Viagem às terras de Portugal

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Edição apoiada pela Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas/ Portugal

José Santos

Errou! Numa viagem a Portugal, a gente só tem a ganhar: se diverte com o novos significados para as mesmas palavras, deita gostoso no berço da língua-mãe, conhece a terra de nossos avós. E, de quebra, ganha amigos que moram do outro lado do oceano, mas falam a mesma língua que nós! Foi assim com José Santos, que, numa dessas viagens, conheceu o português Afonso Cruz. Juntos criaram este livro.

VIAGEM ÀS TERRAS DE PORTUGAL

FOI PRA PORTUGAL, PERDEU O LUGAR.



Obra apoiada pela Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas / Portugal


Créditos

Copyright © 2012 José Santos Copyright © 2012 ilustrações Afonso Cruz Editora Renata Farhat Borges Editora assistente Lilian Scutti Projeto gráfico, produção editorial e gráfica Carla Arbex Consultoria em cultura portuguesa Susana Ventura Revisão Jonathan Busato Impressão e acabamento Ipsis Editado conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. 1ª edição, 2012

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Santos, José Viagem às terras de Portugal/ José Santos; ilustrações Afonso Cruz. – São Paulo: Peirópolis, 2012. ISBN 978-85-7596-240-4 1. Poesia – Literatura infantojuvenil I. Cruz, Afonso. II. Título.

11-08976 Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia: Literatura infantojuvenil 028.5 2. Poesia: Literatura juvenil 028.5

CDD-028.5


Para Miguel, que viajou comigo a Lagos, Lisboa e Óbidos. E para Jonas, que ainda conhecerá a terra dos bisavós. Para as famílias Rezende-Soveral e Marreiros, que me acolheram e me trataram a pão de ló.


Para Osvaldo Alvarenga e Helder Reis

Pelas colinas de Lisboa

Cheguei a Portugal, vindo de Minas, e quis passear pedalando pela cidade das Sete Colinas. Achei que bicicletear por Lisboa fosse uma coisa à toa. Subi a colina de Santana, mais veloz que uma zarabatana. Atravessei São Vicente: não foi fácil, mas segui em frente.

Quando surge Santa Catarina, aí acaba o fôlego, a minha gasolina. Desisti de Santo André: não iria ali nem a pé. E muito menos na colina de São Roque. Pra lá, nem se me puxasse um reboque. Pois é, bicicletear por Lisboa não era uma coisa à toa.

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Em frente à capela de Nossa Senhora do Ó 12|48

Nossa Senhora do Ó, padroeira do alfabeto, sou um menino tão só, preciso tanto de afeto. Nossa Senhora do Ó, protetora das vogais, ando vivendo tão só, nem dormir consigo mais. Nossa Senhora do Ó, que é das letras amiga, já que me sinto tão só, cante agora uma cantiga. Ó, minha Nossa Senhora, me ensina a conjugar o presente e o futuro do ingrato verbo amar.



Recriando antigas quadras

1 A aranha nunca dorme, pois teias tem de fazer. Já eu durmo até de dia, pois não sei como tecer. 2 Subi ao alto da torre, para saber se tu vinhas. Só avistei três pardais e trinta e sete andorinhas. 3 Se visses o que eu vi bem no centro de Amarante! Um cachorro conduzia seu dono por um barbante.

4 Fui noivo de uma formiga. Por um zangão me deixou! E agora, com bela pulga, noivo de novo eu estou. 5 Eu subo na cerejeira para roubar avelãs. Chega o dono da videira: “Ó, ladrão, largue as maçãs!”

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Para Rosali Henriques e Paulo Zagalo

Zucas e Tugas

Brasileiros e portugueses são parecidos demais! Não fossem as diferenças, éramos todos iguais. Gostamos de bacalhau e também de um guisado. Na hora da sobremesa, tudo muito açucarado. Amamos o futebol, pois futebol é paixão. É a pátria de chuteira, de camisola e calção. Quando chega o fim da tarde, saudades vêm, já sabemos... De um lugar aonde não fomos, de alguém que não conhecemos.

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Se falamos português de jeitos bem diferentes, na conversa é que se entende, tosta-mista, misto quente. Bola de gude, berlindes. Asfalto e alcatrão. Cão rafeiro, vira-lata. Maloqueiro, mandrião. Caramelo, rebuçado, chute forte, pé-canhão. Isopor, esferovite, mamadeira e biberão. Fica aqui a impressão de que nunca estamos sós. De um lado estão os netos, e do outro, seus avós. Brasileiros e portugueses são parecidos demais. Um oceano separa corações que são iguais.


