TFG | Balneário de Águas da Prata: Arquitetura

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ARQUITETURA anรกlise


O BALNEÁRIO DE ÁGUAS DA PRATA ARQUITETURA - CIDADE - MEMÓRIA

JúliaTampellini Biá Pimenta - São Paulo, 2019. Trabalho Final de Graduação (TFG) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Orientação: Profª Drª Beatriz Mugayar Khül. Orientação metodológica: Profª Drª Klara Anna Maria Kaiser Mori.


SOBRE ESTE CADERNO Este caderno corresponde a um dos três volumes que analisam o Balneário de Águas da Prata (ou Balneário Teotônio Vilela), em três períodos distintos: as décadas de 1970, 2000 e 2010. Nele serão definidas as diretrizes de intervenção arquitetônica que embasarão a proposta final de restauração do complexo.

Leia os volumes na ordem desejada.


ARQUITETURA PARA UM GRANDE CENTRO COMUNITÁRIO

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O Balneário Teotônio Vilela, projetado por João Walter Toscano, em colaboração com Massayoshi Kamimura e a paisagista Odiléa Setti, e situado em Águas da Prata, município interiorano do estado de São Paulo, é um edifício de 1974 que carrega consigo características formais e funcionais próprias da tradição da arquitetura modernista paulista. Desde 1998, portanto há 20 anos, o edifício vive um histórico de abandono e deterioração. Este trabalho baseia-se na hipótese de que o Balneário, enquanto principal atração turística local, foi o sustentador da vida econômica, urbana e social da cidade no período em que esteve ativo. Interessou à pesquisa definir quais os pilares da formação de João Walter Toscano e

O BALNEÁRIO DE ÁGUAS DA PRATA

ARQUITETURA


os princípios que sustentaram as diferentes fases de sua atuação profissional. Assim, considerando a periodização estabelecida por Alexandre Alves, a obra de Toscano é dividida em 3 períodos, sendo o segundo expresso no Balneário e sintonizado com a tendência estabelecida pela escola brutalista e pela escola carioca de Reidy, em uma síntese entre essas duas “tradições da arquitetura brasileira e contemporânea, numa hibridização de alto interesse”(1). A partir dessas referências, o arquiteto pesquisou, aprimorou e deu forma ao seu estilo de criação. Isso é evidenciado pela forma como Toscano transforma o exercício profissional da arquitetura em um campo fértil para a experimentação, traduzindo e reinterpretando referências que, mesmo com múltiplos significados, têm no seu trabalho um sentido de unidade formal. Exemplos disso são os brises e os sheds de controle da luminosidade existentes no Balneário. Outro aspecto fundamental para esta pesquisa é a atuação de Toscano enquanto arquiteto de obras públicas e institucionais, atento aos detalhamentos, para que suas obras fossem bem construídas, gerando edifícios duradouros e de qualidade arquitetônica inquestionável(2).

funcionamento dos diversos departamentos previstos pelo programa, a partir de uma “ocupação adaptada à topografia em um bloco compacto”(3). Na proposta, há um rigor no que diz respeito à modelação e à proporção dos elementos estruturais, ao mesmo tempo em que se estabelece um intenso diálogo com a paisagem e uma forte interpretação da mesma. No centro, que congrega instalações termais, atividades esportivas, espaços expositivos e comerciais, revela-se a proposta de integração com a rua, em função de um bloco elevado por pilotis e do térreo livre que abriga um grande hall, evidências da intenção de transformar o Balneário em um espaço de intensa circulação e convívio social. Interessou também saber em que circunstâncias Toscano projeta o Balneário e quais conexões possibilitaram a sua atuação como projetista. Então, procurou-se entender a sua relação com as estruturas governamentais, assim como os detalhes de sua contratação, significando a sua obra no contexto da política pública daquela época, quando a agenda pública de turismo do país esteve pautada no marco regulatório de 1966, que estabeleceu a Política Nacional de Turismo.

