Desafios para uma agricultura sustentรกvel
República Federativa do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Reinhold Stephanes Ministro
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Conselho de Administração Silas Brasileiro Presidente Silvio Crestana Vice-Presidente Murilo Francisco Barella Derli Dossa Ernesto Paterniani Aloísio Lopes Pereira de Melo Membros Diretoria-Executiva da Embrapa Silvio Crestana Diretor-Presidente José Geraldo Eugênio de França Kepler Euclides Filho Tatiana Deane de Abreu Sá Diretores-Executivos
Embrapa. Assessoria de Comunicação Social. Desafios para uma agricultura sustentável / Embrapa, Assessoria de Comunicação Social. – Brasília, DF : Embrapa - Assessoria de Comunicação Social, 2009. 79 páginas.
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Agricultura sustentável. 2. Agropecuária. 3. Desenvolvimento agrícola. 4. Desenvolvimento social 5. Desenvolvimento econômico. I. Embrapa. Empresa Brasileira de Pesquisa II. Título. CDD 630.72
Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Assessoria de Comunicação Social
Desafios para uma agricultura sustentรกvel
Edição Assessoria de Comunicação Social (ACS) Edilson Fragalle Chefe da Assessoria de Comunicação Social Marita Féres Cardillo Coordenadora de Imprensa Luzmair Siqueira Santos Coordenadora de Eventos e Publicidade Gilceana Soares Moreira Galerani Coordenadora de Comunicação Interna Texto Renato Cruz Silva Texto sobre os casos do algodão e do milho safrinha Alberto R. Cavalcanti Colaboração Carlos Alberto Domingues da Silva Derli Prudente Santana Deva Rodrigues Edilson Fragalle Eduardo Pinho Rodrigues Elizabete Antunes Ester Lilian Alves Castro Flávio Ávila João Carlos Garcia José Carlos Cruz Seleção de Fotos Alberto R. Cavalcanti Deva Rodrigues Edilson Fragalle
Juliana Freire Luiz Antonio Laudares Faria Marita Féres Cardillo Napoleão Esberard Macedo Beltrão Renner Marra Rosângela Evangelista Rose Azevedo Ubiraci Rafael Gomes Vera Maria Carvalho Alves Vitor Moreno
Capa Arte a partir de imagem de Rubens Bernardes Filho, que captura a ação bacteriostática da própolis (áreas vermelho-amareladas) sobre a bactéria Staphylococcus aureus. Agradecimentos às Unidades Centrais e Descentralizadas da Embrapa Tiragem 3.000 exemplares
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.......................................................................................... 6 GESTÃO ESTRATÉGICA DA INOVAÇÃO.................................................... 8 Gestão da Inovação na Agricultura Tropical................................................................ 10 Inovação como Política de Estado.............................................................................. 12
CICLOS DE MATURAÇÃO TECNOLÓGICA: OS CASOS DO ALGODÃO E DO MILHO SAFRINHA......................................................... 14 Algodão: um salto para a modernidade......................................................................15 O nome da revolução: CNPA ITA 90........................................................................... 16 Sistema de produção................................................................................................. 18 A fibra do algodão, hoje.............................................................................................. 19 As novas cultivares da Embrapa................................................................................. 20 Os desafios da pesquisa do algodão.......................................................................... 21 Milho: a safrinha se tornou segunda safra de verão....................................................24 A contribuição da pesquisa: novas cultivares.............................................................. 26 Tecnologias de manejo............................................................................................... 27 Os Seminários Nacionais............................................................................................ 28 Os desafios da pesquisa............................................................................................ 29
GESTÃO ESTRATÉGICA INSTITUCIONAL............................................... 30 O PAC Embrapa......................................................................................................... 33
GESTÃO ESTRATÉGICA DOS RECURSOS.............................................. 34 Capacidade Intelectual............................................................................................... 36
Recursos Materiais..................................................................................................... 39 Recursos Financeiros................................................................................................. 41
GESTÃO ESTRATÉGICA DE P&D.............................................................. 44 Parcerias Estratégicas................................................................................................ 45 Novas Tecnologias e Conhecimentos......................................................................... 47 Agricultura Familiar..................................................................................................... 48 Agroenergia................................................................................................................ 50 Competitividade.......................................................................................................... 51 Gestão dos Territórios e Propriedades........................................................................ 56 Gestão dos Recursos Naturais................................................................................... 59 Segurança Alimentar.................................................................................................. 62 Segurança Ambiental................................................................................................. 65 A nova agenda de P&D tropical.................................................................................. 66 Parcerias internacionais.............................................................................................. 68
GESTÃO ESTRATÉGICA DA COMUNICAÇÃO E DOS NEGÓCIOS TECNOLÓGICOS.................................................................. 70 Apoio a Programas de Governo................................................................................. 74 Apoio à sociedade em geral....................................................................................... 75 Estímulo à Inovação.................................................................................................... 76 Expansão Internacional da Agricultura Tropical........................................................... 78
APRESENTAÇÃO Ao completar 35 anos, em 2008, a Embrapa promoveu um reencontro com suas origens. Consolidou-se como instituição de excelência em pesquisa, desenvolvimento, transferência de tecnologia, inovação e voltou a integrar, decisivamente, a agenda de desenvolvimento do Governo e do Estado brasileiros. Um marco em nossa história foi o anúncio oficial do Programa de Fortalecimento e Crescimento da Empresa, o PAC Embrapa, pelo presidente da República, em abril. De forma inovadora e buscando devolver a flexibilidade requerida ao seu modelo institucional, o Governo se compromete com investimentos extras de R$ 914 milhões até 2010, para o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), que abrange, também, organizações estaduais e universidades. Nossa responsabilidade se amplia desde aquele dia, e estamos respondendo com ações, como é próprio da Embrapa. Elaboramos um novo Plano Diretor para guiar os próximos anos e projetar o que perseguiremos até o 50° aniversário, em 2023. A agenda internacional avançou a passos largos, com nossa presença na Venezuela, na Inglaterra e a criação do laboratório virtual (Labex) na Coréia do Sul. No Brasil, ajustamos as necessidades e as demandas para a instalação de novas unidades de pesquisa nos estados de Mato Grosso, Maranhão e Tocantins e no Distrito Federal, uma nova unidade, a Embrapa Macroestratégia, terá a responsabilidade de prospectar cenários e planejar a adequada adaptação da Empresa ao futuro da pesquisa agropecuária, no Brasil e no mundo. Colhemos bons frutos com o Sistema Embrapa de Gestão (SEG), que administra nossa carteira de projetos. O maior destaque foi para a consolidação dos grandes projetos em rede de pesquisa, transferência de tecnologia e desenvolvimento institucional, que já começam a apresentar bons resultados: o de nanotecnologia, o de genômica animal – esforço que resultou em trabalhos recentes publicados na revista Science -, o de sanidade animal e vegetal, o de agricultura familiar, o de cadeias de oleaginosas, o de integração lavoura-pecuária-floresta, o de agroenergia e as plataformas de recursos genéticos e mudanças climáticas globais. Para atender a tantos compromissos, além dos investimentos em infraestrutura, ampliamos e renovamos nosso principal ativo, o quadro de pessoal. Também contamos com o forte apoio do Conselho de Administração (Consad) para agilizar uma das cláusulas do Acordo Coletivo de Trabalho, tornando os salários da Embrapa bastante ajustados e competitivos no mercado de empresas de estrutura similar à nossa. Estamos expostos a notícias sobre crises internacionais e outras adversidades próprias de um mundo competitivo e desafiador, mas superar desafios faz parte do DNA da Embrapa. Afinal, não podemos perder de vista a enorme contribuição da pesquisa para tornar a agricultura tropical viável e competitiva e, com isso, ajudar a superar a própria crise. Basta observar a geração de excedentes para a exportação de produtos agrícolas; a geração de empregos e a fixação da
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Na mesma cerimônia em que anunciou o PAC da Embrapa para alavancar novo ciclo de conquistas tecnológicas, o presidente Lula homenageou Luiz Fernando Cirne Lima, o ministro da Agricultura que em 1972 propôs a criação da Embrapa.
Eraldo Peres
população rural – hoje são 31 milhões 368 mil brasileiros morando no campo; a queda no preço da cesta básica - apesar da ameaça internacional de crescimento no preço dos alimentos, além da contribuição para a energia renovável, especialmente os biocombustíveis.
Um novo ciclo da agricultura tropical emerge e, para ter êxito, a Embrapa – que tem passado por um período de revitalização desde 2005, que culminou, ano passado, com a implementação do PAC – busca a modernização gerencial, maior eficiência no uso de recursos, agilidade e flexibilidade para parcerias público-privadas estratégicas para a inovação, e assim atualização para o modelo institucional da empresa. O que trazemos nestas páginas é o resultado de um esforço coletivo, da Diretoria Executiva, dos chefes, gerentes e dos empregados, traduzido por uma demonstração inequívoca do valor da credibilidade da Embrapa perante os poderes executivo, legislativo e judiciário do País, bem como para a iniciativa privada, as instituições parceiras do Brasil e do exterior e os movimentos sociais com os quais interage. Essa credibilidade, na esfera governamental, se traduz no apoio decisivo do Presidente da República; Vice-Presidente; Casa Civil; Ministérios da Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento Agrário, Relações Exteriores, Fazenda, Planejamento, Orçamento e Gestão, Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Aquicultura e Pesca entre outros. Para a sociedade brasileira, mais do que uma data comemorativa, os 35 anos da Embrapa, representam o compromisso do Governo em instrumentalizar a Empresa para o presente e o futuro, com políticas públicas que, de acordo com nosso Balanço Social, proporcionaram um retorno de R$ 13,55 para cada Real investido já em 2008. Nos próximos anos, esses investimentos e essas políticas públicas deverão gerar novas tecnologias, produtos, serviços e inovações para reduzir as desigualdades regionais, inserir o Brasil de forma soberana na globalização, com desenvolvimento econômico, social e ambiental. São os desafios para uma agricultura sustentável. Boa leitura! Reinhold Stephanes Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Silvio Crestana
Diretor-Presidente da Embrapa
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GESTÃO ESTRATÉGICA DA INOVAÇÃO
G E S TÃ O E S T R AT É G I C A D A I N O VA Ç Ã O
Ainda que, ao longo das eras, a Natureza, na sua evolução, promova inovações espontâneas, criando novas entidades biológicas, físicas e químicas, a Inovação é, em sua maior parte, um fenômeno social e econômico. De maneira simples, pode-se dizer que a inovação resulta do esforço constante e deliberado que as pessoas e as instituições fazem para criar novos conhecimentos e, a partir destes, desenvolver novos materiais, produtos e receitas de solução de seus problemas de produção, consumo e relacionamento e, num jogo de mútua e recíproca influência, absorver e usar esses novos conhecimentos, produtos e receitas, alterando hábitos e estilos e qualidade de vida. Deixada ao seu pulsar natural, a evolução do conhecimento e da inovação não é linear. Ela tende a ser errática, inconstante, se dá aos saltos, em todas as direções, com altas doses de imprevisibilidade. Em parte, isso ocorre porque não há como prever quando se vai obter o conhecimento necessário para uma dada inovação, como nos ensinam muitas das pesquisas médicas. De outra parte, porque desse processo participam todas as pessoas, sem exceções, como atores independentes, em momentos e locais desconexos e descoordenados, fazendo escolhas unilaterais e aleatórias, como criadores ou como usuários, que vão eleger alguns conhecimentos e hábitos, relegar outros ao ostracismo e, assim, determinar a direção da inovação. Uma das características mais importantes da inovação é que ela cumpre ciclos de maturação: como nascem de uma mesma base científica, cultural e ambiental, os conhecimentos e as tecnologias vão se acumulando até que, de tempos em tempos, mercê de sua criação e refinamento pelos cientistas e apropriação e ajustes adaptativos pelos usuários, parte deles se cristaliza em conjuntos de produtos e práticas e novos hábitos a esses alinhados. Chega-se a um ponto em que os conhecimentos e as tecnologias consolidados não atendem mais aos novos hábitos. Há, assim, a ruptura de consagrados padrões econômicos, sociais e culturais.
Bruno Peres
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Tal ruptura amplia as fronteiras do conhecimento, estabelece patamares tecnológicos e culturais mais sofisticados e padrões de produtividade mais altos, traz à luz novos atores e estilos de vida para um dado povo, dando-lhe vantagens comparativas, maior competitividade, influência e poder, o que explica, desde os primórdios da Humanidade, as desigualdades econômicas, tecnológicas e sociais e os conflitos entre os povos. Em resposta a essas características e consequências, empresas e governos fazem esforços de gestão estratégica da Inovação, que busca exatamente reduzir tal erraticidade, inconstância e imprevisibilidade na geração do conhecimento requerido, substituindo-as por diagnósticos, monitoramentos, prospecção antecipada de problemas, demandas e necessidades, orientação dos investimentos em conhecimento e organização dos fluxos de geração de tecnologias e, por conseguinte, das escolhas dos potenciais usuários, que se tornam assim menos aleatórias e mais compromissadas com objetivos de crescimento e bem-estar de seus povos. Almeja, assim, a distribuição mais equânime das oportunidades de inovação, a seleção e priorização de uma agenda que contemple os desenvolvimentos tecnológicos definidos como os mais urgentes e promissores, o aumento das alternativas tecnológicas para escolha dos usuários, para induzir maior frequência na maturação de ciclos de inovação, de maneira a ampliar seus benefícios econômicos e sociais e a reduzir as desigualdades. Em suma, a gestão estratégica da inovação procura conciliar os esforços públicos e privados, os recursos e as exigências ambientais, econômicas e sociais, para não deixar que a sua evolução ocorra ao acaso e para garantir que produza as consequências desejadas.
Gestão da Inovação na Agricultura Tropical No cenário da inovação agrícola, a construção da Agricultura Tropical, nos últimos 35 anos, tem sido uma das experiências que melhor atestam a importância e sucesso de uma gestão estratégica da inovação atenta às características e necessidades intrínsecas do processo de construção e apropriação do conhecimento.
