir deles que podemos fundamentar mais claramente o papel da cultura, da criatividade e dos recursos lúdicos. A cultura - nas suas múltiplas vertentes e - tornou-se num catalisador e potente motor de regeneração urbana, dando uma nova imagem e perfil à cidade. O desenvolvimento de uma cidade está portanto, muito ligado à cultura e à criatividade. A cultura encontra-se presente nas cidades de hoje, das mais variadas formas.

Ao longo das últimas décadas, têm vindo a ganhar expressão construída, os espaços adaptados, que inicialmente não foram concebidos para fins culturais. Associada a esta reconversão de usos, um dos exemplos que vem ilustrar este cenário é o antigo Matadouro Municipal de Madrid, actualmente convertido num Centro de Arte Contemporânea.

“Desde o início, assumimos a intervenção como uma oportunidade de explorar as possibilidades da recuperação. Tratou-se de trazer uma nova postura à intervenção no património histórico, uma postura radical, uma experiência sobre os limites, os limites da não actuação, reduzir ao mínimo indispensável a intervenção.”33

F20. e F21. Matadero, Madrid – Centro de Arte Contemporânea 33

Arturo Franco e Fabrice Van Teeslar – Antigo Matadouro Legazpi , Arquitectura Ibérica, nº024 , pp.117

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Em termos de actividades o carácter do Matadero é totalmente multidisciplinar. Nele convivem as artes plásticas, cénicas e visuais, a literatura, a música, o design e a arquitectura. A ideia é funcionar como um grande laboratório de criação contemporânea, que resulta numa referência para a comunidade artística e para o grande público, para a cidade e os seus turistas.

A Reconversão de usos, surge como uma resposta de reabilitação e conservação do património, gerando a possibilidade concreta de reutilizar a arquitectura, adaptando-os às necessidades e exigências de uso contemporâneo. Contudo, são diversas as formas e tipos de reabilitação, podendo a intervenção ser menos, ou mais interventiva, dependendo essencialmente do contexto em que se insere.

No caso do antigo castelo Moritzburg localizado em Halle, exemplo valioso de arquitectura militar gótica Alemã do final do séc. XV, a proposta de reabilitação procura converter este espaço num Museu de Arte Antiga. É mantida a “pele” exterior do edifício com o intuito de preservar a imagem original do lugar, sendo proposto um interior novo que resulta num sistema de cobertura, acessos e espaços completamente novos.

F22. F23. e F24. Fotografias Exterior e Interiores relativos ao Projecto de Reabilitação do Museu Moritzburg. Nieto Sobejano Arquitectos

É importante compreender que a requalificação destas antigas estruturas relaciona-se não só com a preservação do património arquitectónico, como assenta sobre um princípio de intervenção que pretende articular a dimensão histórica com a invenção. Esta acção permitirá a reactivação destas antigas estruturas edificadas, afastando-se do conceito de monumento como objecto de mera contemplação parado no tempo.

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“(...) recuperando fragmentos do passado e superando uma antiga realidade em si contraditória, permitindo conjugar diferentes valores, revelando qualidades poéticas e tectónicas expressas pela razão sensível. Ao mesmo tempo, possibilita que se equacionem experiências ricas de conteúdo, articulando significados e programas numa nova complexidade de relações, num profundo processo regenerador do sentido.”34

As novas propostas/intervenções que hoje se fazem, de algum modo transformam o contexto e a imagem da própria arquitectura. A questão é saber equacionar e definir quais devem ser os critérios de intervenção mais correctos para cada situação, para que as novas intervenções sejam arquitectonicamente adequadas, preservando-se a identidade do locus, ou não, mas contendo sempre uma fabulação e uma poética que o possam dinamizar e qualificar.

No caso dos projectos de extensão, muitos destes vêm resolver problemas associados a carências afectas às preexistências. Também vistos como forma de regeneração e requalificação urbana, estes projectos têm uma dimensão estratégica especialmente interessante. Não só resolvem os problemas afectos ao funcionamento e organização dos edifícios, como propõem novos sistemas e soluções urbanas que pretendem qualificar o espaço público.

O antigo convento reconvertido em Museu Municipal de San Telmo, localizado em San Sebastián, Espanha, é um desses exemplos, tendo sido alvo de uma obra de ampliação da autoria dos arquitectos Nieto Sobejano. Situado em plena base do Monte Urgull, este edifício longitudinal adapta-se na perfeição à morfologia do lugar e recria uma nova forma para a montanha. Considerado um exemplo extremamente bem executado, entende-se que resolve não só questões de extensão programática do museu como também problemas de estrutura urbana. Situado entre o museu e a base do Monte Urgull, vem resolver questões associadas à topografia e espaço público, assim como, se propõe a fazer a “ponte” entre paisagem natural e artificial. O projecto funciona como um “muro” com materialidade e plasticidade próprias que se procuram interligar com a vegetação envolvente. Este relacionamento com a paisagem

34

Rui Barreiros Duarte – O Residual Imaginário Industrial nas Transfigurações Urbanas. Artitextos03. Dezembro 2006, pp. 18

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natural, valoriza o edifício histórico e promove ao mesmo tempo uma entrada mais qualificada no museu.

F25. Ampliação do Museu de San Telmo, San Sebastián, Espanha. Nieto Sobejano Arquitectos

F26. F27. e F28. Maquetes relativas ao projecto de ampliação do Museu de San Telmo. Nieto Sobejano Arquitectos

Relativamente ao programa, a extensão do museu contém novas galerias de exposições permanentes e temporárias, um auditório, biblioteca, áreas de ensino, uma loja e cafetaria. A iluminação interior é controlada por painéis amovíveis exteriores assim como pela perfuração do seu revestimento. A sua aparência exterior, no decorrer das diferentes estações do ano, vai-se alterando, em simultâneo com vegetação do Monte Urgull, dissolvendo-se na paisagem. Desta forma, apresenta-se como extensão do edificado preexistente e da paisagem natural, criando uma simbiose e harmonia entre ambos.

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4.3 _INDUSTRIAS CRIATIVAS

Como anteriormente referido, o papel da cultura numa cidade contemporânea possui grande importância. Hoje a localização das empresas já não tem o mesmo significado que antes, dada a facilidade de troca de ideias e produtos cada vez maior, devido aos progressos na mobilidade e às novas tecnologias. Surge então, um novo conceito que procura responder às necessidades de regeneração urbana das estruturas abandonadas devolutas, denominado por, Industrias Criativas. Michael E. Porter35 define-as como uma concentração geográfica de companhias relacionadas pelos seus tipos de produção, estando ou sendo especializadas em fornecer determinados serviços culturais, podendo funcionar em cooperação. Esta é uma forma de reduzir as dificuldades em períodos de iniciação, possibilitando maior acesso à informação, condições, redes e apoio técnico. Segundo Jean-Pierre Warnier36, sociólogos franceses concordaram que as Indústrias Criativas eram aquelas cuja tecnologia permitia reproduzir em série bens que faziam parte da cultura.

“Poderemos, portanto, definir como indústrias culturais as actividades industriais que produzem e comercializam discursos, sons, imagens, artes, «e qualquer outra capacidade ou hábito adquirido pelo homem na sua condição de membro da sociedade» (...)”37 Pedro Costa38 defende que uma indústria criativa pode ser qualquer indústria, ou as organizações num ramo da criatividade que, compilam habilitações e talentos individuais, promovendo assim o potencial para a criação de riqueza e empregos através da geração e da exploração da propriedade intelectual.

Tem-se vindo a acentuar nas últimas décadas um súbito interesse por parte da comunidade artística em fixar-se nos espaços industriais devolutos, devido não só, às suas localizações atractivas e com boas acessibilidades, mas também, pelos seus menores custos (geradores de

35

Michael E. Porter – Local Clusters in a Global Economy, The Cultural Industries. Oxford: Blackwell 2008 36 Jean-Pierre Warnier – A Mundialização da Cultura. Lisboa: Noticias Editorial 2000 37 Jean-Pierre Warnier – A Mundialização da Cultura, Lisboa: Noticias Editorial 2000, pp. 19 38 Pedro Costa – Cultura em Lisboa: Competitividade e Desenvolvimento Territorial. Lisboa: ICS 2007

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novas oportunidades de negócio e empreendedorismo). Este facto resulta das boas características espaciais que estes edifícios apresentam, que estão associadas à flexibilidade estrutural e sobretudo às sinergias e ambiente gerados entre as diferentes entidades criativas. Deu-se nas últimas décadas, um aumento da procura deste novo estilo de apropriação espacial, acabando por se desenvolver uma espécie de furor em torno deste assunto. As indústrias criativas têm vindo a desempenhar um papel importante na regeneração económica e urbana das cidades. As actividades que estão relacionadas com as indústrias criativas, têm portanto, vindo a ganhar cada vez maior destaque e importância nos últimos tempos.39 John Holden40 afirma que o crescimento da cultura criativa em Londres cresceu exponencialmente a partir do momento que este tipo de apropriação espacial implementou novas medidas que vieram dar um acesso mais directo à arte e cultura para todo o tipo de pessoas. Consequentemente, para as pessoas continuarem a usufruir dos espaços concebidos para fins artísticos e culturais, foi necessário modificar alguns dos seus modelos de funcionamento, garantindo-se o acesso livre a museus nacionais. Houve ainda um esforço por parte dos municípios em organizar um grande número de eventos culturais gratuitos, um melhoramento da qualidade dos espaços públicos através de instalações de arte urbana e a implementação do serviço de internet de banda larga em escolas, bibliotecas e outros locais públicos. Simon Evans41 afirmou que de 2000 a 2005 o comércio mundial de bens e serviços criativos cresceu 8,7%. As exportações em 2005 atingiram um valor de 424 mil milhões de dólares, o que representa 3,4% do comércio mundial. Com base nestes dados podemos afirmar que a promoção das indústrias criativas no ambiente económico e social de um país podem gerar, riqueza, emprego, um crescimento das exportações, inclusão social, maior diversidade cultural e consequentemente um maior desenvolvimento humano.42

39

Segundo a KPMG as industrias criativas até 2015 podem crescer 46% no emprego de pessoas e 136% no output. Dado retirado do artigo: John Holden – Publicy-funded culture and the Creative Industries. Londres: DEMOS 2007, disponível no site www.comedia.co.uk 40 John Holden – Publicly-funded Culture and the Creative Industries, Londres: Demos 2007 41 Simon Evans – Creative Clusters, 2005. Disponível em www.indian-seminar.com/2005/553.htm 42 Pedro Costa – Cultura em Lisboa: Competitividade e Desenvolvimento Territorial. Lisboa: ICS 2007

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São muito variados os casos de edifícios industriais actualmente ocupados por empresas criativas, bem como as suas reconversões em Pólos ou Clusters criativos. Assim como a LX Factory, encontramos nos dias de hoje, diversos casos bem-sucedidos como a Kaapelitehdas em Helsínquia ou La Friche Belle de Mai em França. O papel das indústrias criativas na reconversão destes terrenos e estruturas industriais é de extrema importância, funcionando como instrumentos de desenvolvimento urbano e regional que acabam por consolidar e revitalizar áreas urbanas, independentemente do seu estado de degradação. Simultaneamente consubstanciam uma dinâmica de acção local que pretende mobilizar o capital social, intelectual, económico e institucional à volta de uma agenda local e de uma visão de futuro.