No desenvolvimento do projeto do Balne- Nos anos imediatamente anteriores ao início ário, os arquitetos procuraram estabelecer da construção do Balneário (de 1967 a 1973), uma distribuição compatível com o bom o milagre econômico brasileiro gerou condiFoto do cabeçalho: Acervo Antonio Carlos R. Lorette (1) ZEIN, Ruth Verde, 2005, p. 152. (2) PEREIRA, Miguel Alves; PRESTES, Lucinda Ferreira, 2008. (3) ACRÓPOLE, 1971, p. 25.

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ções de “financiamento direto ou incentivos fiscais a iniciativas de desenvolvimento do turismo”(4), no que se enquadra, por exemplo, a Fumest (Fomento de Urbanização e Melhoramento das Estâncias), entidade autárquica cuja iniciativa investiu fortemente nas estâncias hidrominerais durante os anos 70, inclusive em Águas da Prata.

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Em termos gerais, tal iniciativa teve “(...) o propósito de desenvolver programas de urbanização, melhoria de atrativos culturais e preservação ambiental das estâncias turísticas, fatores que influenciam indiretamente a atividade turística”(5). No tocante à Aguas da Prata, esse investimento infraestrutural abrangeu, além dos serviços de comunicações, saúde, saneamento e aproveitamento de seus recursos naturais, na ação direta do governo estadual e municipal feita através da Fumest, com planejamento do seu desenvolvimento(6).

DADE (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias), instituido pela Lei 6.470/1989. Para ilustrar como as inconstâncias das gestões públicas comprometeram as possibilidades de permanência do Balneário, cita-se o fato de que, na década de 1980, “passaram pela administração da Secretaria de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo sete secretários, cada qual com sua própria visão e plano de ação. (...) Assim, observam-se mais uma vez, ações isoladas de promoção turística e total descontinuidade nos processos de desenvolvimento”(7).

Embora existam razões próprias da política pública local que conduziram ao abandono do Balneário a partir da década de 90, como será tratado a seguir, a pesquisa considera que a descontinuidade das políticas públicas de turismo em âmbito estadual também ocasionou impactos negativos na manutenção do edifício.

Além das alterações constantes na gestão do financiamento, “questionamentos sobre uso inadequado de verbas estaduais (...) impedem novos investimentos no lugar. Segundo a Prefeitura [de Águas da Prata], outro problema (...) ocorreu quando o Governo do Estado repassou o prédio para o município em 1997 e não transferiu a escritura(8)”. Os desdobramentos perduram até hoje: a administração municipal atual alega que nenhum investimento pode ser feito no edifício em função da ausência de documentações e de pendências das gestões anteriores com a Procuradoria do Estado.

Nesse quadro, insere-se a decisão governamental de extinguir a Fumest em 1989, substituindo-a por outras estruturas dos organismos estaduais de turismo, como o

É importante mencionar que, em meados de 2006, o escritório de Toscano foi novamente contratado pela Prefeitura Municipal de Águas da Prata, estando encarregado do

PIMENTEL, Mariana Pereira Chaves; Thiago Duarte, 2001, p. 9. SÃO PAULO, Estado de. Decreto-Lei nº 258, de 29 de maio de 1970. (6) ACRÓPOLE, 1971, p. 22. (7) BROCCHI, Raquel Gallo; SOLHA, Karina Toledo, 2008, p. 247. (8) Portal G1, 2014. (4) (5)


