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junho/julho de 2011

BRASÍLIA CA ÓLICA ARQUIDIOCESE DE BRASÍLIA · ANO 2 · EDIÇÃO 3 · JUNHO/JULHO DE 2011

R$ 3,50

Um novo pai Conheça a vida e missão de Dom Sérgio da Rocha, novo arcebispo de Brasília

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Divulgação

Capa Nomeado em junho como arcebispo de Brasília, Dom Sérgio da Rocha pretende reforçar a unidade da Igreja da capital federal.

Igreja Hoje A revista Brasília Católica traz o relato de católicos residentes na China

EXPEDIENTE:

Arquidiocese de Brasília

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Revista Brasília Católica

Presidente: Dom Waldemar Passini Coordenador: Pe. André Lima Jornalista Responsável: Patrícia Quinderé (Mtb 7997/DF) Editora-chefe: Lilian Alves Produção: Kamila Aleixo, Narlla Sales Projeto Gráfico: Felipe Rodrigues Pereira Diagramação: Felipe Rodrigues Pereira Tiragem: 4 mil exemplares

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Editorial junho/julho de 2011 Arquidiocese de Brasília

Andrea Lopes

O Santuário Santíssimo Sacramento sedia as adorações perpétuas da Arquidiocese.

Sxc.hu

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Vida e Família Pe. Eduardo Peters explica a posição da Igreja perante a homossexualidade.

Apostolado da Oração Conheça o movimento que está presente em mais de cem paróquias do DF

Redação:

Fotografia:

Aline Félix Andrea Lopes Edmar Araújo Kamila Aleixo Narlla Sales Marcos Sabater Patrícia Quinderé

Andrea Lopes Felipe Rodrigues Idemar José Raphael Rodrigues Revisão: Andrea Cammarotta

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A Igreja é um organismo vivo! Pela ação direta do Espírito Santo, Ela se renova. E é neste sentimento que alcançamos a 3ª. Edição da Brasília Católica. Neste momento de renovação, acontece também muita novidade: temos um arcebispo! Nesta edição você conhecerá quem é o novo pastor desta Arquidiocese, sua história e trajetória, também as suas impressões e esperanças para o seu episcopado na capital federal. Ainda nesta vivacidade de nossa Igreja, a festa dos apóstolos S. Pedro e S. Paulo este ano ganha mais significado, além de todo o seu significado litúrgico e histórico. Brasília Católica apresenta-os para você, prezado leitor, estas duas colunas do cristianismo. Confira na leitura! Neste mês de julho, a comunicação eclesial no país volta seus olhos para o Rio de Janeiro. Lá acontece o 7º. Mutirão de Comunicação (MUTICOM). Neste ano, a Arquidiocese de Brasília participa de forma muito especial, apresentando o Mutirão Itinerante sobre o consumo de novas mídias e suas novas linguagens. A fim de que você conheça um pouco mais sobre a nossa Arquidiocese, façamos uma visita ao Santuário de Adoração, na L2 sul. Nesta edição é possível mergulhar na sua história e descobrir a importância para Brasília. Na vida do cristão, a Eucaristia é a fonte e o cume da vida em Cristo. Por isto, nesta edição propomos a você entender um pouco mais sobre este Sacramento que alimenta e fortalece a vida do cristão em sua missão. Brasília Católica entra em assuntos considerados polêmicos para contribuir no debate e na formação do cristão. Desta forma, trazemos para discussão o tema da homossexualidade segundo os desígnios de Deus que são defendidos pela Igreja. E também, vai até a Ásia para uma entrevista, precisamente na China, onde a Igreja tem grandes dificuldades no exercício da evangelização. Por fim, fazemos um giro em 120 paróquias, percebendo o amor, a fé e a doação presentes nos integrantes do Apostolado da Oração. O belíssimo serviço que estas pessoas realizam no seu apostolado de se consagrarem ao Sagrado Coração. E, também, verificamos a ação das Equipes de Jovens de Nossa Senhora, que se amplia em nossa Arquidiocese, como mais uma oportunidade aos jovens de atuarem na Igreja e de realizarem a sua missão neste mundo. Padre André Pereira Lima Coordenador do Setor de Comunicação Arquidiocese de Brasília

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Santa sé Por Edmar Araújo

São Pedro e São Paulo Todos os anos, no dia 29 de junho, a Igreja celebra a festa de São Pedro e São Paulo Apóstolos. Mas quem são esses dois personagens bíblicos tão evidenciados pela liturgia católica?

S

imão, pescador e irmão do apóstolo André, é escolhido por Cristo para chefiar a Sua Igreja. Foi chamado de Pedro e recebe, do próprio Jesus, as chaves do Reino dos Céus e a autoridade para ligar e desligar tudo o que está no céu e na terra (Mt 16,1819). Escreveu duas cartas: I e II Pedro. Para o pe. Moacyr Gondim, mestre em História da Igreja e pároco da Nossa Senhora da Assunção (Ceilândia), São Pedro é o grande representante dos apóstolos, que reconhecem sua autoridade. Foi assim na fundação da Igreja e na ressurreição, quando apresenta a primeira evidência do Cristo vivo. “Na ressurreição, temos um grande exemplo da autoridade de Pedro. João, o discípulo amado, chega primeiro ao túmulo, mas sua atitude de ficar à porta significa também a hierarquia da Igreja. É Pedro quem entra e, como primeiro papa, confirma que o Senhor não estava no túmulo”. Paulo, antes perseguidor dos cristãos, é, depois de Jesus Cristo, o maior divulgador da mensagem do Evangelho e, por esse motivo, é chamado de apóstolo, embora tenha declarado não merecer tal título.Com conhecimento das línguas grega e aramaica, ele escreve 13 cartas às igrejas que havia fundado: I e II Tessalonicenses, I e II Coríntios, Gálatas, Romanos, Filipenses, Filemon, Colossenses, Efésios, I e II Timóteo e Tito. Padre Gondim explica que o primeiro a chamar Saulo de Tarso pelo nome de Paulo é São Lucas, no livro dos Atos dos Apóstolos. A mudança do seu nome significa a sua nova missão, a sua nova vida. Apóstolo dos gentios, ex-perseguidor dos cristãos, une-se à cruz de Cristo e vai para lugares onde Deus não era reconhecido. Pedro e Paulo são grandes testemunhas e anunciadores de Cristo. Pedro aos judeus, e Paulo aos gentios. O primeiro era um homem simples, pescador, e o segundo era um erudito educado na escola da Gamaliel (Atos dos Apóstolos 22,3). Deus utiliza desses dois homens, munindo-os com o Espírito Santo para anunciarem Cristo ressuscitado. “A Igreja é muito sábia e podemos aproveitar esse

