À Rasca #What a fool I am

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À Rasca/What a fool I am

À Rasca / What a fool I am Photos & design Luis Martins Pisco All rights reserved ©Luis Martins Pisco 2011 Cobalt Blue Press, Porto, 2023 1ºst edition of 50 copies _______/ 50

À RASCA / What a fool I am

Em 2011 a canção, “Que parva que eu sou” traduzia o sentimento de insatisfação de uma geração que ficaria conhecida por “Geração à Rasca”. Nesse ano alguns jovens incentivados pela canção dos Deolinda criou uma página numa rede social que intitulou de “Geração à Rasca”, adaptando a expressão utilizada em 1994 pelo director do jornal Público, Vicente Jorge Silva, “Geração Rasca” para classificar o comportamento dos jovens que nesse ano se manifestavam contra o aumento das propinas no ensino superior.

A página foi um enorme sucesso e das inúmeras participações e comentários nasceu a vontade de organizar uma manifestação que materializasse esse descontentamento e revolta contra a precariedade, os baixos salários e sobretudo a falta de expectivas num futuro melhor.

No dia 12 de Março de 2011, a manifestação organizada pelo Movimento mobilizou cerca de 300 mil pessoas de todas as idades, que participaram em manifestações em 11 cidades do país. No Porto estima-se que a iniciativa reuniu cerca de 80 mil manifestantes.

Esta é a minha memória desse dia único.

In 2011, the song “Wath a foll I am” translated the feeling of dissatisfaction of a generation that would become known as “Geração à rasca”.*

In the same year, a group of young people, encouraged by Deolinda’s song, created a social media page they called “Geração à Rasca”. The name was inspired by the Vicente Jorge Silva, the director of newspaper Público who in 1994 used this term when reffering to a group of students who were protesting against the increase in tuition fees in higher education.

The page was a major success and, from the numerous interactions and comments, emerged the desire to organize a protest that could materialize the feeling of discontent and revolt against the precariousness of living.

On March 12, 2011, the protest organized by the “Geração à Rasca” mobilized 300,000 people of all ages around 11 cities across the country. In Porto, it is estimated that the initiative brought together around 80,000 protesters.

This is my memory of that unique day.

*struggling generation.

Que Parva que eu sou Sou da geração sem remuneração / E nem me incomoda / esta condição / Que parva que eu sou

Porque isto está mal e vai continuar / Já é uma sorte eu poder estagiar / Que parva que eu sou

E fico a pensar / Que mundo tão parvo / Onde para ser escravo /É preciso estudar / Sou da geração casinha dos pais / Se já tenho tudo, p’ra quê querer mais? / Que parva que eu sou Filhos, maridos, estou sempre a adiar / E ainda me falta o carro pagar / Que parva que eu sou

E fico a pensar / Que mundo tão parvo / Onde para ser escravo / É preciso estudar / Sou da geração vou queixar-me p’ra quê? / Há alguém bem pior do que eu na TV / Que parva que eu sou Sou da geração eu já não posso mais / E esta situação dura há tempo demais / E parva eu não sou!

E fico a pensar / Que mundo tão parvo / Onde para ser escravo / É preciso estudar

Deolinda

What a fool I am

I’m from the unpaid generation\ and this condition doesn’t bother me. \What a fool I am! \ For this is bad, and will continue like that, \ I’m lucky I have an internship \ What a fool I am!\ And I think \ what a silly world \ where one has to study to become a slave.\ I’m from the “parent’s home” generation,\ if I already have everything, why want more?

What a fool I am \Children, husband, I’m always postponing \ I have yet to pay off my car and I still have to pay my car \ What a fool I am! \ And I think \ what a silly world \ where one has to study to become a slave. \ I’m from the “ why would I complain?” generation \ When there’s someone doing worse than me on tv

What a fool I am!\ I’m from the I can’t stand it!” ge-neration \ this situation has lasted too long And I’m am not fool! \ And I think what a silly world \ where one has to study to become a slave.

Deolinda

Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadoresestudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.. Nós, que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país. Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida. Protestamos para que todos os responsáveis pela nossa actual situação de incerteza políticos, empregadores e nós mesmos – actuem em conjunto para uma alteração rápida desta realidade, que se tornou insustentável. Caso contrário:

a) Defrauda-se o presente, por não termos a oportunidade de concretizar o nosso potencial, bloqueando a melhoria das condições económicas e sociais do país. Desperdiçam-se as aspirações de toda uma geração, que não pode prosperar.

b) Insulta-se o passado, porque as gerações anteriores trabalharam pelo nosso acesso à educação, pela nossa segurança, pelos nossos direitos laborais e pela nossa liberdade. Desperdiçam-se décadas de esforço, investimento e dedicação.

c) Hipoteca-se o futuro, que se vislumbra sem educação de qualidade para todos e sem reformas justas para aqueles que trabalham toda a vida. Desperdiçam-se os recursos e competências que poderiam levar o país ao sucesso económico.

Somos a geração com o maior nível de formação na história do país. Por isso, não nos deixamos abater pelo cansaço, nem pela frustração, nem pela falta de perspectivas. Acreditamos que temos os recursos e as ferramentas para dar um futuro melhor a nós mesmos e a Portugal..

Não protestamos contra as outras gerações. Apenas não estamos, nem queremos estar à espera que os problemas se resolvam. Protestamos por uma solução e queremos ser parte dela.

Manifesto

We, the unemployed, “quinhentoseuristas”* and others underpaid, disguised slaves, subcontractors, fixed-term contractors, false independent workers, intermittent workers, interns, scholarship holders, student workers, students, mothers, fathers and children of Portugal.

We, who until now have agreed to this condition, are here today to make our contribution towards qualitative change in the country. We are here today because we cannot continue to accept the precarious situation into which we have been dragged. We are here today because we strive daily to deserve a dignified future, with stability and security in all areas of our lives.

We protest so all those responsible for our current situation of uncertainty –politicians, employers and ourselves – can act together to quickly change this reality, which has become unsustainable.

Otherwise:

a) The present will be defrauded, as we do not have the opportunity to fulfill our potential, by blocking the improvement of the country’s economic and social conditions. The aspirations of an entire generation will be wasted, since they cannot prosper.

b) The past is insulted, because previous generations worked for our access to education, for our security, for our labor rights and for our freedom. Decades of effort, investment and dedication are wasted.

c) The future is mortgaged, which is envisioned without quality education for all and without fair retirement for those who work all their lives. Resources and skills that could lead the country to economic success are wasted. We are the generation with the highest level of education in the history of the country. For this reason, we do not allow ourselves to be overcomed by fatigue, frustration, or lack of prospects. We believe we have the resources and tools to give ourselves and Portugal a better future.

We do not protest against other generations. We just aren’t, nor do we want to be, waiting for the problems to solve themselves. We protest for a solution and we want to be part of it.

*those earning less than 500 euros.

Manifesto

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