F29. F30. e F31. Kaapelitehdas, Reconversão da Antiga Fábrica de Cabos num Pólo Criativo. Ruoholahti, Helsínquia.

F32. e F33. La Friche La Belle de Mai, Reconversão da antiga fábrica de tabaco num Pólo Criativo. Marselha, França.

“Artists themselves have become a cultural means of framing space. They confirm the city’s claim of continued cultural hegemony, in contrast to the suburbs and exurbs. Their presence – in studios, lofts, and galleries – puts a neighborhood on the road to gentrification.”43

43

Sharon Zukin - The Cultures of Cities. Blackwell Publishing, 1995 , pp.23

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4.4 _NOVAS TIPOLOGIAS ARTÍSTICAS E CULTURAIS

Os espaços industriais, muitos deles, inicialmente construídos em zonas periféricas das cidades, procurando uma localização junto dos recursos necessários às suas utilidades, foram rapidamente alcançados e envolvidos pelo crescimento da cidade, tornando-se parte integrante do ambiente urbano. Gradualmente, estes espaços foram conquistando o seu lugar na cidade, tornando se parte integrante da sua imagem global e do seu património construído. Hoje são reconhecidos como testemunhos de valores de importância histórica, de valor cultural e de qualidade arquitectónica, características de uma época moderna, continuando vivos na memória da sua população, mesmo após a sua desactivação.

Por património industrial entende-se, de acordo com IHRU, IGESPAR, 2008 (Kits – património, nº 3, versão 1.0), “tanto os testemunhos materiais como imateriais das actividades técnicas e industriais com maior incidência para o período da industrialização ligada ao desenvolvimento da economia capitalista: fábricas, lojas, armazéns, habitações, escolas, creches ou cinemas, máquinas, sistemas de energia, etc., e o próprio urbanismo, para além das novas formas de vida ou das relações de trabalho produzidas pelo desenvolvimento da indústria”.44

Apesar de, em Portugal, se ter verificado uma industrialização tardia e escassa, ao longo do século XIX, a arquitectura dos espaços industriais foi, ainda assim significativa, se a inserirmos no quadro conjunto do nosso património arquitectónico. O património industrial é sinónimo de valores de memória, originalidade, singularidade, e ainda de valores tecnológicos, científicos, sociais, económicos e estéticos, integrando todos os bens resultantes de uma actividade produtiva, desenvolvida ao longo de gerações. Particularidades que hoje despertam uma certa afectividade na historiografia portuguesa e que justificam a sua defesa patrimonial. As indústrias manufactureiras e o comércio tradicional têm vindo a ser substituídas sobretudo por novas extensões habitacionais privadas, por locais de lazer e diversão nocturna ou por grandes centros comerciais. Segundo Sharon Zukin45 este fenómeno reflecte a perda da paisagem vernacular das cidades. Deixando de ser no centro que encontramos reunidos os principais equipamentos sociais, ou os principais locais de atracção de uma cidade. O centro 44

TICCH – The International Committee for the Conservation of Industrial Heritage que tem como representante em Portugal a APPI (Associação Portuguesa do Património Industrial) 45 Sharon Zukin – From Landscapes of Power: From Detroit to Disney World, The Blackwell City Reader. Oxford: Blackwell 2002

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passou a ser um local “fluido” que responde a necessidades “temáticas”, deixando de ser um local de produção para passar a ser um local de consumo. Actualmente são inúmeros os casos presentes, na Europa e no resto do mundo, de muitas áreas industriais que perderam a sua razão de ser, e caíram em desuso. São baldios industriais, edifícios monumentais que deixaram para trás um ambiente desfigurado e um rasto de abandono, mas que abrem inúmeras possibilidades de usos. Dentro deste universo começamos a encontrar alguns bons exemplos de reutilizações de fábricas que vão encontrando uma nova vida na relação com actividades culturais. O tipo de arquitectura destes edifícios acaba por permitir os mais improváveis projectos, adaptando-se com bastante facilidade a várias funções, oferecendo locais para actividades e negócios de indústrias criativas e para a liberdade de expressão que muitos artistas procuram. É por isso que tudo nestes edifícios encoraja à criação, à experimentação, ao convívio e à troca de relações e experiências.

F34. e F35. Complexo Industrial da mina de carvão de Zollverein. Essen, Alemanha.

F36. F37. e F38. Reconversão em Pólo Cultural e Artístico Zollverein. OMA (Rem Koolhaas) Arquitectos

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É o caso da antiga mina de carvão Zollverein em Essen, declarado património da humanidade pela UNESCO (2001)46. Foi desenvolvido um Plano Urbano de reconversão deste espaço para fins artísticos e culturais pelo arquitecto Rem Koolhaas (OMA), que transformou este complexo, num lar para as empresas das áreas do design, arquitectura, marketing, publicidade, moda, entre outras. Este projecto veio oferecer espaços para a realização de grandes eventos, exposições, conferências, assim como, espaços para a formação de start-ups47 e novas empresas, promovendo o desenvolvimento e o empreendedorismo, associado também à Zollverein School of Management and Design, da autoria dos arquitectos Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa (SANAA).

São muitos os casos de complexos/edifícios industriais, que se transformaram em importantes pontos de referência nas cidades. Uma grande percentagem destes, estão actualmente convertidos em museus, centros de exposições, centros culturais e artísticos, entre outros. Em muitos casos, tornam-se emblemáticos ao ponto de serem protagonistas dos maiores eventos e exposições quer pelas suas qualidades espaciais quer pela qualidade cénica proporcionada por estas estruturas.

F39. F40. e F41. Centro da Cultura e do Lazer, SESC de Pompeia, Brasil. Lina Bo Bardi Arquitectos.

Analisando o percurso desta evolução cultural conseguimos identificar um processo progressivo de democratização das artes. Assim, face ao desenvolvimento da tecnologia e redes de comunicação, a difusão da cultura global tem provocado um consequente enfraquecimento da cultura local. Neste contexto de Globalização, o processo de regeneração

46

Descrição em, http://whc.unesco.org/en/list/975/ Start-up é o termo utilizado para identificar novas empresas criadas em ambiente universitário, sem significar, no entanto, que a base destas empresas seja a investigação e o desenvolvimento realizada na universidade. 47

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tem a potencialidade de equilibrar o global e o local, assegurando as características locais e a sua adaptação às exigências globais, projectando-as como elementos de atracção e de competitividade.48 “Cada vez mais, os museus serão locais para estudar conviver e, claro, consumir. Tudo graças a salas de estudo, bares e lojas que vão encontrando o seu lugar nos antigos depósitos do saber (...)"49 Os Museus e os Centros Culturais adaptados, como casas da cultura, são espaços que se têm vindo recentemente a desenvolver e a afirmar. São equipamentos polivalentes e versáteis que podem valorizar a imagem de determinado território e criar novas centralidades. O aproveitamento simples de espaços que se encontram devolutos, geram exemplos raros e únicos de requalificação urbana. É na Europa sobretudo que podemos encontrar os melhores exemplos deste tipo de recuperações. Cidades como Londres, onde foi feito um investimento de 200 milhões de euros, para transformar uma antiga estação de produção de energia numa moderna galeria de arte contemporânea (TATE Modern). Em apenas dois anos é considerada como uma das maiores atracções turísticas da cidade, contribuindo com mais de 160 milhões de euros para a economia local.

F42. e F43. Projecto de ampliação do Tate Modern. Herzog & Meuron Arquitectos

O projecto de extensão, da autoria dos arquitectos suíços Herzog & de Meuron, propõe novas salas de exposição, uma videoteca e galerias para performances e artes visuais oferecendo um

48

Martin Selby – Understanding Urban Tourism – Image, culture and experience, I.B.Tauris, New York, 2004, p. 23 49 Vladimir Nunes – O efeito Bilbau. Arquitectura e Vida, Nº. 53, 08/2004, p. 32

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maior leque de espaços e programas que vêm complementar e combinar a reabilitação da antiga fábrica com uma nova arquitectura contemporânea.

“This new development will transform Tate Modern. An iconic new building will be added at the south

of

the

existing

gallery.

It

will

create

more

spaces

for displaying

the

Collection, performance and installation art and learning, all allowing visitors to engage more deeply with art, as well as creating more social spaces for visitors to unwind and relax in the gallery.”50

No caso dos projectos de extensão, a reabilitação do edificado e consequente requalificação urbana mostram-se como o caminho para a fusão entre o património arquitectónico e as novas tipologias de vanguarda que surgem no panorama da arquitectura actual. A fusão entre as diferentes linguagens e a forma como dialogam têm muitas interpretações, gerando-se diferentes interpretações sobre esta temática sempre complexa. Embora possam apresentar características muito distintas, estas obras de extensão pressupõem uma salvaguarda do património em causa contribuindo para o seu prevalecimento sobre o tempo.

F44. F45. e F46. Vistas Exteriores, Centro Cultural C-Mine. 51N4E Arquitectos.

F47. e F48. Planta pré-existente e planta de ampliação respectivamente, Centro Cultural C-Mine. 51N4E Arquitectos 50

Entrevista a Nicholas Serota, Tate Modern Director, em http://www.tate.org.uk/

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CAPÍTULO

05

ALCÂNTARA E O PÓLO DAS ARTES E OFÍCIOS

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05. ALCÂNTARA E O PÓLO DAS ARTES E OFÍCIOS 5.1 _INTRODUÇÃO – O PLANO DE URBANIZAÇÃO DE ALCÂNTARA

Como anteriormente referido, Alcântara tem sido alvo de realização de diversos projectos e planos urbanísticos tendo em vista a reestruturação e revitalização da zona. Contudo mantémse expectante relativamente à aprovação de uma solução eficaz que venha responder às necessidades presentes e às exigências futuras. Desta forma, foi feita uma abordagem crítica sobre algumas das propostas já apresentadas, sendo o Plano de Urbanização de Alcântara da autoria do Arquitecto e Urbanista Manuel Fernandes de Sá a principal referência de base para o arranque do trabalho.