Ícone dos apóstolos Pedro (à direita) e Paulo momento para causarmos uma revolução. É importante, assim como houve uma grande reviravolta no início do cristianismo, que todos nós, católicos, assumamos com bravura esta oportunidade de levarmos o Evangelho ao próximo. É um tempo para refletir sobre tais graças e resgatar o júbilo católico”, destaca o padre. Em 2011, a celebração litúrgica da memória desses santos se destaca porque um dos sucessores de Pedro, João Paulo II, foi beatificado, e o Papa Bento XVI faz sessenta anos de sacerdócio. A Igreja vê nesses dois apóstolos dois grandes pilares. Pedro como a origem e base da sucessão apostólica. Paulo como o promotor da Boa-Nova aos gentios.

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BRASIL Por Patrícia Quinderé

Mutirão de Comunicação no Rio de Janeiro

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ntre os dias 17 e 22 de julho, acontece o 7º Mutirão de Comunicação (MUTICOM) no Rio de Janeiro. A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, a Pontifícia Universidade Católica do Rio e o Regional Leste 1 pretendem reunir cerca de 1.500 comunicadores de todo o Brasil que discutirão temas sobre os meios e processos de comunicação na Igreja e no mundo. Os mutirões de comunicação foram criados pela CNBB em 1998, inspirados nos congressos promovidos pela União Católica Brasileira de Comunicação (UCBC) nos anos 70 e 80. O objetivo era articular a comunicação da Igreja no Brasil. Desde 1998, já foram realizados seis mutirões. Com o tema “Comunicação e vida: diversidade e mobilidades” o 7ª MUTICOM “tem por objetivo motivar as comunidades brasileiras a refletirem sobre a comunicação relacionada com a vida cotidiana e suas expressões que acolhem a diversidade que somos e as mobilidades que experimentamos na cultura contemporânea”, explica o professor da PUC-RJ e coordenador acadêmico, Miguel Pereira. Além disso, o mutirão é a melhor forma de trocar experiências com pessoas de várias regiões do Brasil, seu cotidiano nas dioceses e os trabalhos com as pastorais de comunicação. Assim, relata Frei Edgar Alves, coordenador da Pascom (Pastoral da Comunicação) do regional Centro Oeste. “Nós, os comunicadores, podemos nos encontrar. É uma grande oportunidade para formação permanente, pois sempre estamos aprendendo. Cada Pascom pode aprender com a outra. Uma experiência bem sucedida num determinado lugar pode também servir para outro”. Ele ainda confirma a presença do regional no evento por meio de agentes das pastorais. Nesta edição, algumas novidades aparecem na programação. Segundo o secretário executivo, Paulo Lima, além dos cinco painéis temáticos, pela manhã haverá

“shows, novidades na premiação da CNBB e na feira da comunicação, feira Pascom Nacional e o Ângelus transmitido direto do Cristo Redentor todos os dias com a presença de representantes do clero. Todas as oficinas concederão certificado pela PUC-Rio”. E, pela primeira vez, haverá a presença do Mutirão Itinerante com o projeto Caixa de Ferramentas “sob responsabilidade de Ricardo Chagas, de Brasília, que partirá da capital com um ônibus equipado com alta tecnologia, fazendo paradas em algumas cidades e chegará aqui trazendo conteúdo sobre o consumo das mídias”, afirma. No período da tarde, os participantes terão as oficinas-visitas, projeto intitulado ComGás (encontro de pesquisadores da comunicação), que visitará o PROJAC (Rede Globo), Polo de Cinema e Vídeo do Rio de Janeiro (Barra da Tijuca-RJ) e Anima Mundi (Festival Internacional de Animação no Centro Cultural Banco do Brasil).

Prêmios CNBB

Durante o Mutirão 2011, serão entregues os Prêmios de Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A premiação reconhece ‘o mérito dos profissionais e meios de comunicação social que contemplam em suas produções os valores humanos, cristãos e éticos, bem como a linguagem artística e técnica’. As categorias concorrem às áreas: de Cinema – Prêmio Margarida de Prata; Rádio – Prêmio Microfone de Prata; Impresso – Prêmio Dom Helder Câmara de Imprensa; e Televisão – Prêmio Clara de Assis. A Arquidiocese de Brasília concorre este ano na categoria Microfone de Prata, com os programas “Força Consoladora” - na categoria Religioso -, “Notícias da Igreja” - na categoria Jornalismo -, “Nova manhã” - na categoria Entretenimento/Religioso e “Aliança Jovem”, que vai ao ar todo sábado das 14h às 16h.

