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Ivanilson Gomes dos Santos
À frente da Fundação Verde Herbert Daniel (FVHD) por oito anos, desde junho de 2015, Ivanilson Gomes dos Santos, presidente do PV-BA e ex-presidente do Conselho Curador da Fundação (até maio de 2023), fala à revista Pensar Verde sobre a sua gestão, os principais avanços, projetos desenvolvidos e desafios. Exatamente na reta final de sua presidência, o PV e, consequentemente, a Fundação vêm passando por um grande desafio que, para a FVHD, talvez seja o maior de sua história: a diminuição no repasse do Fundo Partidário em função da votação que o partido obteve nas urnas nas últimas eleições. Ivanilson Gomes fala sobre todo o trabalho de adequação que vem sendo realizado e sobre a importância de a instituição sempre ter tido uma gestão financeira enxuta. Outros pontos apresentados por ele são o que pode ser feito para garantir a existência da Fundação Verde e a eleição de Teresa Britto, presidente do PV-PI, a primeira mulher a presidir a Fundação Verde em toda a sua história.
Pensar Verde:
Qual que é o papel de uma fundação em um partido político e, principalmente, no caso do Partido Verde (PV)?
Ivanilson Gomes: da Fundação se reunia, no máximo, duas vezes ao ano e, mais precisamente, uma vez ao ano apenas para votar o orçamento. Sob a nossa gestão, esse conselho se reuniu mensalmente, durante quatro anos – apenas não ocorria mensalmente quando alguns conselheiros não podiam comparecer, então, a gente remarcava. Às vezes, passava de um pouco mais de um mês. Infelizmente, na sequência, tivemos a pandemia. Foram anos complicados. E nós tivemos de parar com as reuniões mensais presenciais. Retomamos depois, sem ser mensais, mesmo assim, a gente conseguiu manter uma frequência muito boa. E, associado a isso, nós invadimos o Brasil com muitos projetos bastante interessantes, inclusive projeto que virou case de sucesso, a ponto de outras entidades buscarem a ideia para desenvolver em outas áreas.
Para mim, o papel principal de uma fundação em um partido – e, particularmente, no Partido Verde (PV) –é a formação. Eu acho que a Fundação Verde tem o papel de formar quadros, de formular políticas na área ambiental para subsidiar o partido, isto é, sempre atenta aos temas do partido, ao seu programa. Aliás, o próprio Ministério Público costuma dizer que a Fundação não pode ser considerada um apêndice do partido e, sim, uma formuladora de políticas que fortaleçam o programa do partido.
No nosso caso, que somos do Partido Verde, a Fundação sempre busca trabalhar projetos na área da sustentabilidade, na área ambiental. Esse foi o nosso foco ao longo desses oito anos à frente da Fundação. A maioria dos nossos projetos versa essa questão ambiental e sustentável.
Pensar Verde: Nesse contexto, como que você avalia esses oito anos da gestão que se encerrou?
Ivanilson Gomes: Quando fui eleito presidente da Fundação Verde, na primeira reunião do Conselho Curador, fiz a seguinte pergunta antes de começar: queremos ser mais uma fundação ou queremos ser “A Fundação”? E, de forma unânime, todo mundo disse: “Queremos ser ‘A Fundação’”. Então, eu trabalhei durante esse período todo para sermos “A Fundação”.
Não foi à toa que, nas raras vezes em que tivemos a presença do Ministério Público, a promotora pública que acompanhou as nossas reuniões fez uma referência dizendo que a nossa Fundação era uma das pouquíssimas que não fugiam ao seu papel de formular políticas na área do programa do partido. Isso é muito importante.
Pensar Verde: Como foi a realização desses projetos? O foco foi sempre o partido ou, também, a sociedade?
Ivanilson Gomes:
Acho que a gente deu uma grande contribuição, não só do ponto de vista do programa do partido, mas também para a sociedade. Quando você traz uma discussão sobre sustentabilidade, sobre a mulher, sobre o negro, sobre o indígena, tudo isso não favorece apenas o programa do partido, mas a própria sociedade. Nosso entendimento era exatamente buscar projetos que pudessem trazer algum tipo de resultado, de discussão na sociedade. Coisa que, às vezes, os partidos têm dificuldade de fazer. Mas nós fizemos. Apesar de ser em um estado, ou de ser um recorte de uma determinada área, isso acabava sendo potencializado por meio dos militantes do partido e das pessoas envolvidas – que, muitas vezes, não eram filiadas ao PV, mas que, a partir dali, passavam a propagar e a usar esse tipo de aprendizado como instrumento de debate na sociedade, nos diversos temas tratados por nós.