Neste contexto, são aqui mencionadas as principais ideias chave, numa perspectiva de desenvolvimento futuro, que se estendem para lá da escala territorial de Alcântara. A reformulação das infraestruturas rodoviárias e ferroviárias que implicam a construção do último troço de ligação com a via de cintura (túnel) e o seu relacionamento físico com a linha de Cascais e com a nova extensão ao terminal de contentores, em conjunto com o prolongamento da actual rede do metro. A nível urbano, pretende-se estabilizar um quadro de desenvolvimento local que contribua para a coesão do seu tecido social e construído. Está implícita, a preservação da identidade local, fortemente marcada pelo legado industrial, actualmente devoluto sobre terrenos expectantes, que oferecem excelentes condições de reconversão urbana. A possibilidade de criar um novo pólo de urbanidade, o que contribuiria decisivamente para a transformação do Nó de Alcântara num dos centros estrategicamente importantes para o desenvolvimento socioeconómico da cidade de Lisboa. Por fim, a integração de alguns aspectos de sustentabilidade territorial, designadamente incorporando a estrutura ecológica urbana, enquanto componente fundamental de qualificação ambiental e de mitigação de riscos naturais.

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F49. – Plano Urbano de Alcântara “Alcântara XXI”, da autoria do Arquitecto Manuel Fernandes de Sá.

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Segundo o relatório da proposta para o Plano Urbano “Alcântara XXI” apresentado pelo Arquitecto Manuel Fernandes de Sá as principais opções estratégias de projecto foram as seguintes:

01 _ “Rótula da cidade de Lisboa” – “O Vale de Alcântara constitui um sector da cidade de Lisboa determinante para a concretização de uma nova política de mobilidade que assente numa diminuição da acessibilidade automóvel à Baixa Pombalina e ao centro da cidade. Tal como no Vale de Santo António localizado do lado nascente da cidade, é nestas duas rótulas que será possível armar uma estratégia de potenciação de percursos viários circulares que diminuam a pressão automóvel sobre o centro. Pela mesma razão estes dois locais da cidade deverão ganhar um papel acrescido em termos da Rede de Interfaces de rebatimento e dissuasão da utilização automóvel no centro da cidade.”

02 _ “Interface Tripolar” – “O rebatimento da rede ferroviária pesada (comboio) sobre a rede ferroviária semi-pesada (metropolitano) apresenta no Vale de Alcântara grandes potencialidades. A hipótese de uma mega interface de três pólos, a cotas distintas, poderá ser uma solução para a potenciação dos transportes públicos nesta zona. A acessibilidade ferroviária – Linhas de Cascais, Cintura e Margem Sul – transformam Alcântara numa potencial centralidade metropolitana e regional que a nova edificação ajudará a desenvolver, podendo esta zona ser vista como um contraponto à bem-sucedida zona da Expo, muito embora com uma matriz de preexistências distinta. Especial relevância para as correspondências propostas entre os transportes urbanos – autocarros e eléctricos – com o comboio e o metro.”

03 _ “Compacidade Urbana Sustentada” – “Neste caso será essencial que o Plano consolide uma ideia de não correlação directa e necessária, entre a oferta rodoviária prevista e as capacidades edificatórias passíveis e desejáveis, na medida em que a vitalidade urbanística deverá decorrer da excelente acessibilidade por modos muito diversos de transporte público de grande, média e pequena capacidade. Ou seja, propõe-se uma estratégia de limitada oferta rodoviária (vias e estacionamento) a par de uma excelente conexão do sistema de transportes multimodais, como base para uma compacidade urbanística capaz de gerar uma economia urbana sustentável a ambientalmente menos agressiva.”

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04 _ “Um novo “T” Rodoviário” – “A configuração da rede viária é conseguida pela nova estrutura do “T” deitado em que a Av. da Índia em ligação directa com a Rua de Cascais/ Av. de Ceuta se deixa entroncar de forma e capacidade limitada com a Av. 24 de Julho, contendo assim a acessibilidade à Baixa Pombalina. A outra grande transformação reside na transferência de grandes quantidades de tráfego da Av. da Índia para a Av. Brasília, através da construção de um novo viaduto sobre o actual caminho-de-ferro, em articulação com outro conjunto de medidas que deverão ser tomadas na zona da inserção da CRIL em Algés.”

05 _ “Menos Tráfego de atravessamento” – “As melhorias passíveis de serem introduzidas no grande nó rodoviário entre a Av. de Ceuta, o Eixo Norte/ Sul-Ponte 25 de Abril e a auto-estrada de Cascais-Av. Duarte Pacheco de entrada no centro da cidade, deverão permitir melhorar as condições de funcionamento do cruzamento de Alcântara que fica aliviado da entrada na Ponte e de tráfego de atravessamento, assim como deverá melhorar as conexões de poente para norte, e ainda as condições de escoamento da zona do Marquês de Pombal em direcção à Ponte e Av. Ceuta, o que trará benefícios para a rede local (eixos Maria Pia e Prior do Crato).”

06 _ “Viabilidade do Terminal de Contentores” – “A capacidade disponível na Av. Brasília para poente da zona de Alcântara permite viabilizar o tráfego de pesados destinado ao Terminal de Contentores de Alcântara, mas esse tráfego não deverá ser ampliado no futuro uma vez que o constrangimento que se espera poder ocorrer em 15-20 anos deverá ser utilizado como forma de aumento da capacidade de transporte de contentores nos outros dois modos de transporte que estão previstos - o ferroviário e o fluvial.”

07 _ “Mais Estacionamento para Residentes” – “A resolução do estacionamento de superfície através de um programa de dotação de lugares para residentes – proposta de cinco parques públicos para apoio às áreas residenciais preexistentes – deverá constituir a pedra de toque de uma política de devolução de espaço-canal a modos suaves – peão e bicicleta – numa estratégia de qualificação que deverá articular fortemente com um programa de arborização das ruas. Propõe-se por isso um conjunto indicativo de perfis-tipo para os arruamentos novos e a reperfilar, tendo em vista uma qualificação do espaço público através do correcto dimensionamento de passeios com arborização, e faixas de rodagem de diferentes modos de transporte.”

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08 _ “Nova Centralidade Terciária” – “A dotação de estacionamento privado na nova edificação deverá seguir a evolução adoptada pela revisão do PDM, sendo certo que a zona de Alcântara é dum dos locais da cidade de Lisboa onde se justifica uma claríssima contenção da oferta de estacionamento associado ao emprego, apesar da excelente vocação terciária da zona face à boa acessibilidade metropolitana que terá por transporte público.”

09 _ “Metro em Alcântara” – “A aproximação da rede de metropolitano do Vale de Alcântara é uma questão cuja reflexão deverá ser aprofundada com a ajuda das propostas deste Plano que, naturalmente, não constitui a sede própria para a tomada de decisões neste âmbito. As possibilidades que correspondem à tendência de expansão expressa para as Linhas Vermelha e Amarela (transformada em Verde), representam uma boa conexão com a área, gerando novas possibilidades derivadas da interface que é criada na Estrela. O prolongamento daquelas Linhas até à Estrela pode ser uma solução interessante porque sugere uma possibilidade, a longo prazo, de atravessamento do Vale de Alcântara para o Alvito, por exemplo com recurso a uma ferrovia ligeira prolongável mais para Ocidente.”

10 _ “Qualidade do Espaço Público” – “O novo reordenamento viário e a contenção das soluções de circulação automóvel designadamente do ponto de vista do número de vias a prever, sem comprometimento do desempenho das principais intersecções, permitiu um programa generalizado de alargamento de passeios que viabiliza os principais percursos pedonais e cicláveis previstos em PDM, para além de garantir um ambicioso plano de arborização dos espaços-canal. A qualidade do espaço público, ao nível de outras capitais europeias, poderá bem ser a imagem de marca da nova Alcântara associada a uma nova centralidade terciária.”

11 _ “Mais Articulação com Autocarros e Eléctrico” – “O reordenamento viário implica ainda ajustamentos na rede de autocarros e na localização de paragens (propostas não vinculativas mas que procuram melhorar a área de suporte pedonal disponível), com vantagens para o desempenho deste transporte público em articulação e complementaridade com os modos ferroviários, designadamente o eléctrico, que vê ampliada a sua extensão de percurso em canal próprio.”51

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Manuel Fernandes de Sá. Lda _ Relatório da Proposta do plano “Alcântara XXI” (p. 52 a 54)

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No âmbito do Plano Director Municipal de Lisboa (PDML) para a reestruturação e requalificação da zona industrial da cidade, o Plano de Urbanização de Alcântara requalifica toda a estrutura urbana e regenera o antigo tecido industrial, contendo as seguintes considerações:

_ O reordenamento da Área de Intervenção, com o estabelecimento de uma estrutura coerente e eficaz que articula os diversos valores em presença; _ A reconversão e reabilitação das áreas industriais obsoletas, com a criação de uma nova malha urbana que, simultaneamente, integra o tecido industrial preexistente e confere uma imagem nova e qualificada à área; _ A reabilitação do tecido histórico consolidado; _ A recuperação e reconversão de alguns edifícios de qualidade, sobretudo exemplares de arqueologia industrial, de forma a integrá-los na nova proposta de estrutura urbana; _ A melhoria das ligações da cidade ao rio, para assegurar uma maior permeabilidade entre a Área de Intervenção e a frente ribeirinha; _ A proposta de um interface intermodal que garanta a conexão entre os diferentes modos de transporte, existentes e planeados (linha ferroviária de passageiros e mercadorias, eléctricos, metropolitano e autocarros) que servem a área. _ Os aspectos mais técnicos e detalhados que se relacionam com questões associadas à qualidade do espaço público, paisagem, estrutura ecológica e hidráulica urbana.

Desta forma, a presente proposta estratégica assenta sobre um novo modelo (de racionalização do sistema de transportes, reforço da sua centralidade, requalificação urbana e valorização da paisagem), que procura sobretudo, promover a qualidade de vida e o desenvolvimento sustentado da cidade de Lisboa.

