EGON BELZ: Arquitetura Moderna em Santa Catarina

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EGON BELZ: Arquitetura Moderna em Santa Catarina

Aretha Lecir Rodrigues dos Santos Bárbara Guimarães Fernandes Karine Daufenbach





UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA GRUPO PET ARQUITETURA E URBANISMO 2019 Ubaldo Cesar Balthazar Reitor Sebastião Roberto Soares Pró Reitor de Pesquisa Rogério Cid Bastos Pró Reitor de Extensão Edson Roberto De Pieri Diretor Centro Tecnológico Ricardo Socas Wiese Chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo Eduardo Westphal Cordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo Samuel Stainer dos Santos Tutoria Grupo PET Karine Daufenbach Professora Orientadora Aretha Lecir Rodrigues dos Santos Bárbara Guimarães Fernandes Bolsistas



LISTA DE IMAGENS..............................06 Apresentação.............................08 Objetivos..............................10 Metodologia..............................12 Resultados..............................14

LINHA DO TEMPO..............................16 1931-1950 A Pessoa..............................22 1951-1966 A Experiência..............................24 1967-1976 A Obra..............................26 1977-1984 O Acadêmico..............................54 1985 - 2007 O mentor..............................68

SÍNTESE E CONCLUSÃO...............................80 BIBLIOGRAFIA.............................84


EGON BELZ 06 Capa: Maquete do ginásio de esportes Sebastião Cruz, Galegão. FURB, 2012. FIgura 01: Egon Belz. ClickRBS, 2014. Figuras da Linha do Tempo: Produção das autoras, 2016. Figura 03: Egon Belz, o atleta. O Esporte Amador, 2010. Figura 04: Estudo de fachada do ginásio de esportes Sebastião Cruz. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 05: Estudo tridimensionais de coberturas de estruturas esportivas. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 06: Fachada Lateral do Edifício Esportivo Ipiranga. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 07: Planta baixa do Edifício Esportivo Ipiranga. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 08: Fachada da piscina do Edifício Ipiranga. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 09: Fachada do Edifício Ipiranga vista da Rua Vidal Ramos. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 10: Implantação do projeto da Cia. Hering. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 11: Implantação do projeto da Cia. Hering. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 12: Esboços de Egon Belz da cobertura do ginásio de esportes. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 13: Planta baixa do térreo do ginásio de esportes. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 14: Estudos de fachada do ginásio de esportes Sebastião Cruz. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 15: Estudos de fachada do ginásio de esportes Sebastião Cruz. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 16: Estudos de fachada do ginásio de esportes Sebastião Cruz. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 17: Planta baixa do primeiro pavimento do ginásio de esportes Sebastião Cruz. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 18: Detalhe da claraboia. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 19: Detalhe do pilar estrutural. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 20: Situação da Residência JS. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 21: Fachada sul e norte da Residência JS. Atenta-se ao formato da caixa d’água em cone e detalhe da telha modelo


EGON BELZ 07 canalete. Consulta ao acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 22: Fachada leste e oeste da Residência JS. Consulta ao Acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 23: Fachada da edificação da Rua Martin Luther, em Blumenau, conformada pela vegetação, o que dificulta a penetração da visão. Consulta ao Acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 24: Localização da residência da Rua Martin Luther, em Blumenau, a partir do endereço em planta. Google Maps, 2017. Figura 25: Localização da residência AW, em Blumenau, a partir do endereço em planta. Google Maps, 2017. Figura 26: Corte CC da Residência AW. Atenta-se à distribuição das dependências a partir da declividade do terreno. Consulta ao Acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 27: Planta Baixa da Residência AW. Distribuição das dependências no eixo leste-oeste em formato “L”. Consulta ao Acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 28: Fachada da Residência a partir da imagem de captura do Google. Google Maps, 2017. Figura 29: Detalhe caixa d’água. Consulta ao Acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 30: Perspectiva interna da Igreja Santa Terezinha. Consulta ao Acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 31: Perspectiva interna da Igreja Santa Terezinha. Consulta ao Acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 32: Planejamento Urbano para a cidade de Blumenau. Consulta ao Acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 33: Corte esquemático da implantação de casas nas margens do Rio Itajaí-Açú, em Blumenau. Consulta ao Acervo de Egon Belz-FURB, 2016. Figura 34: Planejamento Urbano para a cidade do Rio de Janeiro pelo arquiteto carioca Sergio Bernardes. Revista Manchete, 1965. Figura 35: Estudo Urbanístico para cidade do Rio de Janeiro que previa ao decorrer da orla uma Cidade Jardim Verticalizada, de 1929. Fonte: Jrrio, 2013. Figura 36: Projeto urbano do Parque das Itoupavas, Blumenau. Consulta ao Acervo de Egon Belz-FURB, 2016 Figura 37: Esboço do projeto urbano do Parque das Itoupavas, Blumenau. Consulta ao Acervo de Egon Belz-FURB, 2016.


EGON BELZ 08 Nascido em 1931, Egon Belz destacou-se no cenário da arquitetura catarinense ao conciliar valores da Arquitetura Moderna com uma sensibilidade em relação aos materiais e ao local. Suas obras também são importantes para a compreensão do cenário mais amplo de modernização da cidade de Blumenau, entre as décadas de 1960 e 1980. Trabalhando inicialmente com arquiteto alemão Hans Broos – sem ter recebido a educação formal para tal – Belz participou da elaboração de importantes projetos na cidade de São Paulo. Alguns anos depois voltou para Blumenau onde projetou suas principais obras, na sua maioria residenciais e de pequeno porte. Ex-atleta e apaixonado por esportes, o arquiteto tem como uma de suas mais notáveis obras o ginásio Sebastião Cruz (Galegão) em Blumenau. Trabalhou durante muitos anos sem formação quando, no final dos anos 1970, entrou para o recém-criado curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis. O projeto de pesquisa ora apresentado busca o aprofundamento no estudo da carreira e das obras do arquiteto Egon Belz, que surge da necessidade de ampliação do conhecimento de arquitetos catarinenses por parte da comunidade acadêmica. O interesse desse estudo surge também da recente organização do acervo completo da obra do arquiteto na Universidade Regional de Blumenau (FURB), o que tornou o material acessível e disponível para o uso de pesquisadores. Com isso pretende-se obter uma maior compreensão do desenvolvimento das obras do arquiteto ao longo de sua prática, bem como de sua influência na constituição da Blumenau moderna, que se forma a partir de 1950.


EGON BELZ 09 Além disso, pretende-se analisar a relação que suas obras travaram com as obras do seu mestre Hans Broos, como também com outros arquitetos com quem teve contato. A pesquisa, a partir de uma visão mais geral de sua obra, privilegia determinados aspectos como sua formação universitária e os projetos urbanos para Blumenau, tendo em vista que são aspectos menos conhecido e explorados por estudos existentes sobre o arquiteto e sua obra. A formação universitária aproveita os esforços de reunião de arquivos e documentação sobre o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina, que no presente momento da produção desta publicação comemora 40 anos de fundação, e na qual Egon Belz se fez presente nas primeiras turmas no início do curso. Os projetos urbanos são, igualmente, pouco estudados e formam uma dimensão bastante vanguardista em alguns casos e é neste aspecto que se nota o interesse em analisá-los. Como conclusão, procura-se entender como Belz contribui com a produção local de uma arquitetura moderna em um contexto regional, em Blumenau e em Santa Catarina.


