PlanodeIntervençãoArtísticoCutural ProgramaJovemMonitor/aCultural
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Somos um grupo de quatro jovens monitoras, ingressantes e continuístas do Programa Jovem Monitor/a Cultural (uma política pública da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo em parceria com o Centro Integrado de Estudos e Programa de Desenvolvimento Sustentável - CIEDS), unindo-se a partir da atuação prática da Casa de Cultura da Vila Guilherme.
Percebendo como o machismo é muito presente na área técnica, e como isso nos afetou diretamente, sentimos a necessidade de trazer uma luz sobre essa questão, buscando refletir com outras mulheres.
Nossa ideia de Plano de Intervenção Artístico Cultural PIAC surgiu da dificuldade que tivemos de acessar as áreas técnicas e do incômodo que reverberou em todas nós. Com isso, refletimos a respeito do machismo e também da questão do interesse das mulheres e no que se pauta o interesse ou a falta dele, pois no nosso caso, tínhamos possibilidades de acessar, porém não conseguimos, por conta de diversos fatores investigados nesse projeto.
Artista da dança há 7 anos, ingressou no programa jovem monitor/a cultural, em 2019, o que possibilitou novos olhares e caminhos no campo da cultura, interessando se por produção cultural, montagem de palco e desenvolvendo habilidades nas áreas de mídias e redes sociais. Neste mesmo ano integrou a equipe de produção de espetáculo e assumiu as redes sociais da Ativação Dança, colocando em prática os aprendizados do programa e cursos paralelos.
Hoje, ainda como jovem monitora cultural na Casa de Cultura da Vila Guilherme, desenvolve seu PIAC sobre mulheres nas áreas técnicas dos equipamentos culturais, visando suprir ainda seus desejos de se aprofundar na área, mas também exercitando o papel de produtora cultural.
Helena Araujo, travesti, atriz, performer, modelo e jovem monitora cultural da Casa de Cultura da Vila Guilherme Casarão, na arte desde 2014, viabilizou projetos, performances e arte com pautas LGBTQIAP+, usando o corpo como arma e processo para impactar o CIStema.
Jessica Ayara, fotodocumentarista, produtora e editora de vídeos há 4 anos. Tem formação técnica em Produção de Áudio e Vídeo pela ETEC Jornalista Roberto Marinho e em Processos Fotográficos pelo Senac São Paulo. Atualmente é estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal de São Paulo e Jovem Monitora Cultural continuísta na Casa de Cultura Vila Guilherme.
Dentre seus trabalhos acadêmicos teve destaque o curta documentário "Casa da Felicidade" 2017, Co Direção, Fotografia e Edição o qual participou do festival In Edit Brasil em 2019 e o curta metragem "Sussurros - Dona Vera" - 2018 onde fez captação de som o qual teve participação no 29°Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo em 2018. Fez parte da criação do coletivo Pede Poesia onde atuou na produção audiovisual de 2018 a 2020. Atuou como educadora na Instituição PiPA desde 2017, onde produziu uma oficina de linguagem audiovisual em 2018 e hoje é assistente de comunicação da ong. No final de 2020, a partir do interesse pela pesquisa referente a participação e representação lésbica no cinema e literatura participou da construção do grupo de estudos FanchaLAB.
Formada em Direção de Fotografia pelo Instituto Criar, onde atua como monitora, Andressa Pimentel busca a partir da construção imagética visibilizar narrativas dissidentes através da apropriação dos mecanismos de realização e difusão audiovisual.
Sua relação com o cinema iniciou se atuando no CineSesc onde pode auxiliar na elaboração e programação de Mostras e Festivais. Logo em seguida, produziu pelo curso É Nois Na Fita o curta metragem “Prestes” exibido nos principais Festivais de Cinema de São Paulo e Juiz de Fora. Atualmente é integrante do Coletivo Mandinga Produção onde produz a websérie documental “Sambando para não Sambar”. Em paralelo, articula a realização do Festival #FicaemCasarao que engloba a transmissão via streaming de espetáculos de teatro, intervenções artísticas e shows de diferentes gêneros músicas na Casa de Cultura da Vila Guilherme.
No programa Jovem Monitor/a Cultural os jovens têm acesso a diversas áreas de conhecimento e atuação, dentro das propostas de formação teórica é visível a busca pela igualdade na construção de formadores/as que aplicam as oficinas e palestras, já no campo de atuação prática, é necessário pensar na dinâmica e necessidade de cada espaço cultural.