licas estão atualmente em péssimo estado. Para que o edifício funcionasse segundo os usos originais previstos pelo escritório de João Walter Toscano, segundo o que noticiou um veículo de mídia online, a PrefeiAo longo desta pesquisa, ao entrar em contato tura da cidade estima que são necessários com a Prefeitura, foi possível ter acesso a mais aproximadamente 10 milhões de reais para de 60 documentações originais presentes no a realização do projeto de reforma(10). seu Departamento de Engenharia. São referentes ao período em que foi oficializada a Diante de todo esse histórico, restaurar e contratação do arquiteto para o projeto execu- reativar o complexo do Balneário Teotônio tivo de reforma em si. Estão presentes entre os Vilela representa um duplo desafio: resgatar documentos analisados contratos, processos o seu significado socioeconômico e zelar pela pertinentes aos editais de licitação, orçamen- preservação do patrimônio da arquitetura tos de obra, memoriais descritivos, desenhos moderna, considerando, por exemplo, que as técnicos e relatórios de visita técnica em ge- suas expressões são minoria na lista de bens ral(9). Em função disso, foi possível compre- tombados pelo Condephaat. ender os pormenores dos fatos que levaram ao abandono do Balneário por parte do poder Nas próximas páginas, a arquitetura do Balpúblico, assim como as dificuldades em reto- neário Teotônio Vilela será tratada em três mar o processo de reativação do edifício. momentos históricos distintos e balizadores de todas as análises feitas no âmbito deste O cronograma previsto para a reforma de Trabalho Final de Graduação: o edifício será 2006 era basicamente dividido em duas eta- lido nos contextos de 1974 (considerando o pas. Na primeira etapa, parcialmente realizada projeto tal qual idealizado), de 2006 (consipela empresa Isoterma, seriam feitos os servi- derando a reforma proposta por Toscano e ços de impermeabilização de coberturas e o parcialmente realizada) e de 2019 (consideinício da recuperação estrutural do concreto rando o estado atual de conservação do bem aparente. Na segunda etapa, não realizada, se- e as bases reais para intervenção). riam feitos os serviços de recuperação arquitetônica interna do edifício, hidráulica e elétrica. Parte-se da defesa de que as informações aqui Ressalta-se que, em decorrência dos proble- contidas contribuem para a construção de uma mas de gestão da coisa pública, desde 2006, base teórica investigativa, a qual oferecerá insua estrutura física do local resistiu à ação do mos técnicos, estéticos, programáticos e formais tempo, mas as instalações elétricas e hidráu- para consolidar a proposta final de intervenção. projeto de reforma e reativação do edifício. Seus honorários foram pagos em virtude da realização de um convênio entre Prefeitura Municipal (P.M.) e DADE.

(9)

A relação dos documentos consultados encontra-se disponível ao final deste caderno. G1, Jornal EPTV, 2014.

(10)

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Foto: Retirada de vídeo editado por Amália Coccia

Foto: Acervo João Walter e Odiléa Setti Toscano, de Cristiano Mascaro 08

1970

1974

1980

1990 PERÍODO DE ATIVIDADE

Lançamento irregular de edital que visa a concessão do Balneário a empresa privada

Assinatura de convênio com o DADE para início das obras

2006 Projeto de Reforma de J. W. Toscano

[...]

2008

2009 Rompimento do convênio entre Prefeitura e DADE

[...]


Foto: Acervo da autora

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1998

2000

2006

ARTICULAÇÕES COM VISTAS À REFORMA

PERÍODO DE ABANDONO DO COMPLEXO

Lei nº 2.080/2014 tomba o Balneário e outros bens históricos (CONDEPHIC)

2014

2019

2010

Prefeitura cogita fortemente a privatização do complexo

[...]

2017 Lei nº 2.260/2017 revogando a lei nº 2.080/2014, destombando o Balneário

2018

2019 Projeto de TFG de J. T. B. Pimenta


A IMPLANTAÇÃO EM 1974

Bloco anexo de apoio às piscinas com vestiários e casa de bombas 112.8

Acesso via rua lateral

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Representação do relevo existente e modificado para abrigar o edifício

Bloco principal 111.4

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LUIZ POSTE

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Calçada pavimentada livre de volumes para possibiltar a vista integral do conjunto

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Bancos de concreto POSTE

escala 1:1000 0

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A IMPLANTAÇÃO EM 2006

Bloco anexo de apoio às piscinas com vestiários e casa de bombas 112.8

Acesso via rua lateral

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Bloco principal Escadaria de acesso pela rua principal

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Calçada pavimentada ocupada por chalés comerciais, mesas e floreiras

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Bancos de concreto POSTE

escala 1:1000 0

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A IMPLANTAÇÃO EM 2019

Bloco anexo de apoio às piscinas com vestiários e casa de bombas 112.8

Acesso via rua lateral

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112.8

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Acesso via nível inferior

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Substituição do calçamento orginal, de empedrado (mosaico português) por um pré moldado de concreto

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Calçada pavimentada ocupada por chalés comerciais, mesas, floreiras e bloco de banheiros

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Bancos de concreto

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Fachada com brises metålicos perfurados para controle da iluminação.