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Gerais Trazer uma visão panorâmica da obra arquitetônica de Egon Belz e um estudo aprofundado a partir de um recorte de obras selecionadas, com o intuito de reconhecer as obras do arquiteto dentro do contexto de Blumenau e ampliar o conhecimento acerca da arquitetura moderna regionalizada.

Específicos . Fazer um reconhecimento geral de sua obra. . Fazer um estudo aprofundado de algumas obras selecionadas. . Analisar essas obras entender os pensamentos que a formaram e informaram. . Entender a inserção urbana das obras de Egon Belz em Blumenau. . Entender os efeitos da formação prática antes e durante a formação acadêmica do arquiteto no Curso de Arquitetura e Urbanismo. . Analisar as relações identificadas entre a arquitetura de Belz e as obras de outros arquitetos, como Hans Broos, Sérgio Bernardes, entre outros.


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EGON BELZ 12 Esta é uma pesquisa de ordem qualitativa, baseada no estudo de um número reduzido de obras de Egon Belz que permitiram traçar o panorama da obra do arquiteto como um todo. Pretendeu-se enfrentar cada obra com um objeto em si no qual diversos elementos foram estudados e destacados posteriormente e conformaram a construção do universo do arquiteto. Além da revisão bibliográfica, a pesquisa comporta estudo por meio dos projetos elaborados, executados ou não, consultas ao acervo, conversa com colaboradores do arquiteto, além de análise mais geral do contexto (físico e histórico) de seu surgimento.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA GERAL

LEITURA DE BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA

ESTUDO DA CIDADE DE BLUMENAU


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ANÁLISE DO ACERVO DE PROJETOS DO ARQUITETO

ENTREVISTA COM EX-PROFESSORES E COLEGAS

RELAÇÃO DAS OBRAS COM O CONTEXTO URBANO E LIGAÇÃO COM OUTROS ARQUITETOS

ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO FINAL E CADERNO DE PESQUISA


EGON BELZ 14 Com esta pesquisa procura-se reconhecer a obra de um dos muitos arquitetos catarinenses que contribuiu, através de um trabalho de muito interesse, na construção de determinada imagem para a cidade de Blumenau, focando em alguns aspectos de sua carreira e obra. Com isto procura-se também contribuir com um importante material para a disciplina optativa de Arquitetura Catarinense além de outras disciplinas no ensino de graduação de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Santa Catarina. Ao finalizar a pesquisa pretende-se ter uma publicação da mesma, como também artigos e banners que possam contribuir com a discussão da produção do arquiteto. Este material será disponibilizado para consulta, tanto na biblioteca setorial do curso de Arquitetura e Urbanismo quanto online.


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Figura 01.


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A PESSOA Foi na antiga colônia alemã que hoje é o município de Blumenau, que até hoje carrega fortes traços da cultura teuto-brasileira, no ano de 1931 que Egon Belz nasceu e cresceu, vivendo uma infância tranquila com seus pais no bairro Ribeirão Fresco. [...] Influenciado pelo pai, sua ligação com o esporte começou desde cedo, mas foi a curiosidade de saber como sua própria casa foi construída que despertou sua outra paixão, a arquitetura (LATRÔNICO, 2013).

Antes de se tornar arquiteto Egon foi reconhecido como um importante esportista na região e sua formação acadêmica desde jovem refletiu nos caminhos que viriam a ser trilhados por ele. Através dos esportes, de Blumenau, seus estudos migraram ainda no ginasial para Curitiba e mais tarde para São Paulo, onde lá teve mais contato com os estudos de Arquitetura pela Mackenzie. Lá também pode aprender um pouco sobre os estudos de desenho através do escritório Breslau & Bastian, quando estava no colegial (LATRÔNICO, 2013).


EGON BELZ 23 Em São Paulo, durante sua formação como técnico em edificações pelo Colégio Presbiteriano Mackenzie que Egon Belz teve certeza que queria se aproximar da carreira de arquiteto. Nos anos 50, época em que Belz morou em São Paulo e começou a vivenciar suas primeiras experiências na área, ainda não existiam escolas de Arquitetura no estado de Santa Catarina, a primeira foi a da Universidade Federal de Santa Catarina, que só surgiu no final dos anos setenta, onde Belz se formou tardiamente e ingressou com uma bagagem de vinte anos projetando.

Figura 03.


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A EXPERIÊNCIA Foi na época em que viveu em São Paulo que Egon Belz começou a trabalhar em escritórios e aprimorar a prática de desenho arquitetônico. Mas mais do que isso, Belz passou por experiências que influenciaram em sua formação, como o contato com as obras do Parque do Ibirapuera do arquiteto Oscar Niemeyer. Uma figura que teve extrema importância na construção de Egon Belz como arquiteto foi Hans Broos, que fazia uma arquitetura que se aproximava, em diferentes momentos, da Escola Carioca e do Brutalismo Paulista. Em uma de suas visitas a Blumenau, enquanto ainda morava em São Paulo, Belz mostrou a Broos seu trabalho, que logo o convidou para trabalhar em seu escritório. A arquitetura moderna de Hans Broos ecoou sobre a produção de Belz que combinava os elementos da arquitetura moderna com os tradicionais de origem germânica criando uma tipologia própria (LATRÔNICO, 2013). Belz também trabalhou com Sérgio Bernardes, importante arquiteto carioca, que começou a trabalhar na área muito jovem e representou a segunda geração da Arquitetura Moderna. Sergio Bernardes fez importantes projetos que percorrem desde residências até pavilhões e refletem a expressão da escola carioca de arquitetura.


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[...] Trabalhou com o arquiteto Hans Broos aqui em Blumenau, migrou junto com o Hans Broos para São Paulo, trabalhou em São Paulo com ele também, teve um experiência com Sérgio Bernardes no Rio de Janeiro e depois ele sentia que era hora do voo dele. (EGON, 2015)

Entre os anos marcados pelo final de sua formação em técnico de edificações e criação de seu próprio escritório, Belz projetou essencialmente residências e edifícios comerciais. No acervo presente na Universidade Regional de Blumenau, a FURB, existem poucos projetos datados que se referem à essa época. Possivelmente, parte significativa de sua produção e colaboração ficou na cidade de São Paulo.


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A OBRA A menina dos olhos: Ebelza Após quinze anos de trabalho em parceria com importantes figuras da Arquitetura Brasileira Moderna, como Hans Broos, Egon Belz voltou para sua cidade natal e em 1966 abre seu primeiro escritório com o nome de Ebelza Projetos, marcando um momento de conquista de maior independência sobre sua produção arquitetônica. A abertura de seu próprio escritório é fruto de um momento em que o arquiteto começa a conceber projetos cada vez mais maduros e em sua linguagem característica. Prova disso é que dois anos após a abertura de seu próprio escritório o seu projeto de maior notoriedade, o Ginásio Sebastião Cruz, é concluído. No período que vai da abertura de seu próprio escritório até o ingresso na Universidade se concentra a maior produção de Belz e a ampliação das áreas projetuais em que ele atua. Entre seus projetos datados nesse período encontram-se as usuais residências, os edifícios comerciais, os edifícios esportivos, os edifícios educacionais e os edifícios religiosos. Esse é o momento em que o arquiteto estabelece sua identidade arquitetônica e consolida sua carreira como projetista.


