ESPECIAL
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INFRA-ESTRUTURA 2
Um salto com rede Quilómetros de cabos ligam pesquisadores paulistas entre si e à ciência mundial esde 1995, o Programa de Infra-Estrutura da FAPESP já liberou cerca de R$ SOO milhões para dar suporte material à pesquisa em São Paulo. Desse total, aproximadamente R$ 65 milhões destinaram-se à implantação de redes de informática nas universidades e institutos de pesquisa do Estado de São Paulo. Redes que interligaram, entre si e com o mundo, laboratórios, institutos e faculdades, campus universitários, como uma malha subterrânea de fios, fibras e cabos se estendendo pelo território paulista, agilizando o processamento e a troca de informações e beneficiando diretamente professores, pesquisadores, estudantes e funcionários das universidades e institutos. O professor Carlos Henrique de Brito Cruz, presidente da FAPESP e diretor do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp ), costuma utilizar a analogia com a invenção da imprensa por Johannes Guttenberg, na Alemanha, em 1450, para estabelecer o lugar da informática no mundo contemporâneo. "A modificação que as novas tecnologias de informação produzem tem paralelo com aquilo
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que aconteceu a partir da invenção da imprensa. As tecnologias de informação produzem aumento de eficiência e produtividade. Elas são vitais para aumentar a comunicação. E mais comunicação é essencial para a produção científica." Foi com esse entendimento, e percebendo a existência de gargalos importantes na área de tecnologia de informação das instituições de pesquisa paulista, que a FAPESP estabeleceu, já na segunda fase do Programa de Infra-Estrutura, o módulo redes locais de informática, para investir diretamente na criação de redes de alta eficiência dentro das universidades e institutos. No total, foram beneficiados 650 projetos (ver tabelas), implantados muitos quilômetros de cabos, instalados milhares de pontos para ligações de terminais de computadores. Este suplemento, o segundo de uma série sobre o Programa de Infra-Estrutura publicado pela revista Pesquisa FAPESP, vai contar um pouco da história das transformações provocadas nas instituições de pesquisa por essa malha invisível: as redes de informática. As reportagens são de Maria Aparecida Medeiros e a edição de Mário Leite Fernandes.
Tráfego de informação O impacto da implantação das redes de informática na produção científica paulista pode ser intuído de forma clara. Entretanto, não é um impacto concretamente mensurável. Pelo menos não em todas as áreas. "Conceitualmente, o mundo inteiro reconhece que a maior capacidade de transmitir e receber dados aumenta a capacidade de produzir ciência", afirma Carlos Henrique de Brito Cruz. Segundo ele, medições de impacto, entretanto, só seriam possíveis em áreas do conhecimento nas quais o computador é um instrumento para simulações e cálculos, ou, ainda, em projetas que envolvem grandes redes de pesquisadores, como os dos programas Genoma e Biota. "Nos outros projetas, menores mas não menos importantes para a FAPESP, ainda não se tem noção do peso do acesso ao fluxo internacional de dados nos seus resultados, mas deve ser muito grande." O pró-reitor de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), Hernan Chaimovich, ressalta a importância das redes na integração da universidade ao mundo globalizado. "Se eu pudesse resumir numa frase a responsabilidade da FAPESP nas mudanças tecnológicas na área de informática experimentadas nos últimos anos pela uni-
versidade, eu diria o seguinte: a USP, com seus recursos próprios orçamentários, não teria sido capaz de acompanhar essas mudanças. Os investimentos da FAPESP permitiram que a universidade se adequasse às mudanças tecnológicas globais': declara. Não é pouca coisa. Só em um de seus institutos, o Instituto de Química, a USP tem mais de 900 computadores. A nova estrutura chega também ao interior. Em São José do Rio Preto, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) tem um supercomputador semelhante ao Deep Blue, a máquina que enfrentou o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, comprado num programa que envolve, além do apoio da FAPESP, parcerias com a empresa IBM. O início do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP, em meados da década de 90, coincidiu com a expansão da Internet, que ajudou a transformar o computador, além de instrumento de comunicação, também em instrumento de informação. Foi mais do que substituir o correio comum e o telex pelo correio eletrônico. "Foi um fenômeno que mudou totalmente a postura do pesquisador perante a informação': comenta Chaimovich. "Agora, a informação é em tempo real. Isso vai desde a comunicação entre pessoas até a busca de informações numa fonte global, que é a rede", acrescenta.Brito Cruz aponta um fenômeno. "O contato eletrônico permite o acesso às revistas científicas no mesmo dia em que elas saem. Antes, era necessário esperar de dois a três meses para receber a revista."
O ponto de partida A DEMANDA POR RECURSOS (Situação em 31.03.01) PROJETOS
INFRA 2
INFRA 3
INFRA 4
TOTAL
Recebidos
716
278
315
1.309
Denegados
468
89
99
576
247
189
214
650
2
3
Cancelados
(Situação em 31.03.01) FASES DO PROGRAMA
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PROJETOS APROVADOS N'
VALOR
lnfra 2
247
26.626.962,61
lnfra 3
189
15.271.502 ,67
lnfra 4
214
22.985.057,79
Total
650
64.883 .523,07
A implantação das redes locais, ou redes corporativas, unindo entre si laboratórios e faculdades das universidades públicas paulistas e dos institutos de pesquisa teve início a partir de 1996. Mas essas redes locais estão todas conectadas à ANSP - Academic Network at São Paulo, rede criada e gerenciada pela FAPESP, que liga as redes de computadores acadêmicas e dos institutos e centros de pesquisa de São Paulo entre si e com o Brasil e o Exterior. É a ANSP a via de conexão à Internet de todas as instituições vinculadas ao Sistema de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. A Rede ANSP começou a ser desenhada em 1987 e foi inaugurada em agosto de 1988. A ANSP foi a primeira rede brasileira a integrar-se à Internet, em 1991. Com essa conexão, ela estabeleceu um acesso internacional não só para os centros de pesquisa paulista como, também, para instituições conectadas à Rede Nacional de Pesquisa, criada em 1989 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para interligar as redes acadêmicas estaduais.
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Distância percorrida - É uma longa distância desde o
aos pesquisadores paulistas e que permite o acesso on line a textos integrais de publicações científicas de grandes editoras internacionais, e do Programa Biblioteca Eletrônica (ProBE), que disponibiliza cerca de mil publicações científicas internacionais. É a inserção do pesquisador em uma rede mundial de conhecimento.