Histórico do Mutirão Brasileiro de Comunicação

· 1998 – Belo Horizonte (MG): “Solidariedade – Ética – Cidadania” · 2000 – São Paulo (SP): “Relações Solidárias na Aldeia e no Global” · 2003 – Salvador (BA): “Comunicação para outra ordem social” · 2005 – Guarapari e Vitória (ES): “Comunicação e Responsabilidade Social” · 2007 – Belém (PA): “Comunicação e Amazônia – Fé e Cultura de Paz” · 2010 – Porto Alegre (RS): “Processos de Comunicação e Cultura Solidária”

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Por Andrea Lopes

Andrea Lopes

Arquidiocese de Brasília

O Santuário da Adoração

Santíssimo Sacramento exposto no Santuário

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Fachada do Santuário de Adoração Perpétua, na 604 Sul

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vinha todos os dias”, afirma a professora. Este também é o desejo de Verides, que mora em Vicente Pires e não pode ir diariamente ao santuário porque a distância dificulta. Ela acompanha o grupo da Legião de Maria, mas é normal que venha em outros horários. “Só não venho mais porque não posso mesmo. Entro de um jeito e saio de outro. Sinto-me muito bem”, declarou. Essas sensações não são apenas sentidas pela comunidade. Até o Padre Adriano, reitor do Santuário e pároco da Paróquia Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, afirma que o dia-a-dia dele é diferente. “Tive muitas experiências, sinto Jesus mais presente. É um crescimento espiritual para mim”, afirmou. Ele também contou que já ouviu muitos relatos e explicou que as pessoas sentem no local uma unidade, enquanto têm um encontro pessoal com Jesus, também rezam por toda Igreja. “Já escutei muitos jovens dizerem que Cristo os tocou. Um jovem, uma vez, me disse que não aguentou o peso de seus pecados diante de Jesus”, relatou.

Capela

Segundo Padre Adriano, com a elevação a Santuário, a paróquia deixou de celebrar alguns sacramentos como, matrimônios e batizados, por isso, para que as atividades voltassem a ser realizadas, no ano passado - ano que a paróquia celebrou seus 50 anos -, foi inaugurada a Capela do Santíssimo Sacramento. “Antes, tínhamos que fazer tudo no Santuário. Agora, principalmente à noite, as atividades são realizadas no Santuário, mas a Adoração continua na capela”, explicou.

Andrea Lopes

Vinde, inclinemo-nos em adoração, de joelhos, diante do Senhor que nos criou! Ele é o nosso Deus; nós somos o povo de que Ele é o pastor, as ovelhas que suas mãos conduzem” (Sl 94,6-7) . A passagem apresenta a necessidade de todos estarem diante do Senhor. Conduzidos por essa Palavra, desde 1960, já havia sido aprovada a criação do Santuário da Adoração Perpétua, com sede na Paróquia Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, conforme consta no Livro de Tombo, datado de maio de 1963. Foram muitas as tentativas para a instituição da Adoração. Muitos locais abriram suas portas para Jesus Eucarístico, mas, a Adoração ainda não era perpétua, ou seja, sem intervalos. Em um primeiro momento, ela era apenas permanente e realizada no Santuário Dom Bosco. Em 2001, Dom José Freire Falcão, então Arcebispo de Brasília, decretou que o Santuário Dom Bosco sediasse, provisoriamente, a Adoração Perpétua, em Brasília. Contudo, em 2003, houve a interrupção da Adoração noturna. No ano de 2005, Dom João Braz de Aviz, na época Arcebispo de Brasília, percebeu o anseio da comunidade do DF pela Adoração Perpétua. Com o auxílio do Padre Adriano Scarparo, conheceu os registros de 1963 do Livro Tombo. Motivado pelo Ano da Eucaristia – instituído pelo então Papa João Paulo II – anunciou o restabelecimento da Adoração Perpétua Arquidiocesana, que seria realizada na Paróquia Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, a partir do dia 23 de outubro de 2005. O padre Adriano preparou a igreja, o que incluiu uma reforma da qual consta a construção de um painel onde fica exposto o Ostensório com Jesus Eucarístico. Este painel firma o propósito de dar total atenção a Jesus. O fiel que entra na paróquia fica compenetrado e tem a atenção voltada apenas para Jesus. Em julho de 2006, a paróquia foi, finalmente, elevada à condição de Santuário Arquidiocesano da Adoração Perpétua a Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Atualmente, 360 grupos se revezam de duas em duas horas, 24 horas por dia, na Adoração ao Senhor. Para melhor organização, foi criada, logo no início, uma comissão de Adoração Eucarística, que após a realização de um curso, passou a auxiliar paróquias, grupos, pastorais e movimentos oferecendo, inclusive, um livreto específico que orienta os momentos de Adoração. Esta pequena publicação tem quatro módulos: Adoração Silenciosa, Meditação de Textos, Súplicas e Ação de Graças, além da escala de adoradores. A professora Estela Borges e a dona de casa Verides Gerardi estão incluídas nesse imenso número de adoradores. Estela, sempre que pode, assiste às missas, ou mesmo fica em silêncio diante de Jesus Eucarístico. “Jesus fala ainda mais com a gente. Aqui, me realizo, sinto paz. Se pudesse,

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Teologia Por Diácono Marcos Sabater