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A grande paixão: Edifícios Esportivos Durante a sua história de vida, Egon Belz foi, além de arquiteto, um grande atleta. A sua experiência com o esporte reflete em sua obra arquitetônica. O maior destaque entre seus projetos construídos é, sem dúvidas, o Ginásio de Esportes Sebastião Cruz, o Galegão, localizado no centro da cidade de Blumenau. Nas dezenas de pranchas que ilustram esse projeto é possível ver a preocupação com cada detalhe construtivo e estético. Fica perceptível que Egon teve o cuidado de pensar como seria a vivência do sujeito - o esportista e o apreciador do esporte - que estaria inserido dentro da edificação. [...] Uma coisa que encantava ele, [...] que eu me lembro, eu acho que mais que arquitetura, era a questão do futebol, ele era um esportista, ele tinha uma relação com o esporte impressionante, inclusive se eu não me engano ele era da Federação Catarinense de Esportes, ele tinha cargos em algumas áreas de esportes, ele representava Santa Catarina [...] é interessante que o que me marcou era que ele conversava muito comigo sobre esporte. (SUGAI, 2017)


EGON BELZ 28 Belz acreditava em uma arquitetura que pudesse harmonizar com a natureza e contemplar não apenas as necessidades funcionais do homem, mas também as espirituais. Sua preocupação com a inserção do esporte é também reflexo de um pensamento urbano moderno onde o trabalho é inerente às outras atividades do homem. [...] Tudo isso encontra-se em meio à área verde com paisagismo apropriado servindo ao mesmo como local de relaxamento espiritual. (BELZ, 1974)

Figura 04.


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Figura 05.

Os edifícios esportivos analisados são três ginásios. Dois fazem parte de um complexo esportivo e um é parte da ampliação de um fábrica. A análise das três obras a seguir se embasou não só nas inúmeras pranchas encontradas em seu acervo, mas também nas informações que pessoas próximas a Egon perceberam sobre seu modo de projetar os edifícios esportivos.


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Edifício Esportivo Ipiranga (1966-1968) O amadurecimento da região de Blumenau se deu em torno do crescimento e reconhecimento de uma forte Indústria têxtil na região, reflexo de todo um processo histórico. Em 1850 os primeiros colonizadores Alemães chegaram ao local que hoje se encontra a cidade de Blumenau. A pequena colônia surgiu às margens do rio Itajaí e sua economia girava em torno da agricultura, até que no final do século XIX a já cidade de Blumenau começa o processo de industrialização que deu início ao grande polo industrial têxtil que é hoje. Belz, que tem grande parte de sua obra concentrada na região de Blumenau, fez alguns projetos que se relacionavam com a arquitetura industrial, como o Edifício Esportivo Ipiranga e a Cia. Hering que faziam parte de ampliações de espaços fabris. Diferente de seus outros projetos de ginásios, nesse, Egon cria uma edificação quadrada. Os dois pavimentos são erguidos por uma sequência de pilares delgados de perfil I e U, muito provavelmente feitos de metal, que se repetem de 5,50 metros, criando uma malha que é usada para definir o desenho da planta baixa. Novamente, Egon Belz usa o formato da edificação para definir o desenho dos espaços internos, criando uma relação entre o espaço percebido externamente e internamente. Essa malha criada faz com que a separação dos espaços dentro da edificação seja uma repetição de área


EGON BELZ 31 moduladas que podem ser multiplicadas, como na planta do Ginásio da Cia. Hering e do Galegão.

Figura 06.

A estrutura composta por esbeltos pilares e vigas sustentam uma cobertura treliçada com leve inclinação, que é escondida atrás de platibandas nas fachadas da Rua Vidal Ramos (oeste) e na fachada voltada para a piscina (leste). Apesar de não haver uma descrição de todos os materiais que são usados na construção do edifício é possível perceber que os fechamentos são feitos principalmente de vidro.


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Figura 07.

O pavimento inferior, que segue o desenho de malha quadrangular, comporta dependências tais como vestiários, cozinha, bar, sala de jogos, alojamento e além das áreas que assistem ao funcionamento do edifício. Há ainda dois espaços de jardins internos. Um deles está na margem da fachada oeste e ocupa o espaço remanescente entre a edificação e o limite do muro de contenção que suporta o desnível do terreno.


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Figura 08.

Figura 09.


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Cia. Hering (1974-1980) A Cia. Hering é uma das empresas têxteis mais importantes de Blumenau, faz parte da construção arquitetônica, histórica e econômica da cidade. Considerada a principal atividade econômica da cidade, o ramo têxtil esteve presente desde o início do desenvolvimento da cidade. Destacando-se junto com a Hering, as empresas Dudalina, Teka, e Karsten. A história da empresa envolve no próprio processo de desenvolvimento da cidade de Blumenau, desde as primeiras décadas de sua fundação. Seu fundador, Hermann Hering, que, em 1878 deixou a Alemanha para procurar uma nova forma de subsistência, encontrou na colônia de Blumenau uma possibilidade de prosperar: Por obra do acaso, H. Hering adquiriu em 1879 em Joinville um tear circular e um caixote de linhas. talvez se manifestasse nele novamente o sangue dos antepassados, os quais desde o ano de 1675, sem exceções, como consta de documentos em poder da família, eram tecelões mestres de tecelagem. [...] (SILVA et al., 1950, pg 174)


EGON BELZ 35 No ano de início da Primeira Guerra Mundial os negócios da família Hering prosperavam, sendo um empreendimento considerável. Em 1929 a Hering & Cia passou a ser sociedade anônima Cia Hering. Em 1974 Egon projetou uma ampliação do parque esportivo da sede da Cia. Hering que se encontra na Rua General Osório, no Bairro da Velha (figura 10).

Figura 10.

Sua preocupação em inserir o esporte na vida cotidiana é, além de reflexo de sua vivência pessoal como atleta, também um reflexo dos princípios do Urbanismo Moderno que busca uma vida que une o trabalho e o lazer.


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Figura 11.

É possível perceber que o projeto contempla desde o paisagismo e a implantação das edificações (existentes e novas) no terreno até os detalhes arquitetônicos. Em sua inserção no terreno observa-se que há uma divisão espacial feita pelo grande volume de vegetação que cruza o parque formando uma diagonal. O lado nordeste é composto por algumas edificações, sendo a principal, o estádio, cercado por outras menores como a quadra polivalente, o vestiário, o bar, o playground, o estacionamento e a área de lazer (figura 11).


EGON BELZ 37 A maior construção, o Estádio, tem seu acesso principal pela fachada sul; a leste do Estádio estão a quadra, o vestiário e a entrada principal, que no projeto de Egon seria ampliada. Há uma grande via de acesso, que cruza o parque e se inicia no estacionamento do Estádio, próximo a entrada principal que está à leste e acaba na entrada da fachada oeste. Essa via abriga a circulação de automóveis e guia o pedestre à outras áreas do Parque. Ao sul das maiores construções se encontra a área de lazer, constituída por churrasqueira, engenho, quadra de bocha, dois lagos e vegetação. A segunda região, ao sudoeste, é composta pelas quadras de tênis, o ginásio de esportes proposto por Egon, o edifício da confecção e outro estacionamento. A quadra de tênis, o ginásio e o estacionamento estão na direção da fachada oeste e são cruzadas pela grande via de acesso que atravessa o parque. O ginásio, está próximo à entrada secundária da Rua General Osório. Na fachada sul encontra-se a Fábrica. O maior destaque nesse projeto é a proposta de um novo ginásio de esportes. A edificação está localizada mais próxima à saída da Rua General Osório, próximo ao prédio da fábrica, ao lado de duas quadras polivalentes e um estacionamento. É ligada ao restante das construções esportivas por vias que cruzam o parque. Entre as pranchas do projeto do ginásio é possível encontrar esboços com as primeiras ideias das fachadas. Elas se diferem nos materiais, no desenho, na estrutura e nas cores. A proposta escolhida pelo arquiteto no avanço do projeto é uma grande cobertura redonda de tenda tensionada por oito mastros em forma hexagonal (figura 12).