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5.2 _O PLANO URBANO, A NOVA ALCÂNTARA

Depois de analisadas as opções deliberadas na abordagem do Plano de Urbanização de Alcântara da autoria do arquitecto e urbanista Manuel Fernandes de Sá, entende-se que a proposta apresentada contém princípios de extrema relevância que merecem ser aprofundados e repensados: Relativamente à reestruturação do Nó Infraestrutural de Alcântara, evidencia-se a forma como estas, actuam sob a forma de barreira entre a cidade e a frente ribeirinha. O funcionamento de duas estações ferroviárias distintas (Alcântara-Mar e a nova estação intermodal proposta), no mesmo local. Por fim, relativamente à requalificação e reabilitação das áreas industriais obsoletas, evidencia-se a forma como são comprometidas, segundo uma lógica de ocupação por grandes operações urbanísticas, que visam converter estas áreas em grandes empreendimentos privados habitacionais, comerciais e empresariais.

Como resposta a estas opções estratégicas tomadas, no caso das Infraestruturas, foi necessário ver o problema a outra escala de forma a compreender a sua génese. Tem-se vindo a assistir, nos centros das grandes cidades, ao rebatimento do veículo automóvel privado pelos transportes públicos e da rede ferroviária pesada pela rede de metropolitano semi-pesada. Sendo Alcântara, como anteriormente referido, uma rótula da cidade de Lisboa, entende-se que paralelamente com o Vale de Sto. António, estes vão ser os dois pontos estratégicos, onde esta estratégia poderá ser posta em prática.

F50. – Diagramas de evolução estratégica (ferroviária e metropolitana) da cidade de Lisboa.

O centro histórico de Lisboa tende a ser servido por uma rede de metropolitano cada vez mais densa, que pretende vir a substituir a rede ferroviária pesada, deixando assim, de existir as ligações Alcântara - Cais do Sodré e Braço de Prata - Sta. Apolónia. Estas ligações, passam a ser

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servidas pela rede de metro (subterrâneo e de superfície), assim como, por eléctricos e autocarros. Alcântara passa a incorporar um interface tripolar (com acesso à rede metropolitana, ligação à linha de cintura e margem Sul) e Braço de Prata/Oriente o novo acesso da 3ª Travessia do Tejo. Esta reestruturação do sistema de meios de transporte procura também devolver o rio à cidade, permitindo um melhor aproveitamento e uma requalificação adequada da frente ribeirinha de Lisboa. Elimina-se o carácter de barreira física que é pontualmente marcada por passagens superiores pedonais, túneis e viadutos de atravessamento.

F51. – Diagramas de estratégia local (Situação Actual; Plano “Alcantara XXI”; Nova Proposta Urbana)

A proposta a nível infra-estrutural para Alcântara assenta sobre um novo modelo, que pretende integrar as redes viária, ferroviária, metropolitana e de escoamento de águas (caneiro de Alcântara), num canal infra-estrutural subterrâneo, com o objectivo essencial de libertar o espaço público à superfície. Esta estratégia de desnivelamento (em túnel) de algumas destas infraestruturas já estava prevista no Plano de Manuel Fernandes de Sá.

Com esta estratégia, pretende-se criar um ponto central forte de distribuição de usos, serviços e transportes no local do “Nó” de Alcântara . Assim sendo, é proposta uma praça central neste ponto, que funciona como rótula e de plataforma distributiva aos diversos meios de transporte. Sob esta praça está

localizada a nova estação Intermodal subterrânea

(metropolitano e rede ferroviária) que interliga com a Linha de Cintura evitando-se assim a necessidade de funcionamento de duas estações distintas propostas no Plano de Urbanização

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de Alcântara. Também a linha de mercadorias do Porto de Lisboa, actualmente condicionada pelos cruzamentos que estabelece com a rede viária existente e espaço público de superfície, segue a mesma lógica, entrando no sistema subterrâneo de canalização de infra-estruturas de forma a oferecer as condições necessárias, para o seu bom funcionamento. Desta forma, torna-se possível a ampliação do tráfego de mercadorias, sem interferência com as funcionalidades da zona, proporcionando um melhor desenvolvimento e desempenho do Terminal de Contentores de Alcântara do Porto de Lisboa. Para assegurar que esta zona não é afectada pelos sucessivos problemas relacionados com a drenagem de água (inundações) do Vale de Alcântara, é proposta uma duplicação do caneiro existente.

Procurou-se preservar a imagem industrial de Alcântara, pressupondo que os terrenos industriais desactivados (expectantes), pudessem servir novos programas e tipologias ligadas às Artes e Cultura, seguindo uma lógica de extensão e consolidação do eixo cultural que acompanha a frente ribeirinha de Lisboa. Desta forma pretende-se, não só melhorar o seu relacionamento com o rio, mas também que a frente ribeirinha seja dotada de espaços de cultura e lazer em toda a sua extensão.

F52. – Ortofotomapa referente à frente ribeirinha. Cultural Coas Line de Lisboa.

Este novo modelo proposto, tem também por objectivo a requalificação e revalorização do conjunto de espaços públicos compreendidos na área de intervenção, bem como a articulação interna e com as áreas urbanas envolventes destes espaços. Promove assim, a requalificação da frente ribeirinha que encontra grandes potencialidades de consolidação, segundo espaços de Cultura e Lazer.

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5.3 _O PLANO DE PORMENOR, O PÓLO DAS ARTES E OFÍCIOS LX FACTORY

No âmbito da proposta urbana, foi desenvolvido um Plano de Pormenor com aproximadamente 95000 metros quadrados de área, que se centra na temática anteriormente referida de Reconversão de Áreas Industriais pelas Artes e Cultura. Após a análise de diversos casos concretos em torno desta temática, este plano pretende devolver este espaço à cidade sob a forma de um Cluster ou Pólo de Artes e Ofícios, tendo sido a LX Factory o “motor” para a criação deste novo complexo. Foi assim, de extrema importância para a materialização desta proposta, o entendimento do seu contexto histórico e o modo de funcionamento actual da LX Factory. Torna-se essencial garantir que uma intervenção urbana e arquitectónica, pode oferecer em simultâneo, um maior conteúdo programático e espacial, preservando as memórias colectivas do Lugar e pode reintroduzir esta unidade industrial no contexto social e urbano actual.

Um dos princípios base da intervenção foi eliminar o muro que envolve todo o complexo procurando devolver este espaço à cidade e assegurar uma maior permeabilidade de acessos a esta área. A estrutura edificada actual sob a forma de ilha, fechada sobre si mesma, encontrando-se a entrada escondida sob as traseiras do Instituto Superior de Ciências Policiais e Policia Interna, numa rua que não tem escala para esse efeito. A nova intervenção urbana, ao substituir o muro por um novo conjunto arquitectónico, pretende fazer a ponte entre esta unidade industrial e as preexistências circundantes, “cozendo” a sua malha urbana e reorganizando o espaço público. O conjunto edificado agora proposto pretende estabelecer uma ligação urbana, morfológica e programática com a LX Factory, proporcionando uma maior conectividade, uniformidade e coerência espacial. A proposta desenvolve-se no sentido longitudinal, perpendicular ao rio, sendo “contaminada” pontualmente por espaços vazios, de forma a marcar momentos de entrada, espaços verdes, espaços de permanência e espaços de contemplação.

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F53. – Maquetes de estudo; Experiências volumétricas de densidade, avanços/recuos e ligações superiores.

As opções programáticas adoptadas são o resultado de uma investigação assente no modelo de funcionamento, gestão e organização da LX Factory, pretendendo complementar a sua oferta de serviços com mais espaços, eventos e programas de forma a abranger um público mais vasto e diversificado. O desenho urbano adoptou uma lógica de “bandas” edificadas – paralelas entre si e orientadas no sentido Norte/Sul - comportando habitação de baixo custo (arrendamento temporário) em conjunto com, estúdios, ateliers e estacionamento interior incorporado (silo automóvel), que se destina aos “inquilinos” da LX Factory e que faz a ponte com a parte habitacional preexistente localizada a Nascente. O seu núcleo central, corresponde à actual preexistência da LX Factory e mantém o mesmo modo de funcionamento assumindo que a reconversão feita pela empresa Mainside na Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses, é actualmente um sucesso e um modelo exemplar pioneiro de Reconversão de Usos na área das Industrias Criativas em Portugal. Apenas é acrescentada uma nova frente (virada a Nascente), que faz o remate com as traseiras preexistentes da LX Factory, com mais espaços de arrendamento para comércio, restauração, galerias de arte e oficinas de trabalho duplicando assim as áreas deste volume longitudinal, criando-se uma nova frente de rua qualificada. A Poente, é proposta uma banda longitudinal ligada à vertente Cultural que vem oferecer novos espaços qualificados que a LX Factory não dispõe. Um grande auditório e um anfiteatro exterior para espectáculos e eventos culturais ligados à dança, teatro, música, cinema ao ar livre, entre outros. Um grande centro de Exposições que pretende dar a conhecer às pessoas muito daquilo que é produzido pelas unidades de produção criativas que a LX Factory comporta, assim como uma parte ligada à história do Lugar de Alcântara, focando também a

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época industrial. Também uma Biblioteca/Centro de Estudos ligada às Artes que pretende servir não só este complexo como a cidade, um Espaço Polivalente para a realização dos mais diversos eventos, assim como, espaços de Formação para workshops, cursos intensivos, novas oportunidades, escolas de artes performativas, entre outros, são alguns dos programas propostos que vêm reintroduzir uma nova vertente artística e cultural à LX Factory.

F54. – Diagramas conceptuais do Plano de Pormenor, Pólo das Artes e Ofícios.

Pretende-se que a parte preexistente (ligada às indústrias criativas e ao comércio) e a nova proposta arquitectónica, formem uma ideia de conjunto e funcionem em uniformidade (complementando-se aos mais diversos níveis), proporcionando um lugar novo em Lisboa direccionado para todo o tipo de pessoas.

“In an interview, Rem Koolhaas said, «Without anyone being alert to it, the nature of the city has changed radically from the public to the private. The vast majority of urban substance that is built now is private. The major shift is that the city used to be free, and now you have to pay, whether it’s a museum or a store. » Koolhaas juxtaposes this typical situation of modern western cities against Asian an African cities, where, when one goes shopping, «every transaction is also social, really charged. It’s happening in the free air. That kind of condition is the urban realm. Here, what used to be free – namely, the city – has become private.”52

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Rem Koolhaas, em Jennifer Sigler “Rem Koolhaas”; Index Magazine, New York, 2001

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F55. e F56. – Fotografias da maquete de estudo referente apenas ao Pólo das Artes e Ofícios.

