O BALNEÁRIO DE ÁG UAS DA PRATA projeto
O BALNEÁRIO DE ÁGUAS DA PRATA ARQUITETURA - CIDADE - MEMÓRIA
JúliaTampellini Biá Pimenta - São Paulo,2019. Trabalho Final de Graduação (TFG) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Orientação: Profª Drª Beatriz Mugayar Khül. Orientação metodológica: Profª Drª Klara Anna Maria Kaiser Mori.
Aos meus pais e irmãs, pelo apoio e amor formação na FAU teria sido outra sem as incondicionais ao longo de todos esses anos. nossas trocas e a nossa convivência. Às famílias Tampellini e Pimenta, por me À Thais, à Barbara, à Rita, ao Victor e ao transmitirem os valores condutores das minha Miguel, pelos insights e conversas que me formação humana. inspiraram na construção deste projeto.
A quem agradeço
Ao Phelipe, meu companheiro de vida, que Às meninas do coletivo Co-criança, que me me ensinou muito sobre a importância da mostraram tanto sobre a possibilidade de escuta, da empatia e do amor ao próximo. construção de uma arquitetura colaborativa, horizontal, comunitária. Às famílias Spinola Gouveia e Gonçalves, em especial à Camilla, Victor, Cecília, Rosana e Aos meus amigos e equipe de trabalho, Augusto, Silvino, por me apresentarem à cidade de Águas Aline e Uolli, pela paciência e tempo que da Prata e, consequentemente, ao Balneário dedicaram a mim nesta jornada de pesquisa. Teotônio Vilela. Aos projetistas e também usuários do edifício À minha orientadora Beatriz Khül, pelos do Balneário de Águas da Prata, Paula direcionamentos, pelo bom senso e pela leveza Maria, Raphaela, Angela, Mariana, Rodrigo, que conferiu a todo o processo. Alexandre, Márcio, Hélio, Nelson, Gil, Alicia, pessoas fundamentais na construção deste A todos os meus professores da Graduação, projeto coletivo, muito obrigada. pelos valiosos ensinamentos, reflexões, incentivos e provocações. À Seção de Materiais Iconográficos da Biblioteca da FAUUSP e à Prefeitura de Às minhas duas irmãs de nome Beatriz, a quem Águas da Prata, por abrirem as suas portas para eu devo tanto sobre o que sou e o que penso. o desenvolvimento desta pesquisa. Às minhas companheiras de graduação, Ana, À cidade e aos moradores de Águas da Prata. Beatriz, Caroline, Camila e Ilana. A minha
O BALNEÁRIO DE ÁGUAS DA PRATA
PROJETO
Aos 5 anos de idade, visitei Águas da Prata pela primeira vez. Na época, evidentemente, não tinha nenhuma perspectiva de cursar arquitetura e urbanismo, muito menos de formar-me arquiteta e urbanista. Já nessa primeira visita à Prata, o Balneário de João Walter Toscano encontrava-se abandonado, com suas instalações termais impossibilitadas de utilização pela população local e pelos poucos turistas que andavam por lá. O auditório e os espaços esportivos e comerciais do complexo não funcionavam em sua capacidade plena.
Prefácio da autora
edifício de concreto armado, indicações esqueleto de sofisticadas cadeiras, algumas das reivindicações de uso e permanência do com parte do antigo revestimento de couro. As diversas aberturas zenitais traziam a luz natural espaço por parte da população local. para o espaço degradado. Os esbeltos pilares Mesmo sem grandes repertórios relacionados em formato de tronco de cone sustentavam à arquitetura, sem dificuldade são uma estrutura resistente, no momento morta identificadas as qualidades estéticas, espaciais em dinamismo, mas viva como ideia. Entendi e termoacústicas do projeto de Toscano, ali qual deveria ser o objeto do meu trabalho de finalização da graduação. instalado no coração de Águas da Prata. Mesmo quem desconhece o original uso do espaço e todo o seu histórico de abandono, sente-se convidado a entrar no complexo, que parece se acomodar com facilidade no terreno de grandes declividades escolhido para abrigá-lo. Os brises de chapa de aço perfurado, mesmo sem utilidade prática no contexto atual, ainda funcionam. Movemse conforme a direção do vento, fazendo da fachada um elemento quase vivo.
Anos depois, meus pais adquiriram um imóvel na cidade. Passei e vivi o final da infância, toda a adolescência e o início da vida adulta nos espaços de Águas da Prata. A Praça da Bandeira, o Campo, o Bosque e o Balneário protagonista deste trabalho - foram lugares de estabelecimento de relações, de possibilidade de experimentação do espaço público, de Nas férias de julho de 2017, entrei pela acontecimento da vida. primeira vez no pavimento superior do edifício, que, em uma situação excepcional, Assisti à transformação dos espaços do estava aberto, como que para receber os Balneário Teotônio Vilela. Foi lugar de olhares curiosos de uma então estudante de usufruto dos jovens e dos skatistas da cidade, arquitetura e urbanismo. de academia, de piquenique, de exposições e instalações culturais… Diversas foram Foi uma mescla de admiração e pesar depararas manifestações, ocupações, mudanças no me com banheiras de mármore intactas, com
Meses depois, ao fortalecer minha relação com o Balneário, eu como pesquisadora e ele como objeto de pesquisa, deparei-me com a seguinte frase proferida por Toscano em 1997, que me parece muito bem endereçada ao tema:
“Voltando à permanência da arquitetura, acho que uma obra importante será permanente, se conservada ou destruída. O projeto, no entanto, fica”.