Arquitetura diante do tempo


Sheds para iluminação zenital e banhistas no pavimento intermediário, nível de acesso às piscinas.

Vista aérea do conjunto inserido no centro urbano da cidade da Prata. 017


018

Auditório e iluminação zenital por domus circular.

Fotos do Acervo João Walter e Odiléa Setti Toscano, tiradas por Cristiano Mascaro. Imagens tratadas e obtidas através da Arquigrafia, plataforma colaborativa digital pública, sem fins lucrativos, dedicada à difusão de imagens de arquitetura, desenvolvida na FAUUSP.


Reflexo das portas das salas de banhos individuais no pavimento superior do edifício.

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Vista aérea do conjunto recém construído e entregue ao público na década de 70.


020


O PROJETO DE 1974 Em 1974, o projeto desenvolvido por João Walter Toscano previa uma ocupação mista: no piso superior, um programa de termas, no piso intermediário, um programa comercial e, no piso inferior, um programa relacionado ao tratamento de saúde, à administração do conjunto e às atividades culturais, a partir da inserção de um grande auditório. Os

projetos originais de arquitetura, hidráulica e elétrica estão fisicamente presentes na Seção de Materiais Iconográficos da Biblioteca da FAUUSP e foi consultado e digitalizado para a apresentação neste trabalho. É importante mencionar que, em 1974, não havia previsão das questões relacionadas à acessibilidade universal no edifício.

PAVIMENTO 1 O programa está distribuído de forma perfeitamente simétrica a partir de um eixo central estabelecido pelo grande hall de entrada, determinando as alas masculina e feminina do andar, totalmente destinado aos banhos e tratamentos proporcionados pelas águas minerais. Contém duchas, salas de massagem, sala de máquinas, depósito, sala para medicina de

urgência, sala dos funcionários, sala de controle, piscinas cobertas (ofurôs), saunas secas e molhadas (com revestimento de madeira e mármore, respectivamente), salas para banhos individuais, sala de repouso, bares, sanitários e vestiários, salas para inalação e pulverização, barbearia, instituto de beleza, salão de ginástica (área comum) e núcleo de elevador. 021

PAVIMENTO 0 O pavimento intermediário, distribuído em dois níveis (nas cotas 111.4 e 112.8) foi idealizado com um hall de entrada com pé direito duplo, uma grande marquise coberta e elevada sob pilotis. No projeto, Toscano reservou neste pavimento espaços para atividades recreativas e sociais, no que se enquadram as piscinas adulto e infantil, três lojas comerciais,

um salão de estar (posterior restaurante com bar e cozinha), um jardim, além dos sanitários, todos com fácil acesso ao elevador central. Pela cota 112.8 há uma passagem para o edifício anexo, nível que permite acesso ao vestiário feminino e à casa de máquinas, sala projetada para abrigar as bombas e caldeiras para aquecimento das piscinas.

PAVIMENTO -1 O pavimento inferior, semienterrado, pode ser acessado por uma escadaria, localizada no grande hall de entrada, ou pelo calçamento da Avenida Armando S. de Oliveira. O bloco principal abriga um programa diverso, que contém dois núcleos de sanitários, salas para manutenção, lavanderia coletiva, farmácia, laboratório, salas para exames, sa-

las para raio-x, almoxarifado, consultórios, copa, depósito, pequenos núcleos destinados ao banho de funcionários, administração (incluindo a sala da chefia e o departamento de contabilidade), sala de espera e estar, auditório e núcleo de elevador. Este nível também dá acesso ao andar inferior do edificio anexo, que contém os vestiários masculinos.


022


O PROJETO DE 2006 Em 2006, o escritório João Walter Toscano e Arquitetos Associados elaborou o projeto executivo de arquitetura da 2ª etapa das obras previstas. A intervenção, nunca realizada efetivamente, determinava as etapas para recuperação do concreto interno e paredes, além do remanejamento do programa nos três pavimentos. A proposta previa a execução de nova

pintura e novos revestimentos; a recuperação de caixilhos, luminárias e pisos; a substituição de domus, brises e aparelhos hidrossanitários; além da demolição e construção de novas alvenarias e paredes divisórias. Ademais, foram contempladas as questões pertinentes à acessibilidade universal, com a adaptação dos banheiros e do layout do auditório.