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CAPÍTULO

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O CENTRO DE ARTES E OFÍCIOS LX FACTORY

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06. O CENTRO DE ARTES E OFÍCIOS LX FACTORY

6.1 _PRINCIPIOS DE INTERVENÇÃO URBANA

Localizado a Poente da LX Factory, a proposta arquitectónica desenvolvida é referente ao Centro de Artes e Ofícios (correspondente à “banda Cultural” anteriormente referida). A intenção de valorização da lógica espacial urbana da LX Factory no presente projecto de extensão, vem valorizar a permeabilidade e o acesso ao rio segundo o sentido longitudinal de ruas e edifícios. Permite criar uma maior ligação com a frente ribeirinha ao mesmo tempo que vem substituir a ideia de “ilha” por um novo sistema urbano.

Entende-se que o sistema de “ruas” existente, funciona de forma muito interessante no novo contexto em que a antiga fábrica de Santo Amaro se insere, sendo mantida a rua localizada a nascente (principal da LX Factory). Foi-lhe retirado, o tráfego rodoviário público, apenas se mantendo o acesso para as cargas e descargas. Pretende-se modificar o carácter da rua central (actualmente vista como “rua das traseiras”) propondo um novo programa de ocupação, alteração nos acessos e o seu prolongamento, o que irá proporcionar uma nova dinâmica, vivência e importância neste sistema urbano. Por fim, a nova rua a Poente vem abrir uma nova frente ao conjunto edificado. Propõe-se que seja uma nova frente de rua com carácter público e que ao nível do piso térreo permita uma comunicação visual com alguns pontos específicos do centro de exposições e com a biblioteca. Os acessos a átrios e cafetarias, permitem criar ligações transversais entre os edifícios, proporcionando vários pontos de atravessamento durante o seu percurso. A concepção do projecto teve como matriz urbana, a articulação espacial das ruas com os diferentes tipos de vazios que organizam e distribuem o seu programa, segundo uma gradação de valores que englobam os momentos de entrada e os de permanência. São introduzidos 4 vazios que marcam os momentos de entrada. A Nascente (na localização actual da entrada na LX Factroy), a Poente, no meio da nova frente edificada, a Norte, onde se localiza actualmente um terreno expectante vedado e por fim, a nova entrada “principal” que se vira para a fachada Sul da antiga Fábrica de Fiação. Existe ainda um vazio correspondente ao espaço do Anfiteatro e Cinema ao ar livre, que também que serve como momento de entrada no edifício Polivalente, em conjunto com o

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momento a Poente e a entrada a Sul. Cria uma abertura espacial que progressivamente diminui de tamanho (segundo uma determinada hierarquia espacial) permitindo um atravessamento visual para quem atravessa as diversas ruas e se encontra no enfiamento visual da Rua Luís de Camões.

F57. – Diagramas conceptuais referentes à area de intervenção.

Entende-se que na sua relação volumétrica com a preexistência, a proposta não deve comprometer a importância do edifício principal da LX Factory, desenvolvendo-se sobretudo na horizontal. Pretende-se preservar a imponência e importância do património edificado e assim, alcançar um balanço e relação altimétrica com a envolvente exterior articulando com a malha preexistente. Em relação à morfologia, volumetria e plasticidade da proposta, pretendese assim aplicar uma ideia de unidade de conjunto com o legado industrial em causa, que no entanto se assume com uma lógica espacial distinta da preexistência envolvente.

F58. – Maquete volumétrica de estudo, escala 1/500.

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6.2 _PROGRAMA

Como já referenciado anteriormente, o programa proposto é resultado de uma pesquisa e investigação assente sobre o modelo, funcionamento, gestão e organização da LX Factory. Os factores que tornaram possível compreender quais as principais necessidades e carências programáticas foram as seguintes: entrevistas locais (Anexo 1), análise documental de publicações, dissertações académicas, periódicos e fontes de internet, análise espacial, funcional e programática, estudo de casos semelhantes, assim como, a própria experiência pessoal. Interessa como metodologia de trabalho, explorar estas relações entre programas assim como a relação que estabelecem com o próprio espaço público, caracterizando-o e qualificando-o.

A organização do programa obedeceu ao seu enquadramento espacial tendo sido desenvolvida segundo uma lógica de bandas longitudinais. Foi aprofundado o sistema temático anteriormente referido que divide o Plano de Pormenor em 3 bandas, sendo (de Nascente para Poente) a primeira, relativa ao habitar, a segunda, às indústrias criativas e por fim, a que foi agora desenvolvida, no Centro de Artes e Ofícios. Relativamente às duas últimas, subdividem-se em quatro novas bandas (F.59). As duas preexistentes a Nascente permanecem com o mesmo funcionamento, entendendo que, apresentam características distintas, sendo uma de vocação mais comercial/expositiva (restauração, galerias de arte, lojas, etc.) e a outra, no edifício principal, direccionada sobretudo à produção criativa. As outras duas, correspondentes à proposta desenvolvida, direccionam-se a Nascente, aos Eventos, Espectáculos e Biblioteca (que abrange o edifício preexistente denominado Espaço Mirandela), e a Poente, à vertente Expositiva e Formativa.

Estas bandas programáticas tiram partido da sua configuração e de alguns pontos específicos para se ligarem entre si. São propostas algumas passagens superiores cobertas que permitem a ligação directa entre espaços e programas tendo sido explorado no desenho do edifício este sistema de relações. Em primeiro lugar será apresentada a lógica programática de cada banda e posteriormente, apresentadas as relações programática entre elas, por meio de diagramas e esquemas em planta.

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F59. – Diagramas conceptuais relativos ao Centro de Artes e Ofícios LX Factory.

A banda edificada dos Eventos, Espectáculos e Biblioteca, procura oferecer espaços qualificados para a realização de Concertos, Peças de Teatro, Eventos Públicos, Projecção de Filmes, entre outros, tanto em espaços fechados como ao ar livre tendo um carácter mais público. Encontra-se num ponto central e interliga com o volume das indústrias criativas e com o da formação e exposição. A Sul é proposto um Auditório com capacidade para 420 pessoas, com camarins, zonas técnicas, zonas de arrumos, átrio, cafetaria e um restaurante no piso superior com vista sobre o rio. O foyer de entrada faz a ligação com o anfiteatro exterior que serve ao mesmo tempo como cinema ao ar livre. A parede suspensa que serve de tela, faz a separação deste espaço público com o momento de entrada para o Espaço Polivalente.

O Espaço Polivalente (antiga Sala Mirandela) pode funcionar em conjunto com a cafetaria (a meio) e com a Biblioteca ou cada um dos três pode funcionar autonomamente. Esta zona central (cafetaria e instalações sanitárias) funciona como espaço charneira, mediador de diferentes programas e permite o atravessamento do edifício no sentido transversal, garantindo maior permeabilidade pedonal ao longo das bandas longitudinais. O espaço Polivalente sofreu pequenas alterações dado que oferece excelentes condições para receber grandes eventos como Desfiles de Moda, Concertos, Festas de Inauguração, entre outras. É proposto um átrio com um bar/restaurante no piso superior (que liga ao espaço de formação através de uma passagem transversal superior) e também são acrescentadas galerias superiores que atravessam o espaço permitindo dar continuidade à lógica programática de acesso ao mesmo tempo que servem como espaço de observação/contemplação. A Biblioteca de Artes situa-se a Norte procurando relacionar-se com a cidade, ocupando uma zona central entre o espaço de formação/exposição a Poente e o espaço das indústrias criativas a nascente de modo a criar um acesso privilegiado a ambos. Foi desenhada segundo uma lógica espacial de adaptação no lugar sendo constituída por um piso térreo bastante

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permeável e amplo que lhe permitisse suportar qualquer tipo de evento, nomeadamente: pequenos concertos, apresentações de livros, conferências, entre outros. Esta situação permite ainda a sua apropriação de forma flexível pela cafetaria ou pela própria biblioteca. No piso inferior da biblioteca localizam-se os depósitos e no piso superior a zona de estudo e de consulta, individual ou colectiva. A sua frente de entrada, como anteriormente referido, dá para o quadrante Norte do pólo e consequentemente para a Rua Primeiro de Maio junto ao edifício da Carris, caracterizando e qualificando este espaço actualmente abandonado.

F60. – Corte longitudional programático referente à “tira” dos Eventos, Espectáculos e Biblioteca.

A banda edificada relativa ao Centro Expositivo e ao Espaço de Formação oferece condições para receber exposições temporárias e permanentes gerando a possibilidade de exibir muito daquilo que é localmente produzido por aproximadamente uma centena de empresas criativas que ali trabalham bem como, de outras entidades e artistas exteriores. A parte Formativa oferece espaços que possibilitam o funcionamento de cursos profissionais ou intensivos, workshops, entre outros, tanto ligados às artes plásticas, digitais, moda, assim como, às artes performativas do espectáculo como a dança e teatro. Tem como principal característica ligarse directamente com os espaços de trabalho, estudo e consulta da biblioteca (artes plásticas, digitais, moda, etc.), com o auditório (artes performativas) e com o Espaço Polivalente, procurando uma inter-relação com a área de espectáculos e eventos.

O Centro Expositivo, procura materializar-se em acordo com a lógica espacial da LX Factory. Foi necessário explorar as questões que dizem respeito ao entendimento específico do Lugar, propondo-se uma área expositiva que se diferencie dos museus e centros expositivos que se encontram ao longo da Cultural Coast Line de Lisboa apresentada na figura 49. Entende-se a especificidade deste local pelas suas diferentes apropriações, usos e dinâmicas, que lhe são fornecidos pela sua flexibilidade espacial e pelo seu modelo de gestão. Ao contrário dos centros expositivos comuns “introvertidos” e fechados sobre si mesmos, este procura funcionar em simbiose com o espaço público, havendo uma maior transparência,

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permeabilidade e contacto com as pessoas. Desta forma, desenvolve-se no sentido longitudinal ocupando parcialmente o piso térreo e o piso subterrâneo. O Espaço de Formação também se desenvolve no sentido longitudinal e ocupa o primeiro e segundo pisos. Divide-se em 2 partes, uma a Sul e outra a Norte relacionando-se fisicamente por passagens superiores, com o Auditório (a Sul) onde se encontram as salas para as artes performativas e com a Biblioteca (a Norte) onde se encontram as salas para as artes plásticas e digitais. A parte central funciona como local de estudo individual e colectivo havendo também uma passagem superior até à zona da cafetaria no piso superior do Espaço Polivalente. A cabeceira a Sul do edifício remata com toda a parte administrativa onde estão localizadas a secretaria, sala de professores, gabinetes de trabalho e salas de reuniões.

F61. – Corte longitudional programático referente à “tira” das Exposições e Formação.

Relativamente às ligações superiores que criam os acessos e ligações entre os diversos programas no primeiro piso, entende-se que promovem a ideia de unidade entre os vários volumes e programas. As ligações com as passagens superiores que foram introduzidas, vêm devolver a ligação física entre os diversos volumes edificados de forma a criar um sistema distributivo que interliga programaticamente todo o Centro de Artes e Ofícios LX Factory.