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Num primeiro momento, era uma questão de segurança alimentar e, predominantemente, um problema de quantidade: o bem-estar social e econômico do Brasil requeria a diversidade e estabilidade na oferta de alimentos e a produção de excedentes exportáveis. Depois incorporou a preocupação com múltiplos aspectos de qualidade: gestão de recursos naturais, gestão de territórios e propriedades, defesa contra riscos climáticos, enriquecimento nutricional, boas práticas agrícolas, busca da inclusão social, redução das desigualdades regionais, aumento da capacidade de competitividade internacional, etc. Desde então, a gestão estratégica da inovação, coordenada pela Embrapa, prioriza a ampliação da capacidade criativa, mediante contratação de cientistas treinados em habilitações sofisticadas e a manutenção de uma extensa e bem equipada rede de laboratórios e campos experimentais, focados em produtos (grãos, carne, leite, florestas, frutas, hortaliças, etc.), em temas (solos, recursos genéticos, informática agropecuária, etc.) e em biomas (Amazônia, Cerrados, Semiárido, Pantanal, etc.). No plano da agenda tecnológica, prioriza o inventário dos recursos naturais, sua avaliação para aproveitamento sustentável em sistemas de produção de alimentos, fibras, essências e energia, e a adaptação de recursos naturais exógenos a esses sistemas e biomas. Dessa maneira, a inovação da agricultura brasileira tem vivido múltiplos e simultâneos ciclos de maturação tecnológica. Os mais notórios foram a transformação dos solos pobres dos cerrados em “terra de cultura” de altíssima produtividade, a tropicalização da soja, do milho, de hortaliças e fruteiras de clima temperado (maçã, uva e morango, etc.) e o cultivo irrigado no inverno dos cerrados e de frutas no semiárido.
Bruno Peres
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Igualmente importantes são a consolidação do uso da fixação biológica de nitrogênio em substituição aos adubos químicos no cultivo de leguminosas (soja, feijão, ervilha, etc.) e da regionalização de gramíneas para instalação de pastagens com maior capacidade de suporte animal. Mais recentemente, dessa mesma base de conhecimentos, eclodiram os ciclos tecnológicos do renascimento da cotonicultura e do estabelecimento da “safrinha” de milho como segunda safra de verão, descritos nas seções a seguir. O mais importante, já medido e comprovado, é que os ciclos de maturação tecnológica da área agrícola induzem o mesmo no segmento industrial, como exemplificam a criação da indústria de máquinas e implementos para o plantio direto, e a indústria do etanol, que une a produtividade das lavouras, a eficiência energética das usinas e a sofisticação do “carro flex” num continuum único de ganhos ambientais. Essa sucessão de induções tecnológicas é um dos fatores mais importantes para a sustentabilidade do processo de inovação e para o desenvolvimento do País. Por isso, é vital que a gestão estratégica da inovação conte com elevado grau de flexibilidade para redefinir estratégias, redirecionar a alocação de recursos, fazer novos investimentos, abrir novas rotas de crescimento, em busca desses ciclos de maturação tecnológica que que dão segurança ao desenvolvimento brasileiro.
Inovação como Política de Estado É razoável afirmar que o sucesso da gestão estratégica da inovação na agricultura – que, com esses ingredientes e resultantes, a transformou em motor do desenvolvimento econômico e social do Brasil – tenha sido um dos determinantes para que a Inovação se tornasse Política de Estado. Foi uma mudança revolucionária no Brasil já que, até então, a Inovação era uma atividade colateral nos programas de formação profissional das universidades brasileiras.
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A partir desse momento, a C&T foi entronizada como pilar da nova política brasileira de Segurança Nacional. Sua gestão foi entregue aos cuidados de um ministério e marcos legais importantes, como as leis de patentes e de cultivares e, mais recentemente, a Lei de Inovação, trataram de viabilizar a associação dos esforços públicos e privados neste setor. Tais desdobramentos trouxeram impactos importantes para a gestão estratégica da Inovação porque, como Política de Estado, tem recebido apoio decisivo não só da Presidência da República, mas também de órgãos setoriais decisivos, como os Ministérios da Ciência e Tecnologia, da Fazenda, do Planejamento, das Relações Exteriores, do Desenvolvimento Social, do Desenvolvimento Agrário, do Meio Ambiente e da Indústria e do Comércio e outros. No caso gestão estratégica da inovação agrícola, uma das mudanças mais desafiadoras foi a sua instituição como instrumento da Política Externa Brasileira e, em particular, da Diplomacia Presidencial: a competência científica estabelecida pela Embrapa e pelo Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, e o seu concurso na solução dos problemas de tecnologia de produção de alimentos, fibras e de energia na condição tropical, tem sido um diferencial positivo não só nas negociações encetadas pela Agência Brasileira de Cooperação, do Ministério das Relações Exteriores, mas, sobretudo, na agenda diplomática do Presidente da República. Para a Embrapa, tal desdobramento resultou, em 2008, na consolidação de sua presença internacional, tanto na linha de geração de novos conhecimentos e tecnologias com a ampliação do projeto Labex (Laboratório Virtual no Exterior), na Inglaterra e Coréia do Sul, quanto na componente de transferência de tecnologias tropicais já consagradas para a África e a América Latina.
Gilberto dos Santos Jr.
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Ciclos de maturação tecnológica: Os casos do algodão e do milho safrinha
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Paulo Kurtz
Algodão: um salto para a modernidade A chegada da cultivar CNPA ITA 90 ao mercado de sementes, em 1992, foi o momento zero do relançamento da cotonicultura brasileira. Ali, a Embrapa colocava à disposição do setor produtivo a primeira variedade de algodão moderna, adequada às condições do cerrado brasileiro, capaz de atender às novas exigências da indústria têxtil e, simultaneamente, alcançar índices de produtividade recompensadores para o produtor. Desde sua adoção por expressivo número de agricultores, principalmente a partir da safra 1997/1998, a produção brasileira de algodão vem crescendo com incomum vigor. A produtividade da lavoura, medida em kg/ ha, alcançou nas duas últimas safras os índices mais elevados do mundo para cultivo sem irrigação, além de superar a da maioria dos países que realizam o cultivo irrigado, a exemplo da Austrália, China e Espanha, e quase o dobro da dos Estados Unidos.
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De todas as culturas anuais, a do algodão é a que experimentou a maior elevação de rendimento no Brasil, quando comparamos o patamar atual com o do início dos anos 1970. O crescimento foi da ordem de 600%. A contribuição da pesquisa destaca-se entre as causas desse progresso, principalmente pela síntese de novas cultivares. O avanço da produção no cerrado, propiciado por essas cultivares, conquistou para o algodão ambiente produtivo mais regular, quanto ao regime de chuvas, do que o do semiárido. Contudo, esses ganhos foram descontínuos. Após a entrada do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) no País, na primeira metade da década de 1980, a cotonicultura brasileira viu-se crescentemente ameaçada. Além da praga natural, também uma série de medidas de política de comércio exterior, no início dos anos 1990, estimulou a importação e onerou pesadamente o produto interno. Em consequência, o encolhimento da área cultivada e a redução global da colheita foram consistentes no período 1985-1997. O cultivo da malvácea marchava para a extinção: a área de algodão herbáceo colhida em 1997 limitou-se a menos de 28% da de 12 anos antes e a produção reduziu-se a menos de um terço. Ao mesmo tempo, quase desaparecia o algodão arbóreo ou “mocó”, do Nordeste, que fornece fibra resistente, fina, de longa a extra longa, com até mais de 40mm. Desmanchava-se boa parte de cadeia produtiva baseada primordialmente no suprimento interno da fibra à indústria têxtil. A agricultura brasileira ia perdendo uma de suas opções historicamente mais consolidadas. Com o começo do novo ciclo, inicialmente baseado na excelente adaptação da CNPA ITA 90 às condições produtivas dos cerrados, tal quadro desolador em pouco tempo foi revertido. De grande importador da pluma, em meados dos anos 1990, o Brasil voltou a apresentar-se como grande exportador, a ponto de provocar reações protecionistas em alguns países, que tentaram resistir à nova competitividade do algodão brasileiro.
O nome da revolução: CNPA ITA 90 A Embrapa Algodão desenvolveu essa cultivar com a colaboração do Grupo Itamarati que, interessado em romper com sua dedicação quase exclusiva ao plantio da soja, proveu infraestrutura de experimentação e produção e compartilhou com a Embrapa despesas de custeio de ambicioso programa de melhoramento genético, orientado para gerar novas cultivares de algodão adaptadas ao cerrado. Para enriquecer sua própria base de material genético, a Embrapa importou linhagens de algodão de instituições de pesquisa da Argentina, Austrália, Egito, Estados Unidos, México e
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outros países. A CNPA ITA 90 foi o material que, de início, mais se destacou em produtividade e qualidade da fibra. Concluída a fase de pesquisa em 1990, o material tornou-se efetivamente disponível para o setor produtivo em 1992. A partir daí se impôs paulatinamente, conquistando a preferência do cotonicultor no Mato Grosso e demais estados do Centro-Oeste, vindo a tornar-se, por ampla margem, a cultivar mais semeada no final da década.
Eleusio Curvelo Freire
Desde então, o mercado de sementes tem sido disputado por novas variedades, inclusive geneticamente modificadas. Embora a CNPA ITA 90 ainda detenha parcela significativa desse mercado, deixou de ser preponderante. Está superada por outros materiais mais recentes, providos tanto pela Embrapa, com 10 novas cultivares, quanto por outras fontes. Vigor produtivo da Embrapa ITA 90, em lavoura no Mato Grosso do Sul, (2002).
A pesquisa agrícola voltada para o algodão vem se ampliando e a iniciativa privada tem desempenhado papel relevante nessa ampliação. Deve ser registrado o descortino de governos estaduais, como os da Bahia, Goiás e Mato Grosso, que criaram fundos de fomento à pesquisa nos anos 1990. Fundações privadas sem fins lucrativos, em parte custeadas por recursos desses fundos, passaram a investir em pesquisa. Muitas vezes em parceria com a própria Embrapa, vêm participando cada vez mais da geração de novas cultivares e da elaboração de novas recomendações técnicas, mais conformes às condições de diferentes regiões produtoras.
Campo experimental da Embrapa em Santa Helena de Goiás, onde são desenvolvidos projetos de pesquisa em parceria com a Fundação Goiás.
Camilo Morello
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Sistema de produção A sustentabilidade do relançamento da cotonicultura brasileira baseia-se em conjunto de técnicas que vai além dos novos materiais genéticos. O sistema recomendado pela Embrapa para produção de algodão em grande escala no cerrado contempla: • plantio direto ou semi-direto, para proteger o solo e enriquecê-lo de matéria orgânica, reter umidade nos veranicos e limitar naturalmente a emergência de plantas daninhas, entre outras vantagens; • manejo integrado de pragas, para limitar a aplicação de inseticidas; • mecanização de todas as etapas do processo produtivo; • uso de reguladores do crescimento e de maturadores da planta; • beneficiamento da fibra na própria fazenda, com classificação, descaroçamento, prensagem e enfardamento da pluma, o que permite eliminar uma etapa de intermediação, diminuir os custos de manipulação e transporte da safra e, portanto, aumentar a eficiência da cadeia produtiva, retendo mais renda no segmento rural dessa cadeia.
Os fardos, devidamente identificados quanto à origem e classificados sob as sete características próprias da moderna comercialização, vão do campo diretamente à indústria têxtil. O caroço do algodão – matéria-prima para a produção do óleo comestível e da torta, que serve à alimentação animal – bem como o línter (fibras curtas, menores que meia polegada) tornam-se fontes adicionais de receita para o empreendimento agrícola ou, mediante o aproveitamento na propriedade, contribuem para reduzir seus desembolsos. Já há hoje cerca de 400 propriedades produtoras de algodão que beneficiam diretamente a fibra.
Enfardamento do algodão descaroçado, na propriedade rural.
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A fibra do algodão, hoje Os modernos equipamentos de fiação e tecelagem, adotados no Brasil sobretudo a partir de 1990, impuseram notáveis mudanças nas práticas comerciais da fibra de algodão, com importantes repercussões sobre o setor produtivo rural. Instrumentos de precisão substituíram antigas práticas artesanais. Novos indicadores de qualidade da fibra tornaram-se indispensáveis e são determinados já no beneficiamento da pluma. A uniformidade da fibra a ser colhida é agora item muito mais relevante no planejamento e condução da lavoura do que há 20 anos. Por isso, o relançamento da cotonicultura brasileira vai muito além dos ganhos em produtividade física. O novo algodão produzido no País também corresponde a padrões de qualidade mais exigentes, que a pesquisa agrícola teve que atender. Até poucas décadas atrás, o mercado absorvia toda a fibra produzida no campo, aplicando variados deságios às partidas do produto que não alcançavam padrões médios. O comprimento da fibra era o critério fundamental de apreçamento; o padrão esperado era de 30-32mm. Mas, mesmo a fibra de 26-28mm encontrava demanda. Inexistiam, entre os critérios de classificação do algodão em bruto nas regiões produtoras, aferições de finura e resistência da fibra. Hoje dificilmente encontra aceitação a fibra com menos de 30mm de comprimento, a não ser para produtos mais toscos, como pano de prato e sacaria. O padrão evolui para estabelecerse no intervalo 32-34mm. Hoje, a resistência da fibra deve situar-se acima de 28 gramas-força por unidade de densidade (gf/tex) para ter aceitação Francisco Farias na indústria, sendo o ideal acima de 30gf/tex. No passado recente, era comum o algodão brasileiro situar-se na faixa de 22 a 25gf/tex, havendo até mesmo casos de 18gf/tex. Por outro lado, o índice micronaire de finura da fibra deve agora situar-se entre 3,2 e 4,2 microgramas por polegada linear. Antes, esse índice era praticamente desconhecido pelo cotonicultor que, por isso, podia inadvertidamente fornecer fibra muito fina ou grossa, fora da atual margem de aceitabilidade. Noutra perspectiva, na ponta da produção, o cotonicultor demanda cultivares cujo rendimento seja igual ou superior a 3.750kg (250 arrobas) de algodão em caroço por hectare, com participação da fibra acima de 40% do peso dos “drenos úteis” (fibra + caroço), o que equivale a 1.500kg de pluma por hectare.
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As novas cultivares da Embrapa Os materiais que a Embrapa tem lançado nos últimos oito anos respondem a essas exigências: são cultivares competitivas em termos agronômicos, econômicos e industriais. Elas têm sido testadas em diferentes regiões produtoras e seu desempenho é cotejado com o de todas as principais variedades existentes no mercado. A Embrapa detém hoje uma população de base – formada por mais de duas dezenas de genótipos diferenciados – da qual saem todas as novas cultivares para os cerrados e para as outras regiões do Brasil que cultivam essa malvácea. É a partir desse acervo que nossos pesquisadores fazem as combinações de características ótimas almejadas, para responder às demandas dos produtores das diversas microrregiões. Além do potencial genético de produtividade, os pesquisadores da Embrapa têm dedicado especial atenção ao tópico da múltipla resistência a doenças. A ampliação da área cultivada com algodão no Centro-Oeste e no oeste da Bahia tem dado ensejo à manifestação de novas doenças do algodoeiro, causadas por distintos agentes patogênicos: bactérias, fungos, vírus. O encurtamento do ciclo produtivo e o crescimento determinado têm sido outras variáveis relevantes incorporadas aos critérios de seleção de linhagens a combinar nos projetos de melhoramento.