aparecimento dos primeiros computadores nas universidades, ainda na década de 80. Canhestros, lentos e pesados em comparação com as máquinas de hoje, esses primeiros computadores eram usados principalmente nas áreas de Física e de Matemática, nas quais sua capacidade para fazer cálculos complicados os transformou em valiosas ferramentas. No início da década de 90, sua Mudando a ciência - A instalação e a expansão das redes utilidade também em outros campos ficou patente e também deram lugar aos grandes projetas de cunho coeles se espalharam para outras áreas. A quantidade, no operativo, envolvendo pesquisadores de vários locais e de várias disciplinas, como os programas Genoma-FAentanto, ainda era pequena. O mesmo Instituto de QuíPESP e Biota. "O Programa Genoma é todo baseado na mica que tem hoje centenas de micras tinha praticarede virtual': comenta Imre Simon, professor do Deparmente apenas um por andar. A utilização também era restrita. Para alguns, o computador era apenas um instamento de Ciências de Computação do Instituto de Matemática e Estatística da USP e presidente da comistrumento de produção de textos, um substituto da másão central de informática da universidade de 1994 a quina de escrever. 1998. "Sem essa rede, não haveria a menor chance de se "Uma transição mais dramática aconteceu quando, além de ferramenta de fazer esse seqüenciamentexto ou de cálculo, o to cooperativo': afirma. Para Simon, "o muncomputador foi entendido caminha para uma redo como ferramenta de INVESTIMENTO POR INSTITUIÇÃO informação", diz Chaialidade em que todas as ciências dependem, de movich. "Houve uma N• PROJETOS CONTRATADOS INSTITUIÇÃO maneira fundamental, de evolução fantástica na USP 222 rede", declara o pró-reitor técnicas da computação': UNICAMP 137 A computação, ele diz, da USP. "A quantidade de transformou-se em insuUNESP 127 informação disponível mo essencial de qualquer mudou, a maneira como OUTRAS INST. ESTADO 56 ciência e está mudando a se acessa essa informação INST. FEDERAIS 5.378.374,99 84 ciência de maneira glotambém mudou': prosseINST. PARTICULARES 2 2.485.696,59 bal. "Estão sendo produgue. "A USP, graças em INST. MUNICIPAIS 2 zidas quantidades enorparte aos investimentos 64.883.523,07 mes de dados. Mastigar, da FAPESP, focalmente 650 digerir e transformar esem infra-estrutura de inses dados em informação, formática e generalizadaINVESTIMENTO POR AREA DE ATIVIDADE em conhecimento, só é mente em pesquisa, se adeVALOR (R$) ÁREA N• PROJETOS CONTRATADOS possível por meio de quou a essa mudança computadores." tecnológica': acrescenta. Agrárias 60 As grandes redes para Para Chaimovich, poArquitetura 3 -programas específicos, corém, isso foi apenas uma 5 parte do quadro. "A outra mo o Genoma-FAPESP e Biologia 59 o Biota, além das que enparte, também de responEconomia 8 volvem, simultaneamente, sabilidade da FAPESP, foi cientistas de vários países, colocar em operação alEngenharia 130 recebem muita atenção guns tipos distintos de Física 55 da mídia e, às vezes, ofusprocura bibliográfica por Geociências 20 cam outros aspectos da intermédio da rede, perHumanas e Sociais 64 questão. Mas o efeito da mitindo uma mudança na 24 8.876.963,95 Interdisciplinar instalação das redes pode forma como se procura ----------------ser percebido em todas as uma informação científi7.953.561,53 Matemática 51 áreas de pesquisa, como a ca", assinala. É o caso, por 2.213.242,95 Química 27 Medicina, e atinge até o exemplo, do Web of Scien144 Saúde próprio ensino, abrindo ce, uma base de dados do 650 novas perspectivas para a Institute for Scientific Ineducação à distância. formation, disponibilizado -------~--------
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Cada um recebe um pedaço do problema Computação paralela substitui supercomputador administrador Sidney Pio de Campos ainda lembra dos velhos tempos. "Não conseguíamos atender todos os usuários com problemas de conexão", diz o responsável pela rede de informática do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O sistema do instituto de Campinas não era apenas lento. Era precário e pouco confiável. A antiga estrutura de rede, por exemplo, não tinha um painel de controle no qual era possível localizar onde estava a origem de um problema. "Era necessário percorrer todo o instituto, prédio por prédio, até achar o ponto com problemas e corrigi-los': afirma. Na maioria das vezes o problema era um cabo solto. A solução começou a surgir em 1995, quando o instituto recebeu as primeiras verbas da FAPESP para modernizar sua rede de informática. Toda a estrutura foi substituída por um sistema mais moderno, com base em fibras ópticas. Hoje, um backbone de fibra óptica liga os 14 prédios do Instituto de Física da Unicamp. O sistema tem mais de 700 pontos de rede, mas isso não assusta os responsáveis. A capacidade total é para mais de 1.200 pontos. Tornou-se possível um enorme aumento na velocidade da transmissão de dados. Quando a Internet apareceu, na década de 80, a velocidade máxima de transmissão era de 56 quilobits por segundo. No início da década de 90, já tinha saltado para 45 megabits por segundo. Hoje, as boas redes permitem velocidades de entre 100 e 155 megabits por segundo. A linha 4
Marco Aurélio Pinheiro de Lima, do Departamento de Física Quântica, apóia. "Hoje em dia, o sistema computacional de um instituto determina sua capacidade criativa", declara. "Se a infra-estrutura é ruim, já se sabe que as pesquisas não vão Publicações científicas - Para o diretor do instituto e presidente da FAmuito longe. Os problemas são muito sofisticados e demandam uma comPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, putação de alto desempenho." ainda é cedo para avaliar o real imA rede tornou as conexões mais pacto de redes como essa nas pesquisas científicas. "Os resultados só estáveis e o transporte de dados mais rápido, com velocidade de até 100 mevão aparecer daqui a dez anos, quando for examinada a evolução no íngabits por segundo. Os problemas da Física, hoje, por exemplo, envolvem dice de publicações científicas e de teses publicadas': afirma. "Hoje, aincálculos complexos e a transferência de da não é possível notar essa evolução. uma grande massa de dados. Com Mas podemos afirmar com certeza que uma boa conexão, um pesquisador facilitar o fluxo de informações sempode usar vários computadores ao mesmo tempo. O efeito é o mesmo do pre aumenta a velocidade e a qualidauso de um supercomputador. de da produção de conhecimento:' z Esse recurso, conhecido ~ como computação paralela, é muito usado pelos físi"~ cos da Unicamp. Um único problema é dividido em diversas partes e então cada parte vai para uma CPU. Quando os cálculos estão concluídos, os dados voltam a ser reunidos numa única máquina, que controla toda a operação até que se chegue ao resultado final. A computação paralela, tornada possível por uma rede de alta qualidade, tem muitas vantagens. Em primeiro lugar, poupa ao instituto pesados investimentos em máquinas mais sofisticadas. Em segundo, pode ser usada a partir de Pinheiro de Lima: infra-estrutura essencial qualquer ponto da rede. que liga a FAPESP à USP já trabalha com uma velocidade de 1 gigabits por segundo. E, segundo os técnicos, não está longe o dia em que as redes locais chegarão a essa mesma velocidade.