F62. – Esquema programático e funcional do Centro de Artes e Ofícios LX Factory em planta.

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6.3 _BIBLIOTECA E ESPAÇO POLIVALENTE

A Biblioteca, possui cerca de 3500m2, equivalente a uma biblioteca do tipo B.M.3. Pretende ser extremamente permeável e ampla ao nível do Piso Térreo de forma a poder servir como espaço de estar da cafetaria e leitura de periódicos dispondo de uma boa iluminação e de contacto visual com as ruas envolventes. Também se pretende que este piso seja espacialmente flexível na sua dimensão e na sua forma de ocupação consoante as necessidades: pequenos concertos, apresentações de livros, conferências e eventos de pequena dimensão, entre outros. A concepção material e formal do projecto, do piso térreo e piso subterrâneo, teve como principal referência o projecto para o Centro do Círculo de Leitores da autoria do Arq.º Alberto Campo Baeza. O momento de entrada é feito pontualmente por uma passagem que marca um vazio correspondente à zona dos depósitos de forma a quebrar a ideia de piso enterrado. Ao nível do piso térreo, os volumes encontram-se lateralmente de forma a libertar o espaço central para possíveis conferências, exposições e pequenos eventos.

F63. e F64. – Centro do Círculo de Leitores, Barcelona, Espanha. Alberto Campo Baeza.

O piso superior já não tão flexível, propõe espaços de consulta, leitura e estudo também direccionado como zona de apoio à parte formativa. É composta por vários volumes que atravessam transversalmente o edifício criando salas ligadas ao estudo colectivo e duas galerias longitudinais junto às fachadas onde se encontra a zona de estudo individual. O Espaço Polivalente, actual Espaço Mirandela, permanece na sua generalidade com as mesmas características sendo apenas alterados alguns aspectos. É proposto um novo átrio de

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entrada no piso térreo e no primeiro piso, um bar/restaurante virado a Sul, assim como, um sistema de galerias que atravessa o edifício e liga os programas envolventes (o edifício principal das industrias criativas, a biblioteca e os espaços de formação) sendo este o edifício central Polivalente que serve todos os outros. O sistema de galerias e toda a proposta de intervenção neste edifício preexistente teve como principal referência o projecto de reabilitação do Museu Moritzburg anteriormente referido, da autoria dos Arqºs Nieto Sobejano (F22. F23 e F24).

6.4 _AUDITÓRIO E ANFITEATRO

O Auditório e o Anfiteatro, têm como particularidade poder funcionar em conjunto ou autonomamente. O Auditório tem o átrio de entrada virado a Sul, assim como, o Bar/Restaurante localizado no primeiro e segundo pisos. O Anfiteatro faz a ponte entre o volume edificado da Biblioteca e Espaço Polivalente e o Auditório. O Foyer serve como intermediário entre o Anfiteatro e o Auditório onde se encontram também a cafetaria e as instalações sanitárias. Também é proposto um sistema de galerias laterais de acesso ao auditório que fazem a ligação entre o programa a Norte e a Sul e que no 2º piso se transformam em galerias integradas deste (auditório). Este sistema assim como a própria imagem tiveram como principal referência o Auditório da Escola Superior de Música de Lisboa da autoria do Arquitecto João Luís Carrilho da Graça.

F65. F66. e F67. – Auditório da Escola Superior de Música, Benfica, Lisboa. João Luís Carrilho da Graça.

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O Anfiteatro pretende trazer um maior número de espectáculos e eventos aos espaços exteriores, servindo ao mesmo tempo como Cinema ao Ar Livre. Este pode ser projectado tanto no lado Sul (para ser visto no anfiteatro) como para Norte (virado para o momento de entrada do Espaço Polivalente) que se encontra semi-coberto/sombreado.

6.5 _CENTRO DE EXPOSIÇÕES

O Centro de Exposições, como anteriormente referido, pretende materializar-se numa solução adaptada ao contexto concreto da LX Factory. Desenvolve-se longitudinalmente em 2 pisos (térreo e subterrâneo) sendo o térreo interrompido a meio por uma passagem transversal. Por baixo, o espaço articulador (rótula) das exposições permite gerar uma maior flexibilidade relacionada com a dimensão e percursos das exposições. O espaço expositivo é flexível e pode desenvolver-se na extensão apenas necessária, havendo sempre galerias laterais junto à fachada e as salas no centro o que permite poder desenvolver percursos nos 2 sentidos. Também pode ocupar os dois pisos, ou mesmo só um, conforme as combinações pretendidas.

Interessou bastante a forma como se relaciona com o espaço público e com o visitante/espectador exterior. A ideia de que o piso subterrâneo não está enterrado através de um afastamento do chão junto à fachada (criando uma zona de pé direito duplo) permite uma ligação visual directa com o exterior. Da mesma forma, as salas de pé direito duplo permitem que haja uma maior relação visual e física com o espaço expositivo, tendo sido extremamente importante para o seu desenho, a forma como se procurou controlar a entrada de luz natural. Conceptualmente, pretendia-se um misto entre a ideia de “ruas” como espaço expositivocontemplativo sendo o projecto para o Museu Aan De Stroom, da autoria do Arqº Xaveer de Geyter (XDGA), extremamente interessante neste sentido. As ruas exteriores assumem-se como o próprio espaço de circulação e contemplação do museu não sendo necessário pagar bilhete para ver as exposições. As obras expostas encontram-se dentro de volumes longitudinais, dispostos paralelamente, tipo montra e em pontos específicos, são localizados espaços como o Auditório, Cafetaria, atravessamentos transversais, entre outros.

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F68. F69. e F70. – Maquete do Museu Aan De Stroom, Bélgica. Arquitecto Xaveer de Geyter.

F71. – Diagramas explicativos do projecto do Museu Aan Stroom, Arquitecto Xaveer de Geyter.

Outra referência conceptual analisada foi o Museu Montenmedio, da autoria do Arquitecto Alberto Campo Baeza, em que o museu se desenvolve ao longo de um volume longitudinal, funcionando como percurso entre espaços e salas. Desta forma, entende-se que o Museu funciona como espaço de circulação ou momento de atravessamento fechado em que o visitante/espectador é surpreendido pelos sucessivos espaços que vão surgindo no percurso como espaços expositivos, cafetarias, salas polivalentes, auditório, entre outros.

F72. – Vista superior da maquete do projecto para o Museu Montenmedio. Arquitecto Alberto Campo Baeza

F73. F74. e F75. – Cortes do projecto para o Museu Montenmedio. Arquitecto Alberto Campo Baeza.

O Centro de Exposições agora proposto tem uma identidade própria, embora se possa rever em algumas das ideias conceptuais anteriormente apresentadas. Pretende-se que a rua seja parcialmente um espaço contemplativo das exposições e que o próprio Centro de exposições possa funcionar como um percurso contemplativo.

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6.6 _ESPAÇO DE FORMAÇÃO

O Espaço de Formação, correspondente ao primeiro e segundo pisos sobre as exposições, procura como anteriormente referido, oferecer espaços qualificados ligados ao ensino. Entende-se que é propício, no contexto da LX Factory, a criação e ligação de cursos relacionados com as artes plásticas, digitais, moda, dança, entre outros. Actualmente já se encontram algumas escolas ligadas à Formação Artística neste local, contudo, a sua expansão está limitada pela falta de espaço e de condições para se poderem desenvolver e criar mais cursos. Pretende-se assim propor novos espaços e salas para formação que venham revitalizar e desenvolver esta lógica no Pólo das Artes e Ofícios LX Factory. É desenvolvida uma parte ligada a Artes Plásticas, Digitais, Moda, etc., onde são propostas a Norte salas com menor área e com menor pé-direito. Estas estão preparadas para receber todo o equipamento necessário para aulas de carácter teórico e prático (mesas e cadeiras ou estiradores) relacionando-se com a Biblioteca e com as zonas de estudo e consulta. A Sul, são propostas salas com maior área e com maior pé direito ligadas às Artes Performativas (dança, teatro, espectáculos, etc.), relacionando-se com o Auditório e Anfiteatro. Estes espaços/salas podem vir a ser ocupados por diversas escolas/identidades que queiram alugar os espaços para dar aulas de formação ligadas a cursos intensivos, cursos profissionais, entre outros.

Ao contrário do Centro de Exposições, que procura interagir/comunicar com o espaço público exterior, as salas de formação viram-se para o interior e comunicam através de pátios interiores procurando concentrar para o interior do edifício o ambiente e a interacção da aprendizagem. As circulações fazem-se junto às fachadas exteriores do edifício articulando os momentos de entrada nas salas (maior fluxo e concentração de pessoas) com vazios que permitem a ligação visual entre pisos. É gerado um maior contacto entre as circulações e os momentos de entrada nas salas com o espaço público exterior e relacionamento das salas de formação e dos espaços de estudo com os pátios interiores.

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6.7 _ESTRUTURA, MATERIALIDADE E IMAGEM

Relativamente à estrutura e à materialidade da proposta procurou-se, segundo a ideia de “Pólo” como conjunto, uma imagem uniforme que não introduzisse roturas com a preexistência. Desta forma é proposta uma reinterpretação, actualização e modernização da imagem industrial da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses, procurando referências para a nova linguagem que se relaciona com a existente, de forma a entender o todo, como conjunto. A estrutura portante, a nível do piso térreo, adopta a métrica dos edifícios preexistentes e aligeira-se nos superiores. É sobretudo de betão armado, sendo aplicada em pontos específicos, a estrutura metálica. Desta forma, o material dominante é o betão, tanto a nível estrutural como a nível do revestimento, sendo conjugado em certos pontos, com a estrutura metálica e o Aço Corten. Procura-se conjugar o Betão e o Aço Corten com o ambiente industrial das preexistências, enquanto os grandes vãos envidraçados reflectem passivamente este ambiente. A aparência/imagem brutalista e pesada, relaciona-se com a escala e monumentalidade espacial pretendida, assim como, com aspectos relativos a questões de luz e sombra. “Why concrete? When asked why he had chosen a pre-cast concrete façade for his Boston Blue Cross Blue Shield building of 1957, Paul Rudolph replied that he preferred «buildings that respond to light and shade to buildings that are all reflection». Rudolph’s opaque concrete walls suggest an active response to the environment, whereas mirror-like curtain walls would passively reflect it.”53 A nova arquitectura é marcada por diversas manipulações de escala que procuram fundir a estrutura com os diversos elementos físicos do projecto por meio da mesma materialidade. Esta fusão reflecte-se também nos espaços interiores, amplos, de pé direito generoso, procurando gerar alguma flexibilidade aos mais diversos níveis programáticos actuais e futuros. Pretende-se assim, não comprometer a imponência e importância da LX Factory, por meio de novos materiais, cores e texturas, mas sim interligar o antigo com o novo de forma a entender o conjunto como um todo. 53