De acordo com um levantamento feito no período de maio a julho entende se que a atuação feminina de jovens monitoras tem algumas defasagens nas áreas técnicas, tendenciando para áreas ditas mais próximas a nós, como administrativo e atendimentos, e que, apesar de necessária dedicação intelectual, nos limita a ser menos ativas em áreas mais técnicas o que se torna um problema quando pensamos na horizontalidade do programa e que torna ainda mais visível a desigualdade de gênero enfrentada por nós mulheres nos campos profissionais.
Este projeto foi pensado a partir da vivência e da observação da participação da mulher nas atuações técnicas em nosso espaço de atuação desde os primeiros contatos com a formação prática, mas também baseado nessa análise prévia de outras jovens que atuam ou que já atuaram no programa.
Nosso intuito é destacar a significativa ausência da mulher partindo da pesquisa e apoio bibliográfico, e com isso iniciar um caminho contrário a essa falha ou distanciamento da mulher nessas áreas.
O projeto foi pensado como uma maneira de refletir a respeito do lugar das mulheres nas formações técnicas-práticas desenvolvidas nos espaços culturais (ou parte deles) pelo Programa Jovem Monitor/a Cultural e analisar quais motivos nos distanciam.
Trazemos como referência a história da mulher na arte para investigar o tema; se é caso de falta de interesse das mulheres ou falta de acesso e afins. Também por se tratar de ambientes majoritariamente masculinos, onde muitas vezes não há diálogo ou por se tratar de um ambiente hostil. É importante também, refletir o papel e postura do homem, que muitas vezes por trabalhar no setor artístico se diz ou se vê como desconstruído .
Para dar início ao projeto divulgamos um formulário para captar dados das jovens monitoras participantes de programa desde 2016 até 2020, pois temos como foco a formação prática destas. Independente dos resultados da pesquisa, buscamos trazer mulheres que trabalhem nas áreas técnicas (montagem de palco, sonorização, iluminação e fotografia) para palestras, shows, rodas de conversa ou espetáculos, sendo possível discutir e destacar esse acesso.
São muitas as motivações nessa pesquisa, acreditamos que, como mulheres, ainda não alcançamos e ocupamos o lugar ideal e sabemos que muitas de nós não tem voz ativa para se colocar.
As reflexões também são pautadas em diversas referências de mulheres da área técnica e de suas falas a respeito do machismo nesse ambiente, o que nos fortalece e nos faz entender que não estamos sozinhas e nem "loucas" por achar que passamos por tudo isso, pois sabemos que nós mesmas acabamos nos boicotando na luta, por nos acharmos fracas ou outros tantos motivos que desvalidem nossa luta.
Conhecemos nesse projeto, vários grupos de mulheres que lutam contra o machismo e abrem espaço para que outras mulheres possam chegar, o que é muito importante no nosso cenário, pois por mais que não consigamos trazê las a diálogo, nós temos vídeos e textos como registro e base.
Outra coisa que nos chamou a atenção foram as formações teóricas do programa, em que percebemos que sua maioria são formadores homens (levando em conta as formações remotas de continuístas) e principalmente nas áreas técnicas não vemos mulheres, não temos representatividade.
Sabemos que são muitos os problemas que um profissional ou trabalhador da cultura passa, é importante pautar a valorização do trabalho, com remuneração justa e respeito à classe artística e sobre isso não temos objeções, mas trazemos essa pesquisa como um recorte, um olhar para que não sejamos esquecidas.
Além das questões já pontuadas, observamos e sentimos também que a causa LGBTQIA+ acaba fomentando muito mais Gays, que são homens cisgêneros, e as mulheres acabam sumindo no meio de programação ou formação, nos inspirando a criar ações para o público LBT (lésbicas, mulheres bissexuais e pessoas transvestigênesres).
Buscamos, além da nossa pesquisa, um apoio bibliográfico e pesquisas de grupos que já trabalham nessa questão da inserção das mulheres na área técnica. A partir da escuta à live "Iniciativa de coletivos na técnica" do grupo Mulheres no Áudio, meninas dos coletivos "Marminina" e "Rede de mulheres" percebemos também que o caminho para nossa inserção, respeito e representatividade nas áreas técnicas é a nossa união, estando juntas e criando nossas redes de apoio e referências para que sejamos degraus umas para as outras, isso porque as mulheres em questão são do Ceará, onde não tem tantos eventos o tempo todo para que trabalhem, mas as falas delas refletem na nossa vivência de mulheres paulistanas e também nos gera esse incômodo. Não é sazonal a falta de acesso das mulheres.