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Figura 12.

O ginásio possui dois pavimentos: um subsolo e um andar térreo. O subsolo possui uma planta circular, assim como o projeto do Galegão, onde há no centro um vazio cercado de espaços periféricos divididos de maneira radial. A divisão desses espaço é padronizada de maneira modular, ou seja, cada área tem o mesmo tamanho que pode ser multiplicado por dois ou por quatro. O subsolo abriga uma série de espaços necessários em uma edificação com função esportiva, como vestiário, alojamento, depósito, sanitários, salas com serviços de saúde, além dos espaços administrativos, como sala da direção e secretários e espaços recreativos, como salão de jogos e bar. A circulação nas obras de Egon Belz também é uma característica que merece destaque. Existe uma preocupação em dispor circulação que contemple todos os espaços. No caso do ginásio da Cia. Hering, há um corredor único que circunda toda a extensão da planta do subsolo dando acesso a todos os ambientes. O acesso ao pavimento superior é através de duas escadas em extremidades opostas.


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Figura 13.

O pavimento térreo abriga a quadra do ginásio. O espaço pode ser utilizado como um único grande campo ou duas quadras menores. Existem ainda duas arquibancadas de dez degraus que se encontram em extremidades opostas, assim como os acessos (figura 13).


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Uma outra proposta de Egon é a ampliação da entrada principal da fábrica. O desenho da planta tem formato retangular e se destaca o fato de ambos pavimentos contarem com corredores que circundam toda a edificação, assim como no ginásio, todos os ambientes podem ser acessados por um mesmo corredor, mas nesse caso a circulação está na periferia e não no centro. Dentro da edificação os espaços são separados sempre com desenhos de planta quadrados ou retangulares. No pavimento térreo estão concentradas as áreas de vestiários, depósito, setor médico e secretaria e no segundo pavimento estão as áreas de lazer, auditório, espera, depósito e há também um terraço na fachada norte. O principal material usado é concreto armado aparente e as aberturas são principalmente do tipo basculantes e porta-janela.


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Sebastião Cruz - Galeão (1968-1971 e 1974-1989) O famoso ginásio Sebastião Cruz, o Galegão, é parte de um grande projeto urbanístico da Comissão Municipal de Esportes da década de 1960. Pensado para estar situado entre as ruas Alberto Stein e Rua Humberto de Campos, no Bairro Velha, na cidade de Blumenau, ao lado da Vila Germânica que abriga o maior evento da cidade e um dos maiores da região sul do Brasil, o OktoberFest. O projeto não foi todo construído, mas o Ginásio idealizado por Egon Belz foi feito no início dos anos 70, tendo duas reformas posteriores e é, sem dúvidas, a sua obra mais reconhecida. Nesse projeto Belz detalhou com cautela todos os aspectos construtivos, novamente tomando extremo cuidado em pensar como a edificação seria sentida pelo usuário. Entre as pranchas técnicas desse projeto é possível encontrar alguns estudos preliminares de como seria a edificação. Todos possuem uma relação formal com o que foi realmente construído, como a questão do uso do concreto na estrutura e as janelas em fita. (figura 14)

Figura 14.


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Figura 15.

Figura 16.


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O projeto final é uma grande edificação com um grande pé direito que abriga dois espaços: o espaço inferior que possui formato quadrado e o espaço superior, no formato de circunferência. A parte inferior possui, assim como nos outros edifícios esportivos, uma malha que guia o desenho dos espaços dentro do prédio. Neste caso a divisão é radial e ao mesmo tempo circular (figura 17).

Figura 17.


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A circulação é feita através de corredores que surgem entre as dependências da edificação e existem quatro acessos, três para o público e um exclusivo para os atletas. A planta baixa do ginásio apresenta em seu centro a quadra, toda cercada por espaços que se dispõem de maneira circular. Na região mais próxima à quadra estão os acessos aos sanitários, acessos dos atletas e depósitos. A área seguinte contempla a circulação dos atletas, vestiários, sanitários, departamento médico e de assistência, hall, administração, telefones, zelador e depósito. A seguinte contempla a circulação pública, salas de aula, vestiários, bar, depósitos, portaria, área do gerador energético e polícia. É apresentada uma alternativa de estrutura metálica feita em alumínio, neoprene, concreto aparente e chapas de concreto amianto. A estrutura conta com quatro grandes pilares (pilar tipo) que apoiam a estrutura metálica. O acesso à edificação é feito por escadas e a construção está um pouco acima do nível da rua. Há iluminação natural feita através de claraboias construídas com domos de plástico, concreto, ferro chumbado e chapas de ferro. Em um dos cortes é possível ver que a claraboia possui um formato de J (figura 18). A estrutura principal construída é apoiada em quatro pilares tipo em formato de cruz (figura 19), e em uma das reformas posteriores, mastros externos são usados para complementar a estrutura.


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Figura 18.


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Figura 19.


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É possível perceber uma sensação de leveza causada pelo material e pelo uso de poucos pilares. A estrutura metálica é coberta com chapas de alumínio e concreto. A cobertura tem uma platibanda e paineis de fibra de vidro, que hoje, após as reformas, aparenta não existir mais. A laje é impermeável e possui uma camada exterior de piso português. Os corrimãos são feitos em concreto.


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Residências: o exercício do detalhe (1966-1976) Entre projetos esportivos, o escritório de Belz também se preocupava em conceber projetos residenciais, que muitas vezes se encaminhava a interiores e detalhamento de equipamentos e mobiliário. Anterior à academia, ele já possuía muito domínio de projetos arquitetônicos, empregando uma linguagem formal própria e ímpar, sendo fácil identificar elementos que só sua arquitetura possui. Influenciado pelos profissionais que trabalhou anteriormente, se apropriava de formas e elementos da concepção moderna de projetar, tais quais onde a arquitetura é comprometida com a realidade através da crítica do contexto urbano que lhe era apresentado: a conformação acidentada do sítio de Blumenau lhe proporcionou soluções pertinentes a cada projeto; da mão de obra; e principalmente dos materiais disponíveis, onde combinava ou fazia novas releituras do que tinha no local. O profissional também se acercava das necessidades apresentadas por seus clientes em cada projeto, preocupando-se muito em colocar a personalidade do futuro residente:


EGON BELZ 49 [...] Eu me recordo que para ele projetar a casa nós devíamos ter tido meio ano de conversas. Ele indo lá, eu e a esposa vindo aqui, e ficávamos longas horas conversando, porque ele queria projetar sempre, de tal sorte, a residência, que a gente se sentisse dentro de uma construção que é o nosso estilo, do nosso feitio. Por isso que ele exigiu muitas reuniões, muitas, chegou a ser cansativo, porque a cada vez que nós nos reuníamos, ele conduzia a conversa, o diálogo, as perguntas para nós, no sentido de descobrir em nós, na nossa família, um outro jeito de ver as coisas, e aí ele foi construindo a ideia do projeto da minha residência [...] (EGON, 2015)

Figura 20.