Pensar Verde: Como esse fortalecimento foi alcançado?
Ivanilson Gomes:
Nós fizemos aqui outros movimentos que antes não existiam. Por exemplo: anteriormente, o Conselho Curador
Pensar Verde: Algum projeto em destaque?
Ivanilson Gomes:
Eu poderia destacar alguns projetos que foram superinteressantes, por exemplo, o seminário Encontro
Nacional Ver de Novo, em Brasília. Nós trouxemos 120 pessoas, todas elas dirigentes do Partido Verde, formadores nos seus estados. Contratamos a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que fez esse trabalho bacana, talvez o maior evento da nossa gestão. Foi por volta de 2015.
E temos tantas outras experiências. Fizemos o ATenda o Verde, que era um sistema em que a gente buscava sensibilizar as pessoas sobre a importância do plantio de árvores. Nós circulamos na Bahia em diversos municípios com o Atenda, onde distribuíamos mudas de árvores ao mesmo tempo em que fornecíamos cartilhas orientando as pessoas não só a plantar árvores, como também a fazer uma horta em casa, fazer o plantio. Ou seja, aproximar a população da árvore. Fazer com que as pessoas entendessem que a árvore é uma parceira sua, não é uma concorrente. Algumas pessoas acham até que [a árvore] é inimiga, que atrapalha as suas vidas. Foi um trabalho longo.
Tivemos outros projetos, entre eles, um voltado para a questão da adoção, desenvolvido no Rio de Janeiro, que foi mais um case de sucesso. Então, assim, eu poderia citar aqui diversos projetos.
Pensar Verde:
E quanto aos eventos de formação de candidatos e candidatas?
Ivanilson Gomes:
Um dos últimos projetos que desenvolvemos, mais recentemente, foi na formação de candidatos e candidatas, com o professor Humberto Dantas (FESPSP) disponível no canal oficial da Fundação Verde no YouTube, no endereço @TVFundacaoVerde. Nele, nós focamos o preparo dos nossos pré-candidatos e pré-candidatas para que pudessem acumular conhecimento, e que isso fosse o carro-chefe das suas campanhas políticas, disseminando essa ideia, os ideários do PV na sociedade. Até porque nós sabemos que o processo eleitoral, que parece meramente burocrático, de disputa do voto, também é uma corrente de transmissão de muitas ideias, quando um candidato ou uma candidata está defendendo um tema e não apenas uma candidatura, uma eleição.
Pensar Verde:
Algum segredo em particular para a realização de todo esse trabalho?
Ivanilson Gomes:
Eu considero que esses oito anos foram extremamente proveitosos e harmoniosos. Quando você tem um conselho e tem, também, uma diretoria, é muito natural que os conflitos existam. Mas a gente sempre buscou se sentar, discutir, conversar e encontrar o consenso. E esse consenso, essa unidade, levou a esse crescimento e a esse fortalecimento da Fundação. Para mim, foram oito em que nós deixamos de ser “uma fundação” e passamos a ser “A Fundação”.
Pensar Verde:
Podemos afirmar, então, que o trabalho da Fundação Verde, nesses oito anos, foi para além do partido, serviu também à sociedade?
Ivanilson Gomes:
Sem dúvida. Mais até à sociedade, pois, a sociedade, na minha opinião, tirou mais proveito do que o próprio partido. Isso porque quando você fala para dentro é muito mais difícil. Quando você estabelece um projeto e uma dinâmica para a sociedade, a sociedade tira muito mais proveito. Nós entendemos, ao longo do tempo, que era melhor fazer os projetos voltados mais para a sociedade do que para o partido.
Pensar Verde: Por que essa conclusão?
Ivanilson Gomes: Quando você vai para um partido cujo tema, cuja bandeira principal é a questão ambiental, as pessoas que integram o partido acham que sabem tudo. E, portanto, tudo o que você formula, o que você traz naquela direção, as pessoas não participam com tanto entusiasmo, pois acham que já sabem. E quando nós fizemos projetos para a sociedade, a sociedade participou mais, aproveitou mais. Eu acho que esse foi o ganho. Por exemplo, nós fizemos o anteprojeto da criação do Jardim Botânico do Mato Grosso, desenvolvido com o governo do estado e bancado pela Fundação Verde.