Camilo Morello
A cultivar BRS 286 (Pequi), desenvolvida em parceria com a Fundação Bahia e lançada em 2008, concilia várias características desejáveis: alta produtividade de pluma, crescimento vegetativo moderado, precocidade de maturação e níveis satisfatórios de resistência a doenças. Está sendo inicialmente indicada para o oeste da Bahia, onde o período chuvoso é mais curto que nas demais regiões produtoras integrantes do cerrado.
A cultivar BRS 269 (Buriti), lançada em 2006, embora de porte elevado e ciclo longo, tem sido significativamente plantada e buscada para licenciamento por numerosos sementeiros. Destaca-se pela rusticidade e elevados índices de produtividade em ambientes menos favoráveis, principalmente devido ao seu excelente nível de resistência à ramulária, elevada resistência às demais doenças e menor apodrecimento de frutos, do que decorre menor número de
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aplicações de fungicidas. E, por outro lado, a Buriti responde muito positivamente à melhoria das condições de ambiente – elevadas altitudes, adequado nível de fertilidade do solo –, nas quais seu rendimento em pluma é superior a 40% e a fibra apresenta excelente qualidade, principalmente em comprimento, superior a 31mm. A cultivar BRS Aroeira, lançada em 2001, possui elevado vigor de crescimento e destacase pela rusticidade. Resiste a múltiplas doenças (viroses, bacteriose e ramulose) e tolera o complexo fusarium-nematóide de galha. Possui excelente qualidade de fibra quanto aos três critérios: resistência, comprimento e micronaire. Essa cultivar ensejou a continuidade da cotonicultura em condições de baixa altitude em Goiás. Embora tenha sido superada a partir de 2005 pelas novas cultivares, na cotonicultura em grande escala, continua sendo preferida atualmente na agricultura familiar em Goiás e na Bahia.
Os desafios da pesquisa do algodão A produtividade média brasileira de algodão herbáceo na safra 1998/99 foi 55,3% maior que a da safra anterior. Esse foi um salto extraordinário, muito difícil de igualar em qualquer tempo e lugar, para qualquer produto, num cultivo cuja área se conta às centenas de milhares de hectares. É ainda mais espantoso ao considerar-se que não foi número isolado, mas, sim, parte de incrementos anuais em série que, quase sem falha, prolonga-se desde a safra 1996/97 até 2007/08. Exceção feita a anos de clima muito desfavorável ou de excepcional aperto do crédito rural, a produtividade da cotonicultura brasileira continua a crescer expressivamente. Médias trienais, que anulam os acidentes pontuais, continuam a registrar o vigor desse impulso modernizador. Por exemplo, a produtividade média das três safras colhidas de 2006 a 2008 foi 15,2% maior que a do triênio anterior.
Francisco Farias
Contudo, há desafios importantes no caminho dessa cotonicultura, no que toca à sua sustentabilidade econômica e ambiental. O algodoeiro é muito atraente para diversos insetos. Seu cultivo ocupa apenas 2% de toda a área explorada pela agricultura no mundo, mas consome cerca de 25% do inseticida aplicado em todas as lavouras. E está sujeito a dezenas de doenças.
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É, ademais, planta de crescimento indeterminado, isto é, continua a desenvolver-se após a floração. Vários de seus ancestrais silvestres são perenes e alcançam mais de 14 e até 20m de porte. Daí decorre que sua domesticação, em termos modernos, tem obrigado à aplicação de redutores de crescimento e maturadores, que são outras substâncias químicas agressoras do ambiente. E tudo isso também representa custo de produção. Os desafios postos à pesquisa passam necessariamente pelo desenvolvimento de plantas mais resistentes ou tolerantes a doenças e a insetos, que sejam espontaneamente precoces e menos dependentes de reguladores de crescimento e de maturadores. Sua precocidade deve, inclusive, ser capaz de propiciar o cultivo de uma “safrinha”. Isto é, a exemplo do que já ocorre com o milho, deve ensejar o plantio após a colheita de uma primeira lavoura de ciclo curto, semeada “no cedo”, e desde que observado o “vazio sanitário” que compõe a estratégia de controle do bicudo. As novas cultivares devem conciliar o atendimento a essas exigências com elevadas produtividades em bruto e em pluma, além de proporcionar fibra de qualidade, segundo todos os critérios do moderno processamento industrial. E, tendo em vista a demanda energética, o caroço deve apresentar elevado teor de óleo, igual ou superior a 25% do seu peso. Para reduzir o uso de fungicidas, busca-se desenvolver a resistência genética a doenças. E o manejo da safra deverá ser mais atento ao controle do microclima, de modo que as associações prevalecentes de temperatura e umidade sejam menos favoráveis à proliferação dos fungos que afetam o algodoeiro.
LUCRO SOCIAL DE
R$ 18,3 BILHÕES em apenas 112 tecnologias
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É grande a demanda para a síntese de cultivares modificadas geneticamente, via DNA recombinante, em especial para viabilizar o convívio com o bicudo-do-algodoeiro e essa pesquisa já está em andamento na Embrapa. A esse pacote de imposições e expectativas devem agregar-se as novas variáveis postas pelas mudanças climáticas globais. Dado que o algodoeiro é bastante suscetível às diferentes condições de temperatura e umidade, manipulações genéticas vão se impor na construção, via engenharia genética, e na seleção, por meio de melhoramento convencional, de genótipos capazes de suportar os padrões vindouros de eventos climáticos, tais como secas e temperaturas acima da faixa de normalidade. É com essa paleta de exigências que os pesquisadores da Embrapa estão trabalhando no presente.
1973
1976
1979
1982
1985
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1991
1993
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1999
2002
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Milho: a safrinha se tornou a segunda safra de verão Um cultivo marginal, feito fora da época e em condições climáticas desfavoráveis, quase inexistente há pouco menos de 30 anos, cresceu tanto e estendeu-se a regiões tão diversas que se tornou componente fundamental das cadeias produtivas que têm na produção e no consumo do milho um item importante. Em 2008, a “safrinha” de milho das regiões que formam o Centro/Sul do Brasil forneceu mais de 30% da produção desse grão no País. Sucesso tão extraordinário tem sido possibilitado, entre outros fatores, pelo aporte de conhecimentos e tecnologias providos pelas entidades brasileiras de pesquisa agrícola. Teve início no Paraná, por volta de 1978-1979, a disseminação do plantio extemporâneo do milho, nos meses de dezembro a fevereiro, em seguida à colheita de outro grão – geralmente a soja precoce ou o feijão “das águas” –, ou nas entrelinhas de plantio prévio de milho, quando este atingia a maturação fisiológica e o colmo podia ser dobrado.
Atividade arriscada do ponto de vista agronômico e por isso, em princípio, fadada a permanecer marginal ou mesmo a extinguir-se, foi denominada “safrinha”. Do ponto de vista do produtor, o risco era compensado pelas melhores condições de comercialização, após o auge da oferta da safra normal. Por outro lado, esse risco era mitigado pela limitação de desembolsos, decorrente da baixa utilização de insumos adquiridos fora da propriedade. Nos primeiros anos, recorria-se a sementes salvas de colheita anterior e nenhum fertilizante era aplicado. A condução da lavoura resumia-se a plantar e a colher, sendo entremeada por alguma capina manual ou mecânica. Paulo Guimarães
Nessas condições, o milho era produzido a custo reduzido e, por ser comercializado em época mais favorável, proporcionava retorno econômico satisfatório. Apresentava a vantagem adicional de manter o solo coberto durante o inverno e fornecia a palha essencial para a implantação adequada do sistema de plantio direto, cuja adoção era crescente no Paraná. Assim, novos produtores foram aderindo ao cultivo tardio.
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A partir de 1984, a antiga Comissão de Financiamento da Produção, hoje sucedida pela Conab, passou a destacar o milho “safrinha” em seus relatórios mensais de avaliação de safras. Nesse ano, estimou que a produção tardia do Paraná contribuía com 381.500 t para a produção brasileira de cerca de 21,2 milhões de toneladas, representando, portanto, apenas 1,8% do total. Em 1990, as estimativas passaram também a computar uma pequena produção paulista. Os dois estados colheram 450 mil toneladas em 256 mil hectares, com produtividade de 1.758kg/ha. Daí, a expansão ocorreu na direção do Mato Grosso do Sul, Goiás e, mais recentemente, Mato Grosso. Apenas dezoito anos depois, em 2008, segundo a Conab, a “safrinha” alcançou 18,1 milhões de toneladas, quase 20% a mais que toda a produção anual brasileira no biênio 1978-1979. No período, o crescimento da colheita tardia foi superior a 3.900%, com a taxa geométrica anual situando-se na impressionante marca de 22,7%.
Mato Grosso disputa hoje com Minas Gerais o posto de segundo maior estado produtor de milho do Brasil, mas a maior parte de sua produção é colhida na safrinha. Essa produção regional tem acompanhado o expressivo desenvolvimento da suinocultura e da avicultura no CentroOeste, onde se beneficia da disponibilidade de milho a preço mais favorável do que em outras regiões do Brasil, sobretudo na entressafra. Essas atividades, consolidadas e em evolução constante no Sul, ganham agora nova dimensão no País e reforçam ainda mais a pauta do comércio exterior brasileiro. Por outro lado, as melhorias na infraestrutura de transporte na região Centro-Oeste têm facilitado o escoamento da produção do cereal, inclusive de parcelas destinadas à exportação.
Olimpio Filho
O rendimento da safrinha alçou-se a 3.810 kg/ha, mais que o dobro da registrada nas safrinhas de 1990-1991. Seu crescimento geométrico anual, de 4,4%, acompanha de perto a elevação da safra normal, cuja taxa foi de 4,7% ao ano. Na última década, o diminutivo perdeu a razão de ser. A vigorosa colheita extemporânea de milho passou a ser denominada segunda safra.
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A contribuição da pesquisa: novas cultivares O mercado de sementes de milho é dos mais disputados, dentre os de insumos agrícolas. A superior produtividade das cultivares híbridas, em comparação com as variedades, representa poderoso estímulo ao investimento do setor privado. Sujeito à redução do potencial produtivo e perda de uniformidade a partir da geração seguinte, o grão obtido do plantio de sementes híbridas tem menor viabilidade econômica para a semeadura de safras subsequentes. O produtor comercial de milho retorna todos os anos aos fornecedores de sementes. Essa constância da demanda confere extraordinário dinamismo ao mercado de sementes de híbridos.
É vultoso o investimento do setor privado no desenvolvimento de novas cultivares. Estima-se que existam atualmente em oferta no mercado cerca de 330 diferentes cultivares de milho, entre híbridas e variedades. As firmas particulares, em seu conjunto, dominam o mercado, tanto na primeira quanto na segunda safra. A Embrapa participa com 26 cultivares, sendo oito híbridos simples, cinco duplos, cinco triplos e oito variedades.
Leonardo Rocha
A entrada da Embrapa no segmento dos híbridos deu-se em 1989, com a oferta do híbrido duplo BR 201. Sua chegada sacudiu um mercado que parecia tender a certa acomodação. As cultivares híbridas criadas pela Embrapa foram muito bem recebidas. Incluídas as BR 205 e 206 (duplos) e a BR 3123 (triplo), a participação da Empresa nesse segmento chegou ao auge em meados da década de 1990, com cerca de 16%. O setor privado reagiu à perda de participação no mercado e lançou novos materiais, muitos deles de excelente qualidade e altamente competitivos.
Todavia, tanto os programas de melhoramento públicos quanto os privados ainda estavam, naquela década, direcionados para a geração de cultivares para as condições da safra de verão, e não para as condições adversas da segunda safra. Numa primeira fase, os produtores de milho da segunda safra evoluíram das sementes de segunda geração, utilizadas nos primeiros anos, para as variedades, cujas sementes em geral custam menos que as de híbridos. Foi assim que começaram a melhorar o perfil tecnológico da segunda safra sem elevar demasiadamente os dispêndios.
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Por seu lado, os pesquisadores avaliaram as perspectivas de expansão do novo cultivo e deram início a amplo ciclo de testes das cultivares já disponíveis, de modo a poder indicar as de melhor desempenho nas condições da segunda safra. Posteriormente passaram a incluir materiais genéticos de maior potencial produtivo e de ciclo precoce e superprecoce em seus programas de desenvolvimento de novas cultivares, tendo em vista o plantio extemporâneo. Daí resulta o amplo número de opções de cultivares híbridas hoje disponíveis para o produtor de grãos, o que favorece tanto a 1ª quanto a 2ª safra. Dentre os materiais do atual portfólio da Embrapa, os híbridos simples BRS 1010, 1030, 1031, 1035 e 1040, os híbridos duplos BRS 2223, 2020 e 2022, e os híbridos triplos BRS 3035 (superprecoce) e 3025 apresentam bons rendimentos nas regiões produtoras da segunda safra.
Tecnologias de manejo Além do desenvolvimento de cultivares próprias, as organizações de pesquisa do setor público apoiam a produção da segunda safra com recomendações de manejo das lavouras, definição de riscos em função de épocas de plantio – o que permite indicar as regiões adequadas e estabelecer a cobertura de seguro agrícola – e avaliações comparativas de rendimento de diferentes materiais em cada região. Em 1985, quando a 2ª safra correspondia a apenas um sétimo da produção paranaense de milho, pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) já realizavam em duas regiões do estado ensaios comparativos, abrangendo 16 diferentes cultivares. Dois anos depois, realizaram novos ensaios, testando 21 cultivares tardias e 21 precoces, provenientes de uma dezena de diferentes empresas. Olímpio Filho
Ao trabalho pioneiro do IAPAR foram se somando contribuições muito importantes do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), da Empresa de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Mato Grosso do Sul (Empaer-MS), da Embrapa Milho e Sorgo, Embrapa Agropecuária Oeste e Embrapa Soja, entre outras, além de universidades e de empresas e entidades do setor privado.
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Os resultados obtidos permitiram recomendar cultivares mais aptas, indicar época limite para o plantio e definir a densidade mais adequada para os melhores materiais disponíveis. Ao mesmo tempo, os próprios produtores agrícolas realizavam ajustes nos sistemas de produção, adaptando-os às condições prevalecentes nas microrregiões em que atuavam. O cultivo tardio do milho também foi beneficiado por avanços promovidos pela pesquisa em outras culturas, em especial o desenvolvimento de cultivares de soja precoce e superprecoce, que permitem implantar mais cedo as lavouras de milho de segunda safra. O aprimoramento e a difusão de tecnologias que ensejaram a expansão do sistema de plantio direto também favoreceram o aumento da produtividade da segunda safra de milho, além de incrementar sua rentabilidade econômica. Vantagem tecnológica decisiva do plantio direto, do ponto de vista da segunda safra de milho, é a notável redução do intervalo entre sua semeadura e a colheita da safra que a precede, pois cada dia ganho no calendário da segunda safra diminui o risco de frustração da futura colheita.