ConteĂşdos
I
II
III
IV
V
VI
CRITÉRIOS TÉCNICOS DE INTERVENÇÃO
DIRETRIZES DE INTERVENÇÃO
IDENTIFICAÇÃO DO BEM
MAPEAMENTO DE DANOS
PROJETO DE RESTAURO
REFERÊNCIAS
08
10
12
18
22
38
Essa mesma premissa assume fundamental importância na determinação do restauro proposto para o Balneário, pois o que este trabalho defende é um conjunto de intervenções que não destituam a obra da sua memória, dos pilares de sua arquitetura e da sua relação com a cidade da qual participa, ou seja, intervir sem Assim, toma-se as principais referências projetuais que se perca o patrimônio. em restauro aquelas capazes de agir sobre o edifício construído realizando as interferências Retomando Oksman, mesmo que a necessárias, porém de maneira muito cirúrgica e arquitetura moderna tenha sido reconhecida como patrimônio cultural nacional, ocorre atendendo a critérios específicos. a “não continuidade dos tombamentos dito Dentre essas referências, insere-se o método preventivos”(2), caso que aparece com força demonstrado por Silvio Oksman e Beatriz no Balneário, dado o estado de degradação do Vicino, em um artigo da Revista Restauro, no edifício e a sua demanda por restauro. qual oferecem uma perspectiva sobre a prática do restauro da arquitetura moderna, inspirando A natureza do restauro do Balneário, em diversas e fundamentando o proposto por este trabalho. vozes, oscila entre o interesse em restaurá-lo para que funcione exatamente da maneira como foi Nesse artigo, remetendo-se ao projeto de restauro concebido ou restaurá-lo para resgatar a sua do edifício do Instituto de Arquitetos no Brasil originalidade arquitetônica, mas com a liberdade (IAB), em São Paulo, Oksman e Vicino afirmam de atribuir-lhe novos usos. que “o estudo dos projetos executivos usados na construção do edifício é fundamental para se Diante desse dilema, é necessário que compreender o seu partido e sua materialidade. se apliquem critérios técnicos, como os Assim, pode-se reconhecer as diversas outras defendidos por Oksman e Vicino, para camadas que se sobrepuseram nos diversos assegurar que o restauro tire o máximo partido momentos pelos quais a obra passou no tempo”(1). das virtudes do edifício(3). Por objetivar um projeto de restauro para um edifício de João Walter Toscano, o Balneário Teotônio Vilela, situado na cidade paulista de Águas da Prata, este trabalho considera reconhecidos critérios de preservação e intervenção na arquitetura moderna.
08
Critérios técnicos de intervenção
VICINO; OSKMAN, 2016. OSKMAN, Silvio, 2011, p. 19. (3) OSKMAN, Silvio, 2011. (1) (2)
Assim, a mesma questão que se coloca para o restauro da arquitetura moderna em geral, impõe-se também para o Balneário de Toscano: como o corpo técnico de arquitetos deve atuar nesse patrimônio. Por isso, em primeiro lugar, este trabalho fundamentou-se em Oksman para selecionar e catalogar documentos pertinentes ao Balneário e observou critérios específicos para o projeto de restauro, também defendidos por ele, para fundamentar tecnicamente as decisões relativas às intervenções no edifício. Sobre os critérios, Oksman investiga em sua Dissertação de Mestrado a possibilidade de utilização das recomendações para preservação colocadas nos documentos do ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios) como parâmetros em projetos de restauro da arquitetura moderna.São eles: mínima intervenção, distinguibilidade, uso e adequação dos edifícios, distanciamento histórico e autoria, autenticidade, reversibilidade ou retrabalhabilidade. Em conformidade com Oksman e para ilustrar o significado de cada um desses parâmetros, optouse por demonstrá-los com exemplos da própria arquitetura moderna (ver página ao lado).
Mínima intervenção. OCA do Ibirapuera, projeto de Oscar Niemeyer, restauro de Paulo Mendes da Rocha e MMBB. Foto: Edison Hiroyama
Distanciamento histórico e autoria/reversibilidade. Marquise do Ibirapuera, de Oscar Niemeyer. Foto: Renato S. Cerqueira
09
Distinguibilidade. Centro Cultural Fiesp, São Paulo, arquiteto Paulo Mendes da Rocha e escritório MMBB Arquitetos. Foto: Nelson Kon
Projeto de restauro do IAB, em São Paulo, por Silvio Oksman Fonte: Rafael Schimdt
Uso e adequação. Casa de Vidro Instituto Lina Bo e P.M. Bardi. Foto: Guilherme Tosetto/G1
Autenticidade. Teatro Cultura Artística, de Rino Levi. Foto: Marilane Borges
ARQUITETURA
I. II.
010
III.
Diretrizes de intervenção
IV. V.
Considerar a transformação arquitetônica do Balneário, utilizando como balizadores as três fases distintas pelas quais passou o projeto (idealização, reforma e contexto do abandono); Propor intervenções cirúrgicas e investigativas no edifício, as quais possam ser realizadas sem a exigência de investimentos vultosos por parte dos poderes público e/ou privado; Intervir no complexo de forma que a sua arquitetura original seja respeitada, tanto do ponto de vista estético quanto funcional; Reinterpretar no restauro do complexo do Balneário os aspectos construtivos da arquitetura de João Walter Toscano, estabelecidos no projeto original, de 1974, e de reforma, de 2006; Reutilizar os bens móveis originais e os resíduos resultantes da execução do projeto de intervenção, com vistas ao máximo aproveitamento desses recursos e à mínima geração de descarte.
CIDADE
I. II.
III. IV.
MEMÓRIA
Trazer os cidadãos para dentro do Balneário, ressignificando a sua importância turística e urbana; Abrir caminhos para um debate profundo sobre a memória urbana e o patrimônio de Águas da Prata, a partir da proposta de preservação; Ter cautela na utilização dos recursos hídricos e prezar pelo equilíbrio ambiental do complexo; Desenhar uma arquitetura que estabeleça relações com o entorno e com a cidade, dialogando com a paisagem e com as dinâmicas urbanas existentes.
I. II.
Propor uma nova utilização para o Balneário, que dialogue diretamente com a memória local e com as apropriações do complexo na situação de pós-abandono, ressignificando o seu uso; Estabelecer um modo de trabalho colaborativo e coletivo dos cidadãos, com vistas à reativação do edifício.
011
Em 2019, o complexo do Balneário encontrase bastante degradado em função dos mais de 20 anos de abandono por parte do poder público. Observa-se manifestações que podem indicar a presença de patologias do concreto aparente, no que se destacam as manchas e a porosidade das superfícies. Em geral, os espaços internos encontramse sujos, com materiais residuais em péssimo estado de conservação e entulhos decorrentes da ocupação irregular do local. Toda a infraestrutura hidráulica e elétrica encontra-se altamente comprometida. 012
Identificação do bem
O antigo pavimento, onde funcionavam as termas, encontra-se em estado de ruína parcial, com suas instalações hidráulicas e elétricas e seus equipamentos hidrossanitários destruídos. Parte da sua infraestrutura interna foi vandalizada, principalmente as divisórias de vidro, os espelhos dos sanitários e vestiários e as saunas secas. Alguns domus e os fechamentos dos sheds de iluminação encontram-se quebrados e alguns brises pivotantes de placas de alumínio perfurado da fachada principal demandam um processo de limpeza e recuperação. Os núcleos de banho individuais ainda preservam as suas banheiras em mármore.
vidros de fechamento do restaurante e das lojas quebrados. Ainda, nota-se a grande quantidade de pombos, aranhas e insetos que se instalaram nos vazios das lajes e nas passagens de infraestrutura elétrica ou hidráulica. Dos programas anteriormente existentes no pavimento inferior, o único ativo no contexto atual, mesmo que parcialmente, é o auditório, volume complementar do bloco em curva principal. Recentemente, teve todo o carpete arrancado pelos próprios usuários, de forma a evitar o acúmulo de sujeira e poeira no local. As poltronas do auditório encontram-se em melhor estado de conservação. No que diz respeito ao restante do programa, as antigas salas destinadas ao uso de consultório médico que hoje permanecem fechadas para visitação têm sido utilizadas como depósito de materiais de diversas naturezas, pertencentes à própria Prefeitura da cidade de Águas da Prata, sem nenhum critério de organização aparente. Assim, para situar o tamanho e a importância de se levar a termo o desafio de conciliar as funções do Balneário, enquanto bem público, com a necessidade de preservação do patrimônio arquitetônico que ele representa, cabe resgatar a percepção da arquiteta Odiléa Setti Toscano.