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A residência analisada nesse período é a JS, que possui características muito fortes que se repetem em residências posteriores ao ingresso na Universidade Federal de Santa Catarina. As duas seguintes possuem uma preocupação maior no detalhamento de projeto, reflexo do ensino da academia. As diversas pranchas analisadas encontram-se no acervo da FURB e as impressões sobre tais tomadas de decisão projetual foram reforçadas pelas colegas que conviveram com Egon e as percepções de tais sobre a metodologia de projeto do profissional.


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Projeto Arquitetônico Residencial JS (1975-1978) A residência JS foi desenvolvida em duas etapas, a primeira entre 1975 e 1978 e a segunda entre 1984 e 1990. Localizada na Rua Augusto Muller, em Blumenau, a residência térrea em tijolos a vista possui uma planta alongada no eixo leste-oeste devido ao formato do lote (figura 20). O projeto se apropria de aberturas nas fachadas norte e leste. Na fachada sul, a fachada principal da residência, um mosaico de pedras confere um arranjo estético relevante ao projeto (figura 21).

Figura 21.


EGON BELZ 52 Outra característica muito presente em quase todas as residências analisadas é o formato da caixa d’água: em forma cônica. Este volume cônico se apresenta saliente do volume da edificação, atingindo em quase todos os casos quatro metros a partir da cumeeira do telhado. A volumetria da edificação sugere vários caimentos da cobertura, esta que, por sua vez, apresenta uma inclinação pequena, conferindo a utilização de telhas plissadas de fibrocimento, modelo canalete 49, que proporciona vencer grandes vãos. O uso desta telha e de modelos semelhantes pode ser muito visível em toda a região onde está localizado o projeto, o que faz o arquiteto se apropriar deste material.

Figura 22.


EGON BELZ 53 Atualmente encontra-se poucos vestígios da construção da residência, sendo no endereço indicado a consolidação de três residências com tipologia diferente da projetada por Egon. Ao analisar esse período de produção de Belz conjuntamente com depoimentos de clientes e colaboradores, percebe-se a herança recebida ao trabalhar com Broos, desenvolvimento de uma linguagem moderna, com a mescla de técnicas e materiais presentes na localidade, como também o aproveitamento da disposição destes, procurando moldar uma linguagem arquitetônica e singular à cidade de Blumenau. a combinação de espaço verde é outro elemento que procura sempre trabalhar, tendo como filosofia que a combinação destes é imprescindível para a vivência humana, um tempo de lazer em contato com a natureza, o que Belz se apropria muito bem em seus projetos.


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O ACADÊMICO A experiência de Egon na área de arquitetura refletiu em seus trabalhos acadêmicos a linguagem que desenvolvia em seus projetos arquitetônicos, como também a maturidade em desenvolvê-los: Primeiro de tudo, o Egon quando entrou já era um senhor, um senhor com uma significativa experiência em projeto. Ele trabalhou nada mais nada menos com o Sérgio Bernardes, isso tem um peso muito grande. Fora isso ele tinha uma experiência muito grande com projeto, com o Hans Broos, então claro que a arquitetura do Egon era uma arquitetura dentro dessa linha de um brutalismo regionalizado [...]. [...][Ele] tinha uma postura nobre em relação à profissão e muito definido em relação ao que queria em termos de arquitetura, o que entendia por arquitetura, então a escola não mudou muito o trabalho dele, ele continuou fazendo aquela linha de arquitetura, o concreto aparente, o uso da madeira, as treliças. [...] (SANTOS, 2017)


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Essa linha de arquitetura citada por Cesar Floriano dos Santos em entrevista às pesquisadoras em junho de 2017 é evidente nos projetos que continuou desenvolvendo paralelamente à graduação e que elementos usuais de sua linguagem arquitetônica não deixaram de ser utilizados, até por influências anteriores à graduação: ...ele frequentava as disciplinas porque tinha escritório lá, então ele vinha a cada dois dias, fazia a disciplina e voltava, então assim ele foi levando o curso... [...]. O Egon era um prático [...], ele tinha uma visão de arquitetura que era uma arquitetura pragmática, tem muito da linguagem do Hans Broos, tem essa conexão aí, não só o Hans, mas do grupo do Mitsuo, de todo esse grupo que atuava em Blumenau. (SANTOS, 2017)


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Esse projeto de Egon Belz é uma das edificações que ainda se tem muitos vestígios intactos do projeto do arquiteto. Segundo os arquivos da FURB, o projeto conta com estudo preliminar e detalhamento de esquadrias. O terreno onde está sitiada a residência possui uma inclinação bem acentuada, o que foi sugerido pelo arquiteto um corte grande de aterro para conformar os três pavimentos da casa. A conformação desta no lote também é feita por muita vegetação, composições bem presentes nos projetos de Egon. Esta apropriação em diversos projetos, tanto para contemplação, quanto para lazer que tem como objetivo de certa forma, trazer o verde para dentro da edificação e conformá-lo como um outro ambiente é uma característica bem forte de Egon herdada de Broos, que tinha como diretriz de projeto a combinação residência e natureza, que segundo bibliografias, é algo imprescindível para a vivência humana, um tempo de lazer em contato com esta ou trazendo-a para o lar e que é de entendimento subjetivo humano que condições artificiais não são favoráveis para convivência. O projeto inicialmente indica a Rua Desembargador Oscar Leitão como a de entrada, porém, é possível perceber pelas plantas e pela localização da edificação atualmente que esta é feita pela Rua Martin Luther, fachada oeste da residência.


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Figura 23.

Através das plantas é possível perceber que Egon utiliza muitas aberturas, principalmente nas fachadas norte e sul. Os detalhes também sugerem que a edificação era inicialmente toda em concreto aparente, o que entende-se que o arquiteto se aproveita da maleabilidade do material e conforma detalhes únicos nas fachadas desta residência. A caixa d’água saliente em forma cônica aparece aqui também como uma assinatura no projeto residencial.


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Figura 24.

Egon Belz se utilizava de diversos elementos para compor uma linguagem arquitetônica ímpar e condizente com a localização. Em entrevista, Lino Fernando Bragança Peres reforça que essa linguagem é muito característica dos profissionais que trabalhou por um tempo e que com a convivência, Belz adotou para si:


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[...] então ele vem com essa coisa, [...] tinha toda uma compreensão que a arquitetura tinha que ser racional, [...] tinha que seguir aquela linha do Adolf Loos, [...] que fazia crítica que era um crime ter adorno, enfeite na arquitetura. [...] então eles [arquitetos com essa linguagem] têm muito esse rigor, da precisão, da economia [...] que não pode ter recurso, que tem que ser bem feita, tem toda uma ética, da estrutura, da construção, e o projeto tem que ser fiel a isso. Então é isso, quer dizer, ele tem essa coisa, ele não tinha, por exemplo, na escola carioca, da estética e não é também da escola paulista, que tinha aquela coisa do estudo do humano em si, da arquitetura do canteiro, também não bem assim, não um brutalismo que vem do canteiro com as marcas dos operários, mas é uma arquitetura rigorosa [...] (PERES, 2017.)

Ainda em entrevista, Lino Peres reafirma que esses princípios seguiram Egon durante o curso, sempre tentando aliar a prática com a teoria aprendida.


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Residencial AW (1979-1984) Feito em duas etapas, esse projeto residencial de Belz começou a ser idealizado em 1979 e desenvolvido até 1984, e posteriormente finalizado entre 1989 e 1994. Localizada na Rua Ferdinando Ernesto Schadrack, em Blumenau, a residência está locada em um terreno que possui uma grande depressão.