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"Aqui, é comum um pesquisador pedir licença para usar máquinas de outros usuários, quando eles têm capacidade ociosa", diz o professor Pinheiro de Lima. "Quando um pesquisador recebe uma máquina, ela é automaticamente ligada à rede. Se o pesquisador não a usa integralmente, está apto a dividi -la com quem precisa. Por isso, nossos equipamentos são usados em 95% do tempo, inclusive nos fins de semana:'
ao universo. Trata-se de um projeto que envolve tanta tecnologia e tanto dinheiro que tornou necessária uma cooperação internacional. Só a contribuição do Brasil deve chegar a US$ 3,5 milhões, parte desse montante investido pela FAPESP. ''A participação em projetas como o Auger seria completamente inviável sem um meio rápido de transmissão de dados", comenta o professor Chinellato. ''A entrada do IFGW só foi possível porque o instituto es-
percomputador Cray do centro do Cenapad, no Rio Grande do Sul. O uso do equipamento à distância, porém, dificultava o trabalho. ''A situação era crítica, pois muitas pessoas usavam o supercomputador", ele lembra. Com a capacidade de processamento paralelo da rede, Gaivão passou a fazer seus cálculos no próprio instituto. "Isso facilitou bastante nossa pesquisa", declara. Os casos do Instituto de Física de Campinas não são isolados. As pes-
Pesquisa internacional - A rede trouxe outras mudanças para o dia-a-dia do instituto. O correio eletrônico passou a ser, de longe, o método de comunicação mais usado, tanto nos cantatas internos como nos externos. "Se você precisa de uma resposta rápida, é mais garantido mandar uma mensagem pela rede do que usar o telefone", comenta o presidente da comissão de informática do instituto e professor do Departamento de Raios Cósmicos do IFGW, José Augusto Chinellato. Para o professor Chinellato, a rede tornou possível, também, a participação numa importante pesquisa internacional, o projeto Auger. Nesse projeto, com o Instalação do projeto Auger, na Argentina: cientistas de mais de 20 países apoio da FAPESP, pesquisadores da Unicamp participam quisas, hoje, tendem a ser cada vez com cientistas de mais de 20 países tá tecnologicamente à altura do projeda operação e análise dos dados remais multidisciplinares e cooperatito." Chinellato conta que se mantém colhidos pelo observatório de raios vas. Em muitas áreas, ter acesso ou em cantata constante com pesquisacósmicos Pierre Auger, construído não às novas tecnologias pode signidores dos Estados Unidos, Rússia, na região semidesértica de Pampa China, Argentina, Grécia e outros ficar para um grupo ter ou não caAmarilla, no sul da província de países, discutindo e trocando inforpacidade de produzir ciência. Mendoza, na Argentina. "Hoje há uma nítida separação mações. Os dados recolhidos pelo Sem uma rede como a existente observatório são enviados diariamenentre os países que têm acesso à na Unicamp, ligada à rede ANSP e à te para um banco situado na Itália. tecnologia da informação e os que Internet, esses cientistas nem podenão têm", comenta o professor BriEle não foi o único beneficiado. riam sonhar em participar do projeto Cruz. "Por isso, o grande mérito Parte do trabalho do pesquisador to. Seu objetivo é detectar, examinar dos programas de infra-estrutura Douglas Gaivão, da área de Biofísica e interpretar raras partículas de alta da FAPESP foi o de colocar as unido instituto, é discriminar moléculas energia que penetram na atmosfera, versidades paulistas do lado dos potencialmente cancerígenas e provindas do espaço. A esperança dos que têm acesso à essa tecnologia." por drogas mais eficientes para seu cientistas é obter mais informações Mas ele mesmo adverte: "Não pocontrole. A pesquisa exige cálculos sobre o big-bang, a grande explosão demos achar que está tudo pronto. só possíveis com computadores de que, segundo uma das teorias mais alto desempenho. Antigamente, GalA evolução dessa tecnologia é muiaceitas da Física, teria dado origem to rápida". vão recorria com freqüência ao suPESQUISA FAPESP
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De um extremo a outro do Estado Rede da Unesp liga 25 unidades de ensino 1j ~ 4.7 a.a 9:e: uma parceria com a IBM, xiste no Brasil ilecl\ 8 a 3.8 9.1 a:91 representa bem uma das um supercom- fdbio 1 a 9.5 9.1 9:9€ características mais marputador IBM fabio root 11 a a.3 9.2 4:51 cantes da Universidade EsSP-2, muito seroot 1 a a.2 a.a 24:as tadual Paulista (Unesp). melhante ao root a a a.a a.9 9:94 Deep Blue, a máquina root a a .. 9 9.9 a:ee Ela está espalhada por maravilhosa que dispu- root a a .9 a.e 0:11 todo o Estado. Das 25 e a tou - e venceu - uma sé- root .. a a.a e:ee unidades de ensino da e e a.a a.a a:az Unesp, espalhadas por 14 rie de partidas contra o root root 16 16 a.a e.a a:ee cidades, a mais próxima campeão mundial de xaroot e e a:ee da capital, onde está insa.a 8.9 drez Garry Kasparov. Ele root e e 9.9 9.9 9:00 está situado em São José root e a 9.9 9.8 9:98 talada a reitoria, fica em root do Rio Preto, no norte do São José dos Campos, a o e 9.9 8.9 9:00 ~stl o o Estado de São Paulo, 460 97 km de distância. Para 9.9 9.3 9:81 __ . ..-.. ~*·· - . .-- 1 km ao norte da capital do chegar à mais distante, Cansian: correio eletrônico substitui viagens Estado. É usado principalem Ilha Solteira, na fronteira com Mato Grosso mente por pesquisadores de outras cidades. Professores de Jacálculos ligados a projetos de instado Sul, percorrem-se 670 km. Para ir boticabal usam o SP-2 para trabalhos lação e desenvolvimento de fábricas. de uma faculdade a outra, é necessáligados ao Programa Genoma. PesquiO SP-2, comprado em 1995 com rio, muitas vezes, cobrir enormes sadores de Ilha Solteira fazem nele distâncias. um financiamento da FAPESP e
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Uma fábrica sem operários No Núcleo de Manufatura Avançada (Numa) da Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, a rede de informática está sendo usada para algo mais do que as trocas de mensagens e consultas a bibliotecas a distância. Num projeto do qual participa também a Unesp de São José do Rio Preto, pesquisadores estão comunicando-se com máquinas. No futuro, a técnica poderá ser empregada em fábricas sem operários, nas quais máquinas e robôs seriam comandados a distância, por meio da Internet. O palco da experiência é a Fábrica Integrada Modelo (FIM), na qual, por meio de um computador conectado à rede e um software pro-
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jetado por técnicos do Numa, o funcionamento das máquinas do setor de usinagem de uma fábrica é acompanhado pela Internet. O software mostra, com recursos de animação, se a máquina está funcionando ou se está trabalhando em sua plena capacidade ou subutilizada. "Trata-se de um recurso importante", explica o engenheiro João Fernando Gomes de Oliveira, professor da Escola de Engenharia e um dos responsáveis pelo projeto. "Muitas vezes, o supervisor da fábrica só vai saber que uma máquina está trabalhando abaixo da capacidade quando percebe que a encomenda feita por um cliente está com uma semana de atraso", acrescenta.