PAVIMENTO 1 A intervenção nas áreas do pavimento superior envolve o remanejamento das salas de banho, vestiários e sanitários, tendo em vista a revitalização do Balneário para um novo SPA-Médico, segundo consta do memorial descritivo do projeto. O pavimento receberia um programa destinado a fisioterapia, sala fitness, cozinha experimental, banhos especiais, atendimento

médico, salas de estar e repouso, sauna e vapor, salas de massagens, etc. Além disso, na nova proposta é rompida a ideia das alas masculina e feminina, de forma que o projeto perde a característica inicial da simetria determinada pelo eixo central do edifício em forma curvilínea e o salão de convivência é deslocado do centro para a extremidade esquerda do bloco. 023

PAVIMENTO 0 A intervenção nas áreas do pavimento intermediário envolve a recuperação de todos os caixilhos das lajes, que se encontram enferrujados, por chapas dobradas galvanizadas com pintura eletrostática ou em alumínio. Também prevê a substituição dos vidros quebrados e dos que estão faltando, o remanejamento do espaço das lojas para

a implantação de um centro de informação turística, a recuperação do piso de mosaico português nas áreas danificadas das piscinas, o fechamento dos vazios da estrutura com peças galvanizadas e pintadas com pintura eletrostática e a recuperação dos gradis e corrimãos em todo o nível, com o acréscimo de mais um montante vertical.

PAVIMENTO -1 A intervenção nas áreas do pavimento inferior envolve o remanejamento dos consultórios médicos, salas de laboratórios, salas de ultra violeta e ondas curtas e salas de banho para a criação de pequeno centro de convenções e anexos. É proposta uma biblioteca e a reforma do auditório, com a mudança do carpete, colocação de barras antipânico nas

portas de saída, aplicação de quebra-sol móvel para fechamento/abertura do grande domus existente e a sua substituição. Além disso, no edifício anexo, cujo acesso também é possível por esse pavimento, é proposto um remanejamento dos sanitários e vestiários que atendem as piscinas do nível intermediário, faciliando o acesso para os banhistas.


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A OBRA EM 2019 Em 2019, o complexo do Balneário encontra-se bastante degradado em função dos mais de 20 anos de abandono por parte do poder público. A recuperação das fachadas e a impermeabilização externa do edifício garantiram que não houvesse grandes danos estruturais e infiltrações, mas observa-se manifestações que podem indicar a presença

de patologias do concreto aparente, no que se destacam as manchas e a porosidade das superfícies. Em geral, os espaços internos encontram-se sujos, com materiais residuais em péssimo estado de conservação e entulhos decorrentes da ocupação irregular do local. Toda a infraestrutura hidráulica e elétrica encontra-se altamente comprometida.

PAVIMENTO 1 O antigo pavimento onde funcionavam as termas encontra-se em estado de ruína parcial, com suas instalações hidráulicas e elétricas e seus equipamentos hidrossanitários destruídos. Apesar de ter permanecido lacrado em boa parte do tempo durante os anos de abandono, o pavimento teve parte da sua infraestrutura interna vandalizada, principalmente as divisórias

de vidro, os espelhos dos sanitários e vestiários e as saunas secas. Alguns domus e os fechamentos dos sheds de iluminação encontram-se quebrados e alguns brises pivotantes de placas de alumínio perfurado da fachada principal demandam um processo de limpeza e recuperação. Os núcleos de banho individuais ainda preservam as suas banheiras em mármore. 025

PAVIMENTO 0 O nível intermediário da obra, por ser livremente acessado pela rua e prever alguns assentos de concreto fixos, é o espaço que conta atualmente com a maior circulação de transeuntes, a maioria curiosos. O hall de entrada, com um pé direito duplo que conforma uma grande marquise, revela-se como um local apropriado para a realização de eventos

que possuem como premissa a reunião de um grande número de pessoas. Apesar disso, o pavimento também encontra-se sujo e com os vidros de fechamento do restaurante e das lojas quebrados. Ainda, nota-se a grande quantidade de pombos, aranhas e insetos que se instalaram nos vazios das lajes e nas passagens de infraestrutura elétrica ou hidráulica.