No nível intermediário da obra, o hall de entrada, Responsável pelo projeto paisagístico do Balneário, com um pé direito duplo e que conforma uma Odiléa, quando esteve diante de um conjunto de grande marquise, encontra-se sujo e com os fotos da obra em seu estado atual de conservação,
afirmou: “As intervenções que têm ocorrido no Balneário de Águas da Prata comprometem não só o conjunto da obra, mas também invalidam princípios básicos de implantação”(1), situação a qual o resultado deste trabalho não quer referendar e nem tampouco agravar.
Nas páginas seguintes, serão apresentados os desenhos que indicam os usos previstos no projeto original para cada um dos espaços. (1)
Revista La Crème. Ano 02, nº 7, p 20. Poços de Caldas.
A
112.8
B
A Bloco principal
Acesso via rua lateral
Escadaria de acesso pela rua principal
111.4
FE
RR
EIR
A
112.8
A
ZE
CA
013
RU
109.4
POSTE
POSTE
B
POSTE
LUIZ POSTE
POSTE
FE RR
EIR A
WA
A ZE C A
Vale sublinhar que, agravando ainda mais o comprometimento da ideia original de implantação do complexo do Balneário, as intervenções mais recentes, por situaremse no primeiro plano de visão daqueles que transitam pelo entorno do edifício, ocultam a sua visualização e/ou alteram toda a plataforma natural, ao desrespeitar as curvas de nível do terreno, fato que acaba por desconsiderar esse aspecto central e vital do projeto de Toscano.
Bloco anexo de apoio às piscinas com vestiários e casa de bombas
RU
Numa breve menção das intervenções a que se refere Odiléa, listam-se as seguintes: o estabelecimento de quiosques tipo chalé para venda de artesanatos e outros produtos no entorno paisagistico do conjunto; a construção de banheiros públicos e fraldário, encimados por um palco; a instalação de aparelhos de ginástica, no principal passeio de acesso ao edifício; a substituição do calçamento em pedra portuguesa por piso pré-moldado tipo raquete; uma praça de alimentação.
Representação do relevo existente e modificado para abrigar o edifício
Acesso via nível inferior
A
V
E
N
POSTE
ID
Substituição do calçamento orginal, de empedrado (mosaico português) por um pré moldado de concreto
A
FLOREIRA
A
R
POSTE
M
A
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S.
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ID
A
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Calçada pavimentada ocupada por chalés comerciais, mesas, floreiras e bloco de banheiros
PA
FLOREIRA
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Bancos de concreto E
IR
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POSTE POSTE
escala 1:1000 0
5
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30
50 (m)
13
PAVIMENTO -1
LEGENDA 14
1. Vestiários e sanitárioo 2. Manutenção 3. Lavanderia
15
4. Copa e material de limpeza 5. Farmácia
014
1
1
9
2
4 5
3
7
6
6
6
8
8
8
6. Laboratórios e exames
8
7. Almoxarifado
12
8. Consultórios
10 14
9. Banhos
10
10. Administração/secretaria 11. Auditório 12. Sala de espera e estar
11
13. Casa de bombas e depósitos 14. Sanitários 15. Grande hall
escala 1:500 0 2.5 5
10
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50 (m)
PAVIMENTO 0
LEGENDA 1. Bombas e caldeiras 2. Vestiรกrios e sanitรกrios
3
1
3. Piscinas adulto e infantil
10
3
4. Jardim 5. Casa de mรกquinas 6. Lojas 7. Sanitรกrios
2
8. Bar e cozinha
9
9. Restaurante
8 4
5 6
6
6
10. Grande hall
7
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50 (m)
015
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PAVIMENTO 1
9 13
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1
1. Saunas 2. Salas de massagem
9
4
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LEGENDA
3. Piscinas cobertas (ofurôs)
8
4. Banhos individuais 5. Bares
6
016
2
2 3
13 13
9 9
7
6. Vestiários e sanitários 15
7. Área comum/salão de ginástica 8. Área de descanso
6 4
1 9
5
12
9
11 10
9. Duchas
9
10. Recepção
14
11. Sala dos funcionários
8
12. Medicina de urgência 13. Sala de máquinas e depósito 14. Barbearia 15. Instituto de beleza
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50 (m)
ELEVAÇÃO PRINCIPAL
CORTE LONGITUDINAL A-A
CORTE TRANSVERSAL B-B
017
escala 1:500 0 2.5 5
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50 (m)
10
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50 (m)
escala 1:500 0 2.5 5
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
O edifício Balneário Teotônio Vilela conserva a sua imponência, porém traz as marcas da degradação de qualquer prédio abandonado (infiltrações, dejetos, vidros quebrados, ferrugem, proliferação de pestes urbanas, vandalismo, etc.) e isso o distancia de sua finalidade inicial. O estado atual de conservação da obra e os aspectos técnicos do projeto participam da criação da base metodológica da intervenção de restauro. 018
Nesse sentido, foi de fundamental importância ter acesso aos desenhos originais e realizar visitas de campo, para confrontar o que foi idealizado pelos arquitetos com o que de fato foi construído, vislumbrando uma perspectiva projetual adequada.
Mapeamento de danos
Nas páginas seguintes, serão apresentadas imagens que demonstram o atual estado de conservação do edifício para situar o cerário no qual serão aplicadas as intervenções. O referido conjunto de imagens pertence ao acervo pessoal da autora e aos acervos das pesquisadoras Raphaela Pereira e Tatiana Kuchar.
CATÁLOGO DE IMAGENS | PAVIMENTO -1
9
1. Acesso no nível da Av. 2. Escadaria de acesso ao 3. Os antigos consultórios Armando Sales de Olivei- nível térreo, com acúmulo são hoje áreas de depósito ra, com novo calçamento. de materiais residuais. da Prefeitura.