O software também dá informações sobre o funcionamento da máquina que podem evitar uma parada de produção. Ele é programado para disparar um alarme sempre que houver perigo. "Se a temperatura subir muito, por exemplo, o supervisor tomará logo conhecimento do problema e poderá tomar uma providência antes que o equipamento se quebre", diz Oliveira. Os pesquisadores de São Carlos trabalham para o futuro. Na prática, os especialistas concordam, ainda não é possível controlar uma máquina pela Internet, pois a rede não permite a realização de operações em tempo real. Um padrão de transmissão de 100 a 150 megabits por segundo, bom para operações
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O mesmo acontece com a rede, montada com a ajuda do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP, que hoje liga todas essas instalações. ''A rede aproximou os pesquisadores, não só dentro da Unesp, mas também com os de fora da instituição", diz o chefe da assessoria de informática da universidade, Adriano Mauro Cansian. Ele mesmo é um exemplo disso. Morando em São José do Rio Preto, onde pesquisa e dá aulas na Faculdade de Informática, e passando vários dias por semana em São Paulo, onde fica a SP-2: parente do Deep 8/ue em Rio Preto sede da assessoria, precisava subir num automóvel e rodar 300 "Na melhor das hipóteses, por Seou 400 km quando precisava condex, os dados chegavam em três ou versar, por exemplo, com um pesquatro dias", lembra. quisador em Bauru ou Rio Claro. O correio comum era muito lento. Eliminação de despesas
- Hoje, um sistema confiável de correio eletrônico permite que as informações sejam transferidas rapidamente. Tanto que o de estocagem
usinagem é controlada pela Internet
normais, é insuficiente para operações mais sofisticadas. Numa rede interna, em condições ideais, o intervalo entre apertar o botão do mouse e a execução de uma tarefa programada vai de dois a três segundos. Numa rede como a Internet, com seus gargalos de transmissão, ele pode ser dez vezes maior. "Com a atual capacidade de transmissão das redes, operar uma máquina industrial distância ainda é inviável", informa Oliveira. Ele prossegue: "Esses equipamentos geralmente exigem grande precisão de movimentos, o que ainda não se consegue numa rede. Para
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controlar o braço de um robô, por exemplo, a posição vista no monitor do computador está atrasada 20 segundos com relação à posição real". É um problema muito mais complexo do que acionar equipamentos como lâmpadas elétricas e cafeteiras a distância, como se vê nas chamadas casas do futuro. "Se uma peça for usinada com apenas alguns décimos de milímetro a mais, não se encaixará bem e todo o lote será perdido", diz o professor. Para ele, a fábrica governada a distância pode transformar-se em realidade a qualquer momento. "Depende apenas de mais um salto
de dados do Programa Genoma fica numa instalação da Unesp, o Laboratório de Biologia Molecular da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal. A instalação da rede trouxe enormes vantagens na área administrativa, com a eliminação de despesas em correio, telefonemas urbanos e muitas, muitas viagens. Mas quem mais ganhou foram os pesquisadores. "Boa parte das pesquisas bibliográficas é feita· pela rede, sem que o pesquisador precise sair de sua sala", diz Cansian. "Antes, era preciso esperar de 30 a 60 dias para receber uma cópia de um artigo publicado numa revista internacional." Para chegar a isso, porém, foram necessários muito trabalho e muitas despesas. O primeiro passo foi a montagem das redes internas, as chamadas LANs (Local Area Networks). Cada unidade ganhou a sua. Ao todo, foram usados 100 km de fibras ópticas e 600 km de cabos de cobre. Para instalar essas linhas, foi preciso cavar, quebrar paredes, instalar dutos, cimentar e dar o acaba-
tecnológico': comenta. "Ninguém • pode prever quando isso vai acontecer, de que tamanho será o próximo salto e quais serão suas conseqüências, mas que ele virá, virá." O Numa é composto por vários grupos que desenvolvem soluções técnicas para otimizar processos produtivos, reduzir impactos ambientais e promover a cooperação entre empresas. Usa a rede das universidades em São Carlos com diversos objetivos, inclusive a integração entre seus participantes. Sediado na Escola de Engenharia da USP, o núcleo reúne também pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos, Unicamp, Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e Universidade de Aachen, na Alemanha.
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gro, têm a possibilidade de fazer perguntas ao vivo. O sistema é especialmente interessante para a Unesp, que enfrenta o problema da falta de professores em várias disciplinas e em várias cidades. "O problema afeta principalmente regiões mais distantes, onde as cidades não têm boa infra-estrutura para moradia", diz Macari. Em Ilha Solteira, por exemplo, houve muitas dificuldades para preencher o quadro de professores. "Apesar de a faculdade de Engenharia Elétrica estar situada às portas de uma usina hidrelétrica, o que é uma grande vantagem para alunos e professores, a cidade não atraía profissionais qualificados", afirma. menta final. Mas todas as conexões foram feitas com uma tecnologia confiável e capaz de aceitar altas velocidades de transmissão. A etapa seguinte foi a de unir todas essas redes, num grande sistema chamado unespNET. Foi a formação de uma WAN ( Wide Area Network). As linhas de longa distância são contratadas às concessionárias de telecomunicações, mas, para estabelecer as ligações com essas linhas, foram usados mais de 600 concentradores de rede (hubs) e 30 rateadores. São equipamentos caros. Um único rateador pode custar entre US$ 70 mil e US$ 200 mil. "Dificilmente a Unesp poderia montar uma rede desse porte sem o auxílio financeiro da FAPESP", reconhece Cansian. A Fundação chegou a investir na compra de links de rádio, necessários em algumas unidades mais distantes. Foram investidos cerca de US$ 12 milhões em infra-estrutura de cabeamento e equipamentos de rede. A participação da FAPESP, por meio dos programas Infra I e Infra II, superou os US$ 5 milhões. Cursos a distância - Os números são gigantescos. Mais de 10 mil terminais estão ligados hoje à rede, entre eles o supercomputador SP-2, 9 mil 8
computadores do tipo PC, 600 estações de trabalho com arquitetura RISC e vários computadores particulares, de propriedade de professores, funcionários e alunos. Há mais. De acordo com o pró-reitor de pós-graduação e pesquisa da Unesp, Marcos Macari, a universidade pretende ampliar sua infra-estrutura para teleconferências, de maneira a promover aulas e cursos a distância. No momento, os custos são muito elevados, pois a transmissão é feita via satélite. No futuro, porém, com a evolução da rede, o sistema se tornará mais econômico e mais viável. Já existe infra-estrutura para essas transmissões em Bauru, Batucatu, Guaratinguetá, Ilha Solteira e São José do Rio Preto. O sistema exige a instalação de salas de aula especiais para as fllmagens e transmissão de imagens. Mas tem várias vantagens. Um só professor pode dar uma aula para várias cidades simultaneamente. Por exemplo, uma aula do curso de Veterinária pode ser dada em Jaboticabal e atingir não somente alunos dessa cidade, mas também outros em Botucatu e Araçatuba. Os alunos, reunidos em auditórios com telões, nos quais aparece a figura do professor e o quadro-ne-
Impressão lenta - Para os dirigentes da Unesp, a universidade poderia ter maior participação em pesquisas avançadas se conseguisse maior velocidade na transmissão de dados. O problema não é da universidade, mas do serviço público de telefonia, ainda deficiente em vários locais. Um exemplo é dado também em Ilha Solteira, onde, de acordo com Macari, um pesquisador pode levar duas horas para imprimir um artigo de revista, algo que em São Paulo levaria apenas alguns minutos. A culpa cabe ao sistema de transmissão de dados, que ainda depende da ligação por microondas alugada à concessionária de comunicações. Outros pontos de congestionamento, de acordo com o pró-reitor, são Jaboticabal, devido ao grande volume de dados ligado ao Programa Genoma, e Botucatu, que tem o maior contingente de alunos e professores da Unesp, com dois campi e quatro unidades universitárias. "Os troncos de fibra óptica, necessários para dar maior velocidade à transmissão, ainda estão restritos aos grandes centros urbanos, onde a rentabilidade é maior", diz Macari. A solução, assim, depende do próprio desenvolvimento das concessionárias. PESQUISA FAPESP