PAVIMENTO -1 Dos programas anteriormente existentes no pavimento inferior, o único ativo no contexto atual, mesmo que parcialmente, é o auditório proposto por Toscano como um volume complementar do bloco em curva principal. Recentemente, teve todo o carpete arrancado pelos próprios usuários, de forma a evitar o acúmulo de sujeira e poeira no local. As poltronas do

auditório encontram-se em melhor estado de conservação. No que diz respeito ao restante do programa, as antigas salas destinadas ao uso de consultório médico - que hoje permanecem fechadas para visitação - têm sido utilizadas como depósito de materiais de diversas naturezas, pertencentes à própria Prefeitura da cidade, sem nenhum critério de organização aparente.


ELEVAÇÃO PRINCIPAL

CORTE LONGITUDINAL

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CORTE TRANSVERSAL

escala 1:500 0 2.5 5

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O Balneário está implantado em um terreno com grande declive e possui uma considerável quantidade de pedras na sua superfície. A partir desse diagnóstico, Toscano propõe uma ocupação adaptada à topografia, “sem ocupar demasiadamente o terreno, em harmonia com a paisagem local” (1). Assim, por evitar soluções onerosas que atingissem as áreas de aclive ou declive, permitiu-se que o modelado natural da área e as características da reserva flores-

(1)

ACRÓPOLE, 1971, p. 25.

tal que cerca o conjunto fossem mantidos. Ainda, a partir da análise dos desenhos em vista e em cortes, é possível identificar outra grande virtude do projeto - a variedade de soluções propostas para a iluminação natural em todos os níveis do bloco principal. Isso se dá pelo uso abundante dos domus, sheds e brises, além do gradil metálico situado no nível intermediário do edifício, na área das piscinas, que filtra a luz natural para o pavimento inferior.


SALAS DE BANHO BANHEIRAS, PORTAS E REVESTIMENTOS

PORTA EXISTENTE

REVESTIMENTO PASTILHAS DE VIDRO 2x2 CM MURETA EM ALVENARIA H = .62 CM BANHEIRA

028 CORTE A-A escala 1:50

Foto: Luciano Avanco

A análise do conjunto de desenhos pertinentes aos projetos executivos, elaborados pelo escritório de João Walter Toscano, é considerada de suma imporvtância para o desenvolvimento da proposta de intervenção ao final deste trabalho. Estas páginas são dedicadas à exibição de alguns detalhamentos mais relevantes para o estudo da autora: os detalhes das salas de banho - abrangendo as banheiras, portas e revestimentos - e as ampliações padrão do projeto de hidráulica e dos banheiros acessíveis.

PORTA EXISTENTE

A

REVESTIMENTO DE PISO PASTILHAS DE VIDRO 2x2 CM

A

PLANTA escala 1:50


AMPLIAÇÕES PROJETO DE HIDRÁULICA E BANHEIROS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

SANIT. VEST. FEM. DAS FUNC.

SANIT. VEST. MASC. DOS FUNC. AQ AF

AQ AF

BARRA APOIO

029 ISOMÉTRICO DE ÁGUA

CORTE 1 escala 1:100

VENTILAÇÃO

SANIT. VEST. FEM. DAS FUNC.

CAIXA EXISTENTE

SAN. VEST. MASC. DOS FUNC.

DET. ESGOTO escala 1:150

1

PLANTA escala 1:100


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Foto: Acervo João Walter e Odiléa Setti Toscano, de Cristiano Mascaro


DIRETRIZES DE INTERVENÇÃO

ARQUITETURA

I. II.

III. IV. V.

Considerar a transformação arquitetônica do Balneário, utilizando como balizadores as três fases distintas pelas quais passou o projeto (idealização, reforma e contexto do abandono); Propor intervenções cirúrgicas e investigativas no edifício, as quais possam ser realizadas sem a exigência de investimentos vultosos por parte dos poderes público e/ou privado; Intervir no complexo de forma que a sua arquitetura original seja respeitada, tanto do ponto de vista estético quanto funcional; Reinterpretar no restauro do complexo do Balneário os aspectos construtivos da arquitetura de João Walter Toscano, estabelecidos no projeto original, de 1974, e de reforma, de 2006; Reutilizar os bens móveis originais e os resíduos resultantes da execução do projeto de intervenção, com vistas ao máximo aproveitamento desses recursos e à mínima geração de descarte.