7 8
019
3
6 4
2
4. Antiga sinalização ainda 5. Degradação do domus 6. Cadeira original do profixada nos pilares do corre- e poltronas originais do jeto e piano, na antiga sala dor do pavimento inferior. auditório, ainda em bom da administração. estado de conservação.
5 1
escala 1:500 0 2.5 5
10
20
30
50 (m)
7. Rampa de acesso ao nível intermediário, em estado de degradação. Detalhe do piso e gradis para escoamento.
8. Escadaria de acesso ao grande hall, com presença de resíduos e grafites no concreto aparente.
9. Peças hidrossanitárias e espelhos do banheiro próximo ao grande hall, pós-depredação.
CATÁLOGO DE IMAGENS | PAVIMENTO 0
4
6
8
2
1. Placa sinalizadora, revelando incoerência, afixada no gradil de acesso às piscinas, “proibido nadar”.
7
2. Vista dos vestiários no 3. Antigo local reservado nível das piscinas, eviden- para lojistas, com caixilhos ciando a precarização do parcialmente conservados. elemento vazado.
5 020
1
3 4. Acúmulo de água nas 5. Depredação do quadro 6. Vista do grande hall com piscinas vazias e degrada- central de força e luz. ausência dos fechamentos ção do piso de pedras em metálicos da laje superior. mosaico português.
9
escala 1:500 0 2.5 5
10
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30
50 (m)
7. Rampa de acesso ao grande hall, com vista dos brises pivotantes em chapas de alumínio perfuradas.
8. Escadaria de acesso ao nível intermediário e bancos de concreto, com destruição parcial das arestas.
9. Vista externa do auditório, evidenciando a necessidade de limpeza do concreto e substituição dos fechamentos.
CATÁLOGO DE IMAGENS | PAVIMENTO 1
9
6
7
1. Piscina interna, próxima 2. Vista do exterior das às saunas, com vista dos saunas seca (esquerda) e brises pivotantes da facha- molhada (direita). da principal.
8
3. Corredor de acesso aos banhos individuais, evidenciando a proposta de iluminação natural pelos domus.
5
1
2
3
021
4 4. Precarização do estado 5. Área comum, com espede conservação do ba- lhos destruídos e mobiliánheiro/vestiário da antiga rios abandonados. ala feminina.
escala 1:500 0 2.5 5
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30
50 (m)
6. Porta improvisada para fechamento do pavimento superior e corrimãos, com pontos de ruptura e ferrugem.
7. Vista da fachada noroes- 8. Corredor que abrigava 9. Desplacamento do rete, com os armários originais a antiga área de descanso, vestimento em mármore dos vestiários destruídos. com vista para as salas de da sauna molhada. banho individuais.
O projeto de restauro do edifício do Balneário Teotônio Vilela parte das diretrizes expostas nos volumes “Arquitetura”, “Cidade” e “Memória” deste trabalho e fundamentase nos parâmetros técnicos de restauro apresentados na Dissertação de Mestrado de Silvio Oksman(1). Nas diretrizes pertinentes à arquitetura do complexo, o projeto considerou a transformação do edifício ao longo do tempo e as bases arquitetônicas produzidas por João Walter Toscano, nos contextos de 1974 e 2006.
022
Projeto de restauro: um centro cultural no Balneário
Esse exercício objetivou proteger a autenticidade da obra, realizando intervenções mínimas e preservando a sua arquitetura original sob os pontos de vista estético e funcional. Também foi previsto o atendimento à demanda atual de aproveitamento dos recursos disponíveis na obra para reduzir a geração de descarte, bem como a necessidade de evitar investimentos financeiros vultosos na execução do restauro.
por Toscano, existiria a real possibilidade de um restauro nesta direção. A preservação da autenticidade da obra, a realização de intervenções mínimas e a alteração e adequação de uso não impediram a autora de imprimir ao projeto um caráter de distinguibilidade, pois os novos usos dados ao edifício geraram um impulso para adaptações visíveis na espacialidade existente. Por exemplo, a área reservada às piscinas na proposta original foi adaptada para, inicialmente, abrigar a prática do skate e um anfiteatro destinado a apresentações artísticas, ao menos até que, em uma segunda fase do restauro, se possa investir na reativação desta área, recuperando a sua função original. Mesmo possibilitando distinguir as novas intervenções das pré-existências, há o cuidado de “permitir a leitura do edifício, somando ao valor que lhe foi atribuído o das novas propostas, nos diversos tempos em que forem executadas”(2), procurando corresponder ao parâmetro da retrabalhabilidade. Exemplo disso é a adequação dos espaços do Balneário para atender às normas de acessibilidade universal, hoje inexistentes na obra, mas contempladas no projeto de restauro idealizado por Toscano, em 2006, não executado.
O estudo pré-projeto realizado, fortalecido pelo conteúdo das entrevistas com os usuários do Balneário, confirmou a vocação do edifício como espaço cultural, artístico e esportivo durante os anos de seu abandono. Assim, verificou-se que, sendo a alteração e adequação de uso do projeto original compatível com a estrutura do edifício, não implicando em alterações Na perspectiva do distanciamento histórico e significativas nos partidos projetuais adotados autoria, as diretrizes de restauro deste trabalho, (1) (2)
OSKMAN, Silvio, 2011. OSKMAN, Silvio, 2011, p. 58.
Antiga casa de bombas como edifício de apoio para o desenvolvimento de trilhas
C
Bloco anexo de apoio às piscinas com vestiários e casa de bombas
A
112.8
D
B
A Novo bicicletário
Acesso via rua lateral
Nova pavimentação e escadaria de acesso pela rua principal
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CA
FE
RR
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A
112.8
023
ZE A
109.4
C
Esse movimento de diálogo entre passado e presente é importante para não agravar os efeitos das intervenções que, após a implantação original da obra, vêm acontecendo mais focadas nas necessidades das diferentes apropriações de seu espaço, do que no interesse de sua preservação, pondo em risco a arquitetura e o paisagismo concebidos originariamente no projeto do Balneário.
Criação de plataforma elevatória para acessibilidade adjacente às escadas de acesso ao pavimento intermediário
RU
especialmente as contidas no volume “Cidade”, apontam para que se estabeleça um conjunto de intervenções partindo não somente da análise do atual estado de conservação do edifício, mas, também, da situação de todo o seu entorno, a exemplo da conservação dos quiosques tipo chalé, inseridos posteriormente à construção do Balneário na sua orla e incorporados à dinâmica urbana local, de tal modo que necessitam ser preservados.