Iniciamos nossa pesquisa em maio, e divulgamos durante dois meses recebendo respostas, com foco nas jovens e ex jovens monitoras. Os resultados da pesquisa foram diversos, nos deparamos com jovens que nunca tiveram acesso a áreas técnicas em seus espaços culturais por se tratarem de departamentos administrativos ou com pouca estrutura técnica (como no caso das bibliotecas) mas também conhecemos jovens que possuíam interesse e/ou conhecimento prévio antes de entrar no programa e que não conseguiram desenvolver ou desenvolveram em parte. Os gráficos abaixo mostram o perfil das jovens e seus interesses:
De acordo com a pesquisa feita com 48 jovens e ex jovens monitoras, entende se que a participação da mulher na área técnica nos equipamentos culturais é menor de que seu interesse prévio por essas áreas. Destacamos a fotografia como a área mais explorada por essas jovens (dada a disponibilidade de câmera fotográfica nos espaços culturais).
Além dos dados trazidos nos gráficos, recebemos diversos relatos das jovens, os quais consideramos relevantes para seguir com as etapas seguintes do plano de intervenção, julgando necessária mais ações a respeito do tema.
Com os resultados da pesquisa e também por desejo nosso, iniciamos a etapa de intervenção do nosso projeto: trazer mulheres dessas áreas técnicas para conversarem conosco a respeito do tema.
Procuramos por mulheres que trabalham na área técnica para entrevistas/bate papo, nossa intenção era propor workshops e vivências, mas devido à pandemia cancelamos essa parte e focamos apenas das conversas.
Esta etapa aconteceu em 4 momentos: o primeiro foi uma roda de conversa com as jovens e ex jovens monitoras numa plataforma fechada, apenas para a troca de ideias e de sentimentos com relação ao programa e principalmente a relação com a parte prática técnica. A conversa aconteceu no dia 15 de agosto de 2021 e contou com 7 jovens além das proponentes:
O segundo foi um bate-papo com Julia Zakia, que é fotografa e diretora, ganhadora de diversos prêmios e festivais, membra do coletivo DAFB no dia 21 de agosto de 2021, ela trouxe pra gente diversas questões da vivência na área técnica, trazendo também muitas ideias novas para o projeto e um brilho a mais nos olhos das jovens que sonham em trabalhar com técnica e o bate papo foi ao vivo, no canal do YouTube da Casa de Cultura da Vila Guilherme.
O terceiro também foi bate papo, mas desta vez com Nuna Nunes, que é fotografa, diretora e iluminadora, integrante da APAN, colaboradora do DAFB e fundadora do coletivo de artes negras OPÁ Negra. Ela trouxe a questão da inserção do povo preto e LBTs nas áreas técnicas, além de contar um pouco da sua trajetória como mulher preta e periférica na universidade pública, a conversa ocorreu dia 22 de agosto de 2021 e o link está disponível no canal do YouTube da Casa de Cultura da Vila Guilherme.
O quarto e último encontro, foi com Bruna Lima que é Técnica de Palco formada pela Sp Escola de Teatro e operou espetáculos como as versões brasileiras de "Sunset Boulevard", "A Pequena Sereia" e "O fantasma da Ópera" além de ser Diretora de Palco nas peças "The Last Five Yaers" e "Fóssil" e Diretora de Arte no filme "Perifericu", discutimos questões a respeito da mulher periférica na técnica e na arte, dos desafios de acesso da mulher principalmente na área de montagem de palco, área tida como masculina. O bate papo ocorreu no dia 12 de setembro de 2021, e está disponível no canal do YouTube e Facebook da Casa de Cultura da Vila Guilherme.
Através da pesquisa e intervenções percebe se que é um assunto que precisa ser falado, investigado e fomentado, que a inserção de mulheres nas áreas técnicas ainda é difícil e lidar com o machismo estrutural é uma batalha diária.
O desejo do grupo é continuar com esse projeto ainda na Casa de Cultura da Vila Guilherme, com um recorte ampliado aos LBT's (Lésbicas, bissexuais e homens e mulheres trans) além das mulheres cis, pretas, não brancas e periféricas.
As ações com as mulheres das áreas técnicas abriu horizontes de possibilidades para a continuidade do projeto e trouxe resultados e dados satisfatórios para fomentar ainda mais esta pesquisa que está dando seus primeiros passos.