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REFERÊNCIAS Foram analisadas diversas fontes, dentre elas originais dos projetos de arquitetura, elétrica e hidráulica, periódicos, documentações, fotografias, artigos e livros, possibilitando a realização deste trabalho. Gratidão especial às instituições da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (Arquigrafia, Biblioteca e Seção de Materiais Iconográficos) e à Prefeitura Municipal de Águas da Prata por concederem as autorizações necessárias, viabilizando a consulta a materiais pertinentes ao edifício do Balnéario.

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ACRÓPOLE. Balneário de Águas da Prata. Revista Acrópole, n.382, p.22, mar. 1971. Disponível em: <http://www.acropole.fau.usp.br/edicao/382>. Acesso em setembro de 2018. ARTIGAS, Rosa (Org.). João Walter Toscano. São Paulo: Editora UNESP/ Instituto Takano de Projetos Culturais Educacionais e Sociais, 2002. BROCCHI, Raquel Gallo; SOLHA, Karina Toledo, “Institucionalização do Turismo no Poder Público Estadual: a experiência de São Paulo”. Turismo em Análise , v. 19, p. 241-254, 2008. G1, Jornal EPTV. Moradores reclamam do abandono do balneário em Águas da Prata, SP. 2014. Disponível em: <https://globoplay.globo. com/v/3221225/>. Acesso em dezembro de 2018. HIROYAMA, Edison H. João Walter Toscano, A Afirmação do Ofício. Disponível em: <http://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/162/artigo60711-1.aspx>. Acesso em setembro de 2018. KATINSKY, Júlio Roberto. João Walter Toscano. Pós 292 v.18 n.30. São Paulo, 2011. JORNAL ARQUITECTOS. Balneário de Águas da Prata, João Walter Toscano. Lisboa: PT A Associação, 1981.


MOIMAS, Valentina. João Walter Toscano (1933–2011). Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/12.045/3926>. Acesso em setembro de 2018. Ministério Público Federal. MPF/SP abre apuração para verificar abandono de balneário em Águas da Prata. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/ sp/sala-de-imprensa/noticias-sp/mpf-abre-apuracao-para-apurar-abandono-de-balneario-em-aguas-da-prata>. Acesso em setembro de 2018. PEREIRA, Margareth da Silva. João Walter Toscano e a arquitetura da cidade. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.053/539>. Acesso em setembro de 2018. PEREIRA, Miguel Alves; PRESTES, Lucinda Ferreira. Sobre Arquitetura Brasileira e Ensino na Virada do Século: Depoimentos de Professores Arquitetos da FAUUSP. São Paulo: FAU/USP, 2008. PIMENTEL, Mariana Pereira Chaves; Thiago Duarte. A trajetória das políticas públicas de turismo brasileiras 1930-2010. Conference: XXXV Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD). Rio de Janeiro, 2011. Portal G1. Antiga atração turística, balneário de Águas da Prata, SP, está abandonado. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2014/03/antiga-atracao-turistica-balneario-de-aguas-da-prata-sp-esta-abandonado.html>. Acesso em dezembro de 2018. SÃO PAULO, Estado de. Decreto-Lei nº 258, de 29 de maio de 1970. Dispõe sobre a criação, como entidade autárquica, do Fomento de Urbanização e Melhoria das Estâncias - FUMEST. TÁVORA, Fernando; COSTA, Alexandre Alves. João Walter Toscano. São Paulo: J.J. Carol, 2007. TOSCANO, João Walter. Arquitetura, experiência de um percurso. Tese (Doutorado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo, 1989. ZEIN, Ruth Verde. Balneário de Águas da Prata. Portal eletrônico “Arquitetura Paulista Brutalista 1953-1973”. Disponível em: <http://www. arquiteturabrutalista.com.br/fichas-tecnicas/DW%201971-128/fichatecnica1971-128.htm>. Acesso em setembro de 2018.