Timothy Rohan - Rendering the Surface: Paul Rudolph’s Art and Architecture Building at Yale. Grey Room, 2000, pp. 85

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07. CONCLUSÃO

Nas últimas décadas, Alcântara tem sido foco de diversos planos e propostas urbanísticas, onde se procuraram resolver questões técnicas, ambientais e de qualidade de vida para os cidadãos. Contudo, permanece a incerteza e a indecisão quanto a uma resposta eficaz e adequada no contexto actual e futuro. Assim a intervenção da proposta foi precedida pela análise do Plano de Urbanização de Alcântara, actualmente em revisão, da autoria do Arquitecto Urbanista Manuel Fernandes de Sá. Desta análise e da sua interpretação, elaborouse uma abordagem crítica que se materializou no projecto urbano agora proposto. Entende-se que a memória do Lugar, associada à sua carga histórica e identitária da zona, deve ser preservada, pelo que o desenvolvimento do trabalho teve como principal ponto de partida a reconversão da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonenses, em Fábrica de Produção Criativa no ano 2007 (LX Factory). Apesar de se encontrar actualmente em bom estado de conservação e em pleno funcionamento, este espaço está ameaçado pelo novo Plano Urbanístico que põe em risco a existência desta estrutura devido às fortes pressões existentes sobre o solo edificável nesta zona. Em Alcântara, a reconversão da antiga zona industrial desactivada e em grande parte já demolida possibilita a criação de uma nova centralidade, torna possível a criação de maisvalias para os actuais e futuros utilizadores e moradores desta zona. O projecto proposto, prevê a preservação e valorização desta nova unidade de produção, oferecendo-lhe melhores condições para uma maior projecção a nível nacional e internacional com base num desenvolvimento sustentado futuro. A Reconversão de Áreas Industriais pelas Artes e a Cultura é um assunto bastante decorrente dos dias de hoje, sobretudo nas cidades que sofreram profundas transformações face à Revolução Industrial e ao processo de desindustrialização, sendo a LX Factory um dos projectos pioneiros em Portugal. Como tal, foi analisada e estudada esta temática, servindo como base teórica e prática para o desenvolvimento do trabalho. Desta forma, é proposta a sua extensão programática e espacial, devolvendo este espaço à cidade sob a forma de Pólo das Artes e Ofícios LX Factory. Extensão esta, que vem oferecer espaços qualificados para acolher diversos tipos de programas e eventos anteriormente pouco explorados de forma a complementar e intensificar o funcionamento do Pólo.

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Pretende-se oferecer à cidade de Lisboa um espaço Cultural diferente e espontâneo que procura responder à situação actual de instabilidade económica que se vive no país. O projecto proposto para o Centro de Artes e Ofícios vem colmatar as carências e falhas no funcionamento programático e espacial do Lugar, abrindo um maior “leque” de soluções. Procurou-se qualificar e dinamizar esta zona não só direccionada a pessoas que procuram a LX Factory, como também, devolver este espaço à cidade sob a forma de espaço público. Desta forma, o

projecto

procura,

resolver

problemas

estruturais

relacionados

com o

desenvolvimento da cidade e transformar este espaço num lugar polivalente, ligado às Artes e Cultura, agradável e interessante para todo o tipo de pessoas. Vem promover o bom funcionamento da LX Factory e da cultura artística, ao mesmo tempo que assegura e preserva uma imagem identitária do Lugar (Alcântara) que se pretende preservar na memória viva, da cidade de Lisboa. Sabendo a priori que não existe uma única resposta válida para um projecto de extensão conclui-se que a solução passa necessariamente pela consideração do programa mais adequado às características arquitectónicas da preexistência e às necessidades locais (procurando conciliar estes dois aspectos). Pela qualidade dos espaços criados, que devem garantir o conforto na sua utilização e responder às exigências do novo programa introduzido e pelo respeito pela essência industrial e pelos valores patrimoniais da preexistência, garantido a salvaguarda da sua identidade e autenticidade.

| 18 448 palavras

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08. BIBLIOGRAFIA

VOLUMES |

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Tradução, Klauss Brandini Gerhardt. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000 CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo, Editora da UNESP, 2001 COSTA, Pedro – Cultura em Lisboa: Competitividade e Desenvolvimento Territorial. Lisboa: ICS 2007 CUSTÓDIO, Jorge – Fábrica de Tecidos e Fiação de Algodão de Santo Amaro; Dicionário da História de Lisboa; Lisboa; 1994 DIAS, Joaquim Mendonça – Lisboa 94 - Capital Europeia da Cultura: Roteiro Cultural dos Pátios e Vilas da Sétima Colina. Lisboa: Contexto 1994 FERNANDES, José Manuel - Arquitectura e indústria em Portugal no século XX. Lisboa : SECIL, D.L. 2003 HERTZBERGER, Herman – Lições de Arquitetura; [tradução Carlos Eduardo Lima Machado]. – 2ªed. – São Paulo: Martins Fontes, 1999 HOLDEN, John – Publicly-funded Culture and the Creative Industries, Londres: Demos 2007 LANDRY, Charles - The Creative City: A Toolkit for Urban Innovators. Earthscan, London, 2000 MELA, Alfredo – A Sociologia das Cidades, Editorial Estampa, Lisboa (Edição original:1996), 1999 MOMMAAS, Hans - Creative Cities, Creative Spaces and Urban Policy. Urban Stud, vol. 46 no. 5-6. Maio 2009 MOMMAAS, Hans - Cultural Clusters and the Post-industrial City: Towards the Remapping of Urban Cultural Policy. Urban Stud, vol. 41 no. 3. Março 2004 MURTEIRA, Helena – Lisboa da Restauração às Luzes. 1ª Edição. Lisboa: Presença, 1999 PEREIRA, Miriam Halpern - Demografia e desenvolvimento em Portugal na segunda metade do século XIX, Lisboa, 1970 PORTER, Michael E. – Local Clusters in a Global Economy, The Cultural Industries. Oxford: Blackwell 2008 RIOUX, Jean-Pierre – A Revolução Industrial, 5ª Edição, Lisboa, 1996.

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ROHAN, Timothy - Rendering the Surface: Paul Rudolph’s Art and Architecture Building at Yale. Grey Room, 2000. ROSE, Margaret A. – The post-modern & the post-industrial, A critical Analysis - Cambridge University Press, 1991. SASSEN, Saskia - The global city : New York, London, Tokyo (Princeton : Princeton University Press, 2001) updated 2d ed., original 1991 SELBY, Martin – Understanding Urban Tourism – Image, culture and experience, I.B.Tauris, New York, 2004 SILVA, Augusto Vieira– Dispersos. Volume III. Lisboa: Câmara Municipal, 1960 SOUSA, Christian – Brownfield Redevelopment versus Greenfield Development: A private sector perspective on the costs and risks associated with brownfield redevelopment in the greater Toronto area. Journal of Environmental Planning and Management, Nº. 43, 06/2000 WARNIER, Jean-Pierre – A Mundialização da Cultura. Lisboa: Noticias Editorial 2000 ZUKIN, Sharon – From Landscapes of Power: From Detroit to Disney World, The Blackwell City Reader. Oxford: Blackwell, 2002 ZUKIN, Sharon – The Cultures of Cities. Blackwell, 1995

DISSERTAÇÕES ACADÉMICAS |

ANTUNES, Filipa Oliveira - Habitação operária: pátios e vilas de Lisboa, a experiência da cidade operária industrial. Lisboa: Faculdade de Arquitectura, 2002 BARCELOS, Inês Figueiredo – Projectar com o Lugar. Novos destinos para edifícios industriais: Fábrica Simões e Cª Lda. - Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa, 2010 CARVALHO, Gonçalo José Veloso Queirós – A Reciclagem dos Usos Industriais e as Novas Tipologias de Actividades e Espaços de Cultura; Caso de estudo: LX Factory; Instituto Superior Técnico, 2009 GUTERRES, João – Cidade Bem Ordenada e Modernidade: Princípios, Critérios e Avaliação, em Contexto de Planeamento Urbano e do Território; Dissertação de Doutoramento em Planeamento Urbanístico, FA-UTL, 2002 KONG, Mário Say Ming – Arquitectura Industrial: Uma abordagem Central Tejo – Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa, 2001 MARQUES, Beatriz Rosa de Abreu Pereira - O vale de Alcântara como caso de estudo : evolução da morfologia urbana; Lisboa : UTL, Instituto Superior Técnico, 2009.

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PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS |

ABREU, Pedro Marques – Arquitectura, Monumento e Morada. Investigação do pensamento de Ruskin sobre o Património, Faculdade de Arquitectura UTL, 12 Maio de 2005 ABREU, Pedro Marques - O Destino do Monumento, , Faculdade de Arquitectura UTL, (s.d.) Arquitectura 21 – Cidades Criativas, Nº3 Abril 2009. Arquitectura e Arte - Portugal. Editora arq./a. nº 31, Programas Híbridos, 2007 A Europa nas nossas mãos – Imagina, Cria, Inova, 2010 APPLETON, João. Reabilitação urbana e tecnologias de intervenção in Arquitectura Ibérica nº19 Edições Caleidoscópio Diário de Notícias – A Ilha Criativa, 31 Janeiro 2009 DUARTE, Rui Barreiros – O Residual Imaginário Industrial nas Transfigurações Urbanas. Artitextos 03. Dezembro 2006 KOOLHAS Rem, em Jennifer Sigler “Rem Koolhaas”; Index Magazine, New York, 2001 FRANCO, Arturo e Fabrice Van Teeslar - Antigo Matadouro Legazpi , Arquitectura Ibérica nº 24 NUNES, Vladimir – O efeito Bilbau. Arquitectura e Vida, Nº. 53, 08/2004 PEREIRA, Nuno Teotónio – Pátios e Vilas de Lisboa, 1870 – 1930: a promoção privada de alojamento operário, Análise Social, nº127; Lisboa; 1994

FONTES INTERNET |

Câmara Municipal de Lisboa - Relatório Análise. Data de consulta a 23 de Maio de 2011. Disponível em, http://ulisses.cm-lisboa.pt/data/002/004/index.php?ml=5&x=alcanta.xml Junta de Freguesia de Lisboa – Historial. Data de consulta a 11 de Junho de 2011. Disponível em, http://www.jf-alcantara.pt/Default.aspx?Module=ArtigoForm&ID=42 Mainside Investments SGPS S.A. – Catumbel. Data de consulta a 14 de Maio de 2011 Dísponível em, http://www.mainside.pt Trans Europe Halles. Data de consulta a 27 Março de 2011 Dísponível em, http://www.teh.net/

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09. ANEXOS

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ANEXOS 01

ENTREVISTAS AOS RESIDENTES DA LX FACTORY |

EMPRESAS: ALT FABRIK DOI DON’T PANIC INDIA THAT WEARS YOU PENDULAR UNITED STUDIOS

DATA DAS ENTREVISTAS: 08 ABRIL 2011



Empresa: DON’T PANIC

Empresa: DOI

Acha que a LX Factory tem vindo a tornarse num dos principais pontos de referência em Alcântara?