Figura 25.

O arquiteto sugere uma residência térrea, que se apropria das curvas de nível do terreno, iniciando-se na mais alta que começa na rua e estende-se para o interior do terreno, onde situa-se o subsolo, apropriando ali uma garagem coberta (figura 25).


BELZdo 61 O projeto presente no Acervo de EGON Projetos arquiteto na FURB, conta com pranchas do projeto arquitetônico, com plantas, cortes, fachadas, localização e implantação, até de interiores, com detalhamento de esquadrias e layout de dependências íntimas. A residência se distribui em terraço com área para churrasqueira e piscina, estar, jantar, copa e cozinha, lavanderia e área de serviço, lavabo, estudo, vestíbulo, área privativa com sala para tv, banheiro, dois quartos e suíte com banheiro e sauna, distribuídos em 283,80 m². A planta em “L” se dispõe mais alongada no eixo leste-oeste, dispondo a oeste a fachada principal da residência, com a entrada e dependências de uso comum; e a leste, mais ao interior do lote, os cômodos íntimos. A leste também se situa a piscina da residência, de 4x7 metros.

Figura 26.


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Figura 27.

A fachada da residência é composta por uma parede de pedra (figura 28), com vigas e pilares aparentes compondo um arranjo estético para a edificação, muito parecido com a residência JS. O arquiteto se apropria também de vegetação na entrada e na sacada, com floreiras e canteiros. A pedra natural também está presente no piso da residência, em boa parte dos cômodos. A cobertura detalhada em projeto é em alumínio tipo trapezoidal, propícia para poucas inclinações, como é o caso da edificação, uma inclinação de 5%, devido a existência de laje. A coleta de água pluvial é feita por uma calha protegida por uma platibanda em concreto aparente.


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Figura 28.

A torre da caixa d’água em forma retangular possui quase quatro metros de altura a partir da cumeeira do telhado e é toda em concreto aparente, diferenciando-se dos modelos em forma cônica, presentes em outros projetos residenciais. A torre apresenta uma abertura em veneziana com ventilação permanente e nela também é prevista a colocação do aparelho de ar condicionado central e reserva para água quente, como também um suporte para coletor de energia solar. Importante salientar que o eixo da pingadeira encontra-se ao término das floreiras do térreo.

Figura 29.

O arquiteto se deteve do uso de revestimento impermeável nas áreas internas da residência, e se preocupou em manter a edificação sempre ventilada: apropriou-se do uso de venezianas de alumínio com dispositivos de ventilação permanente nas janelas.


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Igreja Santa Terezinha (1983-1984) Um dos projetos que acompanha os estudos de Egon na Universidade é a Igreja Santa Terezinha, que se utiliza de muitos elementos em sua concepção tais como peças em concreto pré moldado aparente, elementos de vidro, estrutura metálica, cobertura em fibrocimento, elementos em aço e pedra. O desenho da igreja apresenta uma forma retangular de corpo único, fugindo do desenho convencional de igrejas católicas tradicionais que são em formato de cruz. O pé direito alcança 13,5 metros em toda sua extensão, tendo somente o altar mais elevado. Esse desenho divide-se sumariamente em área de entrada/circulação, área de permanência e área privativa. A igreja também possui uma circulação externa, onde esta é coberta. O arquiteto se apropria da implantação da edificação, em um aclive: ao nível da rua há um grande espaço que prepara o visitante para a entrada na edificação. Ao subir, há dois lances de escada: o primeiro é privilegiado o paisagismo dos dois lados; no patamar, entre os dois lances há um “portal”, por onde também começa a cobertura, que sugere um acolhimento de quem está chegando; nesse estágio do segundo lance de escada é por onde o visitante penetra na edificação, havendo muita apropriação dos materiais que compõem a obra. A escadaria é pura adequação à topografia presente no terreno, mas o arquiteto soube tratar e ler positivamente esse desnível, para sua obra.


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Figura 30.

Figura 31.

Na entrada, não há uma vista inicial total da igreja: a vegetação conforma a paisagem e prepara o usuário a adentrar na obra. Compondo, há um grande painel de elementos vazados, que viriam a se repetir dentro da edificação, mas com vidro e uma grande cruz em concreto aparente que molda a forma.


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Os ambientes são compostos de elementos sacros, de forma como uma igreja é concebida, porém, Belz faz uma leitura muito inteligente do uso dos materiais nestes: as grades que compõem as janelas têm uma releitura sutil destes elementos sacros, como a cruz; os vitrais convencionais são substituídos por elementos vazados transparentes, trazendo muita luz para o espaço, até subentendendo como forma de ascensão do espaço; domus de certa forma pensados estrategicamente em sua posição, na entrada, também passam a sensação de “ser iluminado pelos céus”, e ao mesmo tempo iluminam o ambiente de forma natural; a cruz em ferro no altar é suspensa por cabos de aço, que pode ser entendida que esta fé se eleva no espaço sem algo que o sustenta embaixo e o material que a compõe é forte. As transições entre fechado e aberto é bastante forte no projeto arquitetônico, tanto pelas entradas frontal e laterais, quanto pelas aberturas de luz, sempre tendo contato com o exterior. A cobertura em duas águas, estrutura metálica e forro de madeira integra os ambientes, não criando hierarquias de importância dentro do espaço e o pé direto de 13,5m passa a percepção de ascensão do espaço.


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Projeto Acadêmico (1984) Egon Belz não era um arquiteto puramente conceitual, ele pensava a arquitetura desde o tijolo até a inserção da edificação no meio urbano. Egon fez o curso de Arquitetura na Universidade Federal de Santa Catarina, mas antes já era um técnico em edificações e isso fez com que ele aprendesse como construir algo antes de passar pelo processo, muitas vezes subjetivo, de criação. Em um dos poucos registros da vida de Belz na Universidade encontra-se um projeto de pesquisa em materiais onde o arquiteto cria um elemento estrutural. A ideia de manter presente materiais oriundos da tradição cultural da região sempre perseguiu o arquiteto, aliada a uma linguagem arquitetônica moderna e contemporânea. Belz também tinha como preceitos a) a preservação da arquitetura original ainda existente e b) a construção moderna, contemporânea, através de uma mescla habilidosa com a antiga arquitetura enxaimel, ou seja, aliando sempre elementos sempre que podia e se apropriando constantemente do “uso da madeira, como material tradicional nas esquadrias e estrutura da cobertura, e do tijolo aparente característico da arquitetura vernacular da região” (LATRÔNICO, 2013). Outro conceito que Egon Belz se apropriava em suas obras era o “Partido da expressividade do concreto aparente, como material inovador e também de grandes panos de vidro” (LATRÔNICO, 2013).


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O MENTOR Com seu escritório já instalado há muitos anos na cidade de Blumenau e após quase quatro décadas de carreira, Belz chega em um momento em que já é um reconhecido arquiteto e toda sua experiência adquirida se converte em conhecimento que começa a ser passado para arquitetos e futuros arquitetos que vêm a trabalhar com ele no Ebelza Projetos. Os projetos mais destacados nesse momento são focados em sua cidade natal e em uma escala urbana que permite que o arquiteto passe dos pequenos detalhes construtivos para grandes planejamentos urbanos para Blumenau.

Figura 32.