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LISTA DE DOCUMENTOS ANALISADOS POR ORDEM ALFABÉTICA

Associação Guardiões da Rainha das Águas (GUARÁ). João Walter Toscano Arquitetos Associados. Contrato Cópia do pedido de anulação do processo licitatório. inexigibilidade nº 01/2006. Corpo de Bombeiros. Procedimentos de verificação dos projetos de arquitetura, elétrica e hidráulica: projeto técnico de proteção contra o incêndio - Folhas 1 a 4. Junho /2006.

João Walter Toscano Arquitetos Associados. Memorial descritivo e especificações técnicas do projeto executivo de reforma do Balneário de Águas da Prata. Junho/2006.

Departamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias (DADE). Convênio 98/04. Transferência de recursos financeiros destinados à reforma do Balneário de Águas da Prata. Fevereiro/2006.

João Walter Toscano Arquitetos Associados. Planilha orçamentária estimativa da reforma do Balneário de Águas da Prata. Outubro/2006.

Departamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias (DADE). Fax nº 272. Junho/2008. Departamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias (DADE). Manifestação de transferência do Balneário para empresa privada. Setembro/2009. Departamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias (DADE). Relatório de vistoria técnica. 034

Departamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias (DADE). Oficio 14/09. Solicitação de extração de cópias dos autos do convênio. Setembro/2009.

João Walter Toscano Arquitetos Associados. Projeto executivo de reforma do Balneário de Águas da Prata. Arquitetura - Folhas 1 a 10. Junho a Outubro/2006. João Walter Toscano Arquitetos Associados. Projeto executivo de reforma do Balneário de Águas da Prata. Instalações hidráulicas - CPS Engenharia LTDA - Folhas 1 a 14. Junho a Outubro/2006. João Walter Toscano Arquitetos Associados. Projeto executivo de reforma do Balneário de Águas da Prata. Instalações elétricas - CPS Engenharia LTDA - Folhas 1 a 14. Junho a Outubro/2006.

Departamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias (DADE). Ofício 246. Setembro/2009.

João Walter Toscano Arquitetos Associados. Relatório técnico da estimativa do custo do projeto executivo de reforma do Balneário de Águas da Prata. Junho/2006.

Isoterma Construções LTDA. Estudo e orçamento para reforma, restauração e revitalização do Parque do Balneário. Setembro/2009.

João Walter Toscano e Massayoshi Kamimura. Conjunto de desenhos originais do projeto de elétrica do Balneário de Águas da Prata. Folhas 1 a 10. Fevereiro/1972.

Isoterma Construções LTDA. Contrato para execução da 1ª etapa dos serviços previstos para reforma, restauração e revitalização do Parque do Balneário. Setembro/2009.

João Walter Toscano e Massayoshi Kamimura. Conjunto de desenhos originais do projeto de hidráulica do Balneário de Águas da Prata. Folhas 1 a 10. Fevereiro/1972.

Isoterma Construções LTDA. Memorial descritivo e especificações técnicas dos serviços de restauração das lajes da cobertura e do concreto (recuperação estrutural e impermeabilização). Setembro/2009.

João Walter Toscano, Massayoshi Kamimura, Rosa G. Kliass e Miranda M. Magnoli. Conjunto de desenhos originais dos estudos para o centro urbano Águas da Prata. Folhas 1 a 10. Março/1970.

Isoterma Construções LTDA. Proposta comercial para Prefeitura Municipal de Águas da Prata. Edital de licitação execução da 1ª etapa dos serviçõs previstos para refor- para reforma do Balneário Teotônio Vilela. Abril/2006. ma, restauração e revitalização do Parque do Balneário. Setembro/2009. Prefeitura Municipal de Águas da Prata. Projeto de lei para concessão do Balneário a título oneroso. Março/2008. João Walter Toscano Arquitetos Associados. Cronograma de execução da reforma do Balneário de Águas da Prefeitura Municipal de Águas da Prata. Reforma do Balneário Teotônio Vilela - 1ª e 2ª etapa (processos nº Prata. Junho/2006. 559/05 e 136/06).



O BALNEÁRIO DE ÁGUAS DA PRATA

ARQUITETURA


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