POSTE
POSTE
B
LUIZ POSTE
D
POSTE
SH
ING
TO
N
FE
RR
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CA ZE RU A
Desse modo, as intervenções de restauro para o edifício do Balneário Teotônio Vilela de Águas da Prata apresentadas neste trabalho buscam, simultaneamente, estabelecer as condições necessárias para restituir o uso do espaço e, antes disso, zelar para que essas intervenções não venham a ferir ainda mais a arquitetura do edifício, entendendo-o como bem público, que merece ser utilizado, mas, também, bem patrimonial, que necessita ser preservado.
POSTE
Acesso via nível inferior e novo bicicletário
A
V
E
N
POSTE
ID
A
Realocação dos equipamentos de ginástica previstos na rampa de acesso principal
FLOREIRA
A
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POSTE
M
A
N
D
O
S.
A
V
E
N
ID
Calçada pavimentada ocupada por chalés comerciais, mesas, floreiras e demolição do bloco de banheiros
A
O
I SE
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FLOREIRA
D
E
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Bancos de concreto A
POSTE POSTE
escala 1:1000 0
5
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50 (m)
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PAVIMENTO -1
LEGENDA 1. Bombas das piscinas e aquecedores
11
2. Depósitos da piscinas, geral e manutenção
16
3. Biblioteca 4. Depósito, manutenção do acervo e administração biblioteca 5. Sala de oficinas 6. Salas de aula
1
024
2
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4
11
3 9
7
6
6
9
6
8
6
8
7. Copa e depósito
15
8. Salões de convenção 9. Salas de apoio da prefeitura
13 10
10. Administração do Balneário
12
11
11. Núcleo de sanitários 12. Sala de apoio 13. Sala de música
C1
14. Auditório
14
15. Salão de estar e eventos
18
16. Pista de skate 17. Depósito skate 18. Bicicletário
ESTRUTURA A MANTER
escala 1:500 0 2.5 5
ESTRUTURA A EXECUTAR 10
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50 (m)
ESTRUTURA A REMOVER
PAVIMENTO 0
LEGENDA 1. Sanitário e vestiário feminino 2. Sanitário e vestiário masculino
12 3
1
3. Anfiteatro e piscina adulto 4. Bank para skate e piscina infantil
4
5. Jardim 6. Jardim seco 7. Bicicletário 8. Espaço expositivo
2 10 5
6
9. Núcleo de sanitários
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10. Bar e cozinha
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11. Salão do bar 12. Grande hall e pista de skate
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ESTRUTURA A MANTER
escala 1:500 0 2.5 5
ESTRUTURA A EXECUTAR 10
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50 (m)
ESTRUTURA A REMOVER
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PAVIMENTO 1
7
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4
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1. Salão de ensaios e exibição audiovisual 2. Camarins salão de ensaios
16
3. Bancada de apoio audiovisual 4. Depósito do salão de ensaios 5. Arquibancada
12
7
14
6
13
026
LEGENDA
15
6. Núcleos de residência artística e salas para prática de airsoft
11
7. Depósitos dos núcleos de residência artística
9
8. Núcleo de sanitários
10
9. Depósito dos sanitários e sala dos funcionários
8 1
5
10. Hall de convivência e exposições
6
11. Corredor galeria 12. Salas para yoga, pilates e artes marciais
11
13. Depósitos das salas yoga, pilates e artes marciais
3
14. Funcional e escalada 15. Depósito do funcional e escalada 16. Vestiários do funcional e escalada 17. Administração funcional e escalada
ESTRUTURA A MANTER
escala 1:500 0 2.5 5
ESTRUTURA A EXECUTAR 10
20
30
50 (m)
ESTRUTURA A REMOVER
DOMUS ACRÍLICO C/ VENT.
CORTE LONGITUDINAL A-A
IMPERMEABILIZAÇÃO C/ NEOPRENE HYPALON
LAJE IMPERMEABILIZADA C/ MANTA ASFÁLTICA
SHED
LAJE IMPERMEABILIZADA C/ MANTA ASFÁLTICA 116.2
112.8
109.4
JARDIM
JARDIM SECO
RAMPA FIXA
LAJE IMPERMEABILIZADA C/ MANTA ASFÁLTICA
PLATAFORMA ACESSÍVEL
LAJE IMPERMEABILIZADA C/ MANTA ASFÁLTICA
DOMUS ACRÍLICO C/ VENT.
PISTA MÓVEL
PISTA FIXA
CAMA ELÁSTICA
DOMUS ACRÍLICO C/ VENT. GRADIL DE FERRO
CORTES TRANSVERSAIS B-B / C-C
VERNIZ À BASE DE POLIURETANO
116.2
112.8
112.8
109.4
109.4
116.2
GRELHA DE PLACAS PRÉ-MOLDADAS DE CONCRETO 111.4
108.7
111.1
VIDRO TEMPERADO BANCO DE CONCRETO
LAJE IMPERMEABILIZADA C/ MANTA ASFÁLTICA
RAMPA FIXA
PLATAFORMA ACESSÍVEL
DOMUS ACRÍLICO C/ VENT.
116.2
112.8
CORTE TRANSVERSAL D-D
027
114.5 112.8
GRELHA DE PLACAS PRÉ-MOLDADAS DE CONCRETO
escala 1:500
109.4
0 2.5 5
10
20
30
50 (m)
10
20
30
50 (m)
escala 1:500 0 2.5 5
FASE I ARTÍSTICO CULTURAL RESTAURO DO EDIFÍCIO ESPORTIVO
028
1
2
1
C1
2
029
FASE II ARTÍSTICO CULTURAL RESTAURO DO EDIFÍCIO ESPORTIVO
030
3
4
4
3
031
C1
RECUPERAÇÃO DE ELEMENTOS
Estima-se que a construção civil seja um dos setores que mais gera resíduo anualmente, atingindo cerca de meia tonelada de entulho por brasileiro.
032
Para destinar adequadamente todo esse resíduo gerado, foi estabelecida a Resolução nº 307/2002 do Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente)(1), que é uma norma dentre uma série de outras que pretende regulamentar o gerenciamento e o reaproveitamento de RCD e RCC (Resíduo da Construção e Demolição e Resíduo de Construção Civil).