Eucaristia,

fonte e cume da vida em Cristo que na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo; assim são eles convidados e levados a oferecer, juntamente com Ele, a si mesmos, os seus trabalhos e todas as coisas criadas. Por isso, a Eucaristia aparece como fonte e coroa de toda a evangelização. Jesus Cristo é o pão fracionado que nos alimenta, é ele que se entrega à morte por cada um de nós. Por meio deste pão, Jesus se dá a cada um, em Pessoa, como alimento espiritual até a sua vinda gloriosa: “Maranathá! Vem, Senhor Jesus!” O pecado, a morte e o inferno foram vencidos naquela hora da noite em que Jesus, o Filho de Deus, ressuscitou da morte. Agora a força do Ressuscitado age na Palavra de Deus que se proclama em cada liturgia, assim como no Espírito Santo que atua através das palavras e dos gestos: “Fazei isto em memória de mim”. Cada vez que comungamos, recebemos o próprio Cristo que se ofereceu por nós e que hoje está vivo aguardando a nossa chegada às mansões celestiais. Este alimento tem o poder de transformar-nos cada vez mais e de fazer-nos crescer como filhos de Deus. A nossa participação em Cristo se enriquece conforme o Senhor vai se apropriando do nosso ‘eu’ pessoal na Eucaristia. Se formos de Cristo, faremos as obras dele porque a sua Carne e o seu Sangue, ou seja, a sua Pessoa se faz um conosco. Nisto consiste o céu: em poder viver adorando, amando e ‘alimentando-nos’ do amor do Pai que se realiza no seu Filho e que é dado a nós pela ação do Espírito Santo. É nesta comunhão amorosa de Deus que se fundamenta a missão evangelizadora da comunidade cristã. Por isso é uma grave incoerência se dizer cristão e não alimentarse do corpo e do sangue do Senhor na fração do pão. Já o diziam os primeiros cristãos: “Sem o domingo não podemos viver” e só por esse motivo muitos foram jogados às feras para selar com o derramamento de sangue a sua união a Cristo eucarístico. Raphael Rodrigues

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o mês de junho celebramos a solenidade do Corpus Christi. Desde os inícios da Igreja, a Eucaristia foi sempre a fonte, o centro e o cume da vida cristã. Como memorial da paixão de Jesus e antecipação do banquete celestial, a Eucaristia é a regra e a referência para todos os outros sacramentos instituídos por Cristo. Os primeiros cristãos, devido às perseguições e à ausência de templos, viam-se obrigados a conservar as espécies eucarísticas em lugares seguros e privados. Eles levavam a comunhão aos irmãos doentes e àqueles que aguardavam a morte na prisão por causa da fé. A reserva eucarística foi mudando quando cessaram as perseguições, até o ponto de tornar-se um acontecimento solene e público. Essa atitude de adoração interior, alimentada pelo comportamento externo através dos atos, propiciou a introdução de alguns sinais na liturgia e nos ritos sacramentais que sublinhavam a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. É, por exemplo, a elevação da hóstia e do cálice depois da consagração. Isso acontece a partir do século IX, quando a adoração passa a ser vivida de um modo mais devocional, ao mesmo tempo em que aparecem as primeiras heresias que negam tal presença real de Cristo. É neste ponto da história da teologia que a Eucaristia começa a se distinguir dos outros sacramentos. Nos sacramentos do Batismo, Crisma, Reconciliação, Unção dos Enfermos, Matrimônio e Ordem Sagrada, Cristo não está presente de modo total (Totus Christus) em alma, corpo e divindade, isto é, em alma e corpo, como homem e Deus. Na Eucaristia, Cristo está no pão e no vinho que se transformam em seu Corpo e em seu Sangue. Já nos outros, só estão presentes as virtudes e os benefícios de Cristo. Assim, todos os sacramentos subordinam-se à Eucaristia. Diz o papa Bento XVI que “a santíssima Eucaristia leva à plenitude a iniciação cristã e coloca-se como centro e termo de toda a vida sacramental” (Sacramentum Caritatis 17). Os bispos reunidos em Concílio sublinharam

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VIDA E FAMÍLIA Por Pe. Eduardo Peters

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A Homossexualidade em discussão

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m dos temas mais discutidos da atualidade é a questão da homossexualidade. Essa questão ganhou força porque estamos discutindo como vamos compreender, daqui para frente, a relação familiar e a vida social em função de “novos” paradigmas do comportamento sexual. Num mundo relativista, tornase muito difícil afirmar algo como certo. Duvidamos de tudo e afirmamos qualquer coisa, nem sempre seguindo critérios justos de conhecimento. A moral perde força quando perdemos o senso da verdade mergulhados na opinião subjetiva ou mesmo comum. Se a verdade é algo pessoal, não podemos afirmar nada como bom para todos, nos restando afirmar o único afirmável: a liberdade. Mas a liberdade sem o bem objetivo é verdadeira liberdade? E essa liberdade pode levar o homem à verdadeira realização sem respeitar a sua verdade? Mas o que é a verdade sobre o ser humano quanto a sexualidade? Primeiro a Biologia nos traz que somos seres sexuados numa dualidade complementar: masculino e feminino. A perpetuação da espécie só é possível de modo natural através da união sexual entre um homem e uma mulher. Nos diz que a identidade sexual é muito mais profunda do que simplesmente a aparência externa: cada célula do nosso corpo carrega em si a informação sexual cromossômica desde o momento que somos formados no seio materno. Nossos órgãos sexuais, nossos hormônios, nossa estrutura biofísica assume características masculinas ou femininas invariavelmente, salvo anomalias. A verdade é que não somos livres para escolhermos o nosso sexo em termos biológicos: no que existimos somos biologicamente homens ou mulheres. Contudo, nem sempre a adequação psicológica com o biológico se dá de modo harmônico. Na psicologia se fala do biológico como norma funcional, complementado pelo psicológico que diante do seu funcional procura melhor adaptação pessoal, passando pela aceitação de si como via de satisfação. Além disso, o dinamismo sociocultural corrobora o pessoal como socialmente aceito ou não. Aqui se contemplam os aspectos físicos, psíquicos e sociais como partes componentes do complexo processo de maturação sexual. Mas não podemos simplesmente considerar esses fatores individualmente, pois o psicológico deveria acompanhar o biológico e a sociedade, orientada para o bem comum, deveria orientar-se para atender o humano tanto no dinamismo pessoal como no social. O Catecismo de modo muito acertado trata assim a questão: “A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atração

sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. (...) A sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a Tradição sempre declarou que «os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2357). Essa é uma reprovação dos atos homossexuais – pois são atos morais, resultados da adesão pessoal ao pecado – e não dos homossexuais, que como todos os indivíduos são chamados a vida casta, ou seja, ao reto uso da sexualidade. Nesse sentido a Igreja não os trata com discriminação, pois o reto uso da sexualidade é para todos. O catecismo ainda apresenta os meios de auxílio a serem oferecidos as pessoas com tendências homossexuais: “devem ser acolhidas com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a elas, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã” (CIC nn. 2358-2359). A acolhida do homossexual se vê contemplada na Igreja, mas não existe louvor ao ato homossexual ou a aprovação do “casal”, pois isso não corresponderia à verdade que cremos, baseados na fé, mas também no que a natureza humana nos informa a respeito do uso do sexo. Uma verdadeira e franca discussão deveria contemplar o auxílio para que a pessoas pudessem na integralidade do seu ser se aceitarem e orientarem para o bem e a perfeição a sua humanidade que passam pela busca sincera e generosa da vontade de Deus. Sabemos do desafio que isso representa, mas sabemos também que o homem auxiliado pela graça é capaz de muito, pois torna-se capaz de Deus. A discussão sobre o tema não pode ser de ordem afetiva ou legal, mas deveria colaborar para que todos, heterossexuais e homossexuais, unidos em vida fraternal, se tornassem capazes de caminhar para a verdadeira perfeição que consiste na adesão nossa à vontade de Deus, certos de que o Salvador não nos abandona nesse caminho, por vezes difícil.

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Capa Por Kamila Aleixo

O novo escolhido de Deus

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Igreja de Brasília vive um momento de grande transformação. Com a saída de Dom João Braz de Aviz, a Arquidiocese espera ansiosa pelo seu 4º arcebispo. Brasília se destaca de outras cidades em vários aspectos, inclusive na constituição de sua Igreja. Por ser a capital do país, exige um pouco mais daqueles que administram sua Arquidiocese, a começar pela necessidade de se exercer uma boa articulação, tanto com os fiéis quanto com o meio político e social. Esse será um dos desafios que o novo arcebispo terá de enfrentar. Neste ano, a Arquidiocese de Brasília comemorou 51 anos. Criada e constituída como Igreja particular pelo papa João XXIII no dia 16 de janeiro de 1960, Brasília iniciou a sua caminhada como diocese desmembrandose da Arquidiocese de Goiânia em 21 de abril de 1960, data da inauguração da cidade. Ela teve como primeiro arcebispo Dom José Newton, que exerceu esta função entre 1960 e 1984. Seguido dele, assumiu o Cardeal Dom José Freire Falcão que atuou durante 20 anos, de 1984 a 2004. E, por último, tivemos Dom João Braz de Aviz, que governou a Igreja de Brasília de 2004 até janeiro de 2011. Todas essas administrações contribuíram para o crescimento e fortalecimento da Arquidiocese, que conta com 128 paróquias. Por ser capital, é em Brasília que nasce a maioria das mudanças e iniciativas que regem todo o país. Por isso, saber articular com o meio político e social é de suma importância para qualquer instituição, inclusive para a

Igreja. Foi pensando no social que Dom João, ainda em sua gestão pastoral, criou o Vicariato Social que cuida dos mais necessitados por meio de diversos projetos, pastorais e organismos. Segundo o padre Paulo Sergio, coordenador do Vicariato Social da Arquidiocese de Brasília, a capital do país é grande e tem muitas necessidades nesta área que precisam ser acompanhadas mais de perto; apesar de tudo o que já foi feito, ainda há muito o que crescer. “Vejo que os desafios de nosso novo arcebispo é, não só manter acesa, mas também fazer crescer ainda mais esta chama de amor e serviço aos mais necessitados”, explica.

Novo Arcebispo

Brasília está em festa. Foram cinco meses de espera e expectativa para a nomeação do novo arcebispo. Com a ida de Dom João Braz de Aviz para Roma em janeiro deste ano, todos aguardavam ansiosamente o nome que iria governar a Igreja de Brasília nos próximos anos. A espera acabou no dia 15 de junho de 2011, quando o Papa Bento XVI nomeou Dom Sérgio da Rocha para ser o novo arcebispo de Brasília. Dom Sérgio é oriundo da Arquidiocese de Teresina, Piauí, onde foi arcebispo por quatro anos. Conhecimento para ensinar, coragem para governar e muita fé para levar as pessoas a Deus. Essas serão as principais atitudes que Dom Sérgio terá de assumir como Arcebispo de Brasília. Escolhidos por Deus e nomeados pelo Papa, os arcebispos assumem as Arqui-

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Arquivo Pessoal Becchara Becchara (segundo - da direita para a esquerda) e integrantes do movimento Segue-me

todos. É muito importante caminhar e trabalhar juntos na mesma fé e com o mesmo propósito. Eu tenho esperança que no início eu possa contar com muitos irmãos e imãs que já estão trabalhando na arquidiocese para, assim, juntos, darmos os primeiros passos. Para Dom Sérgio ser oficialmente empossado na Arquidiocese haverá uma missa onde se fará a leitura do documento assinado pelo Núncio Apostólico. A celebração acontecerá no dia 6 de agosto, às 9h da manhã, na Catedral Metropolitana de Brasília.