Os seminários nacionais A partir de 1993, a Embrapa Milho e Sorgo passou a coordenar uma rede de ensaios denominada “Ensaio Nacional de Milho Safrinha”, com a participação de instituições públicas e privadas. Nesse ano, quando a produção da segunda safra ia pouco além de 8% do total nacional, a Associação Brasileira de Milho e Sorgo (ABMS), juntamente com pesquisadores, professores universitários e profissionais da assistência técnica identificaram a necessidade de promover encontros periódicos para nivelar conhecimentos e debater questões tecnológicas suscitadas pelo cultivo da segunda safra. Realizou-se, então, em Assis, SP, sob os auspícios da CATI e do IAC, o primeiro Seminário Nacional de Milho Safrinha, evento que, em 2007, chegou em Dourados, MS, à sua nona edição. Os seminários têm tido papel central na formação e manutenção de uma comunidade técnica dedicada à segunda safra. Barretos (SP), Londrina (PR) e Rio Verde (GO) são outras cidades que já os hospedaram. Promovidos pela ABMS e apoiados pela Embrapa e entidades públicas de assistência técnica e de pesquisa, por universidades e pelo setor produtivo, eles incentivam a produção de literatura especializada, dão expressiva contribuição à definição de pautas de pesquisa e aceleram a disseminação dos resultados apurados nos campos de experimentação. Os trabalhos reunidos nos seus anais constituem referência indispensável em toda abordagem técnica da produção na segunda safra, em seus diferentes aspectos: melhoramento genético, fitotecnia, sanidade, sistemas de produção, economia.
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Os desafios da pesquisa Do ponto de vista econômico, a segunda safra está consolidada. Hoje, o sucesso tanto da avicultura quanto da suinocultura nacionais, como um todo, estão fincados na distribuição mais homogênea da oferta de milho e na consequente redução da amplitude das oscilações de preços desse grão no mercado interno, possibilitadas pelo crescimento da colheita tardia. A participação desse cultivo nos sistemas de produção com rotação de culturas também cumpre importante papel na sustentabilidade da atividade agrícola. No Paraná e em microrregiões de São Paulo e Mato Grosso do Sul, o segundo cultivo tornou-se alternativa aos cereais de inverno – em especial o trigo. E, onde foi adotada, tornou-se fator de suporte à adoção do plantio direto, com benefícios ambientais e econômicos. O risco climático segue sendo o principal obstáculo a se transpor com vistas à elevação do rendimento físico e econômico do cultivo do milho em segunda safra nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Geadas – no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul – e déficit hídrico, em todas as regiões em que é cultivado, constituem os mais importantes fatores de contenção do seu progresso. A resposta da pesquisa agropecuária brasileira virá dos programas, já em execução, desenhados para prover soluções para a convivência com déficits hídricos e o desenvolvimento de cultivares mais eficiêntes no uso de fertilizantes e mais resistentes a pragas e doenças, bem como de cultivares com ciclos de produção mais ajustados ao período de chuvas relativamente curto dos meses de fevereiro a abril.
Eduardo Pinho
O desenvolvimento de novos híbridos e variedades de milho também integra os programas de pesquisa que estão buscando soluções para os problemas postos pelas mudanças climáticas globais. No desbravamento de novos horizontes tecnológicos, trabalha-se com engenharia genética e com melhoramento convencional assistido por marcadores moleculares, entre outras técnicas de ponta na pesquisa. Se até aqui os ajustes graduais nas tecnologias utilizadas permitiram a convivência com as restrições climáticas que caracterizam a nova época de plantio, a superação dessas restrições elevará o patamar de sustentabilidade da segunda safra, com o aumento continuado de sua produtividade. A redução dos riscos trará mais confiança aos produtores e encorajará o uso mais intenso de fatores de produção, como os fertilizantes, o que contribuirá para o progresso da “safrinha”, que já se tornou “safrona”.
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GESTÃO ESTRATÉGICA INSTITUCIONAL
Robert K. Nyantakyi
G E S TÃ O E S T R AT É G I C A I N S T I T U C I O N A L
Para orientar a gestão estratégica da Inovação Agrícola, em face das novas demandas e dos novos desafios mundiais, a Embrapa implantou, em 2008, o seu quinto Plano Diretor (V PDE) que, desta vez engloba não apenas o horizonte tradicional de curto prazo (2008-2011), mas também procura definir perspectivas de prazo mais longo, até 2023, quando a Empresa completará 50 anos de atividades. O novo plano diretor trabalha com a visão de que, em 2023, o programa de desenvolvimento tecnológico da Embrapa seja um dos líderes mundiais na geração de conhecimentos e tecnologias para a produção tropical sustentável de alimentos, fibras e energia renovável. Para tanto, a empresa tem por objetivos estratégicos intensificar o desenvolvimento de tecnologias e conhecimentos para uso sustentável dos biomas do País e integração produtiva das regiões brasileiras, criar produtos diferenciados, de alto valor agregado, a partir de sua biodiversidade, e atingir um novo patamar tecnológico em agroenergia. A empresa espera também incorporar novas tecnologias emergentes, contribuir para o avanço da fronteira do conhecimento e garantir a competitividade e sustentabilidade da Agricultura Tropical.
O alto potencial de rendimento de óleo e a compatibilidade com a agricultura familiar recomendam o pinhão manso para a produção de biodiesel. Para completar a domesticação da espécie, a Embrapa coordena e executa programa de pesquisa em todas as regiões do País, visando chegar em 2013 ao domínio integral da tecnologia de produção e pós-produção.
Marcelino Ribeiro
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O plano reconhece que a Embrapa terá que enfrentar alguns desafios institucionais e organizacionais e estabelece diretrizes para alcançar esses objetivos. Ela precisará se ajustar para ter um modelo de gestão ainda mais ágil e flexível, de maneira a atrair, desenvolver e reter talentos técnicos e gerenciais e a ampliar as fontes de financiamento da inovação. Precisará investir mais na atualização da infraestrutura e de processos de pesquisa, no fortalecimento da comunicação institucional e mercadológica e na gestão e proteção do conhecimento. Assim, a Empresa entende que poderá ampliar a sua atuação em redes de pesquisa e em parcerias com o setor privado para aumentar a sinergia, capacidade e velocidade de inovação e expandir a sua atuação internacional na geração e transferência de tecnologias, de maneira a alavancar o crescimento do negócio agrícola tropical. Consoante com essas definições, em 2008, a Embrapa atualizou os planos diretores (PDUs) dos centros de pesquisa e criou o plano de administração estratégica das unidades operacionais da sede (PAES), de forma a alinhar seus programas de trabalho com os objetivos e diretrizes estratégicas do PDE.
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Léo Junior
G E S TÃ O E S T R AT É G I C A I N S T I T U C I O N A L
O PAC Embrapa Com a expectativa de grandes impactos na viabilização do seu plano diretor, em 2008, a Empresa detalhou e iniciou a implantação do Programa de Fortalecimento e Crescimento da Embrapa, o PAC Embrapa, concebido por determinação do Presidente da República, para viabilizar a reorientação estratégica da gestão da inovação no setor agrícola. O programa aplicará, até 2010, R$ 914 milhões na ampliação e renovação do capital humano, na modernização e adequação da infraestrutura de pesquisa às novas demandas científicas e produtivas e em novas ações de desenvolvimento e transferência de tecnologias. O PAC Embrapa estabeleceu dez grandes projetos para atender prioridades tecnológicas, tais como o desenvolvimento de uma agricultura amazônica sustentável, a garantia de abastecimento e de alimentos seguros, o melhor aproveitamento dos recursos naturais, maior competitividade da agricultura de base familiar, o aumento da competitividade da agroenergia e a expansão da fronteira do conhecimento de interesse do negócio agrícola no Brasil. Quatro desses projetos tratam da melhoria da gestão da inovação, buscando inovação institucional e nos modelos de governança, revitalização e modernização da capacidade intelectual e infraestrutura física da Embrapa e também das organizações estaduais de pesquisa agropecuária (OEPAS). O último desses grandes projetos atende ao Governo Federal como um todo, pois trata de viabilizar um sistema geocodificado de interpretação e análise de imagens de satélites, para monitorar a evolução das obras do Plano de Aceleração de Crescimento do Brasil.
Apoio do PAC Embrapa à gestão • Estudos para revisão do modelo de gestão da Embrapa; • Estudos de criação do Centro de Macroestratégias; • Estudos para a criação de um centro de pesquisas em Mato Grosso e aquisição dos primeiros equipamentos para sua instalação; • Monitoramento de 430 pontos de obras do PAC Brasil; • R$ 30,4 milhões para 17 OEPA’s.
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GESTÃO ESTRATÉGICA DOS RECURSOS
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A reorientação estratégica da gestão da Inovação, de tempos em tempos, requer investimentos concentrados para mudança do patamar tecnológico das organizações de pesquisa, em resposta a mudanças profundas, seja na base de conhecimento – que requer mudanças na sua capacidade intelectual e nos métodos de investigação – ,seja no instrumental de coleta e análises de dados e esforço de criação de novas tecnologias. Tal concentração de investimentos já aconteceu em outros momentos da história da Embrapa. Em 1982, a Empresa executou um de seus maiores orçamentos, em razão de grande importação de equipamentos, para modernização dos laboratórios federais e estaduais, e do crescimento da carteira de projetos de pesquisa. Em 1991, esforço orçamentário semelhante teve motivo menos auspicioso: altos custos trabalhistas em razão de demissões requeridas pelo ajuste do Estado. Ajustes no quadro de pessoal voltaram a causar impactos ainda maiores no orçamento de 1996, mas, com a contrapartida de renovação da capacidade intelectual, foram contratados pesquisadores recém-treinados nas novas áreas como ciência da informação, genômica e nanotecnologia. Houve também significativo aporte de equipamentos laboratoriais e de comunicações (rede de computadores, acesso a satélites, etc.), para modernização da pesquisa e dos serviços prestados ao Governo e ao setor produtivo. Mas, a partir daí, o ajuste do Estado deixou esses recursos humanos e materiais sem o capital de giro necessário à produção das tecnologias demandadas pela agricultura. O PAC Embrapa, em 2008, de um lado busca resgatar a sua capacidade de produção científica diluída nos anos de ajuste, mas sobretudo responde à necessidade de uma nova concentração de investimentos, para ajustar recursos humanos, infraestrutura e programação de pesquisa a um novo patamar na demanda por tecnologias agrícolas. Esta nova demanda deve-se não apenas à sofisticação da Agricultura Tropical, mas também à ampliação das fronteiras do conhecimento e das novas políticas setoriais necessárias ao bem-estar da população brasileira, tais como a inclusão de comunidades no fluxo do crescimento, o desenvolvimento agrário de assentamentos, o resgate ambiental, a redução dos desequilíbrios regionais e a melhoria da competitividade da agricultura de base familiar e empresarial para enfrentar a globalização.
Bruno Peres
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Capacidade Intelectual Em 2008, a Embrapa contratou 565 novos empregados, dos quais 77 novos pesquisadores, em reposição a 475 empregados desligados. Depois de 12 anos de redução constante de sua força de trabalho, período em que perdeu mais de 1500 empregados, o número voltou a crescer, totalizando 8.440 colaboradores.
Gráfico 1 - Evolução do quadro de empregados
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Tais números refletem, de um lado, a histórica baixa rotatividade da força de trabalho da Embrapa, que resultou numa concentração dos desligamentos, sobretudo no conjunto dos pesquisadores, ao final de 35 anos da Empresa: somente no ano passado, 155 pesquisadores deixaram a organização, a maioria em razão de aposentadoria por tempo de serviço. No total, 750 novos pesquisadores serão contratados para repor essas perdas e ampliar a capacidade científica da empresa. De outro lado, reflete também o impacto do PAC Embrapa: dos 565 novos empregados, 200 foram contratados dentro da programação do plano de fortalecimento da Empresa, que prevê o recrutamento de um total 1.211 colaboradores, no período 2008-2010, para recompor e ampliar os quadros da Empresa. Esse esforço do Governo Federal permite não só restaurar a capacidade operacional da Embrapa, recompondo sua força de trabalho em níveis próximos aos de dezembro de 1995 (eram 9.850 empregados, sendo 2199 pesquisadores), conforme mostra o gráfico 2, mas, sobretudo, reciclar a sua capacidade criativa, vez que os novos contratados foram recentemente treinados nas novas áreas de conhecimento, tais como Nanotecnologia, Gestão do Conhecimento, Biologia vançada .
Gráfico 2 - Evolução desejável do quadro de pessoal 2008-2010
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Complementando este esforço de atualização de competências, a Empresa também manteve o esforço de educação corporativa, que busca treinar e capacitar seus empregados para novos desafios e que, para tanto, engloba desde a formação fundamental até os treinamentos gerenciais e de pós-doutorado. No plano da pós-graduação, 25 empregados concluíram especializações lato sensu, outros 11 receberam o grau de Mestrado e 23 se graduaram como doutores. Ao longo de 2008, a Empresa manteve um total de 35 profissionais em cursos de mestrado e 154 em cursos de doutorado, sendo que 26 desses em universidades de outros países, e 25 pesquisadores em programas de pósdoutorado, sendo 20 no exterior, o que amplia a capacitação da Empresa conforme o gráfico 3.
Gráfico 3 - Evolução do treinamento de pesquisadores
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Além disso, 740 empregados participaram de outros eventos rápidos de aperfeiçoamento no exterior, tais como visitas técnicas, congressos científicos, ações de intercâmbio, cooperação científica e transferência de tecnologia. No País, outros 3.898 empregados concluíram cursos de capacitação técnica, in loco, enquanto outros 2003 treinamentos foram realizados em cursos de educação a distância, via rede de computadores. A capacitação gerencial envolveu 790 empregados dos centros de pesquisa, entre chefes, coordenadores, supervisores e seus substitutos imediatos.
Apoio do PAC Embrapa à capacitação • R$ 2,2 milhões em treinamento • 558 empregados em nível gerencial e estratégico • 826 treinamentos de curta duração
O programa de treinamento tem também obje• 9 pesquisadores incluídos no programa tivos sociais, tanto no que respeita ao rompide pós-graduação mento do analfabetismo funcional, quanto no que toca o acesso ao primeiro emprego: 184 empregados de 21 centros de pesquisa foram beneficiados com cursos de Ensino Fundamental e Médio, ao mesmo tempo em que a Empresa ofereceu 450 estágios profissionais de nível médio e 2.450 estágios de nível superior, a maioria nas áreas de pesquisa.