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As enchentes do Rio Itajaí-Açu: interpérie frequente Um dos problemas recorrentes na cidade de Blumenau são as enchentes no Rio Itajaí-açu. Recorrentes são as discussões sobre como evitar a enchente em si ou amenizar os estragos causados quase todos os anos na cidade. Em diversas matérias da revista Blumenau em Cadernos há vários panoramas das enchentes que ocorreram na cidade, desde apontamentos sobre estragos, como números e comparações entre enchentes. No ano de 1851 foi iniciada a contagem do nível do Rio Itajaí-açu e, a partir do ano seguinte, foi notificado a cota de 16,3m em 29 de outubro.

Figura 33.


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A mais trágica enchente foi a que ocorreu em 1983. Embora tenha atingido uma cota mais baixa que as anteriores, foi a mais longa, demorando mais de 30 dias para baixar e deixando diversas cidades inundadas. Foram cerca de 135 cidades atingidas com aproximados 49 mortos e 198 mil desabrigados (SCHIESTL, 2013). O reflexo disso na arquitetura blumenauense foi sentido posteriormente a isso, em que sistemas construtivos mais resistentes a catástrofes foram utilizados. O Projeto Nova Blumenau foi uma força-tarefa montada durante a enchente e se intensificou depois que as águas começaram a baixar. Ele tinha como objetivo restabelecer a população depois da enchente e através de diversas comissões, esse projeto arrecadou diversos materiais em diversas instâncias para que a cidade pudesse voltar ao normal. Divididos em quatro comissões, a Comissão de Contenção de Cheias orientou a população sobre os problemas posteriores à cheia do Rio Itajaí-açu; a Comissão de Saúde elaborou uma cartilha de cuidados básicos de saúde durante as cheias; a Comissão de Meio Ambiente recebeu mudas para o reflorestamento das margens do rio; e a Comissão de Educação buscou levantar danos e recolher doações de materiais, como livros e cadernos, e também a reconstrução de algumas escolas. Com o acontecido, novas reformulações do Plano Diretor visando às novas necessidades dos moradores começou a ser encaminhado (WOLFF, 1983).


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Estudo-Síntese para a cidade de Blumenau No estudo assim chamado, o arquiteto faz uma análise de um remanejamento urbano a partir da então situação da cidade, levando em consideração as cheias do rio Itajaí-açú. Nele, o arquiteto prevê um solo livre de novas construções, que ficaria ao nível da enchente mais alta que se tem registro, piso de integração, elevado ao nível de enchente e piso de habitação e serviços. No solo livre são previstas as rodovias de tráfego, a circulação comum de pedestres, ciclistas, carros e caminhões, como também postos de limpeza pública, banheiros públicos e lixeiras. Haveria áreas de recreação também, como praças, áreas esportivas, equipamentos de lazer e recreação para crianças. As edificações já consolidadas representativas à cidade e patrimônios históricos também se encontrariam neste nível. No piso de integração foi previsto espaço de circulação e equipamentos de serviços, como comércio e gastronomia, cinema, música, ateliês, galerias. No piso de serviços e habitações são previstas as moradias, com apartamentos de seis a dez pavimentos. A inserção deste estudo na cidade a ser reconstruída após a enchente possui muitos traços modernistas, de uma cidade planejada e preparada para possíveis catástrofes como ocorrido no ano de 1983. Neste estudo, o arquiteto demonstra como a arquitetura e o urbanismo devem ser integrados para uma possível solução de proteção à cidade.


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Os esboços de como essa cidade elevada poderia ser conformada no sítio de Blumenau começa no deságue do Ribeirão Garcia no Rio Itajaí-açu e se desenvolve ao longo da Rua XV de Novembro e Avenida Presidente Castelo Branco, vias próximas às margens do Rio Itajaí-açu. Importantes edificações se encontram nessas vias, sendo algumas delas Patrimônio Material da cidade e do Estado. Ao analisar este estudo-síntese do arquiteto, foi possível relacioná-lo a diversos estudos de outros arquitetos. Pelo menos 20 anos antes deste estudo urbanístico de Egon Belz, o arquiteto carioca Sergio Bernardes publicou na Revista Manchete, em edição especial no ano de 1965, um Planejamento Urbano para a cidade do Rio de Janeiro que o mesmo nomeou de “Rio do Futuro”, desenvolvido no ano de 1960. Como um dos maiores representantes da segunda fase da Arquitetura Moderna, Bernardes não deixou de pensar em várias características que contempla a cidade que os arquitetos da época almejavam, como questões que envolvem a vivência, a economia e a memória do local. O arquiteto usa características, que Egon utiliza posteriormente em seu estudo para a cidade de Blumenau, como por exemplo a circulação através de vias elevadas e a verticalização controlada (uma vez que seu projeto é uma crítica ao crescimento vertical sem planejamento).


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Figura 34.

Outra referência encontrada são os esboços de Le Corbusier para a cidade do Rio de Janeiro, de 1936, anterior ao de Sérgio Bernardes, que também sugere uma “nova cidade”, elevada ao longo da orla, onde seria possível que cada habitante pudesse ter espaços verdes e livres (figura 35). A concepção de uma cidade elevada surge da precipitação do problema da habitação e mobilidade que poderia vir a atingir o Rio de Janeiro, que, naquelas condições, estava em uma concepção que não previa tais problemas.


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[...] Como resposta a essa questão crucial para a arquitetura moderna, Le Corbusier propõe como “plano urbano” para o Rio de Janeiro uma edificação linear e sinuosa, com surpreendentes seis quilómetros de comprimento, composta por módulos habitacionais e autoestrada na cobertura, que sobrevoa suspensa por pilotis de trinta metros de altura a cidade que se preserva “intacta”. Isto é, para Le Corbusier, a cidade moderna sobreposta à cidade real define-se como uma imensa infraestrutura, uma forma unitária que, nesse caso, dá o contorno de uma edificação que assume a escala da própria paisagem. Trata-se, paradoxalmente, da referência que funda a autonomia estética da própria arquitetura moderna brasileira. [...] (QUEIRÓZ, 2013)

A concepção da ideia de Le Corbusier procurava não afetar a cidade antiga, que ficaria abaixo da nova. No projeto de Belz para Blumenau, Egon se apropria dessas ideias, mantendo o patrimônio consolidado edificado na cidade no solo livre, com acessos para os residentes da cidade, sem que haja uma intervenção dessa nova leitura de cidade nessas edificações.


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Figura 35.


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Parque das Itoupavas (2001-2007) Em 2001 o escritório de Egon Belz finalizou o grande projeto urbanístico do Parque das Itoupavas. Este projeto arremata a longa e intensa carreira do arquiteto que, mais uma vez, prova ser capaz de transitar entre diferentes áreas e escalas da arquitetura. O projeto foi feito em parceria com a prefeitura de Blumenau, mas não foi executado. Entre os projetos analisados que se encontram no acervo da FURB esse é um dos únicos que possui versões feitas a mão e plotados. Foram analisadas a pranchas que continham a planta baixa humanizada, perspectivas e estudo de fluxo. A proposta do Parque indica que ele estaria localizado na região central norte do município de Blumenau. Com uma área de 1.031.785m² o parque abrange cinco bairros, (Salto do Norte, Itoupavazinha, Fortaleza, Itoupava Norte e Fidélis) sendo a maior parte no bairro Fortaleza (figura 36). As principais vias que circulam ou cruzam o parque são: Rua Pedro Zimmermann, Gustavo Zimmermann, Rua 1º de Janeiro e BR 470. O Parque é cortado pelo Ribeirão Itoupava. É possível dividir o Parque em sete grandes áreas: Integração Social, Preservação Ambiental, Esportes e Eventos ao ar livre, Área de eventos multiuso; Turístico-Ecológico, Turismo Ecológico - Cultural, Lago e Ribeirão e Esportes Olímpicos.