Contato permanente com o resto do mundo Investimento permitiu o avanço da cooperação internacional m pedaço do Universo distante pode ser observado e estudado numa sala da Cidade Universitária, em São Paulo. No Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), professores e estudantes de Astroquímica simulam as condições da atmosfera de uma estrela, para pesquisar estruturas moleculares que só existem em temperaturas excepcionalmente altas. Realizar uma experiência desse tipo no mundo real seria impossível. Hoje, os pesquisadores usam o mundo virtual dos computadores para fazer o que até há pouco era impossível. E mais. Mantêmse em contato constante com seus colegas de outras partes do Brasil e do mundo para trocar informações e poupar tempo e trabalho. "A maioria dos grupos de pesquisa do IQ tem vínculos com pesquisadores do exterior e depende de uma troca contínua de informações", comenta o diretor do instituto, Paulo Sérgio Santos. Eles têm à sua disposição um bom número de computadores - são cerca de 900, em todo o instituto. Mas isso de pouco valeria se eles não estivessem conectados ao mundo por uma rede confiável e de alta velocidade. "Boa parte dos problemas envolvidos na pesquisa moderna em Química e Bioquímica é altamente interdisciplinar. Eles requerem especialistas de diversas áreas. Muitas vezes, uma especialidade só é encontrada fora da instituição e, o que não é raro, em outro país'; acrescenta Santos. O Instituto de Química é apenas uma parte do que se passa em toda a universidade. Afinal, os investimentos da FAPESP na USP, em redes de
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simula-se até a nitrogliceri-
0~_ na nos aparelhos do insti~
tuto. O trabalho nos laboratórios tornou-se mais racional. Grande parte do trabalho preparatório pode ser feita virtualmente, reduzindo-se o tempo e aumentando-se a eficiência das aulas práticas. Outras economias são trazidas pelas reuniões pela rede. As despesas e o tempo gasto relacionados com viagens foram reduzidos drasticamente. "Muitas vezes, reúnem-se três, quatro, cinco, seis pessoas ou mesmo vários grupos para conversar pela rede", conta o professor Santos. Diversos pesquisadores do IQ participam de pesquisas que reúnem várias instituições, como o projeto Genoma Câncer. "Isso seria totalmente inviável se não tivéssemos uma rede com muita agilidade na transmissão de dados", acrescenta o professor. Para o diretor do IQ, ter uma rede com essas condições é um requisito básico, hoje, para qualquer tipo de pesquisa. "É o cartão de visitas de um instituto", considera. "Ela abre possibilidades concretas de interação, que tornam o organismo realmente competitivo, especialmente nas áreas de fronteira da pesquisa, onde não existem todos os especialistas necessários no espaço de um só laboratório." Santos afirma que isso já se reflete, inclusive, no mercado de trabalho. "Hoje em dia, é muito difícil contratar um bom especialista se não houver :E
Chaimovich : mais transparência
informática, totalizaram R$ 27 milhões, do total de R$ 65 milhões investidos nesse módulo. "Houve uma mudança de cultura", afirma o próreitor de pesquisa da universidade, Hernan Chaimovich. "Hoje, o pesquisador está inserido numa rede mundial de conhecimento." Além disso, o professor ficou mais transparente. "Tudo o que ele fez e está fazendo passa a constar da rede", destaca. Nitroglicerina - Com uma boa rede, trabalha-se melhor e com mais segurança. Os outros corpos celestes não são o único exemplo do que pode ser simulado nos computadores do Instituto de Química. Hoje, por exemplo,
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esperando ansiosamente, durante dois ou três meses, para ler o material." Troca interminável - A im-
Santos: cacife para conferências
uma infra-estrutura de trabalho adequada a pesquisas de alto nível." Os pesquisadores do IQ acreditam em novos desenvolvimentos esperados para o futuro próximo, como a Internet 2, que permitirá velocidades ainda mais altas nas ligações com o exterior, que trarão novos progressos. "Temos de admitir que ainda somos muito periféricos e não só do ponto de vista geográfico", afirma Santos. "Não são todos, hoje, os que têm cacife para participar de conferências e simpósios científicos." A possibilidade de participar de um sistema de teleconferências, em tempo real, pode melhorar a situação. "Vamos estar mais perto de onde as coisas muito importantes estão acontecendo", declara. Supercomputador - A rede tornou
possível, também, o uso cada vez mais freqüente do acesso remoto a equipamentos não disponíveis a todos os laboratórios. É o caso, por Pxt>mplo, dos supercomputadores, máquinas capazes de realizar cálculos enormes e complexos. O IQ é responsável por mais de 50% dos acessos feitos ao Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Cenapad) de São Paulo, 10
plantação das novas tecnologias não foi feita sem algumas dificuldades. Um exemplo foi a compra do rateador, equipamento usado para controlar o fluxo de dados. O instituto adquiriu nos Estados Unidos um roteador de última geração. Araújo : previsões sempre ultrapassadas Não havia nada semelhante no Brasil. Nem técnicos de acordo com o último relatório do para configurá-lo. "Fomos obrigados centro. Esse é um dos cinco laboraa recorrer ao fornecedor", lembra Araújo. "Foi uma interminável troca tórios de supercomputação criados pelo Ministério de Ciência e Tecnode e-mails. Mas conseguimos confilogia para apoiar atividades de pesgurar o equipamento." quisa e desenvolvimento. Um roteador bem ajustado é algo básico para o bom funcionamento O acesso ao supercomputador é de uma rede como a do instituto. feito via rede. "Isso comprova que hoEsse equipamento segmenta o tráfego, je seria impraticável fazer pesquisa para que ele flua mais rapidamente. sem uma rede de alta velocidade", afirma Pedro Soares de Araújo, memNuma comparação com o trânsito bro da comissão de informática do insnuma avenida, mantém os veículos tituto. Araújo dá muito valor, tamque vão virar à esquerda na faixa da esquerda e os que vão para a direita na bém, ao acesso a publicações pela faixa da direita. Sem ele, os congestiorede. "Quando era um pesquisador iniciante, na década de 60, constituía namentos seriam enormes e compliuma obrigação religiosa ir à bibliotecados. Assim, o rateador mantém o ca duas vezes por semana, para ler o tráfego administrativo separado do Current Contents, a publicação cien-acadêmico. Há ainda uma via especial para as pesquisas dos alunos. tífica mais importante da época", ele lembra. "Recebíamos primeiro os tíO uso, hoje, atinge apenas 15% da capacidade do rateador. Mas protulos dos artigos. Depois, ficávamos vavelmente essa proporção não vai manterse por muito tempo. "O tráfego cresce de semana para semana': declara Araújo. Ele afirRIBEIRÃO PRETO ma que o instituto faz previsões para seis meSÃO CARLOS ses. Mas nunca se reBAURU gistrou um semestre PIRASSUNUNGA sem que as projeções PIRACICABA fossem ultrapassadas. "Passamos do nada a uma das maiores redes do Estado de São Paulo sem que a maioria percebesse", afirma. PESQUISA FAPESP
Informática abre novos recursos para medicina Médicos controlam pacientes pela Internet uando, no fim do ano passado e começo deste ano, o falecido governador Mário Covas esteve internado no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), não eram os médicos vistos entrando e saindo da área onde ele se encontrava os únicos que participavam do seu tratamento. Complexo e envolvendo diversas especialidades médicas, o caso do governador mobilizou médicos até do Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova York, nos Estados Unidos. Usando um sistema de videoconferência, médicos do InCor, do SloanKettering e membros da família do paciente discutiram longamente o caso e seus possíveis tratamentos. Ouvir uma segunda opinião não é novidade e nem significava insegurança por parte dos médicos que cuidavam do governador em São Paulo. Trata-se de prática corriqueira, especialmente nos casos mais graves. A novidade, no caso, é que todas as consultas foram feitas sem que o governador precisasse viajar para Nova York ou mesmo sair do seu leito em São Paulo. Conferências como essa são parte da chamada telemedicina, um conjunto de recursos com base na tecnologia da informação que está alterando práticas e usos em vários setores da medicina e que ganha espaço com o crescimento e aperfeiçoamento das redes de informática. Também não são um privilégio de políticos importantes. Desde que alguém arque com os custos, sistemas iguais ao usado por Covas estão à dispo sição de qualquer pessoa no InCor. PESQUISA FAPESP
~ de seu cadastramento ao - último exame.