Para Fernando Fiorese e Iacyr Freitas

Lenga-lenga dos viajantes

Eles são dez viajantes, só viajam quando chove. Deu o tangolomango neles, não ficaram senão nove. Esses nove que restaram, a Lagos foram afoitos. Deu o tangolomango neles, não ficaram senão oito. Os oito sobreviventes vão a Beja de charrete. Deu o tangolomango neles, não ficaram senão sete.

Seguem sete para Sintra, visitar um lorde inglês. Deu o tangolomango neles, não ficaram senão seis. E os seis pousam em Coimbra, sob um telhado de zinco. Deu o tangolomango neles, não ficaram senão cinco. Viajam cinco a Viseu e visitam seu teatro. Deu o tangolomango neles, não ficaram senão quatro.

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Montam quatro numa mula pra Arcos de Valdevez. Deu o tangolomango neles, não ficaram senão três. Os três vão a Montalegre comer bife com arroz. Deu o tangolomango neles, não ficaram senão dois. Dois chegam lá em Valpaços, na hora do desjejum. Deu o tangolomango neles, e ficou apenas um. Quem sobrou foi a Bragança e dormiu na estalagem. Deu o tangolomango nele e acabou-se a viagem.


Índice

4| Pelas colinas de Lisboa 6| No comboio Braga-Porto 8| Numa das seis pontes da cidade do Porto 10| “Francesinha” à moda do seu Manuel 12| Em frente à capela de Nossa Senhora do Ó 14| Bem que Camões avisou... 16| O galo, a galinha e o bruxo 18| Nas ilhas da Madeira 20| Mestre Galissá, o músico do Korá 22| A Vila do Nada 24| O que dizer a Gil Vicente? 26| Viajando com trava-línguas 28| Três tristes tremas 30| Uma palavra da língua mirandesa 32| Recriando antigas quadras 34| José Craveiro, o contador de histórias 36| Dois corvos muito trabalhadores 38| Pelos varais e estendais de Lisboa 40| Zucas e Tugas 42| Lenga-lenga dos viajantes



José Santos Desde menino que escuto sobre Portugal na minha casa. Claro, meu avô José era português de São Martinho do Porto e casou duas de suas filhas com patrícios, o Gabriel, de Póvoa do Varzim, e o Eugénio, de Cabeceiras de Basto. Já minha mãe resolveu tudo mais pertinho e se casou com um mineiro. Depois nasci, estudei, trabalhei e, quando nasceram meus filhos, quis virar escritor. Já fiz livros de poesia sobre muitos assuntos: terror, astronomia, moda, folclore, futebol, música, tanta coisa. E, um dia, o tema foi Portugal. Em 2009 resolvi morar lá por uma temporada. Foi bom demais. Andei por muitos lugares, de Lagos a Miranda do Douro, de Almadafe a Viana do Castelo. Em Lisboa fui acolhido por uma simpática família luso-brasileira, e lá passei boa parte do tempo, escarafunchando a Biblioteca Nacional. Finalmente conheci o artista Afonso Cruz; gostei tanto do seu trabalho que só dei sossego a ele quando aceitou ilustrar este livro. Este que é um livro de viagem, onde conto sobre as gentes que conheci, os livros que li, os lugares que visitei. Um livro para que os estudantes brasileiros possam saber mais sobre a terra de seus avós. E também para portuguesinhos e portuguesinhas, que podem se aventurar por aqui sem ajuda de glossário. Falamos uma só língua, não é mesmo?

Bios


Afonso Cruz Em 1971, na Figueira da Foz, era completamente recém-nascido. Cresci o que pude, especialmente a viajar, e acabei por frequentar mais de meia centena de países. Percorri o Brasil desde o Acre ao Rio Grande do Sul, fiz milhares de quilômetros por terra e outros tantos quilômetros de amigos. Tenho várias profissões: escrevo, ilustro, componho, toco, trabalho em cinema. Alguns dos livros que escrevi foram premiados, como Enciclopédia da estória universal (Grande Prêmio de Conto Camilo Castelo Branco 2010), A contradição humana (Prêmio Autores 2011 SPA/RTP; seleção White Ravens 2011; menção especial Prêmio Nacional de Ilustração 2011) e Os livros que devoraram meu pai (Prêmio Maria Rosa Colaço 2009). Quanto à ilustração, tenho mais de trinta livros publicados, em parceria com diversos autores, todos eles de inegável qualidade. Como o José Santos.


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José Santos

Errou! Numa viagem a Portugal, a gente só tem a ganhar: se diverte com o novos significados para as mesmas palavras, deita gostoso no berço da língua-mãe, conhece a terra de nossos avós. E, de quebra, ganha amigos que moram do outro lado do oceano, mas falam a mesma língua que nós! Foi assim com José Santos, que, numa dessas viagens, conheceu o português Afonso Cruz. Juntos criaram este livro.

VIAGEM ÀS TERRAS DE PORTUGAL

FOI PRA PORTUGAL, PERDEU O LUGAR.


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