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Figura 36.

A Área Social está mais próxima ao centro da cidade e encontra-se na extremidade sul do parque. A Área de preservação ambiental é cercada pelo rio que cria um desenho onde propícia à essa área de proteção um abrigo. A Área de Esportes ao ar livre conta com uma quantidade expressiva de quadras, um campo de futebol grande, um grande estacionamento e algumas outras edificações. Somadas é possível perceber que, apesar da grande área pavimentada do estacionamento, a predominância é de área verde.


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A Área de Esportes e Eventos conta com um estacionamento arborizado, pista de hipismo, área de carga e descarga, edificações para comércio e conjunto de vestiários e sanitários. O estacionamento é afastado da margem do rio. Nota-se a preocupação do arquiteto em afastar as áreas mais pavimentadas das margens do rio. A Área de Turístico-Ecológico conta com um complexo de edificações que conta com: Biblioteca, Hotel 5 estrelas, Clube de Caça e Tiro, Museus, Estacionamento, Estação de teleférico etc. É a região que conta com a maior diversidade de construções e é uma área que se destaca em relação ao restante do parque. O Lago proposto é artificial, feito através de um represamento do Ribeirão Itoupava. Os equipamentos que cercam o lago são grandes e focados nos esportes, então possuam grande área permeável, que ajudaria a drenagem da água. Este projeto difere-se bastante de outras obras, a começar pela escala abrangendo cinco bairros de Blumenau e prevendo uma via inexistente que viria a cortar o parque. O detalhamento presente no projeto é outra coisa que é admirável, uma vez que em suas primeiras versões, este se apresenta a mão e contempla um programa bem completo, considerando diversas atividades e prevendo edificações para receber grande fluxo de pessoas em diversas épocas do ano, com também o suporte para possíveis competições e campeonatos que ali poderia acontecer.


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Figura 37.

Embora haja uma escala grande, há poucos detalhes construtivos das edificações presentes no parque, como técnicas e materiais construtivos, havendo a preocupação de espacializar os equipamentos e espaço e conciliando a implantação no espaço já consolidado.


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O estudo de um arquiteto genuinamente catarinense reforça a necessidade de um entendimento da produção arquitetônica das cidades do estado, neste caso Blumenau, como também do estado de Santa Catarina, como um todo. Ao aplicar uma linguagem quase que inovadora para o sítio natal, Egon Belz se apropria de uma linguagem particular e única, já estudada nos grandes centros, mas que para uma cidade com características dos descendentes colonizadores ainda muito forte e estimuladora de uma identidade local, o arquiteto se sobressai, aliando o novo ao antigo. Influenciado pelo contato com grandes centros e com arquitetos como Hans Broos, Oscar Niemeyer, Sérgio Bernardes, que estavam aplicando uma nova leitura a esses centros, Belz pode agregar conhecimento que até então era desconhecido para a cidade de origem. O que na volta fizesse que suas obras fossem exemplares de uma nova visão de arquitetura. Nesse momento da arquitetura, buscava-se uma veracidade técnica, ou seja, uma veracidade construtiva e funcional, tanto em sua produção, quanto no uso de seus materiais. Logo, essa nova arquitetura, proposta nos grandes centros, se vincula a uma produção industrial, liga-se a uma produção de olhar progressista, que seria adquirida por meios técnicos. Mas em meios ainda muito artesanais, esta não é aplicada de imediato, se fazendo necessário ligar-se a essa produção artesanal que é de certa forma a simbologia do local. A arquitetura progressista que se estava buscando nesta época queria se desvincular da simbologia, da representatividade que a arquitetura


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anterior possuía e ao mesmo tempo buscava se “simbolizar” através do progresso, da modernidade, da alta tecnologia, da industrialização, da máquina, da eficiência, tanto na questão construtiva quanto no uso, representando a funcionalidade, sendo uma obra que é eficiente na forma que ela é usada. Esse pensamento marca um período muito forte percebido na arquitetura brasileira, que através desses meios procura um novo método de criação e produção. E é através dessa linguagem que Belz se expressa em suas obras. É interessante notar, que mesmo com contato com outras linguagens arquitetônicas e arquiteturas regionais durante o curso de Arquitetura e Urbanismo, este não deixou de lado princípios que seguiam a arquitetura paulista de décadas atrás. Outro fato que influencia o arquiteto em tal concepção arquitetônica é a necessidade que Blumenau demonstrou em se modernizar, tanto pelos meios produtivos e sociais, quanto pela arquitetura. Segundo Bernardo Brasil (2009), as primeiras indústrias têxteis da região foram implantadas no fundo do Vale, beirando os rios, por conta da grande necessidade de recursos hídricos. Sendo assim, a malha urbana adquiriu uma forma polinuclear condicionada pela topografia, pela ocupação agrícola e industrial. As empresas têxteis têm uma relação histórica com a urbanização e com a dinâmica urbana da cidade de Blumenau. Na década de 30 houve um processo de nacionalização comandado pelo governo de Vargas. Esse processo causou uma ruptura cultural na cidade. Entre as medidas impostas pelo governo se destacam a proibição do uso


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e ensino da língua alemã e a apreensão de livros em alemão com a justificativa de propaganda nazista. Já no meio urbanístico, as construções tradicionais de enxaimel foram rebocadas, os nomes das ruas foram alterados para o português e o território de Blumenau foi desmembrado em outras cidades com a intenção de descentralizar o poder. O momento de ruptura da coletividade blumenauense se explica pelo processo de reestruturação industrial que a economia global impõe às indústrias têxteis da cidade e de todo o Brasil a partir dos anos 80 e em Blumenau, como em todo o Brasil, havia uma carência de espaços de lazer coletivo pois há uma tendência de facilitar o lazer privado. Grande parte da memória coletiva blumenauense tem relação com os espaços de lazer oferecidos por associações recreativas desportivas e culturais das empresas que assumiram a responsabilidade do poder estatal. Egon Belz, como arquiteto, tem muita participação nessa construção e conservação desse vínculo coletivo que havia tempos atrás. Diversos projetos que procuravam aliar um pouco de lazer e esporte ao trabalho foram seus objetos de estudo, reforçando um ideal de que todas as atividades que propiciam bem estar ao ser podem e devem estar próximas do trabalho. Através desse estudo foi possível perceber o quanto os profissionais de Arquitetura e Urbanismo podem aprender como outros profissionais, sendo estes formados ou não, e em diversas perspectivas: ao analisar o trabalho de um arquiteto como Egon Belz vemos o quanto podemos aprender com as soluções que este encontrou diante de adversidades no sítio trabalhado


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e também de que forma que esta solução foi encontrada por ele, sendo de estímulo para outros e futuros profissionais da área de Arquitetura e do Urbanismo. Poder compreender a história pessoal e profissional de um arquiteto, entender que sua vida é um composto desses campos, como também a busca dessas soluções no sítio catarinense, e mais objetivamente em Blumenau, que possui variabilidade, é entender as diversas versões que um resultado pode ter. Também entender como a formação da universidade influencia nas tomadas de decisões profissionais é de estímulo aos estudantes de Arquitetura e Urbanismo a se obstinarem em suas tomadas de decisões projetuais, tanto no meio acadêmico, quanto profissional.


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Florianópolis, 2021


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