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Centro de referência - Os números são impressionantes. Só no ano de 1999, o InCor atendeu mais de 230 mil pacientes e realizou mais de 1,5 milhão de exames, de análises clínicas a diagnósticos por imagem. Isso exige uma enorme capacidade de rede, que dificilmente seria obtida se o instituto não contasse com a ajuda da FAPESP. Há outros fatores em jogo. Como centro de referência em cardiologia no Brasil, o InCor tem como missão difundir o conhecimento gerado internaTachinardi: melhor difusão do conhecimento mente e buscar informações em outras instituições Não é à toa que o sistema esteja da área. Isso sempre foi feito, por disponível no Instituto do Coração. meio de aulas, cursos, seminários, O organismo é um dos hospitais piworkshops e mesmo gravações de cioneiros do Brasil na implantação de rurgias em vídeo. "Com a conexão redes de informática. A primeira por videoconferência, isso agora rede do InCor data de 1980. "Mas o pode ser feito a distância, o que vai grande salto foi dado em novembro favorecer principalmente os profisdo ano passado, quando um aumensionais que atuam fora dos grandes to na capacidade da rede, concretizacentros", diz Tachinardi. do com o auxílio da FAPESP, permitiu Há mais. Nas unidades de trataa criação do sistema de videoconfemento intensivo, os monitores que rências", afirma o diretor da Unidade acompanham as funções vitais dos de Sistemas do Serviço de Informápacientes, como freqüência cardíaca tica do InCor, Umberto Tachinardi. e pressão arterial, foram ligados à Não é a única novidade que está rede. O médico responsável pode, aparecendo no instituto. O sistema agora, verificar, por exemplo, se uma prontuário on line, em fase de instamedicação para corrigir uma arritlação, permitirá a qualquer pessoa mia teve o resultado desejado de com acesso a um computador da qualquer computador do hospital. rede do instituto verificar todos os Em princípio, a rotina mudou poudados colhidos sobre um paciente, co. Os médicos continuam a visitar li
os pacientes de três a quatro vezes por dia. "A diferença é que hoje posso acompanhar melhor a evolução do quadro de cada paciente", diz o cardiologista clínico Carlos Vicente Serrano. Os benefícios do sistema para um hospital como o InCor, onde muitas vezes a preservação de uma vida depende de ações muito rápidas, são enormes. Serrano cita um exemplo que já se tornou parte de sua rotina. Um paciente em estado grave sofre uma queda de pressão, que pode ser fatal em seu estado. O médico administra o medicamento e meia hora depois- o tempo necessário para o remédio fazer efeito consulta o monitor do paciente e verifica seu estado. Se a pressão voltou ao normal, ele continuará a acompanhar o caso, pelo computador. Se não, enviará uma mensagem pelo computador à enfermaria, indicando as providências a serem tomadas. Um sinal de alerta aciona a enfermaria quando a mensagem chega. ''A ação se torna muito mais rápida e eficiente e ainda otimiza o tempo do médico': comenta Serrano. Menos traumas - O processo ainda está no começo, mas os pesquisadores do InCor também já estão dando outros passos numa nova tecnologia: o uso da rede para fazer operações a distância. O método usa um robô controlado por um cirurgião e já está sendo empregado na Europa. É considerado mais eficiente e causa menos traumas ao paciente, em alguns casos, do que uma cirurgia normal. O InCor resolveu assestar baterias num projeto relativamente modesto. Ao contrário dos robôs fabricados por. alguns laboratórios do exterior, o projeto de São Paulo não terá três ou quatro braços, para segurar e movimentar os instrumentos cirúrgicos. Ele terá apenas um braço, para fazer o trabalho do assistente cirúrgico que maneja o sistema óptico, a 12
câmera usada nas intervenções. Nesse tipo de cirurgia, os cortes são muito pequenos, suficientes apenas para a introdução de instrumentos no corpo do paciente. O cirurgião trabalha com base nas imagens captadas pela óptica, transmitidas para uma tela de computador. Uma das maiores vantagens do sistema é per-
Pesquisadores paulistas já constroem robô para ser usado em cirurgias feitas pela rede mitir a recuperação mais rápida do paciente. "Numa cirurgia cardiovascular, como uma ponte de safena ou mamária, o paciente pode ir para casa no dia seguinte, enquanto no método tradicional ele teria de ficar internado entre uma semana e dez dias", diz o cirurgião Fábio Biscegli Jatene, do InCor. O projeto do robô está sendo desenvolvido pela divisão de Bioengenharia do InCor, em parceria com.a Escola Politécnica da USP, com financiamento da FAPESP. Idágene Cestari, diretora de pesquisa em Bioengenharia do InCor, afirma que o sistema poderá ser usado em qualquer cirurgia, não apenas em cardíacas. Jatene, que já experimentou a técnica num hospital de Dallas, nos Estados Unidos, defende a aproximação escolhida. ''Acho que neste momento vale mais a pena investir num projeto modesto do que gastar montanhas de dinheiro para importar um robô mais aperfeiçoado", declara. Mais de 36 mil páginas - Na Escola Paulista de Medicina da Unifesp, a ênfase é no ensino a distância. Desde que a rede começou a ser implanta-
da, em 1992, professores e especialistas em informática trabalham juntos na elaboração de cursos sobre diversas disciplinas. O resultado é um dos websites mais completos sobre a área de saúde da Internet. O site da Unifesp tem nada menos do que 36 mil páginas, que vão desde informações sobre projetos e departamentos a cursos completos e material de apoio didático com mais de 450 aulas em vídeo. O site recebe entre 8 mil e 9 mil acessos por dia, dos quais 3 mil de fora da rede. Nem todos os cursos a distância estão ligados diretamente às aulas. Um dos cursos de maior repercussão é o da simulação de desastres, organizado em conjunto com o Hospital das Clínicas. O objetivo é treinar profissionais da área da saúde para agir em situações de catástrofe. Ele tem 3.800 inscritos, entre médicos, enfermeiros e profissionais dos corpos de bombeiros de diversas cidades, que recebem aulas de especialistas pela Internet. Como parte do curso, os alunos recebem vídeos que podem assistir em suas casas, a qualquer hora. O chefe do Departamento de Informática em Saúde da Unifesp, Daniel Sigulem, nota que para a escola isso também significa economia. "Desenvolvemos um sistema que acabou por dispensar o uso do laboratório no curso de Histopatologia", comenta. ''As lâminas passaram a ser visualizadas no computador, no lugar dos microscópios, com o mesmo efeito para os alunos': ele diz. De qualquer maneira, nem tudo correu como os organizadores esperavam. No princípio, eles achavam que, com os novos métodos, um professor podia cuidar de até SOO alunos. Errado. O limite é de entre 20 e 30. Surgiu uma interação muito maior entre professor e aluno. Numa aula convencional, de 50 minutos, o estudante tem normalmente apenas os dez minutos finais para fazer perguntas. Agora, o contato com o professor, por correio eletrônico, nunca cessa. PESQUISA FAPESP
O ensino aprende a usar as novas tecnologias Educação à distância ganha perspectivas mais amplas