Antiga casa de bombas, atual edifício de apoio para o desenvolvimento de trilhas, e poltronas do piso superior expostas ao tempo. Foto: Acervo da autora
Essa Resolução passou a impor a obrigatoriedade de um plano de gerenciamento desse tipo de resíduo, tanto para municípios, quanto para construtoras/incorporadoras. Desde então, tornou-se proibido jogar entulho em aterros comuns. Tendo em vista esses dados, os quais impulsionam a necessidade de uma mudança na dinâmica de descarte da construção civil, dentro do escopo da disciplina “Design para Sustentabilidade”, ministrada na FAUUSP, o grupo Revestimento em madeira da sauna seca parcialmente destruído. Foto: Raphaela Pereira (1)
CONAMA, Resolução nº 307/2002.
de trabalho do qual a autora deste projeto de restauro participa, construiu um “Manual de Reaproveitamento de Resíduos em Projetos de Restauro”, no qual o edifício Balneário Teotônio Vilela é utilizado como estudo de caso. O Manual apresenta orientações para a destinação dos resíduos das demolições e reformas e a reinserção desses materiais na construção civil ou na remodelação do próprio edifício. Assim, o intuito principal é ilustrar, por meio do estudo de caso, algumas etapas e procedimentos essenciais para que esses processos gerem o mínimo descarte de resíduos. O grupo adotou a técnica de desmontagem/ demolição controlada como referencial para desenvolver a proposta. Tal técnica pode ser definida como procedimento de desmontagem de uma estrutura visando a diferenciação integral de seus resíduos sólidos. Essa abordagem consiste em identificar e distinguir os materiais e elementos construtivos da edificação a ser demolida, para assim possibilitar uma destinação final ambientalmente
adequada, priorizando a criação de um segundo ciclo de vida para o material, ou seja, sua reintrodução ou ressignificação no projeto. Nos casos em que isso não for possível, opta-se preferencialmente pela reciclagem e, em último caso, pelo descarte em aterros controlados. Constituindo o Balneário em estudo de caso e considerando que os resíduos derivarão de um projeto de restauro, o manual também propõe um procedimento para inventariação dos bens móveis de edifícios com importância patrimonial, visando a sua reinserção nas dinâmicas de utilização e evitando que bens patrimoniais sejam tido como resíduos. Ressalta-se que o Manual não tem caráter prescritivo, ou seja, não deve ser encarado como a única maneira de abordar o tema, portanto, assume o carater de proposta metodológica para auxiliar a redução do RCD nos processos de demolições e reformas. Ao lado, encontra-se detalhado o passo-a-passo do método de destinação adequada dos resíduos gerados pelo restauro.
I. IDENTIFICAÇÃO
I.II. ESTADO DE CONSERVAÇÃO E/OU PATOLOGIAS
Diferenciação dos elementos construtivos; análise do estado em que se encontram, possíveis danos e contaminações.
Determinação do estado em que o elemento construtivo se encontra e possíveis danos que pode ter sofrido durante seu ciclo de vida.
I.III. ANÁLISE DE PERICULOSIDADE I.I. CATEGORIA DO MATERIAL
Dentre os RCD, existem alguns materiais recorrentes que podem ser classificados como ambientalmente perigosos. Dentre eles, encontram-se as tintas, os solventes e o amianto.
1. ALVENARIA
6. DOMUS
Elemento vertical de tijolos ou blocos unidos por argamassa.
Circulares, retangulares ou quadrados de tamanhos variados.
2. DIVISÓRIA CONCRETO
7. GRADIS E CORRIMÃOS
II. PROPOSIÇÃO
Elementos de concreto com ferragens internas.
Elementos para acessibilidade e segurança.
3. ESQUADRIA
Análise dos dados obtidos na etapa de identificação e definição do destino final dos elementos, podendo esse ser a reciclagem ou a reutilização.
8. ENCANAMENTOS
Compostas por vidro temperado e estrutura do caixilho.
Condutores de fluidos de alimentação ou efluentes.
4. MADEIRA
9. BENS MÓVEIS
Portas maçicas ou de aglomerado, ripas e compensados.
Peças de mobiliário.
5. MÁRMORE Pedra nobre utilizada como tampo, revestimentos.
II.I. ANÁLISE DAS PROPRIEDADES DO MATERIAL Exame das propriedades químicas e físicas dos materiais, permitindo que as destinações possam ser mais adequadas, ao utilizar o material em seu potencial natural.
II.II. POSSÍVEIS PROJETOS DE REUTILIZAÇÃO Atribuição de um destino ao material, depois de considerar suas características inerentes e seu estado físico atual, para definir se será reutilizado, reciclado ou descartado.
033
Estado de degradação do domus circular do auditório. Foto: Raphaela Pereira
Porta de uma das salas individuais de banho, sem as ferragens. Foto: Raphaela Pereira
Espreguiçadeiras plásticas originais do projeto. Foto: Acervo da autora
034
Gradis metálicos na área das piscinas, no pavimento intermediário, comprometidos pela ferrugem. Foto: Raphaela Pereira
Esqueletos das cadeiras originais, em estrutura metálica e estofado de couro. Foto: Luciano Avanço Vista do corredor de acesso aos banhos individuais, no pavimento superior. Foto: Tatiana Kuchar
1. ALVENARIA
4. MADEIRA
7. GRADIS E CORRIMÃOS
MATERIAL NECESSÁRIO
MATERIAL NECESSÁRIO
MATERIAL NECESSÁRIO
34,28 m³
20 portas
0m
MATERIAL RESIDUAL
MATERIAL RESIDUAL
MATERIAL RESIDUAL
47,25 m³
2,25 m³ + 31 portas
2 m lineares (gradil)
2. DIVISÓRIA DE CONCRETO
5. MÁRMORE
8. ENCANAMENTOS
MATERIAL NECESSÁRIO
MATERIAL NECESSÁRIO
MATERIAL NECESSÁRIO
1,76 m³
0 m³
MATERIAL RESIDUAL
MATERIAL RESIDUAL
MATERIAL RESIDUAL
9,16 m³
1,87 m³
3. ESQUADRIA
6. DOMUS
-m -m
9. BENS MÓVEIS
MATERIAL NECESSÁRIO MATERIAL NECESSÁRIO
0,17 m³ MATERIAL RESIDUAL
0,17 m³
ESTRUTURA A EXECUTAR ESTRUTURA A REMOVER
32 unidades (21 circulares, 3 quadrados e 8 retangulares)
MATERIAL RESIDUAL
0 unidades
MATERIAL NECESSÁRIO
0 un
MATERIAL RESIDUAL
26 unidades
(cadeiras do auditório)
035
MESA E ESTOCAGEM PARA OS NÚCLEOS DE RESIDÊNCIA ARTÍSTICA
Transpondo a proposição do Manual para um exemplo prático, optou-se por desenhar uma peça de mobiliário para os artistas residentes no novo programa. Foram utilizadas as banheiras como pré-existência física e simbólica para o projeto, acoplando nelas um tampo em madeira que, ao mesmo tempo, delimita um guarda-volume no interior do elemento. Os principais materiais são provenientes da desmontagem do próprio Balneário. Os tampos vêm das divisórias de aglomerado de madeira dos sanitários e a estrutura é composta de tubos hidráulicos em cobre.