Recursos Materiais Em termos das condições de trabalho, em 2008, o Governo Federal investiu cerca de R$ 125,6 milhões na renovação de instalações, laboratórios, veículos, máquinas, equipamentos, e material bibliográfico da Embrapa e das organizações estaduais de pesquisa agrícola (OEPAs). Marcia Cherubini
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Desse total, R$ 61,77 milhões foram alocados pelo PAC Embrapa, dos quais destinou R$ 24,9 milhões a obras e aquisições realizadas para renovação das estações experimentais das OEPA’s. No que diz respeito só aos centros de pesquisa da Embrapa, o programa de fortalecimento alocou pouco mais de R$ 17,6 milhões num programa de investimentos em obras de alvenaria que superou R$ 36,7 milhões em dispêndios.
Obras do PAC Embrapa • 137 mil m² em edificações, em 20 centros de pesquisa • Boas práticas de laboratórios e campos experimentais e ISO 17.025 de 39 centros de pesquisa
• Projetos de arquitetura e engenharia da Embrapa Esse desempenho corresponde a um cresAgroenergia cimento de 32.8% nos dispêndios com obras civis, que tem como destaques a conclusão da nova sede da Embrapa Monitoramento por Satélite, em Campinas, com 5,7 mil m², e custos de R$ 10,5 milhões, e do Laboratório de Nanotecnologia, de 1.070 m² e custos de R$ 1,7 milhão.
Outro investimento de relevo foi a construção de 32 instalações para gerenciamento de resíduos de laboratórios, de 17 instalações para gerenciamento dos resíduos de campos experimentais, e de redes e estações de tratamento de esgotos em 25 centros de pesquisa, de interesse do refinamento da gestão ambiental das instalações de pesquisa, que contou com o apoio da FINEP e do Programa Agrofuturo, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. Outros R$ 52,55 milhões foram investidos na aquisição de veículos, máquinas, equipamentos, ferramentas, móveis, livros e outros bens permanentes necessários ao funcionamento dessas instalações. Nesse item, participação do PAC Embrapa foi da ordem de 19,5 milhões de reais. Do total de aplicações na rubrica de Outros Investimentos, há ainda dispêndios da ordem de R$ 12 milhões, alocados por outros órgãos públicos, como os Ministérios da Ciência & Tecnologia, do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social, em razão da parceria na execução de projetos de pesquisa de interesse dos programas desses órgãos.
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Recursos Financeiros Somados os dispêndios com a folha de pagamentos, investimentos em obras e bens materiais e com custeio de todas as suas atividades de pesquisa, transferência de tecnologias e administração, a Embrapa realizou um dos melhores orçamentos de sua história, num total de R$ 1.374.604.345,00, com um dado de qualidade: reduzidos empréstimos internacionais e recursos majoritáriametne do Tesouro Nacional. Os dados consolidados confirmam a prioridade conferida e o esforço realizado em equacionar as questões de fortalecimento e adequação dos recursos humanos e em renovar as condições de trabalho. E mostram, também, uma recuperação importante no custeio das operações, que é o que garante a criação de novos conhecimentos e tecnologias e sua transferência para usufruto pela sociedade, que vem acontecendo desde 2004. Conforme mostra o gráfico 4, nos últimos anos a execução do orçamento tem caminhado para maior equilíbrio entre os dispêndios nas três rubricas (Pessoal, Outros Custeios e Outros Investimentos). Contribuiu para isso o fato de que se reduziram, nos últimos anos, os recursos comprometidos com o pagamento de empréstimos externos. Espera-se, para futuro breve, a desejável estabilização dos dispêndios com pessoal e condições de trabalho e crescimento dos recursos de custeio operacional, de maneira a otimizar o retorno do capital que é imobilizado nas outras duas rubricas.
CADA REAL
INVESTIDO GEROU
13,55 REAIS para
a SOCIEDADE BRASILEIRA 41
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Gráfico 4 - Recursos aplicados pela Embrapa por rubrica de despesa Em Milhões de Reais - 2008*
Paulo Kurtz
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Gráfico 5 - Evolução esperada dos recursos da Embrapa até 2010
A expectativa é que, na continuidade da execução do PAC Embrapa, em 2009 e 2010, a curva de orçamento sofra uma inflexão positiva, como mostra o gráfico 5, devolvendo a execução orçamentária da Embrapa aos níveis de 1996. Todo esse desempenho tem sido possível graças à comprensão que o Congresso Nacional tem sobre o papel do programa de modernização agrícola no desenvolvimento das regiões brasileiras e no equacionamento das desigualdades regionais. Em 2008, as emendas parlamentares individuais ao orçamento da Embrapa somaram R$ 4,59 milhões. A elas se somaram emendas da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, no valor de R$ 20 milhões, e da Bancada do Distrito Federal, no valor de R$ 13,92 milhões. Ainda em 2008, os parlamentares propuseram, para o orçamento de 2009, emendas individuais no valor de R$ 14,7 milhões, acrescidos de outros R$ 10 milhões oferecidos pela Comissão de Agricultura do Senado Federal, para os projetos de desenvolvimento e transferência de tecnologias para a Agricultura Tropical.
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GESTÃO ESTRATÉGICA DE P&D
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Parcerias Estratégicas A recuperação dos orçamentos, no que respeita aos recursos advindos do Tesouro da União, para as rubricas de Pessoal, Custeio e de Investimentos de Capital permitiram que a Embrapa ampliasse em 10%, em relação a 2007, seus dispêndios diretos na implantação de novos experimentos, aplicando mais de R$ 79 milhões na execução de 987 projetos de pesquisa. Esses recursos são o capital de giro da Embrapa, o “combustível operacional”, sem o qual toda a “máquina” da pesquisa – que inclui os cientistas, suas equipes de apoio administrativo, laboratorial e de campo, os campos experimentais, com viveiros, laboratórios, estábulos, bibliotecas, veículos máquinas e equipamentos – ficaria sem condições de operar e produzir, vez que sua renovação e manutenção consomem a expressiva parcela dos investimentos em pesquisa agrícola. Esse crescimento foi possível graças ao PAC Embrapa, que aplicou R$ 7,4 milhões, e a parcerias institucionais com outros ministérios e órgãos como CNPq, Finep, fundações de apoio à pesquisa, como FAPESP e Fundação Banco do Brasil, e bancos de fomento como o BASA e o BNB, que financiaram, a um custo de R$ 22,2 milhões, 307 desses projetos. Joedson Alves
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Foi intensificado também o esforço para melhoria da qualidade dos projetos. Os 10 editais, lançados em 2008, para a competição e seleção de novos projetos, atraíram 454 propostas, das quais apenas 282 (60%) foram aprovadas, a serem executadas até 2012, o que implicará no dispêndio extra de R$ 107,8 milhões, na implantação de novos experimentos, a partir de 2009. Além disso, em busca da qualidade, a Empresa tratou de articular grandes redes de campos experimentais e equipes para execução dos projetos de pesquisa sobre temas de grande complexidade. Foram articulados 20 grandes projetos nacionais e 14 projetos internacionais de pesquisa em rede. Dentre os principais temas-objeto desse esforço de pesquisa em rede estão recursos genéticos, desenvolvimento de metodologia e tecnologias em agroecologia, mudanças climáticas globais, prospecção da flora brasileira, avaliação de espécies forrageiras e de culturas anuais para a integração lavoura–pecuária-floresta nos cerrados e manejo florestal na Amazônia. Dois grandes projetos em rede buscam estratégias de transferência de tecnologia para a integração lavoura-pecuária-floresta e para as cadeias produtivas de oleaginosas e biodiesel. O esforço de planejamento da pesquisa nesse ano buscou aprofundar o alinhamento da programação de pesquisa aos objetivos estratégicos definidos pelo V Plano Diretor da Embrapa, em termos do percentual de recursos destinados para atendimento a cada um desses objetivos. Ao final de 2008, três dos cinco objetivos – que tratam da competitividade e sustentabilidade da agricultura, da agroenergia e biocombustíveis, e do uso sustentável dos biomas e da integração produtiva regional – foram plenamente atendidos, restando melhorar a alocação de recursos em projetos que buscam o avanço da fronteira do conhecimento e a prospecção da biodiversidade brasileira para criação de novos produtos.
Pesquisas apoiadas pelo PAC Embrapa • Ajuste nos sistemas de produção de milho e de sorgo para inclusão de Boas Práticas Agrícolas; • Validação do método de diagnóstico precoce da Morte Súbita de Citros e do HLB; • Validação de equipamento de ressonância magnética para avaliação de qualidade de produtos agroindustriais; • Validação do e-SAPI bovis, a plataforma Web para rastreabilidade bovina; • Zoneamento agroecológico do dendê em áreas desmatadas da Amazônia; • Zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar no Acre.
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Novas Tecnologias e Conhecimentos Os novos projetos de pesquisa, implantados em 2008 e que expressam as preocupações do Plano Diretor da Embrapa e seus objetivos estratégicos, vão gerar conhecimentos e tecnologias que serão entregues à sociedade num período de 7 a 10 anos, que é o prazo médio de desenvolvimento de uma tecnologia. De igual sorte, as tecnologias e conhecimentos entregues à sociedade em 2008 resultam de investimentos que foram feitos anterior e continuamente por igual período. O sistema de avaliação de desempenho das unidades operacionais da Embrapa registra que nesse ano a empresa finalizou e lançou 23 novas cultivares, testou e indicou 46 outras cultivares para novas regiões, disponibilizou 39 softwares, 108 metodologias científicas, 456 mapas de zoneamentos ou monitoramentos, 188 novas práticas ou processos agropecuários, 12 processos agroindustriais, 3 novos equipamentos e 9 insumos agropecuários. O que vem, a seguir, são apenas alguns exemplares da grande variedade de conhecimentos e tecnologias elaborados segundo grandes focos de direcionamento dos investimentos da empresa, quais sejam: • fortalecimento da agricultura de base familiar; • aumento da competitividade da Agricultura Tropical diante dos desafios da globalização; • gestão cuidadosa dos recursos naturais brasileiros para o seu aproveitamento; • segurança alimentar; • segurança ambiental, e • gestão dos territórios e propriedades, que almeja soluções sustentáveis para os desequilíbrios regionais.
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Agricultura Familiar
Feijão resistente Variedades transgênicas de feijão resistentes ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro que, produzidas por uma nova técnica (interferência de RNA), não geram proteínas estranhas às plantas e, assim, não causam alergia ou toxidez. Elas beneficiam basicamente os pequenos produtores, porque evitam os altos custos da aquisição de inseticidas para controle da doença. Cláudio Bezerra
Dendê em consórcio Consórcios de dendê com culturas alimentares e fruteiras semiperenes para reaproveitamento de áreas florestais alteradas por produtores de base familiar que, após três anos, geram renda bruta suficiente para cobrir todos os custos de implantação e manutenção das lavouras.
Abelhas sem ferrão Sistema de manejo para criação de abelhas sem ferrão, nativas do Brasil, para seu uso por agricultores familiares na polinização de lavouras, sobretudo na horticultura, e produção de mel, que aumenta a produção das lavouras, em razão de polinização mais eficiente, e gera renda complementar.
Trigo Cultivar BRS 276, rústica, que requer menor investimento, de ciclo precoce, grão vermelho duro, resistência moderada à giberela e rendimento médio de 3.500 kg/ha, é indicada para cultivo no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
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Paulo Kurtz
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Mandioca Cultivares BRS Caipira, BRS Tapioqueira e BRS Verdinha (parceria com Faculdade de Ciências Agrárias de Araripina, ONG Chapada, Centro de Ensino Tecnológico do Ceará, Emater–CE e produtores de Sergipe, Pernambuco e Ceará), para produção de farinha e fécula, com boa produtividade de raízes e ótimo rendimento de amido.
Terra de banana, caupi, mandioca, milho e sorgo Zoneamento agroclimático da banana, caupi, mandioca, milho e sorgo que, ao definir as taxas de risco de frustração de safras a partir das indicações de melhores épocas e locais para plantio dessas culturas, viabiliza o acesso dos agricultores familiares ao crédito rural, via programas Garantia de Safra e PROAGRO.
Inoculante para feijão-caupi
Marcelino Ribeiro
Identificação (parceria com a Universidade Estadual do Maranhão) de estirpes de bactérias para fixação biológica de nitrogênio atmosférico nas lavouras do feijão caupi, na Pré-Amazônia maranhense e em Roraima, para substituir a adubação nitrogenada, com redução de custos para os agricultores familiares, ganhos de produtividade (67% e 30%), e impactos ambientais positivos.
Mudas de cana-de-açúcar Método para a produção de mudas de cana, por cultura de tecidos, com versão simplificada de biorreatores, o que facilita a organização de biofábricas para a multiplicação e disseminação de cultivares de alta produtividade, sobretudo para pequenos produtores de leite, que usam a cana para a nutrição do rebanho.
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Agroenergia Mandioca doce Testes bioquímicos e genéticos confirmaram que a mandioca doce, uma mutação natural coletada na Amazônia, tem alto teor de glicose, ideal para a produção de etanol, já que dispensa o processo de hidrólise do amido, necessário quando se usa a mandioca convencional e dispendioso tanto em termos financeiros quanto energéticos. Assim, pode trazer uma redução de mais de 25% no custo do processo de obtenção de etanol.
Cana no Sul Ensaios de avaliação de 224 genótipos da cana-de-açúcar, feitos pela Embrapa e Ridesa/UFPR, mostram que o rendimento de colmos varia de 74 t/ha a 330 t/ha e brix médio de 18% e confirmam o potencial da cultura com vistas à produção de etanol no Rio Grande do Sul, que é importador líquido do biocombustível. Veronica Massena Reis
Inoculante para Cana Biofertilizante obtido pela junção, em turfa estéril, de estirpes de cinco bactérias fixadoras de nitrogênio, que promovem o crescimento da cana-de-açúcar, reduzindo o uso de fertilizantes nitrogenados nas lavouras, com ganhos econômicos e ambientais.
Florestas Energéticas Sistema de produção de taxi-branco e acacia para implantação de florestas energéticas, para substituição da lenha oriunda de florestas primárias ou secundárias, visando atender de forma sustentável o polo oleiro de Manaus, com ganho de eficiência energética (redução de até 38% no consumo de lenha).
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Competitividade Algodão Cultivar BRS 293, de alta produtividade de pluma (41% de fibra), boa resistência a doenças foliares fúngicas e viróticas, recomendada para a agricultura de grande escala dos Cerrados.