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tituto de Tec- ~ :E nologia de Massachusetts (MIT), uma das mais prestigiadas instituições de ensino e pesquisa dos Estados Unidos, anunciou que estava iniciando um programa, com investimentos deUS$ 100 milhões, para colocar, no prazo de dez anos, todo o conteúdo de seus 2 mil cursos na Internet. Ou seja, qualquer pessoa terá acesso gratuitamente, de qualquer lugar do mundo, ao que é ensinado nos prédios do instituto, na área metropolitana de Boston. Os interessados não poderão usar o sistema para conseguir diplomas. Mas um aluno do MIT precisa pagar, em média, US$ 26 mil por ano para seguir um desses mesmos cursos. Não é uma enorme novidade. Outras instituições de ensino já oferecem programas semelhantes, embora não de maneira tão ampla e sem o prestígio internacional que acompanha o nome do MIT. No Brasil, o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) tem o projeto Cidade do Conhecimento, cujo objetivo é formar uma rede na qual pessoas do ensino médio, da universidade e do mundo profissional poderão produzir conhecimento publicamente e de maneira coletiva. "As redes estão passando por um crescimento exponencial e sendo PESQUISA FAPESP
Barravieira e um dos CDs de seus cursos: recursos multimídia tornam mais fácil o aprendizado
usadas de maneira cada vez mais sofisticada", comenta Imre Simon, professor do Departamento de Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da comissão central de informática da USP entre 1994 e 1998. "Mas existem áreas em que seu uso está apenas engatinhando. É o caso da educação. Existe aí o problema da disponibilização da informação, ou seja, quem vai pagar para colocar a informação na rede. Trata-se de uma questão complexa." Outro jeito - Se há uma área onde há poucos problemas com relação ao ensino via redes, essa é a dos alunos. ''A informática já faz parte da vida
desta geração", diz o diretor do Instituto de Química da USP, Paulo Sérgio Santos. Ele já ouviu diversas vezes: "Professor, não faça assim não, pois não vai dar certo, faça desse outro jeito': Hoje, o IQ se prepara para substituir as aulas iniciais de laboratório por simulações em computador. As simulações não & substituirão as aulas ~ práticas no labora~ tório. Mas os professores esperam que os alunos entrem muito mais bem preparados quando chegar a hora de realizar as experiências reais. Há experiências sendo realizadas em vários locais. No Instituto de Física da USP em São Carlos, vários professores estão usando em suas aulas técnicas de teleconferências e de tele-ducação. O primeiro teste foi a realização de um curso conjunto, de seis meses, para estudantes de Física e de Computação, envolvendo professores das duas áreas. "O curso deixou alunos e professores convencidos de que o sistema é viável e vantajoso quando se trata de promover a integração de instituições distantes", afirma o professor Antônio Carlos Ruggiero, responsável pela instalação da rede da USP em São Carlos. A prática do curso também ensinou muita coisa aos professores. Por exemplo, durante a aula, uma câmera deve ser mantida focalizando ex13
clusivamente a lousa. "Se a câmera focalizar o professor e a lousa ao mesmo tempo, a imagem numa televisão de 29 polegadas não vai permitir que o aluno leia o que vai sendo escrito", conta Ruggiero. Assim, o problema é resolvido mantendo-se um zoam na lousa, enquanto o professor aparece num canto da tela, para que os alunos possam acompanhar sua expressão.
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O_ 40 minutos para expli-
tano, ele leva cerca de
3 car como a toxina age no corpo humano, desde a porta de entrada, geralmente um ferimento no pé, até sua instalação. "Tenho de explicar como o bacilo se divide, se multiplica, produz a toxina e atinge o sistema nervoso", declara. "Com um sistema de animação, é possível mostrar isso em 40 segundos e, além do mais, o aluno pode repetir a animação do CD-ROM quantas veDefesa de tese - Outro zes quiser, até gravar a teste feito em São Car- Alunos e computadores: quantidade de informações cada vez maior seqüência na memória." los acompanhou a deBarravieira afirma fesa de uma tese de que o uso das redes não traz vantamestrado. Por motivos legais, os três plantão em certos horários, para esgens só para o aluno. Também ajuda membros da banca tiveram de estar clarecer dúvidas pela rede interna ou o professor, que passa a controlar presentes fisicamente no local. Mas pela Internet e também poderão ser melhor seu tempo. "Em vez de pasum suplente e uma pequena audiênconsultados por e-mail. O CD-ROM, sar horas repetindo as mesmas aulas, cia acompanharam todo o trabalho por sua vez, terá links para sites na aproveito melhor o tempo, discutina distância. Não é impossível que a Internet nos quais, de acordo com os do o assunto em profundidade com idéia evolua. Ligados pela rede, proprofessores, os estudantes poderão os alunos ou pesquisando novidafessores não precisariam mais viajar obter informações confiáveis. des, o que é muito mais interessante para participar de bancas fora de e proveitoso", opina. "Isso pode ser o suas cidades. Ruggiero não acha difíExperiência anterior - Benedito Barinício de uma revolução no ensino cil que a legislação seja mudada para ravieira, pró-reitor de extensão da da Medicina", prossegue. "Em breve, permitir isso. "As vantagens são muiUnesp e professor do Departamento o sistema também poderá ser aplicatas", declara. de Doenças Tropicais e Diagnósti<?o do nos cursos de graduação." As experiências se avolumam. Na por Imagem da Faculdade de MediO professor deixa claro, de qualUnesp de Botucatu, a Faculdade de cina de Botucatu, diz que o trabalho quer maneira, que o sistema deve ser Medicina pretende iniciar, ainda este é apenas uma extensão de uma exusado apenas em aulas teóricas. "Ninano, cursos em que a presença do aluperiência que vem dando certo. Há guém está pensando em formar um no na sala de aula será dispensável. A vários anos, ele distribui kits sememédico a distância", ressalva. "Neidéia surgiu no Centro de Estudos lhantes a seus alunos e não faz quesde Venenos de Animais Peçonhentas nhum aluno vai ser capaz de operar tão de presença obrigatória em todas (Cevap), um organismo com larga se não tiver aulas práticas de cirurgia, as suas aulas. experiência em editoração eletrônimas nada impede que ele estude as téc"O aluno vem para a faculdade nicas cirúrgicas em sua própria casa:' ca. Desde 1995, o centro edita uma preparado para discutir o assunto Barravieira prossegue: "Não se revista eletrônica sobre animais veem classe, tirar dúvidas e fazer as nenosos, disponível em CD-ROM e trata apenas de comodidade. A Meprovas", conta. Ele vê muitas vantano seu site, www.cevap.org.br. dicina está evoluindo e a quantidade gens no sistema: além do aluno poInicialmente, serão oferecidos de informações cresceu muito nos der distribuir seus horários de estutrês cursos, Ofidismo, Tétano e Vaciúltimos anos. Mesmo assim, os curdo como for melhor, ainda conta sos de Medicina têm a mesma duranas. O aluno receberá um kit com com os recursos multimídia do mação da década de 50, ou seja, seis um vídeo, um CD-ROM e um livro, terial, como ilustrações e animações, material que já está pronto para ser anos. Se não encontrarmos meios capazes de facilitar o aprendizado. distribuído. O aluno seguirá o curso mais rápidos de transmitir informaO professor dá um exemplo. onde quiser. Professores ficarão de ções, vamos perder conteúdo." Numa aula convencional sobre o té14
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PESQUISA FAPESP