Acha que a LX Factory tem vindo a tornarse num dos principais pontos de referência em Alcântara?

Sem dúvida que sim.

Sim, claro.

Qual a sua opinião sobre o futuro deste local?

Qual a sua opinião sobre o futuro deste local?

Actualmente este local já está a sofrer de sobrelotação. Por isso, penso que possivelmente pode vir a ser feita uma expansão, ou repetição deste modelo noutros sítios.

Creio que a tendência será, nos próximos 10 anos, o que está a funcionar manter-se e posteriormente ser expandido.

Porque vieram para a LX Factory?

Por causa do custo e da dinâmica criativa entre empresas.

Escolhemos vir para o meio da acção. Também devido ao custo do espaço, que é significativamente menor. É sobretudo muito positivo, o facto de coexistirem aqui diversas empresas criativas.

Acha que a LX Factory poderia servir como “base de arranque” para um novo plano urbanístico nesta zona?

Acha que a LX Factory poderia servir como “base de arranque” para um novo plano urbanístico nesta zona?

Porque vieram para a LX Factory?

Neste momento não, mas deveria ser porque tem muito potencial. Acha que o público em geral, tem noção do que aqui é produzido?

Sim, penso que era uma ideia interessante.

Ainda não têm.

Acha que o público em geral, tem noção do que aqui é produzido?

O que faz falta na LX Factory, em termos de programas ou novos equipamentos?

A nível de eventos sim, existe uma grande divulgação. De resto acho que não.

Embora exista o openday, podia ter um sítio para exposições, ou uma biblioteca relacionada com temas das artes e com a livraria Ler Devagar.

O que faz falta na LX Factory, em termos de programas ou novos equipamentos? Como este local tem muita vida nocturna, talvez equipamentos que reforcem mais a componente criativa e cultural. Qual a sua opinião em relação á temporalidade que afecta este local? Ainda está tudo muito incerto. O contrato que temos é de 5 anos, espero que dure por muitos mais anos.

Qual a sua opinião em relação á temporalidade que afecta este local? Há rotatividade de empresas, e vai a continuar a haver, o que é muito positivo. Existir esta variedade é óptimo, hoje em dia noto que é muito dificil para as empresas conseguirem o seu espaço aqui. Estimula assim a competitividade e por isso deveria continuar.


Empresa: PENDULAR

Empresa: ALT FABRIK

Acha que a LX Factory tem vindo a tornarse num dos principais pontos de referência em Alcântara?

Acha que a LX Factory tem vindo a tornarse num dos principais pontos de referência em Alcântara?

Sim está a ficar cada vez mais conhecida.

Sim.

Qual a sua opinião sobre o futuro deste local?

Qual a sua opinião sobre o futuro deste local?

É um sítio de carácter muito temporário e penso que as coisas futuramente vão mudar muito.

A câmara de Lisboa devia manter o edificado e usos que têm agora aqui. Deviam rever o plano de pormenor que tinham pensado para esta zona.

Porque vieram para a LX Factory? É uma zona bem localizada em Lisboa. Antes a nossa sede era em Oeiras. O custo do espaço também foi um factor importante.

Porque vieram para a LX Factory? O aglomerado e a interacção de empresas que aqui acontece. O custo do espaço é menor e a localização.

Acha que a LX Factory poderia servir como “base de arranque” para um novo plano urbanístico nesta zona?

Acha que a LX Factory poderia servir como “base de arranque” para um novo plano urbanístico nesta zona?

Sim, porque não?

Sim, faz sentido manter este conceito de uso de edifício e acho seria benéfico.

Acha que o público em geral, tem noção do que aqui é produzido? Não têm muita noção do que se passa aqui em termos de quantidade de empresas. É um espaço mais conhecido pela actividade nocturna. O que faz falta na LX Factory, em termos de programas ou novos equipamentos? Sim, um equipamento por exemplo que sirva para divulgar e exibir mais os trabalhos desenvolvidos pelas empresas. Qual a sua opinião em relação á temporalidade que afecta este local? Gosto muito deste espaço para esta empresa, sinto-me muito bem, gostava que se tornasse permanente.

Acha que o público em geral, tem noção do que aqui é produzido? Não têm noção de todo. Vamos fazendo aqui algumas exposições no nosso espaço e penso que não atingiu as expectativas que criámos inicialmente. O que faz falta na LX Factory, em termos de programas ou novos equipamentos? Era bom termos um sítio para exposições, mas gerido de forma diferente, não só de uma empresa mas sim para todas. Qual a sua opinião em relação á temporalidade que afecta este local? Devia ser mantido este conceito, considero eficaz esta sinergia de empresas.


Empresa: INDIA THAT WEARS YOU

Empresa: UNITED STUDIOS

Acha que a LX Factory tem vindo a tornarse num dos principais pontos de referência em Alcântara?

Acha que a LX Factory tem vindo a tornarse num dos principais pontos de referência em Alcântara?

Sim, muito.

Acho que sim, tanto ou mais que as Docas.

Qual a sua opinião sobre o futuro deste local?

Qual a sua opinião sobre o futuro deste local?

Devia continuar com este programa. Acho que a câmara vai manter como está, é uma mais-valia para a cidade.

Penso que não vai perdurar no tempo, devido às opções da Câmara, contudo acho que devia se feito um esforço para ser mantido e valorizado.

Porque vieram para a LX Factory? Atraiu o facto de não ser um sítio comum, é original e positivo pela sua interacção interna. Acha que a LX Factory poderia servir como “base de arranque” para um novo plano urbanístico nesta zona? Sim, mantendo o que está e expandindo-se talvez.

Porque vieram para a LX Factory? Sobretudo pela sinergia entre diferentes empresas e por ser um projecto pioneiro em Portugal. Acha que a LX Factory poderia servir como “base de arranque” para um novo plano urbanístico nesta zona? Acho que era o ideal.

Acha que o público em geral, tem noção do que aqui é produzido?

Acha que o público em geral, tem noção do que aqui é produzido?

Não têm noção, devia ser mais divulgado. O que faz falta na LX Factory, em termos de programas ou novos equipamentos?

Acho que as pessoas conhecem mais a LX Factory pela componente nocturna do que propriamente pelas empresas e a sua vertente artística.

Esta zona carece muito de estacionamento e espaços verdes.

O que faz falta na LX Factory, em termos de programas ou novos equipamentos?

Qual a sua opinião em relação á temporalidade que afecta este local?

Devia haver programas que favorecessem a divulgação das empresas e não tanto para a componente nocturna.

Deve ser mantido, com algumas preocupações futuras como trazer um pouco mais de condições, deve-se pensar já em fazer recuperações nos edifícios e dar mais comodidade a quem usufrui deste espaço.

Qual a sua opinião em relação á temporalidade que afecta este local? Penso que nem se devia por em questão. Já está provado que faz todo o sentido permanecer.



ANEXOS 02

PEÇAS DESENHADAS |

LISTA DE DESENHOS:

A001 | PLANTA DE LOCALIZAÇÃO

ESCALA 1/5000 (REDUZIDA PARA 1/10000)

A002 | PLANTA DE IMPLANTAÇÃO

ESCALA 1/1000 (REDUZIDA PARA 1/2000)

A101 | PLANTA DE COBERTURA

ESCALA 1/200 (REDUZIDA PARA 1/400)

A102 | PLANTA DO PISO -1

ESCALA 1/200 (REDUZIDA PARA 1/400)

A103 | PLANTA DO PISO 0

ESCALA 1/200 (REDUZIDA PARA 1/400)

A104 | PLANTA DO PISO 1

ESCALA 1/200 (REDUZIDA PARA 1/400)

A105 | PLANTA DO PISO 2

ESCALA 1/200 (REDUZIDA PARA 1/400)

A106 | PLANTA DO PISO 2

ESCALA 1/200 (REDUZIDA PARA 1/400)

A201 | CORTES LONGITUDINAIS

ESCALA 1/200 (REDUZIDA PARA 1/400)

A202 | CORTES LONGITUDINAIS

ESCALA 1/200 (REDUZIDA PARA 1/400)

A203 | CORTES TRANSVERSAIS

ESCALA 1/200 (REDUZIDA PARA 1/400)

A204 | CORTES TRANSVERSAIS

ESCALA 1/200 (REDUZIDA PARA 1/400)

A301 | AXONOMETRIA PROGRAMÁTICA A401 | CORTE DE FACHADA

ESCALA 1/750 (REDUZIDA PARA 1/1500) ESCALA 1/20 (REDUZIDA PARA 1/40)



ANEXOS 03

PROCESSO DE TRABALHO |

A501 | ESQUIÇOS A502 | ESQUIÇOS A503 | ESQUIÇOS A601 | MAQUETE DE ESTUDO, PÓLO DAS ARTES E OFÍCIOS LX FACTORY ESCALA 1/1000

A602 | MAQUETES DE ESTUDO, PÓLO DAS ARTES E OFÍCIOS LX FACTORY SEM ENVOLVENTE ESCALA 1/1000

A603 | MAQUETES DE ESTUDO, PÓLO DAS ARTES E OFÍCIOS LX FACTORY ESCALA 1/500

A604 | MAQUETE DE ESTUDO, O CENTRO DE ARTES E OFÍCIOS LX FACTORY – VOLUMETRIA ESCALA 1/500

A605 | MAQUETE DE ESTUDO, O CENTRO DE ARTES E OFÍCIOS LX FACTORY – VOLUMETRIA ESCALA 1/500

A606 | MAQUETE DE ESTUDO, BIBLIOTECA ESCALA 1/200

A607 | MAQUETE DE ESTUDO, CENTRO EXPOSITIVO E ESPAÇO FORMATIVO ESCALA 1/200


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