Arroz Cultivar BRS Fronteira, recomendada para cultivo irrigado no Vale do Paraíba, em São Paulo, e na zona Costeira e Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul; grãos de alta qualidade do tipo longo fino, alta produtividade (8 ton/ha). Cultivar BRS Sertaneja, agulhinha do tipo 1, com excelente qualidade de grãos, alto rendimento industrial (60% a 70% de grãos inteiros), para cultivo em terras altas de Minas, Goiás, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Pará, Tocantins, Maranhão e Piauí.
Azevém A cultivar BRS Ponteio é 7% mais produtiva que as cultivares tradicionais, possui ciclo mais longo e melhor proporção folha/colmo. Essa espécie forrageira é de grande importância para a Região Sul, cujo mercado de sementes se ressente da escassez de material genético de comportamento conhecido.
Banana Cultivar BRS Conquista, que apresenta resistência à “sigatokanegra” e o “mal-do-panamá”. Além disso, tem boa produtividade, é resistente ao transporte, com bom formato e tamanho, coloração e textura da polpa média, coloração da casca e tempo de prateleira médio de até 5 dias. Cultivar Princesa, do tipo “maçã”, resistente às doenças “sigatoka-amarela” e tolerante ao “mal-do-Panamá”, recomendada para Sergipe, Alagoas e Bahia.
Neuza Campelo
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Bife de Qualidade Plataforma integrada de bases de dados e aplicativos, para armazenamento, processamento, visualização e análise de dados de genótipos bovinos, para identificação dos genes da raça Nelore que controlam as características de qualidade da carne (sobretudo maciez), eficiência alimentar e temperamento animal, bem como avaliação de sistemas de cruzamento com raças europeias.
Café
Omar Rocha
Manejo de irrigação para submeter a lavoura de café a um período de estresse hídrico controlado e induzir a florada única e uniforme. A vantagem é a obtenção de 85% de grãos “cereja” no momento da colheita, maximizando a produção de cafés especiais, de maior valor de mercado, e reduzindo o consumo de água e energia em 33%.
Caju Clones de cajueiro comum BRS 274 (Jacaju) e cajueiro híbrido BRS 275 (Dão) que, por suas características, podem ser explorados tanto para a exportação da castanha, como para a indústria de sucos.
Renato Amabile
Cevada Cervejeira Cultivares BRS Deméter (Brasil Central, sob irrigação), BRS Elis e BRS Cauê (Região Sul) e a BRS Sampa (São Paulo, sob irrigação), todas com alta qualidade de malte, alto potencial produtivo e moderada resistência ao oídio e outras doenças.
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Feijão Cultivar BRS 9435 Cometa, do tipo carioca, alta produtividade (3 ton/ha), própria para colheita mecânica, para cultivo nas regiões Sul e Centro-Oeste, Bahia, Sergipe, Alagoas, São Paulo e Tocantins. Cultivar BRS 7762 Supremo, do tipo preto, alta produtividade (2,4 ton/ha), boa resistência a doenças, própria para colheita mecânica, para cultivo em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, DF e Tocantins. Cultivares BRS Embaixador, grão do tipo “Red Dark Kidney”, e BRS Executivo, grão do tipo “Cranberry”, destinadas aos produtores que desejem produzir feijão para o mercado internacional, que demanda cerca de 3,5 milhões de ton/ano.
Guandu Cultivar de guandu Mandarim (parceria com a Unipasto), com ótimos resultados na alimentação animal. O alto poder de penetração do seu sistema radicular e facilidade na erradicação promove descompactação do solo e incorporação de matéria verde, além da fixação biológica de nitrogênio.
Guaraná Cultivares BRS Luzéia, BRS Mundurucânia, BRS Cereçaporanga e BRS Andirá, com alta resistência à antracnose e às hipertrofias da gema floral e da gema vegetativa, o que dispensa outras medidas de controle de doenças, e que podem triplicar a produtividade da cultura no Estado do Amazonas.
Firmino Nascimento Filho
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Maracujá-azedo
Gustavo Porpino
BRS Sol do Cerrado, BRS Ouro Vermelho e BRS Gigante Amarelo são os novos híbridos de maracujazeiro indicados para os Cerrados, com alto potencial produtivo, tolerância a várias doenças, frutos maiores, maior teor de vitamina C e menor dependência da polinização manual.
Milho Cultivares de milho híbrido simples, duplo e triplo, as BRS 1040, BRS 2022 e BRS 3025, com ciclo precoce, alto nível de produtividade e estabilidade de produção, capazes de proporcionar um elevado retorno financeiro, e o híbrido triplo BRS 3035, de ciclo superprecoce, recomendado para plantio de safrinha nas regiões Sudeste, Centro Oeste e estado do Paraná.
Pastagens Aplicador seletivo de herbicidas “Campo Limpo”, que possui regulagem segundo a altura de diferentes plantas, com eficiência de cerca de 90% no controle da invasora capim annoni, que causa prejuízos às pastagens no Pampa gaúcho.
Paulo Kurtz
Pimenta Cultivar Mari, do tipo “dedo-de-moça”, responde à carência por materiais de melhor qualidade: tem elevado teor de capsaicina – substância que confere o ardor nas pimentas –,alta produtividade, excelente qualidade de fruto, além de apresentar resistência extrema ao “Virus do Mosaico Amarelo da Pimenta” (PepYMV) e resistência mediana à Xanthomonas e ao Oídio.
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Soja
Raul Porfírio de Almeida
Cultivares de soja BRS 282 (parceria com a Fundação Meridional), BRS 284 e BRS 283 resistentes às doenças “mancha olho-de-rã”, “pústula bacteriana”, “podridão parda da haste” e “cancro da haste”. As duas primeiras têm ciclo de maturação semiprecoce e a terceira é precoce. Os teores de óleo e proteína estão em torno de 18% e 40%, respectivamente. Recomendadas para o Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
Sorgo Cultivar de sorgo, a BRS 655, própria para o fornecimento de forragem de alta qualidade para ensilagem, para atender a crescente demanda dos produtores por maior eficiência na alimentação de bovinos.
Trigo Cultivar BRS 277, de ciclo tardio, é resistente à “ferrugem da folha” e ao “oídio” e tem produtividade média de 3.700 kg/ha. Desenvolvida para as regiões frias do Sul, de farinha amarelada, serve à produção de bolos, biscoitos, pizzas e massa fresca, em misturas com trigo melhorador, e pode ser semeada para duplo propósito (pastejo e grãos).
Cultivares BRS Tangará e BRS Pardela, de alta produtividade, boa sanidade e excelente qualidade para panificação, têm ampla adaptação geográfica e não apresentam limitações quanto à data de semeadura.
Uvas finas Dados confirmam elementos necessários para definir a região de Monte Belo, na Serra Gaúcha, como indicação geográfica de origem de vinhos finos: altitudes de 400 a 500 metros, ocorrência de Argissolos em 52% da área, sendo o restante com outros tipos de solos também próprios à atividade vitivinícola.
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Gestão dos Territórios e Propriedades Planejamento Municipal Sistema de Suporte ao Planejamento e Levantamento Agrícola Municipal, e-Sisplam, que permite identificar o perfil agrícola dos municípios, planejar e monitorar suas atividades e tendências econômicas, a qualidade ambiental, e as áreas que necessitam de investimentos públicos.
Contabilidade do rebanho Controlpec 1.0, sistema de controle financeiro simplificado para a fazenda de pecuária de corte. O programa tem como principal característica a simplicidade, na expectativa de que uma ferramenta de fácil utilização induza mais produtores a registrar e avaliar, de forma sistemática, os custos e receitas de sua propriedade.
Diagnose Virtual Sistema especialista, on-line, para diagnóstico remoto de doenças do milho, que permite que produtores e extensionistas identifiquem doenças das lavouras a partir de sintomas, tais como o tipo, a cor e o formato da lesão, a parte da planta onde ela se manifesta e assim por diante. Em breve, incluirá arroz, feijão, soja, trigo, tomate e doenças animais.
Leite em Rondônia O “Diagnóstico de produção na bacia leiteira do Estado de Rondônia” mostra que pequenas melhorias na higiene da ordenha, manejo adequado de pastagens, uso equilibrado de suplementação alimentar e ganhos genéticos no rebanho serão suficientes para proporcionar ganhos de produtividade sem abrir mão da característica extensiva e de baixo custo do sistema, que é o diferencial competitivo da produção de leite no Estado.
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Judson Valentin
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Cerrado remanescente O “Mapeamento de remanescentes de cobertura vegetal natural do Cerrado” registra focos de ocupação intensiva das terras no bioma, indica a fragmentação da cobertura vegetal natural e suas consequências e aponta áreas onde é possível aumentar a produção de alimentos sem novos desmatamentos.
O mapa da canola
Paulo Kurtz
O Zoneamento agroclimático para a canola no Rio Grande do Sul, entre outros dados, indica as épocas de semeadura nos diferentes municípios e a utilização do instrumento para o seguro agrícola (Proagro), o que favorece o crescimento e a sustentabilidade da cultura.
Aptidão para agroenergia O mapeamento define a aptidão agrícola para a região da fronteira seca de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, em termos de cultivo de eucalipto, pinus, Acacia mangium, cana-deaçúcar, soja girassol, amendoim, mamona, nabo forrageiro e pinhão-manso.
Oeste do Pará Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) no Oeste do Pará que define novas áreas para sistemas de produção, a liberação de crédito e seguro agrícola, além da indicação de sistemas de gestão, com redução da reserva legal (de 80% para 50%), com o objetivo de intensificar o uso nas áreas já alteradas e reduzir a pressão pela derrubada de floresta nativa.
Risco do Braquiarão Zoneamento que indica, em toda a Amazônia Legal, as áreas onde há o risco baixo, moderado, muito forte ou extremamente alto de ocorrência da Síndrome da Morte do Braquiarão, a partir dos fatores da oferta ambiental de solos que afetam a adaptação, produtividade e persistência da Brachiaria brizantha.
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Embrapa Monitoramento por Satélite
Terras agrícolas Levantamento que avalia o impacto das legislações de proteção e preservação ambiental e de reserva de terras para minorias étnicas sobre a disponibilidade de terras para futura expansão da Agricultura Tropical.
Terras do Maranhão Conjunto de mapas e relatórios com a análise da adequabilidade do uso e cobertura das terras do Maranhão, indicando e quantificando os diversos casos de adequação e inadequação: as áreas críticas em termos de ocupação, aquelas subutilizadas e aquelas com uso e ocupação inadequados em todo o território estadual.
O Valor do Pantanal Numa primeira abordagem, estudo (parceria com as universidades Federal de Pernambuco e do Colorado) estimou que o Pantanal vale entre US$ 112 bilhões e US$ 242 bilhões por ano. Verificou-se que os serviços ambientais são os principais atributos econômicos da região e valem entre US$ 8.113 e US$ 17.490 anuais por hectare.
O Clima do Sul Atlas Climático da Região Sul do Brasil, com 218 mapas, de 17 variáveis climáticas, em escalas temporais compatíveis com as atividades agrícolas, faz a caracterização da variação espacial das distintas variáveis climáticas em um só plano de informação, com dados de 125 estações meteorológicas e 566 estações pluviométricas.
Coqueiro nos Tabuleiros Zoneamento de risco climático para orientar a migração do coqueiro gigante da baixada litorânea do Nordeste do Brasil, onde é nativo, para as áreas dos tabuleiros costeiros, que se dá em razão da intensificação da urbanização nas áreas litorâneas.
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Gestão dos Recursos Naturais
Rubens Bernardes Fº
Própolis X bactérias Confirmando a sabedoria popular, estudos de alta precisão, com espectroscopia de força, comprovam a ação bacteriostática de própolis sobre Staphylococcus aureus, bactéria que causa infecções intestinais e respiratórias, e permitem definir a dosagem correta para inibir o desenvolvimento da bactéria. Ao contrário do que sugere o senso comum, altas concentrações de própolis não impedem o crescimento do microorganismo. Na imagem, as áreas vermelho-amareladas indicam a ação da própolis sobre a superfície da bactéria.
Sequestro de carbono Estudos de monitoramento do comportamento de solos de cerrado, em 27 anos, revelam que as áreas cobertas com pastagens de Brachiaria decumbens sequestram mais carbono que o cerrado nativo, sejam pastagens adubadas (94 ton/ano) ou sem adubação (45 ton/ano), desde que que não haja superpastejo ou queimadas.
Maracujá ornamental Híbridos de maracujazeiro ornamental BRS Estrela do Cerrado, BRS Rubiflora e BRS Roseflora, indicados para o paisagismo de grandes áreas (cercas, muros e pérgulas). Rústicos, florescem continuamente, com maior abundância de junho a novembro nas condições do Distrito Federal.
Gustavo Porpino
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Fósforo mais eficiente Avaliação indica que o plantio direto como sistema de preparo de solo mais recomendado, já que a eficiência no aproveitamento do nutriente fósforo é superior em 7% em relação ao sistema de cultivo convencional. Quanto aos sistemas de cultivo, a integração lavourapecuária apresenta eficiência do uso do fósforo 50% superior aos monocultivos.
Braquiária no Milho “Safrinha” Consórcio entre a braquiária e o milho “safrinha”, para melhorar as propriedades físicas e químicas do solo e oferecer excelente cobertura do solo, com vistas ao plantio direto na palha da soja, com maior retorno econômico para o cultivo em sucessão.
Claudio Bezerra
Motor ultraflex Com potência inferior aos motores tradicionais que utilizam gasolina, álcool ou diesel, motor que transforma qualquer combustível renovável sólido, líquido ou gasoso, em fonte de calor para produção de trabalho. Atende os agricultores no desempenho de atividades que não necessitem de motores muito potentes.
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Bacurizais Nativos Manejo de bacurizais, com o aproveitamento de brotações de suas raízes e ajuste do número de árvores por área, em glebas onde se aguarda a rebrota da capoeira, para melhorar sua densidade para nova derrubada, promove a recuperação de áreas alteradas e as transforma em fonte produtora de madeira e renda, e de sequestro de carbono.
MODELAD: previsão de cheia no Pantanal Modelo de análise da magnitude e da data de ocorrência do nível máximo de cheia anual do Rio Paraguai que permite prever, com margem de erro relativamente pequena, os eventos extremos (secas e cheias) em Ladário (MS), de que dependem as atividades econômicas do Pantanal.
Resistência à Tristeza Parasitária Inventário dos genes que codificam proteínas com potencial para controle de subtipos brasileiros do Anaplasma marginale (parasita que causa a tristeza parasitária bovina), bem como das características de expressão desses genes e a análise antigênica de proteínas recombinantes, com o objetivo de desenvolver vacinas.