036
Uma das várias banheiras em mármore existentes no pavimento superior do edifício. Foto: Raphaela Pereira
Divisórias de alvenaria e compensado de madeira. Foto: Raphaela Pereira
Dada a diversidade de artistas que já utilizaram o Balneário como seu espaço de exposição e intervenção, a versatilidade do móvel proposto se faz muito pertinente. As dimensões do tampo e a maneira como os próprios materiais utilizados conformaram as junções permitiram a rotação dessa estrutura ao redor do eixo do tubo, com um sistema de travamento e controle de angulação. Para tanto, foi escolhida uma abraçadeira regulável associada a uma alavanca de aperto, posicionada na lateral do móvel, permitindo que o tampo funcione como mesa ou como tela.
Tampo de aglomerado de madeira
Abraçadeira ajustável
Tira de borracha para nivelamento e amortecimento
Rotação do tampo
Tubo de cobre parafusado na parede e no piso
Gancho metálico para mudança de direção do cabo
CORTE escala 1:50
Abraçadeira tipo D parafusada no tampo e ajustável com cabo de aço
Abraçadeira tipo Omega
037
Alavanca excêntrica de aperto presa ao cabo
PLANTA escala 1:50
Alavanca
Abraçadeira tipo D
CORTE APROXIMADO Escala 1:20
DETALHES escala 1:2
ACRÓPOLE. Balneário de Águas da Prata. Revista Acrópole, n.382, p.22, mar. 1971. FRITOLI, Natália Santos. Balneário Teotônio Vilela: o resgate da sua importância Disponível em: <http://www.acropole.fau.usp.br/edicao/382>. Acesso em setembro para Águas da Prata. Poços de Caldas, 2018. de 2018. Festival Internacional da Imagem. Apresentação III FESTimagem. Águas da Prata, 2016. ACRÓPOLE. Balneário de Águas da Prata. Revista Acrópole, n.382, p.22, mar. 1971. Disponível em: <http://www.acropole.fau.usp.br/edicao/382>. Acesso em setembro Festival Internacional da Imagem. Convocatória III FESTimagem. Águas da Prata, 2016. de 2018. Festival Internacional da Imagem. Relatório de atividades I FESTimagem: fotografia, ARTIGAS, Rosa (Org.). João Walter Toscano. São Paulo: Editora UNESP/Instituto cinema e vídeo. Águas da Prata, 2014. Takano de Projetos Culturais Educacionais e Sociais, 2002. G1, Jornal EPTV. Moradores reclamam do abandono do balneário em Águas da ARTIGAS, Rosa (Org.). João Walter Toscano. São Paulo: Editora UNESP/Instituto Prata, SP. 2014. Disponível em: <https://globoplay.globo.com/v/3221225/>. Acesso Takano de Projetos Culturais Educacionais e Sociais, 2002. em dezembro de 2018.
038
Foram analisadas diversas fontes, dentre elas originais dos projetos de arquitetura, elétrica e hidráulica, periódicos, documentações, fotografias, artigos e livros, possibilitando a realização deste trabalho. Gratidão especial às instituições da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (Arquigrafia, Biblioteca e Seção de Materiais Iconográficos) e à Prefeitura Municipal de Águas da Prata por concederem as autorizações necessárias, viabilizando a consulta a materiais pertinentes ao edifício do Balnéario.
Referências
Associação de Amigos do Balneário (ABA). Projeto: Revitalização do Balneário HIROYAMA, Edison H. João Walter Toscano, A Afirmação do Ofício. Disponível Teotônio Vilela de Águas da Prata. Águas da Prata, 2011. em: <http://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/162/artigo60711-1.aspx>. Acesso em setembro de 2018. BROCCHI, Raquel Gallo; SOLHA, Karina Toledo, “Institucionalização do Turismo no Poder Público Estadual: a experiência de São Paulo”. Turismo em Análise , v. 19, JORNAL ARQUITECTOS. Balneário de Águas da Prata, João Walter Toscano. p. 241-254, 2008. Lisboa: PT A Associação, 1981. CARSALADE, Flavio L. A pedra e o tempo: arquitetura como patrimônio cultural. KATINSKY, Júlio Roberto. João Walter Toscano. Pós 292 v.18 n.30. São Paulo, 2011. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2014 MAZZALI, Pecos. Estudo de requalificação do Balneário de Águas da Prata. Unifeob. CSR. Centro de Sensoriamento Remoto. Universidade Federal de Minas Gerais. São João da Boa Vista, 2018. Belo Horizonte-MG. Disponível em <maps.csr.ufmg.br>. Acesso em maio de 2019. MOIMAS, Valentina. João Walter Toscano (1933–2011). Disponível em: <http://www. Centro de Pesquisa e Estudos Urbanísticos (FAUUSP). Plano Diretor de Águas da vitruvius.com.br/revistas/read/drops/12.045/3926>. Acesso em setembro de 2018. Prata. São Paulo, 1958-59. Ministério Público Federal. MPF/SP abre apuração para verificar abandono de Espaço Humus. Perfil: Alicia Peres. Direção: Ana Luiza Gomes, Anita Giansante, balneário em Águas da Prata. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/sp/sala-deCecília Garcia. Produção: Ana Luiza Gomes, Cecília Garcia. 2014. Disponível em: imprensa/noticias-sp/mpf-abre-apuracao-para-apurar-abandono-de-balneario-em<https://vimeo.com/118996623>. Acesso em setembro de 2018. aguas-da-prata>. Acesso em setembro de 2018.
Portal G1. Fechado há 20 anos, balneário de Águas da Prata, SP, será usado para prática de airsoft. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/ OSKMAN, Silvio. Contradições da preservação da arquitetura moderna. Tese de noticia/fechado-ha-20-anos-balneario-de-aguas-da-prata-sp-sera-usado-parapratica-de-airsoft.ghtml>. Acesso em junho de 2019. Doutorado. São Paulo, 2017. Município de Águas da Prata. Decreto nº 2601. Águas da Prata, 2016.