Em busca da confiabi Iidade Redes ganham segurança com novos equipamentos uando foram instaladas as pnme1ras redes nas universidades e institutos de São Paulo, o processo era simples. Passava-se um cabo telefônico por locais próximos de onde ficavam os interessados. Para cada ponto da rede, cortava-se o cabo e estabelecia-se uma saída para o computador. Todos os computadores ficavam ligados entre si, como num varal. Se um deles tivesse um problema, como um curto-circuito na eletricidade, toda a rede caía. Isso não causava grandes surpresas. As quedas na rede eram freqüentes e, quando aconteciam, perdiam-se os trabalhos que estivessem sendo realizados. Não que os prejuízos fossem exagerados. As redes eram muito pequenas. Fibras ópticas: muito mais velocidade Num dos pioneiros, o Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo Cada computador é ligado direta(USP), por exemplo, todos os commente a uma central. Se tiver um putadores da rede, instalada em problema, isso não vai interromper 1991, estavam numa única sala. o restante da rede. As centrais, por A situação mudou muito. Hoje, sua vez, são ligadas a um equipatodos os mais de 500 prédios da mento do qual saem os cabos que faUSP, por exemplo, estão ligados por zem as conexões externas. uma rede confiável, segura e, sobretudo, rápida. No lugar dos antigos Comunicações digitais - O professor cabos coaxiais, usam-se cabos muito Fernando Paixão, do Instituto de Fímais seguros, que empregam uma sica da Unicamp e membro da coortecnologia conhecida como pares denação de informática da FAPESP, trançados, ou UTP. Em alguns casos, compara a situação, quando o proos cabos foram substituídas por figrama foi lançado, à de uma cidade bras ópticas, ainda mais estáveis. onde chega, pela primeira vez, a PESQUISA FAPESP
energia elétrica. "Os postes levam a eletricidade até a porta das casas, mas, para usá-la, é preciso que cada casa faça a sua instalação, puxando fios e instalando tomadas'~ diz. Foi mais ou menos o que aconteceu nas universidades. Cada instituição montou sua rede, aproveitando a chegada das comunicações. Na época, de acordo com Paixão, já se previa que as comunicações digitais substituiriam, rapidamente, telefones e aparelhos de telex. Daí, uma recomendação unânime da comissão de informática para que a FAPESP desse prioridade para a instalação das redes nos projetas de infra-estrutura, iniciados em 1995. Milton Kashiwakura, assessor da rede Academic Network in São Paulo (ANSP), da FAPESP que participou da instalação da rede da USP, lembra que o trabalho exigiu muito esforço de acompanhamento. "Cada empresa contratada tinha seus próprios padrões e foi preciso estabelecer normas rígidas, a serem seguidas por todos", afirma. No fim do contrato, cada empresa só recebia o dinheiro depois de uma rigorosa inspeção. Por exemplo, no caso de uma conexão por fibra óptica, o cabo não pode ser muito esticado. Se isso acontecer, ele nunca funcionará direito. "Pode-se usar o melhor material do mundo, mas, se a instalação não for bem feita, tudo tem que ser jogado no lixo", afirma Kashiwakura. Há outros cuiIS
dados. Os cabos UTP, por exemplo, têm que ser colocados distantes da rede elétrica. A rede cria campos magnéticos e os cabos, feitos de cobre, sofrem com essa proximidade. Mesmo assim, os cabos de cobre ainda são muito usados, especialmente em redes no interior de edifícios, onde correm por dutos metálicos instalados ao longo das paredes. Isso se deve, sobretudo, a questões de economia. Os cabos mais modernos, das categorias Se e 6, suportam perfeitamente o tráfego atual. Metro por metro, os preços dos cabos UTP e de fibra óptica se equivalem. A diferença está nas tomadas que ligam os computadores à rede, muito mais caras no caso das fibras ópticas, devido aos matenats espeCiats necessários para esse tipo de comunicação, e nas placas de rede instaladas dentro dos próprios computadores. Numa conexão por fibra, a placa custa cerca de quatro vezes mais. Trabalhos internos - De qualquer ma-
neira, a diferença começa a valer a pena em certos casos. Uma é a distância. É ponto pacífico entre os técnicos que, a partir de uma distância de 100 metros, os cabos UTP deixam de ser vantajosos, devido à necessidade de mais equipamentos para a transmissão. Assim, a tendência é que sejam usados mais em trabalhos internos, deixando os externos para as fibras. As conexões por fibra também são mais interessantes quando precisam passar por ambientes com muitas interferências, como as causadas pelo funcionamento de motores. Usadas externamente, as fibras têm ainda outra vantagem. Como funcionam à base de luz, se um raio cair na rede, a descarga não progredirá até chegar a queimar computadores e outros equipamentos, como pode acontecer com os cabos de cobre. Ainda há outra questão. As fibras permitem velocidades muito mais altas. Isso se torna cada vez mais im16
portante na rede. Para os técnicos, os cabos das categorias Se e 6, o atual padrão do mercado, suportarão as necessidades previstas para os próximos anos. Mas redes montadas com cabos de categoria 3, como as primeiras nos Estados Unidos, já exigem substituições. O custo é alto, mas não assustador. "Se os preços dos au-
Fibras ópticas são mais vantajosas quando a distância supera os 1 00 metros tomóveis baixassem tanto como os dos produtos de informática, hoje poderíamos comprar um carro por R$ 1", brinca Paixão. A necessidade de maior capacidade se explica. Para se realizar uma intervenção cirúrgica a distância, por exemplo, as redes normais são inadequadas. Não permitem um trabalho em tempo absolutamente real, que pode ser essencial em operações mais complicadas. Paixão destaca que, paralelamente à formação das redes locais, a FAPESP investiu muito no desenvolvimento da rede ANSP, que liga as universidades e institutos entre si e também ao resto do Brasil e ao exterior. A rede ANSP 2, já em instalação, será ainda mais rápida e poderá eliminar alguns pontos de congestionamento ainda existentes. Investimentos isolados - A evolução faz parte da informática. Por isso, é natural que as redes evoluam. Hoje, as redes internas das universidades suportam, sem problemas, até 100 megabits por segundo, um bom padrão, de acordo com os técnicos, para as necessidades atuais. "Mas, se o tráfego se tornar mais intenso, os fios não vão suportar", declara Pai-
xão. ''A situação seria como se usar um fio comum para ligar um chuveiro elétrico à rede de energia". Paixão, no entanto, vê nisso uma situação bem menos crítica do que a existente antes dos primeiros investimentos dos programas de infra-estrutura. "Ela poderá ser resolvida com investimentos isolados, com recursos de financiamentos das próprias pesquisas, por meio de reservas técnicas." Uma mudança mais completa, porém, pode vir do projeto Tecnologia da Informação e Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia), aprovado recentemente pelo conselho da FAPESP. "Este é o próximo passo da Internet", afirma Antônio Carlos Ruggiero, responsável pela instalação da rede da USP em São Carlos e assessor da equipe que estuda o projeto. O objetivo do programa é estimular o desenvolvimento de tecnologia avançada na área da Internet. "Hoje, não há mais preocupações com a Internet 1': diz Ruggiero. "Ela já está bem consolidada. Mas as aplicações para a Internet 2 ainda não estão disponíveis. Falta tecnologia, falta conhecimento, falta desenvolvimento na área da pesquisa. É isso que o programa pretende estimular", acrescenta. A iniciativa segue uma tendência mundial na área da computação e deverá contar com a participação de pesquisadores de todo o mundo. "Trata-se de algo inteiramente novo, menos comprometido com o tráfego de produção do que a Internet 1", diz Ruggiero. Com o novo sistema, os pesquisadores poderão fazer várias experiências que hoje interromperiam ou prejudicariam o fluxo de dados que corre por suas redes. São pesquisas nas quais, por exemplo, é preciso interromper a rede para instalar ou trocar equipamentos. Desses testes poderão surgir novidades tão impressionantes como as que começaram a mudar, há pouco mais de cinco anos, as possibilidades abertas para os pesquisadores de São Paulo. PESQUISA FAPESP