Arquivo Pessoal João Humberto

dioceses e dirigem padres, fieis, leigos e toda a comunidade a caminharem rumo ao Pai. Em meio a diversas responsabilidades, os arcebispos ajudam a atender as necessidades espirituais dos fiéis, incentivar a busca pela comunhão com a Igreja, além de guardar e preservar a discipliPe. Paulinho: a Arquidiocese ainda na eclesiástica e denecessita de obras sociais. fender os direitos dos sacerdotes cuidando para que cumpram com as obrigações que lhes foram confiadas. É a segunda vez que um arcebispo de Teresina é nomeado para assumir a Arquidiocese de Brasília. O primeiro foi o cardeal Dom José Freire Falcão, que assumiu em 1984 e atualmente é arcebispo emérito da Arquidiocese de Brasília. Em entrevista à Rádio Nova Aliança, Dom Sérgio disse estar surpreso e ao mesmo tempo muito contente com a nomeação. “Eu recebi essa notícia com muita gratidão. Fiquei feliz de ver como o povo de Brasília se preparou com muita oração para receber seu arcebispo. Eu me alegro e agradeço muito a todos por isso”, disse. Com sua vasta experiência administrando diversos setores da Igreja, Dom Sérgio quer trabalhar junto com os leigos, religiosos e sacerdotes de nossa Arquidiocese. “Na minha vida procuro trabalhar com a participação de

Felipe Rodrigues

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João Humberto e a esposa Sonia Aires, coordenadores do ECC - Vicariato Norte

A igreja espera ansiosa

Brasília possui uma Igreja viva e muito atuante. Hoje são mais de 70 pastorais, movimentos e serviços Arquidiocesanos funcionando ativamente. Para o casal João Humberto e Sonia Aires, que são coordenadores do Encontro de Casais com Cristo (ECC), do Vicariato Norte, as expectativas para a chegada do novo Arcebispo são as melhores. “As nossas expectativas são de que ele encontre paz, iluminação do Espírito Santo para que cumpra fielmente os deveres do Ministério Sacerdotal, um ambiente propício para a realização das tarefas pastorais e parceria para resgatar aqueles afastados da Igreja”. Já para Becchara Rodrigues, coordenador do movimento Segue-me de Brasília, os jovens estão muito entusiasmados com a nomeação. “De modo geral, não adianta viver de forma isolada, onde cada um se preocupa apenas com as suas obras e realizações, portanto só poderemos realizar a nossa missão por completo com a presença da cabeça da nossa Igreja em Brasília. Dessa forma acreditamos que Dom Sérgio poderá nos dar a direção e a orientação adequada daquilo que a Igreja espera e deseja da juventude”, explicou.

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om Sérgio da Rocha tem como lema episcopal "Omnia in Charitate" (“Em tudo, a caridade”), frase da Primeira Carta aos Coríntios (16,14). Seu brasão episcopal é formado pela cruz de Cristo ao centro, grande sinal do amor de Deus que se doa totalmente até a morte. A cruz, em ouro, representa o esplendor da vitória de Cristo, o Senhor Ressuscitado, que amou até o fim (Jo 13,1). A letra M significa Maria, Mãe das Dores, que permanece associada a Cristo ao pé da cruz e cujo exemplo e intercessão resplandecem na Igreja ao longo dos séculos como a prata. No brasão, aparece também a Bíblia aberta, recordando desse modo que a Palavra de Deus se dirige a todos para iluminar e revelar o amor de Deus na história. Finalmente, o cesto de pães lembra a Eucaristia, que é expressão da presença permanente de Deus entre os homens.

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aulista de Dobrada, Dom Sérgio nasceu no dia 21 de outubro de 1959. Fez o curso de filosofia (Seminário de São Carlos) e teologia em São Paulo. Foi ordenado padre no dia 14 de dezembro de 1984. Fez mestrado em Teologia Moral na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, e doutorado na Academia Alfonsiana da Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma. Aos 51 anos, é presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé, o que o torna membro do Conselho Episcopal Pastoral (Consep) e do Conselho Permanente da CNBB. Como arcebispo de Teresina, foi membro das Comissões da CNBB: para a Doutrina (2002-2007), Mutirão para Superação da Miséria e da Fome (2001-2004), para os Ministérios Ordenados e da Vida Consagrada (2007-2011). Neste mesmo período, foi presidente do Departamento de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam). Exerceu, também, várias funções nos Regionais da CNBB Nordeste 1 (Ceará) e Nordeste 4 (Piauí).

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a Igreja hoje Por Narlla Sales

A Igreja Católica na China Enquanto o Santo Padre pede a oração dos fieis do mundo inteiro pelos chineses, missionários arriscam a vida para anunciar o amor de Deus