Nós temos diversas experiências, tanto com a sociedade, quanto com militantes do partido e com governos. Nós ampliamos bem nosso leque. E, hoje, eu posso dizer que, em alguns casos, a Fundação Verde Herbert Daniel é até mais conhecida que o partido.
Pensar Verde:
Estamos vivendo um momento crítico para os pequenos partidos, entre eles, o PV. E se o PV está em um momento crítico, a Fundação Verde também. O que está sendo feito neste momento para a manutenção da Fundação Verde Herbert Daniel? E o que a nova gestão pode fazer para que a Fundação continue atuante?
Ivanilson Gomes:
Eu costumo dizer que em qualquer situação que você viva, seja em instituições, seja na sua vida econômica doméstica, você tem que se readaptar à nova realidade que lhe é colocada. E, no caso das instituições, quando as finanças passam por algum tipo de dificuldade, às vezes, é necessário buscar parcerias, até porque acreditamos no que está sendo feito, e que o que está sendo feito não pode parar.
A Fundação sofreu, como o partido está sofrendo, uma diminuição no repasse do Fundo Partidário em função exatamente da votação que o partido obteve nas urnas. Embora tenha feito um número maior de deputados, o voto nominal direto foi menor do que o da eleição passada. E isso se reflete diretamente na Fundação Verde. Como ela recebe duodécimo do partido, que é 20% de tudo o que o partido recebe, nós sofremos um corte linear imediato de 35%. Esse valor, quando são acrescidas algumas taxas, pode ultrapassar os 38%. Isso em uma realidade atual, de agora, pois isso pode, inclusive, mudar para uma situação ainda pior.
Pensar Verde:
Por que poderia piorar ainda mais?
Ivanilson Gomes:
Na medida em que alguns partidos venham a se fundir, ou criar federações, partidos esses que não atingiram a Cláusula de Barreira, eles passarão a receber do Fundo Partidário. Se isso ocorrer, haverá uma redivisão desse fundo, e nós poderemos sofrer ainda mais por motivo de corte.
Pensar Verde:
Como se precaver?
Ivanilson Gomes:
Aqui na Fundação, nós sempre buscamos fazer tudo com muito equilíbrio. E aí eu quero destacar não só o trabalho do José Carlos Lima [diretor-executivo], mas também o do Osvander Valadão, como diretor-financeiro. O papel do diretor-financeiro é sempre um papel chato, porque é o cara que tem de dizer não, que tem de puxar daqui e puxar dali. E ele fez um papel que nos dá certa tranquilidade para atravessarmos esse momento com mais equilíbrio. Isso porque nunca demos passos maiores do que tínhamos condições.
Com esse corte referente ao Fundo Partidário, claro que tivemos de fazer um corte linear para manter a Fundação funcionando, mas não teremos grandes traumas por conta, exatamente, de termos mantido nesses anos todos uma condição muito enxuta, que nos permitirá andar. A Fundação terá que se readaptar.
Pensar Verde:
Você falou, anteriormente, em fechar parcerias...
Ivanilson Gomes:
Sim, eu defendo a tese de que a Fundação pode e deve buscar parcerias. Acho até que, se formos capazes, podemos ter uma condição melhor do a que tínhamos antes. Porque se formos atrás de parceiros que acreditam que a gente consiga fazer o que nós fizemos até então, e que podemos fazer até mais, esses parceiros podem aparecer. Há muitas instituições e entidades que fazem trabalho com fundações, que têm recursos e que, às vezes, querem investir, mas, como não conhecem a Fundação, não sabem onde e nem em que investir. Defendo que a gente crie na FVHD um departamento de captação de recursos, porque somos uma fundação e podemos ter recursos não só do Brasil, como também de fora. Esse é um trabalho que nós teremos de redesenhar, exatamente pelo fato de a gente já não ter a mesma condição financeira que tínhamos antes. Mas o fato é que a gente só consegue fazer isso quando as coisas apertam.
Pensar Verde: Você foi um grande defensor dessa renovação na diretoria e no Conselho Curador. Principalmente, ao falar em um reparo histórico, defendeu que uma mulher deveria estar à frente da Fundação. Por quê?