Manejo eficiente da água Quatro novas planilhas eletrônicas que permitem o manejo eficiente da água em diferentes sistemas de irrigação de milho. Técnicas de manejo que podem elevar em até 25% a eficiência de uso da água nas lavouras de arroz no Rio Grande do Sul, as quais consomem em média 12.000 m3 por hectare numa área aproximada de 1,2 milhão de hectares. Manejos simplificados e parâmetros de necessidade de água que viabilizam o uso de tensiômetros – um equipamento de pesquisa para determinação do nível de umidade do solo – por produtores de 35 diferentes espécies de hortaliças, de maneira a aumentar a eficiência do manejo de irrigação por evitar situações recorrentes de excesso de água ou de déficit hídrico.
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Segurança Alimentar Amendoim Sistema de Produção Integrada do amendoim, para Ceará, Paraíba e São Paulo, para garantir a qualidade da produção a partir de recomendações sobre proteção ao meio ambiente, segurança alimentar (resíduos de agrotóxicos), condições de trabalho, saúde humana (detecção e prevenção da aflatoxina) e viabilidade econômica.
Arroz Cultivares BRS Pepita, do tipo longo fino, de ampla adaptação às terras altas do Centro-Oeste, Norte e Meio Norte e alta produtividade, e BRS Monarca, também longo fino, com grande qualidade de grãos, e indicada, inclusive em sistema de integração lavoura-pecuária, para Mato Grosso, Rondônia e Pará, onde duplica a produtividade da lavoura de sequeiro (2.000 kg/ha).
Sebastão Araújo
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Cultivar BRS Jaçanã, do tipo longo fino, validada para plantio irrigado por inundação em Tocantins, Pará e Roraima, supera em até 7% a produtividade dos materiais anteriormente disponíveis. Com maior proporção de grãos inteiros e excelente cocção, chega solto e macio ao prato do consumidor.
Veridiano Cutrim
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Barra de Caju Barra nutritiva e energética com 90% da sua formulação a partir de derivados de caju – amêndoa, fibra do pedúnculo, mel de caju e óleo da amêndoa –,teor de vitamina C seis vezes maior que o da laranja, o triplo de proteína das barras de frutas tradicionais e vida de prateleira em torno de um ano.
Feijão Cultivares BRS Agreste, do tipo mulatinho, de alta produtividade, recomenda para o DF, Goiás e Sergipe, tanto nas safras de verão e de inverno, e BRS Pontal, do tipo carioca, grão comercial tipo “pérola”, com grande resistência à “antracnose”, recomendada para região Centro Oeste, safra de inverno de Tocantins, safra de verão de Sergipe, Alagoas e Bahia e, em qualquer época, para Santa Catarina e Paraná.
Feijão Caupi Cultivar BRS Xique-Xique, recomendada para todo os estados do Nordeste, tem altos teores de ferro e zinco, alta produtividade e boa aceitação entre os agricultores.
Qualidade de Flores e Verduras “Wiltmeter” (“medidor de murcha”), equipamento para medir a pressão de água no interior das folhas de verduras e flores, e que serve para indicar o eventual estresse hídrico e necessidade de irrigação e a qualidade comercial desses produtos.
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Qualidade da carne Método rápido (mais de mil amostras por hora) e não intrusivo de análise da gordura intramuscular de carne bovina, baseado na técnica de ressonância magnética nuclear em baixa resolução, capaz de detectar a presença das gorduras saturadas associadas a doenças cardiovasculares, câncer e diabetes.
Macarrão com cenoura Processo industrial de fabricação de macarrão enriquecido com farinha de raspa de cenoura, que é resíduo significativo (30% da matéria-prima) do seu processamento mínimo, rica em carotenóides e outros nutrientes, e é usualmente descartada ou utilizada na alimentação animal. O processo abre perspectivas para o reaproveitamento de outros resíduos do processamento mínimo de outras hortaliças.
“Sigatoka negra”. Sequenciamento do genoma do fungo Mycosphaerella fijiensis, causador da “sigatoka negra”, a mais séria e destrutiva doença das bananas “prata”, “nanica” e “nanicão”. Com o sequenciamento, vai-se conhecer todos os mecanismos usados pelo fungo para causar infecções nas plantas.
Pastagens em várzeas Técnicas de manejo rotativo, com enriquecimento com espécies de forrageiras nativas ou naturalizadas mais produtivas, e métodos mais adequados de controle de plantas invasoras que permitem, em dois anos, quadruplicar a produção de animais por área nos sistemas tradicionais de criação de gado misto nas várzeas do Amazonas.
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Segurança Ambiental Pragas em milho Armadilhas com feromônio sexual sintético que permitem o manejo integrado bastante eficiente da “lagarta-do-cartucho” do milho, pois com a capacidade de determinar a densidade da praga e de inferir o seu estágio de desenvolvimento, aumenta-se a precisão no controle, com redução do custo e dos impactos negativos ao ambiente.
Nematóide reniforme
Adilson Werneck & Claudio Bezerra
O cultivo do milho ou de pastagens em rotação com o algodoeiro, por dois anos, controla e reduz em mais de 90% a densidade populacional do nematóide reniforme no solo, aumentando a produtividade de fibra de algodão em até 26%, quando comparado ao monocultivo e reduzindo o uso de inseticidas. A eficiência do método supera a do uso de nematicida no sulco de plantio.
Bioinseticida
Bruno Peres
Inseticida biológico Ponto.Final, desenvolvido a partir da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) (parceria com a Bthek Biotecnologia), para controlar diferentes pragas agrícolas, tais como a “lagarta da soja” (Anticarsia gemmatalis), “lagarta das hortaliças” (Plutella xylostella) ou “traça das crucíferas”; e a “lagartado-cartucho” do milho (Spodoptera frugiperda). É inofensivo à saúde humana e preserva insetos benéficos, como as “joaninhas” e as “tesourinhas”.
Fitoterápico contra o carrapato Extrato bioativo à base de óleos essenciais de eucalipto com ação fitoterapêutica que controla o carrapato bovino (Riphicephalus microplus) reduz o uso de carrapaticidas químicos convencionais, bem como a contaminação ambiental, a infestação dos parasitos no rebanho, e eleva a produção animal.
PET e bagaço de cana Estudo que busca o reaproveitamento de resíduos urbanos e agroindustriais obteve compósito misto de fibras de PET e bagaço de cana, com bom aspecto visual e características de processamento e de uso adequado a aplicações industriais que não exijam alto desempenho mecânico.
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A nova agenda de P&D tropical Alterações climáticas, crise na oferta de energia e de alimentos, novos parâmetros científicos e tecnológicos e a ascensão da Agricultura Tropical são alguns dos fatores que estão obrigando as nações desenvolvidas e em desenvolvimento a reverem suas estratégias tecnológicas e programações de pesquisa agrícola para fazer face à competitividade no agronegócio mundial. O I Simpósio sobre Inovação e Criatividade Científica, que atraiu a atenção de 200 trabalhos, e discutiu as rotas de evolução tecnológica da Agricultura Tropical, foi a resposta da Embrapa a esse desafio. Desse total, foram selecionados 120 propostas de novos temas e abordagens de pesquisa, a metade dos quais discutiu as possibilidades de evolução tecnológica dentro do que é considerado o “estado da arte” da ciência agrícola e a outra metade analisou os caminhos de evolução que se encontram “além do estado da arte”.
Revestimentos poliméricos, viabilizados pela nanotecnologia, podem ser usados para proteger alimentos vendidos in natura ou minimamente processados e aumentar sua vida útil, reduzindo desperdícios, pois têm ação bactericida e fungicida, são atóxicos, biodegradáveis e comestíveis. Há ganhos de segurança alimentar e de aparência (dir.): a amostra sem revestimento (esq.) mudou de cor, perdeu água e adquiriu aspecto desuniforme.
Murillo Freire Jr.
As melhores propostas serão objeto de edital de chamada especial para financiamento de projetos. Nanotecnologia, genômica, bioinformática, redes neurais, biofortificação, semioquímica e fisiologia de plantas e animais são algumas das áreas que encerram possibilidades de construção de novos patamares tecnológicos capazes de dar vantagens comparativas ao negócio agrícola brasileiro.
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G E S TÃ O E S T R AT É G I C A D E P & D
Bruno Peres
Pesquisadores buscam as novas rotas tecnológicas para evolução da Agricultura Tropical.
Joedson Alves
Filósofo Domenico de Masi explica como mover as rotinas burocratizadas para deixar eclodir a criatividade científica.
Joedson Alves
Pesquisadores conferem as propostas dos novos caminhos tecnológicos para solução dos problemas futuros da Agricultura Tropical.
As melhores dentre as 200 propostas de projetos de pesquisa, apresentadas no I simpósio de Criatividada e receberão financiamento direto para execução imediata.
Joedson Alves
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Parcerias internacionais A relevância da Agricultura Tropical para o equacionamento dos problemas mundiais de produção e oferta de alimentos, fibras e energia fez crescer a demanda pela participação de cientistas brasileiros nas redes internacionais de pesquisa agrícola, com reflexos imediatos no dimensionamento do projeto Laboratórios Virtuais da Embrapa no Exterior – Labex. Em 2008, a Embrapa concluiu as negociações e iniciou a expansão do Labex Europa com a criação de um novo posto em Rothamsted, na Inglaterra, que terá como foco as pesquisas em mudanças climáticas, solos e manejo integrado de pragas. Além disso, iniciou as negociações e os contatos precursores que vão resultar na instalação futura do Labex Coréia. Um dos desdobramentos mais promissores foi a intensificação das articulações entre o Labex Europa e Labex EUA e seus parceiros europeus e norte-americanos, que está viabilizando a consolidação de uma rede transatlântica de pesquisa agrícola para equacionar problemas tecnológicos de grandes temas. Um desses temas são as doenças da citricultura: de 10 projetos, quatro serão financiados pelo Conselho Assessor da Florida para Pesquisa sobre Produção de Citros, um será financiado pelo CIRAD (França) e cinco pelo CNPq. Seis desses projetos tratam do diagnóstico e controle de HLB (ex-Greening ):um deles, sobre o uso de biofotônica para gerar diagnósticos precoces de HLB, reúne a Unversidade da Florida, o Labex EUA e o Centro de Citricultura do IAC.
Apoio do PAC Embrapa ao projeto Labex
As pesquisas do Labex EUA em 2008, cuida• Incorporação de dois pesquisadores ao ram também do diagnóstico, caracterização Labex EUA molecular de agentes infecciosos e possível desenvolvimento de vacinas para doenças da • Incorporação de dois pesquisadores ao suinocultura, e de alternativas de biomassa Labex Europa para produção de etanol celulósico, tais como pastagens e as plantas aquáticas (camalotes) que formam ilhas no Pantanal. Outra área de interesse são as possíveis formas de controle da cochonilha-do-carmim, que ataca a palma forrageira nordestina.
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Luciano Paulino da Silva e Carlos Bloch Júnior
Mosaico de co-localização de moléculas a partir de dados de espectrometria de massa. Os quatro padrões representam diferentes conjuntos de moléculas, em tecido analisado em diferentes estados metabólicos. Esses mosaicos são utilizados em pesquisa básica como padrões para diagnosticar estados fisiológicos em plantas e animais.
Já o Labex Europa concentra o seu esforço de pesquisa em frutas tropicais e em agroenergia. Em 2008, foram conduzidos experimentos relativos aos genomas do dendê e dos citros, melhoramento do dendê, uso múltiplo do sorgo, melhoramento da macieira sob a ótica do clima, e à agregação de valor a frutas brasileiras. Foram negociados, e aguardam aprovação das agências de financiamento europeias, projetos sobre pinhão manso, sustentabilidade da cultura do dendê, genômica evolutiva do arroz e, em associação com o Labex EUA, genômica de citros e de bananas.
103.151 NOVOS EMPREGOS CRIADOS EM 2008, PELAS TECNOLOGIAS AVALIADAS 69
GESTÃO ESTRATÉGICA DA COMUNICAÇÃO E DOS NEGÓCIOS TECNOLÓGICOS
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Para que haja a necessária sucessão de diferentes ciclos de maturação tecnológica, tão essencial à sustentabilidade da inovação na Agricultura Tropical, é fundamental garantir que todo conhecimento e tecnologias criadas pelos pesquisadores da Embrapa alcancem a sociedade em geral. Em particular, é preciso que esses conhecimentos e tecnologias sejam apropriados por atores decisivos, como outros cientistas, estudantes e profissionais da assistência técnica e da produção agrícola e agroindustrial: é quem vai usar a tecnologia, ajustá-la a distintas realidades e reclamar por melhorias, propiciando ganhos tecnológicos, econômicos e sociais. Isto requer um esforço igualmente contínuo de comunicação e de transferência de tecnologias e conhecimento. Em 2008, a Embrapa investiu cerca de R$ 46 milhões em infraestrutura, ações e eventos de comunicação e transferência de tecnologia, dos quais R$ 11,7 milhões foram alocados pelo PAC Embrapa.
Joedson Alves
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O sistema de avaliação da Embrapa registra que, em 2008, suas unidades operacionais realizaram 1.400 dias de campo, implantaram 3.840 unidades de demonstração, ofereceram mais de 16 mil horas de palestras técnicas e cursos de treinamento, lançaram 741 novas publicações técnicas, 291 cartilhas e folhetos e 23 vídeos técnicos, organizaram ou participaram de 1.985 feiras agropecuárias e industriais. Os técnicos da Embrapa ainda publicaram mais de 7.000 artigos e resumos científicos. Parte deles integra uma lista de 1.466 artigos publicados em períodos indexados. Escreveram 818 capítulos de livros técnicos e orientaram 236 teses ou dissertações de pós-gradução. Todo esse esforço busca que a sociedade se informe sobre o conhecimento ou tecnologia e depois deles se apropriem, tanto do ponto de vista teórico quanto prático.
O PAC Embrapa e a transferência de tecnologia • Incubação de duas novas empresas de base tecnológicas e seleção de outras três para incubação em 2009; • Licenciamento de três cultivares e de três patentes. • Incorporação de um pesquisador no convênio de cooperação Embrapa África.
Dentre as ações visando informar a população sobre as tecnologias disponíveis destacam-se: • Quase 22 mil inserções (825 artigos assinados) em jornais, revistas, sites e blogs • 492 reportagens em emissoras de TV comerciais; • 43 edições semanais do Dia de Campo na TV, de geração própria e transmissão direta para antenas parabólicas de fazendas, vendas de beira de estrada, prefeituras, paróquias, sindicatos, cooperativas, etc.; • Criação do módulo Região Sul do programa radiofônico “Prosa Rural” e expansão da rede de emissoras retransmissoras para 1068 rádios educativas e comerciais;
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Bruno Peres
Flagrante da mostra temática “O Presente do Futuro”, inntegrante da feira Ciência para a Vida, um dos milhares de eventos que a Embrapa promove para divulgação de conhecimentos para a sociedade.