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m um cenário conturbado no qual caminha a Igreja na China, o Papa Bento XVI pede orações pelo país, pelos católicos que lá residem, pelo clero e, sobretudo, para que o diálogo entre a Santa Sé e as autoridades locais seja respeitoso e construtivo, como registrou na carta aos católicos chineses em 2007. Neste mesmo ano o pontífice instituiu o dia 24 de maio, dia dedicado à memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria, Auxílio dos Cristãos, (venerada no santuário mariano de Sheshan, em Xangai), como o Dia Mundial de Oração Pela China. Este ano, em vários locais do Brasil e do mundo, a data foi marcada por orações e súplicas a Deus pela realidade do país. A Revista Brasília Católica fez contato com uma cidadã chinesa católica, Lee JingYi, que mora na Ilha de Taiwan, situada a cerca de 200 km da costa sudeste da China. JingYi esteve em missão em alguns lugares da China e conviveu com comunidades religiosas, seminaristas e missionários que vivem no país. Uma das aventuras que a jovem descreve é sobre o tempo que esteve com uma freira chinesa que luta há 16 anos para salvar a vida de bebês ameaçados pela política de controle de natalidade no país. A missão dessa freira, segundo JingYi , é promover o valor da vida e a Teologia do Corpo de João Paulo II. Atualmente, a China possui mais de 1,3 bilhão de habitantes, sendo o maior país da Ásia Oriental. É considerado, ainda, o país mais populoso do mundo. JingYi afirma que, por causa do rígido controle de natalidade imposto pelo governo, as mães são obrigadas, no nascimento do primeiro filho, a se submeterem a cirurgias irreversíveis para que não gerem mais filhos. “Se o casal tiver um segundo filho, os pais têm de pagar um valor altíssimo de multa, correm o risco de perder o emprego, têm as relações sociais prejudicadas e as crianças não têm os direitos civis básicos garantidos”, conta. Por este motivo, a jovem relata que muitas crianças são mortas ao nascerem.

De acordo com JingYi , vivem sob os cuidados dessa freira, cinco mulheres grávidas, com idades entre 21 e 32 anos. Elas escaparam da perseguição do governo e até mesmo da própria família. “Algumas delas nunca tinham ouvido falar do Evangelho”, declara. A missionária diz que, certo dia, ao conversar com as mulheres, que sequer sabiam quem era Jesus, sobre a Teologia do Corpo, sentiu que as palavras do Santo Padre tiveram uma ação poderosa na vida delas. “Não foi nada abstrato, nem difícil. A maravilhosa revelação sobre o plano de Amor de Deus para o homem era exatamente o que elas precisavam para iniciar um encontro com Deus que é Amor.” O cristianismo tem tido um rápido crescimento e hoje possui entre 40 milhões (3%) e 54 milhões (4%) de seguidores,de acordo com pesquisas independentes, enquanto as estimativas oficiais sugeriram que há apenas 16 milhões de cristãos. Algumas fontes também informaram até 130 milhões de cristãos na China. Lee JingYi teve também a oportunidade de conhecer um seminário clandestino que funcionava em uma fábrica. “Os moradores pensavam que os rapazes eram trabalhadores da fábrica, prática comum no país”, relata. Segundo ela, o proprietário era católico e se dispôs a correr o risco de abrigar mais de 30 jovens que se preparavam para o sacerdócio. Com toda falta de estrutura e dificuldade em manter a unidade com a Igreja Universal, para JingYi, a formação dos seminaristas na China é lenta e pobre, um dos motivos que leva o Santo Padre a sempre se dispor ao diálogo com as autoridades e a apelar orações dos fieis do mundo inteiro pelo país. “Especialmente quando vi aqueles seminaristas, tive a impressão de estar em uma prisão, mas a alegria interior e a liberdade deles em uma condição tão limitada foi, sem dúvida, o que mais me surpreendeu. Um grande desafio para mim que estava tão contaminada pelo individualismo e conforto”, conclui.

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Entrevista Por Kamila Aleixo

Amor, fé e doação Unidos pelo Sagrado Coração de Jesus, os integrantes do Apostolado da Oração renovam diariamente a fé por meio da Eucaristia e da oração em entrega total ao serviço e à intercessão pela Igreja. Padre Márcio Alves explica sobre esse movimento, presente em mais de cem paróquias da Arquidiocese

Brasília Católica: O que é o apostolado da oração? Padre Márcio: O Apostolado da Oração (A.O.) é uma associação de fieis leigos que procuram consagrar suas vidas a Deus pela oração e pelo testemunho. É um serviço à Igreja. A principal devoção é o culto ao Sagrado Coração de Jesus. Os membros do Apostolado encontram, na oração e na vida sacramental, a força e a vitalidade. Sua espiritualidade se baseia no que chamamos de seis pilares do Apostolado da Oração: oferecimento do dia, vivência da Eucaristia, devoção ao Sagrado Coração de Jesus, devoção a Nossa Senhora, devoção ao Espírito Santo e união com a Igreja. Quando surgiu em Brasília? O Apostolado da Oração chegou ao Brasil em 1867, na cidade de Recife – PE. Em Brasília, o registro mais antigo nas paróquias data de 1957. O Apostolado está presente em quantas paróquias no Distrito Federal? O movimento está presente em 120 paróquias de nossa Arquidiocese. No último levantamento, feito nos livros de registro de associados, temos aproximadamente 5.600 membros atuantes em toda arquidiocese. O trabalho do Apostolado é atuante nas paróquias durante todo o ano? Sim! O Apostolado é um serviço à Igreja no dia a dia. O seus membros se reúnem no mínimo uma vez ao mês, visitam famílias e doentes, rezam o Rosário nas casas e na Igreja, fazem adoração ao Santíssimo Sacramento, além de auxiliarem os párocos em suas respectivas paróIdemar José

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junho/julho de 2011 quias.Ele está presente em todas as grandes festividades da Arquidiocese de Brasília.

porque é tomado por esse ardor missionário e por isso já não consegue deixar.

Qualquer interessado pode participar do apostolado?

Como as comunidades podem ajudar o Apostolado?

Pelo que vemos nas paróquias, a maioria das pessoas que atuam no apostolado são idosas. Há algum interesse do apostolado em chamar mais jovens a participar? O Apostolado nasceu na França, numa casa de estudos para jovens, com a finalidade de encaminhá-los para a messe, propondo o oferecimento de seus estudos, oração e vida para o Senhor. Hoje o maior número dos associados é de pessoas adultas e mais experientes no trabalho apostólico, mas existe dentro do Apostolado o MEJ (Movimento Eucarístico Juvenil), destinado ao acompanhamento dos jovens, cujo ingresso tem o mesmo procedimento do A.O.