Ivanilson Gomes: Nesse processo sucessório, sempre defendi – não apenas eu, mas também parte dos nossos conselheiros e diretores – que nós precisávamos fazer algumas mudanças aqui na Fundação. Tínhamos aqui pessoas que, legitimamente, se colocavam como possíveis candidatos a presidente. Mas defendi uma tese para fazermos um reparo histórico. Temos um Conselho
Curador de nove membros em que apenas um dos integrantes é mulher. Em toda a Fundação, unindo suplentes e Conselho Fiscal, temos três mulheres. Então, qual era o reparo histórico? Era exatamente colocarmos uma mulher como presidente. E isso foi feito com a eleição de Teresa Britto.
Teresa foi eleita a nova presidente da Fundação Verde Herbert Daniel, apesar de termos enfrentado algumas dificuldades na busca por essa unidade. Mas nosso argumento foi muito forte. Não podemos defender na sociedade o que não praticamos. Quando temos a oportunidade de fazê-lo, não fazemos, porque a gente acha que só o homem tem condições de dirigir uma instituição, um partido. E eu acho que a gente precisa demonstrar isso na prática. E a forma de demonstrar isso foi exatamente elegendo uma mulher, colocá-la no posto máximo aqui da Fundação, que é a presidência.
Ivanilson Gomes:
Olha, não que a recondução seja ilegítima, mas, para mim, uma eleição dá muito mais legitimidade. Acredito que o meu ciclo, enquanto presidente, se encerrou. E precisávamos ter algumas mudanças, dar uma oxigenada no Conselho Curador. Trouxemos algumas pessoas novas para o Conselho. Acreditamos que isso é um processo. É importante darmos sinais de que essa mudança dentro do Conselho deve ser contínua. E se nós fizemos algumas mudanças agora, trouxemos pessoas novas, daqui a quatro anos, nós traremos mais pessoas novas, até termos uma mudança de 100% do Conselho. Essa é a ideia. E a ideia de trazer uma mulher, uma vez que a Fundação nunca foi presidida por uma mulher... era importante dar essa demonstração para o partido, dar essa demonstração para a própria sociedade, trazendo uma mulher como presidente do Conselho e, consequentemente, presidente da Fundação.
Pensar Verde:
Qual a expectativa para os próximos quatro anos?
Ivanilson Gomes:
Agora, estamos iniciando um trabalho, conversando, para que Tereza possa, nesses quatro anos – com a capacidade de uma mulher, com a criatividade dela, com a experiência dela –, nos ajudar nesse momento em que a Fundação passa por dificuldades, não do ponto de vista da sua existência, de seus projetos, mas dificuldade econômica. Dizem que a mulher é muito mais econômica do que o homem, não é? Então, quem faz economia doméstica, faz um salário-mínimo virar dois, três, certamente saberá, dentro de uma instituição que não tem tantos recursos, fazer esse dinheiro se multiplicar ou, pelo menos, ser bem aplicado. Não que ele não estivesse sendo bem aplicado, mas o momento exige um olhar diferenciado para uma situação bem delicada. Então, a gente aposta muito nesses quatro anos com Teresa Britto como presidente.
Pensar Verde:
Por que essa renovação foi tão importante? Por que uma eleição e não somente uma recondução?
Então, essa renovação é importante para mostrar que todos têm capacidade e que a gente tem que ter esse ciclo, essa rotatividade dentro de uma instituição para não ficarem as mesmas pessoas sempre, para não ficarem os mesmos, eternamente, porque isso passa a informação de que ninguém mais tem capacidade de tocar aquele projeto, só uma pessoa. Isso, para mim, não é um sinal saudável. Então, eu acho que a gente precisa oxigenar e trazer mesmo pessoas novas. A Fundação tem que ser um celeiro.
E digo mais: sempre defendi aqui, e vou continuar defendendo, que a gente pode ter colaboradores e colaboradoras que não precisam, necessariamente, estar dentro do Conselho, ser presidente, ser diretor, mas que possam estar aqui dentro colaborando. Nós sempre colocamos isso à disposição do partido. Precisamos perder um pouco dessa ideia de que você só pode fazer alguma coisa se você tiver um cargo. E não é isso. Tem muita gente que é colaborador e colaboradora que não tem cargo nenhum.
E, às vezes, fica muito mais à vontade para sugerir, apresentar proposições, do que quem de fato está ocupando um cargo. Então, é isso. A renovação é necessária, importante, e isso é uma demonstração muito clara para os rumos a serem tomados pelo Partido Verde.