OSKMAN, Silvio. Preservação do patrimônio arquitetônico moderno: a FAU de Prefeitura da Estância Hidromineral de Águas da Prata. Guia das águas: suas análises, aplicações e indicações terapêuticas. Águas da Prata, 1992. Vilanova Artigas. Dissertação de Mestrado. São Paulo, 2011. Revista La Crème. Dias melhores virão. Tomara! Ano 02, nº 7, p 20. Poços de Caldas. OSKMAN, Silvio; VICINO, Beatriz. Restauro da sede do Instituto de Arquitetos do Brasil. Revista Restauro. Edição n.0, 2016. Disponível em: <http://web.revistarestauro. Secretaria da Educação e Saúde Pública. Programa de Projeto de Conjunto para com.br/restauro-da-sede-do-instituto-de-arquitetos-do-brasil/>. Acesso em 30 set. 2018. Reforma e Urbanização da Estância de Águas da Prata. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1946. PEREIRA, Margareth da Silva. João Walter Toscano e a arquitetura da cidade. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.053/539>. SÃO PAULO, Estado de. Decreto-Lei nº 258, de 29 de maio de 1970. Dispõe sobre Acesso em setembro de 2018. a criação, como entidade autárquica, do Fomento de Urbanização e Melhoria das Estâncias - FUMEST. PEREIRA, Miguel Alves; PRESTES, Lucinda Ferreira. Sobre Arquitetura Brasileira e Ensino na Virada do Século: Depoimentos de Professores Arquitetos da FAUUSP. SÃO PAULO, Estado de. Decreto-Lei nº 63.454, de 5 de junho de 2018. Cria o Parque Estadual Águas da Prata e dá providências correlatas. São Paulo: FAU/USP, 2008. PIMENTEL, Mariana Pereira Chaves; Thiago Duarte. A trajetória das políticas TEIXEIRA, Paula M. Magalhães. Inventário Arquitetônico São Paulo Hotel. públicas de turismo brasileiras 1930-2010. Conference: XXXV Encontro da Prefeitura Municipal de Águas da Prata. Águas da Prata, 2016. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD). TOSCANO, João Walter. Arquitetura, experiência de um percurso. Tese (Doutorado). Rio de Janeiro, 2011. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo, 1989. Portal G1. 3º FESTimagem leva cultura a Águas da Prata; veja a programação. TÁVORA, Fernando; COSTA, Alexandre Alves. João Walter Toscano. São Paulo, 2007. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2016/10/3festimagem-leva-cultura-aguas-da-prata-e-sao-joao-da-boa-vista-sp.html>. Acesso Wikipedia. “Águas da Prata”. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/ em junho de 2019. wiki/%C3%81guas_da_Prata>. Acesso em feveveiro de 2019. Portal G1. Antiga atração turística, balneário de Águas da Prata, SP, está abandonado. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2014/03/ antiga-atracao-turistica-balneario-de-aguas-da-prata-sp-esta-abandonado.html>. Acesso em dezembro de 2018.
ZEIN, Ruth Verde. Balneário de Águas da Prata. Portal eletrônico “Arquitetura Paulista Brutalista 1953-1973”. Disponível em: <http://www.arquiteturabrutalista. com.br/fichas-tecnicas/DW%201971-128/fichatecnica1971-128.htm>. Acesso em setembro de 2018.
039
LISTA DE DOCUMENTOS ANALISADOS POR ORDEM ALFABÉTICA
Associação Guardiões da Rainha das Águas (GUARÁ). Cópia do pedido de anulação do processo licitatório.
João Walter Toscano Arquitetos Associados. Contrato inexigibilidade nº 01/2006.
Corpo de Bombeiros. Procedimentos de verificação dos projetos de arquitetura, elétrica e hidráulica: projeto técnico de proteção contra o incêndio - Folhas 1 a 4. Junho /2006.
João Walter Toscano Arquitetos Associados. Memorial descritivo e especificações técnicas do projeto executivo de reforma do Balneário de Águas da Prata. Junho/2006.
João Walter Toscano Arquitetos Associados. Planilha orçaDepartamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias mentária estimativa da reforma do Balneário de Águas da (DADE). Convênio 98/04. Transferência de recursos finan- Prata. Outubro/2006. ceiros destinados à reforma do Balneário de Águas da Prata. Fevereiro/2006. João Walter Toscano Arquitetos Associados. Projeto executivo de reforma do Balneário de Águas da Prata. Arquitetura Departamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias - Folhas 1 a 10. Junho a Outubro/2006. (DADE). Fax nº 272. Junho/2008. João Walter Toscano Arquitetos Associados. Projeto execuDepartamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias tivo de reforma do Balneário de Águas da Prata. Instalações (DADE). Manifestação de transferência do Balneário para hidráulicas - CPS Engenharia LTDA - Folhas 1 a 14. Junho a Outubro/2006. empresa privada. Setembro/2009. Departamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias (DADE). Relatório de vistoria técnica.
040
Departamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias (DADE). Oficio 14/09. Solicitação de extração de cópias dos autos do convênio. Setembro/2009. Departamento de Apoio do Desenvolvimento das Estâncias (DADE). Ofício 246. Setembro/2009.
Foto: Celso Molinari
João Walter Toscano Arquitetos Associados. Projeto executivo de reforma do Balneário de Águas da Prata. Instalações elétricas - CPS Engenharia LTDA - Folhas 1 a 14. Junho a Outubro/2006. João Walter Toscano Arquitetos Associados. Relatório técnico da estimativa do custo do projeto executivo de reforma do Balneário de Águas da Prata. Junho/2006.
João Walter Toscano e Massayoshi Kamimura. Conjunto de desenhos originais do projeto de elétrica do Balneário de Isoterma Construções LTDA. Estudo e orçamento para reÁguas da Prata. Folhas 1 a 10. Fevereiro/1972. forma, restauração e revitalização do Parque do Balneário. Setembro/2009. João Walter Toscano e Massayoshi Kamimura. Conjunto de desenhos originais do projeto de hidráulica do Balneário de Isoterma Construções LTDA. Contrato para execução da 1ª Águas da Prata. Folhas 1 a 10. Fevereiro/1972. etapa dos serviços previstos para reforma, restauração e revitalização do Parque do Balneário. Setembro/2009. João Walter Toscano, Massayoshi Kamimura, Rosa G. Kliass e Miranda M. Magnoli. Conjunto de desenhos originais dos Isoterma Construções LTDA. Memorial descritivo e espe- estudos para o centro urbano Águas da Prata. Folhas 1 a 10. cificações técnicas dos serviços de restauração das lajes da Março/1970. cobertura e do concreto (recuperação estrutural e impermeaPrefeitura Municipal de Águas da Prata. Edital de licitação para bilização). Setembro/2009. reforma do Balneário Teotônio Vilela. Abril/2006. Isoterma Construções LTDA. Proposta comercial para execução da 1ª etapa dos serviçõs previstos para reforma, restau- Prefeitura Municipal de Águas da Prata. Projeto de lei para conração e revitalização do Parque do Balneário. Setembro/2009. cessão do Balneário a título oneroso. Março/2008. João Walter Toscano Arquitetos Associados. Cronograma de execução da reforma do Balneário de Águas da Prata. Junho/2006.
Prefeitura Municipal de Águas da Prata. Reforma do Balneário Teotônio Vilela - 1ª e 2ª etapa (processos nº 559/05 e 136/06).
O BALNEÁRIO DE ÁGUAS DA PRATA
PROJETO