O Apostolado é um serviço à Igreja que necessita de membros dispostos a trabalhar por ela. Assim, as comunidades podem ajudar o apostolado fortalecendo o grupo que está em sua capela ou paróquia para que esse grupo desenvolva seus trabalhos e auxiliar os padres nas respectivas paróquias naquilo que mais necessite, ou seja, desde os serviços manuais até catequese, liturgia, grupo missionário, adoração. Que mensagem o senhor deixa para os cristãos que estão conhecendo, por meio desta entrevista, um pouco mais sobre o Apostolado da Oração? Irmãos(ãs), a proposta do Apostolado da Oração para nossa vida é de um seguimento a nosso Senhor Jesus Cristo, dedicando-se aos irmãos no serviço à Igreja, oferecendo a Ele diariamente nossa vida. Você é convidado(a) a se juntar a nós nesta missão de sermos embaixadores (apóstolos) representantes da oração e do amor de Jesus para mundo. Procure na paróquia ou capela mais próxima um grupo do Apostolado da Oração e seja um servo(a) consagrado(a) ao Coração de Jesus. Arquivo pessoal

Sim! É preciso que o interessado(a) procure o grupo do Apostolado em sua paróquia ou capela e peça ingresso. Seu nome será registrado no livro de atas dos associados daquele grupo, e a partir daquele momento ele(a) será acompanhado(a) pelos zeladores do grupo e participará das reuniões mensais, assumindo os compromissos devocionais do Apostolado da Oração.

Além das orações, o apostolado exerce outras atividades junto à comunidade? O membro do A.O. é um missionário em sua comunidade. Ele está inserido nos trabalhos de sua capela ou paróquia. Não basta ser do Apostolado, ele(a) tem o dever de atuar nos mais diversos trabalhos de que necessita sua comunidade, sempre com o apoio do pároco. Qual o significado da fita vermelha que os atuantes usam? A fita significa nossa pertença ao A.O. A cor vermelha lembra o amor do Sagrado Coração de Jesus, e o seu formato contorna um coração (o do Cristo) sobre o nosso. Uma vez do apostolado sempre do apostolado? O membro do A.O. é alguém apaixonado pela sua missão na Igreja. Ser devoto do Sagrado Coração de Jesus é reconhecer o grande amor de Deus Pai expresso em Seu Filho Jesus. Quem ingressa no apostolado é tomado por esse grande amor e dificilmente o consegue deixar - não porque seja proibido ou seja norma da associação, mas Padre Márcio Alves é religioso da Ordem de Nossa Senhora das Mercês (mercedários). É diretor espiritual arquidiocesano do Apostolado da Oração em Brasília e pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora das Mercês, na 615 Sul, sede do Apostolado da Oração.

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Pastoreio Por Aline Félix

Equipes de Jovens de Nossa Senhora Fotos: Arquivo Pessoal Flávia Xavier

Não há melhor guia para ir a Deus do que aquela que ocupa o primeiro lugar entre os humildes e pobres do Senhor, que confiantemente esperam e recebem dele a salvação”. Convictos disso, os integrantes do movimento Equipe de Jovens de Nossa Senhora (EJNS), buscam a santidade sob a proteção de Maria, Mãe de Deus. O movimento existe a nível internacional há mais de 30 anos e foi criado, na França, a partir da iniciativa da jovem Christine d’Amonville, filha do casal responsável internacional das Equipes de Nossa Senhora (ENS) em 1976. Em dezembro de 1988, a jovem Maria Madalena Fontoura, responsável nacional pela EJNS em Portugal, visitou as equipes ativas no Brasil, transmitindo materiais e documentos sobre o funcionamento das EJNS na Europa. A jovem Catherine Elisabeth Nada traduziu os textos e, sob orientação do francês Thibaut Roussel, tornou-se a responsável pelo movimento no Brasil. Em 1990, Catherine, Frei Barruel, o casal Therezinha e Ronaldo, e outros jovens promoveram o 1º Encontro Nacional das EJNS em Aparecida (SP). Atualmente o movimento está em 26 cidades brasileiras, entre elas Brasília - que conta com 13 equipes de base. Elas são compostas de 8 a 12 jovens (com idade entre 16 e 30 anos), um casal acompanhador e um

conselheiro espiritual. Nos encontros, os membros dos grupos partilham suas experiências e buscam entender o amor de Deus por meio da oração, do diálogo e do estudo da doutrina católica. As equipes não são vinculadas a paróquias específicas e cada uma recebe como nome, um dos títulos de Nossa Senhora. Em Brasília, as EJNS têm Nossa Senhora das Dores como padroeira. Em sete anos de equipe, Flávia Xavier, coordenadora do Setor Brasília, conta que nunca imaginou ser responsável pela equipe. “Quando fui eleita, fiquei surpresa, pois não me sentia capacitada para tal função. O medo e a insegurança me dominaram, mas eu não podia negar”. Com o apoio de um casal acompanhador, Flávia aprendeu que Cristo está sempre presente. “Ele está em mim, eu estou n’Ele e juntos estamos pelas EJNS”. Segundo Fernando Vieira, responsável por uma das equipes do Setor Brasília, “viver em equipe é muito mais do que estar em equipe, é vivenciar cada momento e compartilhar com pessoas, nas quais confiamos”. Fernando entrou nas equipes em um momento muito difícil de sua vida e encontrou ali conforto e força para o caminho. “Não somos apenas equipes de jovens, mas somos de Nossa Senhora, portanto, procuramos em nossa Mãe um exemplo nas suas virtudes, humildade e obediência”, afirma.

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