• Realização da sexta edição da Feira Ciência para Vida, resultante dos esforços de 12 instituições do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária e 28 parceiros públicos e privados da Embrapa que, celebrando o centenário da imigração japonesa para o Brasil, recebeu cerca de 65 mil visitantes (20 mil alunos de 169 escolas), os quais compraram 4.239 publicações, conheceram mais de 400 novas tecnologias e degustaram 50 novos receitas com produtos agrícolas; • Recepção e atendimento a 126 mil estudantes do Ensino Fundamental e Médio, nas edições do Embrapa&Escola na sede da empresa e em 29 centros de pesquisa. • Recepção e informação a mais de 160 mil pessoas nos mostruários “Vitrine de Tecnologias”, realizados em Brasília (Ciência para a Vida), Palmas-TO (Agrotins 2008), AraçatubaSP (Feicana/Feibio 2008 e Expô 2008) e São Luiz –MA (Amazontech 2008);
Bruno Peres
Estudantes do Ensino Fundamental conferem, na Vitrine de Tecnologias, em Brasília, as novas cultivares lançadas pela Embrapa em 2008.
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• Participação em 22 outros eventos de grande projeção no meio agropecuário e agroindustrial, a exemplo do Agrishow , do Show Rural Copavel, da Expointer e da Festa Nacional da Uva, para divulgação de conhecimentos e tecnologias. Quanto às iniciativas que buscam facilitar aos usuários a apropriação teórica e prática de conhecimentos e tecnologias, destacam-se:
Apoio a Programas de Governo • Mais de 300 ações de transferência de tecnologias de produção de arroz, feijão, milho, mandioca, leite, trigo, soja, café, aves, suínos, cebolas e frutas, próprias para a agricultura de base familiar, realizadas em todas as regiões brasileiras, dentro do Programa Mais Alimentos, em parceria com o MDA, organizações estaduais de pesquisa e extensão rural; • Impressão de 103 títulos, em papel reciclado, para conclusão do projeto de minibibliotecas rurais em escolas do Semiárido nordestino e, com o apoio do MDS, do MDA/Incra e da Fundação Banco do Brasil, expansão da rede de minibibliotecas rurais para mais 750 municípios, totalizando 1279 municípios atendidos em todo o País; • Com o apoio do BID (Projeto Agrofuturo), expansão da Agência de Informação Embrapa com criação de mais quatro “árvores do conhecimento”, organizadas sobre o enfoque de “território” para atender à agricultura de base familiar: Territórios Grande Dourados (Mato Grosso do Sul), Sisal (semiárido da Bahia), Nordeste Paraense e Mata Sul (Pernambuco) • Produção de 200 mil mudas de espécies nativas para recuperação das matas ciliares do rio São Francisco;
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Katia Pichelli
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• Com apoio do MDA, produção de duas mil ton de sementes de milho das cultivares BRS Caatingueiro, BRS Sertanejo e BR 106, de 950 ton das cultivares de feijão caupi BRS Marataoã e BRS Guariba, e de 50 ton de feijão carioca BRS Pérola, para distribuição a 200 mil famílias de agricultores no Piauí, Ceará, Alagoas, Paraíba, Bahia e Minas Gerais; • Capacitação de produtores de 18 comunidades de Sergipe, Pernambuco e Maranhão na produção própria de sementes e distribuição a 920 famílias dessas comunidades de 32,4 ton de sementes de milho BRS Caatingueiro e de 18,8 ton de sementes de feijão caupi BRS 113, BRS Requinte e BRS Marataoã. • Dentro do programa de atendimento às comunidades do Parque Xingu e à etnia Krahô, capacitação de 20 indígenas como multiplicadores das tecnologias de manejo agroflorestal e de outros 20 multiplicadores das técnicas de coleta de sementes, visando a implantação e enriquecimento de sistemas agroflorestais nas aldeias. • Estréia, com o treinamento de 180 extensionistas da EMATER-DF, do Programa de Atualização Tecnológica – PROATEC – que vai promover a reciclagem de profissionais da assistência técnica nos estados;
Apoio à sociedade em geral • Lançamento da Videoteca Digital Embrapa, com 150 vídeos documentários sobre tecnologias, para acesso on line gratuito; • Na Internet, expansão da Agência Embrapa de Informação, com a publicação de mais duas “árvores do conhecimento”, sobre os temas cana de açúcar e trigo; • Aumento de 150% na produção editorial, com a impressão de 60 novos livros e reimpressão de 35 livros, num total de quase 2,5 milhões de exemplares impressos. No total, em 2008, os pesquisadores e técnicos organizaram ou editaram 163 obras;
Joedson Alves
Público escolhe dentre os novos livros técnicos lançados pela Embrapa.
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• Instalação de 90 locais de referência tecnológica, difusão de informações para cerca de 100 mil potenciais usuários, e treinamento de 1.300 técnicos e extensionistas sobre o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, que já foi adotado, nos dois últimos anos por quase 20 mil produtores e promoveu a recuperação de cerca de três milhões de hectares de pastagens degradadas; • Produção de 5.196 toneladas de sementes básicas, a partir da multiplicação das sementes genéticas de 147 cultivares lançadas pela Embrapa, para atender à indústria de sementes certificadas; • Produção de mais de 1 milhão e 180 mil mudas e outros materiais vegetativos de 36 cultivares de espécies frutíferas para atender a viveiristas; • Licenciamento a empresas privadas para produção de 333,6 mil toneladas de sementes certificadas, a partir de sementes básicas de 174 cultivares da Embrapa, e de 707 mil mudas de banana, uva e maracujá, que resultou na apropriação de cerca de R$ 29 milhões em royalties, num crescimento de quase 50% em relação ao faturamento de 2007; • Estabelecimento de parcerias público-privadas com 28 empresas de sementes de milho híbrido, 17 empresas de sementes de soja, e nove viveiristas de vitivinicultura, para desenvolvimento de cultivares, validação de seleções genéticas e produção de sementes e mudas;
Estímulo à Inovação Em atenção aos preceitos da Lei de Inovação, em 2008, a Embrapa intensificou seus esforços na área de proteção intelectual, no Brasil e no Exterior, encaminhando 70 novos requerimentos: 22 pedidos de patentes, 23 pedidos de proteção de cultivares,19 pedidos de registros de marcas e 6 pedidos de proteção de programas de computação. Além disso, a empresa protocolou a solicitação de registro para 43 cultivares. Nesse particular, uma iniciativa de extrema relevância foi a capacitação de pesquisadores e técnicos de 27
O portfólio de propriedade intelectual • 739 processos de proteção intelectual: • 222 processos de patentes nacionais • 132 processos de patentes internacionais • 340 processos de proteção de cultivares • 210 registros de marcas • 44 processos de proteção de programas de computação
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centros de pesquisas quanto aos marcos regulatórios que ordenam o acesso, a coleta, a remessa e transporte de patrimônio genético e do conhecimento tradicional a ele associado. Esses temas têm sido objeto de preocupação de fóruns internacionais, dos quais a Embrapa tem participado consistentemente, tais como o Protocolo de Cartagena sobre Biodiversidade, a Convenção da Diversidade Biológica e a Conferência Internacional sobre Conhecimento Tradicional. Esses procedimentos habilitam a Empresa a operar com maior facilidade na transferência de conhecimentos a empresas de base tecnológica. De fato, em 2008, a Embrapa manteve negociações visando a constituição de oito empresas de propósito específico, como estipulado na Lei de Inovação, que têm por objetivo a transferência de conhecimentos e produção de itens, tais como etanol ligno-celulósico, biofertilizantes, bioinseticidas, flores e plantas ornamentais dos cerrados e da caatinga, genótipos de banana resistentes a pragas, fertilizantes minerais tropicais, melhoramento da qualidade de carne e couro bovinos para exportação e análise de riscos de atividades agropecuárias e florestais. De forma direta, a empresa negociou com a Petrobras um contrato de royalties pela validação da água de xisto para uso agrícola e a cessão da marca “Xisto Agrícola”. Com a empresa Biosoja Biotecnologia Ltda firmou acordo de cooperação para desenvolvimento do controle biológico do “mofo branco” do feijão e da soja. Numa outra vertente, criou cinco unidades coordenadoras regionais para ampliar a operacionalização do seu programa de incubação de empresas, o Proeta. Em busca de novos arranjos para multiplicar as iniciativas destinadas a promover a inovação, a empresa criou o ParcInTec – Parceria de Inovação Tecnológica – para viabilizar empreendimentos conjuntos com o setor público e privado ligado ao agronegócio. Duas experiências-piloto já foram instaladas, em Ituverava e Franca, em São Paulo, e negociações foram iniciadas para instalação de outras 17 iniciativas semelhantes. Além disso, a Embrapa colabora com a iniciativa Parques Tecnológicos em Minas Gerais (Juiz de Fora, Uberaba e Varginha), São Paulo (Campinas e Sâo Carlos), Sergipe (Aracaju), Rio Grande do Sul (Passo Fundo) e DF (Brasília).
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Expansão Internacional da Agricultura Tropical A consolidação da Agricultura Tropical, como via de solução dos problemas de oferta mundial de alimentos, fibras e energia, requer que sua plataforma tecnológica seja submetida ao teste de outras condições ecológicas do mundo tropical. Distinto do projeto Labex, que explora a fronteira da ciência de interesse do agronegócio, os projetos de cooperação tecnológica Embrapa África e Embrapa Venezuela, instalados em 2008, têm por objetivo testar e ajustar, para as condições tropicais da África e da América Latina, os manejos de plantas e animais, as técnicas de controle biológico de pragas e doenças, o germoplasma vegetal e animal (as cultivares e reprodutores), máquinas e implementos, fertilizantes e bioaditivos agrícolas, usados no Brasil. O programa de trabalho organizado para a África tem os seguintes destaques: • Visitas de equipe técnica, para diagnósticos in loco, a 19 dos 54 países africanos: África do Sul, Angola, Benin, Botsuana, Burkina Faso, Burundi, Etiópia, Gabão, Gana, Libéria, Moçambique, Quênia, São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa, Tanzânia, Togo, Uganda e Zâmbia. • Implantação de 14 projetos de treinamento para produção e/ou processamento de mandioca, castanha de caju, biocombustíveis, carne e leite, arroz, milho, soja, hortaliças, frutas tropicais, florestas, agricultura de conservação e biotecnologia, com apoio da Agência Brasileira de Cooperação no valor aproximado de 2,8 milhões de dólares americanos, em Angola, Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Chade, Mali, Moçambique, Nigéria e Senegal; • Negociação de outros 38 projetos de curta duração, envolvendo principalmente milho, soja, cana-de-açúcar, feijão, arroz, sorgo, leite e carne, fruticultura tropical, mandioca e hortaliças, a serem implantados na África do Sul, Angola, Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Chade, República Democrática do Congo, Congo, Gabão, Gana, Guiné Bissau, Mali, Moçambique, Namíbia, Nigéria, Quênia, Ruanda, São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa, Tanzânia e Zâmbia, com o apoio da ABC/MRE, no valor aproximado de 1,35 milhão de dólares; • Implantação, em capo experimental de Sotuba, em Mali, de um projeto de longa duração (cinco anos), no valor de 1,5 milhão de dólares, para modernização e fortalecimento da cultura do algodão em Benin, Burkina Faso, Chade e Mali (produtividade média de 400kg/ ha de pluma), que envolve testes de variedades brasileiras de alta produção, recuperação de solos, controle de pragas e convivência com secas; • Assessoria técnica à empresa Odebrecht para implantação da etapa inicial (4,5 mil ha) de um projeto de produção de arroz, feijão, milho e soja, que alcançará 26 mil hectares de lavouras, na fazenda Pungo Andongo, em Angola;
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• Implantação, em Gana, de etapa inicial de um projeto de produção de arroz irrigado que terá três mil hectares; • Implantação, em parceria com a Gestão de Terras Aráveis de Angola (Gesterra) e a empresa Odebrecht, de uma vitrine de tecnologias e realização de um dia de campo para observação e comparação de cultivares de milho (4), de arroz (6), de feijão (5), feijão caupi (5), soja (12), abóbora (2), cenoura (2), batata-doce, beringela, repolho e sorgo, na província de Malanje, em Angola;
Felesmina Lageslau Soares
Operários rurais africanos participam de dia de campo para conhecer cultivares e manejo de soja, na fazenda Pungo Andongo, em Malange, Angola.
• Em parceria com a Universidade de Viçosa, que cuidará da qualificação de pesquisadores em nível de pós-graduação, reestruturação institucional do Instituto de Investigação Agronômica de Angola à feição da Embrapa, que prevê a criação de 16 centros nacionais de pesquisa, num investimento do governo angolano, de 32 milhões de dólares; • Instalação de estação experimental em 23 ha da fazenda Fond des Nègres, no departamento de Nippes, no Haiti, destinada à transferência de tecnologias de café, cacau, arroz, feijão, milho, mandioca e algodão. Na Venezuela, começou a ser implantado o projeto, no valor de 52 milhões de dólares, que prevê, na área vegetal, a estruturação do Serviço Nacional de Sementes, a elaboração de um programa de produção de sementes e um programa de melhoramento genético de forrageiras. Na área animal, o programa busca a definição de estratégias de diagnóstico e controle de enfermidades bovina, ovina e caprina e a produção tecnificada de aves nas chamadas unidades de produção socialistas. Além disso, será criado um programa de apoio tecnológico para a agricultura de base familiar, voltado não só para o segmento rural, mas também para o indigena, e para comunidades urbanas.
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República Federativa do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Reinhold Stephanes Ministro
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Conselho de Administração Silas Brasileiro Presidente Silvio Crestana Vice-Presidente Murilo Francisco Barella Derli Dossa Ernesto Paterniani Aloísio Lopes Pereira de Melo Membros Diretoria-Executiva da Embrapa Silvio Crestana Diretor-Presidente José Geraldo Eugênio de França Kepler Euclides Filho Tatiana Deane de Abreu Sá Diretores-Executivos
Embrapa. Assessoria de Comunicação Social. Desafios para uma agricultura sustentável / Embrapa, Assessoria de Comunicação Social. – Brasília, DF : Embrapa - Assessoria de Comunicação Social, 2009. 79 páginas.
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Agricultura sustentável. 2. Agropecuária. 3. Desenvolvimento agrícola. 4. Desenvolvimento social 5. Desenvolvimento econômico. I. Embrapa. Empresa Brasileira de Pesquisa II. Título. CDD 630.72
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Desafios para uma agricultura sustentรกvel